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Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.22 no.3 São Paulo Sep./Dec. 2020

http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v22n3p115-136 

ARTIGOS
DESENVOLVIMENTO HUMANO

 

Opiniões sobre contracepção e comportamento sexual em jovens universitários do sul brasileiro

 

 

André T. Stephanou; Marina Z. Delatorre; Ana Cristina G. Dias

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

A transição para a universidade é um momento sensível do desenvolvimento no qual os indivíduos podem estar expostos a mais estressores e exibir comportamentos de risco, como sexo desprotegido. Este estudo teve como objetivo investigar diferenças em opiniões sobre contracepção com base no comportamento sexual autorrelatado. Jovens estudantes sexualmente ativos (253) responderam a um questionário sobre dados sociodemográficos e comportamento sexual, e a uma escala de opiniões sobre contracepção. O uso de contraceptivos foi reportado por 95% dos participantes, mas apenas 22% relataram uso consistente de camisinha. Uso inconsistente de camisinha esteve associado a opiniões negativas sobre seu impacto na relação sexual. Entre as mulheres, o uso de camisinha se associou a opiniões de maior assertividade na negociação de métodos contraceptivos. Homens se mostraram menos favoráveis a discutir métodos contraceptivos em casal. Intervenções de suporte à contracepção devem levar em conta as diferentes barreiras à contracepção que afetam homens e mulheres.

Palavras-chave: comportamento sexual; contracepção; jovens; gravidez; universitários.


 

 

1. Introdução

A transição para o ensino superior pode ser uma das primeiras experiências relevantes de autonomia para jovens estudantes brasileiros (Monteiro, Tavares, & Pereira, 2009; Santos, Seidl-de-Moura, Victor, & Ramos, 2016). Esse período se diferencia da adolescência e da adultez na medida em que as pessoas jovens se tornam mais independentes de seus familiares e experienciam diferentes possibilidades na vida profissional e afetiva, porém sem o nível típico de comprometimento da vida adulta (Monteiro et al., 2009).

O ambiente menos supervisionado pode favorecer a ocorrência de comportamentos sexuais de risco. Um estudo com 352 calouros de uma universidade pública do Paraná identificou que aproximadamente 40% da amostra aumentou o consumo de álcool após a entrada no ensino superior (Carvalho, Pereira, Reus, & Limberger, 2014). Além disso, um levantamento com 550 universitários do Sul do Brasil descreve que a prática de comportamentos de risco é mais frequente entre estudantes do final do curso, quando comparados a calouros (Campos, Isensse, Rucker, & Bottan, 2016). Ainda que o desempenho de comportamentos sexuais de risco esteja associado com menor idade e menos anos de escolaridade, e que universitários usem métodos contraceptivos com maior frequência que a população geral de mesma idade (Hugo et al., 2011), universitários também fazem sexo desprotegido frequentemente. Aproximadamente 60% de estudantes universitários relatam não ter usado preservativo na última relação sexual (Borges, Silveira, Santos, & Lippi, 2015; Moreira, Dumith, & Paludo, 2018). Considerando a frequência de uso de preservativo no passado, aproximadamente um terço dos estudantes descreve sempre usar preservativo nas relações sexuais (Alves, Gonçalves, Fontoura, & Neves, 2017; Campos et al., 2016; Silva, Camargo, & Iwamoto, 2014), com alguns estudos relatando taxas de até 20% (Borges et al., 2015). Portanto, estudos devem investigar que fatores associados ao comportamento sexual podem aumentar o risco de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e gestações indesejadas em estudantes universitários.

O recente aumento na incidência de HIV e outras IST na população jovem do Brasil destaca a importância de pesquisas sobre o comportamento sexual dessa população (Ministério da Saúde, 2017). Contudo, estudos no Brasil e no exterior mostram que os jovens estão mais preocupados em evitar gestações indesejadas do que prevenir IST (Borges et al., 2015; Brown, 2015; Quintana, Calatayud, & Lanterna, 2016). A maior preocupação com contracepção, em detrimento da prevenção de IST, também surge a partir de relatos de que, conforme os relacionamentos se tornam estáveis, pessoas jovens tendem a abandonar o uso de preservativos em função do uso de contraceptivos hormonais (Alves et al., 2017; Janeiro, Oliveira, Rodrigues, Maceiras, & Rocha, 2013).

Nesse contexto, existe uma assimetria entre homens e mulheres no que tange à responsabilidade do planejamento contraceptivo (Brown, 2015; Fennel, 2011), já que o uso de contraceptivos hormonais é exclusivo à população feminina. Essa assimetria também está presente em relações sexuais casuais, cada vez mais comuns entre jovens (Chaves, 2016). Ademais, fatores culturais influenciam na construção dos papéis de gênero que são desempenhados, afetando como indivíduos de cada sexo se comportam (Heilborn & Cabral, 2013; James-Hawkins, Dalessandro, & Sennot, 2019).

A pesquisa sobre contracepção em adolescentes e jovens destaca os diferentes papéis atribuídos a homens e mulheres nesse processo. Um estudo qualitativo com casais jovens dos Estados Unidos descreve a presença da divisão de papéis mesmo antes da primeira experiência sexual (Fennel, 2011). Enquanto meninas são ensinadas sobre contracepção hormonal, meninos recebem apenas o preservativo como estratégia contraceptiva. Mesmo assim, Fennel (2011) relata que as mulheres possuíam mais conhecimento sobre preservativos do que os homens tinham sobre métodos hormonais, ressaltando o maior fardo atribuído às mulheres em questões de saúde reprodutiva. Além disso, pesquisas sugerem que as mulheres apresentam atitudes e intenções mais favoráveis ao uso de preservativos quando comparadas aos homens (Brown, 2015; Janeiro et al., 2013; Rich, Mullan, Sainsbury, & Kuczmierczyk, 2014). Portanto, as mulheres são muitas vezes responsabilizadas pelo uso de contraceptivos, seja o uso de contraceptivos orais em relações estáveis de longo prazo ou o uso de preservativos em relações ocasionais (Brown, 2015).

Este estudo teve como objetivo investigar diferenças no comportamento sexual e contraceptivo de jovens universitários. Havia a expectativa de que, como relatado na literatura, existissem diferenças no comportamento contraceptivo dos jovens conforme suas opiniões sobre métodos contraceptivos. De forma similar, antecipou-se que opiniões sobre contracepção difeririam entre homens e mulheres, e entre jovens com e sem um parceiro estável.

 

2. Método

2.1 Participantes

Os participantes deste estudo foram selecionados a partir de uma amostra de conveniência composta por estudantes de Administração, Contabilidade, Direito e Psicologia de instituições de ensino superior públicas e privadas de uma cidade do Rio Grande do Sul. Indivíduos que não haviam tido relações sexuais ou relações com pessoas do sexo oposto foram excluídos da amostra. A amostra final contou com 253 universitários.

2.2 Instrumentos

Um questionário de dados sociodemográficos e comportamento contraceptivo foi usado para coleta de dados, assim como uma escala de opiniões sobre contracepção. O questionário de comportamento contraceptivo solicitava informações sobre a idade na primeira relação sexual, a existência de um parceiro sexual estável no momento, quais métodos contraceptivos estavam em uso na primeira relação sexual, durante o último ano, e na última relação sexual. Os participantes foram perguntados se haviam tido um parceiro estável no último ano e quantos parceiros casuais haviam tido. Os participantes foram questionados se haviam utilizado qualquer método contraceptivo na primeira relação sexual e no último ano, com opção de resposta sim ou não. Uso de preservativo foi investigado com questões sobre o uso na primeira relação sexual, na última relação sexual, e sobre a frequência de uso durante o último ano. A frequência de uso de preservativo foi medida em quatro níveis: "nunca"; "poucas vezes"; "muitas vezes, mas não em todas"; "sempre". As repostas foram agregadas em duas categorias para a análise: "consistente" (opção "sempre") e "inconsistente" (outras opções).

A escala de opiniões sobre contracepção foi desenvolvida pelos pesquisa dores com base em uma revisão de literatura sobre o tema e afirmativas coletadas em entrevistas com gestantes adolescentes. Uma versão preliminar da escala foi discutida em um grupo de estudantes de Psicologia para assegurar a clareza dos itens para a população universitária. As sugestões oferecidas por essas estudantes foram incorporadas na versão utilizada neste estudo. Os participantes foram orientados a indicar, em uma escala de 1 a 7, o quanto discordavam de cada afirmativa, com 1 sendo "concordo totalmente" e 7 sendo "discordo totalmente". A escala utilizada para coleta de dados era composta por 24 itens, avaliando diferentes aspectos da negociação de métodos contraceptivos, a percepção de diferente responsabilidade entre os gêneros e o impacto do preservativo na relação sexual. Ainda que todos os itens tratem de métodos e comportamento contraceptivo, eles foram analisados individualmente, porque um escore total da escala não seria interpretável.

2.3 Procedimentos

Os participantes responderam a ambas as medidas em sala de aula durante um período cedido pelos professores, após a apresentação da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nenhum estudante escolheu não participar. Os dados foram inseridos manualmente em uma base de dados eletrônica e analisados com o software SPSS versão 18.

Utilizaram-se análises descritivas para caracterizar a amostra. Adotou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade das distribuições das variáveis. Em função da distribuição não normal das respostas aos itens da escala de opiniões sobre contracepção, testes U de Mann-Whitney foram realizados para avaliar a diferença de opiniões sobre contracepção: entre gêneros, entre pessoas que relataram ou não o uso de contraceptivos no último ano, entre pessoas com e sem parceiro estável, e entre pessoas com uso frequente e infrequente de preservativo. Tamanhos de efeito r foram calculados com a divisão da estatística teste padronizada pela raiz quadrada do tamanho amostral. Utilizaram-se testes de qui-quadrado para analisar diferenças de gênero em uso de contraceptivos, frequência de uso de preservativo e outras variáveis categóricas de comportamento sexual. O alfa adotado para todas as análises foi de 0,05.

Esta pesquisa atendeu às diretrizes éticas da Resolução n. 196/96 do Ministério da Saúde. O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n. 03958712.0.0000.5346.

 

3. Resultados

A média de idade dos participantes foi de 21,2 anos (DP = 1,8). Aproximadamente 58% da amostra foi composta de mulheres. Os participantes se autodeclararam como brancos (91%), pardos (6%), negros (2%) e amarelos (1%). A renda familiar mensal média foi de 8,5 salários mínimos (DP = 7,8), variando de 0,9 a 48,2 salários mínimos.

A idade média na primeira relação sexual foi de 16,2 anos (DP = 1,88). A maior parte da amostra (66%) relatou ter iniciado a vida sexual com um parceiro estável. Dos participantes, 87% relataram ter usado algum método contraceptivo na primeira relação sexual, enquanto no último ano 94,8% da amostra relatou o uso de contraceptivos. Quanto ao uso de preservativo, 82,6% da amostra relatou ter usado preservativo na primeira relação sexual, contra 65,2% na última relação sexual. No último ano, apenas 21,7% dos participantes relataram sempre ter usado preservativo nas relações sexuais.

As mulheres relataram maior idade (16,6 anos) na primeira relação quando comparadas aos homens (15,7 anos), U = 5.295, p < 0,001, r = -0,26. A idade na primeira relação foi maior em participantes que relataram uso de camisinha consistente no último ano, U = 3.475, p = 0,001, r = -0,22. Uma diferença similar foi encontrada para o uso de contraceptivos, tanto na primeira relação, U = 2.483; p = 0,015, r = -0,15, quanto no último ano, U = 857, p = 0,007, r = -0,17. As mulheres tiveram a primeira relação sexual com um namorado em 84% dos casos, enquanto apenas 42% dos homens relataram ter tido a primeira relação sexual com uma namorada, χ2 (1, n = 253) = 47,41, p < 0,001.

As mulheres descreveram uso mais frequente de contraceptivos do que os homens, tanto na primeira relação sexual (92,5% contra 81,3%), χ2 (1, n = 253) = 7,15, p = 0,007, quanto no último ano (97,9% versus 90,6%), χ2 (1, n = 253) = 6,84, p = 0,020. O uso de preservativo na primeira relação sexual foi similar entre os gêneros, em 85,6% das mulheres e 78,5% dos homens, χ2 (1, n = 253) = 2,17, p = 0,140. Quanto à frequência de uso de preservativo no último ano, os homens relataram maiores taxas de uso consistente, χ2 (1, n = 253) = 4,32, p = 0,038, com 28% deles relatando ter usado camisinha em todas as relações sexuais, comparados a 17,1% das mulheres.

Quando questionados sobre o status de relacionamento atual, mais mulheres (87%) do que homens (52%) indicaram ter tido parceiro ou parceira estável no último ano, χ2 (1, n = 251) = 36,7, p < 0,001. Dentre todos os participantes que descreveram ter um parceiro estável, 93,8% declararam que conversavam com seus parceiros sobre contracepção, comparados a 68,3% dentre os que não possuíam parceiros estáveis, χ2 (1, n = 243) = 27,24, p < 0,001.

Testes U de Mann-Whitney foram utilizados para analisar as respostas à escala de opiniões sobre contracepção, de modo a identificar diferenças entre os gêneros. As mulheres da amostra foram mais opostas à ideia de que o homem deve ter mais poder nas decisões contraceptivas, U = 10.807, p < 0,001, r = 0,37. Elas também concordaram mais com a afirmativa de que mulheres devem sempre carregar camisinhas consigo, U = 6.181, p = 0,031, r = -0,14, e se sentiram mais confortáveis com a discussão de estratégias contraceptivas com seus parceiros, U = 6.544, p = 0,008, r = -0,17. As mulheres foram menos propensas a acreditar que o uso da camisinha afeta aspectos como o desejo sexual, U = 9.225, p = 0,007, r = 0,17, e o desempenho sexual, U = 9.019, p = 0,002, r = 0,19. Elas também se mostraram menos propensas a desistir de usar camisinha caso o parceiro não estivesse disposto a fazê-lo, U = 9.744, p = 0,001, r = 0,22. Contudo, as mulheres pareceram menos propensas a concordar em usar camisinha se o parceiro solicitasse, U = 9.617, p < 0,001, r = 0,22, se elas inicialmente não estivessem dispostas a usá-la.

Os homens, ainda que em geral concordassem com os itens referentes à tomada de decisão conjunta, discordavam significativamente mais que as mulheres sobre a necessidade de o casal discutir escolhas contraceptivas, U = 6.709, p = 0,014, r = -0,16, e indicaram menor apoio à ideia de que o homem deve se preocupar com a contracepção caso a mulher use qualquer método contraceptivo, U = 5.854, p < 0,001, r = 0,23. Quanto ao uso de camisinha, os homens pareceram se preocupar menos com a ideia de relações sem uso de camisinha do que as mulhe res, concordando mais que a confiança na parceira permite menos preocupação com o uso de métodos contraceptivos, U = 10.138, p < 0,001, r = 0,27. Os homens discordaram mais da afirmativa de que eles se recusariam a fazer sexo com uma parceira que não estivesse disposta a usar camisinha, U = 5.448, p < 0,001, r = -0,27. Eles também concordaram menos com a ideia de que tentariam convencer uma parceira que estivesse contrária ao uso de camisinha, U = 6.228, p = 0,005, r = -0,18. Os homens concordaram mais com a afirmativa de que eles têm "mais tranquilidade para lembrar-se do preservativo na hora da transa", U = 10.288, p < 0,001, r = 0,28. Da mesma forma, as mulheres concordaram mais com a afirmativa de que elas "têm mais 'cabeça fria' para lembrar-se de usar o preservativo", U = 6.127, p = 0,003, r = -0,19. É importante notar que a amostra como um todo apoia a noção de que as mulheres têm mais facilidade para lembrar-se de usar preservativo durante a relação sexual, enquanto discorda da habilidade dos homens de fazer o mesmo. Um resumo das médias das respostas aos itens da escala está disponível na Tabela 3.1, dividido por gênero.

 

 

A Tabela 3.2 apresenta os resultados comparando participantes que usaram contraceptivos no último ano e aqueles que não o fizeram. Participantes que relataram o uso de contraceptivos foram mais propensos a discordar que a contracepção é responsabilidade da mulher, U = 2.154, p = 0,007, r = 0,17. Esses participantes também discordaram de que o homem deve decidir sobre a contracepção do casal, U = 2.200, p = 0,004, r = 0,18. Tais participantes também concordaram mais que eles recusariam sexo com um parceiro que não estivesse disposto a usar preservativo, U = 1.017, p = 0,029, r = -0,14. Analisando por gênero, os homens que não usaram contraceptivos no último ano mostraram maior oposição à ideia de que o uso de camisinha afeta o desejo sexual, U = 275, p = 0,024, r = -0,22. Apenas três mulheres relataram não usar contraceptivos no último ano. Elas foram mais pro pensas a concordar com a afirmativa de que a mulher deve ser responsável pela contracepção, U = 74, p = 0,038, r = 0,17.

 

 

A Tabela 3.3 mostra as médias e os resultados do teste U de Mann-Whitney comparando participantes que indicaram sempre usar preservativo no último ano com aqueles que não o fizeram. O grupo de uso inconsistente de preservativo demonstrou maior apoio para afirmativas de que aceitariam a escolha do(a) parceiro(a), seja para o uso, U = 6.741, p = 0,002, r = 0,19, ou não do preservativo, U = 7.023, p = 0,001, r = 0,21. A ideia de que o uso de camisinha afeta o desejo sexual foi mais aceita por participantes que relataram uso inconsistente de preservativo, U = 6.281, p = 0,039, r = 0,13. Os participantes que relataram sempre usar preservativo mostraram mais apoio à ideia de que os homens devem sempre carregar camisinhas consigo, U = 4.122, p = 0,010, r = -0,16, e que casais devem dividir os custos de contracepção, U = 4.143, p = 0,007, r = -0,17. Eles também concordaram com a ideia de que é mais fácil para os homens lembrarem-se de usar camisinha durante a relação sexual, U = 4.353, p = 0,020, r = -0,15.

 

 

As mulheres que descreveram uso inconsistente de preservativo valoriza ram mais a confiança no parceiro como fator no processo de tomada de decisão contraceptiva, U = 2.012, p = 0,007, r = 0,22, ainda que ambos os grupos de mulheres discordassem mais dessa afirmativa do que os homens. As mulheres que relataram sempre usar camisinha no último ano discordaram mais da afirmativa de que o homem não precisa se preocupar com o processo contraceptivo se a mulher usa algum contraceptivo, U = 1.926, p = 0,015, r = 0,20. O grupo com uso inconsistente de preservativo mostrou maior oposição à afirmativa de que os homens devem sempre carregar camisinha consigo, U = 1.077, p = 0,038, r = -0,17. Da mesma forma, a afirmativa de que o uso de camisinha afeta o desejo sexual foi mais apoiada por mulheres que relataram uso inconsistente de preservativo, U = 2.076, p = 0,001, r = 0,29. Em consonância com a análise de amostra como um todo, as mulheres que relataram uso consistente de preservativo foram menos propensas a concordar com opiniões sobre aceitar a proposta de um parceiro que fosse contrária ao seu desejo inicial, U = 2.218, p < 0,001, r = 0,32, para uma proposta de não usar preservativo contra sua vontade inicial, U = 2.165, p < 0,001, r = 0,32, e para uma proposta de usar preservativo contra sua vontade inicial.

Os homens que relataram uso inconsistente de preservativo no último ano reprovaram a ideia de que o casal deve dividir os custos da contracepção, U = 842, p = 0,035, r = -0,21. Por sua vez, os homens que relataram sempre ter usado preservativo concordaram mais que eles têm maior facilidade para lembrar-se de usar preservativo durante a relação sexual, U = 809, p = 0,014, r = -0,24.

Os participantes que descreveram ter tido um(a) parceiro(a) estável tiveram respostas diferentes a diversos itens da escala quando comparados aos participantes que não relataram uma parceria estável. Os participantes que tinham um relacionamento concordaram mais com as afirmativas de que o casal deve se sentir confortável discutindo contracepção, U = 5.448, p = 0,026, r = -0,14, que eles mesmos se sentiam confortáveis fazendo isso, U = 4.827, p = 0,001, r = -0,21, e que tentariam negociar o uso de preservativo com um(a) parceiro(a) que não estivesse disposto a fazê-lo, U = 4.992, p = 0,009, r = -0,17. Eles foram mais propensos a acreditar que recusariam sexo desprotegido com um(a) parceiro(a) que não estivesse disposto(a) a usar preservativo, U = 4.142, p < 0,001, r = -0,27, e menos propensos a concordar que fariam sexo desprotegido mesmo querendo usar preservativo, U = 7.347, p = 0,033, r = 0,13. Os participantes que viviam um relacionamento estável também concordaram mais com a ideia de que as mulheres têm mais facilidade para lembrar-se de usar preservativo durante a relação sexual, U = 5.024, p = 0,013, r = -0,16, e discordaram que os homens devem decidir sobre o método contraceptivo do casal, U = 7.298, p = 0,024, r = 0,14. Dados sobre esses itens estão descritos na Tabela 3.4.

 

 

Não houve diferenças significativas nas opiniões sobre contracepção e tipo de parceiro entre os homens da amostra. Entre as mulheres, aquelas sem parceiro estável discordaram mais sobre a capacidade de os homens se lembrarem de usar preservativo durante a relação sexual, U = 805, p = 0,015, r = -0,20. As mulheres sem um parceiro estável também discordaram mais da afirmativa de que elas teriam mais "cabeça fria" durante a relação sexual, U = 829, p = 0,024, r = -0,19. As mulheres sem parceiros estáveis também demonstraram menos disposição em ne-gar sexo desprotegido, U = 760, p = 0,005, r = 0,23, caso fosse o desejo do parceiro.

 

4. Discussão

Neste estudo, a idade de início da vida sexual está próxima do reportado em outras pesquisas com universitários (Gomes & Nunes, 2015; Moreira et al., 2018; Silva et al., 2014). A diferença entre os gêneros, com mulheres universitárias relatando início mais tardio, também foi relatada na literatura (Alves et al., 2017; Quintana et al., 2016). Outros estudos com universitários observaram que aqueles que iniciam a vida sexual mais cedo têm maior probabilidade de relatar uso inconsistente de preservativos (Gomes & Nunes, 2015; Moreira et al., 2018). Esses achados corroboram as observações de que os participantes neste estudo que tiveram início mais tardio da vida sexual relatam mais uso consistente de preservativo no último ano. Eles também apresentam maiores chances de relatar uso de contraceptivos na primeira relação sexual e atualmente. No presente estudo, não houve diferença na idade de início da vida sexual com base no uso de preservativo naquele momento. Um estudo longitudinal que investigou o comportamento sexual de jovens dos Estados Unidos constatou que a associação entre iniciação sexual mais jovem e posterior comportamento sexual de risco pode ser mediada por funções executivas, como baixo autocontrole (Magnusson, Crandall, & Evans, 2019). Essa é uma possível explicação para os resultados encontrados no presente estudo, ainda que novas pesquisas sejam necessárias para testar essa hipótese.

O uso de preservativo na primeira relação sexual não diferiu entre gêneros. Contudo, quanto ao uso de preservativo no último ano, os homens relataram maiores taxas que as mulheres, em acordo com os resultados relatados por Moreira et al. (2018). Ainda assim, uma diferença considerável foi observada entre o uso de preservativo na primeira relação sexual e no último ano, com um declínio geral no uso autorrelatado de preservativo. Essa diferença já foi descrita por outros autores (Janeiro et al., 2013; Quintana et al., 2016), que a atribuem a uma maior proporção de relações estáveis entre universitários mais velhos. Ideias sobre confiança no parceiro, a presunção de monogamia na relação e a importância da espontaneidade da relação sexual estariam ligadas à diminuição do uso do preservativo em favor de métodos hormonais em relações estáveis (Moreira et al., 2018; Quintana et al. 2016; Silva et al., 2014).

Como discutido na literatura (Moreira et al., 2018), concordar que a confiança no parceiro é um aspecto importante do planejamento contraceptivo foi mais comum entre as mulheres que reportaram uso inconsistente de preservativo, mas não entre os homens. Considerando a amostra como um todo, as mulheres discordaram mais da afirmativa de que a confiança é motivo para aceitar que o parceiro se responsabilize pela contracepção. Esses resultados reforçam a ideia de que as mulheres se consideram mais responsáveis pela contracepção do que os homens. Mesmo as que se mostraram mais dispostas a ceder à responsabilidade caso confiassem no parceiro, e o faziam pelo uso menos frequente de preservativos, acabam usando outros métodos exclusivos para mulheres, como a pílula hormonal ou o dispositivo intrauterino (DIU). Esse cenário reflete o dilema descrito por James-Hawkins et al. (2019) sobre o equilíbrio de responsabilidade contraceptiva e autonomia corporal das mulheres, que reforça o fardo de contracepção e gravidez, mesmo tentando prevenir desigualdade.

É importante notar que os(as) participantes com parceiros(as) estáveis discordaram mais do que aqueles(as) sem parceiros(as) estáveis que os homens devem decidir sobre o método contraceptivo do casal, sugerindo que relações estáveis podem equilibrar as responsabilidades contraceptivas. Além disso, as mulheres sem parceiro estável foram menos favoráveis à opinião de que os homens têm mais tranquilidade para lembrar-se de usar preservativo durante a relação sexual. Portanto, para essas mulheres, o uso de preservativo é improvável se o casal não planeja esse uso antecipadamente.

Os(as) participantes que viviam relações estáveis foram menos propensos(as) a concordar que negariam sexo desprotegido caso o(a) parceiro(a) não estivesse disposto(a) a usar preservativo. Entre as mulheres, aquelas sem parceiro estável foram menos propensas a relatar que recusariam sexo com parceiro que recusasse o uso de preservativo. Essa aparente falta de assertividade para negociar, observada nas mulheres solteiras da amostra, demonstra a assimetria do processo de tomada de decisão contraceptiva. Heilborn e Cabral (2013) afirmam que, mesmo com a modernização de atitudes sobre práticas sexuais socialmente aceitas, estereótipos de gênero ainda influenciam o comportamento sexual de jovens de diversas camadas sociais. Entrevistas com 12 jovens de 18 a 25 anos descrevem como os homens jovens se sentem mais confortáveis com a incerteza de encontros casuais, enquanto as mulheres demonstram maior preocupação em estabelecer relações estáveis (Chaves, 2016).

Dentre os itens que apresentaram diferenças em opiniões por gênero, as mulheres relataram maior disposição em discutir o processo de tomada de decisão sobre métodos contraceptivos, incluindo uma percepção menos negativa do impacto da camisinha na relação sexual. Os homens apresentaram menor disposição em conversar sobre contracepção, o que é coerente com os achados de Fennel (2011) que descreve que os homens não são socializados para pensar sobre outros métodos contraceptivos que não o preservativo. Os homens também frequentemente supõem que as parceiras já estão utilizando alguma forma de contracepção, como relatado em outros estudos com jovens (Brown, 2015).

Os homens deste estudo mostraram mais concordância com afirmativas sobre o impacto da camisinha no desempenho sexual, especialmente no desejo sexual. Isso sugere que, embora sejam mais socializados para esse método (Fennel, 2011), os homens parecem ter opiniões mais negativas quando comparados às mulheres. Rich et al. (2014) também descrevem essa avaliação negativa do impacto do uso de preservativo entre homens em um estudo com adolescentes britânicos.

Contudo, os resultados do presente estudo sugerem que as opiniões dos homens sobre o impacto do preservativo na relação sexual não diferem com base no uso autorrelatado de preservativos. Isso indica a necessidade de explorar outros fatores que podem afetar o uso de preservativos. Os homens que relataram uso inconsistente de preservativo tinham opiniões mais negativas sobre 1. a ideia de dividir os custos da contracepção com a parceira e 2. que teriam maior tranquilidade para lembrar-se de usar o preservativo durante a relação sexual.

Este estudo possui algumas limitações. Primeiro, a amostra de universitários não permite que os resultados sejam generalizáveis para populações jovens de me-nor escolaridade, que são afetadas por normas culturais diferentes (Heilborn & Cabral, 2013). Ademais, dado o delineamento transversal do estudo, não é possível analisar as causas das diferenças entre os grupos. Além disso, a falta de uma estrutura psicométrica para a escala restringiu a análise às respostas de itens individuais. Também é possível que a escala utilizada seja mais representativa da experiência feminina, levando em conta que ela foi parcialmente informada por um grupo focal composto apenas de mulheres. Ainda assim, é possível apresentar uma visão geral das opiniões sobre contracepção de estudantes universitários, fornecendo sugestões de aspectos a serem considerados em intervenções com foco no comportamento contraceptivo dessa população.

De modo geral, os resultados mostram que existem dificuldades na tomada de decisão conjunta e na negociação do uso de contraceptivos. Os participantes que relataram uso inconsistente de contraceptivos, especialmente preservativos, foram mais propensos a concordar com afirmativas contrárias ao planejamento contraceptivo. Diferenças de opiniões entre homens e mulheres na amostra corroboram a necessidade de intervenções que considerem as especificidades de cada gênero no que diz respeito ao comportamento contraceptivo, incluindo aspectos relacionais e de papéis de gênero. Ainda, existe a necessidade de que essas intervenções enfatizem o papel do preservativo como único método disponível para prevenir tanto IST quanto gestações, dada a tendência de jovens em deixar o preservativo gradualmente de lado após o início da vida sexual ou o começo de uma relação estável. Mais pesquisas são necessárias para explorar outros fatores associados com o uso de contraceptivos, além daqueles investigados por este estudo.

 

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Correspondência:
André Teixeira Stephanou
Instituto de Psicologia, sala 206
Rua Ramiro Barcelos, 2600, Santa Cecília
Porto Alegre, RS, Brasil. CEP 90035-003
E-mail: astephanou@gmail.com

Submissão: 27/07/2018
Aceite: 23/06/2020
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com bolsas de doutorado e de produtividade (1D).

 

 

Nota dos autores
André T. Stephanou, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG-PSICO), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Marina Z. Delatorre, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG-PSICO), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Ana Cristina G. Dias, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG-PSICO), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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