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Cadernos de Psicologia Social do Trabalho

versión impresa ISSN 1516-3717

Cad. psicol. soc. trab. v.1  São Paulo dic. 1998

 

APRESENTAÇÃO

 

A idéia de publicar os Cadernos de Psicologia Social do Trabalho &– com o objetivo de divulgar trabalhos de alunos de graduação de psicologia na área de trabalho &– nasceu de uma das atividades coletivas realizadas no Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho (CPAT) a partir de meados de 1995. Esse Centro, vinculado ao Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, dedica-se a temas do mundo do trabalho e tem como objetivos desenvolver pesquisas, atividades de extensão à comunidade e possibilitar atividades de estágio aos alunos de graduação em psicologia, especialmente os matriculados nas disciplinas obrigatórias da área de psicologia do trabalho.

Parte-se da compreensão do mundo do trabalho como um universo que, estruturado pelas relações de produção, comporta situações, condições e problemas sociais e humanos que estão presentes tanto dentro, quanto fora dos locais de trabalho. Essa orientação amplia o espectro de temas e, conseqüentemente, dos objetos relacionados ao trabalho passíveis de serem construídos pela psicologia e pelas ciências sociais em geral, a partir dos quais se identificam problemas que motivam atividades de pesquisa e de intervenção.

Adotando-se essa orientação, qual seria a abordagem da psicologia que poderia trazer luz e, assim, concorrer para a compreensão e para o equacionamento dos problemas presentes no mundo do trabalho? Ao se considerar que as condições materiais apresentam situações e problemas para os homens, agrupamentos humanos e para os processos organizativos, é necessário recorrer a uma psicologia que incorpore questões relativas à constituição dos sujeitos sociais, a partir de uma compreensão que permita reconhecer o papel do contexto na conformação de relações, de visões de mundo, de criação de estratégias e táticas que fazem os “modos de andar a vida”, como nos fala Canguilhem. Acreditamos que somente a psicologia social pautada na concepção dos sujeitos como seres de natureza social e intersubjetiva, com as várias noções e teorias que têm essa concepção como pressuposto, é que teria condições de suportar teórica e metodologicamente o caminhar para compreender esse universo.

Assumir esse olhar possibilitou que &– ao lado de temas há muito tratados pela psicologia do trabalho, como os processos organizacionais e a busca de equacionamento de problemas relativos à sintonia entre o trabalhador e as atividades e metas de trabalho &– temas como o desemprego, as estratégias de sobrevivência, os processos organizativos autogestionários, a geração de emprego e renda, a saúde do trabalhador, dentre outros, influenciassem a definição de práticas de extensão e linhas de pesquisa do CPAT.

Essa temática ampliada dá fôlego às atividades de estágio, nas quais os alunos de graduação desenvolvem assessorias em psicologia organizacional e em recursos humanos, em serviços públicos de saúde do trabalhador e em pesquisa.

A inclusão da prática da pesquisa como atividade de estágio sustenta-se primeiramente na afirmação de que a pesquisa é uma das atividades profissionais do psicólogo, não só na área de trabalho. Em segundo lugar, reforça a constatação de que, qualquer que seja a área de atuação do futuro profissional, a postura investigativa, criativa e crítica, e não o treino técnico, habilitará o estudante para a autonomia necessária ao exercício profissional.

Todo esse projeto de psicologia social do trabalho esboçado acima, de linhas de pesquisa e de organização de estágios, foi gestado ao longo dos três últimos anos com as contribuições do coletivo que constitui o CPAT real, do qual fazem ou fizeram parte: Anete Farina, Sandro A. Mazzio, Mário de Souza Costa, Regina Maria Batista, Lúcia Fonseca de Toledo, Renata Paparelli, Alexandre Lara de Moraes, Heloísa Hanada, Tatiana Freitas Stockler das Neves, Cláudia de Almeida Ortega, Tânia Maria Ferreira de Andrade e Silva. Devemos muito também aos professores Sylvia Leser de Mello, Arakcy Martins Rodrigues, Peter K. Spink e Sigmar Malvezzi que se dispuseram a participar de colóquios de planejamento do CPAT.

Os artigos que ora apresentamos são uma parte desse trabalho coletivo. São o produto da atividade de pesquisa de alguns grupos de alunos do quinto ano da graduação em psicologia que fizeram seu estágio no CPAT nos anos de 1996 e 1997, de ex-alunos, de alunos de pós-graduação que se mantiveram informalmente vinculados ao CPAT e de psicólogos do Programa de Aprimoramento Profissional do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de São Paulo. São trabalhos desenvolvidos com empenho, dedicação e muita persistência.

Como será possível notar ao longo da leitura, o trabalho de jovem pesquisadores, ainda em processo de formação ou recém-formados, contribui efetivamente para processo de elucidação de temas e problemas do mundo do trabalho. Esses trabalhos lançaram luz sobre temas como o desemprego, as doenças do trabalho, as estratégias de sobrevivência e a construção de objetos sociais que habitam o imaginário dos trabalhadores. Fizeram isso de tal maneira que nos instigam a olhar para tantos outros problemas sociais e humanos que nos rodeiam, mas que nem sempre foram abordados pela psicologia na área do trabalho.

Também apresentamos uma entrevista com a professora Sylvia Leser de Mello na qual são abordadas questões relativas à psicologia social do trabalho, à formação de estudantes de psicologia e é defendida a idéia de que deveríamos considerar o trabalho não apenas como uma das áreas de atuação da psicologia, mas como uma das principais categorias para se compreender o homem.

Enfim, esperamos que esta iniciativa seja uma pequena contribuição para a renovação das pesquisas e das práticas do psicólogo no campo do trabalho e para a consolidação da psicologia social do trabalho como importante desdobramento da psicologia social.

 

São Paulo, abril de 1998.

 

Leny Sato

Docente e coordenadora do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho

 

Fábio de Oliveira

Psicólogo do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho e supervisor das atividades de pesquisa

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