SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 número especialOs processos psíquicos no interior dos grupos de trabalho: para além de Bion e Pichon-RivièreO trabalho na creche a partir do invisível índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Cadernos de Psicologia Social do Trabalho

versão impressa ISSN 1516-3717

Cad. psicol. soc. trab. vol.17 no.spe São Paulo jun. 2014

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v17ispe1p111-117 

TRADUÇÕES

 

A noção de tarefa, pré-tarefa e trabalho na teoria de E. Pichon-Rivière*

 

Les notions de tâche, pré-tâche et travail dans la théorie d'E. Pichon-Rivière

 

The concepts of task, pretask and work in the theory of E. Pichon-Rivière

 

 

Fernando Fabris1

Instituto Argentino de Investigações Clínicas e Sociais (Buenos Aires, Argentina)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Segundo a perspectiva de Pichon-Rivière, não é fácil distinguir "tarefa" de "trabalho", já que essas duas noções ocupam um lugar fundamental nesse quadro conceitual. A tarefa é o encaminhamento de um grupo ou de um sujeito em direção a seus objetivos; ela é, ao mesmo tempo, uma práxis e uma trajetória de caráter multidimensional e dialética. O trabalho, assim como a tarefa, é também uma atividade que permite organizar as subjetividades individuais e coletivas, mas as duas noções comportam entre si diferenças importantes. A pré-tarefa é um modo de subjetividade (pensar, sentir e agir) oposto ao da tarefa: ela exprime uma resistência à mudança. Se o trabalho, muitas vezes, é alienante e reprodutor da desigualdade social, ele é também, de forma paradoxal, um espaço de fortalecimento da identidade e de satisfação das necessidades de reconhecimento e de realização pessoal e social, o que o aproxima da tarefa, atividade que é, por definição, saudável.

Palavras-chave: Tarefa, Trabalho, Pré-tarefa, Pichon-Rivière, Práxis, Dialética, Subjetividade, Necessidades.


RÉSUMÉ

Il n'est pas évident de distinguer la "tâche" du "travail" en suivant la perspective de Pichon-Rivière, car ces deux notions prennent, dans ce cadre conceptuel, une place fondamentale. La tâche est l'acheminement d'un groupe ou d'un individu vers ses objectifs; c'est à la fois une praxis et une trajectoire à caractère multidimensionnel et dialectique. Le travail, de même que la tâche, est aussi une activité permettant d'organiser les subjectivités individuelles et collectives, mais ces deux notions comportent également des différences importantes. La pré-tâche est une forme de subjectivité (penser, sentir et agir) opposée à celle de la tâche: elle exprime une résistance au changement. Alors que travail, tout en étant souvent aliénant et reproducteur de l'inégalité sociale, constitue fréquemment et de manière paradoxale, un espace de renforcement de l'identité et de satisfaction des besoins de reconnaissance et de réalisation personnelle et sociale, ce qui le rapproche de la tâche, activité, par définition, salutaire.

Mots-clefs: Tâche, Travail, Pré-tâche, Pichon-Rivière, Praxis, Dialectique, Subjectivité, Besoins.


ABSTRACT

It is not easy to differentiate "task" and "work" from the perspective of Pichon-Rivière's conceptual framework, because both concepts have a fundamental place within his theory. The task is the march of a group or one subject towards their goal; it is a praxis or trajectory that can be characterized as multidimensional and dialectical. The work, like the task, is an activity that organizes individual and collective subjectivities, but there are important differences between them. The pre-task is a form of subjectivity (thinking, feeling and acting) opposed to the task: it expresses a resistance to change. Although frequently alienated and replicator of social inequality, work often generates – paradoxically – a strengthening of identity, satisfaction of acknowledgment needs and personal and social development. For these reason, work can be assimilated to a task, activity that is, by definition, healthy.

Keywords: Task, Work, Pretask, Pichon-Rivière, Praxis, Dialectic, Subjectivity, Needs.


 

 

Introdução

Para aqueles que, como nós, trabalharam e viveram na Argentina durante a década de 1990, é difícil postular diferenças muito nítidas entre os conceitos de tarefa e de trabalho. O incremento do desemprego durante aqueles anos, em pleno auge neoliberal, provocou aumento do sofrimento e grande proliferação de quadros psicopatológicos, de modo que se torna difícil, para quem foi participante ou observador daquela realidade, subestimar o caráter organizador do trabalho na subjetividade.

Por outro lado, a experiência do trabalho excessivo nos fez compreender outras características da natureza do trabalho: os ritmos estressantes e o prolongamento da jornada de trabalho geraram um tipo de subjetividade fragmentada (Quiroga, 1998; Fabris 1999, 2002).

Naquele tempo se constatava por toda parte o efeito de desarticulação da subjetividade, resultante da transformação da instituição do trabalho e, em seguida, da tarefa – sendo os conceitos de trabalho e tarefa entendidos como organizadores da existência humana.

Trinta anos antes da década de 1990, Pichon-Rivière (1967) já tinha escrito: "Em nossa cultura, o homem sofre a fragmentação e dispersão do objeto de sua tarefa, daí ele se encontrar em uma situação de privação e anomia que o impede de manter um vínculo com tal objeto, com o qual ele guarda uma relação fragmentada, transitória e alienada". E concluía: "A alienação do vínculo com sua tarefa se desloca para os vínculos com objetos internos" (p. 17).

 

O que é tarefa?

"A tarefa é a marcha do grupo em direção ao seu objetivo, é um fazer-se e um fazer dialético em direção a uma finalidade, é uma práxis e uma trajetória" (Pichon-Rivière, 1970, p. 189). Considerando seu próprio percurso, esse autor afirmou: "Para nós, a tarefa é o elemento essencial do processo grupal" (Pichon-Rivière, 1970a, p. 21). Ele ainda destacou que sua técnica de trabalho não está centrada nos indivíduos nem na totalidade do grupo, mas "na relação que os membros do grupo mantêm com a tarefa". O essencial, então, é "a relação entre um grupo e seus membros com uma dada tarefa" (Pichon-Rivière, 1970a, p. 22).

Pichon-Rivière (1969b) aludiu à tarefa como algo onipresente: "Todo grupo se propõe explícita ou implicitamente uma tarefa que constitui seu objetivo ou finalidade" (p. 143, itálico nosso). Assim, não só os grupos, mas também os sujeitos "estão ou não estão em tarefa". A tarefa é, portanto, uma atividade – individual ou coletiva – que se dirige de certas necessidades a certos objetivos específicos.

Cabe observar que os objetivos visados na tarefa são específicos, mas não especificáveis, pelo menos no começo de um processo. Há tarefas prescritivas e objetivos específicos endereçados aos sujeitos, em geral fixados pelo contexto organizacional ou pela instituição. Mas, à medida que se envolvem em suas tarefas, os sujeitos descobrem sentidos imprevisíveis e em parte imperceptíveis, já que estes só se revelam com a imersão na tarefa. Além do que pode ser prescrito, a tarefa é um processo singular, único e que não se repete.

A complexidade estrutural de uma tarefa corresponde à sua densidade temporal. Seu percurso pode ser mais ou menos linear: mas, em geral, é do tipo recursivo, com avanços e retrocessos, em ziguezague, com momentos caóticos, com caráter multidirecional, essencialmente crítico e dialético. E, sob esse aspecto, é impossível haver certezas. Assim, a tarefa não é o cumprimento de mera atividade prescrita. Se quisermos manter aberta a espiral dialética, essa incerteza inevitável deve ser respeitada. Pode-se ter a impressão de que o giro da espiral passará pelo mesmo lugar, mas ela sempre se desloca um pouco mais além do previsto. Pode-se saber se houve uma tarefa... mas isso ocorre sempre mais tarde, no fim do percurso.

 

Obstáculos

Há obstáculos que não são sistemáticos, mas que costumam ser persistentes. Eles decorrem de medos que coexistem com a perda e com o ataque (ansiedades depressivas e paranoicas, ou "medos de base"), que configuram a resistência à mudança, mas que constituem, ao mesmo tempo, dificuldades inerentes à complexidade estrutural da dimensão cognitiva da tarefa.

Pichon-Rivière referiu-se a obstáculos epistemológicos e epistemofílicos, aos quais nós agregamos um terceiro tipo: os obstáculos epistemopráticos (Fabris, 2004). Os epistemológicos referem-se às noções de disposição ou de carência de estruturas cognitivas e conceituais necessárias. Os epistemofílicos, às mencionadas resistências à mudança, resultantes dos medos básicos. Os epistemopráticos referem-se à disponibilidade ou à falta de experiências práticas que permitam referir a experiência atual às anteriores. Citemos Pichon-Rivière (1969b):

A tarefa, a estrutura grupal e o contexto em que se relacionam tarefa e grupo constituem uma equação da qual surgem fantasias inconscientes, que seguem o modelo primário do desenvolvimento do grupo interno. Entre essas fantasias, algumas podem funcionar como obstáculo na abordagem do objeto de conhecimento e distorcer a leitura da realidade, enquanto outras atuam como incentivo ao trabalho grupal. O enfrentamento de ambos os tipos de fantasias inconscientes projetadas no grupo produzirá as situações de conflito características da tarefa grupal. O esclarecimento de tais fantasias inconscientes e a resolução dialética do dilema que deu origem ao conflito constituem a tarefa latente do grupo e abrem a possibilidade da criação (p. 143).

Especificamente a respeito das relações entre tarefa explícita e implícita, Pichon-Rivière (1969) escreveu: "sob essa tarefa explícita, subjaz outra implícita, que visa a uma ruptura, através do esclarecimento, das estruturas estereotipadas que dificultam a aprendizagem e a comunicação, além de operar como um obstáculo frente a toda situação de progresso ou mudança" (p. 153).

 

"Estar em tarefa"

Do que foi dito, depreende-se que a tarefa supõe um trajeto dialético que, através de múltiplas dimensões, implica os sujeitos individuais e coletivos em um percurso que vai desde necessidades prioritárias até objetivos específicos (embora não completamente especificáveis, num primeiro momento). Daí decorre o fato de a tarefa não ser uma atividade qualquer. Essa noção remete a uma qualidade específica de determinada atividade. A tarefa supõe a passagem por múltiplas contradições, simultâneas e sucessivas, e sua resolução. Trata-se de uma práxis complexa e multidimensional.

Quando se analisa um sujeito, um grupo ou outro tipo de coletivo social, é preciso considerar pelo menos as seguintes dimensões: os processos de comunicação, o ruído e o mal-entendido; as dimensões da aprendizagem e de obstáculo; os processos vinculares e grupais de afiliação e pertencimento (versus serialidade); as possibilidades de cooperação e a sabotagem; o télé positivo e negativo; as ideologias em jogo, em suas dimensões manifestadas e latentes; os contextos institucionais e sociais intervenientes (explícitos e implícitos); os acasos da incerteza e da ambivalência; as necessidades e motivações em jogo; os segredos grupais; os medos (ansiedades paranoides e depressivas) e os projetos de mudança; a natureza essencialmente problemática do objeto da tarefa e as condições de aproximação, de enfrentamento e de resolução das necessidades, dos objetivos e da tarefa. E, se nos referimos especificamente a um sujeito particular, caberia agregar algumas outras dimensões específicas das quais não podemos tratar aqui.

Os integrantes de um grupo vivem a experiência de estar em tarefa quando se percebem transformando um objeto e se sentem transformados por ele e pela atividade na qual intervêm. Vivenciam estar em tarefa quando veem que "trabalham" e "se trabalham" e que uma relação transformadora e criativa se dá entre sujeitos e objetos (da tarefa).

Mas a tarefa é só o momento de encontro fecundo, no qual sujeitos e objetos se interpenetram e transformam? Ou essa noção se refere principalmente às vicissitudes do percurso de um processo construtivo? Refere-se ela à intensidade do encontro ou ao laborioso – e às vezes frustrante – processo de aproximação de um objeto complexo e problemático?

"Tarefa significa momento de encontro e processo construtivo. É uma conjunção; o instante na música ou no teatro, o momento da operação, na técnica de grupo operativo" (Pichon-Rivière, 1964, p. 34). E também processo e práxis, através da qual os sujeitos se objetivam e produzem. Na tarefa, e pela tarefa, os sujeitos tomam em mãos um objeto problemático, fazem descobertas e se descobrem, enquanto operam sobre significações e ultrapassam obstáculos, o que lhes permite esquivar-se de confrontações estereotipadas e improdutivas.

 

E o trabalho?

Pichon-Rivière (1964, pp. 35-36) considera que o termo trabalho "tem a conotação ideológica de ser feito por alguém modificando algo" e que "sua indeterminação fez que concepções filosóficas, teológicas e metafísicas tenham falado dele". E acrescenta: "Para nós, [a tarefa] é também um elemento ideológico, mas sua inclusão em nossa concepção psicossociológica busca [...] criar, com esquemas adequados, certas situações práticas".

O autor insiste no sentido operacional e situacional da noção de tarefa. Ele tenta descartá-la das implicações (pertinentes ou não) relativas às concepções do homem e do mundo que localizam o trabalho no centro da questão. Ele assinala que o conceito tarefa é ideológico, mas em um sentido distinto. Não é qualquer trabalho que constitui uma tarefa, mesmo se "tarefa" e "trabalho" dão conta do caráter estruturante das atividades e das práxis humanas, através das quais os sujeitos se apropriam do mundo e o transformam. Vejamos as diferenças entre as duas noções: "tarefa" é um conceito que compreende, na perspectiva disciplinar da psicologia social, da psicossociologia e da psicologia, um traço relevante das condutas individuais e coletivas. Seu sentido é diagnosticar situações práticas que permitem avaliar a significação de um segmento da vida social em um contexto determinado. É por isso que, segundo Pichon-Rivière (1964), na tarefa se "constrói um pensar, um sentir e um agir, cuja distinção é central" (p. 33).

A noção de "trabalho", por sua vez, refere-se a um aspecto determinante da organização social, em seu conjunto; embora o conceito de trabalho possa ser utilizado pela psicologia, pela psicologia social ou pela ciência política, as implicações mais determinantes dessa noção são abordadas principalmente pela antropologia, pela sociologia e, muitas vezes de modo reducionista, pela economia.

"Tarefa" remete a uma atividade baseada na satisfação de necessidades humanas. O "trabalho", mesmo que também suponha a satisfação de necessidades humanas, remete igualmente a uma reprodução social que, em cada ciclo do capital, afirma e em geral aprofunda a desigualdade social que a fundamenta. A tarefa supõe resultados que não são de todo predeterminados ou predetermináveis, pois os objetivos que ela busca admitem reconfigurações nas quais os sujeitos podem intervir ativamente. No trabalho, no entanto, os resultados são basicamente predeterminados e, em geral, condicionados por elementos externos: os objetivos devem ser cumpridos e são escassamente vinculados às decisões dos sujeitos.

A tarefa é por definição saudável, seu cumprimento reforça a identidade dos sujeitos. Ela permite a satisfação das necessidades de reconhecimento e aquelas de desenvolvimento e realização individual e social. Quando isso não ocorre, pode-se pensar que não se trata de uma verdadeira tarefa. Já o trabalho pode ser saudável ou não. Ele pode reforçar a identidade ou deteriorá-la. O reconhecimento, quando existe, ocorre sob um aspecto do sujeito ou do grupo (reforçando a unilateralidade das imagens e sua consequente alienação). Somente para uma pequena parte da população o trabalho constitui um espaço de desenvolvimento e realização pessoal e social, e não um simples meio de subsistência.

 

Pré-tarefa

A pré-tarefa é um modo de subjetividade (pensar, sentir e atuar) que se caracteriza pelo uso estereotipado de técnicas do eu que funcionam a serviço da resistência à mudança. Por meio dessas técnicas, evita-se o enfrentamento e a abordagem do objeto da tarefa, com as angústias que isso implica. "A pré-tarefa, com suas técnicas dissociativas, é uma etapa habitual no desenvolvimento do trabalho do grupo. Mas, quando ela fica estagnada, se o estereótipo adquire uma rigidez crescente, a produtividade do grupo será nula" (Pichon-Rivière, 1965, p. 129).

Do ponto de vista dos sujeitos, nessa situação de resistência emerge um núcleo depressivo, com consequências na dinâmica grupal, através de ressonâncias intersubjetivas e de interação: "esse núcleo depressivo está vinculado à situação de nascimento e do desenvolvimento, e é responsável pelo comportamento estereotipado resultante de uma situação de estagnação no processo de aprendizagem da realidade e de deterioração da comunicação, o que impede aproximação do objeto de conhecimento e da situação de tarefa" (Pichon-Rivière, 1969, p. 155).

A pré-tarefa coexiste com a tarefa, sendo então necessário, em cada aqui-agora com o outro, determinar o "número" ou "os fluxos" de pré-tarefa, diagnosticando ao mesmo tempo as vicissitudes da tarefa e da pré-tarefa.

A noção de pré-tarefa formulada por Pichon-Rivière em 1964, alguns anos depois de sua definição do conceito de tarefa (em 1956), não supõe nenhuma "preparação" para a tarefa. A pré-tarefa constitui uma etapa lógica e não cronológica. É só é um antes ("pré") no sentido de que, enquanto predomina, o objeto da tarefa não é abordado. A pré-tarefa descreve um momento de resistência à abordagem do objeto de conhecimento e ao esclarecimento das implicações subjetivas e objetivas dos sujeitos com respeito a esse objeto ou ao tema em questão. Como instância lógica e não cronológica, ela pode apresentar-se ou não em qualquer momento do processo grupal, no início, em seu desenvolvimento ou em seu término.

Se os sujeitos ou grupos logram vencer os medos e obstáculos que alimentam a resistência à mudança (ansiedades paranoides e depressivas que configuram o medo de mudança) e conseguem fazer valer a comunicação sobre o ruído, a aprendizagem sobre o obstáculo, o pertencimento sobre a serialidade, a capacidade de cooperar contra a sabotagem, o pertencimento se manifesta, então, como capacidade de estar centrado em uma tarefa. Chamamos aqui de pertencimento aquilo que remete à possibilidade do grupo de estar centrado na tarefa prescrita e em seu esclarecimento. A qualidade da pertinência é avaliada de acordo com o montante da pré-tarefa, com a criatividade e a produtividade do grupo, e com suas aberturas em relação a um projeto (Pichon-Rivière, 1969, p. 154).

 

 

À guisa de conclusão

No começo deste texto, dissemos que não é fácil diferenciar tarefa e trabalho. De formas distintas, tarefa e trabalho estão no centro da teoria de Pichon-Rivière: tarefa, como instrumento conceitual que permite realizar um diagnóstico psicossocial; trabalho, como noção central da concepção do sujeito e do mundo, na qual se sustenta a obra desse autor.

O desafio prático para os sujeitos individuais ou coletivos é desenvolver a tarefa, superar os obstáculos, alcançar os objetivos iniciais ou suas reconfigurações emergentes. Não se trata, em primeiro lugar, de analisar as contradições, mas de criar as condições e alcançar o desenvolvimento da tarefa. Trata-se de um fazer multidimensional que implica, ao mesmo tempo, um fazer-se, um "trabalhar" que supõe um trabalhar-se, um transformar que é também transformar-se. Como foi dito, nas trajetórias da tarefa, os sujeitos se perdem e se reencontram, se enraízam, se entreveem, concretizam, atualizam e projetam.

Sem negar os sofrimentos ou os esforços que a tarefa às vezes requer (não é bom idealizar nenhum conceito), nem a dificuldade intrínseca ao enfrentamento dos obstáculos, deve-se recordar que a tarefa é uma atividade – em si mesma saudável. O trabalho oferece uma segurança psicológica básica, relacionada à garantia de satisfação das necessidades de subsistência e de certo reconhecimento que, ainda que parcial, é necessário. Mas o trabalho pode garantir outras coisas e constituir uma atividade antialienação, uma verdadeira tarefa, no sentido pichoniano do termo. Isso ocorre em parte, mas nem sempre, apesar das interferências cotidianas impostas pelas relações sociais dominantes.

O trabalho pode fortalecer a identidade dos sujeitos e significar mais que um simples meio de subsistência. Pode satisfazer não só necessidades essenciais de segurança, mas também algumas necessidades afetivas (como a do reconhecimento) e as necessidades de desenvolvimento e realização pessoal e social. Não é qualquer trabalho que permite a emergência da tarefa, mas o sujeito busca construí-la em seu trabalho.

 

Referências

Bauleo, A. (Org.) (1980). Grupo operativo y psicología social. Montevideo: Imago.         [ Links ]

Dejours, C. (2006). La banalización de la injusticia social. Buenos Aires: Topia.         [ Links ]

Dejours, C. (2010). Contribución de la clínica del trabajo a la teoría del sufrimiento. Revista Topía.         [ Links ]

Fabris, F. (2002). Más allá de la fragmentación y el vacío de los '90. El 2002 entre la depresión, el colapso y las nuevas saludes. Revista Temas de Psicología Social, 21, 97-111.         [ Links ]

Fabris, F. (2007). Pichon-Rivière, un viajero de mil mundos. Génesis e irrupción de un pensamiento nuevo. Buenos Aires: Polemos.         [ Links ]

Fabris, F. (Org.) (2009). Sujeto, vínculo, grupo y proceso social desde la perspectiva de Enrique Pichon-Rivière. Intersubjectivo, Revista de Psicoterapia Psicoanalítica y Salud, 10 (1).         [ Links ]

Fabris, F. (2009b). Pichon-Rivière, irrupción y génesis de un pensamiento, Intersubjectivo. Revista de Psicoterapia Psicoanalítica y Salud, 10 (1), 11-28.         [ Links ]

Fabris, F. (2011). De los noventa al Bicentenario, una lectura de la subjetividad colectiva argentina. Cuadernos de Campo, 10, 20-28.         [ Links ]

Fabris, F. (2012). Pichon-Rivière y la construcción de lo social. Pasos y estrategias de una praxis colectiva. Buenos Aires: Polemos.         [ Links ]

Fabris, F. & Galiñanes, M. D. (2004). Psicología clínica pichoniana. Una perspectiva vincular, social y operativa de la subjetividad. Buenos Aires: Ediciones Cinco.         [ Links ]

Goldmann, L. (1973). Lukács y Heidegger. Hacia una filosofía nueva. Buenos Aires: Amorrortu.         [ Links ]

Jasiner, G. (2007). Coordinando grupos: una lógica para los pequeños grupos. Buenos Aires: Lugar Editorial.         [ Links ]

Jatin, R. (2009). El portavoz. Del porta síntoma al equipo de fútbol en la obra de E. Pichon-Rivière. Intersubjectivo, Revista de Psicoterapia Psicoanalítica y Salud, 10 (1), 93-98.         [ Links ]

Kesselman, H. (2009). Sujeto y grupo familiar: teoría y clínica. Intersubjectivo, Revista de Psicoterapia Psicoanalítica y Salud, 10 (1), 58-82.         [ Links ]

Klein, R. (2009). El trabajo grupal. Cuando pensar es hacer. Buenos Aires: Lugar Editorial.         [ Links ]

Lefebvre, H. (1967). Obras (posteriores a 1958). Tomo I y II. Buenos Aires: A. Peña Lillo.         [ Links ]

Manigot, M. (1988). La función del coordinador: su razón de ser en el grupo. Revista Temas de Psicología social, 9, 155-168.         [ Links ]

Marx, K. (1974). Tesis sobre Feuerbach. In K. Marx, Obras Escogidas. Tomo I (pp. 7-10). Moscou: Editorial Progreso.         [ Links ]

Marx, K. (1994). El capital. México: Siglo Veintiuno Editores.         [ Links ]

Moffatt, A. (1990). Psicoterapia del oprimido. Buenos Aires: Editorial Humanitas         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1956). Presentación de hacia la pintura de Franco Di Segni (Versión mimeografiada). Buenos Aires: Movimiento NOA.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1960). Técnica de los grupos operativos. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 107-113). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1963). Prólogo al libro de F. K. Taylor, "Un análisis de la psicoterapia grupal". In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 101-105). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1964). La noción de tarea en psiquiatría. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 33-36). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1965). Grupos operativos y enfermedad única. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 121-139). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1965-66). Grupos familiares. Un enfoque operativo. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 65-74). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1967). Una nueva problemática para la psiquiatría. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 13-31). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1969). Estructura de una escuela destinada a la formación de psicólogos sociales. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I. (pp. 149-160). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivère, E. (1969b). Grupo operativo y modelo dramático. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I. (pp. 141-147). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1970a). Historia de la técnica de los grupos operativos. Revista Temas de Psicología Social, 6, 21-33.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1970b). Una teoría del abordaje de la prevención en el ámbito del grupo familiar. In E. Pichon-Rivière (1977), El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I (pp. 185-190). Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal. Del psicoanálisis a la psicología social I. Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Pichon-Rivière, E. (1957/1985). Teoría del Vínculo. Buenos Aires: Nueva Visión.         [ Links ]

Quiroga, A. (1998). Algunas reflexiones sobre grupo y grupo operativo. In Crisis, procesos sociales, sujeto y grupo (pp. 109-125). Buenos Aires: Ediciones Cinco.         [ Links ]

Sartre, J.-P. (2004). Crítica de la razón dialéctica. Buenos Aires: Losada.         [ Links ]

Scherzer, A. (1988). Relación grupo-tarea. Aportes acerca de los grupos humanos. In Emergentes de una psicología social sumergida (pp. 19-41). Montevideo: Banda Oriental.         [ Links ]

Zito-Lema, V. (1975/986). Conversaciones con Enrique Pichon-Rivière sobre el arte y la locura. Buenos Aires: Ediciones Cinco.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
fernandofabris@gmail.com

 

 

* Publicado originalmente em: Nouvelle Revue de Psychosociologie, 15 (1), 183-192, 2013. DOI: 10.3917/nrp.015.0183
1 Diretor do Instituto Argentino de Investigações Clínicas e Sociais (ICS). Professor titular de Teoria da Conduta na primeira escola particular de Psicologia Social fundada por Enrique Pichon-Rivière na Argentina. Agradece-se a colaboração de M. D. Galiñanes, S. Puccini, G. Lachowicz, M. Cambiasso, C. Cirigliano, G. Tonnier, S. Bellini, E. Puz e M. Álvarez, estimados colegas que tiveram a cortesia de comentar e discutir as ideias apresentadas neste trabalho.