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Cadernos de Psicologia Social do Trabalho

Print version ISSN 1516-3717

Cad. psicol. soc. trab. vol.21 no.2 São Paulo July/Dec. 2018

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v21i2p165-180 

DOI: 10.11606/issn.1981-0490.v21i2p165-180

ARTIGOS ORIGINAIS ORIGINAL ARTICLES

 

"Ser um ambulante é necessidade que nós temos de trabalhar": cotidiano e identificação de trabalhadores pipoqueiros de Belo Horizonte

 

"Being a street vendor is a necessity that we have to work on": daily life and identification of popcorn sellers of Belo Horizonte

 

 

Gabriel Farias Alves CorreiaI,1; Higor Gomes PereiraI,2; Alexandre de Pádua CarrieriI,3

IUniversidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil)

Correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é compreender o que é ser um trabalhador pipoqueiro na cidade de Belo Horizonte, as práticas cotidianas que envolvem a profissão e como é construída a identificação com esse trabalho. Para a proposta, adotamos uma abordagem qualitativa e realizamos sessenta e duas entrevistas com pipoqueiros atuantes na região central da cidade. Utilizamos a técnica de Análise Linguística do Discurso para analisarmos os dados e debruçamo-nos sobre o percurso semântico "cotidiano e identificações: ser ambulante e a necessidade de trabalhar", considerando o cotidiano como aquele que interfere na construção das identificações dos pipoqueiros. Por fim, buscamos também ampliar e fomentar o debate acerca de saberes não hegemônicos.

Palavras-chave: Identidade, Identificação, Cotidiano, Pipoca, Trabalhadores pipoqueiros.


ABSTRACT

The objective of this article is to understand what it is to be a popcorn seller in the city of Belo Horizonte, the daily practices that involve the profession and how the identification with this work is constructed. For the proposal, we adopted a qualitative approach and carried out 62 interviews with popcorn sellers active in the central region of the city. The technique of Linguistics Discourse Analysis was used to analyze the data and in this article, we looked at the semantics path "daily life and identifications: being street vendor and the need to work", and we consider the daily life as one that interferes in the construction of the identifications of the popcorn workers. Finally, we seek to broaden and foster the debate on daily life and non-hegemonic knowledge.

Keywords: Identity, Identification, Daily life, Popcorn, Popcorn sellers.


 

 

Introdução

Este artigo é resultado de uma pesquisa maior que buscou abranger e discutir a história, o território, o cotidiano e a identificação de trabalhadores ambulantes, sobretudo os pipoqueiros, da região central da cidade de Belo Horizonte. Portanto, debruçamo-nos sobre o objetivo de compreender o que é ser trabalhador ambulante, mais particularmente, o que é ser pipoqueiro nessa cidade, como é construída a identificação com esse trabalho e quais são as práticas cotidianas existentes na profissão.

Ao propormos o estudo de indivíduos que realizam trabalhos, muitas das vezes ignorados, em espaços públicos, ressaltamos o protagonismo de profissões e saberes deslegitimados por modelos por ora dominantes, funcionais e que se apresentam como mais "legítimos". Nesse sentido, seguimos a proposta de Carrieri, Santos, Pereira e Martins (2016) de sobrelevar as práticas de trabalhadores desconsideradas por estruturas formais de conhecimento. Além disso, buscamos ampliar a concepção acerca desse trabalho, utilizando como objeto de pesquisa a vivência cotidiana de trabalhadores ambulantes, ponderando suas localizações sócio-histórica e cultural.

Estimamos o exercício do trabalho ambulante como alternativa diante do desemprego e das diversas crises do sistema capitalista, assumindo que as lutas por formas de sobrevivência e o cotidiano das atividades impactam as construções das identificações dos trabalhadores. Para isso, temos como suporte a alteração da organização do espaço pelos sujeitos, que jogam com as imposições de outros de maior poder e aproveitam os momentos para criar e até subverter, de maneira astuciosa, suas práticas cotidianas, impactadas pela precarização do trabalho como elemento central na dinâmica atual do capitalismo (Araújo & Morais, 2017; Certeau, 1994).

O Ministério do Trabalho e Emprego definiu, com base na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), (instituída por portaria ministerial nº 397, de 9 de outubro de 2002) que os pipoqueiros são categorizados como trabalhadores ambulantes, ou seja, comercializam mercadorias e alimentos em logradouros públicos. Essa classificação ainda coloca a responsabilidade autônoma pela compra de insumos e equipamentos de trabalho, realização do processo de negociação com fornecedores, planejamento de atividades, modo que o comércio será exercido, bem como o local em que o trabalho ocorrerá. As atividades destacadas pela CBO – além da inexistência de legislação trabalhista específica, de salário fixo, e a conjugação entre detentor dos meios de produção e da força de trabalho para prover sustento de suas famílias (Xavier, Falcão & Torres, 2015) – são indícios de que o trabalho com a comida de rua também pode ser destacado como uma forma de trabalho proveniente dos setores populares.

Para Kraychete, Lara e Costa (2000) e Kraychete (2016), o processo de transformação nas estruturas do trabalho, ocorrido nos últimos quarenta anos, resultou na diminuição de postos assalariados, no aumento do desemprego e no crescimento de trabalhadores que realizam atividades autônomas. Ao mesmo tempo, os autores afirmam o aumento da dependência das atividades produtivas individuais, familiares e/ou associativas, sustentando a existência de uma economia dos setores populares.

Para tanto, realizamos uma pesquisa qualitativa com 62 pipoqueiros que trabalham no centro da cidade de Belo Horizonte. Além de entrevistas, para conhecermos suas práticas, acompanhamos o dia a dia em vários pontos do centro da cidade. Com isso, optamos por realizar a discussão a partir da Análise Linguística do Discurso (ALD) que, segundo Souza e Carrieri (2014), permite interconectar elementos linguísticos e extralinguísticos. Concebemos aqui o discurso como uma prática social em que a linguagem reproduz formas de significação da realidade social ao buscar representá-la.

Neste estudo, após essa introdução, apresentamos o suporte teórico para a pesquisa, abrangendo reflexões de cotidiano e economia dos setores populares, além da reflexão que caminha da identidade às identificações. Em seguida, descrevemos os percursos metodológicos e, logo depois, apresentamos as análises e as discussões dos resultados. Por fim, expressam-se as considerações finais sobre a pesquisa, além de sugestões para trabalhos futuros.

 

A economia dos setores populares e o cotidiano

Neste tópico, buscamos aproximar a discussão sobre a economia dos setores populares com a do cotidiano, tendo em vista que ambas as temáticas envolvem formas astuciosas de sobrevivência sem, necessariamente, romper com o que está imposto – seja com a economia capitalista (no caso da economia dos setores populares), seja com os sujeitos de maior poder (no caso do cotidiano). Para Kraychete (2016), a economia dos setores populares vem crescendo no Brasil há pelo menos quatro décadas e é resultado das crises capitalistas que impõem um processo de desindustrialização ao trabalhador.

Zegada (2014) vai além e afirma que o fenômeno de economia dos setores populares não é recente, existindo indícios de eixos econômicos alternativos e complementares a eixos dominantes nos tempos coloniais da América Latina. A população local da região buscava estratégias autônomas de reprodução de suas existências, ligadas ocasionalmente às redes dominantes. Tais estratégias constituíam atividades que os estados coloniais não conseguiam regular.

Mais recentemente, já sob o modelo neoliberal, Zegada (2014) destaca que os processos de desindustrialização conduziram os setores proletários a atividades que os permitissem sobreviver no chamado "empreendedorismo popular". Essa dinâmica envolve, sobretudo, processos macroeconômicos e financeiros, significando expansão de mercados internacionais e ocasionando a disseminação das lógicas de capital, trabalho e relações sociais por todas as partes do mundo.

Kraychete et al. (2000) afirmam que, entre os anos de 1940 e 1980, o mercado brasileiro era estruturado por meio do aumento de empregos assalariados, principalmente aqueles com carteira assinada, ocasionando uma redução de trabalhadores autônomos. Esse processo refletiu no aumento da População Economicamente Ativa (PEA), indo de 42% (em 1940) para 62,8% (em 1980). A partir dos anos de 1980, o caminho em direção a uma composição estruturada do mercado de trabalho no Brasil por meio do assalariamento foi interrompido, especialmente em relação aos empregos assalariados com registro formal.

A tendência de crescimento de trabalhos assalariados com carteira assinada foi cessada em um contexto de ajustes macroeconômicos que se voltavam para o controle da taxa de inflação e das contas externas. Assim, as diminuições dos empregos assalariados refletiram no crescimento do número de trabalhadores sem contrato de trabalho e que realizavam atividades por conta própria. A partir de então, entre os anos de 1980 e 1991, o emprego assalariado apresentou crescimento médio anual de apenas 2,8%, influenciado, sobretudo, pelo emprego assalariado sem registro formal (Kraychete et al., 2000).

Para os autores anteriormente citados, foi na década de 1990 que as atividades de trabalho por conta própria se tornaram mais evidentes. A cada dez ocupações geradas nessa década, apenas duas eram assalariadas, cinco poderiam ser caracterizadas como aquelas por conta própria e três não eram remuneradas. Entre os anos de 1986 e 1998, o emprego assalariado teve redução de 4% nas regiões metropolitanas brasileiras, enquanto as atividades por conta própria aumentaram 61%.

Na atualidade, Guiraldelli (2014) atesta o alcance de uma condição estrutural que reduz a quantidade de trabalhadores úteis ao capital, evidenciada por uma redução de empregos estáveis e protegidos e por uma crescente taxa de desemprego em conjunto com a redução do trabalho vivo e de postos formais. O autor complementa que, com o desemprego estrutural e a expulsão dos trabalhadores da cadeia produtiva, sem que ocorra uma posterior inserção, emerge uma nova configuração das relações sociais de trabalho, intermediadas por um relacionamento entre aqueles que compram e vendem a força de trabalho.

O aumento do desemprego e a diminuição dos trabalhos assalariados formais, em conjunto com a crescente taxa de ocupação por conta própria, resultaram no crescimento de ocupações consideradas informais. Nesse sentido, parcelas cada vez maiores da população brasileira buscaram formas alternativas de geração de renda, o que fez novos problemas emergirem para um mercado de trabalho historicamente pautado pela desigualdade e exclusão (Kraychete et al., 2000).

Santos e Deluiz (2009) afirmam que, em um contexto de crise do trabalho, observa-se que: a) a retração de direitos do trabalho acontece a partir da pressão da classe empresarial (do capital) para que governos adotem políticas neoliberais; e b) a força de trabalho não é absorvida pelo mercado formal. Diante de tal contexto, os setores populares, com vistas à satisfação de suas necessidades básicas, direcionam-se à produção de bens e serviços. Os sujeitos que compõem esse setor, colocados à margem dessas mudanças, (re)criam a possibilidade de geração de trabalho e renda, provocando um dualismo estrutural na economia e em suas vidas cotidianas: de um lado, a organização econômica, de acordo com a lógica de acumulação do capital (e que não supera as contradições do capitalismo); de outro lado, a economia vista pela ótica do trabalho e a reprodução ampliada da vida (Coraggio, 2018; Fernandes & Costa, 2018; Santos & Deluiz, 2009; Tiriba, 2013).

É no contexto neoliberal de acumulação per se que a economia dos setores populares é apresentada como "economia dos pobres", como somente estratégia de sobrevivência. Diferente disso, Costa (2010) afirma que tratar a economia na perspectiva formal capitalista como eufemismo de pobreza é um equívoco, tendo em vista sua existência dinâmica e geradora, para alguns trabalhadores, de algum nível de renda e possiblidades de sobrevivência em seu cotidiano. A autora ainda afirma que a noção de pobreza deve estar desvinculada de somente restrição de renda e consumo, devendo abranger também o acesso a serviços, qualidade de moradia, de educação, de políticas públicas de saúde, além do acesso à noção ampliada de direitos. Isso ocorre a partir de escolhas políticas e dos mecanismos perpetuados para distribuição de riqueza, sendo um campo de conflito político de classe, tendo em vista a impossibilidade de romper com as relações sociais e de produção capitalista.

Santiago e Vasconcelos (2017) afirmam a tendência do uso do termo "setor informal" para designar os grupos de pessoas que não foram incorporados aos moldes ordenados das economias capitalistas nos países subdesenvolvidos. Esses autores complementam ainda que, atualmente, a utilização de tal termo não é mais recomendada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual foi responsável por cunhar a expressão. A justificativa seria que seu uso reduz a complexidade do fenômeno econômico popular, e, sendo assim, deveria ser substituído por "processo de informalidade".

Os trabalhadores buscaram, então, encontrar formas de auferir renda, emergindo trabalhos como autônomos, ambulantes, temporários, irregulares (do ponto de vista do capital); na maior parte das vezes eram atividades precárias, mas que contribuíam para um processo de informalidade. Isso acarreta uma retomada pelos setores formais de antigas atividades marginalizadas e voltadas para acumulação capitalista, o que contribui para certa heterogeneidade do mercado de trabalho. Todavia, essas atividades se inserem em um contexto de precariedade de condições de trabalho, de negação de direitos básicos e, de certa forma, de reprodução da pobreza e das desigualdades sociais (Costa, 2010).

Duclos (2017) pondera que, como resposta à precarização e limitação ao mercado formal de trabalho, desenvolvem-se formas alternativas de economias com vistas a garantir, além de questões materiais, recursos imateriais. Por isso, a autora avança em um rompimento com a perspectiva das atividades consideradas como de economia informal, ampliando a dimensão das iniciativas populares. Nesse raciocínio, a mesma autora ainda reforça que as formas diversas de se fazer economia possibilitam a formação de espaços de integração das classes populares e de confrontação ao setor formal, além da maneira singular de socialização dos indivíduos. A saída, por meio da economia dos setores populares para geração de trabalho e renda, é pertinente, sobretudo, aos membros das classes baixas, ou aos membros da chamada ralé brasileira, segundo J. Souza (2009).

A economia dos setores populares ocorre no cotidiano, e, por isso, trazemos para a discussão as reflexões sobre a temática. Nesse sentido, o cotidiano é tratado como o campo de possibilidades que podem ser reproduzidas ou alteradas. Os modos diversos de "fazer" permitem que o cotidiano seja um espaço de estruturação e subversão por meio da construção de jeitos aprendidos pela experiência e pela adaptação de maneiras criativas (Certeau, 1994; Gouvêa & Ichikawa, 2015; Gouvêa, Cabana & Ichikawa, 2018; Rodrigues & Ichikawa, 2015; Rodrigues, Cassandre & Ichikawa, 2017).

Em Certeau (1994), é possível compreender que as práticas do cotidiano não são facilmente determinadas, já que os procedimentos que compõem essa dinâmica são diversos. Dessa forma, são possibilitadas as subversões de imposições aos sujeitos de menor poder (as inversões discretas), utilizadas para outros fins sem que se rompa com o sistema e sejam rejeitadas por completo (Rodrigues et al. , 2017).

Para Rodrigues e Ichikawa (2015), o cotidiano é lugar de ações oportunistas (no sentido positivo da palavra), fugindo da ideia de rotina e previsibilidade fixa para alcançar a ideia de Certeau (1994) sobre as diversas artes de fazer, como uma arte do fraco. Nas práticas cotidianas, sejam elas individuais ou coletivas, as ações passam despercebidas, ocultas em suas maneiras de resistir por serem simples e só percebidas quando vivenciadas em uma inserção no próprio modo de fazer cotidiano (Barros & Carrieri, 2015; Cantoral-Cantoral, 2016; Certeau, 1994; Gouvêa & Ichikawa 2015; Gouvêa et al. , 2018).

Encontrar sentido nessas artes de fazer cotidianas, não tão explícitas e por vezes silenciosas, é fundamental para compreensão de suas regras próprias e seu desenvolvimento. Marins e Ipiranga (2017) e Cabana e Ichikawa (2017) afirmam que, para análise da vida cotidiana, as reflexões sobre tática e estratégia de Certeau são primordiais. Na primeira, o mais fraco na relação se aproveita de ocasiões para jogar com as imposições sem que, necessariamente, rompa-se com que está posto. Na segunda, a pretensão é de manter o que está posto no que se refere ao domínio e controle das relações. Por fim, essa organização do espaço apropriada pelos sujeitos se pauta em critérios que visam acentuar a diversidade de possibilidades e fogem de uma compreensão pré-determinada das ações.

 

Da identidade às identificações

O estudo da identidade e as reflexões estimuladas pela temática são diversas, como sugeriram Cardoso, Hanashiro e Barros (2016). Além disso, a discussão recente do assunto abarca temas como a identidade territorial (Simões Souza, 2017), as relações entre territorialidade e identidade (Saraiva, Carrieri & Soares, 2014; Teixeira, Saraiva & Carrieri, 2015), a dinâmica das organizações públicas (Gomes, Fantinel, Palassi & Silva, 2016), das organizações da saúde (Acuña & Sanfuentes, 2016), a temática de gênero (Ettinger, Jesus Júnior, Setenta & Cavalcante, 2015), a teoria queer (E. Souza, 2017) e até casos de ensino (Campos & Davel, 2018).

As identidades, para Monteiro, Pereira, Oliveira, Lima e Carrieri (2017), são influenciadas pelo contexto social e pela época histórica, o que indica que a internalização e assimilação de papéis sociais auxiliam nessa construção, no curso das histórias sociais. Isso significa dizer que as identidades nunca estão prontas. Elas sofrem mutações e são avaliadas como aceitáveis de acordo com a época em que se vive e com os grupos sociais que interagem, ou seja, são formadas por processos sociais (Acuña & Sanfuentes, 2016; Aguiar & Carrieri, 2016; Souza & Carrieri, 2012; Van Vuuren, Teurlings & Bohlmeijer, 2012.).

Segundo Monteiro et al. (2017), as identidades são oriundas de processos de socialização, podendo ser construídas e fundamentadas na percepção de outros sujeitos, produto da integração de realidades diversas que são compartilhadas. Cabana e Ichikawa (2017) colocam que as identidades são afetadas pelos discursos e pelas relações de poder articuladas no cotidiano. Elas, então, devem ser pensadas no plural, como diversas, já que muitas se encontram silenciadas por sujeitos de maior poder (Aguiar & Carrieri, 2016; Cabana & Ichikawa, 2017; Correa & Lourenço, 2016).

Embora assumam as existências de hierarquias, Cabana e Ichikawa (2017) destacam espaços para lutas identitárias de resistências, já que o homem ordinário, comum, não é passivo, mas joga com que é imposto, ampliando as possibilidades em vez de apenas aceitá-las. Isso amplifica a alternativa dos indivíduos e grupos para trabalharem com bricolagens, com as normas, formalismos e condutas. Dessa forma, são nas "microrresistências" que se tornam possíveis "microliberdades" identitárias, realizadas sem que os dominantes as encarem como ameaças, tendo em vista que ocorrem por meio de práticas ocultas e quase invisíveis.

É no cotidiano do trabalho, segundo Carrieri et al. (2016) e Cabana e Ichikawa (2017), que os indivíduos conseguem manifestar suas identidades por meio de discursos e ações, permitindo constantes criações e recriações. Assim, são destacadas as práticas discursivas (Carrieri et al., 2016; Monteiro et al., 2017), uma vez que elas possibilitam a constituição identitária do sujeito no cotidiano. Posto isso, para que se compreenda como são construídas as identificações dos pipoqueiros no cotidiano, adotamos a articulação entre o tema de práticas cotidianas e o discurso proposto por Souza e Carrieri (2012). Destarte, para análise das identificações, é necessário compreender as três dimensões em conjunto: a apreensão da dimensão discursiva, práticas ou ações dos indivíduos e a ênfase na vivência cotidiana desses. E, mesmo que inexista ação verbal, o discurso não verbal também deve ser reconhecido.

Monteiro et al. (2017) entendem que "os processos identitários são resultados de uma produção discursiva e simbólica. Assim, por intermédio da identificação e da diferenciação (não identificação) nas relações sociais, pode-se criar e estabelecer esses processos" (p. 81). Os autores ainda complementam que as identidades se relacionam com um contexto social e uma época histórica, de tal maneira que a caracterização das identidades se constitui no decorrer das histórias sociais. Isso faz ponderar os elementos socioculturais que cercam os sujeitos e os levam a construir e reconstruir constantemente suas identidades.

Congruente com o caráter multivariado das identidades, consideramos a compreensão de pertencimento a partir da contribuição de Serres (2000), afirmando a existência de identificações. O autor pontua que o conceito de identidade produziria uma essência humana. Em contrapartida, a identificação pressupõe relações de pertencimento, ocorridas e apresentadas no cotidiano de forma heterogênea, fugindo da noção regular e fixa da identidade, indo em direção a uma reflexão de algo localmente variável. Assim, as identificações recebem influência do âmbito social e da época histórica, sendo compostas por uma série de pertencimentos dos sujeitos que englobam a etnia, a nacionalidade, a profissão, ou seja, sendo múltiplas e distantes de reproduções estáticas.

Fernandes, Marques e Carrieri (2009) ainda elucidam que é por intermédio da identificação que decorre a conciliação entre identidade do sujeito e a de seu trabalho. É nesse sentido que Saraiva, Carrieri, Enoque e Gandolfi (2010) afirmam que, com interferência principalmente nas relações sociais, a identidade pode ser caracterizada como processo dialógico expresso de identificação e diferenciação. Por fim, é nessa lógica que a identificação é caracterizada como uma relação múltipla e dinâmica (Vogt & Lourenço, 2017).

 

Caminhos percorridos com o pipoqueiro e o carrinho de 80 kg

Para que pudéssemos desenvolver de forma adequada o objetivo de pesquisa proposto, recorremos a uma abordagem qualitativa, seguindo a concepção de Epistemologia Qualitativa (González Rey, 2005). Isso permitiu uma posição reflexiva quanto aos princípios metodológicos que fogem do instrumentalismo na metodologia de pesquisa, destacando o caráter construtivo interpretativo do conhecimento.

Esta pesquisa foi tratada como um estudo de caso que buscou compreender a construção das identificações com o trabalho e as práticas cotidianas existentes na profissão dos pipoqueiros da área central de Belo Horizonte, mais especificamente, localizados na área do hipercentro e da área hospitalar. Os que estão localizados no hipercentro da cidade realizam rodízios nos pontos de venda e são pertencentes ao Sindicato Profissional dos Pipoqueiros da Grande BH. Os pipoqueiros da área hospitalar realizam suas atividades em pontos fixos e são vinculados à Associação dos Pipoqueiros Empreendedores Individuais do Estado de Minas Gerais. Para fins deste artigo, consideramos os pipoqueiros sem quaisquer distinções dentre os grupos, tendo em vista que o cotidiano do trabalho e a identificação com a profissão não apresentam especificidades quanto ao grupo de pertencimento. Nesse sentido, tratamos dos trabalhadores que fabricam e comercializam pipocas em vias e logradouros públicos, influenciados por nossos olhares de pesquisadores em busca de trabalhadores invisibilizados dentro da dinâmica cotidiana de uma capital.

Em um primeiro momento, percorremos as principais avenidas e ruas da região do hipercentro de Belo Horizonte e da área hospitalar buscando conhecer a realidade dos trabalhadores pipoqueiros por meio da observação. O hipercentro da cidade é caracterizado como local de intenso fluxo de pessoas e influenciado pela concentração de pontos de ônibus e acúmulo de estabelecimentos comerciais. É o local de maior demanda de pipoca, o que faz com que o sindicato estabeleça um rodízio de uma semana por pipoqueiro em 100 pontos da região. A região hospitalar é um local com maior concentração de hospitais, tendo menor fluxo de pessoas em relação ao primeiro. Os pontos da região são fixos e se caracterizam como aqueles rejeitados pelo sindicato, sendo, dessa forma, gerenciados pela associação.

Com isso, buscamos realizar em um segundo momento as entrevistas, procurando diversificar os pontos de pipoca do hipercentro e da região hospitalar da cidade. Foram feitas abordagens ponto a ponto, durante as quais a pesquisa era explicada, e o trabalhador era convidado a participar. Para coleta de dados, realizamos 62 entrevistas semiestruturadas com os trabalhadores pipoqueiros, das quais 28 eram mulheres e 34 homens. Os pipoqueiros das regiões são compostos por homens e mulheres com idades que variam entre 18 e 65 anos, sendo os mais velhos com menor índice de escolaridade e em sua maioria casados e com filhos.

O número de entrevistados corresponde aos trabalhadores que aceitaram participar da pesquisa e que exerciam a profissão há mais de um ano, assumindo-se que teriam uma carga maior de conhecimento para explanar sobre as atividades desenvolvidas. As entrevistas, que tiveram duração média de 30 minutos, foram realizadas entre os meses de março e julho de 2017 nos pontos de venda instalados em diversos locais dentre os supracitados. Os entrevistados narraram suas histórias, trajetórias e experiências como trabalhadores ambulantes. Para preservação dos participantes da pesquisa, sorteamos aleatoriamente números associados aos entrevistados, os quais foram identificamos da seguinte forma: entrevistado 1 (E1), entrevistado 2 (E2) etc.

Diante disso, optamos pela utilização da técnica de Análise Linguística do Discurso (ALD) que, de acordo com Souza e Carrieri (2014), possibilita a interconexão de fatores linguísticos e sócio-históricos, além de permitir que aspectos ideológicos e linguísticos sejam evidenciados. A ALD ajuda a identificar, no discurso, a formação ideológica que o circunda e a identidade a ele relacionada. Para os mesmos autores, esse método permite tornar o texto em objeto, possibilitando destacar processos de construção de sentido, tanto em dados contextos sociais quanto em contextos organizacionais. Interessa-nos as formas que foram construídas pelas práticas discursivas, as ideias e os objetos do mundo social, a interação dos discursos com outros discursos e as suas formas de disseminação, produção, recepção e consumo.

As entrevistas realizadas foram gravadas, transcritas na íntegra e categorizadas conforme os temas abordados nas entrevistas, sendo eles: as trajetórias e as histórias pessoais; o pertencimento ao grupo do sindicato ou da associação; a territorialidade envolvida no exercício da profissão; o cotidiano do trabalho; e o processo de construção da identificação dos sujeitos com a profissão de pipoqueiro. Neste trabalho, optamos por tratar das duas últimas categorias temáticas. Por conseguinte, utilizamos cinco estratégias discursivas para realizarmos a análise dos discursos dos entrevistados, sendo elas: 1) a identificação de percursos semânticos; 2) a análise do explícito e implícito; 3) análise dos personagens; 4) análise lexical (Faria & Linhares, 1993).

Com as análises, identificamos dois percursos semânticos: a) "a rua é livre?", que versa sobre a territorialidade envolta pela profissão; e b) "cotidiano e identificações: ser ambulante e a necessidade de trabalhar", discorrendo sobre o cotidiano como aquele que interfere no processo de construção das identificações dos pipoqueiros. Para fins deste artigo, debruçamo-nos sobre esse segundo percurso.

 

Cotidiano e identificações: ser ambulante e a necessidade de trabalhar

Para que o cotidiano e o processo de construção das identificações dos pipoqueiros possam ser discutidos, é preciso compreendermos os aspectos básicos para a execução da atividade. De maneira geral, o custo do carrinho de pipoca, sem quaisquer adicionais, varia entre 500 e 3 mil reais, sendo que os modelos mais simples, com adicionais como estruturas fixas que contêm expositor de vidro, pipoqueira acoplada, tenda e o suporte para o gás, podem custar em torno de mil reais. Outrossim, para realização das atividades, são necessários acessórios fixos como panelas de alumínio com manivela e outros utensílios de cozinha.

Um carrinho possui em torno de 70 centímetros de comprimento por 80 centímetros de altura até a mesa em que os produtos são feitos, possuindo dois metros de altura até o toldo, com peso aproximado de 48 quilos. Além disso, ainda é necessário um botijão doméstico, que, completo com gás, pesa cerca de 28 quilos. Desse modo, um carrinho completo pesa, aproximadamente, 80 quilos. São esses 80 quilos que são empurrados diariamente por esses trabalhadores pelas ruas da cidade.

Muitas das estratégias adotadas pelos pipoqueiros para o desenvolvimento de suas atividades estão relacionadas a experiências que possuem na atividade, por exemplo, sobre o conhecimento dos pontos de vendas (fixos para os que são vinculados à associação e variáveis para os que são vinculados ao sindicato); estações do ano; compra de suprimentos; utensílios utilizados na fabricação; manutenção dos equipamentos; locais de estacionamento dos carrinhos. Desse modo, são estipulados os horários de trabalhos, os dias e eventos que irão trabalhar, a ordem e quantidade dos insumos, bem como a organização do negócio.

Neste percurso semântico, assumimos, a partir dos aspectos discursivos dos entrevistados, que o cotidiano envolto pela sobrevivência impacta a construção de suas identidades, do que é ser pipoqueiro. O próprio ato de trabalhar na rua se torna um aspecto que constitui um trabalhador ambulante. Para os entrevistados, ser ambulante difere bastante daquilo exposto pela descrição do Ministério do Trabalho e Emprego, uma vez que eles acrescentam as dificuldades, conquistas e necessidades do cotidiano. Assim, seguimos as perspectivas de Certeau (1994), Araújo e Morais (2017) e afirmamos que a própria realização do trabalho com a pipoca é uma astúcia criativa diante das crises do sistema capitalista. E, dessa forma, o processo de construção das identidades desses sujeitos sofre interferência das dinâmicas cotidianas de sobrevivência (Carrieri et al., 2016).

A influência de membros da família e/ou amigos aparecem nos discursos como condições de início na atividade. Além disso, emerge a questão da necessidade de obter alguma fonte de renda devido à escassez de empregos e/ou mesmo pela autonomia que o trabalho permite. Do mesmo modo, existem muitas relações familiares nos negócios dos pipoqueiros, sendo possível encontrar esposas, maridos, filhos e filhas dos entrevistados em outros carrinhos e pontos da cidade. Dessa forma, afirmamos que há uma rede de parentesco no negócio da pipoca como forma de atendimento das necessidades básicas – sejam elas sociais, econômicas ou culturais.

As formas pelas quais iniciaram as atividades dos vendedores ambulantes são diversas. No entanto, algo comum apresentado nos discursos dos entrevistados se refere às atividades profissionais exercidas antes do trabalho como ambulante: "Eu era faxineira, aí eu trabalhava de segunda a sexta. E sábado, domingo, eu comecei na pipoca. Foi aí que saí do emprego e vim para a pipoca" (E5); "Antes eu era cobrador de ônibus" (E32); "Eu trabalhava em casa lotérica" (E41); "Eu vendia jornal, eu era jornalista" (E48); "Eu comecei, assim, vendendo balinha na rua" (E20).

Nas falas, é explícito o exercício de atividades de baixo retorno financeiro como faxineira, cobrador de ônibus, trabalhadora de casa lotérica, jornalista e vendedor de bala. Com isso, podemos observar o interdiscurso da ocupação de atividades de menor prestígio – para satisfação das necessidades de vida – ocupadas por membros de classes baixas com baixos salários (J. Souza 2009; Santos & Deluiz, 2009). Dessa forma, destaca-se o percurso semântico da pipoca como o que possibilita a busca por melhores condições de vida e de trabalho, como evidenciado no relato da entrevistada E5 e suportado por Costa (2010), ao afirmar que a economia proveniente dos setores populares não necessariamente equivale à pobreza.

A desvinculação de um emprego formal de baixo salário fica mais evidente nos trechos destacados a seguir, em que os entrevistados abandonaram as profissões de carteira assinada para obter maiores rendimentos por ano com o trabalho com a pipoca, pressuposto explicitado no trecho: "O salário que eu ganhava no mês agora eu tiro em um dia, aí quando [está] frio eu tiro na semana" (E15).

Em seguida, o percurso semântico do trabalho informal que possibilita maior autonomia é apresentado de forma implícita na fala "Eu já cheguei a trabalhar fichado oito meses só, mas peguei e voltei para a rua porque achei melhor, entendeu?!" (E13), e de forma explícita no trecho "Eu estudava, sempre fui estudante. Eu optei por ser pipoqueira porque eu quis mesmo, foi para minha independência. Eu não me adaptei aos trabalhos, aos meus outros chefes, então optei por isso, optei por trabalhar como pipoqueira" (E44).

Dessa forma, Santos e Deluiz (2009) embasam que as escolhas dos entrevistados visam a atender a satisfação de necessidades básicas com a finalidade de sobrevivência, tendo como contexto a crise do trabalho e a não absorção da força produtiva pelo mercado formal. Em complemento, os entrevistados optaram por realizar suas atividades com base em práticas econômicas e sociais que garantem a utilização da própria força de trabalho para satisfação de necessidades materiais e imateriais, como bem nos especificou Duclos (2017). Outro ponto importante é que é possível vincular o cotidiano de exercício da profissão de forma autônoma à construção da identificação. Cabana e Ichikawa (2017) suportam que os sujeitos ordinários fogem da passividade, subvertendo, por meio dessa forma de trabalho, as ordens impostas dos formalismos e do que é ou não caracterizado trabalho.

As necessidades encontradas para realização do trabalho com a pipoca foram amenizadas com o auxílio dos vínculos sociais afetivos que possuíam, explícitos na relação com os personagens "mãe", "ex-sogra", "irmãos" e "amigo". "Aí eu tinha um amigo meu, certo?! Aí ele me colocou como pipoqueiro e tal, eu tinha 29 anos [hoje com 49 anos de idade]" (E2); "Meus irmãos mexem com isso, eu nunca imaginei trabalhar [como pipoqueiro], não. Mas como minha família mexe e eu aproximei deles, aí eu vim trabalhar" (E59); "Minha mãe tem mais de 40 anos de pipoqueira e eu vim trabalhar porque eu gostava. E fiquei!" (E27); "Eu comecei a trabalhar com a minha ex-sogra no carrinho de pipoca" (E18).

Em todos os quatro trechos, os entrevistados silenciam sobre os motivos que os levaram a realizar o trabalho com a pipoca. Nesse ponto, podemos nos basear em Coraggio (2018) e Duclos (2017) para afirmar que as iniciativas para geração de trabalho e renda possibilitam a formação de espaços de integração das classes populares, constituindo uma forma singular de socialização para esses indivíduos. Nesse sentido, o processo de socialização auxiliou no início das atividades. Tal processo interfere, também, na construção das identidades dos sujeitos, conforme nos embasam Monteiro et al. (2017).

O fato de a profissão de ambulante não ser algo planejado fica explícito no discurso do entrevistado E59, que também evidencia que alguns trabalhadores pipoqueiros utilizam como tática cotidiana os vínculos afetivos para busca de melhores condições de vida. A arte do fraco, como colocou Certeau (1994), torna-se uma fonte de uma subversão de uma posição inferior no mercado de trabalho, jogando com as imposições postas pelo sistema capitalista para sobrevivência, conforme colocado por Araújo e Morais (2017).

No trecho "Eu estava naquela situação tão difícil que eu peguei o carrinho de pipoca para trabalhar. E nesse carrinho de pipoca eu fiquei até hoje, gostei tanto" (E57), o entrevistado destaca a necessidade que permeia o início da profissão de pipoqueiro, destacado pelo lexema "difícil", mostrando que o desemprego e a necessidade de sobrevivência fizeram com que se iniciasse o trabalho com a pipoca. No enunciado "fiquei até hoje", o entrevistado silencia acerca dos motivos para a permanência ao longo dos 30 anos que realiza a profissão. Logo após, o entrevistado ressignifica a posição do trabalho ao afirmar "gostei tanto", alterando o valor do que antes era negativo. Podemos suportar tal colocação em Tiriba (2013), tendo em vista que, mesmo que exista a intenção de distanciamento da lógica de acumulação de capital, focando na sobrevivência, o sistema econômico não necessariamente é superado.

Após o início nas atividades, aparece nos discursos dos entrevistados como é a realização do trabalho na rua e as táticas cotidianas adotadas para amenizar as dificuldades encontradas pelos trabalhadores. Tais aspectos podem ser observados nos fragmentos abaixo:

Para mim, aqui eu não tenho problema nenhum, porque eu tenho banheiro que eu posso usar, eu tenho o pessoal que traz almoço para mim. Mas geralmente é difícil o negócio, às vezes a pessoa não pode sair para ir no banheiro, fica muito em pé (E61).

Olha, fácil não é, trabalhar na rua não é fácil! Tem seus altos e baixos, mas acho que vai de cada um né, cada um opta pelo que quer. Assim que eu [estou] trabalhando, eu trabalho para mim mesma, então não precisa seguir ordens, quem faz sou eu mesma (E49).

Os entrevistados E61 e E49 ressaltam as dificuldades de exercer a profissão, mas adotam como estratégia discursiva o interdiscurso da superação, que também impacta a construção das identificações com o trabalho, de acordo com a época histórica e o contexto social em que estão envoltos, conforme nos embasa Serres (2000). O percurso semântico adotado é o da existência de diversos problemas na profissão de pipoqueiro, explícito no uso do lexema "difícil" novamente. No entanto, apesar de E61 reconhecer a existência de dificuldades para realização das atividades, essas não fazem parte de seu cotidiano em específico. Ademais, o entrevistado destaca a utilização de uma estrutura física próxima ao local em que trabalha e destaca de forma positiva que consegue realizar a principal refeição do dia. O pressuposto implícito dessa passagem refere-se aos vínculos sociais que permitiram que o trabalhador escapasse de passar por problemas no exercício da profissão. Com isso, ressalta-se que estar no mesmo ponto de trabalho por vários anos permite a ele ser conhecido, ter amizades, uma clientela fiel e um zelo pelo espaço em que trabalha, ou seja, ser reconhecido como um sujeito que tem uma profissão. Isso converge com o colocado por Duclos (2017) sobre o fato de que a economia dos setores populares possibilita reconfigurações sociais para os sujeitos.

Já a entrevistada E49 afirma as dificuldades em realizar o trabalho na rua, mas silencia sobre quais seriam elas, quais razões a levaram a enfrentar essas dificuldades e de que maneira ela as enfrenta. Diferente disso, ela opta por adotar o interdiscurso da liberdade de escolha. A entrevistada ainda utiliza o percurso semântico do trabalho com a pipoca como fonte de autonomia para destacar que não possui subordinação no trabalho, o que é evidenciado nas expressões "trabalho para mim mesma" e "quem faz sou eu mesma".

Ah, tem dia que é bom, tem dia que a rua é ruim, tem dia que dá para você vender, tem dia que não dá para você vender, tem dia que dá para você tirar [o dinheiro] do material. Você compra, igual, eu vou lá e faço o pedido. Se eu não arrumar o dinheiro, amanhã eu posso pagar ela, tem dia que eu não arrumo o dinheiro pra poder pagar a compra. Com o carrinho todo eu posso guardar o dinheiro, no outro dia eu vou lá, junto o dinheiro e pago e assim vai. Tem dia que tá bom, tem dia que não está bom a rua, mas como se diz a gente não pode é desanimar (E11).

A entrevistada E11 ressalta a utilização, de forma astuciosa, dos recursos financeiros destacados pelos usos dos lexemas "bom" e "ruim" para qualificar e explicitar a dinâmica diária das vendas. Por conseguinte, a relação com a fornecedora, a quem "ela" se refere, apresenta-se implicitamente como uma relação de confiança, já que não necessariamente os pagamentos são realizados no momento da compra do insumo. Dessa forma, é possível perceber as táticas estabelecidas na utilização dos recursos, sugerindo a existência de diversas possibilidades criativas para cumprir com a manutenção do trabalho à medida que as vendas forem ocorrendo. Isso converge com a imprevisibilidade do cotidiano colocada por Rodrigues e Ichikawa (2015), o que sugere a fuga de regularidades fixas diante das regras colocadas. Por fim, a entrevistada reflete sobre o tema da perseverança no enunciado "a gente não pode é desanimar".

A constituição do ser pipoqueiro possui interferência da incerteza no trabalho, aspecto constituinte do trabalho de rua e sem registros formais. O entrevistado E36 deixa isso explícito no trecho: "Acho que ambulante, como modo geral, é trabalhar na rua, sem fichar, né? Porque trabalhar para os outros é fichado, então ambulante é trabalhar na rua" (E36). A escolha semântica de colocar que trabalhos formais são "para os outros" visa a destacar a autonomia do próprio trabalho, tendo como pressuposto implícito que o trabalho que não possui carteira assinada é para si mesmo. Por isso, E36 ressalta o aspecto que integra sua identificação como trabalhador, destacado pelo lexema "rua", representando o caráter público, aberto, dinâmico, autônomo e de incertezas de sua atividade. Dessa forma, a identidade do ambulante do tipo pipoqueiro se relaciona ao estar na rua e lidar com todos os tipos de adversidades que podem ocorrer. E, tendo em vista o caráter dinâmico que o trabalho desse tipo possibilita, a construção das próprias identidades também acompanha essas descontinuidades e sofrem mutações, conforme suportam Monteiro et al. (2017).

O trabalho na rua ainda é colocado como o que permite, mesmo sem estudo, uma condição satisfatória de vida: "Eu não tenho nenhuma profissão, só tenho o quarto ano primário, meu carrinho de pipoca fez formar minhas duas filhas [na faculdade], a minha casa própria. Me sinto bem como vendedor ambulante" (E52). Mesmo se colocando como uma pessoa sem profissão e de baixa escolaridade, o entrevistado relaciona seu trabalho com as conquistas de formar duas filhas no ensino superior e de ter comprado sua casa própria. Nesse aspecto, ele ressalta novamente a importância dos estudos, posto que sua condição social não permitia que desse continuidade nos seus, mas agora garantia que as filhas tivessem essa oportunidade.

Eu vejo assim, ser ambulante é muito desgastante, cansa demais. Acaba que a gente não tem hora para fazer nada, para almoçar. Você ganha bem, mas você tem que viver para isso, mas eu optei por trabalhar isso aqui porque o que eu ganho (em uma) loja eu viveria só para aquilo ali, eu não ia pagar aluguel, não ia sair do aluguel nunca (E3).

Ao relatar sobre a identificação, E3 ressalta os aspectos negativos no exercício da profissão pelos lexemas "desgastante", "cansa" e pela expressão "a gente não tem hora para fazer nada", remetendo à ideia de que ser pipoqueiro é lidar com uma rotina de exaustão. Mesmo ressaltando que os ganhos financeiros são bons, o conectivo de oposição "mas" introduz aspectos negativos, seguido de um novo "mas" para apresentar os motivos que o levaram a exercer a profissão de ambulante. Dessa forma, a vivência e as razões que levaram o entrevistado a adotar a profissão de pipoqueiro se confundem com a forma com que ele se identifica.

Ao relatar que "Ser um ambulante, é você trabalhar com o que você gosta" (E47), o entrevistado diz se sentir satisfeito com a atividade que realiza, deixando implícito um sentimento de liberdade de escolha do exercício da profissão. Um outro aspecto importante, com base no diário de campo, é que muitos entrevistados se espantaram com essa pergunta, apresentando reações gestuais. Tal fato se justifica pela natureza prática do trabalho, que para eles é trivial, o que nos fez parecer ingênuos ao questionarmos sobre o que significa ser ambulante. Além disso, talvez eles mesmos não tenham refletido sobre o significado.

Um outro aspecto que pode ser apresentado de forma implícita é o fato de que esses trabalhadores, mesmo exercendo uma atividade de trabalho precária com baixo prestígio social, podem se sentir satisfeitos e realizados. Além disso, eles podem adotar a valorização identitária como forma de resistência diante das hierarquias de profissões que são "mais" ou "menos" valorizadas, conforme nos embasa Cabana e Ichikawa (2017). Essa compreensão implícita converge ainda com as "microrresistências" colocadas pelos mesmos autores como práticas ocultas, quase invisíveis, de subverter as ações dos dominantes;

Olha, o ser um ambulante, não vou dizer para você que é oportunidade, [mas] é necessidade, tá certo?! É uma necessidade de você ganhar seu pão de cada dia porque não dá esse dinheiro favorável. É porque você não sabe fazer nada, eu tenho 65 anos... se eu perder meu trabalho aqui, quem vai me dar trabalho? Não posso mais fazer nada, chego em casa de noite com corpo ruim de estar empurrando carrinho. Eu empurro dois carrinhos todo dia, são quatro viagens. Quando é de noite eu estou com os braços mortos. Se eu sair daqui eu vou fazer o quê? Se eu perder meu carrinho, quem daria emprego pra mim? Então tenho necessidade de ganhar o meu pão de cada dia, então é uma necessidade que para ser um ambulante é necessidade que nós temos de trabalhar que nós não sabe fazer outra coisa (E14).

A partir do trecho supracitado, é possível compreender de forma explícita que E14 utiliza da refração do interdiscurso do empreendedorismo de oportunidade para qualificar o trabalho com a pipoca como necessidade. Dessa forma, seu discurso desconstrói o trabalho com a pipoca como fonte de enriquecimento, colocando-o como fonte única de trabalho para pessoas com baixo grau de instrução e escolarização ao dizer "é porque você não sabe fazer nada".

O entrevistado E14 afirma inclusive que a atividade não oferece grandes ganhos, mas que, mesmo assim, é o que mantém o "pão de cada dia". O implícito é que, se ele pudesse, estaria trabalhando com uma outra profissão que exigisse menor esforço físico. Além disso, para justificar o percurso semântico do trabalho como necessidade, o entrevistado apresenta como condicionante a idade, quando afirma ter 65 anos e ser uma pessoa idosa que ainda precisa do trabalho para sustentar sua família. Estabelece-se o interdiscurso com a realidade trabalhista de muitos idosos no país que não conseguem empregos, já que o mercado de trabalho está em busca de pessoas jovens e não se interessa pela experiência e conhecimento de pessoas mais velhas. Por fim, E14 afirma empurrar dois carrinhos todos os dias, utilizando a metáfora dos "braços mortos" para tornar explícito o quanto faz parte da identificação do pipoqueiro uma rotina de intenso esforço físico.

 

Considerações finais

Contemplando a importância de destacarmos sujeitos por vezes não vistos e silenciados, o objetivo deste trabalho foi de compreendermos o que é ser um trabalhador pipoqueiro na cidade de Belo Horizonte, como é construída a identificação com esse trabalho e quais são as práticas cotidianas que envolvem a profissão. Buscamos compreender, vivenciar, participar, investigar, refletir, questionar as ações que oportunizam aos trabalhadores a resistência, visando ampliar os estudos sobre as práticas e táticas cotidianas, assumindo a necessidade de manutenção ampliada da vida. Seguimos a perspectiva de Araújo e Morais (2017), Cabana e Ichikawa (2017) e Certeau (1994) e afirmamos que a própria realização da atividade de trabalho aqui analisada se refere a uma tática, astúcia criativa diante das imposições, leis e regras do sistema capitalista. Por conseguinte, assumimos que as formas de sobrevivência utilizadas no cotidiano impactam as identificações dos sujeitos, uma articulação variável por meio das táticas cotidianas, permitindo prover o sustento de famílias e a manutenção de negócios.

Para tal, introduzimos as reflexões sobre o cotidiano, sendo ponderado como o lugar dinâmico de possibilidades, encontrando modos distintos de fazer que permitem a constante invenção e reinvenção (Certeau, 1994), tornando-se o lugar de construção criativa por parte dos sujeitos. Atentamos ainda para o cotidiano como arena de possibilidades e, por isso, associamos a discussão com formas perspicazes de sobrevivência da economia proveniente dos setores populares diante das crises do sistema capitalista que impõem um processo de desindustrialização aos trabalhadores do Brasil (Kraychete, 2016).

Baseamo-nos em Santos e Deluiz (2009) e Tiriba (2013) e afirmamos que as formas de enfrentamento do desemprego procuram se distanciar da lógica de acumulação do capital, tendo como necessidade a sobrevivência imediata, mas sem que isso resulte, necessariamente, na superação das contradições do sistema econômico atual. Concebemos, com base em Duclos (2017), que a luta para satisfação de necessidades materiais básicas e reprodução ampliada da vida articula reconfigurações econômicas, sociais e políticas.

Em Serres (2000), Fernandes et al. (2009) e Vogt e Lourenço (2017) nos embasamos para compreendermos que as identidades são influenciadas pelo contexto social e pela época histórica, reafirmando o caráter múltiplo e diverso das identidades, tendo em vista suas possibilidades de pertencimentos. Assumimos, então, neste trabalho, não a existência de uma identidade, mas de identificações, sugerindo formas diversas de ser pipoqueiro no cotidiano.

Com a análise dos dados obtidos por meio da Análise do Linguística do Discurso (ALD), debruçamo-nos sobre o percurso semântico "cotidiano e identificações: ser ambulante e a necessidade de trabalhar", presumindo o cotidiano como aquele que interfere e é fundamental para a construção das identificações dos pipoqueiros. Como vimos, os resultados obtidos sugerem a influência afetiva no início das atividades na profissão, levando-nos a afirmar a existência de uma rede de parentesco no exercício da profissão como forma de atendimento das condições básicas de vida. Além da própria luta pela sobrevivência, parte do cotidiano desses sujeitos, afirmamos ainda que a dinâmica afetiva também influencia na construção das identificações desses trabalhadores.

O fato de o trabalho estar envolto por incertezas e adversidades da rua e de alguns entrevistados considerarem o trabalho como necessidade fez com que, para caracterizarmos as identificações do pipoqueiro, respeitássemos as dificuldades na realização da profissão, embutida em um cotidiano de exaustão. Ao mesmo tempo, a autonomia proporcionada pelo exercício da profissão também auxilia na composição dessas identificações.

O modo com que os trabalhadores pipoqueiros reagiam à pergunta sobre o que é ser pipoqueiro no cotidiano nos chamou atenção, sendo possível afirmar que, mesmo que nós, pesquisadores, assumíssemos, em um primeiro momento, que a identificação com a profissão envolveria a total insatisfação com as atividades realizadas, a afirmativa parece não se concretizar por completo, já que, para alguns deles, a atividade é satisfatória e permite a realização profissional. Ademais, o espanto pela realização da pergunta surge por eles serem instigados a falar de algo prático e trivial, revelando até mesmo uma ausência de reflexão sobre o que é ser, para eles mesmos, pipoqueiros.

Afirmamos a relevância deste trabalho ao discutirmos o exercício de uma profissão exercida nas ruas, sem quaisquer garantias trabalhistas e, por vezes, sem condições mínimas de trabalho, assunto que raramente é abordado nos estudos dominantes. Estudar os pipoqueiros possibilitou refletir sobre as diversas formas de utilização dos recursos por indivíduos muitas vezes excluídos do mercado formal de trabalho, pautando seus contextos históricos e sociais. Dessa maneira, foi possível repercutirmos sobre formas populares de organização, frutos da intervenção humana nas cidades, que permitem a produção e reprodução de saberes únicos que se encontram encobertos nos espaços das grandes cidades. Assim como Monteiro et al. (2017), nosso trabalho julga ainda relevante o estudo de outros sujeitos e profissões marginalizadas e invisíveis, ressaltando a importância de dar crédito a saberes não hegemônicos.

Por fim, argumentamos que não se deve conceber o conhecimento somente em formas imperativas que auxiliam a silenciar o já silenciado. Esses sujeitos invisíveis que os estudos dominantes insistem em negligenciar compõem as diversas formas de construção de saberes. Daí a importância de sobrelevarmos esses "outros", já que é nessa diversidade que se encontram formas enriquecedoras de se conceber e desconstruir as hierarquias de saberes. O descompromisso com a lógica hierarquizante dos conhecimentos científicos faz ressurgir e subverter formas universais e homogêneas de conhecer a realidade, possibilitando com que o chamado "outro" abale as estruturas acadêmicas, permitindo múltiplas significações que autorizem o surgimento de novos significados. São esses tipos de trabalhos e trabalhadores, não vistos e desprestigiados, que sugerimos como foco de investigação de trabalhos futuros.

 

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Endereço para correspondência
correiagfa@gmail.com
higorgomes.pereira@gmail.com
alexandre@face.ufmg.br

Recebido em: 16/10/2018
Revisado em: 16/03/2019
Aprovado em: 19/042019

 

 

1 Mestrando em Administração (Cepead/UFMG), bacharel em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais.
2 Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais.
3 Doutor em Administração (Cepead/UFMG), professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenador do Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade.

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