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Natureza humana

versão impressa ISSN 1517-2430

Nat. hum. v.2 n.1 São Paulo jun. 2000

 

RESENHA

 

 

Róbson Ramos dos Reis

Departamento de Filosofia da UFSM

 

 

Martin Heidegger 1996: Einleitung in die Philosophie, in: Gesamtausgabe 27 (Wintersemester 1928/29). Frankfurt am Main, Vittorio Klostermann. ISBN: 3-465-02892-9

A publicação da obra de Martin Heidegger tem proporcionado excelentes materiais interpretativos. Os escritos dos anos 1919-23, por exemplo, fornecem o preenchimento para uma lacuna na história conceitual que conduziu à fenomenologia-hermenêutica de Ser e tempo (1927). No outro extremo, os escritos do final dos anos 20 e início da década de 30 têm contribuído decisivamente para a reconstrução da transformação do pensamento de Heidegger. Um dos cursos mais significativos recentemente publicados na Gesamtausgabe é a Lição de Inverno de 1928/29, proferida por Heidegger ao retornar definitivamente para Freiburg. Publicado em 1996, o texto leva o título de Introdução à Filosofia. O problema central do curso é apresentado de maneira simples, mas surpreendente. Heidegger quer uma introdução à filosofia, mas sem partir do pressuposto usual de que estaríamos fora dela e carentes de uma via que para lá nos conduzisse. Mesmo se fosse eficaz partir de alguma direção sacada da história da filosofia, permaneceria a dificuldade de que ainda necessitaríamos da orientação fornecida por uma noção prévia de filosofia.

Um outro caminho é percorrido: uma introdução à filosofia deve consistir no colocar em movimento o filosofar, no qual sempre estamos postos, de maneira explícita ou não, de modo rigoroso ou não. Para isso, parte-se de que o filosofar é constitutivo do próprio acontecer da existência humana: ser humano quer dizer filosofar. Assumida como uma pura afirmação inicial, esta premissa desdobra-se na seguinte colocação do problema.

A aparente condição de estar situado fora da filosofia tem a sua origem no fato de que o filosofar encontra-se adormecido, enroscado e aprisionado em nós. O filosofar estaria amarrado, desprovido de liberdade e do movimento possível: a filosofia não acontece em nós tal como poderia e deveria acontecer. Conseqüentemente, uma condução à filosofia somente pode ser o colocar em movimento do próprio filosofar, o deixar acontecer em nós do filosofar. Mas como? Não por um truque ou uma técnica, diz Heidegger, mas como uma adoção livre a partir de nossa própria existência. No entanto, ainda assim necessitamos de uma compreensão prévia sobre a filosofia e o filosofar. Mesmo mantendo uma relação estreita com a historicidade da existência humana, tal compreensão prévia não deve ser haurida da história da filosofia. Heidegger acredita que a posse de conhecimentos filosóficos é a base da ilusão de que com tais conhecimentos atingiríamos o filosofar. Onde buscar, então, uma noção prévia de filosofia? Se o filosofar pertence à essência do existir humano, se nele tem lugar e acontecimento, então é a própria existência que deve fornecer uma tal indicação conceitual. Entretanto, não existimos em geral e genericamente, mas somos uma singularidade, um si mesmo único que acontece sempre em instantes (Augenblick), no instante desenhado pelo aqui, pelo agora. Assim sendo, das perspectivas abertas no momento em que nos dispomos a tratar da filosofia, da situação na qual o nosso querer, escolher, fazer e deixar acontecer são determinados em nossa existência singular, é daqui que se originará a buscada compreensão prévia do filosofar.

Um tal procedimento em nada surpreende o leitor familiarizado com os princípios da fenomenologia-hermenêutica, e com a condução heideggeriana em suas Lições. No entanto, o passo seguinte é surpreendente sob vários aspectos. A situação determinada em que se encontra a existência singular dos presentes na Lição de 1928 é descrita a partir de uma instituição: a Universidade. A existência tomada em consideração é determinada em seu todo pela pretensão de cidadania (Bürgerrecht) na Universidade. Tal pretensão concede à nossa existência uma ligação, um vínculo (Bindung). Neste, uma direção determinada é traçada, e com isso uma decisão (Entscheidung) é tomada. Uma irrupção para dentro do futuro é iniciada nas existências singulares na Universidade, mais especificamente, uma decisão acerca de nossa profissão (Beruf). Por profissão Heidegger não tem em mente um modo de reprodução da vida, nem a inserção em uma classe social específica (p. 6), mas sim uma tarefa (Aufgabe) interior que o Dasein concede para a existência em sua totalidade. A pretensão de cidadania acadêmica introduz na existência a obrigação, diz Heidegger, de assumir, na totalidade de nosso existir histórico compartilhado com outros, algo assim como uma chefia, uma condução (Führerschaft). Esta chefia não é concebida em termos institucionais ou públicos, mas como uma obrigação para com um tipo determinado de existência, a saber: um existir que compreende no fundo e originariamente as possibilidades do Dasein humano, devendo ser um modelo a partir de tal compreensão (p. 7). Aqui Heidegger atinge o ponto decisivo de sua descrição: a profissão determi- nante da existência na Universidade é marcada pela chefia especial que a ciência proporciona. Ciência e chefia são os poderes (Mächte) determinantes da existência singular, descrita no instante respectivo do curso de inverno de 1928-29.

A compreensão prévia de filosofia que está sendo buscada começa a descobrir suas fontes. Dois passos decisivos ainda são dados. A chefia envolvida na profissão universitária tem um componente exemplar. Assim sendo, ela necessita de uma constante clareza e segurança: ela requer uma reflexão constante e renovada acerca das posições fundamentais do Dasein em face do ente em sua totalidade. Uma tal reflexão origina-se da situação existencial determinada, mas também retorna influentemente a ela. Ou seja, na chefia que marca a existência na Universidade está presente uma visão de mundo (Weltanschauung). Uma introdução ao filosofar deve colocar-se, então, a pergunta pela relação entre filosofia e ciência, e entre filosofia e concepção do mundo. O passo final nesta construção é operado com uma consideração que introduz a relação entre filosofia e história. A filosofia e o filosofar são remetidos sempre à história, em particular, porque a filosofia se nos é oferecida a partir de uma tradição histórica. Pelo termo "história" (Geschichte), Heidegger tem presente não a ciência enquanto tal, mas o acontecer (geschehen) da própria existência. Há uma relação intrínseca entre filosofia e história. Logo, às duas primeiras perguntas subjaz uma terceira: de que modo a filosofia relaciona-se com a história, isto é, com o modo essencial do existir histórico humano? A elucidação dos três grupos de problemas - filosofia e ciência, filosofia e visão de mundo, filosofia e história - designa o primeiro estágio para a colocação em movimento do filosofar, para a condução à filosofia. A divisão central do texto da Lição previa o tratamento destes três tópicos. No entanto, assim como em outros cursos do período, Heidegger não leva a cabo completamente seu plano de exposição, e o texto que agora está publicado contempla apenas duas partes, acerca das relações entre filosofia e ciência, e entre filosofia e concepção de mundo.

Heidegger ainda apresenta algumas considerações elucidativas sobre um suposto antropocentrismo ou subjetivismo de seu princípio construtivo, afirmando enfaticamente que não se trata nem de psicologia nem de psicanálise, e menos ainda de moral. A suposta colocação do homem no centro de tudo será possível desde que a filosofia tenha mostrado que este ente não pode ser uma posse total de si mesmo, e que, portanto, jamais pode estar no centro: em seu íntimo o homem é ex-cêntrico (p.11). Heidegger assume a verdade da máxima grega: conhece-te a ti mesmo. Um tal conhecimento de si é filosófico, e não psicológico ou moral, e somente poderá se instaurar quando a total negatividade (Nichtigkeit) da essência humana for apanhada de modo fundamental (p. 12). Considerações de tal monta são dignas de análise. Para os interessados no tema Heidegger e a política, a presença de expressões como decisão, vínculo, profissão, chefia, tarefa, etc. permitem uma aproximação com os escritos posteriores, sendo O discurso do reitorado (1933) a asso- ciação mais imediata. Também requereriam análise as considerações sobre a moral e sua relação com a reflexão sobre a existência humana. Observe-se, em particular, a intrigante afirmação (p. 7) de que a responsabilidade presente na tarefa da chefia exemplar - incontrolável e simplesmente não pública - não envolve diretamente uma reflexão moral, sendo, ao contrário, a constante e aguda ocasião para a insuficiência moral do singular (moralisches Versagen des Einzelnen).

A primeira parte do livro examina a relação entre filosofia e ciência, mas sem partir de alguma definição cabal acerca das duas disciplinas. Antes disso, Heidegger procura atingir a essência da ciência, para somente então examinar a relação com o filosofar. Não obstante, há uma afirmação hipoteticamente assumida: a de que filosofia não é ciência, não por carência ou incompletude, mas por excesso, isto é, porque o filosofar é algo que as ciências de objeto podem ser apenas derivadamente. A justificativa para tal afirmação é apresentada em diferentes etapas. Inicialmente, Heidegger parte da descrição em três aspectos da assim chamada crise da ciência: a crise da ciência em relação com a existência individual, em relação à existência social e histórica, e em relação à estrutura interna da própria ciência. Ele sustenta que a origem mesma dessa crise está na pressu- posição de que a ciência deva ser tomada como um resultado (conjunto logicamente regulado de sentenças descritivas), e que a verdade seja apenas a verdade enunciativa. A seguir, Heidegger determina a essência da verdade, por meio de uma interpretação da verdade enunciativa que a remonta até a verdade enquanto desocultamento dos entes (descobrimento de entes e abertura do Dasein). Um terceiro passo consiste em deduzir o caráter existencial da ciência, na medida em que ela tem sua verdade enraizada na verdade existencial. Em conseqüência, abre-se a possibilidade de exibir como é possível a instituição de uma possibilidade existencial, tal como é o conhecer científico, a partir da existência cotidiana do Dasein. A resposta conhecida traz a noção de tematização, enquanto ato central para a fundação do modo científico de existir, a qual, por sua vez, remonta ao deso- cultamento dos entes e à compreensão de ser. Por fim, a noção de compreensão de ser, tomada como o projeto da constituição ontológica dos entes, a partir da qual torna-se descoberto e acessível algo assim como entes (e também algo como objetos para a descrição científica), é determinada como a possibilidade de realização da diferença ontológica (p. 223). Com o projeto de ser acontece a diferenciação do que é ente e do que é ser. Eis aqui o resultado central para o problema da relação entre ciência e filosofia: a noção de transcendência. O relacionamento para com entes, para com outros, e para consigo mesmo é possibilitado pela diferenciação entre ser e ente, pelo estar "além" dos entes, isto é, pelo transcender.

Ao cabo de sua exposição, Heidegger retoma a sua afirmação de que a filosofia não é ciência, pois a ciência dependeria de uma projeção de ser capaz de instaurar a condição para a tematização de um domínio de objetos, cabendo à filosofia a concei- tualização de tal projeção de ser. Além disso, dependendo da transcendência própria do Dasein, a ciência é igualmente exibida em sua determinação existencial. Por último, na medida em que o transcender é a constituição ontológica da existência, chega-se à tese inicial de que a filosofia pertence à essência humana enquanto tal. Ou seja, ao tornar-se explícita a transcendência e o filosofar en- quanto tal, tornar-se igualmente essencial o Dasein em sua existência (p. 223).

Para o leitor familiarizado com Ser e tempo (1927) muitas destas afirmações soam completamente familia- res. Não obstante, muitos conceitos estão mais desenvolvidos, com acentos diferenciados e descrições mais detalhadas. É o caso, por exemplo, da noção de verdade predicativa, dos diferentes significados de verdade (ôntica e ontológica), assim como do caráter social e compartilhado do Dasein e do desocultamento dos entes. Alguns elementos da analítica existencial também recebem acréscimos significativos, quando Heidegger desdobra a diferença entre uma existência científica e pré-científica, envolvendo nisso tanto o Dasein primitivo quanto infantil.

Tendo percorrido o caminho da relação entre filosofia e ciência, com o intuito de atingir uma compreensão prévia sobre o filosofar, Heidegger inicia o tratamento do segundo grupo temático: filosofia e visão de mundo. Da primeira parte do livro resulta que a filosofia está nos fundamentos da ciência, mas não se esgota em tal função. Supondo que visão de mundo seja algo totalmente distinto de ciência, Heidegger percebe que a relação entre filosofia e visão de mundo deve ser vista de um modo diferenciado. No entanto, Heidegger antecipa sua tese: não é o caso que aos fundamentos de toda visão de mundo pertenceria necessariamente a filosofia, mas ao contrário: na possibilidade interna da filosofia está pressuposta a visão de mundo (logo, também na ciência).

Heidegger antecede o desenvolvimento desta tese pelo exame do significado da expressão Weltanschauung, em particular no tocante ao conceito de mundo. A partir de considerações históricas, que atingem autores como Dilthey, Jaspers, Scheler, Leibniz, Baumgarten, Kant, Schelling e Hegel, temos um duplo resultado. Anschauung não significa aqui intuição ou concepção, mas sim atitude, tomada de posição, e Welt possui uma ambigüidade central, que envolve tanto a noção de mundo como totalidade dos entes, quanto aquela visuali- zada por Kant, ao conceber mundo como o "jogo da vida". (O longo excurso sobre o conceito de mundo em Kant não foi efetivamente apresentado durante o curso de inverno.) Daqui retira-se a conclusão de que a elucidação da Weltanschauung deve ser obtida a partir da relação com a existência humana (Dasein). É nela que encontramos a correta dimensão para penetrar na estrutura mesma da Weltanschauung.

Retomando as elucidações da parte inicial do curso, Heidegger considera a noção de ser-no-mundo, enquanto expressão da constituição ontológica da existência humana. Um passo a mais é iniciado, quando é dito que o conceito de transcendência não se esgota completamente na compreen- são de ser. Um significado originá- rio da noção de jogo (Spiel) é apresentado, com o intuito de mostrar que a transcendência do Dasein (em relação a si mesmo, aos outros existentes e aos outros entes do mundo) possui a natureza do jogo. Além disso, Heidegger desdobra a concretização do conceito de transcendência, no sentido de que nela há mais do que a condição a priori de relacionamento com entes. A transcendência é qualificada como a entrega e abandono à potência superior dos entes, enquanto um abandono que exige uma contraposição a tal poder. Mais ainda, toda efetiva contraposição acontece já em meio ao atravessamento da potência dos entes em seu todo, realizando-se na forma de um compromisso compensatório imposto pela dispersão determinada nas direções da transcendência. Esta é uma das faces da negatividade da existência humana, cuja transcen- dência significa concretamente o des-amparo (Haltlosigkeit) diante da presença ultrapotente dos entes. Existir no modo da transcendência significa, então, a indicação de possibilidades de apoio e sustentação. Assim sendo, ter Weltanschauung significa sustentar-se no ser-no-mundo, isto é, obter meios determinados para contornar o des-amparo da transcendência, possibi- litanto o encontro - não necessariamente bem-sucedido - com aquilo que possa fornecer sustentação.

Mesmo reconhecendo que tais considerações apenas dão início a uma efetiva problematização da Weltanschauung (apresentando um grupo de perguntas fundamentais para a continuidade da elucidação), Heidegger acredita já possuir a base para voltar ao problema inicial, a saber, o exame da relação entre Weltanschauung efilosofia. Para determinar esta relação são consideradas duas possibilidades fundamentais no desenvolvimento da Weltanschauung (Heidegger pretende que exista uma legalidade no acontecer próprio das formações da transcen- dência). Em função do modo como o des-amparo da transcendência é manifesto e intepretado podemos ter duas formas básicas de Weltanschauung: abrigo (Bergung) e sustentação (Haltung). No primeiro caso, a potência superior dos entes é interpretada como um poder capaz de ser contornado precisamente pela submissão a ele. Não se trata de enfrentamento com a potência, mas de submissão que encontra abrigo no próprio poder superior (Heidegger discute aqui as formas do pensamento mítico). Já no segundo, enquanto uma forma derivada do primeiro, a Weltanschauung apresenta-se como sustentação, ou seja, a totalidade dos entes é objeto de uma contra- posição, de uma disputa. O poder superior dos entes é enfrentado em uma contraposição que busca o domínio e o senhorio. É com base nesta forma de transcendência que podem surgir a ciência, a técnica e a filosofia. A con- traposição que visa o domínio impõe a necessidade de investigação dos entes em suas legalidades. É nesta forma elementar da Weltanschauung, que também pode sofrer degenerações, que tem seu fundamento o filosofar.A relação entre filosofia e Weltanschauung não consiste na elaboração científica de uma concepção de mundo pelo filosofar, mas, ao contrário, somente enquanto sustentação (Haltung) surge a filosofia.

A seguir, Heidegger apresenta alguns comentários acerca do surgi- mento da filosofia a partir do mito, isto é, a partir da derivação nas formas fundamentais de Weltanschauung. O ponto crucial, no entanto, con- siste em mostrar como o problema ontológico tem sua gênese a par- tir de uma existência determinada como Haltung, isto é, em meio ao acontecer da transcendência que pretende se enfrentar com a potência superior dos entes. Heidegger afirma que o problema do ser não esgota a problemática filosófica. Assim como a transcendência não se identifica com a compreensão de ser, o problema do ser não abarca a totalidade do filosofar. Este novo elemento é dado pelo conceito de mundo: ser, mundo e fundamento representariam a totalidade esquemática da filosofia. Aqui o texto da Lição aproxima-se muito de A essência do fundamento, de 1929.

Após esta prolongada marcha a Lição aproxima-se de seu ponto final. O filosofar, enquanto a unidade do problema de ser e mundo, acontece na base de uma Weltanschauung enquanto sustentação. A afirmação inicial, de que todo existente humano é filosófico (mesmo que não expressamente), tem o sentido de que o factum da transcendência gera o filosofar. A filosofia, como transcendência expressa, significa, não a descrição reflexiva e conceitual da própria transcen- dência. Antes disto, diz Heidegger, "enquanto transcender expresso, o filosofar é um deixar acontecer a transcendência do Dasein a partir de seu fundamento, isto é, no filosofar acontece a mais originária sustentação possível." (p. 396). Em tal acontecer da transcendência Heidegger ainda introduz a relação com o outro, afirmando inclusive que o Dasein filosófico é essencialmente ser-com-o-outro.

A Lição de inverno de 1928-29 encerra-se sem cumprir o plano ini- cial, pois a parte sobre historicidade e filosofia não foi escrita. Considerando a importância do texto, é relevante uma nota sobre a edição propriamente dita. O texto publicado não é um reflexo idêntico de um único escrito de Heidegger, mas surgiu a partir de três documentos básicos: a) o manuscrito do próprio Heidegger, b) a versão datilografada do documento, e c) o texto efetivamente ditado por durante a Preleção. Este último documento, pertencente a Simon Moser, teria sido autorizado por Heidegger. Também as anotações de Eugen Fink foram utilizadas para a elaboração do texto final. O livro publicado é o resultado da unificação e comparação dos documentos originais, tendo recebido do editor os títulos específicos (Heidegger formulou apenas os títulos das três partes previstas no plano da Vorlesung). A riqueza de análises, o desenvolvimento original de problemáticas já presentes em Ser e tempo e nos cursos anteriores (sobre os conceitos de mundo, transcendência, fundamento, liberdade, essência, verdade, etc.), bem como a introdução de novas temáticas (sobre o conceito de jogo, por exemplo) tornam este livro uma peça central para a compreensão do desenvolvimento filosófico de Heidegger ao final dos anos 20. Sem dúvida alguma, a tradução do livro seria de grande valor hermenêutico para uma história da filosofia do século XX.