SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.12 issue1Cruelty and Psychoanalysis: a reading of Derrida without knowing about the alibiPrinciples of Freudian semantics author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Natureza humana

Print version ISSN 1517-2430

Nat. hum. vol.12 no.1 São Paulo  2010

 



ARTIGOS

 

A noção de amizade em Freud e Winnicott

 

The Notion of Friendship in Freud and Winnicott

 

 

Ana Lila Lejarraga

Psicanalista Membro do Círculo psicanalítico do Rio de Janeiro Professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

Este trabalho aborda as concepções sobre a amizade, que lemos nas entrelinhas, nas teorias de Freud e de Winnicott. Enquanto na abordagem freudiana a amizade remete à noção de pulsão sexual de alvo inibido, na perspectiva winnicottiana a amizade remete às noções de intimidade, espaço potencial, reconhecimento da alteridade e concernimento. A proposta deste estudo é comparar essas concepções, mais implícitas do que explícitas, com o objetivo de demonstrar que a perspectiva winnicottiana nos permite teorizar positivamente a amizade, superando a definição negativa freudiana, que a concebe como amor inibido e prazer menor. Palavras-chave: amizade, ternura, pulsão, intimidade, espaço potencial, concernimento.

Palavras-chave: amizade, ternura, pulsão, intimidade, espaço potencial, concernimento.


ABSTRACT

This paper approaches the conceptions about friendship that can be read between the lines in Freud's and Winnicott's theories. Whereas in the Freudian approach friendship refers to the notion of an aim-inhibited sexual drive, in Winnicott's perspective friendship sends to the notions of intimacy, potential space, recognition of otherness, and concern. The proposal of this study is to compare these conceptions, more implicit than explicit, aiming at demonstrating that the Winnicottian point of view allows us positively theorizing friendship, overcoming the Freudian negative definition which conceives of it as inhibited love and lesser pleasure.

Key-words: friendship, tenderness, drive, intimacy, potential space, concern.


 

 

O tema da amizade foi amplamente abordado pelo pensamento filosófico, desde a Antiguidade até os nossos dias. Curiosamente, a psicanálise pouco se deteve sobre essa temática, aludindo com mais frequência à fraternidade, num sentido amplo. As práticas sociais e os sentidos da amizade, da mesma forma que os sentidos do amor, são constituídos historicamente e se transformam, dependendo das culturas e das épocas históricas. É provável que, nesse sentido, a escassa atenção de Freud para o fenômeno da amizade, que lança o sujeito fora do meio familiar, se deva à ideologia familialista que imperava no seu contexto cultural. Segundo Francisco Ortega, no seu livro "Genealogias da amizade" (Ortega, 2002), com a hegemonia da família nuclear e a incorporação do amor e da sexualidade no casamento, no século XIX, entraram em declínio as práticas e as reflexões sobre a amizade.1

A proposta deste trabalho é comparar as concepções sobre a amizade que lemos nas entrelinhas nas teorias de Freud e de Winnicott, com o objetivo de demonstrar que a perspectiva winnicottiana nos permite teorizar positivamente a amizade, superando a definição negativa freudiana, que a concebe como amor inibido e prazer minguado.

Sabemos que não existe uma fronteira rígida entre o amor sexual e a amizade, e não pretendemos, neste trabalho, deter-nos nessa questão. Mencionaremos simplesmente algumas características próprias da amizade, que a diferenciam do amor, tais como: a não exclusividade, a ausência ou contingência dos desejos eróticos, a reciprocidade e a liberdade. Freud já apontava o caráter exclusivo da relação amorosa, teorizando como o casal apaixonado se afasta dos outros vínculos sociais. Embora os amigos possam sentir ciúmes e desejar um lugar privilegiado na escolha afetiva do parceiro amigo, a amizade não exige exclusividade. Na amizade não há desejoseróticos diretos como no amor e, quando acontecem, são contingentes e tangenciais. Enquanto o amor pode não ser correspondido, a amizade exige sempre alguma forma de reciprocidade, já que aponta para uma relação igualitária. As relações de amizade são livres e não são obrigatórias como os laços familiares. Embora a escolha amorosa seja também livre, gera mais compromissos e obrigações que a amizade. Além do mais, a ruptura do laço amoroso é quase sempre sinônimo de perda e dor, diferentemente das relações de amizade, que muitas vezes se desfazem naturalmente sem qualquer ônus de sofrimento psíquico.

 

1. A noção de amizade em Freud

A teoria freudiana aborda a origem dos vínculos sociais e das fraternidades e, embora não analise especificamente a questão da amizade, Freud a inclui, grosso modo, nesses grandes grupos.

Em primeiro lugar, precisamos referir-nos ao mito freudiano de "Totem e tabu" (Freud, 1913/1988), em que a humanidade passa de um estado de barbárie, de uma horda dominada por um pai tirânico, para o estado de civilização. O assassinato do pai onipotente, invejado por todos os seus filhos, leva os membros da horda a estabelecer um pacto: a proibição de matar-se entre si e o tabu do incesto, a partir do qual todos devem igualmente respeitar a lei, erigindo o pai morto em totem. O crime cometido pelos irmãos vai fundar, ao mesmo tempo, a lei e a culpa. Os membros da horda devem se submeter ao pacto civilizatório, estabelecendo-se as relações horizontais entre semelhantes. O assassinato intensifica os laços fraternos e também as rivalidades, já que os irmãos, filhos iguais perante a tirania do pai primordial, têm agora que lidar com suas diferenças. Para poder conviver na civilização, os irmãos têm que pagar o preço de renunciar a suas aspirações pulsionais mais cruas e excessivas, elaborando a culpa pelo crime cometido com a construção de ideais que representem o pai morto. Freud compara a culpa dos irmãos pelo parricídio com a culpa neurótica do sujeito moderno. Interessa-nos,para os fins deste trabalho, assinalar como, no mito freudiano, a origem dos laços sociais ou fraternos decorre da renúncia pulsional e da instauração da lei.

Em relação à figura do irmão, Freud enfatiza os ciúmes fraternos pelo amor da mãe, frente à qual os irmãos disputam a exclusividade. A figura do irmão é sempre a de um rival, um intruso no drama edípico, com quem é necessário compartilhar o amor dos pais (Freud, 1917/1988). O sentimento de fraternidade, assim, só pode emergir como efeito secundário, a partir de uma rivalidade originária entre irmãos. Deste modo, vemos que o laço fraternal, na visão freudiana, está marcado, na sua origem, pela culpa do parricídio, pela inveja da onipotência paterna e pela rivalidade, aspectos que podem ser elaborados, mas nunca por completo, com a aceitação da lei e a restrição pulsional.

No ensaio "Psicologia do grupo e análise do ego" (Freud, 1921/ 1988), Freud aborda a raiz sexual dos laços sociais, analisando outros aspectos da relação entre semelhantes. Ele contrapõe duas correntes da vida sexual: a sensualidade ou amor sexual direto e a ternura ou amor de alvo inibido, considerando que os laços fraternos ou de amizade correspondem à segunda corrente.

Embora na "Psicologia do amor", alguns anos antes (Freud, 1912/ 1988), a ternura fosse considerada a corrente mais antiga, ligada aos cuidados parentais, quando Freud se propõe a definir a ternura, em 1921 (cf. Freud, 1921/1988), retoma a noção de ternura esboçada nos "Três ensaios", em que o sentimento de ternura era um derivado do recalque da sexualidade. Assim, no "Pós-escrito" da "Psicologia do grupo", ele faz uma longa análise sobre a noção de ternura, definindo-a como pulsão sexual inibida quanto ao alvo.

Como sabemos, Freud define a relação originária entre o infans e sua mãe como um vínculo essencialmente sexual: o infans encontra no seio materno seu primeiro objeto de satisfação sexual e a mãe erogeniza, com seus cuidados, o corpo infantil. Após várias vicissitudes pulsionais, a criança faz sua primeira escolha de objeto amorosa-sexual, investindo libidinalmente os objetos primordiais incestuosos. Como se sabe, devidoà interdição da lei paterna, o desejo edípico e toda a sexualidade infantil sucumbem ao recalque. Desse modo, as aspirações sexuais ficam recalcadas e inconscientes, só restando, em relação aos primeiros objetos de amor, laços de ternura. A ternura é definida como uma pulsão inibida quanto ao alvo, produto da ação do recalque. A inibição pode ser considerada como um princípio de sublimação porque, em ambas, a pulsão se afasta do alvo sexual direto. Mas enquanto a sublimação substitui o alvo sexual por outro socialmente valorizado, a inibição não abandona totalmente a meta originária, encontrando uma satisfação atenuada em relações que podem ser consideradas como aproximações da mesma. É sabido que o alvo sexual se refere ao prazer de órgão das pulsões parciais ou ao prazer orgástico do objeto total. Contudo, a ternura só pode corresponder à inibição de um alvo sexual que pressuponha uma relação objetal para sua satisfação, já que a inibição de um objetivo autoerótico, como no exemplo de uma pulsão parcial anal, não provocaria ternura. Assim, o alvo sexual inibido que daria origem à ternura corresponde necessariamente ao prazer orgástico genital. E como a pulsão inibida não renuncia ao objetivo primeiro, nunca atinge cabal satisfação, já que o prazer obtido será sempre menor ou diminuído em relação à satisfação que o alvo originário proporcionaria.

A amizade, para Freud, inclui-se nessa categoria de amor inibido ou ternura. Nas suas palavras: "A esta classe (pulsões sexuais de alvo inibido) pertencem, sobretudo, os vínculos de ternura - plenamente sexuais na sua origem - entre pais e filhos, os sentimentos da amizade e os laços afetivos no casamento - que procedem de uma inclinação sexual" (Freud, 1923/1988, p. 253). É talvez devido a esta concepção do rebaixamento do prazer do amor inibido que Freud, em 1930, não inclui a amizade entre os caminhos possíveis para procurar a felicidade ou mitigar a miséria humana.

Recapitulando, a amizade se define como um amor inibido que teria, como pano de fundo, a rivalidade originária entre pares e, como resíduo mítico, a inveja e a culpa. A noção freudiana de amizade, cuja base é a inibição do alvo sexual originário, remete ao drama edípico e sua consequente interdição, pressupondo a atenuação do prazer.

 

2. A noção de amizade em Winnicott

Embora, da mesma forma que Freud, não aborde especificamente o tema da amizade, Winnicott nos oferece algumas valiosas pistas para refletir, de uma nova perspectiva, sobre esse fenômeno. Uma delas é quando afirma, em 1958, que "Ver-se-á que atribuo grande importância a esse relacionamento (afinidade egoica), porque considero que ele é o substrato de que a amizade é feita" (Winnicott, 1958g/1990, p. 35). Outra referência é quando relaciona a capacidade de ter amigos com a capacidade de brincar, como no relato sobre um paciente adulto: "Tratavase de uma declaração surpreendente, partida de um homem que é incapaz de brincar e que vem à análise por causa de uma incapacidade de manter suas amizades, de vez que só pode falar de maneira ponderável e não pode brincar" (Winnicott, 1954/1994, p. 25). E, em outro texto, aludindo ao fato de as crianças fazerem amigos e inimigos nas brincadeiras, ele afirma: "A brincadeira fornece a organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais" (Winnicott, 1964a/ 1982, p. 163).

Iniciemos nossa reflexão pela noção de "afinidade egoica", substrato da amizade, termo que Winnicott utiliza em 1958 para se referir ao estado fusional mãe-bebê na dependência absoluta, e que mais tarde substituirá pela expressão "relação de objeto", precursora do "uso do objeto". A expressão "afinidade egoica" ou "relacionamento com o ego" (ego relatedness) é utilizada, no ensaio "A capacidade para estar só" (Winnicott, 1958/1990), no sentido de contrapor o que diz respeito ao ego e o que diz respeito ao id, analisando que os impulsos instintivos do id só fortalecem o ego incipiente do bebê quando acontecem num contexto em que há um "relacionamento com o ego", ou seja, quando a mãe se adapta ativamente às necessidades emocionais do bebê, podendo compensar a imaturidade do bebê com seu apoio egoico.

Winnicott considera que é a partir dessas experiências iniciais do contato mãe-bebê que a criança desenvolve a capacidade de estar só.

Essa capacidade é um paradoxo, já que se origina pela experiência do bebê de estar só na presença da mãe, de confiar na sua presença contínua. A criança pode, com o tempo, prescindir da presença da figura materna e, estando só, desfrutar dos estados calmos, vivendo momentos de não integração similares ao estado relaxado da vida adulta. A capacidade de estar só permite ao indivíduo descobrir uma vida pessoal própria, podendo usufruir o si-mesmo e viver os impulsos como reais. A capacidade de estar só é uma condição para que o contato com o semelhante, com o amigo, se origine espontaneamente, como um movimento do si-mesmo.

Em anos posteriores e ao longo de toda sua obra, Winnicott vai analisar a comunicação afetiva e íntima mãe-bebê, teorizando, em 1969, a noção de experiência da mutualidade. A mutualidade consiste em um começo de comunicação silenciosa e íntima do par mãe-bebê, baseada na confiança do bebê no ambiente, correlativa da fidedignidade do holding materno. Trata-se de uma comunicação predominantemente corporal baseada no calor do seio, nos batimentos cardíacos, nos movimentos respiratórios etc., que depende tanto da capacidade da mãe de se comunicar com seu bebê, quanto do bebê que traz o potencial inato para o amadurecimento. Como a mãe é humana e não perfeita, comete pequenos erros e os corrige cuidando de seu bebê. Esse vaivém de pequenas falhas e cuidados, que é o estofo da comunicação, permite ao bebê desenvolver sensação de segurança e confiabilidade. A comunicação da mutualidade não deriva do uso das palavras, mas da habilidade do bebê de brincar, que ocorre quando se "desenvolve uma situação de alimentação mútua" (Winnicott, 1970b/1994, p. 198), ou seja, quando o bebê, ao ser alimentado, brinca que ele também alimenta a mãe. Assim, a mutualidade consiste numa forma de comunicação não verbal que depende, por um lado, das tendências inatas do bebê para o amadurecimento e, por outro, da capacidade da mãe de adaptar-se às suas necessidades, de "tornar real aquilo que o bebê está pronto para alcançar, descobrir, criar" (Winnicott, 1970b/1994, p. 198).

A experiência da mutualidade constitui a forma mais primária de intimidade, base de todas as formas posteriores de intimidade, seja na relação amorosa, na situação analítica ou na amizade. Na intimidade com a mãe, o bebê pode desfrutar dos estados calmos, dos momentos de não integração, usufruindo uma particular sensação prazerosa, próxima do sossego. Entendemos que esse prazer calmo não deriva da satisfação instintiva, mas da própria experiência de estar comunicado. Winnicott faz referência ao prazer de se comunicar em termos de "o uso e o deleite, por parte do indivíduo, dos modos de comunicação" (Winnicott, 1965j/ 1990 apud Abram, 2000, p. 76). E enfatiza, em outro texto, a diferença entre a satisfação instintiva e a experiência da comunicação:

Os bebês se alimentam, e isto pode significar muito para a mãe, e a ingestão de comida concede ao bebê gratificação em termos de satisfações pulsionais. Uma outra coisa, contudo, é a comunicação entre o bebê e a mãe, algo que é uma questão de experiência e que depende da mutualidade que resulta das identificações cruzadas.2 (Winnicott, 1970b/1994, p. 198)

Retornando à afirmação inicial de Winnicott sobre o "substrato da amizade", vemos que a amizade remete a uma forma de comunicação íntima, que não depende do uso das palavras, numa atmosfera de confiança. Entretanto, para pensar como se desenvolve a capacidade para fazer amigos, temos que nos referir ao estabelecimento do contato com a realidade externa. Como sabemos, há uma longa jornada que vai dos objetos subjetivos, de uma realidade concebida subjetivamente até apercepção objetiva da realidade externa. A condição para o bebê começar a perceber a existência de uma realidade objetiva, sem abrir mão da criatividade pessoal, é ele ter tido suficientes experiências de ilusão iniciais. Quando, repetidas vezes, cria o objeto que lhe é apresentado, o bebê estabelece um padrão prazeroso e criativo de contato com a realidade, podendo, aos poucos, aceitar a existência autônoma dos objetos externos. Os objetos e fenômenos transicionais representam essa passagem da pura subjetividade para a objetividade e inauguram as experiências da área intermediária.

Entretanto, para aceitar inteiramente a objetividade do mundo e poder usar os objetos objetivos, é necessário que o bebê realize outra conquista, mudando sua percepção no sentido de reconhecer a realidade do objeto. No ensaio de 1969, "O uso de um objeto e relacionamento através de identificações", Winnicott formula que para passar da "relação de objeto" para o "uso de um objeto", o lactente precisa perceber que a realidade não é sua projeção, reconhecendo que tem existência independente. Para isto, o bebê, após ter criado onipotentemente o objeto e o mundo, passa a destruir esse objeto que, ao sobreviver, mostra sua autonomia e sua realidade. A destruição do objeto refere-se ao objeto subjetivo e consiste numa destruição potencial, interna, que acontece na fantasia. À medida que sobrevive externamente, o objeto torna-se independente e real. Assim, a sobrevivência do objeto diante da destruição potencial do bebê situa-o fora da área do controle onipotente, porque o objeto mostra que tem vida própria e durabilidade além da subjetividade do bebê. O sujeito pode, porque o objeto se tornou uma entidade autônoma, usar o objeto, criando-se "um mundo de realidade partilhada que o sujeito pode usar e que pode retroalimentar a substância diferentede- mim no sujeito" (Winnicott, 1969i/1994, p. 177). A capacidade de usar objetos permite o reconhecimento do objeto ou do outro como diferente, possibilitando a alegria da descoberta do outro. Entendemos que a amizade exige essa conquista do processo de amadurecimento - acapacidade de usar objetos - já que o laço amistoso se alimenta do reconhecimento da alteridade.

Retomando a questão da capacidade de ter amigos, que Winnicott associa à capacidade de brincar, vemos que a amizade, da mesma forma que o brincar, acontece no espaço potencial. Esse espaço é uma área de experimentação, em que o indivíduo pode descansar da árdua tarefa de manter as realidades interna e externa separadas, vivendo o paradoxo de não estar totalmente no mundo subjetivo nem no objetivo, mas "entre" ambos. Winnicott considera que o espaço potencial é a área em que podemos repousar e desfrutar, já que é o espaço em que nos permitimos ser espontâneos, experienciando o viver criativo. A confiança é a base para poder experienciar a área intermediária; o brincar criativo, o uso de símbolos e toda a vida cultural. Winnicott ressalta que o espaço transicional é extremamente variável de indivíduo para indivíduo, se comparado à realidade psíquica interna e ao mundo da realidade compartilhada, já que depende das experiências de vida de cada indivíduo, que têm uma variabilidade infinita, e não de tendências herdadas. O brincar infantil - desde seus primórdios até o brincar compartilhado - é uma experiência criativa em que a criança usufrui e fortalece seu sentimento do si-mesmo. Da mesma forma, o indivíduo que não precisou abdicar de sua criatividade para entrar em contato com o mundo, que sabe brincar, também é capaz do encontro com o amigo sem abrir mão de seu gesto criativo e espontâneo. No encontro amistoso, que tem lugar no espaço potencial, ambos os amigos são, ao mesmo tempo, criados e achados, encontrados na realidade externa e também criados subjetivamente. O amigo é, paradoxalmente, um outro reconhecido como diferente e parte do mundo subjetivo.

Cabe destacar a relação indissociável entre o brincar e a liberdade (cf. Rodulfo, 2008, p. 66), já que tanto a criança quanto o adulto brincam porque desejam, sem que possamos conceber o brincar como obrigação, como obediência a uma ordem. Da mesma forma que o brincar, a amizadeé também uma escolha livre, não submetida, como no caso do coleguismo, a nenhuma exigência profissional ou social.

Em várias passagens de sua obra, Winnicott ressalta a alegria da criança ao brincar, considerando que esse prazer do brincar é sinal de saúde psíquica. Numa de suas palestras pela BBC, disse Winnicott: "Estimulemos a capacidade de brincar da criança. Se uma criança estiver brincando, haverá lugar para um sintoma ou dois, e se ela gostar de brincar, tanto sozinha como na companhia de outras crianças, não há qualquer problema grave à vista" (Winnicott, 1964a/1982, p. 147). E no livro "O brincar e a realidade", ele afirma: "o bebê encontra prazer intenso, até mesmo doloroso, associado à brincadeira imaginativa" (1967b/1975, p. 140). O caráter gozoso, alegre, próprio do brincar infantil é, na realidade, uma característica de todas as experiências do espaço potencial; desde o uso de objetos transicionais até a experiência cultural. Assim, Winnicott refere-se à área intermediária, onde se desenvolve o brincar ou as experiências culturais, como um espaço onde nos "divertimos" (1971q/ 1975, p. 147). Entendemos que existe na teoria winnicottiana, ao menos nas entrelinhas, uma clara distinção conceitual entre o prazer erógeno, derivado da satisfação instintual e o prazer das experiências próprias do espaço potencial. Neste sentido, Winnicott esclarece que a excitação gozosa do brincar não deriva da excitação instintiva, que até pode interferir e acabar com a brincadeira, mas da precariedade entre a criação subjetiva e o mundo objetivo.

Se pensarmos na amizade, vemos que também o encontro amistoso comporta uma dimensão gozosa de alegria; o prazer da comunicação íntima com o outro, do intercâmbio afetivo com o semelhante e "diferente de mim". E, da mesma forma que o brincar, a capacidade para a amizade seria também, a nosso ver, sinal de saúde psíquica.

Entendemos que, da perspectiva winnicottiana, contamos com outra noção fundamental para pensar a experiência da amizade. Trata-se da capacidade de concernimento, que surge no estágio da dependênciarelativa, quando o bebê inicia a tarefa de integrar sua vida instintiva. Como o lactente, de alguma forma, já alcançou o estatuto de ser um eu unitário e também reuniu as diferentes mães - mãe-objeto e mãe-ambiente - numa pessoa inteira, começa a se sentir preocupado e responsável pelos efeitos de sua impulsividade. Aos poucos o bebê vai reconhecendo que a mãe-ambiente dos estados calmos e a mãe-objeto dos estados excitados são uma mesma pessoa, percebendo que a mãe atacada impiedosamente é a mesma pessoa amada que cuida dele. Se a mãe for suficientemente boa e sobreviver aos impulsos instintivos e agressivos do bebê, aceitando sua preocupação e reparação, estabelece-se um círculo benigno de destruir e reparar, de machucar e curar. A criança aprende a ter confiança no ambiente, que reafirma seu impulso espontâneo e reconhece seu gesto reparatório. Assim, com inúmeras repetições desse círculo benigno, desenvolve-se na criança a capacidade de concernimento, de se importar e considerar o outro, ou seja, o sentimento de responsabilidade pelos próprios atos. A criança pode integrar seus impulsos agressivos e vorazes, porque pode restaurar o "estrago", tolerando a ambivalência de sentir raiva e frustração com o objeto amado. O concernimento, diz Winnicott (1963b/1990), pode ser considerado como base da família e também, num sentido mais amplo, do brincar e do trabalho construtivo. No vínculo de amizade, a capacidade de concernimento significa consideração e cuidado com o outro e, principalmente, preocupação e reparação dos possíveis danos provocados no amigo pela própria ambivalência. De alguma forma, o círculo benigno de machucar e reparar, de sentir raiva, atacar e cuidar, está sempre se repetindo, de diversos modos, nos vínculos afetivos construtivos e duradouros.

Recapitulando, vemos que, da perspectiva de Winnicott, os principais ingredientes da amizade seriam: a intimidade, o reconhecimento da alteridade, o espaço potencial e o concernimento. Em resumo, o laço de amizade consiste numa comunicação íntima e confiável, desenvolvendose, da mesma forma que o brincar, no espaço potencial, em que o sujeitopode usufruir sua criatividade na relação com o outro. O amigo vivencia a alegria do encontro com o outro diferente, para o qual é necessário ter atingido a capacidade de reconhecer a alteridade e, também, a capacidade de concernimento - para impedir que as frustrações e raivas, inevitáveis, aniquilem o vínculo construído.

 

3. Diferenças entre as concepções de Freud e Winnicott

Vejamos agora as diferenças entre Freud e Winnicott para conceber a amizade.

Em Freud, o fundamento da amizade é a pulsão sexual, enquanto em Winnicott a base é a experiência de mutualidade, de intimidade. Freud parte do princípio de que a relação dual mãe-bebê é essencialmente sexual. A função materna, na teoria freudiana, corresponde à função de "mãeobjeto" (Winnicott, 1963b/1990), desconsiderando-se a "mãe-ambiente" que atende às necessidades emocionais do bebê e outros aspectos fundamentais da comunicação íntima mãe-bebê. A partir do modelo pulsional, considerado fundamento da vida psíquica, deriva-se o fenômeno da fraternidade e da amizade, como uma vicissitude da pulsão sexual.

Em Winnicott, a experiência de mutualidade se define, como vimos, por ser um tipo particular de comunicação afetiva, íntima, em que os componentes instintivos desempenham papel secundário. Assim, a amizade remete à intimidade, ao brincar, à criatividade, experiências que não se fundamentam na vida instintiva sexual. Winnicott enfatiza que a criatividade não é sublimação, mas uma potencialidade inata, inerente à condição humana, e que a alegria do brincar não deriva da satisfação instintiva, mas do fato de a criança usufruir sua própria criatividade. Nesse sentido, acompanhando o pensamento de Winnicott, Ricardo Rodulfo afirma que "a criança da sexualidade infantil - seja essencialmente autoerótica-polimorfa ou essencialmente edípica -, criada por Freud -uma criança cujo objetivo principal, se não único, é o prazer físico ou a possessão exclusiva da mãe -, fica discretamente deslocada-substituída pela criança brincando, a criança do brincar, a criança que emerge e se constitui brincando" (Rodulfo, 2008, p. 165; a tradução é nossa). O autor entende que o brincar é o fato capital dos primórdios da existência psíquica e que as atividades sexuais infantis são, na realidade, brincadeiras sexuais infantis que, quando não se integram ao brincar, se tornam patológicas.

Partindo da perspectiva de Winnicott, não é mais necessário recorrer á inibição da pulsão sexual para conceber a amizade. Se, como vimos, o alvo sexual inibido da ternura remete necessariamente ao orgasmo genital, teríamos que supor, se concordássemos com a abordagem freudiana, que os indivíduos estão sempre desejando inconscientemente ter relações genitais com seus amigos. Do ponto de vista winnicottiano, a amizade não comporta um objetivo inconsciente e inibido, não procura uma finalidade nunca atingida, mas se realiza e satisfaz por si mesma, no encontro de amigos, da mesma forma que o brincar não tem um objetivo último, além do próprio brincar. A amizade e o brincar constituem "experiências não culminantes" (Winnicott, 1967b/1975, p. 137), que se satisfazem por saturação. Sabemos, por outro lado, que podem existir diferentes graus de atração sensual na amizade, geralmente de pouca intensidade, mas isso não significa que as pulsões sexuais sejam seu fundamento.

Na abordagem freudiana, a agressividade e a rivalidade constituem o pano de fundo das relações fraternas e amistosas. O sentimento fraterno se origina a partir da rivalidade originária entre os irmãos, derivada da triangulação edípica. Na segunda tópica, a agressividade se torna um derivado da pulsão de morte originária, princípio disjuntivo do aparelho psíquico, pura energia desligada, que precede a sexualização e o princípio conjuntivo da pulsão de vida. Assim, com a reformulação da segunda tópica, a agressividade continua sendo o pano de fundo das relações afetivas, já que por trás de qualquer desejo erótico,direto ou inibido, temos a agressividade e o ódio oriundos da pulsão de morte. É necessário que a agressividade seja recalcada, para que predomine o sentimento fraterno. Como excederia os limites do presente trabalho desenvolver e comparar as concepções freudiana e winnicottiana sobre a agressividade, radicalmente diferentes, limitar-nos-emos a assinalar somente algumas diferenças sobre o papel da agressividade no que diz respeito à noção de amizade.

Da perspectiva de Winnicott, aludimos a duas formas de agressividade que relacionamos com a amizade: a destruição potencial do objeto, que cria a externalidade do objeto, e a agressividade instintiva, que leva à reparação, que está na base da capacidade de concernimento. Entendemos que nenhuma dessas duas formas de agressividade se assemelharia a uma hostilidade fundante, inconsciente, "pano de fundo" da amizade, da concepção freudiana. Vejamos.

Se tomarmos a destruição potencial do objeto, veremos que não se trata de um impulso que deva ser recalcado. A destruição que cria a externalidade do objeto é uma destruição na fantasia, algo assim como se o sujeito dissesse para o objeto: "você não existe para mim" (Benjamin, 1988, p. 38). Essa destruição é sem raiva e sem ódio. Se na amizade o indivíduo está sempre "destruindo o amigo", é no sentido de estar sempre criando e "negando" a existência do outro que, de qualquer forma, sobrevive e demonstra ter existência autônoma. É necessário estar sempre destruindo o outro para reconhecer sua autonomia e alteridade.

Se compararmos a segunda forma de agressividade, o impulso agressivo do amor primitivo, com a agressividade freudiana, vemos que ambas têm uma raiz instintiva - ou pulsional. Para a teoria freudiana, a agressividade ou rivalidade permanece, na amizade, inconsciente ou recalcada, enquanto, na abordagem winnicottiana, a agressividade instintiva não precisa ser recalcada para que se desenvolva a amizade. O impulso agressivo leva a criança a fazer reparações e, se o ambiente sobrevive e aceita a dádiva infantil, a culpa não será sentida, desenvolvendose a capacidade de concernimento. Assim, o impulso agressivo espontâneo, em vez de ser recalcado ou inibido, será tolerado, porque o indivíduo pode restaurar os estragos feitos. Para Winnicott, desse modo, o impulso agressivo não constitui uma hostilidade recalcada que permeie a relação de amizade. Pelo contrário, quanto mais os impulsos instintivos espontâneos, agressivos e eróticos, possam ser experienciados em condições ambientais favoráveis, mais eles poderão ser integrados, fortalecendo-se a capacidade de concernimento e tornando-se mais sólidos os laços afetivos.

Para a teoria freudiana, como a amizade é concebida como amor inibido, o prazer obtido será sempre atenuado ou menor. Em Winnicott, como a amizade não remete a nenhuma inibição, mas constitui um afeto por direito próprio, o prazer da amizade pode ser tão intenso quanto os prazeres erógenos. Nesse sentido, Winnicott propõe uma expressão, "orgasmo do eu", para se referir às experiências de satisfação máxima que não têm a ver com satisfações instintivas. Essa expressão, embora tenha conotações eróticas, alude justamente a um ápice - e nesse sentido ele utiliza o termo "orgasmo" - de prazer não sexual, como pode ser o prazer de ouvir música, dançar ou qualquer prazer das experiências próprias do espaço potencial. Nas palavras de Winnicott: "Na pessoa normal uma experiência altamente satisfatória como essa pode ser conseguida em um concerto ou no teatro ou em uma amizade que pode merecer um termo tal como orgasmo do ego, que dirige atenção ao clímax e à importância do clímax" (1958g/1990, p. 36).

Finalizando, vemos que Winnicott teoriza positivamente o fenômeno da amizade que em Freud é definido negativamente. Assim, Winnicott nos permite pensar sobre a capacidade para a amizade, associada com a capacidade de brincar, com a capacidade de estar só e compartilhar a intimidade e, também, de reconhecer a alteridade e de concernimento. Em Freud, a amizade é teorizada negativamente, como uma forma de inibição: o objetivo que não se alcança, a restrição pulsional, a diminuição de prazer.

A teoria winnicottiana nos possibilita abordar, também, o problema da incapacidade para a amizade, como no caso do paciente adulto de Winnicott que era incapaz de ter amigos e de brincar. Essa incapacidade seria talvez uma questão distante para a perspectiva freudiana da amizade, já que, na concepção negativa, há pouco lugar para a ideia de conquista de uma capacidade ou seu fracasso. A incapacidade de ter amigos, da mesma forma que a incapacidade de brincar, se inscreve na patologia do falso si-mesmo. Os indivíduos incapazes de ter amigos são os indivíduos empobrecidos no sentimento do si-mesmo; são aqueles que se adaptaram à realidade externa em detrimento do gesto criativo e espontâneo, e vivem as relações entre pares de uma forma adaptativa e sem autenticidade. Assim, são incapazes de desfrutar da alteridade e de sentir a alegria da comunicação íntima com o outro diferente.

A questão da amizade inclui-se no campo das experiências do espaço potencial e, portanto, no campo das experiências que fazem com que a vida seja digna de ser vivida. Conceber a amizade positivamente é uma via para valorizar um tipo de laço afetivo que tende a ser considerado, teoricamente, como secundário quando, a nosso ver, constitui uma experiência privilegiada para fortalecer o sentimento do si-mesmo e para enriquecer o valor da vida. Além do mais, a amizade desempenha papel fundamental em vários momentos do processo de amadurecimento - como, por exemplo, na adolescência -, constituindo uma espécie de bálsamo ante as perdas e os sofrimentos e, também, uma indiscutível fonte de alegria.

 

Referências

 

Abram, J. (2000). A linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter.         [ Links ]

Benjamin, J. (1988). The Bonds of Love. New York: Pnatheon Books New York.         [ Links ]

Freud, S. (1988). Dos artículos de enciclopédia: "Psicoanálisis" y "Teoria de la libido". In S. Freud, Obras completas (Vol. 18). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1923)        [ Links ]

Freud, S. (1988). Psicología de las masas y análisis del yo. In S. Freud, Obras completas (Vol. 18). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1921)        [ Links ]

Freud, S. (1988). Un recuerdo de infancia em Poesía y verdad. In S. Freud, Obras completas (vol. 17). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1917)        [ Links ]

Freud, S. (1988). Sobre la más generalizada degradación de la vida amorosa (Contribuciones a la psicología del amor, II). In S. Freud, Obras completas (Vol. 11). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1912)        [ Links ]

Freud, S. (1988). Totem y tabu. In S. Freud, Obras completas (Vol. 13). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1913)        [ Links ]

Ortega, F. (2002). Genealogias da amizade. São Paulo: Iluminuras        [ Links ]

Rodulfo, R. (2008). Futuro porvenir. Ensayos sobre la actitud psicoanalítica en la clínica de la niñez y adolescencia. Buenos Aires: Noveduc.         [ Links ]

Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1971, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1971a)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1975). A localização da experiência cultural. In D. W.         [ Links ]

Winnicott (1975/1971a), O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1967, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1967b)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1975). O lugar em que vivemos. In D. W. Winnicott (1975/1971a), O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1971, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1971q)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1982). Por que as crianças brincam. In D. W. Winnicott (1982/1957b), A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Ed. LTC (Trabalho original publicado em 1964, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1964a)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1982). Que entendemos por uma criança normal. A criança e seu mundo. In D. W. Winnicott (1982/1957b), A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Ed. LTC (Trabalho original publicado em 1964, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1964a)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1990). O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1965, respeitandose a classificação de Huljmand, temos 1965b)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1990). A capacidade para estar só. In D. W. Winnicott (1990/1965b), O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas (Trabalho original publicado em 1958; respeitandose a classificação de Huljmand, temos 1958g)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1990). O desenvolvimento da capacidade de se preocupar. In D. W. Winnicott (1990/1965), O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1963b)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1994). O brinquedo na situação analítica. In D. W. Winnicott (1994/1989a), Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1954).         [ Links ]

Winnicott, D. W. (1994). A experiência mãe-bebê de mutualidade. In D. W. Winnicott (1994/1989a), Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Arte Médicas (Trabalho original publicado em 1969, respeitandose a classificação de Huljmand, temos 1970b)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1994). Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Arte Médicas (Trabalho original publicado em 1989, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1989a)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (1994). O uso de um objeto e relacionamento através de identificações. In D. W. Winnicott (1994/1989a), Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1969, respeitando-se a classificação de Huljmand, temos 1969i)        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: analejarraga@gmail.com

 

 

Enviado em 20/6/2009
Aprovado em 10/9/2009

 

 

1 Segundo Ortega, no mundo contemporâneo a decadência da família serviu para disseminar ainda mais a ideologia familialista no tecido social. Apesar da crise da instituição familiar, a família como ideologia, difundida pela mídia como imagem de felicidade, tem mais força do que nunca, levando a desprezar outras formas de vida em comunidade. Assim, a amizade, devido ao atual processo de familialização e despolitização, sofre um declínio progressivo. Sobre isto, consultar: Ortega, 20 2 A noção de "identificações cruzadas" refere-se aos mecanismos de introjeção e projeção, formulados inicialmente por Freud e desenvolvidos posteriormente por M. Klein. Segundo Jan Abram, essa noção alude "à capacidade de colocar-se em sintonia e em empatia com o outro" (Abram, 2000, p. 69). Logicamente que as identificações do bebê e da mãe no estágio da dependência absoluta são dissimilares. O bebê está, por seu lado, em um estado fusional com a mãe - ele é a mãe - e desenvolve o que se denomina de identificação primária. A mãe, por seu lado, desenvolve uma identificação intensa com seu bebê e com sua condição dependente - a preocupação materna primária.