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Natureza humana

versão impressa ISSN 1517-2430

Nat. hum. vol.20 no.1 São Paulo jan./jun. 2018

 

DOSSIÊ

 

Apresentação VII Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise Teresina – 20, 21 e 22 de setembro de 2017

 

Presentation VII International Psychoanalysis Philosophy Conference Teresina – September 20th, 21st, 22nd, 2017

 

 

Maria Cristina de Távora Sparano1

Endereço para correspondência

 

 

Seria banal dizer que nosso congresso, o sétimo, foi um desafio… Instituições federais em crise, falta de financiamento para a pesquisa e eventos científicos. No entanto, a cada dois anos, no intervalo da realização do encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), o congresso organizado pelo GT Filosofia e Psicanálise vem se realizando e se consolidando cada vez mais – e isso significa dizer que lá se vão 14 dos 15 anos desde a fundação do GT.

O que nos move é um grande desejo de realizá-lo e continuarmos a falar, a debater sobre temas da Filosofia e da Psicanálise. Parece simples, mas é o resultado de um esforço contínuo e da atenção dos membros e da coordenação do GT, de nossa comunidade.

O VII Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise (VII CIFP) teve como tema, desta vez, "Corporeidade e vulnerabilidade", o que foi ressaltado pela belíssima arte de nosso cartaz de divulgação – cores diluídas em tons: "corporeidade e vulnerabilidade" –, que devemos ao fotógrafo e jornalista do Piauí, André Gonçalves.

Nada mais apropriado para nossas discussões do que a vulnerabilidade, de nossa política, tanto institucional como de governo, do Nordeste, da seca, do coronelismo ainda triunfante em regiões como essa ou da crítica ao liberalismo no gerenciamento das instituições de ensino superior tanto aqui como nos Estados Unidos, marcado pelas atitudes capitalistas dominantes nas instituições acadêmicas e que foi apresentado pela conferencista Michelle Maiese (Emmanuel College Boston) em "Constituição da vida, hábitos mentais e instituições sociais". Ou ainda como o tema de nossa outra conferencista internacional, Rosalice Pinto (Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa e Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito), "Vulnerabilidade dos sujeitos em foco", porque é de sujeitos que se trata e dos sujeitos que tratamos nas nossas falas, na nossa vida social, acadêmica e principalmente na clínica.

Quanto ao corpo, o lócus das pulsões, nada mais justo que interrogá-lo assim como suas relações e vivências, seja na nossa "consciência corporificada" com a referência ao livro Embodied Minds in Action, de Robert Hanna e Michelle Maiese, ou através da teoria do significante de Lacan e da poesia de Fernando Pessoa com toda musicalidade e propriedade da fala de nosso querido Oswaldo Giacóia (Unicamp), em "Alma é apenas uma palavra para um algo no corpo".

Mas como a psicanálise trata a corporeidade? Talvez pelo artifício usado por Lacan no seminário XI ("Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise – parte IX – o que é um quadro"), ao modo de tratá-lo como o faz Merleau-Ponty, enquadrado, mas aberto ao tecido do real revelando suas nuances, seus tons, apreendido pela chuva de cores e pinceladas do pintor.

Lacan diz que Merleau-Ponty, partindo da pintura, foi levado a reverter a relação que havia desde sempre entre o olho e o espírito. A função do pintor é outra coisa que a função dada pelo filósofo à representação, na qual o filósofo se entrincheira no estatuto de sujeito (certamente o cartesiano), e que ele admiravelmente recupera, partindo daquilo que chama com Cézanne "ces petits bleues, ces petits bruns, ces petits blancs", essas pinceladas que "chovem" do pintor.

E aqui vale uma associação. No Nordeste, nossa região, ouvimos dizer que "está bonito de chover". Pois foi nesse quadro, à moda acadêmica, que realizamos nosso congresso, bonito de chover, com nossas palestras, comunicações e discussões, mas com a sensação física e curiosa do espectador do quadro. E a universidade se tornou, para nós e principalmente para nossos alunos, o lugar de ver e entrever nossas pinturas. Digo entrever porque é a psicanálise que ensina a buscar o que se apresenta e o que está por detrás do apresentado. Movidos por uma curiosidade infantil, na simplicidade ainda não alienada a representações fixas que fomos apresentados ao "quadro – corpo – texto – fala", onde o sujeito o interroga, o examina. Corpos que falam de sua e da nossa vulnerabilidade, que a psicanálise ensina a respeitar e tratar.

Agradeço aqui aos colegas do GT Filosofia e Psicanálise, suas presenças e falas em todas as mesas nos três dias de trabalho intenso, às professoras Josiane, Alessandra e Aline, e aos professores Luizir, José Sérgio e Gérson, que nos contemplam com seus textos neste dossiê e também à nossa confraternização naqueles dias. Assim como agradeço à Universidade Federal do Piauí (UFPI), que nos acolheu e abrigou do calor de 38 graus! Agradeço também ao apoio técnico da equipe do Setor de Educação Profissional e Tecnológica da Universidade Federal do Paraná (SEPT-UFPR), presente no congresso. E a todos que estiveram presentes nos apoiando.

 

Endereço para correspondência
Maria Cristina de Távora Sparano
E-mail: cris-sparano@ufpi.edu.br

 

 

1 Coordenadora do GT Filosofia e Psicanálise. E-mail: cris-sparano@ufpi.edu.br

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