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Natureza humana

Print version ISSN 1517-2430

Nat. hum. vol.22 no.2 São Paulo July/Dec. 2020

 

DOSSIÊ

 

Mais aquém do além do princípio de prazer: um retorno aos manuscritos1

 

Before of the beyond the pleasure principle: a return to the manuscripts

 

 

Caio PadovanI; Weiny César Freitas PintoII

IDoutor em Psicopatologia e Psicanálise. Professor de Psicologia clínica (Ater) na Université Paul Valéry/Montpellier 3, França. Contato: caiopadovanss@gmail.com
IIDoutor em Filosofia. Professor do curso de Filosofia da UFMS. Contato: weiny.freitas@ufms.br

 

 


RESUMO

Em homenagem ao centenário da primeira edição do Além do princípio de prazer (1920-2020), propomos neste artigo uma história documental do texto freudiano supracitado. Dois elementos serão priorizados aqui, o contexto editorial mais amplo em meio ao qual a obra foi publicada e os manuscritos que deram origem à versão final do texto. Ao cabo deste estudo, duas hipóteses serão sustentadas, a de que o Além do princípio de prazer foi concebido por Freud como um trabalho clínico com pretensões científicas e a de que ele foi escrito em um diálogo constante com outros psicanalistas e pesquisadores.

Palavras-chave: Freud; Além do princípio de prazer; História documental; Filosofia da psicanálise; Manuscritos.


ABSTRACT

In tribute to the centenary of the first edition of Beyond the Pleasure Principle (1920-2020), we propose in this article a documental history of the Freudian text. Two elements will be prioritized here, the wider editorial context in which the work was published and the manuscripts that gave rise to the final version of the text. At the end of this study, two hypotheses will be sustained, that Beyond the Pleasure Principle was conceived by Freud as a clinical work with scientific pretensions and that it was written in a permanent dialogue with other psychoanalysts and researchers.

Keywords: Freud; Beyond the Pleasure Principle; Documental history; Philosophy of psychoanalysis; Manuscripts.


 

 

1. Introdução

Neste breve artigo, o objetivo será realizar uma história documental do texto Jenseits des Lustprinzips (Além do princípio de prazer)2, cuja primeira edição havia sido publicada por Freud em 1920. Considerando a natureza do material aqui abordado, dividiu-se o trabalho em duas etapas: primeiramente, serão formuladas algumas considerações mais gerais, de caráter fundamentalmente contextual, sobre o documento em análise; em um segundo momento, será analisado o processo de elaboração e de construção da escrita freudiana por meio de um estudo dos manuscritos do Além do princípio de prazer.

Como informa James Strachey (1955), editor inglês da Standard Edition das obras completas de Freud, o primeiro manuscrito do texto Jenseits des Lustprinzips foi concluído em 1919. Ainda de acordo com o editor inglês, o manuscrito foi revisado no ano seguinte, assumindo sua versão final em julho de 1920. Enfim, no dia 9 de setembro daquele ano, parte desse material foi objeto de uma comunicação científica realizada por Freud em Haia, na Holanda, no VI Congresso Psicanalítico Internacional, realizado entre os dias 8 e 11 de setembro de 1920. Um resumo desta conferência, fornecido pelo próprio autor, e cuja tradução será disponibilizada por Strachey em sua nota editorial, se encontra no volume 6, número 4 do Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse (Freud, 1920d). Essas informações foram confirmadas e comentadas em detalhe por Ernest Jones (1957) dois anos mais tarde, no terceiro volume de sua imponente biografia Sigmund Freud, vida e obra. A partir de um estudo minucioso das correspondências trocadas por Freud, Jones retraça uma cronologia bastante precisa da longa trajetória percorrida pelo texto. Pouco ou nada, no entanto, será dito em relação às diferentes edições do artigo em questão. Após a primeira edição de 1920, o texto Além do princípio de prazer recebeu ainda uma segunda e terceira edições, cada uma delas incluindo modificações dignas de interesse histórico. Uma quarta versão definitiva do texto foi elaborada pelo autor e publicada em 1925, no contexto de uma coletânea de trabalhos.

A primeira parte do presente artigo limitar-se-á à análise do contexto editorial no qual o texto foi publicado. Chamar-se-á a atenção para as suas diferentes edições e suas primeiras traduções, buscando extrair daí elementos históricos que permitam construir uma opinião mais complexa acerca do projeto freudiano em torno da escrita e publicação do artigo Além do princípio de prazer. Cabe salientar, no entanto, que esta análise não se pretende exaustiva nem se propõe a abordar em detalhe o conteúdo propriamente dito do texto, mas tão somente o seu contexto. A segunda parte do trabalho deslocará a atenção do documento publicado para os manuscritos que precederam sua publicação. O objetivo será extrair desse estudo alguns elementos históricos capazes de lançar luz sobre o processo de construção do texto freudiano. Para tanto, recorrer-se-á, principalmente, às correspondências trocadas por Freud durante o período de redação de seu artigo.

1.1. Questões editoriais: o texto enquanto documento, suas diferentes edições e as suas primeiras traduções

Em sua primeira edição, Além do princípio de prazer foi publicado no final do ano de 19203 pela Editora Psicanalítica Internacional (Internationaler psychoanalytischer Verlag) em forma de suplemento à Revista Internacional de Psicanálise (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse). Fundada em janeiro de 1919 com a finalidade de garantir a publicação de periódicos e obras psicanalíticas no pós-Primeira Guerra, a Verlag tornou-se a editora oficial do movimento psicanalítico de língua alemã (Sigmund Freud Museum, 1995; Marinelli, 2009). Sua direção foi, a princípio, confiada ao psicanalista vienense Otto Rank e o primeiro título publicado com o selo da editora foi a obra coletiva Sobre a psicanálise das neuroses de guerra (Freud et al., 1919). O segundo, publicado no mesmo ano, tratou-se uma pequena coletânea de Ferenczi intitulada Histeria e patoneuroses (Ferenczi, 1919), reunindo artigos escritos pelo autor a partir de 1917. Ambos apareceram como o primeiro e o segundo número, respectivamente, da coleção Biblioteca Psicanalítica Internacional (Internationale Psychoanalytische Bibliothek) (Figura 1).

O texto Além do princípio de prazer (Freud, 1920a) foi então publicado em forma de suplemento à Revista Internacional de Psicanálise, na época o principal veículo de comunicação científica do movimento psicanalítico internacional. Fundada em 1913 com o título Revista Internacional de Psicanálise Médica (Internationale Zeitschrift für ärtzlische Psychoanalyse), o periódico, inicialmente publicado pela editora de Hugo Heller,4 nasceu com a missão de veicular trabalhos técnicos e teóricos de caráter exclusivamente médico. Em 1920, com a migração para a Editora Psicanalítica Internacional, o termo "médica" (ärtzliche) foi retirado do título do periódico (Figura 2), ampliando assim o escopo da revista. Nesse contexto editorial é que o artigo de Freud foi publicado.

Nota-se que a mesma editora se engajou ainda em outros projetos, como a publicação da revista Imago (Figura 2), fundada em 1912 e inicialmente publicada por Hugo Heller, conforme mencionado, e dedicada à "aplicação da psicanálise às ciências do espírito" (Imago, 1912). Nesse outro contexto, que tendia a se distanciar das aplicações médicas e diretamente clínicas da psicanálise, é que Freud (1912-13/1919), ao longo de toda década de 1910, publicou trabalhos como Totem e Tabu e DasUnheimlich.

Esses indícios levam a pensar que, ao menos em termos de projeto editorial, o artigo Além do princípio de prazer foi, desde o início, enquadrado em meio a textos de vocação mais clínica e menos filosófica ou ensaística. Provavelmente a escolha pela Zeitschrift em detrimento da Imago, ou mesmo da coleção Biblioteca Psicanalítica Internacional, para a publicação desse trabalho, não foi feita ao acaso e revela, em algum nível, o compromisso de Freud com uma escrita que, ao contrário do que geralmente se supõe, pretendia-se menos especulativa. Observa-se essa preocupação editorial a partir de uma carta enviada por Freud a Eitingon no dia 18 de julho de 1920, onde se pode encontrar indicações precisas sobre a publicação do manuscrito (Schröter, 2009, p. 230).

Uma segunda edição, revisada e consideravelmente modificada do mesmo artigo, foi publicada no ano seguinte por Freud (1921), ainda pela Editora Psicanalítica Internacional. Esta foi a versão do Além do princípio de prazer que se fez objeto das primeiras traduções (Figura 3).

A primeira versão, em língua inglesa, saiu pela International Psycho-Analytical Press, braço britânico da Verlag vienense e fundada em 1920 graças aos esforços conjuntos de Rank e Jones. O volume foi anunciado já em 1921 como estando "no prelo" (Schröter, 2009, p. 149), sendo efetivamente publicado em Freud (1922b), como quarto número da coleção International Psycho-Analytical Library. Seguindo a mesma linha editorial da Bibliothek austríaca, a Library inglesa publicará em seus três primeiros números uma coletânea dos trabalhos do psicanalista norte-americano James J. Putnam (1921), Contribuições à psicanálise; a tradução da obra coletiva sobre as neuroses de guerra, Psicanálise e as neuroses de guerra (Freud et al., 1921); e o trabalho de um psicanalista britânico de formação filosófica, John Carl Flügel (1921), O estudo psicanalítico da família. É perceptível que, ao ser traduzido para o inglês, o Além do princípio de prazer passou a habitar um contexto editorial um pouco diferente, menos específico e mais próximo das generalidades.

Por meio de uma breve nota editorial, escrita à guisa de prefácio, toma-se conhecimento de que a tradução inglesa da segunda edição do artigo de Freud foi realizada por C.J.M. Hubback e revisada por Ernest Jones. Uma pequena discussão foi feita em torno de alguns termos alemães, em particular Besetzung, presente em expressões como Besetzungsenergie e Energiebesetzung, que será vertido para o inglês por investment (investimento) ou charge (carga). Como precisa Jones, esses e outros termos serão discutidos em um glossário inteiramente dedicado à tradução técnica de termos psicanalíticos, publicado como suplemento do International Journal of Psycho-Analysis. Sob a direção de Jones, esse volume apareceu apenas três anos mais tarde, em 1925, com o título Glossário para o uso de tradutores de obras psicanalíticas (Jones, 1925a). Na ocasião, os organizadores da obra mudaram de ideia em relação à tradução de Besetzung e de seus derivados e optaram por cathexis, argumentando que "investimento" ou "carga" eram termos demasiado imprecisos na língua inglesa (Jones, 1925a, p. 6). Sabe-se que semelhante decisão foi tomada por Strachey (1966, p. XXIII) na segunda tradução inglesa do texto em questão5 e aplicada de maneira sistemática nas traduções da Standard Edition. Talvez essa busca por precisão reflita o projeto jonesiano, amplamente discutido pela literatura secundária, de criar um Freud artificialmente mais científico para o leitor anglófono, facilitando, assim, sua assimilação junto a esse público. Como se verá mais adiante, esse ideal cientificista teve um impacto na recepção do Além do princípio de prazer no seio do movimento psicanalítico internacional.

Uma terceira e última edição comportando novas modificações foi publicada por Freud (1923b), ainda pela Verlag, sendo praticamente reimpressa no sexto volume dos Escritos reunidos (Gesammelte Schriften)6 de Freud, de 1925, e reeditada postumamente em suas Obras completas (Gesammelte Werke),7 a partir dos anos 1940. Enquanto versão final do texto, serviu de base para todas as atuais traduções do trabalho. No entanto, como consta em uma pequena nota introdutória à edição de 1925, versões anteriores já haviam sido objeto de certo número de traduções autorizadas (Figura 4).

Como mencionado, a primeira tradução de Além do princípio de prazer foi a versão inglesa. Do ponto de vista cronológico, a segunda parece ter sido a holandesa, realizada por Arie Querido (1901-1983), um jovem estudante de medicina neerlandês de origem judia que, mais tarde, se afastaria do movimento psicanalítico (Boenink e Huyse, 1997). Ela foi publicada em 1922, provavelmente a partir da segunda edição alemã. A escolha do título por parte do tradutor chama a atenção: O mistério da vida e a psicanálise8. Em artigo recente, Elsbeth Greven (2009) mostra que essa curiosa decisão não passou desapercebida por Freud, que respondeu em carta inédita ao envio da tradução de Querido no dia 28 de novembro de 1922 evocando as seguintes palavras: "Confirmo o recebimento e agradeço a magnífica tradução, realizada de maneira admirável, e fico feliz em saber que este trabalho lhe trouxe alguma satisfação. O novo título é ambicioso, mas escolhido de maneira bastante engenhosa" (Greven, 2009, p. 59). Ora, a solução encontrada pelo tradutor claramente enfatiza a dimensão especulativa do texto, deslocando a vocação clínica para o segundo plano. Tal solução não fora rejeitada por Freud, o que talvez indique que o psicanalista não excluía outras possibilidades de leitura de sua obra.

Na sequência, a terceira tradução, ainda publicada em 1922, é a conhecida versão espanhola de Luis Lopez-Ballesteros y de Torres, que apareceu no segundo volume das Obras completas de Freud editadas em Madri pela Biblioteca Nueva (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 1924). Considerando as datas, o texto base para a tradução espanhola foi, sem dúvida, a segunda edição alemã de 1921. Em uma carta escrita no dia 7 de maio de 1923, Freud agradecerá com as seguintes palavras, referindo-se ao conjunto das traduções realizadas até aquela data:

Sendo um jovem estudante, o desejo de ler o imortal D. Quijote no original cerventino, me levou ao aprendizado, sem mestres, da bela língua castelhana. Graças a este entusiasmo juvenil posso agora - já em idade avançada - comprovar o acerto de sua versão espanhola de minhas obras, cuja leitura produz sempre em mim uma sensação agradável pela corretíssima interpretação de meu pensamento e pela elegância do estilo. Fico sobretudo admirado com o fato de, não sendo médico nem psiquiatra de profissão, o senhor ter podido alcançar tão absoluto e preciso domínio de um material bastante complexo e por vezes obscuro (Freud, 1967, p. 442)9.

Sabe-se que, após suas traduções, Ballesteros manteve contato com outros psicanalistas além de Freud, como Ludwig Binswanger10, Karl Abraham11 e, principalmente, Sándor Ferenczi. Este último teria inclusive realizado uma conferência a pedido de Ballesteros junto a uma Sociedad de Conferencias12 durante uma de suas viagens à Espanha.

Ainda referente à primeira tradução espanhola, cabe lembrar que uma versão do conjunto das obras de Freud já havia sido encomendada no final dos anos 1910 por um filósofo, José Ortega y Gasset (1883-1955), que, como se sabe, reconhecia a existência de uma dimensão filosófica no interior da jovem ciência. Em artigo publicado em 1911, com o título Psicanálise, ciência problemática, Ortega afirma:

O que caracteriza a psicanálise é que, oriunda de uma necessidade terapêutica, transcende, desde muito cedo, os limites das considerações psicológicas e se assenta, de uma só vez, senão na metafísica, nos confins metafísicos da psicologia (Ortega y Gasset, 1911, p. 220)13.

Enfim, a última dessas primeiras traduções foi a húngara, realizada pela psicanalista Vilma Kovács (1883-1940) e publicada em 1923 com o título A pulsão de morte e as pulsões de vida (Freud, 1923a). A tradução foi revisada e prefaciada por Sándor Ferenczi a partir da terceira edição alemã. Cabe ressaltar que, nesse curto prefácio, Ferenczi fez referência a um de seus artigos publicado em 1912, escrito em resposta à comunicação de Putnam sobre a importância da filosofia na formação do analista14. Mais de dez anos depois, o psicanalista reafirmou a distância da psicanálise em relação à filosofia e considerou o texto de Freud como um elogio à biologia. Nas palavras de Ferenczi: "[...] o livro cuja tradução húngara ora publicamos situa-se nessa região limítrofe entre a psicologia e as ciências biológicas [...]".Ao cabo do prefácio, o psicanalista insiste ainda no fato de que a dita pulsão de morte é um conceito que "[...] possui um valor heurístico e que, portanto, deve ser julgado em função do número de fenômenos que ele permite explicar [...]"15.

Alguns anos mais tarde, em 1927, não mais no contexto das primeiras traduções, foi publicada a primeira versão francesa do Jenseits des Lustprinzips, realizada por Samuel Jankélévitch (1869-1951), pai do filósofo francês Vladimir Jankélévitch (1903-1985). Apresentada com o título Au-delà du principe du plaisir. Tal versão pode ser julgada como mais sóbria em relação à holandesa ou à húngara, textualmente mais fiel ao original alemão, ao menos no título.

Sabe-se que, a partir dos anos 1920, Jankélévitch se ocupou da tradução de um bom número de obras psicanalíticas para o francês, incluindo trabalhos originais e comentários. Sua versão francesa das conferências introdutórias de Freud, publicada com o título Introdução à psicanálise (Freud, 1922a), veio a público já em 1922. Em 1925, se ocupou da tradução de uma longa coletânea de artigos de Ernest Jones, publicada com o título Tratado teórico e prático de psicanálise (Jones, 1925b), e em 1928 da obra de Otto Rank O trauma do nascimento (Rank, 1928), razão pela qual pode ser considerado como um importante difusor das ideias de Freud na França. A tradução do Além do princípio de prazer foi publicada no interior de uma coletânea de textos freudianos, com o título Ensaios de psicanálise (Freud, 1927), incluindo ainda trabalhos como Psicologia das massas e análise do eu, O Eu e o Isso, Considerações sobre guerra e morte e História do movimento psicanalítico.

No que diz respeito à tradução de comentadores, chama-se a atenção para a versão francesa do ensaio de Edgar Michaelis, Freud, imagem e máscara, que inclui um longo estudo preliminar escrito pelo próprio tradutor com o título Os elementos românticos da psicologia freudiana (Jankélévitch, 1932). É interessante notar que, nesse estudo, Jankélévitch caminha em sentido oposto a Ferenczi, encontrando antes no pensamento romântico, e não na biologia, as origens e os destinos das ideias freudianas. Em um dado momento de seu prefácio, ao tratar do conceito de instinto de morte (Instinct de mort), o tradutor questiona a relação estabelecida pelo próprio psicanalista com as hipóteses biológicas de Weismann, aproximando Freud da filosofia de Schopenhauer (Jankélévitch, 1932, p. 45). No último parágrafo de seu texto, Jankélévitch argumenta que "[...] como psicólogo e filósofo, Freud teria chegado às [suas] conclusões [...] mesmo sem e recurso da psicanálise [...]" (Jankélévitch, 1932, p. 48) e, mais adiante, o autor termina dizendo que, nesse sentido, "[...] não seria um exagero afirmar que a psicanálise em si mesma, enquanto criação pessoal de Freud, constitui uma manifestação de seu próprio temperamento romântico" (Jankélévitch, 1932, p. 48).

Considerando o contexto brasileiro, pode-se dizer que o acesso à psicanálise se deu em grande medida a partir das traduções espanhola e francesa. Sabe-se que as primeiras versões de Freud em língua portuguesa foram parte traduzidas do espanhol e do francês, parte diretamente do alemão16. Foi por iniciativa da Sociedade Brasileira de Psicanálise, então fundada em 1927, que alguns títulos acabaram sendo vertidos ao português17. A esse respeito, tem-se inclusive notícia de um debate bastante aprofundado realizado na época pelos representantes do movimento psicanalítico brasileiro em torno da tradução de certos termos freudianos, como atestam as cartas trocadas entre Julio Porto-Carrero (1887-1937) e Arthur Ramos (1903-1949), em 1932 (Castro, 2015). Dentre as propostas feitas por Porto-Carrero, depara-se com o curioso comentário a respeito do termo alemão Trieb. Segundo o psicanalista brasileiro, a solução dada pelos franceses ao recorrer à palavra pulsion não se justificaria em português. Ao mesmo tempo, instinto seria, de acordo com o autor, imprudente, restando o termo impulso, que parecia satisfazer todos os requisitos impostos pelo conceito freudiano (Castro, 2015, p. 1457).

Não foi possível localizar traduções em língua portuguesa do artigo Além do princípio de prazer durante esse mesmo período. A primeira versão brasileira do texto foi, provavelmente, aquela publicada em 1950 na coleção organizada pela editora Delta. Não descartamos, no entanto, a possibilidade de uma tradução anterior18. Segundo consta em nota editorial, a tradução publicada pela Delta foi realizada por Cincinato Magalhães de Freitas (1908-1979), médico psiquiatra livre-docente na Universidade Federal Fluminense e futuro diretor do Instituto de Psiquiatria do Centro Psiquiátrico Pedro II. Essa coleção teve como objetivo ampliar o projeto de traduções iniciado nos anos 1930, propondo uma primeira edição das obras completas de Freud no Brasil, quase vinte anos antes do aparecimento da Standard Brasileira. Com o título Mais além do princípio de prazer, o artigo compõe o oitavo volume das obras, intitulado Uma teoria sexual, que conta com outros trabalhos. Considerando a organização dos artigos e o título escolhido pelos tradutores, poder-se-ia lançar a hipótese de que o documento em questão foi traduzido da versão espanhola de Ballesteros.

 

2. Considerações Finais Relativas à Primeira Parte

Feitas essas considerações mais gerais de caráter fundamentalmente contextual e voltadas a questões majoritariamente editoriais, é possível concluir que, enquanto projeto, o artigo Jenseits des Lustprinzips foi concebido por Freud sobretudo como uma contribuição clínica com pretensões científicas. A presente hipótese se apoia nos seguintes elementos históricos: 1) quando publicado, ele apareceu como suplemento de uma revista voltada principalmente às aplicações médicas da psicanálise; 2) quando comentada por seus pares, a exemplo do prefácio à edição húngara escrito por Ferenczi, o artigo de Freud foi entendido como um elogio à biologia, antes de ser considerado como uma deriva especulativa; 3) ao ser traduzido para o inglês, em 1922, houve toda uma preocupação terminológica de Jones com a cientificidade dos conceitos empregados por Freud em seu trabalho; 4) enfim, uma quarta e última observação, que depende de uma exposição mais longa a respeito das modificações realizadas por Freud nas sucessivas edições de sua obra, diz respeito ao fato de Freud ter se esforçado em trazer para o primeiro plano questões mais técnicas de natureza conceitual ou prática.

Em contrapartida, a leitura do texto não parece excluir uma interpretação de ordem mais filosófica. Como se pode ver já na escolha do título das primeiras traduções do Jenseits, o debate metafísico em torno das pulsões de vida e morte acabaram assumindo o primeiro plano, tornando secundárias as inovações teóricas e técnicas trazidas pelo autor a respeito da existência de uma dimensão psicobiológica independente do princípio de prazer, cujas consequências clínicas eram evidentes. Outros, como Ortega y Gasset e Jankelevitch, sentiam na psicanálise um arrière-goût filosófico, expresso em termos metafísicos para o primeiro e românticos para o segundo19. Embora não tenham sido abordado os detalhes da questão, sabe-se que o artigo de Freud foi tomado no próprio interior do movimento psicanalítico como um texto que tende a ultrapassar os limites do estritamente científico, como dirá Jones em sua biografia (Jones, 1957, p. 43), assumindo que o trabalho pudesse possuir certa profundidade filosófica.

Seja como for, é possível estabelecer aqui uma distinção entre o projeto freudiano de um texto primordialmente clínico, voltado a questões de natureza teórica e técnica, e a recepção desse mesmo texto que tendeu a interpretá-lo muito mais em sua dimensão puramente especulativa. Essa última conclusão parece ser especialmente válida para boa parte da chamada recepção filosófica da psicanálise, que passou a reconhecer o artigo Além do princípio de prazer como um objeto privilegiado de estudo e reflexão.

 

3. O Manuscrito de 1919: percurso de um esboço, seus diálogos e suas transformações

Em sua nota editorial à tradução inglesa do Jenseits des Lustprinzips, James Strachey (1955) afirma que, a partir do estudo das correspondências de Freud, seria possível estabelecer com alguma precisão as datas de início e fim do primeiro manuscrito. Segundo Strachey, Freud teria começado a redigi-lo no mês de março de 1919 e terminado em maio do mesmo ano. Em sua biografia, Ernest Jones retoma as mesmas datas comentando em detalhe o conteúdo das correspondências evocadas pelo editor inglês.

De acordo com Jones, Freud fez uma primeira referência ao artigo Além do princípio de prazer em uma carta enviada a Ferenczi no dia 17 de março: "terminei um artigo denso, de 26 páginas, sobre a gênese do masoquismo, que porta o título Bate-se em uma criança. Um segundo, com a misteriosa alcunha de Além do princípio de prazer, está em preparação" (Falzeder e Brabant, 1996, p. 335). Duas semanas mais tarde, no dia 31 de março, em outra carta enviada a Ferenczi, Freud comentou os progressos da escrita:

[...] ando bastante ocupado, mas continuo escrevendo meu novo ensaio, 'Além do princípio de prazer', e neste caso sei que posso contar, como sempre, com a sua faculdade de compreensão que até hoje nunca falhou. Eu falo de um monte de coisas um tanto quanto obscuras e o leitor vai ter que se virar. As vezes não é possível fazer diferente. Seja como for, espero que você possa encontrar aí algo de interessante (Falzeder e Brabant, 1996, p. 341)20.

Ao recorrer à versão crítica das correspondências entre Freud e Ferenczi, estabelecida algumas décadas mais tarde por Ernst Falzeder e Eva Brabante, encontra-se a seguinte passagem na sequência da última citação: "Infelizmente, não é a mesma coisa que uma conversa face a face" (Falzeder e Brabant, 1996). Ora, considerando esses elementos, não se pode deixar de notar que o manuscrito do Jenseits já começou a ser elaborado em um diálogo explícito com outro psicanalista, no caso Sándor Ferenczi. Ao que tudo indica, Freud teria encaminhado ao colega parte do material no qual ele vinha trabalhando, esperando naturalmente um retorno de seu interlocutor. Mesmo que faltem evidências concretas de um verdadeiro debate epistolar - ou face a face - entre os dois pesquisadores, os comentários críticos e as possíveis objeções de Ferenczi teriam sido, sem dúvida, levados em conta por Freud, influenciando, assim, seu processo de escrita.

Seis semanas mais tarde, no dia 12 de maio, Freud voltou a fazer referência a seu artigo em carta endereçada a Ferenczi, dizendo que a redação do primeiro esboço havia terminado no dia 6 de maio de 1919 e que uma versão recopiada do documento lhe seria encaminhada. Encontra-se um possível registro material desse primeiro esboço no manuscrito aqui reproduzido (Figura 5). Nessa mesma correspondência, Freud afirmou ter retomado uma pequena contribuição sobre o Unheimlich e começado a pensar em um trabalho sobre os fundamentos psicanalíticos da psicologia das massas. Ao mesmo tempo, o psicanalista revelou estar ocupado com as novas edições do ensaio sobre Leonardo da Vinci e Interpretação dos sonhos. Sabe-se que a segunda edição de Leonardo foi efetivamente publicada em 1919,21 assim como a quinta edição da Interpretação dos sonhos, publicada na época com as contribuições de Otto Rank.22

Além da grande capacidade de trabalho de Freud, salta aos olhos mais uma vez a dimensão coletiva de sua produção. Ainda no que diz respeito ao conteúdo dessa carta a Ferenczi, um dado interessante é que, diferente de textos como Bate-se em uma criança e Unheimlich, o artigo Além do princípio de prazer não foi publicado logo após o final de sua primeira redação. O próprio Freud esclareceu que, nesse caso, era necessário que o texto "repousasse" (Falzeder e Brabant, 1996, p. 354).

Esse período de latência do material terminou no mês de julho, quando o psicanalista confiou a Ferenczi que o manuscrito seria retrabalhado durante o período em que passaria com a cunhada em Bad Gastein, cidade alpina localizada no interior da Áustria. Freud partiu no dia 15 e, como escreveu ao colega, "Além do princípio de prazer virá comigo" (Falzeder e Brabant, 1996, p. 363). Uma semana mais tarde, aproximadamente no dia 21 de julho, o psicanalista comentou com a filha Anna: "[…] aquilo que me resta após minhas caminhadas, dedico ao manuscrito do Além do princípio de prazer, que trouxe comigo e que progride bem aqui" (Meyer-Palmedo, 2012, p. 204). Uma carta também foi enviada de Bad Gastain a Jones, no dia 28 de julho, onde Freud afirmou estar trabalhando no mesmo projeto (Paskauskas, 1993).

Entre março e julho, no entanto, há uma carta não repertoriada por Jones, enviada por Freud a Lou Andreas-Salomé, no dia 2 de abril de 1919. Nesta, o psicanalista responde a uma questão colocada por sua correspondente no dia 9 de março a respeito do destino da metapsicologia. Na ocasião, Salomé questiona Freud: "o que houve com a metapsicologia, agora que os capítulos impressos foram incluídos no quarto volume da Neurosenlehre? O que houve com os outros capítulos que já estavam terminados?"23. Freud retrucou dizendo que, na verdade, "a metapsicologia ainda não foi escrita" e "até o momento não foi possível trabalhar sistematicamente sobre o material", sendo "a natureza fragmentária" das suas experiências o grande impeditivo para a realização de tal projeto. Contudo, admitiu que um primeiro passo fora dado "em um dos meus ensaios, intitulado Além do princípio de prazer", sobre o qual, termina o autor, "espero com impaciência uma apreciação detalhada, crítica e sintética, de sua parte" (Pfeiffer, 1992).

Tendo em vista essas cartas, toma-se conhecimento de um fato interessante. Freud talvez nunca tenha de fato escrito os tais sete artigos metapsicológicos "perdidos" ou "destruídos", como sugere Strachey em sua nota editorial datada de 1957 no volume 14 da Standard Edition (Strachey, 1957). Aparentemente, esses comentários se baseiam nas considerações feitas por Jones (1955) no segundo volume da biografia de Freud. Essa hipótese foi parcialmente infirmada pela descoberta de Ilse Grubrich-Simitis (1985), realizada durante os anos 1980, do suposto décimo-segundo artigo, que versava sobre as neuroses de transferência. Independente dessa querela, na qual não se pretende entrar, interessa, no momento, chamar a atenção para o fato de que, de algum modo, talvez enquanto projeto, Freud considerou o ensaio sobre o Além do princípio de prazer como um artigo metapsicológico ou pelo menos como um texto de síntese, capaz de dar sentido aos demais artigos ditos metapsicológicos. Além disso, observa-se que, tendo em vista um trabalho por assim dizer coletivo, Salomé também foi tomada por Freud, tal como foi no caso de Ferenczi, como uma interlocutora. Ao acompanharmos a correspondência com a intelectual russa, nota-se inclusive que esse diálogo se prolongou após a publicação da primeira edição do Jenseits des Lustprinzips.

Antes disso, no entanto, ainda durante o seu período em Bad Gastein, dez dias após o envio da correspondência a Anna a respeito do avanço de sua escrita, Freud revelou a Salomé ter se interessado pelo tema da morte, deparando-se "[…] com uma noção notável baseada em minha teoria das pulsões", e que então precisaria "ler todo tipo de coisas relevantes ligadas a isso". Dentre essas leituras, o psicanalista cita Schopenhauer, de quem afirmou estar lendo pela primeira vez assumindo não estar gostando muito (Pfeiffer, 1992). Freud possuía em sua biblioteca um único volume do filósofo Arthur Schopenhauer (Davis e Fichtner, 2006). Trata-se de sua tese de doutorado, defendida em 1813, com o título é Sobre a raiz quádrupla do princípio de razão suficiente (Schopenhauer, 1875). Reeditada pelo autor em 1847, ela foi considerada por Schopenhauer como o fundamento de seu sistema filosófico.24 Encontra-se ainda nos registros de sua biblioteca pessoal (Davis e Fichtner, 2006) a obra de um comentador, Walter Frost, publicada em 1918, com o título Schopenhauer herdeiro de Kant na análise filosófica da alma. Demonstração da aplicabilidade empírica do método transcendental (Frost, 1918).

Convém lembrar que Frost, assim como sua mulher, Maria Frost, constam na lista dos convidados para o sexto Congresso Psicanalítico Internacional, onde Freud apresentou, em setembro de 1920, os resultados parciais de sua pesquisa sobre o Além do princípio de prazer (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 1920, p. 378). Walter Frost era, na época, professor de filosofia na Universidade de Bonn onde ofereceu, no semestre de verão daquele mesmo ano - precedendo, portanto, o Congresso de Haia -, um curso intitulado Apresentação Crítica da Psicologia dos Psicanalistas (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 1920, p. 184). No ano seguinte, foi nomeado professor ordinário na Universidade de Riga e passou a colaborar com a Sociedade Suíça de Psicanálise, provavelmente por intermédio de Ernst Schneider, professor de filosofia na mesma instituição (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 1921a).

Na versão final do artigo Além do princípio de prazer, Freud citou, no entanto, outro trabalho de Schopenhauer. Trata-se do escrito Especulação transcendente sobre a aparente capacidade deliberativa no destino de cada um, publicado pelo filósofo alemão no contexto de uma coletânea de artigos voltados ao grande público e reunidos em 1851 em dois volumes, com o título Parerga e Paralipomena (Schopenhauer, 1851). A passagem escolhida pelo psicanalista se encontra no último parágrafo do texto, onde Schopenhauer aborda de maneira explícita a questão da morte. Em suas palavras, ao falar da vontade como algo que pode levar ao abandono da vida, Schopenhauer dirá que "[…] essa diretriz invisível, que não se manifesta senão de maneira obscura e ambígua, acompanha até a morte, o verdadeiro resultado, e neste caso a meta, da vida" (Schopenhauer, 1851, p. 237). Cabe ressaltar que, em nota de rodapé, Freud mencionou o título do texto de Schopenhauer de maneira incompleta, omitindo as palavras "especulação" e "transcendente" e mantendo apenas "sobre a aparente capacidade deliberativa no destino de cada um". Além disso, ao integrar a passagem do filósofo no corpo do texto, Freud pareceu ignorar o contexto mais amplo do argumento schopenhaueriano, limitando-se a dizer que, para o pensador alemão, a morte "[…] é o verdadeiro resultado, e neste caso a meta, da vida" (Freud, 1920a, p. 47). Como se deduz a partir da leitura de uma carta enviada por Freud à filha Anna no dia 30 de julho de 1919, ele teria tomado conhecimento desse breve escrito de Schopenhauer por intermédio de Otto Rank e Hans Sachs. Durante suas férias em Bad Gastein, ele afirmou ter pedido a Rank uma indicação de Schopenhauer e acrescentou que este último o teria enviado uma pequena edição "[…] descoberta na casa de Sachs" (Meyer-Palmedo, 2012, p. 216).25

De volta ao manuscrito freudiano, ainda que retrabalhado, ele não passava de um esboço, mesmo após o verão de 1919. Entretempo, Freud começou a redação de sua última grande história clínica, o caso da jovem homossexual (Freud, 1920b), voltando o Jenseits para a gaveta. Segundo Jones (1957, p. 42), o artigo em questão, que receberá o título de Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina, ficou pronto em janeiro de 1920, sendo publicado no mês de março no sexto volume do Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse (Freud, 1920b).

A partir do mês de março de 1920, um ano após o início da redação do manuscrito do Jenseits, Freud pareceu entrar em uma nova etapa em seu trabalho de escrita. No dia 8 de março, afirmou, em carta a Max Eitingon, estar trabalhando sobre a pulsão de morte (Schröter, 2009, p. 214), indicando talvez uma mudança de orientação e passando a explorar a dimensão mais teórica do artigo. É provável que essa seja a primeira referência explícita de Freud ao conceito em questão. No dia 27 de maio, o psicanalista escreveu ainda a Eitingon afirmando estar já "corrigindo e completando o Além, aquele do princípio de prazer", e dizendo que no momento se encontrava "em uma fase produtiva" (Schröter, 2009, p. 224).

De acordo com Jones, algumas semanas mais tarde, no dia 16 de junho, Freud fez uma primeira exposição dos resultados de sua pesquisa diante da Sociedade Psicanalítica de Viena (Jones, 1957, p. 42). Assinala-se que, ao retornar aos documentos - neste caso às notícias da Sociedade veiculadas na época pelo Boletim (Korrespondenzblatt) da Associação Psicanalítica Internacional - não se encontra qualquer referência a essa exposição26.

Ainda durante o mês de maio, no dia 25, mais precisamente, Freud enviou um cartão postal a Ferenczi indagando-o sobre uma citação feita por Barbara Low (1877-1955), psicanalista membro da sociedade britânica, em um trabalho de vulgarização intitulado Psicanálise: um breve apanhado da teoria freudiana (Low, 1920).

Eis a passagem, citada em inglês pela autora e atribuída a Ferenczi: "Our unknown repressions lead us ever further in the way of repression", que se poderia traduzir como: "nossas repressões desconhecidas nos conduzem sempre mais longe no caminho da repressão" (Falzeder e Brabant, 1996, p. 21). Na sequência, Freud questiona seu colega: "onde isso está? Preciso dela para o 'Além', no qual tenho trabalhado" (Falzeder e Brabant, 1996, p. 21). Em sua resposta, feita no dia 30 de maio, Ferenczi afirmou desconhecer a passagem. Freud voltou a insistir em seu pedido na carta do dia 17 de junho, informando que o manuscrito seria terminado entre os meses de junho e julho. Ferenczi responde um mês mais tarde, sem tocar no assunto (Falzeder e Brabant, 1996).

Retomando o texto de Low (1920, p. 98), pode-se localizar a passagem referida por Freud no terceiro capítulo da obra, intitulado Repressões, no qual a autora se dedica a uma ampla discussão do fenômeno, abordando temas como os princípios de prazer e realidade, restrições ligadas à civilização, processos criativos etc. Foi nesse mesmo capítulo que Low lançou mão da noção de "Princípio de nirvana" (Nirvana-principle), evocando-a no contexto da seguinte passagem:

É possível que, ainda mais profundo que o princípio de prazer, se encontre o princípio de nirvana, tal como podemos chamá-lo - o desejo do recém-nascido de retornar ao estado de onipotência, onde não há desejo não preenchido, tal como era o caso no útero materno (Low, 1920, p. 75).

Freud retomou a mesma noção na sexta parte de seu texto ao se referir à pulsão de morte (Figura 6).

Sem localizar a passagem na obra de Ferenczi e, talvez, após ter refletido sobre a passagem de Low supracitada, Freud acrescentou ao seu texto uma nota de rodapé com uma segunda passagem do psicanalista húngaro presente em seu artigo O desenvolvimento do sentido da realidade e seus estágios (Ferenczi, 1913). Tal como se vê na sequência, o trecho citado por Ferenczi vai diretamente ao encontro da passagem de Low, antecipando de maneira espantosa um dos principais argumentos sustentados por Freud no Jenseits: "seguindo esse raciocínio até o fim", afirma Ferenczi em meio a uma discussão sobre a repressão, "seremos levados a considerar a existência, no seio da própria vida orgânica, de uma tendência à inércia ou à regressão; em contrapartida, a tendência à evolução, à adaptação, etc. dependeria unicamente de estímulos externos" (Ferenczi, 1913, p. 137).

Freud a evoca no final da quinta parte de seu texto, ao discutir os limites do conceito de pulsão sexual em face das tendências internas "involutivas" supostamente presentes em todo organismo vivo. Ao consultar o manuscrito de Freud, a hipótese aventada aqui relativa ao acréscimo tardio da nota sobre Ferenczi se justifica uma vez que ela se encontra anotada à mão em um pedaço de papel anexado à primeira versão datilografada do texto (Figura 7)27.

A título de informação, cabe salientar que, ao se referir à ideia de "involução", o termo alemão empregado por Freud é Rückbildung, o qual se poderia traduzir de maneira literal como "formação regressiva". Trata-se do mesmo termo utilizado pelo autor no contexto de sua monografia sobre as afasias, ao fazer alusão ao processo de dissolução funcional descrito pelo neurologista inglês John Hughlings Jackson (Freud, 1891, p. 89). Indo mais longe, atesta-se que o mesmo conceito havia sido empregado pelo professor de Zoologia Evolutiva da Universidade de Viena, Carl Claus, com o objetivo de descrever o curioso fenômeno de regressão filogenética28. Essa constelação de referências no campo da biologia, somada evidentemente àquelas que se encontram no próprio texto publicado, revelam algo de absolutamente relevante sobre as origens do conceito de pulsão de morte.

No dia 18 de julho de 1920, Freud se reportou mais uma vez a Ferenczi, agora lamentando o fato de ele não o ter ajudado com a tal citação e confirmando o término da redação do manuscrito do Jenseits des Lustprinzips. No mesmo dia, escreveu a Max Eitingon, também fazendo referência à finalização do texto. Nessa última carta, Freud acrescentou as seguintes palavras a propósito da recepção de seu trabalho: "[…] muitos irão balançar a cabeça em desaprovação" (Schröter, 2009, p. 230), demonstrando, assim, certo ceticismo a esse respeito. Ao que tudo indica, Eitigon conhecia não apenas a existência do manuscrito, mas também uma parte de seu conteúdo. Alguns dias antes, no dia 4 de julho de 1920, Freud revelou que Eitigon tinha "dado uma olhada no Além" (Schröter, 2009, p. 226) em Badersee, onde Freud teria passado um tempo na companhia de Eitigon e de sua mulher durante suas férias de verão em 1919. No dia 19 de outubro de 1920, na posse de uma das últimas versões do Além do princípio de prazer, Eitingon dirá a Freud que sua leitura estava "dando muito trabalho", em oposição ao manuscrito de Psicologia das massas, cujos temas parecem ao psicanalista de Berlim "cada vez mais claros" (Schröter, 2009, p. 233). A respeito do Jenseits, Freud lhe respondeu de maneira surpreendente no dia 31 de outubro, esclarecendo que, "sobre o Além, nós devemos sempre buscar uma explicação no aquém" e que, nesse sentido, ele tinha a "consciência tranquila" (Schröter, 2009, p. 234).

O próximo passo nessa longa caminhada que separa o manuscrito da primeira edição publicada foi a exposição parcial do material no sexto Congresso Psicanalítico Internacional, realizado em Haia entre os dias 8 e 11 de setembro de 1920. O título escolhido por Freud foi Suplemento à teoria dos sonhos (Ergänzungen zur Traumlehre), bastante modesto considerando a envergadura daquilo que estava por vir. Dessa conferência, conta-se apenas com um resumo fornecido pelo autor, impresso nos anais do evento e reproduzido ainda no mesmo ano no Boletim da Associação Psicanalítica Internacional (Freud, 1920c). Uma versão inglesa deste resumo será publicada no mesmo ano, no International Journal of Psycho-Analysis (Freud, 1920e). Anos mais tarde, em sua nota editorial à tradução do Jenseits des Lustprinzips, Strachey oferecerá uma segunda versão inglesa desse documento (Strachey, 1955).

De acordo com o resumo, Freud introduz já no início de sua exposição a ideia de que nem todo sonho é a realização de um desejo, rejeitando, portanto, um dos princípios até então mais bem estabelecidos da teoria psicanalítica. Para sustentar sua tese, o autor argumentou que, diferente dos sonhos de desejo (Wunschträumen), dos sonhos de angústia (Angstträumen) e mesmo dos sonhos de punição (Strafträume), os chamados sonhos traumáticos (traumatischen Träumen) parecem apontar para outra dimensão, que se encontra "além do princípio de prazer". Feitas essas considerações, Freud anunciou a publicação próxima de um trabalho com esse título.

Em um segundo momento de sua exposição, cujo tema não foi desenvolvido mais tarde em seu artigo publicado - ao menos não diretamente -, Freud chamou a atenção para as investigações realizadas pelo Dr. Varendonck, de Ghent sobre o pensamento autístico. Ele faz referência às pesquisas realizadas pelo psicanalista belga, de formação filosófica, Juliaan Varendonck (1879-1924), que, no ano seguinte, publicou uma influente obra intitulada A psicologia do devaneio (Varendonck, 1921). Esse trabalho incluiu uma breve introdução escrita por Freud e foi traduzido para o alemão em 1922 sob os cuidados de Anna Freud, portando o título Sobre o pensamento fantasmático pré-consciente (Varendonck, 1922).

Um fato curioso e pouco conhecido referente a Varendonck é que, em 1921, quer dizer, durante esse mesmo período, o pesquisador belga defendeu uma tese na Universidade de Paris sobre a Evolução das Faculdades Conscientes29. Um diálogo inesperado e improvável foi estabelecido nesse trabalho entre as recentes descobertas psicanalíticas e as contribuições de certa tradição filosófica francesa, particularmente próxima da psicologia experimental. Refere-se aqui à tradição iniciada por Théodule Ribot, filósofo formado na Escola Normal Superior de Paris, que ocupará, em 1889, a primeira cadeira de psicologia experimental no Collège de France. Um dos fundadores da Sociedade Psicanalítica de Paris, Reymond de Saussure (1894-1971) - filho de Ferdinand, o linguista -, escreveu, em 1925, para a revista Évolution psychiatrique um compte-rendu bastante elogioso e completo da tese de Varendonck. Saussure começa a resenha afirmando que "a presente obra, bastante próxima dos estudos psicanalíticos que, de resto, o autor conhece muito bem, está cheia de considerações originais e de ideias novas que exigiriam uma longa meditação" (Saussure, 1925, p. 281). Ao cabo dessa breve nota, Saussure diz que o trabalho de Varendonck será de grande interesse psicanalítico na medida em que preenche uma lacuna importante da doutrina freudiana, fornecendo à psicanálise uma teoria sólida do entendimento. Esse mesmo movimento de abertura à psicologia geral já se mostrava presente em seu trabalho prefaciado por Freud sobre o devaneio. Infelizmente, faltam trabalhos a este respeito na literatura secundária sobre o tema.

Retomando a trajetória do manuscrito do Jenseits, Freud escreveu no dia 28 de novembro de 1920 a Abraham para comunicar que o artigo havia sido finalmente publicado e que uma cópia lhe seria enviada (Falzeder e Hermanns, 2009). Possivelmente, Abraham já tinha conhecimento do manuscrito desde 191930. Considerando o intervalo de algumas semanas transcorridas entre a exposição em Haia e a publicação da primeira edição do Além do princípio de prazer, é bastante provável que Freud tenha feito suas últimas modificações no texto final antes de enviá-lo à editora. Talvez Abraham tenha participado desse processo como mais um interlocutor. No mesmo dia 28 de novembro, Freud escreveu ainda para Georg Groddeck, anunciando o aparecimento do artigo e chamando provavelmente a atenção para o seu caráter especulativo: "Talvez meu último pequeno escrito, que acaba de ser publicado: Além do princípio de prazer, o fará mudar um pouco a visão que o senhor tem de mim" (Honegger e Groddeck, 1970). Groddeck era conhecido pelo caráter literário de seus textos e pendor metafísico de suas hipóteses.

 

4. Considerações Finais Relativas à Segunda Parte

Em conclusão a esses comentários sobre o manuscrito de 1919, é possível dizer que, em primeiro lugar, Freud engavetou e desengavetou o projeto do Além do princípio de prazer pelo menos duas vezes, o que denota certo cuidado que não parece ter sido tomado na publicação de outros textos a ele contemporâneos, como, por exemplo, Bate-se em uma criança, O Unheimlich ou Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina, cujo período de latência entre a redação e a publicação se mostrou relativamente curto. Sua escrita se inicia em março de 1919 e uma primeira versão estava pronta em maio do mesmo ano. Freud a retomou ainda em julho, durante suas férias de verão em Bad Gastein. Um ano após o início dos trabalhos, em março de 1920, o projeto foi novamente desengavetado, sendo finalizado somente no mês de julho daquele mesmo ano. Dois meses mais tarde, o material foi apresentado no sexto Congresso Psicanalítico Internacional. Enfim, entre os meses de novembro e dezembro de 1920, o texto apareceu publicado em sua primeira edição.

Essa dinâmica em dois tempos da construção do manuscrito pode ser medida com base nas modificações realizadas por Freud entre uma primeira versão do esboço, escrita à mão, e uma segunda versão datilografada e acompanhada de correções. Convém ressaltar que essas modificações não são sinalizadas por James Strachey em suas notas críticas à tradução do Jenseits des Lustprinzips.

Como já mencionado em nota de rodapé, esse material se encontra atualmente disponível em versão digitalizada no portal da Library of Congress (LoC). Na figura 8, por exemplo, ilustra-se a primeira página datilografada da versão manuscrita disposta na figura 5, indicando a existência de dois esboços que precedem a primeira edição publicada. Por meio da análise cruzada de fontes materiais desse tipo e de fontes textuais - como as cartas, por exemplo - se chegou a conclusões como a de que Freud teria acrescentado uma nota sobre Ferenczi (Figura 7) após terminar aquilo que se pode considerar como uma das últimas versões do seu esboço.

Foi também através desse tipo de estudo que se teve conhecimento de um fato extraordinário ligado à inclusão de uma seção inteira à versão datilografada do esboço. Trata-se da seção 6, sem dúvida uma das mais densas do artigo. Feita essa alteração, a antiga seção 6 já datilografada se transformará na atual seção 7.

Dentre as demais modificações na versão datilografada do manuscrito, pode-se chamar a atenção aqui, de maneira não exaustiva, para: a) as diferentes referências a Gustav T. Fechner e à noção de tendência à estabilidade, que se encontram na primeira seção (Figura 8) e inspiradas talvez na leitura de Barbara Low, acrescentada à versão datilografada; b) uma nota de rodapé, incluída na segunda seção, sobre uma observação adicional relativa ao jogo infantil do Fort-da; c) referência na terceira seção a Marcinowski e à sua obra As fontes eróticas do sentimento de inferioridade, publicada em 1918; d) a quase totalidade dos dois últimos parágrafos que compõem a quarta seção, onde Freud praticamente reproduz o conteúdo da sua comunicação no sexto Congresso Psicanalítico Internacional, fazendo ainda referência ao impacto dos ferimentos físicos nos efeitos de um trauma; e) uma nota sobre a teoria das pulsões na quinta seção ; f) a referência ao "comportamento de buscar a morte a seu próprio modo" será acrescentado também à quinta seção; g) e o último parágrafo da sétima seção.

 

Figura 9

 

Em segundo lugar, ao longo de todo esse processo, Freud manteve um diálogo constante com seus pares, em particular com o psicanalista húngaro Sándor Ferenczi e com o psicanalista de Berlim Max Eitingon. Infelizmente, não restaram registros materiais completos desses debates. No entanto, considerando a insistência de Freud nesse sentido, pode-se supor que discussões desse tipo tenham se dado presencialmente, no tête-à-tête ou em grupo. Esse pode muito bem ter sido o caso durante os encontros que tiveram lugar no sexto Congresso Psicanalítico Internacional. Seja como for, verifica-se aqui a existência de um trabalho colaborativo que certamente impactou a forma final do trabalho. Diálogos implícitos podem ser atestados a partir das citações textuais feitas pelo próprio Freud em seu artigo, como, por exemplo, aquele estabelecido com Barbara Low em torno da noção de "Princípio de nirvana". A abertura de Freud a outros campos do saber psicológico, nesse caso à psicologia experimental, a partir da referência a Varendonck, mostrou-se particularmente reveladora e inesperada. Essa dimensão coletiva da escrita freudiana pode ser constatada desde muito cedo ao longo das diferentes edições da obra A interpretação dos sonhos, por exemplo, que seria reeditada com as contribuições de outro psicanalista, Otto Rank.31

Por fim, em terceiro e último lugar, vale salientar a intertextualidade implícita e explícita com a biologia. Nos comentários aqui presentes, chama-se a atenção para a referência implícita de Freud ao conceito de "formação regressiva", inicialmente formalizado por um de seus professores, Carl Claus. Por conseguinte, as referências explícitas, como aquelas feitas a August Weismann (1834-1914) ou a Alexander Lipschütz, são tão evidentes a ponto de dispensarem aqui uma discussão mais detalhada.

 

5. Considerações Finais

Após realizar esse percurso, cujo objetivo era de tornar eloquentes dois documentos mudos, a saber, um texto analisado de um ponto de vista contextual e um manuscrito avaliado em termos puramente formais, é possível avançar essas duas hipóteses de trabalho que parecem bastante fecundas e promissoras.

A primeira delas é a de que 1) o artigo Além do princípio de prazer foi escrito por Freud tendo em vista, principalmente, a resolução de problemas de natureza clínica, resultantes da incômoda existência de fenômenos que pareciam contradizer o até então irrevogável princípio de prazer e, secundariamente, o incremento de sua metapsicologia com uma nova teoria das pulsões. Nesse viés, o caráter especulativo da inovação freudiana deveria, ao contrário do que em geral acontece, permanecer em segundo plano, dando lugar a um debate mais concreto e de ordem técnica, ligado à clínica do traumatismo, das compulsões e da agressividade. Em resumo, é possível justificar essa hipótese, que tende a estabelecer uma hierarquia de problemas - em grande medida invisível àquele que se concentra unicamente no estudo do texto fora de contexto -, argumentando que, por um lado, do ponto de vista editorial, Freud concebeu e divulgou seu artigo visando um interlocutor capaz de avaliar seus argumentos em termos práticos e, por outro, do ponto de vista formal, relativo a seu processo de escrita, boa parte do debate teórico fora introduzido a posteriori, após o término da versão final datilografada do texto.

A segunda hipótese é a de que 2) o artigo Além do princípio de prazer foi escrito por Freud em meio a um debate constante com seus pares praticantes da psicanálise, mas também com outras disciplinas científicas, como a psicologia experimental, a biologia e, em menor grau, a filosofia. Nesse aspecto, se é levado a relativizar uma dupla imagem de Freud muito difundida: a de um teórico-clínico solipsista, que constrói conceitos apenas com base em sua própria experiência, seja ela intelectual ou clínica; e a de um Freud filósofo, que produz suas ideias a partir de abstrações filosóficas. Convida-se, então, a pensar um Freud colaborativo, que elabora suas hipóteses estabelecendo diálogos científicos dentro e fora do campo estritamente psicanalítico. Ao mesmo tempo, também somos levados a minimizar o impacto da filosofia sobre o pensamento de Freud, posto que o debate com filósofos será estabelecido ou de maneira meramente alusiva, como é o caso com Schopenhauer, ou em termos não propriamente filosóficos, como acontece com Varendonck. É possível justificar essa hipótese através do estudo das cartas trocadas por Freud durante o período da escrita do Além do princípio de prazer, do impacto do artigo no interior do movimento psicanalítico, assim como por meio do estudo do próprio manuscrito freudiano. Em todos esses casos, pode-se notar um ar de comunidade científica que irá atribuir uma importância determinante aos elementos concretos e práticos do texto em detrimento da sua dimensão especulativa. Essa última passará, aliás, a interessar muito mais aos filósofos, principalmente a partir da segunda metade do século XX.

Conscientes de que tais hipóteses não podem ser inteiramente validadas por meio da análise do presente material, limita-se, neste trabalho, a apontá-las como horizonte a ser revisitado em futuros estudos. Seja como for, inspirando-nos naquilo que Freud diria a Eitingon pouco antes da publicação de seu artigo, a explicação não deve se encontrar no além, mas sim no aquém.

 

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Recebido em: 16/09/2020
Aprovado em: 18/11/2020

 

 

1 O presente texto é o primeiro de uma série de três artigos em homenagem ao centenário de publicação do Além do princípio de prazer. Todos esses trabalhos fazem parte do projeto de pesquisa A recepção filosófica da psicanálise: história, tradições e doutrinas (UFJF, UFMS, PUC-PR, Université Montpellier 3). A escrita e a submissão deste primeiro artigo, dedicado ao estudo do processo editorial e dos manuscritos do texto freudiano, precedeu o aparecimento da edição crítica do Além do princípio de prazer, publicado no mês de outubro de 2020 pela editora Autêntica. Esse desencontro explica a ausência de referências a esta obra, assim como ao dossier intitulado "Para ler Além do princípio de prazer" que a acompanha. Considerando que nosso artigo desenvolve temáticas não exploradas pela edição crítica supracitada - e vice-versa - podemos dizer que ambos os trabalhos devem ser tomados como complementares em diferentes níveis.
2 Salvo indicação explícita, todas as traduções de títulos, termos, expressões ou passagens são de inteira responsabilidade destes autores.
3 É provável que ele tenha saído no fim do mês de novembro. Em duas cartas, enviadas a Georg Groddeck e a Karl Abraham no dia 28 de novembro 1920, Freud afirma que o trabalho Além do princípio do prazer acabara de ser publicado (Honegger e Groddeck, 1970; Falzeder e Ludger, (2010). Em sua obra biográfica dirigida a Freud, Jones sugere como data "início de dezembro" (Jones, 1957, p. 43).
4 A respeito de Hugo Heller (1870-1923) e da editora que porta seu nome, vide o instrutivo verbete de Lydia Marinelli (MIJOLLA, 2013).
5 Inicialmente publicada em 1950, a segunda tradução inglesa do Além do princípio do prazer será reeditada em 1955, no volume 18 da Standard Edition (Strachey, 1955). Essa segunda versão inglesa tomará a terceira edição alemã como texto fonte (James, 1951).
6 Publicada em doze volumes, entre 1924 e 1934, a Gesammelte Schriften corresponde ao primeiro grande projeto de publicação das obras completas de Freud. Nessa edição, os textos serão agrupados por temas e a reunião de trabalhos não se pretenderá exaustiva.
7 Com dezoito volumes, a Gesammelte Werke reunirá um número maior de trabalhos e será publicada entre 1940 e 1968. Um volume suplementar, com documentos inéditos, apareceria anos mais tarde, em 1987, com o título Nachtragsband.
8 Título original: Het Levensmysterie en de Psycho-Analyse, publicado em Amsterdam.
9 Original de Freud em Espanhol reproduzido pelo editor das Obras completas no quarto volume publicado em 1923. A passagem foi ainda reproduzida no décimo-primeiro volume das Gesammelte Schriften (Freud, 1928, p. 266) e, mais tarde, no décimo-terceiro volume das Gesammelte Werke (Freud, 1967, p. 442). A primeira versão brasileira dessa carta foi traduzida a partir da versão inglesa de James Strachey no décimo-nono volume da Standard Edition inglesa (Freud, 1961 p. 289). Para essa citação, utilizou-se a versão de Freud (1967).
10 No dia 27 de agosto de 1923, Binswanger escreveu a Freud sobre as boas relações que ele estabelecia com algumas autoridades psiquiátricas espanholas. No dia 18 de outubro de 1923, o psiquiatra suíço pronunciou em Madrid uma conferência diante da Real Academia Nacional de Medicina com o título Introdução à psicanálise médica. O texto dessa comunicação foi escrito em alemão, traduzido por Ballesteros e lido por Binswanger na versão espanhola (Binswanger, 1924). Já em 1923, o texto foi publicado nos Anales de la Real Academia Nacional de Medicina, volume 43, caderno 4.
11 Em correspondência com Freud, Abraham afirmou no dia 7 de maio de 1924 ter trocado cartas com López-Ballesteros, planejando uma série de conferências sobre psicanálise a serem proferidas em Madrid no verão seguinte. A morte prematura do psicanalista de Berlim o impediria de realizar esse projeto.
12 A esse respeito, ver as cartas de Ferenczi a Freud datadas de 6, 17 e 28 de outubro e 14 de novembro de 1928. Segundo consta na página 30 da edição do dia 28 de agosto 1928 do jornal madrileno ABC, a conferência de Ferenczi foi realizada na Sociedad de Cursos y Conferencias na tarde do dia 27 de outubro, com o título Aprendizaje de la psicoanálisis y transformación psicoanalítica del caráter. Uma versão alemã dessa conferência foi publicada postumamente em Ferenczi (1939).
13 Para um breve estudo a respeito da posição ambivalente de Ortega y Gasset em relação à psicanálise (Sánchez-Barranco Ruiz e Vallejo Orellana, 2005).
14 Referência do autor a Ferenczi (1912). No momento, esses autores trabalham em uma nova tradução, diretamente do alemão, do texto de Ferenczi.
15 Ambas as citações do prefácio foram feitas a partir da tradução francesa das obras de Ferenczi, cotejada com o original húngaro. Com exceção da versão brasileira, realizada a partir da francesa, desconhece-se a existência de outras traduções desse documento.
16 A esse respeito, ver o instrutivo artigo de Denise Bottmann (2013).
17 Encontra-se uma lista não exaustiva desses títulos publicados ao longo dos anos 1930 em Bottmann (2013, p. 160-4).
18 Em entrevista à Revista Época, Abrahão Koogan, editor da primeira coleção das obras completas de Freud no Brasil, realizada ainda na década de trinta, por sua editora, a Guanabara Koogan, do Rio de Janeiro. Não conseguimos encontrar a relação dos títulos dessa edição, mas a quantidade de volumes afirmada pelo editor não nos permitiu abandonar a hipótese de que é provável que o Além do princípio de prazer tenha sido aí publicado. Cf. Koogan (2010). Segundo De Oliveira (2002, p. 16n), foram publicados na ocasião 52 títulos em português, agrupados em 7 volumes. A relação de títulos listada por Bottmann (2013), mencionada acima, nos fornece ainda outros elementos. Continuaremos à procura desses dados e agradecemos muitíssimo à pesquisadora Alessandra Triaca, que foi quem localizou e nos indicou a referida entrevista.
19 Poder-se-ia aqui perguntar se o fato de ler Freud através das traduções espanhola e francesa, como visto, não tenha tido algum impacto sobre a recepção brasileira da psicanálise.
20 As citações serão feitas com base na edição crítica de Ernst Falzeder et Eva Brabante das correspondências entre Freud e Ferenczi.
21 Publicada com acréscimos em relação à primeira edição, no contexto da coleção dirigida por Freud: Escritos de psicologia aplicada (Freud, 1919a).
22 Após a ruptura entre Freud e Rank, as contribuições deste último - que consistiam em dois capítulos acrescentados em forma de anexo ao sexto capítulo da obra, o primeiro com o título Sonho e Poesia, o segundo, Sonho e Mito - foram retiradas das edições posteriores da Interpretação dos sonhos. A retirada desses capítulos se efetuou na passagem da sétima à oitava edição da obra, publicadas, respectivamente, em 1922 e 1930 (Freud e Rank, 1919).
23 Ao falar de Neurosenlehre, Salomé faz provavelmente referência ao quarto volume da Sammlung kleiner Schriften zur Neurosenlehre, publicada em 1918, e que incluía uma reedição dos chamados artigos metapsicológicos (Pfeiffer, 1992).
24 Tal como o filósofo declara em seu prefácio à segunda edição: "Esta dissertação de filosofia elementar apareceu pela primeira vez em 1813, sob a forma de tese para o meu doutorado; mais tarde, ela se tornou o fundamento de todo o meu sistema" (Schopenhauer, 1875).
25 Segundo seu principal biógrafo, Rank havia realizado durante a sua juventude estudos intensivos sobre a vida e a obra de Arthur Schopenhauer (Lieberman, 1993, p. 56).
26 Em contrapartida, localizou-se um debate sobre o tema realizado na Sociedade Britânica de Psicanálise nas sessões do dia 15 de outubro e 11 de novembro de 1920, ambas fazendo referência, com a intervenção de Jones, à conferência de Freud no Congresso de Haia. No ano seguinte, no dia 13 de abril de 1921, uma sessão da Sociedade Psicanalítica de Viena presidida por Paul Federn será inteiramente dedicada à discussão do Além do princípio do prazer. No dia 11 de maio, Federn fará uma breve exposição sobre o texto (Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 1921b, p. 400).
27 A esse respeito, consultar o manuscrito Jenseits des Lustprinzips nos arquivos digitalizados da Biblioteca do Congresso (LoC) americana, que atualmente se encontram parcialmente abertos e acessíveis online, juntamente com a versão crítica do texto, editada em 2013 por Ulrike May e Michael Schröter e publicada no volume 26 da revista alemã de história da psicanálise Luzifer-Amor. Outro trabalho mais recente sobre os manuscritos do Além do princípio do prazer foi realizado pelo pesquisador argentino José Carlos Cosentino (2015).
28 A esse respeito, ver a terceira edição do Manual de zoologia de Claus, provavelmente aquele estudado por Freud durante a sua formação médica (Claus, 1876). Trata-se aqui de uma noção análoga àquela de "reversão" (reversion), desenvolvida por Darwin entre 1868 e 1871 em The Variation of Animals and Plants under Domestication e The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex.
29 Uma versão inglesa desse trabalho foi publicada dois anos mais tarde (Varendonck, 1923).
30 Em carta enviada no dia 14 de setembro de 1919, período em que o psicanalista de Viena trabalhava em seu manuscrito, Abraham afirmou que, junto de Eitingon, aguardaria o trem de Freud em Berlim para uma estadia na capital alemã (Falzeder e Hermanns, 2009).
31 Para um comentário a esse respeito, ver Marinelli e Mayer (2009).

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