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Natureza humana

Print version ISSN 1517-2430

Nat. hum. vol.23 no.1 São Paulo Jan./June 2021

 

ARTIGO

 

Ser humano qua modos de des-velamento

 

Being human qua ways of unconcealment

 

 

João Cardoso de CastroI; Murilo Cardoso de CastroII

IDoutor em Bioética pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva - UFRJ, com período sanduíche [CAPES] na DePaul University (Chicago). Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005) e mestrado em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ (2009). Atualmente é professor de Filosofia e Bioética em cursos de graduação e assessor da Direção de Educação à Distância (DEaD) do Unifeso. Principais temas de atuação: ética, bioética, filosofia antiga, Heidegger, fenomenologia, epistemologia. E-mail: joaocardosodecastro@gmail.com
IIPossui graduação em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), com doutorado sanduíche pela Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 (1999) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005). Atualmente é Pesquisador em Geoprocessamento e SIG da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geomática. Atuando principalmente nos seguintes temas: Informática, Geomática, Heidegger, Técnica, Filosofia, Filosofia da Técnica

 

 


RESUMO

os modos de desvelamento são aspectos modais do ser humano. São suas facetas, enquanto ser-aí, na abertura de sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, iluminando a clareira do , em que si-mesmo, mim-mesmo, entes intramundanos e entes outros comparecem ou vêm de encontro em modos-de-ser distintos. A ênfase no "humano" em detrimento do ser reduz a expressão ser humano ao escândalo de um ente humano. Ao mesmo tempo, inverte a hierarquia lógica dos modos de desvelamento, privilegiando quase exclusivamente a techne e a episteme, o que Heidegger denunciou como o imperialismo do "pensamento calculativo" sem lugar para o "pensamento meditativo".

Palavras-chave: Heidegger; Técnica; Ciência; Sabedoria; Inteligência.


ABSTRACT

the modes of unveiling are modal aspects of the human being. They are faces, as Dasein, in the openness of its fundamental structure, being-in-the-world, illuminating the clearing of the There, in which oneself, myself, beings within-the-world and other beings come across in distinct modes-of-being. The emphasis in the "human" with the loss of being reduces the expression human being to the scandal of a human entity. At the same time, inverts the logical hierarchy of the modes of unveiling, giving an almost exclusive privilege to techne and episteme, what Heidegger denounced as the imperialism of the "calculative thought" without any place for the "meditative thought".

Keywords: Heidegger; Technique; Science; Wisdom; Intelligence.


 

 

1. Introdução

Fomos levados à crença de que o ser humano é um "animal racional" e, portanto, um corpo semelhante ao dos animais, dotado de um cérebro que, além de controlar esse corpo, é capaz de pensamentos, percepções, sentimentos, imaginações, sensações etc. que, por meio do dom maior desse "animal", o logos, podem ser codificados em discursos e transmitidos em comunicações. A primeira redução ao sentido originário do ser humano, antes de alcançar a crença universal do "animal racional", veio da latinização da definição aristotélica do ser humano, zoon logon echon, "vivente que possui logos", como animal rationale. Heidegger, em sua proposta de um "outro início" desde o pensamento grego antigo dos pensadores originários, nos convida a revisitar esse "vivente" com tal dote tão especial através da investigação da questão do ser1 desde o estado privilegiado do ser humano. Nossa reflexão associa elementos dessaa investigação heideggeriana para demonstrar a necessidade de superar a crença exclusiva no humano "animal racional", uma entidade mente-corpo, e doravante pensar o ser humano enquanto abertura de modos de desvelamento nos quais o ser-aí humano descerra o próprio ente que é e aquele que comparece nesaa abertura.

Ao longo dos anos 1920, Heidegger foi tecendo seu pensar sobre aquilo que considerava a questão primal de toda e qualquer filosofia: a questão do sentido do ser. Desde logo reconheceu que tanto sua formulação quanto seu acesso, e tanto mais sua ou suas respostas, passavam por uma nota importantíssima: "O sentido de ser de certo modo já deve estar disponível para nós" (Heiddegger, 2012a, p. 41). Como podemos usar tal expressão, sentido de ser (Seinssinn), em uma questão se "[...] já nos movemos sempre em um entendimento-do-ser" (Heiddegger, 2012a, p. 41), uma preliminar e vaga familiaridade do ser, que Heidegger qualifica de pré-ontológica (vorontologische)2?

Se cada um de nós move-se em tal pré-ontológico entendimento-do-ser (vorontologische Seinsverständnis)3, cada um é como uma corrente no oceano; possível metáfora de um ente no ser, um sendo do ser. Assim como cada corrente é feita da mesma água do oceano, nada mais perfeito que denominar essa corrente, ser-aí (Dasein)4, como o fez Heidegger, a esse ente privilegiado, capaz de movimento, entendimento-do-ser, no oceano ser; ser-aí no ser, corrente no oceano, água na água, mesmo no mesmo. Inclusive postulando o Dasein, em um de seus comentários posteriores à redação de Ser e Tempo (2012a, p. 47, nota a), "[...] como o manter-se imerso no nada de Ser, como comportamento", ou seja, em nossa metáfora, a corrente imersa no oceano como comportamento do oceano ou, diríamos, movimento do próprio, entendimento-do-ser.

A escolha pelo termo Dasein durante os anos 1920 até sua consagração em Ser e Tempo (2012a) foi marcada por tentativas diversas em diferentes cursos e seminários ministrados. Dentre eles, se destacam os que Heidegger devotou ao pensamento de Aristóteles, numa tentativa de assimilação de termos e noções gregos para seu léxico ainda em formação. Um exemplo, muito citado, são as palestras de Marburg, em 1924, sob o título Conceitos Básicos da Filosofia Aristotélica, publicado como volume 18 dentro da Obra Completa (Gesamtausgabe). Através dessa publicação, fica evidente a grande dívida para com o pensamento de Aristóteles, especialmente no tocante ao ser-aí e suas "propriedades" o preferivelmente, existenciários (Existenzialen).

O curso sobre o Sofista5, de Platão, publicado como volume 19 na Obra Completa, também elabora ainda mais a recorrência à Aristóteles, em um grande prolegômeno que antecede a exegese do diálogo platônico. Ambas as obras serão muito referidas neste ensaio. Queremos demonstrar que consolidam uma visão do ser humano, como ser-aí, abertura do acontecimento apropriador (Ereignis) segundo os cinco modos de des-velamento (aletheuein) programaticamente enumerados por Aristóteles na Ética a Nicômaco, Livro VI. Usando o símile da corrente no oceano, a corrente (ser-aí) é essa inauguração (abertura) no oceano (ser) de uma manifestação que se apropria (acontecimento apropriador) de sua água (ser-do-Aí) de acordo com os modos em que se revela (modos de des-velamento) em movimento (compreensão-do-ser). Mas isso é apenas uma menção simplificada do que será a seguir melhor demonstrado.

As obras heideggerianas mencionadas se complementam por sua articulação comum em Aristóteles e por serem preleções do mesmo ano acadêmico em Marburg. Ao mesmo tempo, ambas indicam o estágio de intenso questionamento de Heidegger sobre o sentido do ser, recorrendo ao que Aristóteles expõe sobre o ser humano na Ética a Nicômaco, em alguns livros da Metafísica e na Retórica e ao que Platão examina sobre o sentido do ser no diálogo O Sofista6. Espera, assim, alcançar conceitos fundamentais para confrontar a questão do sentido do ser e confirmar acesso a ela através do ser-aí, ente sem igual, ele próprio a se propor e formular tal questão. Ao mesmo tempo, ente privilegiado, pois, como afirma Heidegger (2012a, p. 139): "No ser desse ente, ele tem de se haver ele mesmo com seu ser. Como ente desse ser, cabe-lhe responder pelo seu próprio ser. O ser ele mesmo é o que cada vez está em jogo para esse ente."

 

2. O hífen de ser-aí

O traço de união de ser-aí não consta do Dasein heideggeriano (já união no literal "Aíser" em alemão), exceto em certas grafias específicas conforme o pensar que Heidegger elabora em determinados contextos. Embora Dasein seja um termo que Kant usasse como tradução do latim existentia, em seu sentido do que "está-aí-fora", ex-istentia7, "[...] o qual, segundo a tradição, significa ontologicamente, tanto como subsistência, um modo-de-ser que não convém essencialmente ao ente que tem o caráter do Dasein" (Heidegger, 2012a, p. 139). A palavra alemã Dasein foi todavia adotada por Heidegger para designar o ente, o sendo, capaz de, através de sua intimidade com o ser8, ter o privilégio de conceder um acesso único à questão do sentido do ser. Afinal de contas, a essência desse ente reside em sua existência, ou ter-de-ser (Heidegger, 2012a, p. 139), ainda mais ele, o ser-aí, "[...] é exemplar porque é o parceiro que em sua essência como Dasein (guardião da verdade do ser) joga para e com o ser - trazendo-o para dentro do jogo de ressonância" (Heidegger, 2012a, p. 45, nota c).

Essa "intimidade do jogo" ser e ser-aí, fica no termo em português ainda mais assinalada pelo traço-de-união entre ser e 9 (Da). O hífen simboliza o ser-do-Aí10 (Sein des Da), a conferência de uma abertura através da constituição fundamental do ser-aí, o ser-em-o-mundo (In-der-Welt-sein). Onde, na clareira (Lichtung) do Aí, comparecem ou vêm-de-encontro (begegnende) entes intramundanos (innerweltliche Seiende), segundo distintos modos-de-ser (Seinsart), utilizabilidade (Zuhandenheit) ou subsistência (Vorhandenheit), assim como comparecem também outros entes conformes ao ser-aí (Mitdasein). Sem ainda entrar na constituição desse traço-de-união, o ser-do-Aí, deve-se ressaltar um fato contundente mas desapercebido em geral, qual seja a subjacência em imperante vigência no ser-aí da compreensão-do-ser ou entendimento-do-ser11, ainda que "mediano e vago" (Heidegger, 2012a, p. 41), flutuante e esvaindo-se em verbalidade (Heidegger, 2012a, p. 43), indeterminado e exigindo elucidação (Heidegger, 2012a, p. 43), "[...] permeado, além disso, por teorias tradicionais e opiniões sobre o ser" (Heidegger. 2012a, p. 41). A vigência do entendimento-do-ser portanto preclude qualquer tentativa de "se contar estórias" (Heidegger, 2012a, p. 43) sobre essa "inteligibilidade" vigente em ser-aí. "O entendimento-de-ser que reside no Dasein ele mesmo se expressa de modo pré-ontológico" (Heidegger, 2012a, p. 549).

Heidegger (2012a, p. 381) apresenta o ser-do-Aí em perfeita analogia ao ser-em12, um dos momentos estruturais da unicidade ser-em-o-mundo13, constituição fundamental de ser-aí, cujo traço de união pode ser pensado na direção a montante, do ao ser, no deixar-ser do modo da propriedade ou autenticidade (Eigentlichkeit) de ser-aí ou na direção do ser ao , na cotidianidade (Alltäglichkeit) da decadência ou queda (Verfallen), no modo da impropriedade ou inautenticidade (Uneigentlichkeit) do ser-aí. Nessa última direção, do ser ao , a impropriedade não tem qualquer sentido pejorativo ou degradante, apenas determina "[...] o Dasein segundo sua mais completa concretização em suas ocupações, atividade, interesses e sua capacidade-de-gozar" (Heidegger, 2012a, p. 141, 143). Os dois modos da propriedade e da impropriedade se fundam em que o ser-aí enquanto tal está determinado pelo ser-cada-vez-meu (Jemeinigkeit), ou seja, pela inteligibilidade única que cada ser-aí enquanto ente é, seja si-mesmo em propriedade ou seja mim-mesmo em impropriedade, Aí.

A constituição existenciária ou ontológica14 desse , ou seja, o ser-do-Aí, no modo da propriedade, é como uma "harmonia" que tem como primeiro acorde a disposição ou o encontrar-se (Befindlichkeit), ressonando a tonalidade afetiva ou estado-de-ânimo (Stimmung) do ser-aí, que assim manifesta o como se está e como se anda e, nesse "como", dispõe o ser em seu 15. A compreensão-do-ser, a inteligibilidade, sendo pré-ontológica, é o próprio fundo de inteligibilidade sobre o qual se modula essa ressonância afetiva na origem do ser-do-Aí. Os acordes seguintes, porém co-originários à modulação da disposição, a repercutem co-constutivamente: primeiramente, com maior intensidade, pelo compreender ou entender (Verstehen), enquanto a própria abertura desde a inteligibilidade da compreensão-do-ser. Abertura na qual entes intramundanos e entes outros (outros ser-aí) não apenas comparecem, mas o fazem com significatividade ou significância (Bedeutsamkeit), dado compreender. Prosseguindo então, desde o compreender, repercute em seguida a interpretação (Auslegung), conducente do apropriar, tornar próprio a compreensão, doravante interpretada. A harmonia alcança, então, novo eco, uma derradeira repercussão no pelo discurso ou fala (Rede) que articula por enunciações a dada interpretação do compreender, em conformidade com a disposição dada como estado-de-ânimo.

Por outro lado, a constituição ontológica do ser-do-Aí no modo da impropriedade se torna evidente pelo discurso que é falatório (Gerede), de um mim-mesmo reprodutor do "disse-me-disse" do a-gente por conta de uma interpretação que é apenas curiosidade (Neugier) de um "eu observador" ansioso por "ver" apenas pelo "prazer de ver", sob a tutela da ambiguidade (Zweideutigkeit) de uma in-compreensão, ou melhor, de uma compreensão confusa do que comparece na clareira do , tanto ser que sou quanto tudo mais é. Todavia, a disposição, como no modo da propriedade, dá o acorde da tonalidade afetiva, mas o entender não se harmoniza como tal, é ambíguo, levando à especulação curiosa e à cacofonia do falatório, que nada diz, sendo apenas opinião, doxa16. Carneiro Leão (2010, p. 128) diz bem quando afirma:

Porque todo questionamento exige transformação no modo de ser e impõe aceitação do real em toda realização! Ora crescer dói na alma e transformar-se traz um sofrimento essencial. Por isso o espanto se tomou logo curiosidade e a busca do interessante substituiu rapidamente a admiração. Curiosidade é o açodamento de olhar tudo sem ver nada, é a voracidade de saber tudo, e não ser nada. E interessante é tudo que mobiliza a sofreguidão das trocas e acirra o ritmo do consumo, sem se ter de assumir o peso das mudanças nem a responsabilidade das decisões.

O entendimento-do-ser, a inteligibilidade, percola todas as ressonâncias do estado-de-ânimo, mesmo no modo da impropriedade pela prevalência do a-gente17, mas o des-velamento está comprometido.

O entendimento-do-ser, ou a compreensão do ser, Seinsverständnis, preestabelece uma "com-(ser)-preensão do Aí", ou seja, é pré-ontológica na preensão do com ser na originariedade do ser-do-Aí. , por sua vez, é clareira em que reluz ser-si-mesmo ou ser-mim-mesmo, conjuntamente refletindo à totalidade de entes que aparentemente diferem do mesmo18. Preestabelece ainda, de pronto, um parentesco essencial, uma suggeneia, uma afinidade íntima, entre ela própria, a compreensão do ser, e a totalidade do que se dá na clareira do . Como afirma Parmênides, parafraseando a tradução do Fragmento VIII, 34ss, feita por Heidegger (1992, p. 223): o mesmo é, com efeito, o notar que apreende o notado (nous) e também o ser pre-sente do ente pre-sente.

O que nos leva ao sentido do entendimento-do-ser, ou inteligibilidade, em sua ordenação e co-originariedade ao "ser pre-sente do ente pre-sente", que assim guarda o nous em seu próprio seio, no âmago do próprio ser. Há uma adequação, correspondência ou conformidade entre o "notar que apreende o notado" e o "ser pre-sente do ente pre-sente". O que oferece uma outra possível leitura da expressão adaequatio rei et intellectus, absolutamente distinta daquela dada e criticada por Heidegger. Uma leitura que fica evidente em Plotino (Enéadas I, 6, 9), reconduzindo-a à verdade como pensada originalmente no pensamento grego antigo, como des-velamento (aletheia) que reúne o capaz de des-velar com o des-velado19.

A expressão adaequatio rei et intellectus, como axioma do pensamento medieval sobre a veritas, de fato se desviou do sentido original da aletheia e foi conduzida pela escolástica em direção à verdade da proposição e, então, à "certeza" em Descartes. Nos interessa agora examinar essa inteligibilidade enquanto lumen naturale20 da clareira do em seu fundamento básico no nous como quintessência dos modos de desvelamento (aletheuein) elencados por Aristóteles na Ética a Nicômaco Livro VI, capítulo 3.

 

3. Nous - Quintessência dos modos de desvelamento

O que será doravante examinado, recorre à leitura de Aristóteles feita por Heidegger. Por conseguinte, é necessário contextualizar o questionamento de Heidegger (2002b, p. 127), conforme ele mesmo enuncia em um curso de 1922, Interpretações fenomenológicas em conexão com Aristóteles. A interpretação de Aristóteles deve se guiar primeiro quanto ao ser humano no tocante a suas características de ser, ou existenciais (Existenzialen); segundo, pelo sentido de ser-aí em termos de ser humano, em que medida este se oferece como ter-prévio do primeiro; e terceiro, pelo modo como o ser de ser humano pode se explicitar em conceitos, conducentes a uma fenomenologia ontológica. Deve se guiar também pela abordagem "prática" de Aristóteles do ser humano, onde não se deve esquecer ser, mas, ao mesmo tempo, não se deve perder no "humano". Como muito bem coloca Vicente Ferreira da Silva (2010, p. 101) nessa longa, porém imprescindível citação:

Como encontramos diversas vezes afirmado nos trabalhos de Heidegger, é necessário renunciar às incitações do ente, inclusive do ente que somos, para receber a graça do Ser. De fato, o ente nada mais é do que o sugerido pela magia projetiva do Ser. O sugerido, entretanto, se manifesta como uma sugestão, como algo em relação ao qual nós subjazemos ou estamos entregues. Entregues ao sugerido do ente, só podemos interpretar o que nos é consignado e oferecido, fato que não só se realiza na figura presente do ente, como também e primordialmente no que há de ser do próprio oferecido. O Ser é o Sugestor da sugestão do sugerido. O ente viría a nós a partir da essência ek-stática da sugestão. O sugerido é o que é proposto, isto é, posto como imagem a cumprir, ou como imagem antecipadamente esboçada. Essas imagens não seriam as nossas imagens das coisas, imagens de imagens, mas sim as próprias coisas como imagens prototípicas. O sugerido originário das imagens seriam as coisas fluindo da imaginação prototípica do Sugestor. Eis por que a sugestão não poderia provir do ente ou das coisas, desde que esse ente já seria o sugerido pela instauração originária. O sugerido tem, entretanto, a sua fonte no Sugestor, sendo esse termo apto para designar o domínio projetante do Ser, isto é, o Aberto da liberdade instauradora.

Os modos de des-velamento (aletheuein) consignados por Aristóteles no Livro VI, capítulo 3, da Ética a Nicômaco, são distintos modos pelos quais os entes comparecem na clareira do e enquanto tal são "sugeridos", inclusive o próprio ente ser-aí, dados pela "sugestão", o entendimento-de-ser, desde o próprio "Sugestor", o ser. Na tradução não ortodoxa do grego, feita pelo próprio Heidegger (2002b, p. 130; citação abaixo) e posteriormente estudada em detalhes em seu curso Platão: o sofista (2012b), assim se elencam esses modos de des-velamento, com a ressalva de que devem ser assumidos como modos nos quais "[...] a alma faz comparecer e toma entes em guarda como desvelados - atualizando isto por meio de explicação em fala que ou afirma ou nega [...]" (Heidegger, 2002b, p. 130). Os cinco modos são, então, apresentados em uma ordem significativa como será adiante demonstrada:

Procedimentos nos quais se é dirigido para certas tarefas e se produz [techne (arte)]; definições por meio de observação, discussão e identificação [episteme (entendimento científico)]; a espécie de se ver ao redor que tem que tratar com solicitude pelo bem-estar humano (circunspecção) [phronesis (prudência)]; a espécie de compreensão que vê de uma maneira autêntica [sophia (sabedoria)]; e a pura e simples percepção (nous (inteligência)]. <Somente estes vêm à consideração> posto que jaz no próprio sentido de suposição e de ter um ponto de vista [doxa (opinião)] que estes não necessariamente nos dão entes como desvelados, ao invés tais como o que é significado por eles apenas parece como se fossem... e isto se interpõe diante dos entes em questão e nos ilude (Heidegger, 2002b, p. 130).

O significado de "verdade", em termos gregos aletheia, é de fundamental importância para a compreensão dos modos de des-velamento, no que diz respeito às diferença que guardam entre si, ao como cada um alcança uma determinada atualização do ser em ente intramundano (subsistente ou utilizável) ou em ente "outro" (Mitdasein) e, finalmente, a como em cada modo a vigência do nous, "notar que apreende o notado", se faz "notar".

A aletheia é uma afirmação positiva da "verdade" através de uma privação: um combinado do prefixo "a", privativo, não negativo, com a palavra lethe (esquecimento); "Aletheia significa: não estar mais velado, estar descoberto" (Heidegger, 2012b, p. 15-6). Os modos de desvelamento são modos que privam o ser do esquecimento, um des-encobrimento (Entdecktheit) do que é, desde o sendo, o ente. Os entes são des-velados, são "sugeridos" em distintos modos de "sugestão", de inteligibilidade, de compreensão do ser.

O nous é o quinto modo de desvelamento, que se posiciona como que ao centro de um quiasma, um cruzamento dos quatro outros modos: techne, episteme, phronesis e sophia. O nous, enquanto "notar que apreende o notado", desde o centro do quiasma, está presente nos distintos modos, como o que os substancia ao mesmo tempo que proporciona o "com vistas a que" (worumwillen) das diferentes lidas de cada modo ao desvelar entes. É o "notar" que propriamente des-encobre ou des-cobre entes, enquanto claridade da clareira do . Um "notar", "ver puro e simples" (Heidegger, 2012b, p. 64), é de fato aneu logou (sem logos), ou seja, uma aquiescência sem afirmação ou negação, sem propriedade ou impropriedade, na plena intimidade do ser do ser-aí21.

Essa claridade pode, no entanto, estar ofuscada ou sombreada pela impropriedade do ser-aí assenhorado por a-gente, disfarçado de mim-mesmo, em que a falsidade é afirmada pela palavra grega pseudos em voga pelo falso discurso (o falatório), a falsa interpretação (a curiosidade) e o falso entender (a ambiguidade). Nesse caso, temos um dianoein, um notar discursivo (Heidegger, 2012b, p. 64), afinado com a própria definição aristotélica do ser humano como zoon logon echon, "vivente que possui logos", onde prevalece a impropriedade da "razão discursiva" (dianoia).

Heidegger considera seu próprio pensar sobre o ser-aí como um símile do que Aristóteles reconhece como a psyche22. Nessa direção, o que Aristóteles diz sobre o ser do ser humano guarda também forte similitude com o noein, o pensar, por conseguinte, com o fragmento VIII 34 de Parmênides: "o mesmo, ser e pensar". Aristóteles, segundo Heidegger, teria elaborado, embora de maneira insuficiente, como o ser do ser humano é determinado em um sentido genuíno como ser-em-o-mundo, ou seja, abertura da clareira do . Para Heidegger, Aristóteles, nos capítulos 4-5 do Livro III de De Anima, estaria se questionando como nous, de dentro ou de fora do ser-aí, estaria ordenando o ser humano enquanto abertura do ser-em-o-mundo (Heidegger, 2009, p. 134-5), des-encobrimento de entes e outros. A conclusão é que nous, enquanto claridade (Heidegger , 2009, p. 134-5) da clareira do , é a condição básica de possibilidade de ser-em-o-mundo, constituição fundamental de ser-aí. Como tal, destacando-se além de qualquer "humano" concreto, em particular como indivíduo. Consequentemente, os modos de desvelamento, em quiasma tendo ao "centro" nous, são como que diferentes faces de ser humano, em conformidade com a pregnância de noein, de pensar, que cada modo assimila e por conseguinte desvela na propriedade ou na impropriedade de ser-aí.

De posse do que seja a quintessência dos modos de desvelamento, o nous, passemos aos modos propriamente na ordem estabelecida por Aristóteles, que indica uma progressão de "notar que apreende o notado" desde a techne até a sophia, posto que esta é caracterizada como quase um puro reflexo do nous: "[...] um aletheuein (desvelamento) que, por um lado, assume de certo modo o aletheuein (desvelamento) do nous (pensamento) e, por outro, tem o caráter científico da episteme (ciência)" (Heidegger, 2012b, p. 64). A orientação dada por Aristóteles no exame dos modos de desvelamento, segundo Heidegger, é um questionamento duplo sobre cada modo: primeiro, quanto ao caráter dos entes que o modo de aletheuein des-encobre; segundo, se o respectivo modo de aletheuein também des-encobre o arche (princípio) dos entes que desvela.

Heidegger, seguindo Aristóteles, afirma que o ente des-coberto pela techne, ou aquilo sobre que incide a techne, é o ser-deveniente (esomenon) (Heidegger, 2012b, p. 41). A techne é arte, perícia, saber-fazer, direcionada à pro-dução (poiesis), ou seja, o ainda não produzido mas que assim demanda ser e, ao mesmo tempo, admite ser de outra forma do que se apresenta (Heidegger, 2012b, p. 41). A techne "força" a aplicação e utilidade dos entes que vêm-de-encontro por seu modo de desvelamento, que ainda lhes outorga um "para que", uma funcionalidade. Os entes aos quais ela se dirige são justamente aqueles que faz comparecer na clareira do no modo-de-ser (Seinsart) da utilizabilidade (Zuhandenheit). Na cotidianidade do ser-aí, na abertura de sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, esse é o modo-de-ser predominante da quase totalidade dos entes que vêm-de-encontro23. Dada a prevalência crescente da técnica e desse modo-de-ser-utilizável dos entes, o próprio "humano" na expressão ser humano sofre a aberração de estar sendo des-velado, des-encoberto, como um ser-utilizável, um "recurso humano", um "agente econômico" de produção e de consumo, um ente humano que se reduz a um agregado de funcionalidades substituíveis pela chamada "inteligência artificial".

O modo de desvelamento episteme des-encobre entes que sempre são o que são (Heidegger, 2012b, p. 32), ou seja, não se oferecem à configurar-se por aplicabilidade ou utilidade imposta pelo modo techne, comparecendo na clareira do Aí como entes no modo da subsistência (Vorhandenheit) por sua deficiência em ou simples não utilizabilidade24. Esse desvelamento da episteme é aquele que prenuncia o "conhecimento" que dos entes se aufere, que permite dizer "assim é", "assim tenho ciência". Só o que sempre é pode ser conhecido, o que pode ser de outra forma não é conhecido em sentido estrito (Heidegger, 2012b, p. 33). Por conseguinte, "ciência", "conhecimento", é resultado de um desvelamento que in-forma e dá forma ao des-coberto e, assim, o mantém. Nessa condição de certa "independência" do tempo, os entes que sempre são (aidion) são desvelados pela episteme em um modo passível de ensinar/aprender, a mathesis (Heidegger, 2012b, p. 36), que tem nas matemáticas seu desenvolvimento mais puro, garantindo a produção e a reprodução da ciência. O modo de desvelamento episteme produz e reproduz conhecimento enquanto posicionalidade para com os entes desvelados pela própria episteme. Entretanto, a gradação de nous, de "notar que apreende o notado", que dispõe a episteme, não alcança o que ela mesma não pode elucidar, ou seja, devemos admitir que a episteme é apodítica (apodeixis) (Heidegger, 2012b, p. 37), um modo de desvelamento só demonstrando o ente com base no familiar e conhecido.

Passemos, então, com Heidegger (2012b, p. 50), ao modo de desvelamento phronesis (circunvisão - Umsicht), logo constatando que é preciso determinar primeiramente a que ela se refere, a fim de que seja possível demarcá-la em relação aos dois modos inicialmente analisados do aletheuein (desvelamento), o modo da episteme (ciência) e o modo da techne (arte). A phronesis se delimita em relação à episteme como doxa (opinião) e em relação à techne como arete (virtude) (Heidegger, 2012b, p. 50). Isso demarca o contexto segundo a Ética a Nicômaco Livro VI, capítulo 5, em que Aristóteles realiza a análise da phronesis.

Na tradução de Heidegger da palavra phronesis por Umsicht, nota-se uma indicação de um indispensável ver-ao-redor que respeita justamente o papel que tem de desempenhar como regente da praxis, da ação humana. Indica, ao mesmo tempo, o caráter de uma "visão" peculiar de que é dotado e capaz o próprio ser-aí. Uma visão abrangente do que é uma preensão do dado, um prolegômeno desvelador e necessário para passar a uma gradação maior de nous, qual seja, a com-preensão, a sophia. Não se trata exclusivamente de uma visão dos olhos corporais, que proporciona apenas uma percepção analítica, um olhar o sensível. Trata-se da "clarividência" daquele que pode ver e deliberar apropriadamente sobre o que é bom (pleno e perfeito) e o que é, em adição, bom para si mesmo (auton), o deliberador ele mesmo. Traduzindo livremente da Ética a Nicômaco (1140a25ss.), Heidegger afirma (2012b, p. 51):

"Um φρόνιμος (ser circunvisivo) é evidentemente alguém que pode refletir bem, apropriadamente", alguém que é βοʊ;λθʊ;τ;ικός (alguém que delibera); e, em verdade, que pode refletir apropriadamente "aquilo que é bom - que constitui o estar pronto - propício αʊτω, para ele mesmo, para aquele que reflete...". O objeto da φρόνησις (circunvisão) é, portanto, em verdade, determinado como aquilo que também pode ser de outro modo, mas ele tem desde o princípio uma referência àquele mesmo que reflete.

Enquanto os dois primeiros modos de desvelamento, techne e episteme, estavam voltados para o "fato" (factum) humano enquanto ente natural, esses dois outros modos, a phronesis e a sophia, ainda mais com-preensivamente, estão voltados para o "ato" (actum) humano enquanto deliberador de valor, de sentido, de significado. A phronesis faz as circunstâncias do ator-deliberador acessíveis mantendo uma firme "preensão" do "em virtude de" ou "com vistas à" (worumwillen) de uma ação25. O "deliberador prudente" (phronimos) deixa se fazer disponível à deliberação precisamente esse "para-que" na preensão da situação no instante (Augenblick) do ato certo, no momento certo (kairos). A phronesis é o modo de desvelamento dos entes por sua plena percepção (aisthesis) em uma situação humana, conducente à deliberação e decisão certas, em um piscar de olhos (Augenblick).

Finalmente, chegamos ao quarto modo de desvelamento, sophia, já bem encaminhado em seu entendimento pela anterior descrição da phronesis, um prolegômeno à com-preensão. O prefixo "com-" diz muito do que seja a sophia em contraste com a phronesis: a preensão proporcionada pela circunvisão é dada e mantida desde um ponto de referência do ver-ao-redor, o . Compreensão (Verstehen) é o termo escolhido por Heidegger (2012b, p. 22) para inicialmente traduzir esse quarto modo de desvelamento, sophia, embora, em seguida, geralmente mantenha a tradução comum por "sabedoria". Sua primeira escolha de tradução nos oferece uma linha de pensamento para refletir sobre esse modo de desvelamento. Com-preensão é uma preensão com, onde o "com" designa para sophia o "inesquecível" ser: 1) em que se é e entes comparecem em distintos modos-de-ser; 2) com que entes são conhecidos e descritos; e 3) de que entes são constituídos e deliberados.

O modo de desvelamento sophia, enquanto preensão com ser, absorve todos os modos anteriores, lhes facultando a lembrança de "com ser", o imprescindível ser: 1) em que se é e entes comparecem, de forma prevalente pela techne; 2) com que entes são conhecidos e descritos, de forma prevalente pela episteme; 3) de que entes são constituídos e sobre tal deliberados, de forma prevalente pela phronesis. Nessas formas prevalentes, ainda se insinua com preponderância a impropriedade do ser-aí, não em sentido pejorativo ou negativo, mas apenas de esquecimento e abandono do próprio, do ser. Todavia, em todas as formas, há possibilidade de propriedade ou autenticidade pela subjacente e acolhedora sophia que a todos os demais modos absorve no nous, no "notar que apreende o notado", facultando suprema com-preensão ou, pelo menos, compreensão-do-ser, inteligibilidade.

 

4. Conclusão

Os modos de desvelamento são aspectos modais do ser humano. São suas facetas, enquanto ser-aí, na abertura de sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, iluminando a clareira do , em que si-mesmo, mim-mesmo, entes intramundanos e entes outros comparecem ou vêm-de-encontro em modos-de-ser distintos. A ênfase no "humano" em detrimento do ser reduz a expressão ser humano ao escândalo de um ente humano. Ao mesmo tempo, inverte a hierarquia lógica dos modos de desvelamento, privilegiando quase exclusivamente a techne e a episteme, o que Heidegger denunciou como o imperialismo do "pensamento calculativo" sem lugar para o "pensamento meditativo".

 

Referências bibliográficas

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1 Usaremos itálico para palavras estrangeiras e para as palavras do léxico heideggeriano. Não aplicamos acentos na transliteração de palavras gregas. Todas as nossas citações de Aristóteles, exceto da Ética a Nicômaco (Caeiro, 2015), são traduzidas da versão inglesa de sua obra completa (Barnes, 1991).
2 "A compreensão do ser [Seinsverständnis] (
λόγος em um sentido bem amplo), que previamente ilumina e orienta todo o comportamento para com o ente, não é nem um captar o ser como tal, nem um reduzir ao conceito o assim captado (λόγος no sentido mais estrito - conceito "ontológico"). A compreensão do ser, ainda não reduzida ao conceito, designamos, por isso, compreensão pré-ontológica ou mesmo ontológica em sentido mais amplo" (Heidegger, 2008, p. 144).
3 "[...] a questão-do-ser nada mais é do que a radicalização de uma tendência-de-ser em essência pertencente ao Dasein ele mesmo, isto é, a radicalização do pré-ontológico entendimento-do-ser." (Heidegger, 2012a, p. 67).
4 "[...] a determinação-de-essência desse ente não se pode efetuar pela indicação de um quê de conteúdo-de-coisa, pois sua essência reside em que, ao contrário, esse ente tem de ser cada vez seu ser como seu, escolheu-se para sua designação o termo Dasein como pura expressão-de-ser." [Heidegger, 2012a, p. 57-9).
5 "No Sofista, Platão considera o ser-aí humano em uma de suas possibilidades mais extremas, a saber, na existência filosófica" (Heidegger, 2012b, p. 12).
6 "Precisamente pela via de uma meditação sobre o ser do ente, Platão conquista o solo correto para interpretar o sofista em seu ser" (Heidegger, 2012b, p. 12).
7 Comentário de Heidegger à margem do texto de Ser e Tempo (2012a, p. 381): "O Dasein existe e somente ele; dessa maneira, existência é estar fora, ir para fora e estar na abertura do 'aí': ek-sistencia".
8 "Como o homem pertence à essência do ser e permanece definido a partir de um tal pertencimento à compreensão do ser, o ente se encontra, segundo os seus diversos âmbitos e níveis, à disposição do homem para ser investigado e dominado" (Heidegger, 2007, v. 2, p. 221).
9 "O Da-sein [ser-"aí"], em que o homem desdobra seu ser" (Heidegger, 2012a, p. 261, nota a).
10 "Por isso, o termo 'Dasein' com que designamos esse ente não exprime o seu que, como é o caso de mesa, casa, árvore, mas o ser [o Ser 'do' 'aí'; 'do': genitivus objectivus.]" (Heidegger, 2012a, p. 141).
11 "[...] a estrutura ôntica do Dasein ele mesmo, estrutura que contém em si a determinidade de um entendimento-do-ser pré-ontológico" (Heidegger, 2012a, p. 63).
12 "Existindo, o Dasein é o seu "aí", o que significa, assim: o mundo é "aí"; o seu ser-"aí" [Da-sein] é o ser-em" (Heidegger, 2012a, p. 407).
13 "O ente que é essencialmente constituído pelo ser-no-mundo é cada vez ele mesmo o seu 'aí'" (Heidegger, 2012a, p. 379),
14 Segundo Heidegger (2002a, p. 206), assim como existenciário [Existenzial]: "Ontológico significa realizar a reunião do ente com a sua entidade".
15 "O estado-de-ânimo deixa manifesto 'como alguém está e como anda'. Nesse 'como está' o ser do estado-de-ânimo leva o ser a seu 'aí'" (Heidegger, 2012a, p. 385).
16 "A inteligibilidade na qual o ser-aí se movimenta, a-gente, é fundamentada ultimamente em
δόξα, nos sentidos medianos de coisas e de si-mesmo" (Heidegger, 2009, p. 52).
17 "A-gente delineia por antecipação o encontrar-se, determinando o que se 'vê' e como se 'vê'" (Heidegger, 2012a, p. 477).
18 "As condições da possibilidade mesma da experiência são no mesmo lance as condições da possibilidade dos objetos da experiência" (Heidegger, 1992, p. 225).
19 "Aquele que vê, com efeito, deve ter se tornado aparentado e semelhante àquilo que é visto, para alcançar à contemplação. Certamente, jamais o olho veria o sol sem ter se tornado da mesma natureza que o sol, e a alma não poderia ver o belo sem ter se tornado bela" (Plotino, Enéadas I, 6, 9).
20 "Ele [ser-aí] é "iluminado" significando: como ser-no-mundo ele é em si mesmo iluminado [
Αλήθθια - abertura - clareira, luz, iluminar], não por receber a luz de um outro ente, mas porque ele mesmo é [mas não produz] claridade da clareira" (Heidegger, 2012a, p. 381).
21 "Aristóteles talvez só tenha clarificado esse fenômeno [nous] até o ponto que era possível no interior da interpretação grega do ser" (Heidegger, 2012b, p. 63).
22 "The "soul" is
ούσία in the sense that it constitutes the being-there of the beings that have the character of living" (Heidegger, 2009, p. 25); "Ψʊ;χή is the ούσία of a ζωον, it constitutes the being of those beings that are characterized as being-in-their-world" (Heidegger, 2009, p. 113); "'Soul' is what constitutes the specific presence-at-hand of beings qua living things, the being-ness of being-in-a-world" (Heidegger, 2009, p. 236).
23 "Na medida em que em geral um ente se mostra para a ocupação, isto é, na medida em que o ente é descoberto no seu ser, ele já é cada vez um utilizável do-interior-do-mundo-ambiente e não precisamente "de pronto" só um "material do mundo" subsistente" (Heidegger, 2012a, p. 255).
24 "Nessa espécie de "deter-se" - como abstenção de todo manejo e utilização - efetua-se o perceber do subsistente" (Heidegger, 2012a, p. 193).
25 "Pois os princípios das coisas que precisam ser feitas é aquilo em virtude de que se dá o que tem de ser feito - Ética a Nicômaco 1140b16ss" (Heidegger, 2012b, p. 53).

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