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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

versión impresa ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.1 no.2 São Paulo dic. 1999

 

ARTIGOS

 

O acesso a eventos encobertos na prática clínica: um fim ou um meio?

 

The access to covert events in clinic practice: a finality or an expedient?

 

 

Roberto Alves Banaco1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

 

 


RESUMO

Terapeutas comportamentais têm perguntado a seus clientes a respeito de eventos encobertos, com propósitos terapêuticos. No entanto, apesar dessa prática ser possível a partir de uma postura behaviorista radical, ela só se completa quando o terapeuta utiliza-se da informação sobre eventos encobertos para acessar as contingências ambientais com as quais o cliente estiver em relação. O presente trabalho alerta para o risco dos terapeutas contentarem-se com a informação sobre os eventos internos, sem a busca de relações ambientais a partir dela. Pretende também discutir estas questões através do levantamento na literatura das possibilidades de planejamento de contingências respondentes e operantes que provoquem comportamentos abertos, respostas encobertas e relatos de eventos privados.

Palavras-chave: behaviorismo radical; análise funcional; terapia comportamental; eventos encobertos; modelos experimentais.


ABSTRACT

Behavior therapists has asked to their clients about covert events with therapeutic proposes. However, despite this practice be coherent with aradical behavioristic approach, it claims the use of information to access environment contingencies where the client is inserted. This work advises about the risk of the therapist's satisfaction with the information about covert events, without the search of environmental relations from it. These issues are discussed through a survey in literature about the possibilities in planning respondents and operants contingencies that are capable of provoking overt and covert responses attached to private events reports.

Keywords: radical behaviorism; functional analysis; behavior therapy; covert events; experimental models.


 

 

Antes de iniciar a discussão proposta pelo título deste trabalho, eu gostaria de redefinir o termo "comportamento encoberto". Ele tem sido usado por toda uma comunidade de terapeutas e pesquisadores comportamentais como sinônimo de uma ação que ocorre "dentro da pele" de um organismo.

Nesse sentido, seria mais correto falarmos de "respostas encobertas", já que sabemos que comportamento é mais do que uma resposta. Comportamento é uma relação entre estímulos (antecedentes e conseqüentes) e uma resposta. Ao considerarmos o nosso objeto de análise dessa maneira, facilmente poderíamos encontrar situações as mais variadas, nas quais teríamos dificuldade em classificar o "comportamento" como encoberto (Moore, 1984). Vejamos os seguintes exemplos:

 

 

Podemos identificar nestes exemplos vários estímulos (antecedentes e conseqüentes) e várias respostas que poderíamos classificar como encobertos, mas jamais poderíamos chamar o comportamento, enquanto relação, de encoberto, já que os dois exemplos apresentam elos (estímulos e respostas) abertos.

Portanto, durante todos estes anos passados temos falado de comportamentos encobertos quando estamos, na verdade, referindo-nos a respostas encobertas (talvez muito mais do que a estímulos encobertos).

Geralmente, também, quando um terapeuta comportamental refere-se a comportamento (ou, a partir de agora, a uma resposta encoberta), ele está se referindo a respostas que comumente podem ser chamadas de emoções ou sentimentos, ou a respostas que podemos chamar de pensamento (que podem conter raciocínios, idéias, regras, descrições etc).

De Rose (1997) faz menção em seu artigo, que quando o pesquisador não pode obter dados de observação sobre alguma contingência que opera ou operou sobre as respostas que está estudando, utiliza-se de relatos verbais dos sujeitos que descrevam as contingências que necessita para poder analisar.

Considerando-se o terapeuta um investigador das contingências de vida de seus clientes, pode-se admitir também que ele utilize os relatos verbais para poder chegar aos dados que o levariam à análise funcional.

Os terapeutas comportamentais passaram, nos últimos tempos, a assumir que perguntavam a seus clientes "o que você pensou nesse momento?" ou "o que você está sentindo agora ?"2 sem culpa, porque descobriram que o behaviorismo radical não era avesso à busca desse tipo de informação.

De fato, Skinner aponta razões, absolutamente cabíveis para explicar o que vem ocorrendo na terapia comportamental que se utiliza da investigação acerca dos sentimentos das pessoas em determinadas situações. Por exemplo:

"Tentamos descobrir como outra pessoa se sente por várias razões. Boa parte de nosso comportamento é reforçado por seus efeitos sobre os outros, e será presumivelmente mais reforçador se o efeito for claro. Assim, agimos para reforçar aqueles de quem gostamos ou a quem amamos ou para evitar feri-los, em parte, por causa do que farão por sua vez. (A tendência poderia ser inata, de vez que há um valor de sobrevivência, por exemplo, no comportamento de uma mãe que alimenta seu filho, cuida dele e dos perigos e que, assim fazendo, propicia condições classificadas como reforçadores positivos e negativos; todavia, as contingências sociais de reforço geram um comportamento comparável). É importante que o recipiente revele que fomos bem sucedidos e ele o pode fazer informando seus sentimentos. Uma pessoa que está sendo massageada diz que a sensação é boa; alguém para quem se está tocando determinada peça musical diz que gosta deía. Quando tais 'sinais de sentimentos' estejam ausentes, podemos perguntar ou investigar de outro modo como uma pessoa se sente". (1984, p. 151).

Estudando Skinner também fomos capazes de justificar as nossas perguntas a respeito de eventos encobertos, não apenas pelo estabelecimento de uma boa relação terapêutica, mas também por motivos de investigação. A citação mais repetida de Skinner a este respeito nos trabalhos de terapeutas brasileiros é:

"Uma análise behaviorista não discute a utilidade prática dos relatos acerca do mundo interior, o qual é sentido e observado introspectivamente. Eles são pistas (1) para o comportamento passado e as condições que o afetaram, (2) para o comportamento atual e as condições que o afetam, e (3) para as condições relacionadas com o comportamento futuro." (Skinner, 1984, p. 31).

Através das "permissões" de Skinner fomos então justificados a perguntar sobre o mundo interior dos nossos clientes.

Esta "liberação" deu ao terapeuta comportamental, digamos assim, uma "dimensão mais humana" do tratamento clínico. Com estas duas perguntas básicas - "o que você sente quando...?" ou "o que você pensa quando...?" - o terapeuta comportamental tem como resultados tanto várias informações sobre a contingência em operação quanto uma relação terapêutica com seu cliente mais acolhedora (em última análise, mais reforçadora) do que quando não as utiliza.

No entanto, é imprescindível que terapeutas comportamentais permaneçam preocupados com a questão: o que será feito com as informações sobre os eventos encobertos coletadas?

Em vários congressos, ou mesmo em sessões de supervisão pode-se notar relatos de que os terapeutas estão perguntando aos clientes acerca de seus eventos encobertos e em geral não têm utilizado a informação como pistas para a obtenção de informações que levariam a uma análise funcional. Pior: algumas vezes têm dado aos eventos encobertos o status de causa, como se eles fossem o fim, o propósito da intervenção terapêutica. Isto torna nossa prática idêntica à dos mentalistas (que tanto criticamos) e descaracteriza a intervenção behaviorista radical. Impossibilita a análise funcional e o planejamento de contingências. Quanto a isto, Skinner (1984) em outros trechos já alertava:

"A comunidade verbal pergunta 'como você se sente' em vez de 'por que você se sente assim?' porque terá maior probabilidade de obter uma resposta. Tira vantagem da informação disponível, mas deve culpar só a si própria se não houver outros tipos de informação ao dispor." (p.147, grifos acrescentados).

"Pode parecer que há uma razão mais forte de investigar os sentimentos alheios. Se 'não é o comportamento que importa, mas como a pessoa se sente quanto a seu comportamento', a descoberta dos sentimentos deveria constituir o primeiro passo. Mas a maneira como uma pessoa se sente acerca de seu comportamento depende do comportamento e das condições de que é função, e podemos haver-nos com estas sem examinar sentimentos. Quando estamos ajudando pessoas a agir de forma mais eficaz, nossa primeira tarefa será aparentemente modificar-lhe a maneira de sentir e assim a maneira de agir, mas um programa mais efetivo será mudar-lhes a maneira de agir e assim, incidentalmente, a de sentir.

Numa análise behaviorista, conhecer outra pessoa é simplesmente conhecer o que ela faz, fez ou fará, bem como a dotação genética e os ambientes passados e presentes que explicam por que ela o faz. Não se trata de uma tarefa fácil porque muitos fatores relevantes estão fora do alcance e cada pessoa é indubitavelmente única. Mas nosso conhecimento de outrem é limitado pela acessibilidade, não pela natureza dos fatos." (1984, p. 151-152, grifos acrescentados).

Skinner sugere portanto, que perguntar sobre os eventos encobertos pode ser um meio para obtermos informações a respeito das contingências nas quais o indivíduo está inserido, mas jamais será um fim. Eles não explicarão a conduta dos indivíduos.

Já que a cultura (comunidade verbal) foi a responsável por produzir indivíduos capazes de irem até o nível encoberto de descrição sobre os eventos comportamentais, caberia a nós, enquanto uma comunidade verbal diferenciada, partirmos desse ponto (como repertório de entrada da pessoa) e instalar em seu repertório a observação dos eventos externos (manipuláveis) responsáveis tanto pelos sentimentos quanto pelos "comportamentos inadequados" que compõem sua queixa.

Notem que a literatura que tem estudado eventos encobertos tem-nos considerado como um possível "elo de cadeia comportamental" (por ex.: Tourinho, 1997). Enquanto não for obtida uma relação funcional com eventos externos, a análise e a investigação devem prosseguir (Banaco, Zamignani e Kovac, 1997). Por exemplo, na primeira cadeia apresentada neste trabalho:

 

 

a análise que consideraria uma queixa levaria à investigação de eventos:

a. antecedentes, do tipo: "o que você costuma comer e beber antes de ter a sensação de azia?; Você fuma?" etc.

b. conseqüentes, tais como: "O que acontece, além da azia, quando você come, bebe, fuma, ou deixa de comer, beber, fumar?".

Estas informações levariam a uma análise externalista e, aí sim, a uma possibilidade de planejamento de intervenções.

Talvez a questão fique mais complicada quando o terapeuta comportamental tem encontrado uma regra como antecedente para uma resposta. A proximidade de nosso trabalho com os dos cognitivistas e suas teorias sobre crenças disfuncionais têm levado a intervenções do tipo "Você não pode pensar assim. Pense de outro jeito". Um terapeuta que se proponha a utilizar o referencial behaviorista radical deve obter da pessoa os dados que lhe permita fazer uma intervenção ambiental; sem esses dados não pode parar a investigação. Estará no meio dela.

Sobre esse aspecto, Skinner (1984) discorre:

"'O que é que você está fazendo?' é freqüentemente um pedido de maiores informações. (...) Uma pergunta mais direta acerca de causas é "Por que você está fazendo isso?" e a resposta é em geral uma descrição de sentimentos: 'Porque estou com vontade'. Tal resposta é amiúde aceitável mas, se a comunidade verbal insistir em algo mais, poderá perguntar 'Por que você está com vontade de fazer isso?' e a resposta será então uma referência a outros sentimentos ou (finalmente) a circunstâncias externas. Assim, em resposta a 'Porque você está mudando sua cadeira de lugar?', uma pessoa pode dizer 'A luz estava fraca' ou 'Para ter luz melhor para ler'.

Perguntas desse tipo nem sempre são corretamente respondidas, de vez que nem sempre sabemos por que agimos de determinada forma. Apesar da aparente intimidade do mundo dentro da pele, e apesar da vantagem de que a pessoa goza como observador de sua história pessoal, outra pessoa poderá saber melhor por que a primeira se comporta de determinada forma. O psicoterapeuta que tenta levar seu paciente a compreender-se está presumivelmente salientando relações causais de que este ainda não havia tomado consciência." (pp. 29-30, grifos acrescentados).

Por essas razões, fica a pergunta: Como o relato sobre o mundo interior pode ser indicativo das relações contingenciais das quais o comportamento a ser modificado é função?

 

O papel dos modelos experimentais na investigação clínica

Uma área pouco conhecida pelos terapeutas comportamentais é a que estuda modelos experimentais. Em geral, clínicos não costumam se interessar por estudos que relatem pesquisa básica, mas é nela que encontraremos as pistas necessárias para utilizarmos as respostas verbais dos clientes a respeito de seus eventos privados.

De fato, desde o século passado pesquisadores e teóricos têm se ocupado com o comportamento emocional. As posturas encontradas podem ser mais biológicas e topográficas como as de Darwin; podem ser semelhantes às que começam a se preocupar com os estados corpóreos para definir a emoção como a de James; e podem ainda ser semelhantes àquelas que levavam em conta as áreas cerebrais atingidas pelos estímulos para nomearem e explicarem os efeitos comportamentais da emoção, como Cannon (Millenson, 1967).

Millenson (1967), no entanto, propõe uma análise de possíveis paradigmas experimentais que levam a estados emocionais considerados por ele como primários, tais corno Raiva, Medo (Ansiedade) e Alegria. Esse autor propõe algumas emoções como resultantes de emparelhamentos pavlovianos, conforme descrito na Tabela abaixo:

 

 

Nesta Tabela, Millenson apresenta algumas operações de estímulos que podem causar os estados emocionais listados, assim como os efeitos dessas operações sobre o comportamento operante. A partir desse modelo explicativo das emoções, Millenson propôs um sistema de coordenadas emocional.

 

 

Sobre esse sistema, Millenson afirma:

"Este quadro de referência nos permite representar a noção de que algumas emoções, aparentemente diferentes, podem ser consideradas como correspondentes a diferenças na intensidade do reforçador positivo ou negativo em que estão baseadas. As emoções retratadas nos extremos de cada vetor são baseadas nos valores mais fortes dos reforçadores incondicionados relevantes e os termos utilizados para descrever os comportamentos são escolhidos apropriadamente. À medida que nos movemos em direção à origem, a intensidade diminui. (...) Deve ficar claro que grande número de termos da linguagem comum de emoção poderia ser colocado em algum ponto nessa estrutura, da qual são vistos apenas três níveis (alto, médio e baixo). (1967, p.423, grifos acrescentados).

De fato, um problema que vem sendo exaustivamente apontado pelos pesquisadores da área refere-se ao relato verbal que permite o acesso aos eventos internos e emocionais dos indivíduos.

Quando assumimos que a comunidade verbal tem papel preponderante sobre a aprendizagem tanto do relato verbal desses eventos, quanto sobre a acurácia das auto-observações que levariam ao relato, podemos questionar a validade do procedimento de obtenção de dados através do relato verbal.

Por exemplo, no brilhante estudo de Arno Engelmann (1978), foram encontradas avaliações absolutamente diferentes feitas por uma população de universitários homens e normalistas de quarto ano a respeito de locuções verbais que expressam estados subjetivos. Esses sujeitos foram cuidadosamente escolhidos e necessitavam ser membros da comunidade lingüística de fala portuguesa da região da cidade de São Paulo para participarem do estudo. Foram excluídas da amostra pessoas nascidas fora do Brasil, filhos de estrangeiros para os quais o português não tenha sido a primeira língua aprendida, pessoas criadas num ambiente bilíngüe e indivíduos que, mesmo tendo no português sua língua materna empreguem outro idioma em casa. Alguns resultados ilustrativos podem ser vistos às páginas 322 a 346 da obra citada.

Ou seja, embora variáveis culturais tenham sido controladas, o fato de serem homens ou mulheres avaliando termos referentes a estados subjetivos revelou que os relatos a respeito deles não são necessariamente idênticos.

Também de Rose (1997) apontou várias razões pelas quais o relato verbal não é necessariamente relacionado ao evento interno observado.

Levando em consideração principalmente as questões culturais elencadas acima, e por parecer-me mais parcimonioso em termos de operações de estímulos das quais as emoções seriam resultantes, tomei a liberdade de adaptar o sistema de coordenadas emocional apresentado por Millenson para uma terminologia mais adequada para a população brasileira. Dessa fornia, destaquei a apresentação de reforçadores positivos da retirada de reforçadores negativos, e os coloquei em ordenadas que vão desde sua apresentação até sua retirada. O sistema de representação que proponho está abaixo:

 

 

Neste esquema ainda é bom lembrar que, conforme Millenson aponta,

"muitos fenômenos comportamentais aos quais aplicamos o termo emoção não encontram um lugar nessa Figura, qualquer que seja o nível de intensidade que escolhermos. Esses, sugerimos, podem ser considerados como casos de emoções primárias misturadas. Como as emoções primárias se misturam? (...) Por exemplo, um determinado S1 é emparelhado sucessivamente com duas ou três emoções primárias.(...) Consideremos o efeito que ocorre quando uma criança rouba um doce. O doce na mão é um S1 para o S+ "doce na boca"; mas é também um S1 para punição (S-), que tem alta probabilidade de ocorrer. Essa combinação particular (...) ocorre muito freqüentemente na natureza para que seus efeitos tenham um único nome, culpa". (1967, 423-424).

Estes são exemplos de emoções "provocadas" por emparelhamento pavloviano. Skinner (1984) ainda lista uma série de emoções possivelmente associadas a esquemas de reforço operante.

Em relação ao esquema de reforçamento contínuo:

"quando certo ato é quase sempre reforçado, diz-se que uma pessoa tem uma sensação de confiança. (...) O reforço freqüente também suscita fé. Uma pessoa se sente segura ou certa de que será bem sucedida. Experimenta uma sensação de domínio, de poder ou de potência. (...) O reforço freqüente também origina e mantém o interesse por aquilo que a pessoa está fazendo. Em tudo isso, o comportamento é erroneamente atribuído aos sentimentos e não às contingências responsáveis por aquilo que sente." (pp. 52-53).

Quanto a esquemas intermitentes de reforçamento:

"Quando a razão entre respostas e reforços é favorável, atribui-se o comportamento comumente a: 1) zelo, diligência ou ambição; 2) determinação, obstinação, persistência ou perseverança (continuar a responder durante longos períodos de tempo sem resultados); 3) excitação ou entusiasmo; ou 4) dedicação ou compulsão.

"Todos os sistemas de jogos se baseiam em esquemas de reforço de razão variável, embora seus efeitos sejam geralmente atribuídos a sentimentos. Afirma-se freqüentemente, por exemplo, que as pessoas jogam por causa da excitação, mas esta é claramente um efeito colateral. Diz-se, às vezes, que as pessoas jogam 'para satisfazer sua sensação de mando, para dominar, para vencer' - a despeito do fato de os jogadores quase sempre perderem. Justifica-se a incoerência considerando o jogador que arruina a si e à sua família como 'compulsivo' ou 'patológico', sendo assim seu comportamento 'irracional' atribuído a uma doença. Tal comportamento é 'anormal' no sentido de que nem todos respondem com igual dedicação às contingências predominantes, mas o fato é, simplesmente, que nem toda a gente foi exposta a um programa por via do qual uma razão altamente desfavorável se torna eficaz". (p. 54)

Ou seja, existem várias formas de obtermos explicações contingenciais para os sentimentos e emoções relatados por nossos clientes, e é apenas por conta dessa possibilidade que é-nos útil perguntarmos a respeito dos eventos encobertos.

A dificuldade está em conhecer e ser capaz de relacionar esses sentimentos a contingências. Uma boa leitura dos manuais indicados é um bom começo para adquirirmos essa habilidade. Mas o hábito de procurar na literatura de pesquisa básica os indicadores de contingências que provocam possíveis estados internos é imprescindível, assim como é imprescindível seguirmos nossa investigação até encontrarmos uma relação entre respostas abertas e eventos abertos.

Apenas com uma análise externalista estaremos sendo coerentes com a abordagem skinneriana.

 

Referências

Banaco, R.A. (1993). O impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta. Temas em Psicologia, 2,71-79. Sociedade Brasileira de Psicologia.         [ Links ]

Banaco, R.A.; Zamignani, D.R.; e Kovac, R. (1997). O estudo de eventos privados através de relatos verbais de terapeutas. Em R.A. Banaco (org.) Sobre Comportamento e Cognição - volume I. Capítulo 30,289-301. Santo André: Arbytes.         [ Links ]

de Rose, J.C.C. (1997). O relato verbal segundo a perspectiva da análise do comportamento: contribuições conceituais e experimentais. Em R.A. Banaco (org.) Sobre Comportamento e Cognição - volume I. Capítulo 17,148-163. Santo André: Arbytes.         [ Links ]

Delitti, M. (1993). O uso de encobertos na terapia comportamental. Temas em Psicologia, 2,41-46. Sociedade Brasileira de Psicologia.         [ Links ]

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Skinner, B.F. (1984). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix e EDUSP.         [ Links ]

Tourinho, E.Z. (1997). Eventos privados em uma ciência do comportamento. Em R.A. Banaco (org.) Sobre Comportamento e Cognição volume I. Capítulo 19,174-187. Santo André: Arbytes.         [ Links ]

 

 

1. Endereço para correspondência: Rua Cardoso de Almeida, 1018 apto. 32 - CEP: 05013-001 - São Paulo-SP e-mail: rbanaco@zip.net
2. Para apontar alguns trabalhos iniciais, veja Delitti, 1993; Regra-Nalin, 1993; Otero, 1993; Banaco, 1993.