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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

versão impressa ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.4 no.2 São Paulo dez. 2002

 

SOBRE LIVROS

 

A vida em outras cores: superando o transtorno obsessivo-compulsivo e a síndrome de Tourette, organizado por Denis Roberto Zamignani e Maria Cecília Labate, ESETec Editores Associados, 2002

 

 

Cândido Jerônimo Flauzino1; Denise de Lima Oliveira2

Universidade Metodista de São Paulo

 

 


 

 

A obra “A Vida em Outras Cores” teve como objetivo relatar a trajetória do projeto assistencial dos Grupos de Apoio a familiares e portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Síndrome de Gilles de la Tourette (ST) da ASTOC (Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e fornecer subsídios para a formação de novos facilitadores de grupos de apoio. A ASTOC teve sua fundação em 1997, quando portadores e familiares reuniram-se em busca de promover ações estratégicas no combate à falta de informação e ao preconceito.

O livro está dividido em quatro unidades. Na Unidade I, os organizadores relatam os princípios envolvidos na concepção dos grupos de apoio da ASTOC e as etapas percorridas pelo projeto desde a sua criação até a ampliação de seus serviços para os vários grupos hoje existentes. A Unidade II traz informações sobre o TOC e a ST, incluindo aspectos clínicos, neurobiológicos, farmacológicos, comportamentais, e a questão da inserção social do portador. A Unidade III oferece, ao novo facilitador, estratégias para o manejo do grupo de apoio, além de apresentar características e especificidades dos diferentes grupos de apoio para portadores de TOC e ST desenvolvidos pela ASTOC e depoimentos de seus participantes. A última unidade do livro traz as diretrizes da ASTOC para a formação de novos grupos de apoio e um guia de locais para tratamento e informações em todo o Brasil e no exterior.

Na Introdução, Labate discorre sobre a necessidade de uma obra dessa natureza, que pode servir como modelo para os interessados em formar novos grupos de apoio, relatando também a história e evolução da ASTOC desde sua fundação.

O capítulo I traz uma analogia entre situações vivenciadas pelos personagens do filme “A Vida em Branco e Preto” e as aquelas vividas pelos portadores de TOC e seus familiares. Zamignani, por meio de uma análise do processo observado no filme, reflete sobre sua experiência e a de outros profissionais na condução de grupos de apoio de jovens.

No segundo capítulo, Labate relata o processo de formação e consolidação do projeto dos grupos de apoio da ASTOC, que surgiu da necessidade de que portadores e familiares tivessem oportunidade para compartilhar suas experiências e discutir, com profissionais capacitados, questões relativas aos problemas por eles vividos. A autora apresenta os materiais consultados que serviram como base para formação dos grupos e os ajustes necessários para adaptá-los àquela realidade, o que em si já é uma importante contribuição para a formação de novos grupos.

Torres, no terceiro capítulo, caracteriza o TOC como um quadro profundamente intrigante, no qual “a emoção é mais forte que a razão”. A autora conceitua o quadro e descreve características clínicas que caracterizam as obsessões e compulsões, apresentando exemplos claros e didáticos. Segundo a autora, o TOC é um transtorno crônico, que geralmente tem seus primeiros sinais na adolescência ou no início da idade adulta e que, se tratado de forma adequada, permite ao portador importantes avanços em sua qualidade de vida.

No quarto capítulo, que continua o caráter informativo da Unidade sobre os transtornos psiquiátricos, Rosário-Campos e Prado, descrevem características e especificidades dos Transtornos de Tiques (TT) e da ST. Primeiramente, as autoras conceituam os TT, depois descrevem os critérios diagnósticos para cada um deles, enfatizando que ainda não existe nenhum exame de laboratório ou radiológico que estabeleça o diagnóstico sobre esse transtorno, prevalecendo os dados de observação clínica para uma classificação diagnóstica baseada nos critérios de manuais de classificação e diagnóstico, tais como o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais). As autoras informam que os TT podem estar associados a outros problemas psiquiátricos, tais como o TOC e/ou hiperatividade com déficit de atenção. Segundo Campos e Prado, não existe apenas um fator que cause os TT, mas a interação de fatores genéticos, epigenéticos, neurobiológicos, fenomenológicos e de história natural. Elas descrevem, também, os tratamentos mais utilizados e os métodos de avaliação para estas patologias.

O capítulo V é dedicado a esclarecer questões sobre o TOC e a ST na infância e adolescência. Asbahr e Ito respondem perguntas que freqüentemente surgem quando esses transtornos são discutidos. Os autores explicam algumas características do tratamento cognitivo-comportamental, que consiste na técnica de exposição com prevenção de respostas, e do tratamento medicamentoso e suas possibilidades de integração.

Zamignani e Wielenska, no sexto capítulo, falam sobre a inserção social do portador de TOC e ST. Os autores enfatizam as possíveis dificuldades que podem ser enfrentadas por um aluno portador de TOC e ST na escola, e como tanto professores quanto o grupo de amigos podem proceder para favorecer a socialização e o bem estar do mesmo, enfocando que as relações na escola são capazes de exercer uma influência decisiva na superação do TOC e ST pela criança.

No capitulo VII, Wielenska e Lima discorrem sobre a adesão ao tratamento farmacológico pelo paciente com TOC e ST e o quanto a sua participação em grupos de apoio pode facilitar a adesão à farmacoterapia. Os autores respondem a algumas perguntas freqüentes sobre o uso de fármacos no tratamento destes transtornos e informam sobre fontes para atualização do profissional.

Banaco, no capítulo VIII, fala sobre estratégias de condução de grupos de apoio, diferenciando-o dos grupos de terapia. Segundo esse autor, é necessário desenvolver no grupo o sentimento de universalidade, enfocando as características em comum dos membros do grupo. Essa estratégia facilita a exposição dos problemas enfrentados pelos participantes e permite a condução do grupo a partir da análise e discussão destas experiências, proporcionando assim a participação de todos. O autor apresenta também algumas estratégias para que o facilitador possa manejar situações de conflito e de maior dificuldade.

No nono capítulo, Baumgarth, Capelari, Guerrelhas, Kovac, Mazer e Monteiro, relatam suas experiências com o grupo de apoio para adultos com TOC e ST. As autoras destacam como um dos princípios norteadores da proposta do grupo a noção de que o indivíduo portador de TOC ou ST não se resume a essa característica. Em conseqüência disso apresentam, como proposta para os grupos de apoio, o desenvolvimento de novos núcleos de interesse e possibilidades de interação para a melhora da qualidade de vida. As autoras enfatizam a responsabilidade que os participantes devem ter com seu tratamento e defendem que a interação e a troca de experiências vividas no grupo podem proporcionar novas estratégias para lidar com as dificuldades do dia-a-dia, bem como com aquelas geradas pela convivência com os transtornos.

Martone, Silva e Vermes, no décimo capítulo, descrevem suas experiências com grupos de apoio a jovens da ASTOC, surgido em 1997, e apresentam as dificuldades e facilidades para a formação e realização dos mesmos. Os autores também comentam sobre a necessidade da participação dos pais dos jovens para a construção de um ambiente favorável para o portador, o que levou à decisão sobre a formação de grupos de familiares paralelos aos grupos de jovens.

No capítulo XI, Banaco e Guedes, falam a respeito dos benefícios trazidos pela participação das famílias no grupo de apoio, uma vez que essas são as que sofrem o desgaste, a desorientação, a incapacitação de lidar com os comportamentos obsessivo-compulsivos, o que justifica a criação de grupos de apoio à família do portador. Os autores apresentam também algumas das vantagens obtidas com a inserção da família nos grupos de apoio.

O capítulo XII apresenta alguns relatos de pacientes e familiares envolvidos nos projetos assistenciais da ASTOC, incluindo depoimentos de pessoas que fizeram e fazem parte da história desta associação.

O décimo terceiro capítulo é apresentado por Brocato e Labate, que se dedicam a descrever o processo de entrevista de ajuda e orientação como primeiro e essencial passo para o ingresso nos grupos de apoio ASTOC. As autoras enfatizam que esse primeiro passo é necessário para que se possa oferecer um encaminhamento adequado àquele que procura pelos serviços prestados pela ASTOC, permitindo verificar sua possibilidade de participação em alguma das modalidades de grupo de apoio ou, caso contrário, seu encaminhamento externo. Segundo Borcato e Labate, a entrevista é um instrumento eficaz no apoio a portadores de TOC e ST, que favorece a formação de vínculos e a troca de experiências.

As normas e procedimentos que caracterizam o modelo da ASTOC para a organização de grupos de apoio são mencionados no décimo quarto capítulo por Carvalho, Labate, Pereira e Zamignani. Esses autores oferecem a obra como um guia para que profissionais da saúde e leigos possam desenvolver novas propostas de trabalho a partir do modelo criado pela ASTOC.

No capítulo quinze, Borcato, Chacon e Ferreira apresentam uma lista de referências, em território nacional e internacional, de profissionais, instituições, associações e sites úteis àqueles que buscam ajuda sobre o TOC e ST para a busca de informação e tratamento.

Este livro organizado por Zamignani e Labate traz uma grande contribuição para os portadores do TOC e ST e seus familiares, bem como para os profissionais da saúde que se dedicam a cuidar de portadores da patologia do Espectro Obsessivo-Compulsivo. Em grande parte a contribuição se dá pelo caráter informativo sobre as patologias, seu desenvolvimento e tratamento. Por outro lado, mostra com desenvoltura os caminhos a serem trilhados para o oferecimento de mais um serviço que auxilia a convivência com o transtorno, bem como a adesão aos tratamentos preconizados pelos profissionais de saúde.

 

 

1 Endereço para correspondência deniseloliveira@bol.com.br.
2 Endereço para correspondência: Av. Dom Jaime de Barros Câmara, 825, ap. 43, bloco A, Planalto, São Bernardo do Campo, SP, CEP 09895-400. E-mail: flauzin@uol.com.br .