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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

versão impressa ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.6 no.1 São Paulo jun. 2004

 

SOBRE LIVROS

 

Ciência do comportamento: conhecer e avançar, vol. 3, organizado por Hérika Mesquita Sadi e Nely Maria do S. Castro. Santo André: ESETec, 2003

 

 

Nilza Micheletto1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

 

 


 

 

Ciência do comportamento: conhecer e avançar, volume 3, organizado por Hérika M. Sadi e Nely M. do S. Castro, como os dois volumes anteriores, reúne textos que foram produto de encontros de analistas do comportamento em Minas Gerais: a III Jornada Mineira de Ciência do Comportamento e o II Seminário de Análise do Comportamento, realizados em 2003.

Na apresentação do volume anterior, a professora Adélia Teixeira destaca o esforço de alguns pesquisadores analistas do comportamento, desde a década de 70, para sobreviver, em condições adversas, em Minas Gerais. Segundo ela,

Contingências adversas, provindas de várias origens, dificultavam e interceptavam qualquer iniciativa favorável à sua [ciência do comportamento] implementação. Um grupo muito restrito de professores (...) conviveu anos e anos com tais dificuldades, resistindo a todas as tentativas de sufocamento de ações associadas à eclosão de uma Psicologia baseada nos padrões das ciências naturais em Minas Gerais (Teixeira, Machado, Castro e Cirino, 2002, p. XI).

A edição de três volumes de Ciência do comportamento em apenas dois anos, com estudos apresentados por docentes e alunos vinculados a diferentes instituições mineiras, e a realização sistemática das Jornadas e dos Seminários deixam claro o trabalho contínuo de formação deste grupo de professores e seu sucesso em implementar e difundir a análise do comportamento no estado. Fica claro também que tal trabalho envolve um intercâmbio com pesquisadores de instituições de outros estados, seja na realização de alguns trabalhos, seja na participação nos encontros.

Adélia Teixeira, uma das principais responsáveis pela formação de analistas do comportamento em Minas Gerais, abre o livro com o capítulo ‘Ensino programado: passado, presente e futuro’. Nele, a autora descreve o início do interesse de Skinner pela educação, suas propostas iniciais — instrução programada e máquinas de ensinar —, a difusão destas propostas para diferentes ciências, em vários países, e apresenta avaliações atuais que explicam o abandono desta tecnologia de ensino. A autora destaca ainda a importância de pesquisadores brasileiros na expansão e aprimoramento da proposta de ensino programado: aponta a experiência inovadora, implementada na Universidade de Brasília na década de 60, de um curso de Psicologia planejado por Fred Keller, Gil Sherman, Carolina Bori e Rodolpho Azzi, que resultou na proposta de Ensino Programado Individualizado (PSI), um modelo de ensino que se expandiu para outros países e para outras áreas do conhecimento. A expansão ocorrida no Brasil é apresentada através da sistematização de trabalhos que avaliam a produção de analistas do comportamento na área da educação.

Os autores dos demais capítulos do livro são, em sua maioria, jovens pesquisadores analistas do comportamento. A importância do trabalho destes pesquisadores se amplia se lembrarmos as referências da professora Adélia às dificuldades da implementação e difusão da abordagem em Minas e se considerarmos os empecilhos enfrentados por analistas do comportamento brasileiros — que participaram do aprimoramento da proposta do PSI —, com o fechamento da Universidade de Brasília pelo regime militar, na década de 60. A produção de um livro que reúne, 40 anos depois, um conjunto tão amplo de jovens pesquisadores, ensinando em diversos centros de formação e estudando temas tão distintos nas variadas áreas da abordagem, parece apontar um futuro promissor para a ciência do comportamento.

Além do capítulo inicial, dois outros abordam questões relativas à educação: um analisando habilidades básicas a serem garantidas na formação do analista do comportamento, e outro propondo uma análise que visa aproximar B. F. Skinner e Paulo Freire em relação às suas visões sobre educação e autonomia. A aproximação da proposta de Skinner com outras, externas à abordagem comportamental, é também objeto de um capítulo que visa identificar semelhança entre Ryle e Skinner em relação ao termo “compreensão”.

A maioria dos capítulos do livro apresenta revisões de estudos relativos a questões de interesse na análise do comportamento. São revisões de estudos que investigam processos comportamentais que vêm sendo chamados de “desamparo aprendido”, “manipulando variáveis em contexto apetitivo”; de discussões do papel da nomeação e da posição dos estímulos na formação de classes de estímulos equivalentes; ou, ainda, de diferentes posições de analistas do comportamento sobre a relação entre a formação de classes de equivalência e comportamento simbólico e criativo; de estudos que analisam comportamento cooperativo sob a ótica da análise do comportamento e questões metodológicas envolvidas nestas investigações; de estudos sobre a interação entre comportamento não-verbal e relatos verbais, destacando a contribuição da análise de tais relações em termos de tatos e mandos.

Futebol, mudanças na vida da mulher na terceira idade, atuação em ambiente clínico frente à queixa de ansiedade são exemplos de questões atuais abordadas no livro. Há também proposta de análise histórica dos diferentes padrões culturais brasileiros relacionados ao papel da mulher nas relações familiares, de análise dos determinantes biológicos e culturais do comportamento humano. Todos este são exemplos da variedade de interesse destes novos analistas do comportamento.

Vários artigos são apresentados como relato de pesquisa. Dois destes relatos são pesquisas experimentais: um investiga, com não-humanos, relações entre condicionamento respondente e discriminação operante, e outro, com participantes humanos, investiga se a modelagem do comportamento verbal relativo à leitura teria algum efeito sobre a escolha da atividade de ler de crianças. Apenas o último emprega o delineamento de controle do sujeito único, peculiar à análise do comportamento.

No prefácio do livro, a variedade temática é apresentada como a oferta de “um leque de opções que participarão da seleção própria no avanço de qualquer ciência” (p. X). É importante que estes novos pesquisadores publiquem seus trabalhos em veículos que alcancem a comunidade mais ampla de analistas do comportamento, como por exemplo, revistas científicas, dando a conhecer, a outros pesquisadores, o trabalho que vem sendo realizado. Ampliar a comunidade científica que seleciona poderá permitir que as contingências produzidas por esta comunidade estimulem, ainda mais, trabalhos com características próprias à abordagem, e poderá também propiciar a eliminação de alguns cacoetes, como as referências endógenas que ocorrem em alguns trabalhos.

Os três volumes de Ciência do comportamento: conhecer e avançar parecem indicar que este é apenas o início de uma coleção promissora. Novos encontros desses pesquisadores provavelmente continuarão alimentando as próximas publicações.

 

 

Referências

Teixeira, A. M. S.; Sénéchal-Machado, A. M. ; Castro, N. M. S.; Cirino, S. D. (2002). Ciência do Comportamento: Conhecer e avançar (vol. 2). Santo André: ESETec Editores Associados.

Sadi, H. M.; Castro, N. M. S. M. (2003). Ciência do Comportamento: Conhecer e avançar. (vol. 3). Santo André: ESETec Editores Associados.

 

 

1 E mail: nimicheletto@uol.com.br