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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

versão impressa ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.7 no.1 São Paulo jun. 2005

 

ARTIGO DIDÁTICO

 

O conceito de motivação na psicologia

 

The concept of motivation in psychology

 

 

João Cláudio TodorovI, II, 1 ; Márcio Borges MoreiraI, II, III, 2

I Universidade Católica de Goiás
II Universidade de Brasília
II Instituto de Educação Superior de Brasília

 

 


RESUMO

O presente trabalho discute os usos do termo motivação na psicologia, apresentado resumida e superficialmente as origens históricas da pesquisa da motivação humana e alguns problemas epistemológicos na conceituação de motivos. O presente trabalho traz ainda uma pequena amostra da variedade das definições de motivação encontradas nos compêndios de psicologia. São discutidos também os conceitos de ciência, psicologia e a questão das hierarquias nos motivos humanos, enfatizando-se a necessidade de reconhecer como relevantes, no estudo da motivação, processos de interação: (1) como certos comportamentos, em determinadas condições, invariavelmente ocorrem depois de certas alterações no meio ambiente; (2) como certas alterações no ambiente, em determinadas condições, são seguidas por certos comportamentos e não por outros possíveis; (3) como certos comportamentos ocorrem ciclicamente, mesmo na ausência de alterações no ambiente; (4) como certos comportamentos, em determinadas condições, ocorrem mesmo na ausência de alterações no ambiente; (5) como certas alterações no ambiente passam a fazer parte de interações organismo-ambiente e outras não.

Palavras-chave: Motivação, Usos do termo motivação, Psicologia


ABSTRACT

This article discusses the uses of the term motivation in the psychological field, presenting, briefly and superficially, historical origins of human motivation research and a few epistemological problems related to conceptualization of motives. This article also presents a brief overview of the variety of definitions of motivation, found in psychological books and manuals. Also discussed are the concepts of science, psychology, and the issue about human motives hierarchies, emphasizing the need to recognize interaction processes as relevant in the study of motivation: (1) how certain behaviors, under certain conditions, invariably occur after certain environmental changes; (2) how certain environmental changes, under certain conditions, are followed by certain behaviors, not others that would be possible; (3) how certain behaviors occur cyclic, even in the absence of environmental changes, (4) how certain behaviors, under certain conditions, occur even in the absence of environmental changes; and (5) how certain environmental changes happen to be part of organism-environment interactions, while others don't.

Keywords: Motivation, Uses of the term motivation, Psychology


 

 

Motivação3, assim como aprendizagem, é um termo largamente usado em compêndios de psicologia e, como aprendizagem, é usado em diferentes contextos com diferentes signifi-cados. O mesmo autor pode empregar o termo de maneira diversa num mesmo parágrafo. Vernon (1973) faz isso logo na primeira página do primeiro capítulo de seu livro “Motivação Humana”:

“A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes. Con-tudo, é evidente que motivação é uma expe-riência interna que não pode ser estudada diretamente”.(Vernon, 1973, p.11).

Na primeira sentença do trecho citado, motivação é uma força sem que se especifique de que natureza. Logo a seguir, motivação é uma experiência interna, algo que sentimos e ninguém podem observar. No uso comum, o leigo costuma utilizar esses dois significados como dois aspectos de um mesmo fenômeno. Motivação é uma força interna que nos leva a agir, e por ser interna só nós mesmos a podemos sentir. O uso técnico/científico do conceito é bem mais diversificado, por razões que exporemos a seguir.

Um outro exemplo interessante de como o termo motivação pode assumir diferentes significados em um mesmo texto está em Bergamini (1997):

“Se, no início do século, o desafio era descobrir aquilo que se deveria fazer para motivar as pessoas, mais recentemente tal preocupação muda de sentido. Passa-se a perceber que cada um já traz, de alguma forma, dentro de si, suas próprias motivações. Aquilo que mais inte-ressa, então, é encontrar e adotar recursos organizacionais capazes de não sufocar as forças motivacionais inerentes às próprias pessoas... (p. 23)... não existe o pequeno gênio da motivação que transforma cada um de nós em trabalhador zeloso ou nos condena a ser o pior dos preguiçosos. Em realidade, a desmotivação não é nenhum defeito de uma geração, nem uma qualidade pessoal, pois ela está ligada a situações específicas (p. 27)”

No trecho acima, no primeiro momento, a motivação está relacionada a um lócus de controle interno, ela está dentro do indivíduo. No segundo momento, a motivação passa a estar relacionada a um lócus de controle externo, ou seja, ela depende de situações específicas, depende do que está acontecendo com o indivíduo. O autor afirma que, no início do século, procurava-se “descobrir aquilo que se deveria fazer para motivar as pessoas”, ou seja, as situações específicas que tornam o indivíduo motivado. Logo em seguida afirma que este é o caminho errado: a motivação não ocorre de fora para dentro, mas de dentro para fora. Entretanto, ao final do trecho, o autor parece expor a idéia que é rechaçada no início de sua argumentação: a motivação - ou “desmotivação” - depende de situações específicas, logo, o que deve ser feito é buscar por tais situações específicas (“aquilo que se deveria fazer”) para motivar os indivíduos ou, no mínimo, não desmotivá-los.

 

Origens históricas da pesquisa da motivação

Birney e Teevan (1962) notam que o interesse contemporâneo pela pesquisa da motivação humana origina-se de três fontes: psicoterapia, psicometria, e teoria da aprendizagem. Além de serem áreas diferentes, há entre elas divergências quanto aos objetivos do trabalho dos pesquisadores, e também quanto aos métodos a serem empregados.

Psicoterapia. Para os psicoterapeutas, o problema maior sempre foi o alívio dos desconfortos do cliente. Especialmente com Freud, esses desconfortos eram vistos como resultantes de um jogo de equilíbrio dinâmico de forças psíquicas (motivacionais), e o próprio psicoterapeuta era o instrumento de medida dessas forças. Não se colocava como importante o problema de diferenças individuais, pois o modo de definir o objetivo de seu trabalho levava à preocupação primordial com o caso individual. Buscava-se a melhor caracterização possível para essas forças hipotetizadas, desenvolvendo um sistema motivacional que pudesse ser aplicado ao entendimento das aflições de diferentes indivíduos4.

Psicometria. O desenvolvimento dos testes psicológicos de aptidões e de desempenho representou uma fonte de interesse em motivação muito diferente da psicoterapia. Constatou-se, de início, que a utilização desses testes para a classificação e/ou seleção de indivíduos dependia de um pressuposto fundamental, o de igualdade na dedicação às tarefas. O interesse por testes de aptidões levou, necessariamente, ao desenvolvimento de testes de motivação. Obviamente, os estudos sobre motivação originários dessas duas áreas, psicoterapia e psicometria, não se desenvolveram totalmente independentes. Birney e Teevan (1962) lembram esforços de aproximação das duas abordagens. Historicamente, entretanto, não há como negar o desenvolvimento inicial independente5.

Teorias da aprendizagem. Considerando-se que da psicoterapia e da psicometria desenvolveram-se interesses pela psicologia da motivação humana, seria lícito esperar-se o mesmo de outra área aplicada, a educação. Como veremos, o estudo de problemas de aprendizagem levou à invocação de variáveis motivacionais. A influência dos interesses da área educacional é indireta, via psicologia da aprendizagem e pesquisas de laboratório. Os principais teóricos da aprendizagem estudaram experimentalmente o papel de variáveis motivacionais na memória, na aprendizagem, etc. O trabalho mais complexo nessa direção, sem dúvida, foi o de Hull (1943). Dessa tradição de laboratório vem a associação de variáveis motivacionais às diversas teorias de reforço, culminando com Skinner (1953) e a colocação do tópico motivação dentro de um contexto mais geral dos vários tipos de interação organismo-ambiente6.

Psicoterapia, psicometria e teoria da aprendizagem, com objetivos e métodos dife-rentes, necessariamente levaram a tratamen-tos diferentes de conceitos motivacionais. Entender a psicologia da motivação humana sem atentar para esses aspectos é tarefa impossível; falar de motivação sem mencionar esses esforços, pode aumentar a confusão já existente.

 

Problemas epistemológicos na conceituação de motivos

“Diz-se frequentemente que há duas concepções, mais ou menos incompatíveis, da natureza humana. Uma delas sustenta que o homem é um ser essencialmente racional, seletivo, dotado de vontade, que conhece as fontes de sua conduta ou que está cônscio das razões para a sua conduta e é, portanto, responsável por ela. O outro ponto de vista afirma por vezes que o homem, por natureza, é irracional, e que seus impulsos e desejos devem ser controlados pela força das sanções da sociedade.” (Cofer, 1972, p. 3).

Independentemente das áreas de aplicação da psicologia que mais pressionaram pelo desenvolvimento de uma teoria da motivação humana, há fatores históricos que condicionam esse desenvolvimento, e que antecedem de muito a própria constituição da Psicologia como disciplina científica. Allport (1953), ao avaliar as tendências nas teorias da motivação da primeira metade do século passado, encontra suas origens em algumas convergências entre pensadores do século 19, e cita Schopenhauer, Darwin, Bergson e Freud, todos irracionalistas - no sentido de que as explicações para o comportamento humano serão subjacentes ao que pode ser diretamente observado e/ou está na consciência de quem age. Outra característica marcante é o gene-ticismo. Os motivos básicos seriam dependentes da herança genética e/ou de experiências na infância, muito pouco ou quase nada afetados pelo ambiente no qual vive o indivíduo adulto.

Essas influências sobre o moderno pensamento a respeito de variáveis motivacionais têm um passado que remonta aos filósofos gregos. Bolles (1967) inicia um capítulo sobre origens históricas de conceitos motivacionais discutindo a era racionalista, que se inicia com Platão e continua a influenciar a maneira de pensar sobre motivação até hoje. Platão, segundo Bolles (1967), constrói uma filosofia do homem sem conceitos motivacionais: se a razão tem liberdade para escolher seus objetivos, a escolha de objetivos é o determinante de sua ação futura. A vontade do homem é livre porque é sempre dirigida para o futuro, e, portanto, escapa das restrições situacionais. Comportamentos que fogem a essa descrição eram tidos como essencialmente aleatórios e não característicos das ações naturais do homem.

A oposição a essa linha de pensamento também tem sua origem nos gregos e igualmente perdura, ainda que muito transformada, até nossos dias. Demócrito, contemporâneo de Platão, já defendia um sistema de explicações para as ações humanas baseado num princípio segundo o qual todos os objetos e eventos no mundo poderiam ser reduzidos a átomos de diferentes formas e tamanhos. Os átomos da psyché, por serem redondos e lisos, tinham o poder de interpenetrar outros átomos, possibilitando ao homem conhecer o mundo (Bolles, 1967).

A história do desenvolvimento dessas idéias a partir de Platão e Demócrito é fascinante em si, mas foge aos limites do presente trabalho. É importante frisar apenas que as contradições nos modernos tratamentos do assunto são tão antigas quanto o pensamento ocidental7.

Ao lado dessas duas linhas filosóficas tradicionais, encontramos hoje um outro fator que vem a complicar qualquer tentativa de se entender as diferentes abordagens de conceitos motivacionais. Qualquer compêndio de introdução à psicologia em uso atualmente dá muita importância ao caráter científico da psicologia. Ao discorrer sobre motivação, os autores discutem as várias teorias existentes, como se houvesse uma ciência estabelecida com várias abordagens alternativas do mesmo tema, motivação. É raro encontrar-se uma apresentação do assunto em que o autor discuta os diversos conceitos de ciência existentes em diferentes abordagens.

 

Definições de motivação

Consideradas as fontes de diversidade no trato do conceito de motivação, vejamos uma amostra, encontrada na literatura sobre o assunto, de como os mais diversos autores fazem referência à motivação. Não houve intenção de usar algum princípio organizador na seqüência desses exemplos (exceto a cronologia); as definições apenas indicam as variedades de abordagens na psicologia da motivação humana.

“Um motivo é uma necessidade ou desejo acoplado com a intenção de atingir um objetivo apropriado” (Krench & Crutchfield, 1959, p. 272).
“Uma busca dos determinantes (todos os determinantes) da atividade humana e animal”. (Young, 1961, p. 24).
“A propriedade básica dos motivos é a energização do comportamento”. (Kimble & Garmezy, 1963, p. 405)
“O energizador do comportamento” (Lewis, 1963, p. 560).
“Um exame cuidadoso da palavra (motivo) e de seu uso revela que, em sua definição, deverá haver referência a três componentes: o comportamento de um sujeito; a condição biológica interna relacionada; e a circunstância externa relacionada”. (Ray, 1964, p. 101).
“Pode-se falar em uma teoria da motivação e significar uma concepção coerente dos determinantes contemporâneos da direção, do vigor e da persistência da ação”. (Atkinson, 1964, p. 274).
“Motivação: o termo geral que descreve o comportamento regulado por necessidade e instinto com respeito a objetivos”. (Deese, 1964, p. 404).
“Motivação é um termo como aprendizagem no sentido de que tem sido usado de numerosas maneiras, com vários graus de precisão. Não nos preocuparemos com seu sentido exato, principalmente porque não tem sido usado de maneira precisa neste contexto”. (Logan & Wagner, 1965, p. 91)
“Entendemos por motivo algo que incita o organismo à ação ou que sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi ativado”. (Hilgard & Atkinson, 1967, p. 118).
“A psicologia tende a limitar a palavra motivação... aos fatores envolvidos em processos de energia, e a incluir outros fatores na determinação do comportamento”. (Cofer, 1972, p. 2).
“Motivação, como muitos outros conceitos na psicologia, não é facilmente delimitado... Inferimos que 'uma pessoa está motivada' com base em comportamentos específicos que a pessoa manifesta ou com base em eventos específicos que observamos estarem ocorrendo”. (Ferguson, 1976, p. 3).
“A questão da motivação é a questão 'por que' formulada no contexto do comportamento. Inter-rogações desse teor podem ser feitas indefini-damente e limitamos o âmbito de nossas respostas ao que delineamos, com certa precisão, como a disciplina da psicologia”. (Evans, 1976, p. 23).
“O estudo da motivação é a investigação das influências sobre a ativação, força e direção do comportamento”. (Arkes & Garske, 1977, p. 3).
“Mudanças na significância de estímulos são a preocupação básica do estudo da motivação”. (Catania, 1979, p. 61).
“Para cada ação que uma pessoa ou animal executa, nós perguntamos: 'Por que ele ou ela fez aquilo'. Quando fazemos esta pergunta, estamos perguntando sobre a motivação daquela pessoa ou animal... Questões sobre motivação, então, são questões sobre as causas de uma ação específica”. (Mook, 1987, p. 3).
“Sempre que sentimos um desejo ou necessidade de algo, estamos em um estado de motivação. Motivação é um sentimento interno é um impulso que alguém tem de fazer alguma coisa”. (Rogers, Ludington & Graham, 1997, p. 2)
“Os motivos são concebidos... como forças que são moldadas pela experiência”. (Dweck, 1999, p. 134).
“... a motivação é o conjunto de mecanismos biológicos e psicológicos que possibilitam o desencadear da ação, da orientação (para uma meta ou, ao contrário, para se afastar dela) e, enfim, da intensidade e da persistência: quanto mais motivada a pessoa está, mais persistente e maior é a atividade”. (Lieury & Fenouillet, 2000, p. 9).
“Em abordagem operacional, (motivação) é o conjunto de relações entre as operações de estimulação ou privação e as modificações observadas no comportamento que se processa após as citadas operações”. (Penna, 2001, p. 19).
“... intrinsic motivation occurs when three ''psychological states” are present: experienced meaningfulness of the work, experienced responsibility for outcomes of the work, and knowledge of actual results of the work.” (Thomas, 2002, p. 116)
“A motivação tem sido entendida ora como um fator psicológico, ou conjunto de fatores, ora como um processo. Existe um consenso generalizado entre os autores quanto à dinâmica desses fatores psicológicos ou do processo, em qualquer atividade humana. Eles levam a uma escolha, instigam, fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo...”. (Bzuneck, 2004, p. 9).

Nos trechos supracitados vemos claramente que o conceito de motivação é abordado de maneiras muito diferentes e, muitas vezes, contraditórias. Essa miscelânea conceitual evidência não a quantidade de conhecimento que se tem sobre a motivação, mas a falta dele. Skinner (1953), ao justificar a necessidade de uma psicologia científica, afirma que a ciência evolui dos erros, não da confusão. Considerando como corretas as palavras de Skinner, podemos concluir então que grande parte da abundante produção teórica sobre motivação não levará a psicologia a compreender melhor este fenômeno. Para que a psicologia possa lidar melhor com tão importante assunto é necessário refinar os conceitos que se referem a ele (Cunha & Isidro-Marinho, 2005; Michael, 1982, 1993, 2000) estabelecendo referenciais teóricos que possam ser falseados, que possam ser testados.

Outra interessante análise que pode ser feita a partir da leitura dos conceitos apresentados, se levarmos em conta sua cronologia, refere-se à evolução do conceito ou, melhor dizendo, da falta de evolução. Comparemos Krench e Crutchfield (1959, p. 272) com Bzuneck (2004, p. 9). Alguns dos conceitos apresentados acima, muitos deles norteadores do estudo sobre a motivação em determinados períodos históricos, parecem não ir além de simples reelaborações do senso comum, ornamentados com o uso de termos que, numa análise mais cuidadosa, evidenciam nada mais que um raciocínio tautológico. Comparemos alguns dos conceitos apresentados com as frases a seguir, frases estas que poderiam ser elaboradas em uma conversa descontraída entre psicólogos sobre a natureza humana numa mesa de bar:

“Um motivo é um desejo ardente que impulsiona o ser à ação”
“A motivação está intrinsecamente relacionada aos desejos e impulsos humanos”.
“Os impulsos estão intrinsecamente relacionados à motivação e desejos humanos”.
“Motivação pode ser entendida como um motivo que leva o indivíduo à ação”.
“Motivação é uma força que aciona e direciona o comportamento”.
“Motivação é uma energia que aciona e direciona o comportamento”.
“Impulso é uma energia que aciona e direciona o comportamento”.
“Desejo é uma energia que aciona, motiva e direciona o comportamento”.
“Um motivo é um desejo imbuído de significação em si mesmo que impulsiona o ser à execução e consecução de metas, que orienta e estrutura a dinâmica psicológica que, por seu turno, energiza o comportamento”.

Os conceitos de ciência, psicologia e motivação

“Psicologia, em especial a área da motivação, é bastante confusa pela prática de considerar motivos, ou impulsos, ou instintos, ou necessidades, como a causa do comportamento”.(Bolles, 1967, p. 8).

Um primeiro problema a ser resolvido quando se discute o conceito de motivação relaciona-se diretamente ao papel da psicologia como uma ciência. Historicamente, conceitos motivacionais surgem como causas do comportamento, e confundem-se com os próprios objetivos da psicologia.

“Por que as pessoas se comportam desta ou daquela maneira?” Por mais importante que a questão possa parecer, está formulada de tal maneira que não leva a respostas aceitáveis. Tem sido muito usada por aqueles que preferem tratar de questões que não podem ser empiricamente respondidas. Reformulando a questão, a ciência pode ajudar com seus métodos. “Em quais condições as pessoas se comportam desta ou daquela maneira?” é uma pergunta bem diferente, ainda que à primeira vista não o pareça. Na primeira formulação, pergunta-se “por que?”, na segunda indagase “como?”. A história dos conceitos motivacionais esta principalmente ligada a questões “por que?”. Lindgreen e Byrne (1982), por exemplo, assim se expressam em um manual de psicologia publicado no Brasil em 1982:

“As teorias da motivação são uma tentativa... de explicar por que (1) os estímulos evocam respostas; (2) um determinado estímulo evoca uma certa resposta em vez de quaisquer outras concebíveis; (3) certos estímulos têm um valor de recompensa e outros não; (4) certas respostas parecem surgir por si mesmas, sem nenhum desencadeante exterior aparente” (Lindgreen & Byrne, 1982, pp. 214-215).

Esses quatro itens não foram listados originalmente por Lindgreen e Byrne, mas parecem ter caído no domínio público, pois esses autores não fazer referência à fonte original. O importante aqui é que, em um texto didático que acaba de ser publicado no Brasil, a questão “por que?” é colocada sem discussão. Não é por acaso que esses mesmos autores chegam à conclusão de que “a motivação permanece sendo um conceito indefinível”. Se reformulassem a questão, talvez chegassem à conclusão de que a motivação, como tem sido definida, é um conceito inútil.

Parafraseando o texto citado, poderíamos escrever:

As teorias da motivação deixarão de levar os psicólogos à confusão quando a psicologia puder descrever as condições nas quais (1) os estímulos evocam respostas; (2) um determinado estímulo evoca uma certa resposta em vez de quaisquer outras concebíveis; (3) certos estímulos têm um valor de recompensa e outros não; (4) certas respostas parecem surgir por si mesmas, sem nenhum desencadeante exterior aparente.

Na psicologia, as questões “por que” têm frequentemente levado a respostas hipotéticas. Supõe-se uma causa para o compor-tamento, dá-se um nome a essa causa hipotetizada, e encaixa-se esse conceito numa determinada teoria. Não há preocupação, neste trabalho, de discorrer sobre essas “causas” comuns na literatura psicológica; o leitor interessado pode recorrer a Millenson (1975) e Skinner (1974), entre outros autores. Importa frisar que na ciência as questões “por que” sempre se transformam em questões “em quais condições” antes que haja progres-so no conhecimento8.

A ciência não estuda causas, estuda relações. Marx e Hillix (1963) colocam muito bem a questão. A ciência, afirmaram, e a psicologia como parte de uma ciência, estuda relações. Distingue-se de outras disciplinas porque estuda relações entre comportamentos e quase tudo que pode estar relacionado ao comportamento. Exemplos de relações estudadas pela psicologia são tantos e tão diversos, que uma descrição exaustiva é impossível. Assim, uma maneira adequada de caracterizar o objeto de estudo da psicologia é aquela oferecida por Harzem e Miles (1978), entre outros: a psicologia estuda interações de organismos, vistos como um todo, com seu meio ambiente.

Nestas condições, se a motivação do compor-tamento humano for interpretada, como freqüentemente o é, (Millenson, 1975) como o conjunto de determinantes ou causas do comportamento, a psicologia da motivação é toda a psicologia. E a tarefa do pesquisador poderia ser a de preparar um elenco de todos os motivos, sua classificação e hierarquização. Assim é como muitos têm tentando proceder. Os resultados têm sido díspares e confusos, deixando transparecer posições ideológicas que dirigem aprioristicamente as conclusões (vejamos o trabalho de Maslow, 1954, por exemplo). Por outro lado, reconhecendo que tudo o que tem sido estudado como motivação compõe o campo da psicologia como um todo, a alternativa é evitar-se a caracterização de um campo especial para a motivação. Quem estiver interessado em motivação humana deve estudar psicologia.

Tentativas de resumir e classificar os vários conceitos motivacionais provenientes de diferentes áreas estão condenadas ao fracasso por um imperativo lógico. Conceitos não têm existência independentemente do contexto teórico no qual surgem. Caio Prado Jr., ao discutir a natureza das figuras geométricas, nos oferece um bom exemplo:

“Dir-se-á então que os elementos ou partes do círculo o precedem e determinam? Não é possível, porque não podemos conceber circunferência, raios, cordas, etc. sem o círculo. Será então a circunferência que determina todo o resto, como poderia fazer crer o fato de que quando nos vamos ocupar com qualquer questão relativa a círculos começamos a traçar uma circunferência? Mas o que vem a ser essa circunferência senão uma linha traçada num plano e cujos pontos são eqüidistantes de outro ponto situado nesse mesmo plano? Já temos aí, imediatamente e simultaneamente com a circunferência, a introdução de dois elementos estranhos: o centro e os raios (eqüidistância do centro). E tanto assim é que intimados a traçar uma circunferência, somos obrigados, a lançar mão do compasso, a de determinar um .ponto. (colocação da haste fixa do compasso) que será o .centro.; e os .raios. (afastamento das hastes). Algumas considerações da mesma natureza nos mostram que antes de existir a circunferência já existem necessariamente todos os demais elementos do circulo, que, no entanto, por seu turno, implica todos aqueles elementos.”

“Essa incoerência resulta fatalmente de todo pensamento baseado na concepção de 'coisas'. O exemplo acima, que não é senão o caso de toda Geometria (aliás, de toda conceituação em geral, sendo que a particularização que estamos fazendo aqui é unicamente porque nos ocupamos especificamente com a Mate-mática), mostra que os conceitos não têm individualidade própria e existência à parte uns dos outros e dos conjuntos em que se integram. Eles existem em função uns dos outros, bem como dos sistemas que compõe e de que somente para comodidade de expressão os podemos destacar. ” (Prado Jr., 1980, p. 208-209).

A busca de um refinamento dos principais conceitos motivacionais desenvolvidos no último século seria um exercício inútil. Vejamos o exemplo do conceito de impulso e as tentativas de caracterizá-lo, chegar à sua essência. “Impulso” (drive) é uma palavra que tem sido utilizada para designar diferentes conceitos em diferentes contextos teóricos9. Comparações das individualidades desses diversos conceitos que recebem um mesmo nome não levam a nada. Análises conceituais que revelem as relações envolvidas nos contextos em que esses conceitos são usados são mais frutíferas. Um magnífico exemplo dessa utilidade de uma análise conceitual é encontrado em Keller e Schoenfeld (1950).

 

A questão das hierarquias dos motivos humanos

“Tem sido observado que a maior parte do comportamento humano, em contraste com o dos animais inferiores, é caracterizado por sua natureza organizada, altamente motivada e orientada para um fim.” (Vernon, 1973, p 189).

Pela afirmação acima, parece que Vernon desconhece a literatura sobre comportamento animal. É imperdoável que um texto para iniciantes coloque tão superficialmente as diferenças entre o comportamento humano e aquele de animais infra-humanos. Infelizmente, equívocos como esse são comuns na literatura de que dispomos em português. A aparente ignorância esconde um fato mais grave. Encobre um posicionamento idealista que permeia grande parte da literatura sobre motivação. Os exemplos clássicos são os trabalhos de Maslow (1965) e McClelland (1961). Os preconceitos não são apenas relacionados ao comportamento animal. Referem-se principalmente ao comportamento humano, mostrando uma visão elitista da superioridade das classes sócio-economicamente mais favorecidas e dos países industrializados.10 Apenas para situar o leitor, listamos alguns dos notáveis seres humanos cujas biografias foram estudadas por Maslow (1965) para a composição de sua obra sobre os motivos humanos: Abraham Lincoln (16º presidente dos Estados Unidos da América; preservou a União durante a Guerra Civil tendo conseguido a emancipação dos escravos); Thomas Jefferson (terceiro presidente dos Estados Unidos; redigiu a declaração da Independência norte-americana); Benjamin Franklin (estadista norte-americano); George Washington (primeiro presidente norteamericano); Albert Einstein (físico, matemático e filósofo alemão); Aldous Huxley (escritor inglês; é dele o livro “Admirável Mundo Novo”); Goethe (escritor e filósofo alemão); Pierre Renoir (renomado pintor francês); Eleanor Roosevelt (norte-americana; participou da criação da UNICEF e da elaboração da Declaração dos Direitos Humanos); e Mahatma Gandhi - que dispensa apresentações.

Na filosofia da ciência, esse posicionamento também se refere à distinção entre explicação e entendimento (Von Wright, 1971). Essa distinção está intimamente ligada às duas grandes vertentes na história das idéias, a tradição aristotélica e a tradição galiléica - a de explicações teleológicas e a de explicações causais. Na tradição de Aristóteles, o objetivo da ciência é tornar os fatos inteligíveis teleológica ou finalisticamente; na tradição de Bacon e Galileu, é explicar e predizer fenômenos. Na história do método científico, parece ter sido o historiador e filósofo alemão Droysen o introdutor da dicotomia explicação versus entendimento (Von Wright, 1971) no âmbito metodológico. A finalidade das ciências naturais seria explicar; a da história seria entender os fenômenos de seu domínio.

Von Wright (1971) nota que no sentido usual dos termos, não fazemos muita distinção entre explicar e entender, porque explicações, sejam causais, sejam teleológicas, visam aumentar nosso entendimento sobre alguma coisa. Mas entender tem algo mais que explicar. “Entender” tem a ver com intencionalidade. “Entendem-se os fins e propósitos de um agente, o significado de um signo ou símbolo, e a significância de uma instituição social ou rito religioso.” (Von Wright, 1971, p. 6).

Esta separação de metodologias para as ciências naturais e para a história deixou as ciências do comportamento como uma área de litígio, onde muitas vezes os dois métodos se alternam e/ou confundem no trabalho de um mesmo autor: “Marx mostra uma ambivalência entre uma orientação 'causalista', 'cientística' de um lado e outra 'hermenêuticadialética', 'teleológica'... Marx pode, neste aspecto,... ser comparado a Freud, em cujo trabalho, freqüentemente há uma tendência hermenêutica e teleológica implícita, frequentemente distorcida por uma busca explícita de explicações causais, de orientação típica das ciências naturais.” (Von Wright, 1971, p. 173).

É comum encontrarmos o componente de intencionalidade, próprio de análises teleológicas, em pseudo-explicações causalistitas do comportamento motivado (cf., Atkinson, 1964), assim como reinterpretações de dados obtidos pela utilização do método das ciências naturais em visões humanistas do comportamento (cf., Rogers, 1963). Torna-se importante, pois, especificar as vantagens de se deixar claros nossos pressupostos, métodos e orientação teórica quando falamos de motivação (ou de psicologia em geral). Nesse ponto, uma visão comportamentalista (ou, utilizando o neologismo já consagrado, behaviorista) não tem mistérios. Procuramos não lidar com essências, mas com relações. As vantagens dessa decisão poderão ser mais bem percebidas no seguinte trecho de Stegmuller:

“Entender essa filosofia requer que se veja claramente por que as questões que visam à essência, questões do tipo 'Que é...?' não são respondíveis. Segundo já constatamos, não se trata apenas de nos libertarmos duma concepção fundamental da filosofia da essência. Também a correspondente e 'moderna' transformação dessa concepção (por exemplo: 'Que é a definição correta de compreender?') fornece algo que, em princípio, é tão irrespondível como a questão original 'Que é...?'. Ao invés disso, devemos tentar obter uma imagem quanto mais abrangente possível da multiplicidade e da heterogeneidade das situação nas quais empregamos aquelas expressões, cujos significados procuramos captar. De início, tencionávamos alcançar tais significados, dando respostas corretas às questões do tipo 'Que é ...?'. Cientificamo-nos agora de que somente aprendemos o significado daquelas expressões examinando como são corretamente empregadas em várias situações.” (Stegmuller, 1977, p. 466).

Vejamos, na psicologia da motivação, um exemplo do que estamos discutindo. Primeiro uma visão humanista, depois nossos comentários. Maslow (1954) propôs um sistema hierárquico de necessidades básicas que tem influenciado especialmente o trabalho na psicologia organizacional e na psicologia do desenvolvimento. Maslow classifica as necessidades humanas, na ordem de prioridade, em fisiológicas, de segurança, de amor e atenção, de estima, e de auto-realização. A hierarquização utiliza dois sistemas de categorias, das necessidades mais puramente biológicas às mais socializadas e das mais simples às mais complexas. Os problemas com a hierarquia começam por aí. Deixando de lado uma preocupação apriorística com hierarquias, vemos que a lista de necessidades obedece à seqüência temporal de desenvolvimento do indivíduo, e refere-se a tipos de interação organismo-ambiente que podem ser observados em diferentes tempos de seu desenvolvimento. Mas da constatação de que certos tipos de interação surgem antes que outros na história do indivíduo, não decorre necessariamente a conclusão de que há necessidades hierarquicamente superiores ou inferiores. Vejamos, por exemplo, o tratamento alternativo dado por Bijou e Baer (1961) à questão. O conceito de hierarquia utilizado na classificação é um conceito a priori, pertencente a um sistema ideológico que se antepõe aos dados de observação. As razões para essa utilização do conceito não serão encontradas nos dados provenientes da experimentação e da observação em psicologia. Encontraremos mais informações se estudarmos as ideologias dos psicólogos que se utilizam do conceito.

Se resta alguma dúvida sobre os pressupostos de Maslow e sua hierarquia, as afirmações que transcrevemos a seguir talvez bastem para caracterizar seu posicionamento em relação aos motivos e necessidades humanos. Evitando possíveis equívocos de tradução para tão rica terminologia; eis o texto original:

“From the point of view of the eternal and absolute that mankind has always sought, it may be that the B-values could also, to some extent, serve this purpose. They are per se, in their own right, not dependent upon human vagaries for their existence. They are perceived, not invented. They are trans-human and trans-individual. They exist beyond the life of the individual. They can be conceived to be a kind of perfection. They could conceivably satisfy the human longing for certainty.” (Maslow, 1967, item XXVIII).

Esperamos ter esclarecido o que queremos dizer quando afirmamos que o conceito de motivação, ou de motivo, ou de impulso, ou hierarquia de necessidades, não é útil a uma análise do comportamento humano. Quando examinamos os contextos teóricos nos quais esses conceitos foram desenvolvidos e usados, nos deparamos com uma multiplicidade de usos e, muitas vezes, com pseudo-explicações do comportamento. Descobrimos que esses usos quase sempre levam nossa atenção para a busca de essências, deixando-nos num beco sem saída; desviam-nos de um interesse pela investigação de relações e de condições antecedentes. Ao fazer um apanhado dos exemplos utilizados para falar de motivação, poderemos ver que os conceitos motivacionais são usados para explicar:

1. como certos comportamentos, em deter-minadas condições, invariavelmente ocorrem depois de certas alterações no meio ambiente;
2. como certas alterações no ambiente, em determinadas condições, são seguidas por certos comportamentos e não por outros possíveis;
3. como certos comportamentos ocorrem ciclicamente, mesmo na ausência de alterações no ambiente;
4. como certos comportamentos, em determinadas condições, ocorrem mesmo na ausência de alterações no ambiente;
5. como certas alterações no ambiente passam a fazer parte de interações organismo-ambiente e outras não.

No trabalho de análise do comportamento, procuramos explicações adequadas para essas situações. Ao analisar instâncias desses cinco tipos de interações, percebemos que a dicotomia aprendizagem/motivação é inadequada, e que a explicação dessas instâncias requer o reconhecimento de processos de interação11.

 

Uma última nota

Conhecer os “porquês das mazelas humanas” é algo que fascina a todos, psicólogos ou não. Àqueles que não são psicólogos é reservado o direito de “dar qualquer tipo de explicação psicológica” sobre o ser humano (sobre os porquês de seus comportamentos), aos psicólogos não.

O comportamento humano (ou processos psicológicos, ou cognição, ou mente, ou psiqué, ou psicodinâmica, etc.) é extremamente complexo. Um grande erro da Psicologia tem sido tentar explicar toda essa complexidade, quando o mais adequado seria tentar descrever sob quais circunstâncias tais comportamentos complexos ocorrem. Quando a Psicologia assim o faz, ela sempre corre o risco de se aproximar da “psicologia do senso comum”. Descobrir sob que circunstâncias tais processos ocorrem é um caminho bem mais seguro e efetivo.

É comum em textos introdutórios sobre Motivação e/ou Aprendizagem, sob a perspectiva analítico-comportamental, encontrar exemplos simples como “pressionar uma barra que produz água”, “receber um choque e mudar para outro compartimento da caixa”, entre outros. Comportamentos aparentemente tão simples que parecem não ter relevância para uma formação em Psicologia. É comum também encontrar alunos de Psicologia que acusam o pobre rato de ser preguiçoso, ou de não estar com sede, quando, na realidade, este está apenas se comportando em um esquema de intervalo fixo, e se mostraria “bem mais motivado” caso simplesmente mudássemos o esquema para intervalo variável. Atribui-se ao pobre animal falta de motivação, quando a “explicação” está simplesmente na relação entre seus comportamentos e seu ambiente. Imagine então quantos equívocos podem ser cometidos ao se falar de comportamento humano no mundo fora do laboratório. Se não compreendermos antes os “verdadeiros porquês” dos comportamentos mais simples, correremos grandes riscos na hora de tentarmos compreender os complexos “problemas psicológicos” humanos.

Ainda, todas as vezes que atribuímos ao ser humano uma essência intangível pela ciência, que não pode ser compreendida, que não pode ser controlada ou estudada, e que é dada pela subjetividade de cada um, estamos fechando as portas para nós mesmos, fechando as portas para a construção de uma Psicologia mais efetiva, que produza mais resultados e em menos tempo. A essência, por ser essência, não pode ser tocada ou modificada. Cada um dos seis bilhões de habitantes do planeta Terra é um ser diferente, único. Nossa tarefa, de psicólogos, não é contemplar a subjetividade ou a essência de cada ser humano, mas sim compreender como ela é construída ou, colocado de maneira mais adequada, compreender como são aprendidos os padrões comportamentais a partir dos quais inferimos a existência de um motivo, de uma essência, de uma força propulsora, de uma motivação intrínseca, de uma força motriz, de um instinto, de um impulso, de um desejo, de uma energia libidinal, de uma necessidade, de uma vontade, de uma...

 

 

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Recebido em: 17/02/2005
Primeira decisão editorial em: 17/05/2005
Versão final em: 22/06/2005
Aceito em: 25/06/2005

 

 

1 E-mail: todorov@unb.br
2 E-mail: borgesmoreira@yahoo.com
3 Este texto foi originalmente preparado com o intuito de servir como texto introdutório sobre Motivação para alunos de Graduação. Não é sua pretensão exaurir ou aprofundar em quaisquer dos tópicos abordados, mas sim apresentar, resumidamente, a diversidade que evolve o assunto e sugerir que a mudança no locus de controle (interno para externo) parece ser uma alternativa viável.
4 Para um estudo das teorias psicanalíticas da motivação, veja-se Rapaport (1960), Peters (1958), Bolles (1967), Atinkson (1964) e Hall e Lindzey (1957).
5 O uso de conceitos motivacionais em testes psicológicos é grande e variado. Mais informações sobre o assunto podem ser obtidas em Birney e Teevan (1962) e Atinkson (1964).
6 Bindra e Stewart (1966) apresentam uma coletânea de textos sobre conceitos motivacionais que inclui os principais teóricos da aprendizagem. Veja-se também de Bolles (1967), Atinkson (1964), Cofer e Appley (1964), Brown (1961) e Ferguson (1976).
7 Ver Marx e Hillix (1963).
8 No capítulo 2 de Bolles (1967) encontra-se uma visão histórica da evolução dessas duas linhas tradicionais. Veja-se também o primeiro capítulo de Von Wright (1971) e de Stegmuller (1977).
9 A história dos vários conceitos de impulso pode ser encontrada em Atinkson (1964), Bindra e Stewart (1966), Bolles (1967) Cofer e Appley (1964).
10 Esta afirmação merece um tratamento mais aprofundado, que escapa às limitações do presente trabalho. Uma boa discussão dos trabalhos de Maslow e McClelland é a de Atinkson (1964).
11 Ver Bijou e Baer (1961), Harzem e Miles (1978), Catania (1979), Todorov (1989) entre outros.

 

 

Questões de Estudo

1. Qual a contradição existente no conceito de motivação de Vernon (1973). Você concorda com os autores de que há contradição? Justifique.

2. Qual a contradição existente no conceito de motivação de Bergamini (1997). Com qual parte desta definição você concorda? Justifique sua resposta.

3. Com relação à motivação, qual o interesse específico da:
a. Psicoterapia
b. Psicometria
c. Teorias da aprendizagem

4. O que é epistemologia? E um problema epistemológico?

5. Os conceitos de motivação geralmente são acompanhados dos termos desejo, impulso, instinto, força, energia e vontade. Responda com suas palavras: a. O que é um desejo?
b. O que é uma vontade?
c. O que é um impulso?
d. O que é uma força interna?
e. O que é uma energia interna?
f. O que é um instinto?

6. Você percebeu que existem várias defi-nições diferentes de motivação? Toda esta variedade é boa ou ruim para a Psicologia? Justifique sua resposta.

7. "Entendemos, por motivo, algo que incita o organismo à ação ou que sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi ativado." (Hilgard e Atkinson, 1967, p. 118). Mas o que incita o motivo?

8. "Um motivo é uma necessidade ou desejo acoplado com a intenção de atingir um objetivo apropriado" (Krench e Crutchfield, 1959, p. 272). Qual a diferença entre motivo e intenção?

9. Sempre que sentimos um desejo ou necessidade de algo, estamos em um estado de motivação. Motivação é um sentimento interno - é um impulso que alguém tem de fazer alguma coisa." (Rogers, Ludington e Graham, 1997, p. 2). O impulso leva a ação. Mas o que produz o impulso?

10. "Por que as pessoas se comportam desta ou daquela maneira?... 'Em quais condições as pessoas se comportam desta ou daquela maneira?'". Sobre estas duas perguntas, responda:
a. Qual a diferença estas duas formas de perguntar?
b. Por que os autores afirmam que a Psicologia deve buscar o "como", e não o "porquê"?
c. "A ciência não estuda causas, estuda relações".

Relacione esta frase com as perguntas "por que as pessoas..." e "Em quais circunstâncias as pessoas..."

11. "Um grande erro da psicologia tem sido tentar explicar toda essa complexidade, quando o mais adequado seria tentar descrever sob quais circunstâncias tais comportamentos complexos ocorrem". Por que os autores afirmam que a psicologia deve descrever em que circunstâncias os comportamentos ocorrem e não tentar explicar porque eles ocorrem?