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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

versão impressa ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.9 no.2 São Paulo dez. 2007

 

ARTIGOS

 

Verbal Behavior de B.F. Skinner: sua importância no estudo do comportamento

 

Verbal Behavior, by B.F. Skinner: its importance for the study of behavior

 

 

Rubén Ardila 1

Universidade Nacional da Colômbia

 

 


RESUMO

O livro Verbal Behavior (1957) foi considerado por seu autor, B. F. Skinner, como sua principal contribuição ao conhecimento. A linguagem é o mais complexo dos comportamentos humanos e tem sido estudado por inúmeras perspectivas. O livro Verbal Behavior foi o foco de muitas controvérsias e deu origem a um grande número de investigações. O primeiro idioma para o qual se traduziu este livro foi o espanhol, em 1981. Atualmente, a área do comportamento verbal encontra-se no centro de importantes desenvolvimentos na análise do comportamento, no behaviorismo radical e na psicologia científica em geral.

Palavras-chave: Comportamento verbal, Behaviorismo radical, Linguagem, Pós-skinnerianos.


ABSTRACT

The book Verbal Behavior (1957) was considered by B.F. Skinner as his main contribution to knowledge. Language is the most complex area of human behavior and it has been studied from many perspectives. The book Verbal Behavior was the focus of many controversies and gave origin to a large number of investigations. The first language to which the book was translated was Spanish, in 1981. At the present time the area of verbal behavior is at the center of important developments in behavior analysis, radical behaviorism and in general in scientific psychology.

Keywords: Verbal behavior, Radical behaviorism, Language, Post-skinnerians.


 

 

Linguagem e Análise Comportamental

A linguagem é o comportamento mais complexo de todos e um dos mais importantes para os seres humanos. Inúmeros trabalhos têm sido sobre psicolingüística, psicologia da linguagem e comportamento verbal. Esta é uma das formas de conhecimento mais investigadas, devido à relação entre linguagem e pensamento, ao papel que os eventos internos supostamente exercem sobre o comportamento, à forma como a linguagem contribui para a criação e à manutenção da cultura.

Na perspectiva da análise do comportamento, a abordagem pioneira é o livro Verbal Behavior, de Skinner (1957). Concebido inicialmente em 1934 e com importantes acréscimos e desenvolvimentos em 1944 e 1947, foi o tema das William James Lectures em 1948. Skinner considerava-o como sua principal contribuição ao conhecimento e a obra sempre foi motivo de muito interesse e controvérsia.

Verbal Behavior estuda o comportamento verbal como um problema empírico. Afirma que os sons lingüísticos são emitidos e reforçados como qualquer outro comportamento. Nessa análise funcional do comportamento verbal, ocupam lugar especial três conceitos propostos por Skinner: o mando, o tato e os autoclíticos. O mando representa uma ampla classe de afirmações que fazem solicitações ao ouvinte, como, por exemplo, “Por favor, traga-me um copo d’água”; representa ainda o comportamento verbal que está sob o controle direto de suas conseqüências. Os mandos são operantes verbais que especificam seu reforçador (“água”, no exemplo referido). A palavra “mando” deriva da palavra inglesa “command”, que em português significa mandar, ordenar.

O segundo conceito skinneriano, “tato”, refere-se basicamente à ação de denominar estímulos discriminativos. Trata-se de um comportamento operante que está sob o controle de estímulos não-verbais. Por exemplo, a palavra “vermelho” está controlada pela cor dos carros vermelhos, das maçãs vermelhas, das luzes vermelhas etc. O tato é um comportamento verbal que está sob o controle de seus antecedentes. Nomear ou denominar (“isto é vermelho”) é um tato.

O comportamento “autoclítico”, por outro lado, refere-se ao comportamento verbal que se baseia no papel do falante e depende de outros comportamentos verbais. Como por exemplo: “Não creio que...”, “Eu gostaria de dizer que...”. Segundo Skinner, os autoclíticos podem comentar sobre as outras respostas verbais que eles acompanham, ou podem especificar a força desse comportamento, ou ainda identificar o efeito que o evento em questão teve sobre o falante (“Gostei de saber que...”).

A teoria apresentada em Verbal Behavior estava muito distante do que estava em voga na lingüística e na psicologia. Teve muito pouco impacto sobre os psicólogos da época e foi muito mal recebida pelos lingüistas. A resenha que Chomsky (1959) escreveu sobre o livro, apesar de seus grosseiros erros de de conteúdo e de interpretação, foi levada mais a sério do que o livro de Skinner. Pode-se afirmar que muito mais gente leu essa crítica – negativa, virulenta e mal-informada – do que o livro original de Skinner.

 

A Tradução para o Espanhol

Sempre me preocupou que essa importante obra não houvesse sido traduzida para o espanhol, e que os psicólogos lessem unicamente referências secundárias sobre o livro, incluindo a crítica de Chomsky. Contactei várias editoras para lhes propor a sua tradução, mas não obtive resposta positiva. Skinner, com quem eu mantinha contato havia anos e conhecera pessoalmente em 1973, tinha muito interesse que fosse feita a tradução. Verbal Behavior não havia sido até então traduzido para nenhum idioma. Em uma importante editora, disseram-me que o livro era considerado impossível de traduzir. Finalmente, consegui que a Editorial Trillas, do México, que havia publicado vários de meus livros, se interessasse por essa tradução.

Dediquei-me mais de um ano a traduzir o livro e consultei Skinner muitas vezes a respeito de alguns conceitos. Foi um trabalho complexo e difícil, com muitas vicissitudes. Finalmente, Conducta Verbal apareceu em espanhol em 1981, sendo publicada pela Editorial Trillas. Recordemos que o original era de 1957.

Depois disso, o livro foi traduzido também para outros idiomas diferentes do espanhol. Não acredito, entretanto, que tenha tido muito impacto na comunidade psicológica da década de 1980. Sua importância real foi reconhecida muito depois, com os chamados “pós-skinnerianos”. Na obra de Hayes, Staats, Rachlin, Hineline, Moore, as idéias propostas inicialmente por Skinner em seu importante livro ocupam um lugar fundamental. Comportamento verbal é aquele que é reforçado pelo comportamento de outras pessoas. O falante e o ouvinte são parte da comunidade verbal. A análise funcional da linguagem é consistente com o tratamento de outros processos comportamentais: a função de um comportamento não é fixa, mas depende do contexto no qual ocorre. Ver, entre outros, Hayes, Hayes, Sato & Ono (1994), Baum (2005) e Ardila (2006).

 

Relevância Contemporânea

O tratamento skinneriano da linguagem tem tido implicações em áreas muito diversas como a terapia comportamental, a tecnologia do ensino e a psicologia social. O papel do comportamento verbal em nossa espécie é fundamental e representa a base da cultura humana. Não é algo que um sistema psicológico que busque explicar todo comportamento – de seres humanos e de outros animais – possa ignorar.

Espero que os psicólogos continuem encontrando as “gemas” ocultas na análise operante daquele que é o mais complexo de todos os comportamentos humanos: o comportamento verbal.

 

Referências Bibliográficas

Ardila, R. (2006). The experimental synthesis of behavior. International Journal of Psychology, 41, 462-467.         [ Links ]

Baum, W. (2005). Understanding behaviorism (2nd.ed.). Malden, M.A.: Blackwell.         [ Links ]

Chomsky, N. (1959). Verbal behavior by B.F. Skinner. Language, 35, 26-58.         [ Links ]

Hayes, S.C., Hayes, L. J., Sato, M., & Ono, K. (1994). Behavior analysis of language and Cognition. Reno, NV : Context Press.         [ Links ]

Skinner, B.F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.         [ Links ]

Skinner, B. F. (1981). Conducta verbal. (Traducido del inglés). México: Editorial Trillas.         [ Links ]

 

Recebido em: 03/26/2008
Primeira decisão editorial em: 04/16/2008
Versão final em: 06/04/2008
Aceito em: 06/04/2008

 

 

1Ph.D. Universidade Nacional da Colômbia.