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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

Print version ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.12 no.1-2 São Paulo June 2010

 

ARTIGOS

 

Contexto como determinante de comportamentos verbais públicos

 

Context as a determinant of public verbal behavior

 

 

Lorismário E. SimonassiI,1; Marcileyde TizoI,2; Ueliton dos Santos GomesI; Lenny Francis Campos de AlvarengaII

IPontifícia Universidade Católica de Goiás - PUCGO
IIUniversidade de Rio Verde - FESURV

Endereço para correspondencia

 

 


RESUMO

O presente estudo verificou como contextos verbais (instruções), e não verbais (objetos), exercem controle sobre respostas verbais em um episódio verbal total. Participaram desse estudo 10 alunos universitários com idades entre 19 e 26 anos. Os participantes foram expostos a quatro condições experimentais em um delineamento de sujeito como seu próprio controle. Nas Condições 1, 2 e 3 foi apresentada a instrução "Queime logo esta ponta aí.", sendo que, nas Condições 2 e 3, também foram apresentados estímulos não verbais. Na Condição 4, foi apresentada a instrução 'Queime logo esta ponta aí. Calma senhor, senão acabo estragando a roupa'. Os participantes, a cada condição, foram solicitados a apresentarem por escrito suas respostas. Verificouse que as variáveis manipuladas como contexto controlaram as respostas verbais dos participantes, isto é, estes passaram a emitir respostas verbais relacionadas aos estímulos verbais e não verbais apresentados a cada condição experimental. Explicações do controle contextual levaram em consideração os princípios de discriminação, generalização e relações condicionais arbitrárias.

Palavras-chave: Contextos verbais e não verbais; Comportamento verbal; Episódio verbal.


ABSTRACT

The present study ascertained how verbal contexts (instructions) and nonverbal contexts (objects) exert control over verbal responses in a total verbal episode. Participants consisted of 10 undergraduate students (19 to 26 years old). Four experimental conditions were employed by using subjects as their own control (withinsubjects design). In the first three conditions, the instruction "Burn this tip now" was given, but in the second and third conditions, nonverbal stimuli were also shown. In the fourth condition, the instruction 'Burn this tip now. Calm down, sir, or I will end up damaging your clothes' was given. For each condition, the participants were required to submit written answers. It was found that manipulated variables such as context controlled the participants' verbal responses in each experimental condition. Explanations of contextual control took into consideration principles of discrimination, generalization and arbitrary conditional relations.

Keywords: Verbal and non-verbal contexts; Verbal behavior; Verbal episode.


 

 

Comportamento verbal é um tipo especial de comportamento operante selecionado e mantido por reforçamento mediado por outra pessoa, o ouvinte (1957/1978). Ele é definido pelo efeito sobre o comportamento do outro e pelo seu caráter relacional, uma relação social.

Na proposta que Skinner (1957/1978) faz para análise do comportamento verbal, um dos pontos assinalados é de se fazer tal análise, olhandose para as variáveis controladoras que ocorrem no que ele chamou de episódio verbal total. Esse episódio ocorre quando há troca de papéis entre falante e ouvinte, isto é, o falante se torna ouvinte e o ouvinte, falante. No mesmo caminho Skinneriano, Simonassi e Cameschi (2003) tentaram especificar conceitualmente algumas destas relações, bem como já o haviam feito Hayes e Hayes (1989). No trabalho de Simonassi e Cameschi, foi analisado o episódio verbal buscando identificar as variáveis controladoras da relação falante/ouvinte e expandir a análise, para incluir a possibilidade de tal processo comportamental ocorrer envolvendo uma única pessoa. Portanto, mostraramse a possibilidade da análise operante do processo de resolução de problemas, onde uma ou mais pessoas desempenham funções de falante e de ouvinte de maneira alternada. Finalmente, argumentaram que, com base em eventos públicos, pode-se inferir ocorrências de comportamentos verbais privados que possibilitem investigações empíricas confirmadoras.

São poucos os trabalhos empíricos com este tipo de visão, destacando-se, entre eles, o trabalho de Leigland (1996), que analisa a interação verbal falante-ouvinte identificando no episódio verbal total, quais são as variáveis controladoras do comportamento do ouvinte que mantém o comportamento do falante.

Outro ponto de destaque feito por Skinner em sua proposta é o contexto. Ou seja, existe um conjunto de condições, todas de natureza física, química, biológica ou social, que servem de moldura para a ocorrência do comportamento. Nessa perspectiva, está sempre presente a idéia de classe de respostas e de multideterminação. Uma Análise Comportamental Contextual implica em analisar o estar fazendo, o estar realizando, o estar agindo, o que representa uma característica dinâmica, em contrapartida a um ato dado como pronto e estático (Carrara, 2004). Desta forma, é possível realizar uma análise relacional e, por isso, contextual (quem vai, vai a algum lugar; quem realiza, realiza algo; quem verbaliza, verbaliza sobre). Assim como Skinner (1957/1978) e Carrara (2004) fizeram análises conceituais sobre contexto, Catania (1998/1999) e Baum (2005/2006) também o fizeram. Estes enfatizam em suas análises sobre a importância do contexto na determinação de eventos comportamentais.

Nessa mesma linha de análise conceitual, Carrara e Gonzales (1996), afirmam que 'o comportamento será sempre, um comportamento no contexto e não pode ser compreendido com apelo a ações isoladas das partes envolvidas na interação (...) e para dimensionar o tamanho de qualquer parte do contexto que possa ser analisado, sem se perder de vista a idéia de significado, parece ser imprescindível a idéia de funcionalidade (...)' (p. 212).

O significado, como descreve Skinner (1974/2006), não é corretamente visto como uma propriedade da resposta ou da situação, mas sim como uma propriedade das contingências responsáveis pela topografia do comportamento e do controle exercido pelos estímulos. Tecnicamente, significado deve ser encontrado entre as variáveis independentes em uma descrição funcional, e não nas propriedades da variável dependente. Dessa forma, se um rato aciona uma alavanca para obter comida quando faminto, enquanto outro faz o mesmo para obter água quando sedento, as topografias de seus comportamentos podem ser indistinguíveis, mas podemos dizer que diferem no significado: para um dos ratos, acionar a alavanca 'significa' comida; para o outro 'significa' água. Estes são aspectos das contingências que puseram o comportamento sob controle da conjuntura atual. O 'significado' do comportamento verbal está em seu uso, suas conseqüências, dentro do contexto (Baum, 2005/2006). Assim, perguntar qual o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as consequências de sua ocorrência.

A mesma forma de análise contextual, feita por Skinner (1974/2006) com ratos, foi feita por Baum (2005/2006), em relação ao comportamento verbal. De acordo com Skinner (1957), verbalizações estruturalmente semelhantes podem pertencer a operantes verbais diferentes, dependendo do contexto. A manipulação deste pode determinar as variações estruturais do operante, que provavelmente ocorrerão.

Ao se falar de contexto, pode-se especificar estruturalmente dois tipos: (1) os verbais (falado, escrito ou gesticulado) e (2) os não verbais (objetos ou coisas). Tanto um como o outro, deve entrar na análise funcional do episódio verbal total. Segundo Moore (2000), que conceitualmente especifica a diferença entre palavras e coisas, denomina os estímulos não verbais de objetos. Esses estímulos não verbais, assim como os verbais, como parte do contexto, podem controlar o comportamento do falante no episódio verbal total.

De acordo com essas descrições basicamente conceituais sobre contexto que o presente estudo foi elaborado. Nota-se uma escassez de dados, estudos empíricos na literatura que mostrem experimentalmente a interação entre contexto verbal e não verbal sobre comportamento; como eventos contextuais podem determinar eventos comportamentais. Desta forma, o presente estudo se propôs a verificar como contextos verbais (instruções) e não verbais (um pedaço de barbante, ¾ de uma vela, e uma caixa de fósforos) exercem controle sobre respostas verbais em um episódio verbal total.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 10 estudantes universitários com idades entre 19 e 26 anos, de ambos os sexos, que não eram alunos de psicologia e não possuíam história experimental. Os participantes foram recrutados na universidade, através de convite verbal vocal feito pelos experimentadores. A única informação dada durante o convite era a de que o participante faria parte de um estudo em Psicologia, com duração média de 40 minutos. Ao aceitar participar do estudo, foram solicitados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, PUC-Go.

Situação e materiais

O experimento foi realizado no Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAEC), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em uma sala de aproximadamente 4 m2, com temperatura e iluminação artificial, contendo uma mesa e duas cadeiras.

Para a realização do experimento, foram produzidos três cartões de 10x10 cm. Em um dos cartões havia a instrução: "Queime logo esta ponta aí", que foi usada nas condições experimentais 1, 2 e 3. Um outro cartão foi usado na Condição 4, contendo a instrução "Queime logo esta ponta aí! Calma senhor, senão acabo estragando a roupa". Em um terceiro cartão havia a seguinte pergunta: 'Em qual contexto você acha que está frase foi dita?", esta foi usada em todas as condições experimentais (1, 2, 3 e 4).

Foram utilizados também alguns objetos, como ¾ de uma vela, um pedaço de barbante, uma caixa de fósforos, uma bandeja, papel sulfite, caneta esferográfica e uma urna lacrada. Todas as sessões foram filmadas.

 

Procedimento

Cada participante foi conduzido à sala experimental e solicitado a sentarse em uma cadeira, próxima à mesa. Sobre a mesa havia papel, uma caneta esferográfica e uma urna lacrada. Esta última foi usada por cada participante para depósito das respostas verbais escritas emitidas por eles a cada condição experimental.

Os participantes foram expostos a quatro condições experimentais em um delineamento de sujeito como seu próprio controle. Essas condições foram apresentadas em uma mesma sequência a todos os participantes, isto é, Condições 1, 2, 3 e 4. Estas foram realizadas em uma única sessão com cada participante, com duração média de 10 minutos cada condição.

O participante permanecia na sala experimental durante todo o experimento, já o experimentador se retirava a cada condição para que o participante respondesse livremente.

Condição 1

Nesta condição experimental com o participante sentado próximo à mesa, o experimentador entregavalhe um cartão com a seguinte instrução: "Queime logo esta ponta ai'. Em seguida, o experimentador entregava outro cartão ao participante com o estímulo verbal: "Em qual contexto você acha que esta frase foi dita?". O participante emitia a resposta verbal por escrito, depositava o papel na urna que se encontrava ao seu lado. Após o depósito na urna, finalizavase a condição e iniciavase a Condição 2.

A cada instrução apresentado ao participante, este era solicitado a ler a instrução e, ao terminar a leitura, era solicitado a avisar ao experimentador (ex: dizer "pronto", "terminei"). Após a apresentação dos cartões, o experimentador se retirava da sala. O participante emitia a resposta por escrito e depositava na urna. De forma semelhante foram conduzidas as demais condições (2, 3 e 4).

Condição 2

Esta condição foi semelhante à Condição 1, sendo que, além da apresentação da instrução "Queime logo esta ponta aí", o experimentador apresentava os seguintes estímulos não verbais (objetos): uma bandeja com uma caixa de fósforos e um pedaço de barbante. Nenhuma informação ou instrução adicional era apresentada pelo experimentador ao participante. O experimentador aguardava o participante olhar em direção aos objetos apresentados na bandeja, para que o segundo cartão fosse apresentado ao participante. No segundo cartão havia a pergunta: 'Em qual contexto, você acha que esta frase foi dita?' Após a apresentação dos cartões e dos objetos, o experimentador se retirava da sala. O participante emitia a resposta por escrito e depositava na urna.

Condição 3

Esta condição foi idêntica à Condição 2, porém o objeto barbante foi substituído por ¾ de uma vela.

Condição 4

Nesta última condição não foram apresentados estímulos não verbais (objetos) ao participante, e o tipo de instrução apresentada inicialmente foi alterado, para esta condição: "Queime logo esta ponta aí! Calma senhor, senão acabo estragando a roupa". Em seguida, foi apresentado o cartão com a pergunta: "Em qual contexto você acha que esta frase foi dita?" O participante novamente emitia a resposta verbal escrita em um papel e depositava na urna. Após o depósito, o experimentador agradecia ao participante pela sua colaboração e o experimento era encerrado. Os participantes não foram remunerados ou receberam qualquer outro tipo de recompensa pela participação no experimento.

 

Resultados

Os resultados foram analisados da seguinte forma: foi feita uma categorização das respostas verbais emitidas pelos participantes em cada condição experimental (Tabela 1). Depois, baseada nessa categorização, foi realizada a contagem das respostas relativas a objetos contextuais, assim como, as respostas relativas às ações contextuais, separadamente para facilitar a compreensão e análise dos dados. Estes dados foram apresentados em porcentagem na Tabela 2 (verbais emitidos relativos a objetos contextuais) e na Tabela 3 (verbais emitidos relativos a ações contextuais). O cálculo para a obtenção da porcentagem foi realizado da seguinte forma: calculou-se a frequência com que cada palavra foi emitida em cada condição experimental pelos participantes, multiplicouse essa frequência por 100 e, depois, dividiuse pelo total de participantes.

 

 

 

 

 

 

De forma geral, observase na Tabela 1 a categorização das respostas emitidas pelos participantes nas diferentes condições experimentais. Nessa tabela, pode-se verificar que algumas palavras foram emitidas frequentemente pelos participantes em uma mesma condição como as palavras rapaz/pessoa e droga/maconha, na Condição 1; a palavra barbante/cordão, assim como, a palavra queimar, na Condição 2. Na Condição 3, temos a palavra vela, assim como acender. Na Condição 4, temos a palavra roupa/calça e também a palavra queimar. Todas estas palavras relativas a objetos ou ações contextuais descritas neste parágrafo foram emitidas por quatro, seis, sete ou nove participantes em uma mesma condição experimental.

Como pode observar na Tabela 1, dentre essas palavras descritas no parágrafo anterior, várias outras palavras relacionadas também foram emitidas pelos participantes, sendo estas com menor frequência pelos participantes na condição. Esses dados foram apresentados mais especificamente nas Tabelas 2 e 3.

A Tabela 2 apresenta em porcentagem a frequência em que palavras relacionadas a objetos foram emitidas pelos participantes em cada condição. Destaca-se que um mesmo participante pode ter emitido de um a quatro objetos contextuais em uma mesma condição experimental. Isto também é válido para as ações contextuais apresentadas na Tabela 3.

Observa-se na Condição 1, que as palavras rapaz/pessoa e droga/ maconha foram emitidas com percentual igual a 40% cada, a palavra cigarro 30%, 10% a palavra mangueira e 10% corresponde à não emissão pelos participantes de palavras relacionadas a objeto contextual nesta condição.

Na Condição 2, a palavra barbante/cordão foi emitida com percentual igual a 70%, as palavras rapaz/pessoa, linha, trabalhos manuais, fósforo, decoração, festa infantil e escola foram emitidas 10% cada. Apenas um participante não emitiu resposta relacionada a objetos contextuais nesta condição.

Na Condição 3, a palavra vela teve frequência igual a 60%, a palavra luz teve frequência de 20% e outros 20% correspondem à não emissão de palavras relacionadas a objetos nesta condição. As palavras escuridão, energia, igreja e altar foram emitidas 10% cada. Por último, na Condição 4, a palavra roupa/calça foi emitida pelos participantes com frequência igual a 90%, a palavra linha foi emitida 70%, a palavra rapaz/pessoa foi emitida 50% e a palavra fogo foi emitida 10% nesta condição.

Na Tabela 3, apresentase a porcentagem das emissões de palavras relativas a ações contextuais a cada condição.

Na Condição 1, as palavras fumar e usar/utilizar foram emitidas 30% cada, as palavras acabar e queimar foram emitidas 20% cada e as palavras sobrar, indicar, experimentar, urgir e pedir foram emitidas 10% cada.

Na Condição 2, a palavra queimar foi emitida com um percentual igual a 70%, a palavra mostrar foi emitida com frequência igual a 20% e as palavras arrumar, preparar, compor e chamar foram emitidas com percentual igual a 10% cada.

Na Condição 3, a palavra clarear foi emitida 60%, queimar 40%, clarear 20% e pedir 10% pelos participantes.

Por último, na Condição 4, os percentuais obtidos foram: queimar com 70%; acabar com 20%; usar/utilizar, pedir, cortar, mandar, perceber, fazer e haver com 10% cada.

Nestas condições, uma palavra que, de certa forma, foi emitida com alta freqüência em quase todas as condições, foi "queimar".

 

Discussão

O presente estudo verificou como contextos verbais e não verbais exerceram controle sobre respostas verbais, em um episódio verbal total.

Com os dados obtidos neste estudo, pôdese verificar que variáveis como estímulos verbais e não verbais funcionam como determinante para o que Skinner chamou de episódio verbal total, isto é, as instruções verbais e os estímulos não verbais adquiriram funções determinantes do comportamento do ouvinte. Skinner (1957/1978) e Simonassi e Cameschi (2006) sugerem que o comportamento do falante, ao estabelecer ocasião para o comportamento do ouvinte, tornase estímulo discriminativo importante em um episódio verbal total. Os resultados do presente experimento fortalecem empiricamente tais sugestões.

Nota-se, ao descrever os dados, uma semelhança no responder dos participantes em uma condição e/ou nas diferentes condições experimentais. Isto não pode ser explicada dizendose que o comportamento de um participante pode ter influenciado o comportamento de outro participante, pois o estudo foi realizado individualmente e em diferentes momentos. Uma explicação plausível a essa semelhança é que as variáveis manipuladas (instruções e objetos) eram as mesmas para todos os participantes e, por isso, observouse uma repetição de palavras como: barbante/cordão na Condição 2; vela na Condição 3; roupa/calça na Condição 4. Desta forma, pode-se dizer que àquela instrução ou objeto apresentado especificamente em uma condição e não em outra, passou a exercer maior controle sobre as respostas dos participantes na condição em que o mesmo foi apresentado. Já na Condição 1, observase que não houve diferença significativa entre as respostas dos participantes, talvez porque não estavam familiarizados com a situação experimental.

Outro dado importante para essa discussão é referente à palavra "queimar". Esta foi emitida em todas as condições experimentais por duas, quatro ou sete vezes em uma mesma condição. A emissão dessa palavra em todas as condições por duas ou mais vezes se deve à apresentação da instrução "Queime logo esta ponta aí", que foi apresentada em todas as condições, do início ao final do estudo.

Portanto, contexto verbal e não verbal controlaram as emissões das respostas verbais relativas, tanto a estímulos não verbais, como verbais, em situações contextuais. Quando foi alterado o contexto, seja verbal ou não verbal, verificouse a alteração nas respostas verbais escritas dos participantes. Como afirmou Carrara e Gonzales (1996), 'o comportamento será sempre, um comportamento no contexto e não pode ser compreendido com apelo a ações isoladas das partes envolvidas na interação. Assim como Skinner (1974/2006, p. 79) descreveu: 'o significado de uma resposta não está em sua topografia ou forma, (...) deve ser buscado em sua história antecedente' (Skinner, 1974/2006, p. 80). Acrescentese à história antecedente o controle contextual como demonstrado no presente experimento, especialmente às respostas emitidas aos objetos estímulo introduzidos e que estavam relacionados diretamente ao contexto e outros objetos, que possivelmente, fazem parte da mesma classe de estímulos.

Nestes casos, propriedades dos estímulos emitidos no contexto apresentado controlaram as demais respostas emitidas, pois os estímulos objetos podem partilhar de propriedades físicas ou arbitrárias dos outros objetos descritos. Por exemplo, na Condição 3, ao se introduzir o objeto vela e a resposta correspondente ser emitida, também foram emitidos luz, escuridão, energia, igreja e altar. Todos estes objetos partilham propriedades de estímulos físicos ou arbitrários em comum com o objeto vela, o que deu oportunidade de serem emitidos. Restanos saber quais foram por generalização e quais foram por relações arbitrárias. Apesar de ambas certamente estarem presentes, este experimento não permitiu afirmar a extensão de cada uma delas.

 

Referências

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Endereço para correspondencia:
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Recebido em: 13/08/2008
Aceito para publicação em: 16/06/2010

 

 

Agradecimento: Agradecemos os colegas do LAEC Cláudio Herbert Nina e Silva, Flávio da Silva Borges e Luiz Carlos do Nascimento Jr pela ajuda indispensável na coleta e análise de dados do presente artigo e ao amigo Cristiano Coelho, pelas valiosas considerações finais. Agradecimentos ao CNPq processo nº. 301881-88-0 - PQ do primeiro autor.
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