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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.1 no.1 Fortaleza Sept. 2001

 

RESENHA DE ARTIGOS

 

 

Henrique Figueiredo Carneiro

 

 

José Luiz Caon
SERENDIPIDADE, COMPARATISMO E TRANSDISCIPLINARIDADE DA PESQUISA PSICANALÍTICA: contribuição para o entendimento da formação de insocorridade humana numa experiência de situação-limite.
(Publicado em Ciência, Pesquisa, Representação e Realidade em Psicanálise, organizado por Raul Albino Pacheco Filho, Nelson Coelho Júnior e Miriam Debieux Rosa. São Paulo: EDUC/Casa do Psicólogo, 2000).

O artigo de José Luiz Caon traz uma série de elementos interessantes para quem transita no terreno das pesquisas psicanalítica e em psicanálise. Creio que o maior mérito reside nas dúvidas e discussões que o pesquisador em psicanálise enfrenta quando, sendo um psicanalista, se vê situado no campo da produção de saber no âmbito do discurso universitário. Digo isso porque essa foi uma discussão travada no curso de Método Psicanalítico de Pesquisa, que ora desenvolvo com os alunos do Curso de Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O artigo nos leva a refletir, por exemplo, que não há pesquisa psicanalítica e em psicanálise que não ratifique o aspecto da insocorridade, quando levamos em conta o objeto da nossa investigação. O sujeito, esse que engendra através dos fenômenos pesquisados no campo do social um problema que move o pesquisador através do seu desejo, aparece na concepção do autor como uma referência à serendipidade, mostrando que assim como não há acaso em psicanálise, não haverá também descobertas surpresas no campo da pesquisa em psicanálise. O que vai existir é um resultado elaborado. Como tal, diferente da suspeição inicial que leva o autor a formular um problema de pesquisa.

Como método, o autor discute as referências à multidisplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, ficando essa última como aquela que prestaria um melhor papel à pesquisa em psicanálise, na medida em que ela municia o pesquisador com o seu próprio objeto disciplinar, isto é, aquilo que pertence à sua própria área de (des)conhecimento e que o permite atravessar e manter um diálogo com outras disciplinas sem que sejam afetadas, pelo menos nesse momento, as construções de saber inerentes à essas disciplinas. No final dessa travessia realizada, nos afirma o autor que os efeitos do trabalho com a transdiciplinaridade resgata a possibilidade de reconstituir um novo problema para aquelas e outras disciplinas constituintes do saber vigente.

Finalmente, de posse de todas essas referências, o autor nos reapresenta o método comparativo, como uma autêntica peça que viabiliza um exercício de aproximação e distanciamento dos objetos tocados na travessia proposta pela trandisciplinaridade. Um método que permite uma intensão e uma extensão. Um exercício dentro e fora quando pensamos as cartografias do desejo do pesquisador psicanalítico e em psicanálise.

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