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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. v.2 n.1 Fortaleza mar. 2002

 

ARTIGOS

 

Subjetividade, crise e narratividade

 

 

Maria Gercileni Campos de Araújo

Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da UFC. Psicóloga, Mestra e Doutora em Psicologia Clínica pela USP. End: R: Leonardo Mota, 1420. Ap. 802. Aldeota - CEP 60170-040. Foprtaleza-CE. e-mail: gercycampos@hotamil.com

 

 


RESUMO

Parte-se do pressuposto de que a subjetividade se engendra no social, incluindo modos de organizar as experiências do cotidiano, as formas singulares de agir, pensar e sentir. Contempora-neamente, a concepção de subjetividade desloca-se da herança Moderna, que a fazia equivalente à noção de sujeito auto-reflexivo, nos moldes cartesianos. A subjetividade não se reduz à coincidência consigo mesma, princípio de identidade, nem se confunde com a interioridade acessada pela ação reflexiva.
A subjetividade está para além do eu, da individualidade, do si mesmo. Discutem-se os modos de produção da subjetividade apontando para a crise a que estão submetidas as sociedades capitalistas, como o Brasil. Apoia-se na hipótese de que essas sociedades tendem a bloquear processos de singularização e a perpetrar processos de individualização em série. Ameaçados na singularidade de seus modos de vida, os homens passam a organizar suas experiências segundo padrões universais que fabricam individualidades seriadas e manipuladas que proliferam como emblemas nos canais da mídia. Discute-se a noção de subjetividade enquanto ethos, e a concepção de experiência narrativa, nos termos de Walter Benjamin, articulando os espaços psicoterápico e psicanalítico, como dispositivos ofertados pela civilização do século XX, em que se pode tentar resgatar a possibilidade da singularização e da historicidade de subjetividades.

Palavras-chave: Subjetividade, narratividade, clínica psicanalítica, contemporaneidade, psicoterapia.


ABSTRACT

We start with the assumption that subjectivity is inbedded in the social, including the ways of organizing the daily experiences, the singular forms of acting, thinking and feeling. Nowadays, the notion of subjectivity moves out from the Modern inheritance, which understood it as equivalent to the notion of self-reflective subject within the cartesean frames. Subjectivity isn't reduced to the coincidence with itself - the principle of identity - and shouldn't be misconceptualized as the interior accessibility of reflective action.
Subjectivity is beyond the "I", the individuality and the self. In this article is discussed the modes of subjectivity productiontaking into consideration the crisis which undertake capitalist societies like Brazil. The discussion is funded in the hypotheses that these societies tend to block the processes of individuation and propagate processes of individualization in series. Human beings by feeling threatened in the singularities of their styles of living, end up organizing their experiences according to the universal patterns that manufacture individualities which are manipulated in series. These patterns are conveyed as emblems through media channels. The notion of subjectivity is discussed as ethos, and the notion of narrative experience in the terms of Walter Benjamin, articulating psychotherapeutic and psychoanalytic settings, as spaces offered by the XXth century civilization, where it may be tried to rescue the possibility of singularization and historicity of subjectivities.

Keywords: Subjectivity, narrativity, psychoanalitical clinic, contemporaneity, psychotherapy.


 

 

A Modernidade funda o princípio "identitário" para significar subjetividade. Assim concebia-se a subjetividade organizada em referência à representação de si, identidade consigo mesma, apontando para a essência de si, tida como relativamente estável e referendada pelo "penso, logo existo", de Descartes. Tem-se, no sujeito reflexivo cartesiano, o fundamento do conhecimento de tudo aquilo que é. E o que é, é no presente, atesta a metafísica da presença.

Como conseqüência, acostumamo-nos a pensar a subjetividade como identidade, como consciência reflexiva, como igual às representações que cada um tem de si mesmo, ou ainda, a pensar a subjetividade pelos modos como se manifesta. Noutros termos, pelos modos como alguém realiza as atividades cotidianas: como vive, se veste, exerce sua sexualidade, trabalha, se diverte, etc. Essas várias formas de expressão comporiam uma espécie de perfil da subjetividade que a permitiria reconhecer-se e ser reconhecida pelos outros.

Na contemporaneidade, a concepção de subjetividade como perfil mais ou menos estável de si mesmo parece não mais se sustentar. Hoje, dizer "sujeito" não significa dizer "subjetividade". A subjetividade não mais se reduz à coincidência consigo mesmo, nem tampouco a uma interioridade acessada pela reflexão. Contemporaneamente, a subjetividade é compreendida como o modo de organizar as experiências do cotidiano, os universos de sensações e representações.

Podem-se indagar as razões para esta reviravolta na concepção de subjetividade e a que vários autores dedicaram estudos1 .

No âmbito deste trabalho, apenas queremos registrar que o deslocamento da noção de sujeito, como centro e essência da subjetividade, para incorporar uma densidade plural de sensações, de formas de pensar e de organização perceptual, opera-se a reboque da aceleração "supersônica" de mudanças através do tempo. "Já não habitamos um lugar, mas a própria velocidade"2 , diz Paul Virílio.

Também é possível conceber a subjetividade enquanto "ETHOS", e, nesse sentido, ela dirá respeito a território, habitação, moradia. Mas a que moradia nos referimos? Naffah Neto vem esclarecer a questão quando refere esse "ETHOS" como "uma espécie de envergadura interior, um vazio, capaz de acolher, dar abrigo e moradia às experiências de vida: percepções, pensamentos, fantasmas, sentimentos..."3 .

Sem esse espaço psíquico, continua Naffah Neto, as experiências humanas não encontrariam lugar de registro e de expressão e seriam negadas ou projetadas alhures. Para o autor, o trabalho clínico, visando ao desenvolvimento desta envergadura interior, para que esta possa abrigar os acontecimentos da vida, permitirá uma maior capacidade de elaboração psíquica por parte do cliente.

A subjetividade, como ethos, será então o espaço/moradia onde se organizam as nossas experiências existenciais, será o território no qual nos situamos, para podermos estabelecer relações com os outros, e para atribuir significado às experiências vividas. Sob nosso ponto de vista, esse significado se constitui junto com a própria produção da experiência cotidiana. A subjetividade se engendra no social e, o tempo todo, mantém com ele relações recíprocas de mútua constituição.

Estamos diante da multiplicidade como dimensão da subjetividade. Se o princípio "identitário" moderno tentava preservar a subjetividade em sua essência, a emergência da ultravelocidade, com que acontecem as mudanças sociais, políticas, culturais, etc, (certamente constituídas a partir das interações intersubjetivas), produz, permanentemente, desestabilizações nas subjetividades que precisam, periodicamente, reinventar novas maneiras de existência para poder interagir com os diversos universos, de forma a organizar suas sensações e experiências, com alguma harmonia, enfrentando o medo do despedaçamento. A força e intensidade das sensações do universo das subjetividades transformam-se ao longo da existência e produzem sensações novas, às vezes imprevisíveis, indizíveis, incapazes de serem traduzidas.

 

A crise...

Rolnik4 adverte que a velocidade das mudanças pode conduzir a sensações de inadequação, como o sentir-se estranho ou estrangeiro consigo mesmo, justamente porque operou-se o descompasso entre a realidade sensível e sua realidade expressiva. Tudo parece sem sentido. Dá-se uma espécie de estranhamento. Não mais consigo me reconhecer. Procuro a permanência em que sou mudança. Não compreendo o que sinto, experimento, penso. Sinto-me angustiada, desalojada de mim, sem me reconhecer um lugar no meu mundo de significados. Sofro. Quase fico aterrorizada, pois vivo a perda de uma figura de referência minha (a de professora competente, por exemplo) como um esvaziamento de minha própria subjetividade. Tudo está ameaçado.

A vivência do estranhamento pode mobilizar a invenção de novas formas de existência, de maneira a ressignificar os novos universos de sensações em engendramento. Mas, quando as pressões sobre a subjetividade tornam-se ameaças de aniquilamento, de despedaçamento e ultrapassam o limite tolerável, dá-se o caos, a desorganização do mundo de significados humanos, a loucura. Posso fazer tentativas de acalmar meu desassossego através da anestesia das sensações, para tentar continuar igual a mim mesma, tentando resgatar-me pelo princípio "identitário". De repente, percebo que não estou só no turbilhão de mudanças em que tento equilibrar-me surfando sobre ondas velozes que se transformam noutras e noutras, exigindo, sempre, mais maestria para manter-me lá.

A questão da ameaça às subjetividades, sobretudo no que tange à sua singularização, parece agravar-se nas sociedades capitalistas. A esse respeito escreveram Guattari e Rolnik5 que dizem que as sociedades capitalistas tendem a bloquear os processos de singularização e a instaurar processos de individualização. Os modos singulares de vida são desmanchados pelas pressões e ofertas do mercado e os homens passam a se organizar em padrões universais que os seriam, tornando-se meros indivíduos6 . São intercambiáveis. A referência cotidiana deixa de sê-lo para a criação de novas maneiras de organizar o dia-a-dia. Compram-se, no mercado soluções prontas, montadas, seriadas, prêt-a-porter, como diz Rolnik. Cada um pode receber, sob certas exigências mais ou menos exeqüíveis, sua carteirinha de ingresso em clubes fechados, sociedades científicas, organizações religiosas e muitos outros grupos que ofereçam uma referência "identitária" para quem não mais se vê como antigamente e tampouco sabe para onde aponta o seu devir.

Quando falamos de ameaças à nossa subjetividade, queremos dizer ameaça a qualquer figura de nossa referência. Nestes tempos de velozes mudanças, mudam os universos que nos habitam. Por exemplo, transforma-se o referencial teórico-científico que norteava nossa práxis. Este parece não mais atender às nossas dúvidas, críticas e inquietações. É preciso, no entanto, buscar soluções para as questões que nos permitam navegar na direção da ousadia de criar um território singular. Parece não haver lugar para ele - o território singular - no circuito das subjetividades seriadas, que nos são oferecidas permanentemente, no mercado capitalista. Surge o medo da marginalização, de "ficar de fora", se quisermos manter a independência, arriscando o novo, o diferente, rejeitando as subjetividades seriadas. Se se vence o medo, somos tentados, como recurso último de sobrevivência, a recorrer ao grupo das identidades reconhecidas. Nesse caso, teremos navegado na direção da igualdade, da seriação, da mesmice. Para não correr o risco de ficar "por fora" do circuito do mercado, abrimos mão da experiência da singularização, rejeitamos a angústia do estar como estamos que nos conduz ao ainda "não sei onde", a territórios desconhecidos.

Dentre as soluções que anestesiam o desassossego e o assombramento, aparece tanto o uso das drogas proibidas como as promessas de longevidade para os consumidores diet/light e para os cultuadores da boa forma física, as promessas de redenção e melhoria, nesta vida ou após a morte, oferecidas ao consumo por seitas religiosas e, ainda, espiritualização e promessas de conquistas interiores que vêm a reboque da literatura de auto-ajuda e de certas terapias alternativas.

As identidades imaginárias oferecidas por esses dispositivos sociais são uma tentação de consumo rápido. É preciso estancar a angústia de ser diferente, um fora de órbita, fora de lugar, um despejado de si mesmo, portanto urge a rapidez da solução vendida na vitrina de ofertas. Convém não esquecer que, no topo de todo esse aparelhamento de ilusões "identitárias", estão as figuras "glamourizadas", imagens da TV, gente do circuito das elites brasileiras de toda ordem, de atores e personagens de ficção.

É do imaginário que se alimenta a mídia capitalista brasileira. Com a perfeição da ficção, a mídia cria figuras "glamourizadas" que (usam o sabonete das estrelas) vendem para nós a esperança de nos tornarmos iguais a elas, e assim sermos felizes.

 

Examinando alternativas

Será possível a nós, menos mortais, escapar à mesmice? Ora, há um certo conforto no grupo de semelhantes. Precisamos dele. A solidão heróica não nos parece solução! Como fazer o trânsito? Como pertencer sem nos sentirmos aprisionados?

Certamente não temos a pretensão de oferecer respostas a estas questões, mas formulá-las nos permite pensar: também não queremos jogar lenha na oposição entre indivíduo x sociedade, até porque ela nos parece falsa.

Todavia gostaríamos de compartir algumas idéias que nos acompanham desde 1992, quando concluímos o doutorado, acerca da clínica psicoterápico-/psicanalítica e a experiência narrativa, acrescidas de inquietações mais recentes.

A questão que hoje se coloca é: se estamos bombardeados pela mídia, por uma verdadeira feira de subjetividades seridas, universalizadas, manipuladas, verdadeiras próteses de subjetividades para serem consumidas por todos, como as subjetividades poderão engendrar-se na singularidade? Como inventar novas formas de existência? Como acessar, nas experiências vividas, os sentidos que nos escapam ou parecem ter se deslocado de nossa história? Como inventar novos territórios de habitação?

Do nosso ponto de vista, tentar uma resposta a essas questões, apontando caminhos fechados, seria correr o risco de repetir o pecado que denunciamos, e nos tornarmos, igualmente, mais um a vender próteses de subjetividades.

Assim, cientes da transitoriedade da argumentação, lembramos que a práxis clínica nos tem colocado diariamente frente a sofrimentos que afligem tantas subjetividades. E, em última análise, o que fazemos é oferecer-lhes a nossa escuta. Escuta de suas histórias e das lacunas de suas histórias. Lacunas, sobressaltos, esquecimentos, hesitações...Daí por que é fácil recorrer a Paul Ricouer quando diz: "(...) para responder à pergunta 'quem sou', 'o que desejo', preciso começar a narrar"7 . Narrar as experiências sem, contudo, tentar enquadrá-las na linearidade causal, dizemos nós.

É curioso perceber que à pergunta "quem sou?", que, à primeira vista, parece indicar caminhos para a busca de uma essência e estabilidade, Ricouer tenha apontado um caminho transitório: "preciso começar a narrar?". Ora, começar a narrar implica experiência processual, em que o narrador está constantemente emprestando-se como co-autor do narrado. Lembramos Benjamim, que, num de seus textos mais brilhantes sobre a experiência narrativa, declara:

...a narração não tem a pretensão de transmitir um acontecimento, pura e simplesmente (como a informação faz) integra-o à vida do narrador para passá-lo ao convite como experiência. Nela ficam impressas marcas do narrador como os artigos das mãos do obreiro no vaso de argila.8

Em "Tempo e Narrativa", Ricoeur tenta mostrar que a narração de uma história é precedida por uma pré-história que foi vivida pelo narrador de forma passiva. Assim, as histórias me acontecem antes que eu as narre. Entre a experiência vivida e sua narração posterior, realiza-se um ato de configuração como colocação em intriga. Nesse segundo momento, o "texto escapa da nascente para sua vertente" como diz David Levy.

Ora, esse acontecimento só se dá, dirá Ricoeur, porque existe a pré-narratividade latente na experiência. Vejamos as palavras do mestre filósofo: "...trata-se de reconstituir o conjunto de operações pelas quais uma obra (um discurso, uma narrativa) arranca-se do fundo opaco do viver, do agir e do sofrer para ser dada por um autor a um leitor( ou ouvinte) que a receber e, assim, mudar seu agir"9 .

Wilhelm Schapp, filósofo e jurista alemão, publicou, em 1953, o primeiro volume de uma trilogia dedicada à fenomenologia da narratividade, chamado "Enredado em histórias"(Geschichten Verstrickt), em que defende que o homem é constituído nas suas histórias e nelas está enraizado, por isso só deveria ser abordado através delas. O enredamento, em histórias, seria ontológico e haveria um enredamento coletivo que é anterior às histórias individuais.

Em "O Narrador..."10 , Walter Benjamin examina a experiência narrativa, como momento privilegiado da troca de experiências pessoais em que narrador e ouvinte constituem, pela mediação da história narrada e da escuta atenta, uma nova história em gestação.

Na experiência narrativa, herança dos tempos medievais, o Narrador era, preferencialmente, o homem do mar, que trazia histórias de terras distantes e o mestre artesão, exímio em sua arte, que, enquanto ensinava o ofício a seus aprendizes, contava-lhes histórias vividas por ele ou por seus antepassados, ensinava-lhes sabedoria. O narrador envolvia-se profundamente naquilo que narrava e impunha sua marca, e o ouvinte deixava-se penetrar pela história, arriscando, aqui e acolá, algum conselho, que não tinha a conotação pejorativa dos tempos atuais, e era muito mais um jeito que o ouvinte encontrava de fazer prosseguir a história.

Através da oralidade, aprendiam-se os usos e costumes, valores e crenças, ritos e crendices, enfim estilos de vida de povos. A cultura se transmitia pela tradição oral de geração a geração. Mas o mais importante, na experiência narrativa, nos termos de Benjamin, residia na íntima troca de experiências entre narrador e ouvinte, que, naquele momento, engendravam outra história a ser contada um dia.

O desaparecimento da experiência narrativa anunciado por Benjamin, na contemporaneidade, foi por mim constatado por ocasião de minha Tese de Doutorado11 , quando percebi que a figura do "contador de histórias"12 , tradicional personagem do Nordeste Brasileiro, estava em extinção. A tradição oral cedeu lugar ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. A narrativa foi preterida pela informação rápida e precisa dos canais da mídia.

Na Modernidade, inaugura-se a valorização das experiências interiores, íntimas, intensas, significativas, e de difícil acesso pela alteridade. Assim, se pensarmos a clínica psicoterápica e psicanalítica, diremos que o terapeuta/analista, ao ouvir seu paciente, ouve um sujeito enredado em histórias. Trata-se, como diz Ricouer, de reconhecer "de que forma a história de uma vida procede de histórias não contadas e recalcadas, indo em direção a histórias efetivas que o sujeito assume e as considera constitutivas de sua identidade pessoal(...)"13 .

Hoje, reafirmamos14 nossa convicção de que a experiência psicanalítica e todas as formas de psicoterapia que facilitam ao indivíduo a produção e compreensão dos nexos de sentido, dispersos em suas múltiplas histórias, constituem, por certo, os espaços privilegiados de permanência da experiência narrativa na contemporaneidade. Há certamente que distinguir as peculiaridades das duas situações. Indo além, consideramos a Psicanálise e as psicoterapias que se ocupam da historicidade (reconstrução do passado mediado pela vida presente) do sujeito como espaços para a reinvenção de novas formas de existir, de territórios existenciais mais criativos. Dito de outro modo, são espaços para a reinvenção de formas singulares de subjetividade.

Haverá outros com certeza. Eu me pergunto: o que dizer de outros modos de narrar-se? Reporto-me agora a certas experiências que oferecem, aos indivíduos, a possibilidade de dizer de si, de sua história em espaços nos quais se sentem escutados, como, por exemplo, nas reuniões de Alcoólicos Anônimos ou de Neuróticos Anônimos. O que será possível incluir nesse segmento de formas de compartir histórias de vida? Será preciso estar aberto ao desconhecido e deixar-se surpreender pelo cotidiano.

 

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. O narrador: observações sobre a obra de Nicolai Leskov. In: Textos Escolhidos. Coleção "Os pensadores". São Paulo. Abril cultural. 1980.         [ Links ]

CAMPOS DE ARAÚJO, Maria Gercileni. Histórias de Amor no Cordel e Psicoterapia. Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, 1992. (Tese de doutorado).         [ Links ]

FIGUEIREDO, Luis Claudio. Modos de Subjetivação no Brasil e Outros Ensaios. São Paulo. Educ/Escuta. 1996.         [ Links ]

GUATTARI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica: Cartografias do Desejo. Petrópolis. Vozes. 1996.         [ Links ]

LEVY, David. Psicanálise e Narratividade. Pulsional: Revista de Psicanálise, ano VII, nº 60, abril. 1994.         [ Links ]

NAFFAH NETO, Alfredo. A Subjetividade enquanto Ethos. Cadernos de Subjetividade, V. 3. São Paulo, 1995.         [ Links ]

PELBART, Peter Pal. Subjetividades Contemporâneas. In: Subjetividades Contemporâneas, Ano 1, nº 1, São Paulo, 1997.         [ Links ]

RICOEUR, Paul. Temps et Récit. Paris. Seuil. 1983.         [ Links ]

 

 

Artigo aceito em 08 de janeiro de 2002

 

 

Notas

1. No Brasil, vejam-se os trabalhos de Luís Cláudio Figueiredo, de Alfredo Naffah Neto, de Peter Pal Pelbart e Suely Rolnik, pesquisadores do Núcleo de Pesquisa da Subjetividade da PUC de São Paulo.
2. Palavras de Paul Virílio anunciadas por Peter Pal Pelbart em Subjetividades contemporâneas, In: Subjetividades contemporâneas, ano 1, nr 1, São Paulo, 1997.
3. Alfredo Naffat Neto, A subjetividade enquanto Ethos In: Cadernos de subjetividade, 1995, V.3, p.198
4. Felix Guattari e Suely Rolnik. Micropolítica: Cartografia do desejo. 4ª Edição. Petrópolis, Vozes, 1996.
5. Felix Guattari e Suely Rolnik, op. cit., p. 38.
6. A respeito de "meros indivíduos", ver o ensaio de L. C. Figueiredo publicado em Modos de Subjetivação no Brasil e outros ensaios, São Paulo, Educ, Escuta. 1996.
7. Paul Ricoeur. "Temps et Récit", Seuil, 1983. No presente texto, as referências a esta obra de Ricouer são feitas via David Levy, Psicanálise e Narratividade. In: Boletim de Novidades Pulsional, ano VII, nº 60, abril 1994.
8. Walter Benjamim. O Narrador: observações sobre a obra de Nikolai Lesbov. In: Textos escolhidos. São Paulo, Abril Cultura, 1980 (Os Pensadores).
9. Paul Ricoeur, "Tempos et Récit", 141-3, Paris, Seuil, 1983, appud David Levy, Psicanálise e Narratividade In: Boletim de Novidades Pulsional, ano VII, nº 60, abril 1994.
10. Walter Benjamim, op. cit.
11. Para outros detalhes, consultar Maria Gercileni Campos de Araújo. Histórias de Amor no cordel e na psicoterapia. Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, junho de 1992. (Tese de Doutorado).
12. O contador de histórias no Nordeste Brasileiro é uma herança também dos tempos da escravatura, quando os negros contavam as histórias de suas origens e de sua terra para os filhos dos senhores seus donos. Lembram que lá, na terra distante, eram importantes, às vezes, até mesmo filhos de reis.
13. Paul Ricouer, appud Levy, op.cit., p.43.
14. Já havíamos chegado a essa conclusão em nossa Tese de Doutorado, em 1992. Cf. Maria Gercileni Campos de Araújo, op. cit.

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