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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. v.2 n.2 Fortaleza set. 2002

 

ARTIGOS

 

A psicologia ambiental na Universidade de Fortaleza – UNIFOR*

 

 

Sylvia Cavalcante

Doutora em Psicologia Ambiental pela Université Louis Pasteur, Strasbourg-França. Professora de Psicologia Ambiental da Graduação de Arquitetura e do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza. R: Vilebaldo Aguiar, 95 Apto. 1002 - CEP: 60190-780. e-mail: sylvia@secrel.com.br

 

 


RESUMO

Este trabalho relata o estágio da prática acadêmica na área da Psicologia Ambiental na Universidade de Fortaleza. A partir de uma perspectiva temporal, ele está dividido em três grandes partes: o histórico onde apresento como a área tomou corpo dentro da Universidade; a situação atual onde descrevo os diversos itens – dissertações de mestrado, pesquisas de Iniciação Científica, ensino nas graduações de Arquitetura e Psicologia, atividades do Laboratório de Estudos das Relações Humano Ambientais – da pesquisa, do ensino e das perspectivas de extensão, e a última, que chamo de perspectivas futuras, onde faço uma reflexão sobre as possibilidades de atuação que se descortinam. Ao final concluo apontando possíveis caminhos para a consolidação da Psicologia Ambiental tanto na Universidade como dentro do contexto brasileiro, ao mesmo tempo em que destaco os aportes característicos dessa abordagem para a questão ambiental contemporânea.

Palavras-chave: psicologia ambiental; ensino; pesquisa; universidade.


ABSTRACT

This paper presents a report about the stages of the academic practice in the área of Environmental Psychology at the University of Fortaleza – UNIFOR. From a developmental perspective, it was organized into three main sections : the historical aspects describes how this area was implemented at UNIFOR ; an up-to-date overview where the academic production such as research paper's, master's thesis and dissertations are listed and also the teaching activities in the courses of Architecture and Psychology as well as the Laboratory of Studies of Human-Environment Relationships are outlined; the last section presents what was called the future perspectives with an analysis of the possibilities of growth for this area .Finally as a conclusion it is presented the possible ways for the area of Environmental Psychology at this university and in the Brazilian context where, at the same time, the major contributions of this approach to the central contemporary environmental questions are discussed

Keywords : Environmental Psychology; teaching; research; university.


 

 

Introdução

A proposta deste trabalho é relatar o estágio da prática acadêmica – ensino, pesquisa e extensão – na área da Psicologia Ambiental (PA) na Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Impõe-se, portanto, logo de início, identificar esses dois objetos.

A Universidade de Fortaleza é a maior universidade privada do estado do Ceará, tendo sido fundada em 1973, por um dos mais fortes grupos econômicos do estado, o Grupo Edson Queiroz, que criou e designou como sua mantenedora uma Fundação com o mesmo nome. A instituição possui 31 cursos de graduação em pleno funcionamento, 34 de pós-graduação lato sensu (32 especializações e 2 MBA) e 10 pós-graduações stricto sensu (9 mestrados e 1 doutorado). Seu corpo docente e discente é constituído, em sua maioria, pelas classes média e alta de Fortaleza, e atualmente perfaz um total de mais de 20 mil pessoas: 836 professores e 20 mil alunos distribuídos em 5 centros de graduação – Centro de Ciências Humanas – CCH, Centro de Ciências Jurídicas – CCJ, Centro de Ciências da Saúde – CCS, Centro de Ciências Administrativas – CCA e Centro de Ciências Tecnológicas – CCT – e no setor de pós-graduação. A universidade possui ainda 800 funcionários entre administração superior, serviços gerais e manutenção. São, portanto, quase 22 mil pessoas que convivem em seu campus de 55 hectares, 245 salas de aula e 105 laboratórios, quatro auditórios, um parque esportivo e Biblioteca com 43.615 títulos e cerca de 140.000 volumes.

Nesse contexto, a Psicologia Ambiental, abordagem que estuda a relação recíproca entre o homem e o meio ambiente do ponto de vista da psicologia, está inserida, tanto no Centro de Ciências Humanas (Psicologia) como no Centro de Ciências Tecnológicas (Arquitetura). Segundo Sommer (2000, p. 3), a Psicologia Ambiental é, ao mesmo tempo, "uma sub-disciplina dentro das ciências do comportamento e um campo de estudo envolvendo pessoas de uma variedade de disciplinas e profissões." Apesar de me identificar e ter sido treinada para observar principalmente os aspectos humanos da relação homem-ambiente, julgo impossível não considerar os aportes trazidos por profissionais de outras áreas, até mesmo pelo lugar que ocupo e pelas responsabilidades que detenho dentro desta Universidade.

Sendo assim, no presente trabalho exponho, principalmente, o que vem sendo realizado na perspectiva da Psicologia Ambiental, na área das ciências humanas na Universidade de Fortaleza, sem no entanto deixar de olhar para as contribuições dos profissionais de outras áreas quanto ao estudo do ambiente, apesar de, neste ensaio, não me aprofundar nesse aspecto.

O trabalho está dividido em três grandes partes: a primeira ocupa-se do histórico, onde exponho como a área tomou corpo dentro da Universidade; a segunda, intitulada situação atual, expõe, através de diversos itens – as dissertações de mestrado, as pesquisas de Iniciação Científica, o ensino nas graduações de Arquitetura e Psicologia, o Laboratório de Estudos das Relações Humano-Ambientais – LERHA, entre outros – a pesquisa, o ensino e as perspectivas para a extensão, e a última, que chamo de perspectivas futuras, apresenta uma reflexão sobre as possibilidades de atuação que se descortinam.

Ao final, concluo, apontando possíveis caminhos, indicados pela presente reflexão, para consolidar a PA tanto na Universidade como dentro do contexto brasileiro, ao mesmo tempo em que destaco os aportes característicos dessa abordagem para a questão ambiental contemporânea.

 

Histórico

A Psicologia Ambiental na Universidade de Fortaleza começou a existir no segundo semestre de 1998, com a criação do Curso de Arquitetura, ocasião em que foi incluída já no primeiro semestre do curso, como disciplina obrigatória. Como eu havia comentado com professores que trabalhavam no planejamento do curso sobre a importância desse campo do saber para a formação do arquiteto e sobre minha disposição em conduzi-la, a equipe de elaboração do projeto, conjugando essa informação com outras sobre o interesse pelo assunto, decidiu introduzi-la no curso.

Tendo defendido tese de doutorado em Psicologia Ambiental, em 1982, sob a orientação de Abraham Moles, que já havia introduzido os estudos sobre a área na França desde 1962 (Fischer, 1993), estava distante do circuito e via o ensino desse campo do saber como a energia motriz necessária para retomá-lo. Nesse ínterim, tornei-me professora do curso de Psicologia (1987), lecionando as disciplinas de pesquisa e orientando monografias. Posteriormente, em 1996, quando a Universidade passou a incentivar de maneira clara a pesquisa, criando núcleos de pesquisas em cada um de seus Centros, acumulei a coordenação do Núcleo de Pesquisas em Ciências Humanas, com o objetivo de levar a cabo essa missão. Nessa ocasião a Universidade inaugurou seu programa de bolsas de Iniciação Científica. Foi quando propus e desenvolvi com bolsistas e uma professora do Curso de Ciências Sociais, antropóloga de formação, a pesquisa O lixo no lixo – Estudo dos determinantes das relações homem lixo. Esse estudo, realizado na comunidade litorânea da Prainha, município de Aquiraz-CE., visou compreender, a partir de uma perspectiva cultural, as razões pelas quais os habitantes e freqüentadores do local não jogam o lixo no lixo. Paralelamente, foi também desenvolvido um projeto para conhecer as manifestações de cidadania dos pescadores da localidade relacionadas às questões ambientais. Essas investigações permitiram que, pouco a pouco, me reaproximasse da área.

Com a criação do mestrado em Psicologia, em 1997, passei a integrar seu quadro de professores, uma vez que era um desdobramento natural a minha inclusão nesse curso, como professora de Metodologia da Pesquisa Científica e orientadora de dissertações.

Desde os seus primórdios, o Mestrado de Psicologia privilegia uma leitura da subjetividade, através dos enfoques psicanalítico e fenomenológico, apesar dos ajustes realizados em sua proposta original. Sua clientela, composta majoritariamente por graduados da área da saúde e da psicologia, no início era livre para propor seus objetos de estudo. Assumi, assim, a orientação dos mais diversos temas, mas a situação não foi diferente para os demais professores. No entanto, por familiaridade, havia sempre uma maior afinidade entre os interesses dos alunos e as áreas dos demais professores.

Há dois anos, por pressão do próprio colegiado e por necessidade do Curso de se alinhar às exigências da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, impôs–se uma vinculação mais estreita dos alunos aos interesses dos professores orientadores. Por conseguinte, em 2000, foi ofertada para a quarta turma uma disciplina introdutória de 120 créditos, chamada Fundamentos da Clínica do Social e Sintomas do Sujeito Contemporâneo, tema do mestrado na ocasião. Durante 15 horas, cada um dos 7 (número total de professores do curso na ocasião) professores introduzia sua área de pesquisa, proporcionando a oportunidade de uma escolha mais consciente por parte dos alunos. Tal sistema favoreceu o estabelecimento da Psicologia Ambiental nesse curso porque, após ter ministrado a disciplina de aprofundamento, intitulada Meio Ambiente e Comportamento Social, obtive 3 orientandos. No ano seguinte, 2001, com nova sistemática de vinculação – agora os alunos se inscrevem com o aval do professor orientador – recebi apenas um psicólogo interessado na área. A divulgação através do folder informativo talvez não tenha sido suficiente para atrair alunos, já que a Psicologia Ambiental ainda é estranha para a maioria. Estou, portanto, propondo que, à época das inscrições, seja realizado um seminário para esclarecer os diversos encaminhamentos que o curso oferece e acredito que isso possa atrair mais facilmente alunos para a área.

Em 1999, o 1º Encontro Brasileiro de Psicologia Ambiental, no quadro do X Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO, foi um marco porque materializou meu encontro com pessoas que trabalham na área, dentro e fora do Brasil. Em São Paulo, foi possível conhecer vários representantes dos diversos núcleos nacionais – Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção – LAPSI, Laboratório de Psicologia Ambiental de Brasília, e do Grupo de Estudos Pessoa Ambiente – GEPA, do Rio Grande do Norte – além de Gabriel Moser e Enric Pol responsáveis pela realização do encontro da International Association for PeopleEnvironment StudiesIAPS 16, que me incentivaram a comparecer a Paris, em 2000. Confirmando uma característica apontada por Pinheiro (2001, p. 21) em seu texto sobre a Psicologia Ambiental no Brasil, o Encontro da ABRAPSO possibilitou ainda o contato pessoal com conterrâneos interessados pelos estudos ambientais.

Ao relatar esses fatos, na verdade, percebo que a história do nascimento da Psicologia Ambiental na Universidade de Fortaleza não está distante do esperado ou do possível no contexto da época. Segundo Pinheiro (2001), dos primeiros anos da década de 80 até os primeiros da década seguinte, aproximadamente, os estudiosos da Psicologia Ambiental no Brasil encontravam-se isolados. Observam-se tentativas de integração mais efetivas somente na segunda metade da década de 90.

 

Situação atual

As dissertações de mestrado

Dos quatro orientados que possuo atualmente, dois são da área da saúde – odontologia e terapia ocupacional – uma é formada em administração, e somente um deles é psicólogo. Nenhum tinha ouvido falar de Psicologia Ambiental antes da disciplina que cursou. São conscientes da importância do ambiente no mundo atual, mas sua atenção dilui-se e se confunde entre as diversas questões ambientais noticiadas pela mídia. O enfoque psicológico que se detém na interface da relação homem-mundo e assinala que o comportamento do sujeito é influenciado pelo espaço, mesmo quando ele não tem consciência disso, é totalmente novo para eles e os entusiasma.

Por coincidência, os dois alunos da área da saúde se dedicam a questões de percepção ambiental. Acredito que nenhum dos dois tivesse uma compreensão muito nítida do que poderia ser uma dissertação em Psicologia Ambiental quando optaram pela área. Quando veio a mim, o odontólogo queria saber mais sobre o medo de dentista, mas não sabia por onde começar. Influenciada por uma pesquisa que realizei na França sobre percepção das praças da Alsácia e pelo entusiasmo de uma colega de mestrado, expert em percepção, com a metodologia que utilizei nessa investigação, direcionei seu tema para a percepção da sala de espera desses profissionais, abordando o medo de dentista de forma indireta. Trata-se de uma metodologia psicofísica, onde 30 conjuntos de fotografias de salas de espera de dentista serão apresentados aos sujeitos, num primeiro momento, para serem classificados segundo critérios próprios. Após tratamento estatístico, serão escolhidos os 12 conjuntos fotográficos mais representativos das categorias emanadas e estes serão submetidos a 60 sujeitos, para serem avaliados através de um diferencial semântico. Ao final da exibição, perguntar-se-á aos sujeitos o que eles acham que observaram e tomar-se-á nota de sua resposta. Será realizada uma segunda exibição das mesmas fotografias para 60 sujeitos diferentes, desta feita informando, de antemão, que deverão avaliar, através de diferencial semântico idêntico ao anterior, "fotografias de salas de espera de dentista". A hipótese que norteia esse planejamento é de que ocorrerão modificações na percepção dos sujeitos do segundo grupo por terem sido informados que avaliariam salas de espera de dentistas, e essas modificações poderão estar relacionadas ao medo que cultivam das intervenções deste profissional.

Buscando aproximar seus interesses da área ambiental, a terapeuta ocupacional, por ter trabalhado com crianças em hospitais, decidiu conhecer a percepção infantil dos espaços hospitalares. A metodologia de seu trabalho segue o mesmo espírito da do trabalho anteriormente citado, com algumas modificações, visando a facilitar a abordagem das crianças. Assim, duas atividades serão propostas a crianças de 8 a 12 anos, em primeira internação no hospital infantil de referência de Fortaleza. A primeira será uma atividade gráfica: a pesquisadora solicitará aos sujeitos que desenhem o hospital e depois conversará sobre seus desenhos, tomando nota de toda explicação fornecida. Em seguida, apresentará 12 fotografias dos espaços hospitalares mais freqüentados pelos sujeitos e pedirá que associem esses espaços às seis expressões faciais de Paul Ekmann. A mestranda iniciou estágio no hospital na segunda metade do mês de julho próximo passado, e no momento dedica-se a melhor conhecer as rotinas hospitalares.

Um outro trabalho tem como objeto a compreensão da identidade social urbana de jovens de um município vizinho de Fortaleza que teve, nos últimos 20 anos, seu espaço invadido por uma zona industrial e por diversos conjuntos habitacionais implantados para proporcionar mão-de-obra para as indústrias que lá se instalaram. Formada em Administração e trabalhando na prefeitura local, o interesse da mestranda pelo tema foi despertado pela convivência com a equipe técnica que se queixava freqüentemente da falta de participação dos habitantes, sempre atribuída à descaracterização identitária do local. As pesquisas exploratórias tanto com moradores antigos quanto com os que se instalaram nos conjuntos habitacionais, buscando conhecer o significado do ambiente socialmente compartilhado por esses grupos (Valera e Pol, 1994), vêm negando tal avaliação. Os habitantes originais, apesar de sentirem falta da vida pacata de outrora, sentem-se orgulhosos com o desenvolvimento da cidade e com a perspectiva de progresso. Os recém-chegados têm apego à cidade porque ela lhes possibilitou a aquisição da casa própria e porque se identificam com os demais moradores em suas expectativas quanto ao progresso local. Os adolescentes, que naturalmente se associam às perspectivas futuras, também se sentem orgulhosos de sua cidade e a encaram como o local ideal para construírem suas vidas.

Esses resultados estão sendo lidos à luz de textos teóricos de Moles (1978,1998), que estabelece dois modos fundamentais de percepção do espaço: um objetivo, onde o espaço é visto como extensão, e um subjetivo, onde o sujeito é o centro do mundo e percebe o espaço em camadas que se desdobram a partir de um "Eu, Aqui e Agora" que se recoloca continuamente. Assim, no caso da pesquisa acima descrita, os técnicos, ao observarem o espaço do exterior, assumem predominantemente a filosofia cartesiana, reduzindo o ambiente a uma configuração geométrica onde toda e qualquer delimitação se equivale. Já os habitantes mantêm um vínculo emocional com o espaço e o expressam em sua fala a partir de uma filosofia da centralidade, correspondente ao ponto de vista do indivíduo em situação.

Essas concepções também sustentam as duas primeiras pesquisas descritas, pois, nos dois casos, supõe-se que os sujeitos, tocados por sua dor, são levados a uma perspectiva espacial mais topológica do que métrica, colocando-se no centro do mundo, onde existem coisas e/ou características que percebem mais do que outras, qualidades às quais atribuem maior ou menor importância a partir do lugar que ocupam.

Nesse sentido, as noções de apropriação de Moles (1978, 1998) e Pol (s.d.) corroboram com os modos de percepção molesianos anteriormente descritos, pois o sujeito está continuamente criando um Point Ici, a partir de seu enraizamento no mundo. Constrói um lugar que ocupa, controla, modifica e simboliza através de suas vivências. Compreende-se assim que os processos psicossociais de apropriação, percepção e representação do espaço estão intimamente relacionados.

Recém-chegado, o aluno psicólogo elabora atualmente uma melhor definição de seu tema. Trabalhando com a clínica de orientação jungiana, foi sensibilizado pelos textos de Hilmann (1993), psicólogo jungiano americano que reconhece a cidade como realidade psíquica. Para ele "a psique existe inteiramente em sistema de relações" (p. 7) e a cidade é o locus principal onde a teia dessas relações é tecida. Constatando através da clínica a reincidência de queixas relacionadas à problemática ambiental das cidades, caracterizadas, na atualidade, por espaços hostis, violentos e sociofugidios, o aluno pretende investigar, como terapeutas de orientação psicanalítica e jungiana tratam os problemas relacionados a essa realidade trazidos pelos pacientes. Sobre essa questão evoca Jerusalinsky (2000) que constata que os analistas privilegiam as questões individuais em detrimento da articulação do sujeito com o discurso social, pela excessiva valorização do conceito de neutralidade. No momento, realiza entrevistas exploratórias para definir a metodologia que dê conta desta problemática.

Essas investigações estão vinculadas à linha de pesquisa do Mestrado à qual pertenço, intitulada Ambiente, trabalho e cultura nas organizações sociais. "A perspectiva psicossocial, a partir dos referenciais da Psicologia Ambiental e da Psicologia Organizacional, orienta os estudos dessa linha que se propõe a investigar a inter-relação dos indivíduos com os diversos ambientes sociais e o sofrimento psíquico daí oriundo." (Projeto do Curso de Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza, apresentado a CAPES/MEC). Dos três professores vinculados a essa linha, uma colega doutoranda (Tereza Gláucia Rocha Matos) e eu trabalhamos na área da Psicologia Ambiental. Estudiosa da Psicologia Organizacional, seus interesses em Ambiental voltam-se para a responsabilidade social das corporações, relacionada às práticas de comportamento pró-ambiental e às ações de cidadania organizacional adotadas pelas empresas. Após a defesa de sua tese, colaborará também com a docência, propondo a disciplina Meio ambiente, organizações e responsabilidade social.

É necessário, no entanto, fortalecer a área nesta pós-graduação. O aval do colegiado do curso para a contratação de mais um professor já foi concedido, mas aguarda-se o parecer da administração superior da universidade. Os contatos estabelecidos mostram que não será muito fácil conseguir candidatos. O número de especialistas no assunto no Brasil é restrito e ainda menor é o número daqueles que querem se submeter a uma mudança de cidade.

As pesquisas de Iniciação Científica

São três. A primeira investiga problemas de acessibilidade dos campi universitários. Iniciou com um trabalho final da disciplina de Psicologia Ambiental sobre a acessibilidade do campus da Universidade de Fortaleza aos portadores de deficiência física. Continuou com a avaliação dos campi das universidades Federal e Estadual. A partir de levantamentos, medições, percurso dos diferentes espaços em cadeira de rodas e entrevistas com alunos e ex-alunos portadores de deficiência foi possível concluir que os espaços das três maiores universidades da capital cearense não estão preparados para receber essa população. Além disso, observa-se que a existência de barreiras físicas está intimamente relacionada a barreiras sociais que se materializam principalmente através do descaso das administrações em corrigir tais carências, apesar das leis que resguardam os direitos desses sujeitos. A portaria específica do Ministério da Educação, no. 1679 de 2 de dezembro de 1999, que prevê o fechamento das instituições quando do seu não cumprimento é desconhecida ou ignorada. Somente uma abordagem através da cultura explica por que tal situação permaneça estacionária.

Atualmente, os estudos sobre acessibilidade prosseguem através de um projeto que objetiva a avaliação da barreira física e psicológica materializada pela Avenida Washington Soares, que margeia a entrada principal do campus da Universidade de Fortaleza. O acesso dos motorizados assim como o dos pedestres será analisado. Os textos que dão suporte a essas investigações têm sido os estudos sobre percepção, representação e avaliação dos espaços de Levy-Leboyer (1980), Fernández-Ballesteros (1991) Lynch (1960,1999) Moles (1978,1998) e Gärling (s.d.) e sobre barreiras ambientais de Sarriá, Aragonés e Campos (1991).

As duas outras pesquisas são, na verdade, projetos que foram registrados na divisão de pesquisa da Universidade e concorrem a bolsas dos Programas de Iniciação Científica do CNPq e da própria Fundação Edson Queiroz; são, portanto, propostas. Uma delas foi pensada para dar respaldo ao recém-criado Laboratório de Estudos das Relações Humano-Ambientais – LERHA. Seu objetivo é gerar um banco de dados das instituições, ONGs, empresas privadas e órgãos governamentais que se dediquem ao meio ambiente em Fortaleza. Paralelamente, visa analisar se a questão ambiental está sendo enfocada a partir da perspectiva psicológica.

O outro projeto pretende examinar a percepção dos habitantes de Fortaleza sobre a cidade, através das reclamações e observações publicadas pela coluna O Povo nos Bairros. Essa sessão jornalística é editada duas vezes por semana em um dos jornais de maior tiragem da capital, reportando problemas vivenciados pela população, cuja solução ainda está pendente. Os denunciantes recorrem ao jornal, em última instância, para tentar resolver seu incômodo. Nota-se que mais de 60% dessas queixas se referem a problemas ambientais. Através dessa investigação, pretende-se abordar a problemática ambiental de Fortaleza, além de se ter a intenção de analisar a percepção e avaliação de seus habitantes. O enfoque nas questões de cidadania e responsabilidade social das empresas será também privilegiado.

Esse último projeto será desenvolvido em parceria com a colega doutoranda que também compõe o quadro de professores do Mestrado em Psicologia à qual me referi anteriormente, e o anterior com a colega, socióloga e especialista em Gestão Ambiental (Ângela Maria da Costa Araújo), que divide comigo a condução da disciplina no Curso de Arquitetura. Ambas são participantes do LERHA.

A Psicologia Ambiental nas Graduações de Arquitetura e Psicologia

Como já disse no histórico, a inclusão da disciplina de Psicologia Ambiental na graduação de Arquitetura foi o pontapé inicial para o desenvolvimento dos estudos nessa área na Universidade de Fortaleza. Durante os três primeiros semestres, arquei sozinha com a disciplina. Quando o curso passou a receber graduados, o número de alunos dobrou, ficando pesado assumir, sozinha, duas turmas nessa graduação, tendo em vista as disciplinas e orientações por mim conduzidas no Mestrado e no Curso de Psicologia. Foi quando a colega socióloga se dispôs a se preparar para assumir comigo essa disciplina.

O programa original, que dava ênfase aos enfoques psicológicos tradicionais – behaviorismo, gestalt e psicanálise – e às abordagens do espaço por diferentes disciplinas – geografia, sociologia, antropologia – tem passado por diversas modificações, adaptando-se às necessidades detectadas, aos textos novos com os quais temos contato e às sugestões dos alunos. O conteúdo inicial de cunho mais geral foi sendo substituído por pontos mais interessantes e específicos. Outros assuntos permanecem desde o princípio, mas foi mudada a ordem de sua apresentação, buscando-se sempre desenvolver a motivação dos alunos pelo assunto. Por exemplo, a conceituação, características e história da Psicologia Ambiental continuam até hoje sendo apresentadas, contudo não vêm mais na linha de frente. Tais conteúdos apenas são discutidos depois de os alunos terem despertado a curiosidade para a área, após a apresentação dos conceitos de espaço pessoal, territorialidade, distâncias interpessoais, que sempre atraem a atenção porque podem ser comprovados através da experiência cotidiana.

Uma terceira unidade do programa dedica-se aos processos psicossociais básicos – percepção, representação, avaliação e apropriação dos espaços – e a última busca aplicar os conhecimentos adquiridos nas unidades anteriores para o estudo dos espaços cotidianos – casa, rua, natureza, escola etc. – dentro do contexto da sociedade brasileira. Ao final do curso, geralmente solicita-se aos alunos, como trabalho final, uma pesquisa exploratória sobre algum problema que possa ser identificado em sua vivência cotidiana dos espaços. Esse trabalho, em parte, sobrecarrega o programa, porque exige que se trabalhem várias noções de metodologia científica necessárias à sua realização, e não se dispõe de muitas horas, já que se trata de uma disciplina de quatro créditos (60 horas). Mesmo assim, tem valido a pena o esforço, porque através dele se detecta o grande potencial criativo dos alunos e seu entusiasmo crescente ao perceberem sua capacidade em produzir conhecimento, apesar de sua imaturidade.

Para sanar essa dificuldade, foi feita a proposta de que a disciplina fosse transferida para um semestre posterior e que algumas disciplinas das ciências humanas constantes no fluxograma a precedessem, como "metodologia científica", "sociologia" e "antropologia filosófica", porque, com certeza, fornecem conceitos que proporcionariam uma melhor compreensão do conteúdo de Ambiental. Essa sugestão, se aceita, a conduziria para o quarto ou quinto semestre do curso. Sugeri ainda que a disciplina, que atualmente é chamada de Psicologia do Espaço, denotando a influência que recebi da escola de Strasbourg, passasse a ser chamada de Psicologia Ambiental, como é mais conhecida no Brasil. Contudo, a Diretoria de Graduação preferiu aguardar pela avaliação e o reconhecimento do Ministério da Educação - MEC, antes de proceder a qualquer mudança no curso.

Permanecendo no primeiro semestre, passou-se a perceber as vantagens dessa posição: a Psicologia Ambiental, sendo a disciplina que mais se aproxima da arquitetura no semestre inicial, tende a suscitar o interesse dos alunos, e a mobilizá-los para a área.

Com o mesmo programa, mas com dinâmicas de ensino diferentes, visando a um maior aprofundamento do conteúdo, a Psicologia Ambiental foi ofertada como optativa no curso de Psicologia, no segundo semestre de 2000. A experiência foi interessante porque os temas propostos foram enriquecidos por discussões mais consistentes. Nesse curso, a Psicologia Ambiental fazia parte da oferta do quarto semestre, mas atraiu um número grande de alunos que estavam se graduando. Apesar da pouca informação anterior sobre o assunto, muitos vieram cursá-la porque me conheciam como professora. No semestre seguinte, as contingências foram menos favoráveis e apenas sete alunos se matricularam em contraposição aos 20 do semestre anterior. Decidi com o colegiado retirá-la da oferta e investir primeiro em sua divulgação através da criação de um grupo de estudo, da realização de pesquisas, palestras e seminários.

No entanto, como a estrutura do fluxograma do Curso de Psicologia da UNIFOR é especial em relação às disciplinas optativas – apenas quatro optativas são oferecidas por semestre e cada uma delas permanece na grade por, no máximo, dois anos – no final do semestre passado houve novamente a oportunidade de colocá-la em votação para ser uma das optativas do curso a partir de 2002.2. Não querendo perder a oportunidade de concorrer – mesmo que a proposta não fosse aprovada, marcaria a presença da área – modifiquei o programa e o nome da disciplina e a reapresentei. Ganharam as optativas que tinham sido objeto de demanda dos alunos, mas obteve-se a aprovação para que a Psicologia Ambiental seja inscrita no catálogo da Psicologia na lista de disciplinas optativas possíveis de serem cursadas em outras graduações. Assim, um espaço a mais foi conquistado e um novo passo foi dado, objetivando a presença da Psicologia Ambiental na graduação em Psicologia. Entretanto, esse trunfo não dispensa o trabalho paralelo que se vem desenvolvendo em prol de sua divulgação.

Os trabalhos nos Encontros de Iniciação à Pesquisa

O entusiasmo dos alunos da graduação de Arquitetura com os trabalhos de final de curso tem nos levado a incentivar sua participação nos Encontros de Iniciação à Pesquisa, realizados anualmente pela Universidade. Observa-se que essa participação complementa seu aprendizado, levando-os a buscar um maior embasamento teórico dos conceitos utilizados, uma melhor articulação das idéias e um aprimoramento da parte formal do trabalho.

Percebo, no entanto, que os alunos que cursam a disciplina durante os primeiros meses do ano sempre respondem melhor a essa recomendação porque as inscrições para o Encontro de Iniciação à Pesquisa da UNIFOR acontecem no mesmo período. Além disso, nem todos reagem afirmativamente, já que a participação requer trabalho suplementar. Existem, entretanto, aqueles que se inscrevem mesmo sem o aval dos professores e são aceitos. Para o Encontro deste ano, fui procurada por alunos de semestres anteriores para que lhes ajudasse a preparar o trabalho para submetê-lo à inscrição. Observo que, aos poucos, cria-se uma cultura de pesquisa e interesse pela área e uma consciência da importância de sua divulgação.

A lista abaixo relaciona os trabalhos apresentados nos últimos dois encontros e os que serão no próximo:

VI Encontro de Iniciação à Pesquisa realizado em setembro 2000 :

Acessibilidade dos espaços da Unifor aos deficientes físicos

O uso da Praça Coronel João Gentil

Praça Coronel José Gentil: Grau de manutenção e satisfação dos usuários

VII Encontro de Iniciação à Pesquisa realizado em setembro de 2001:

Espaço itinerante : A vida no mar

Poluição sonora nas salas de aula da UNIFOR

O Povo nos bairros : Um estudo sobre os problemas ambientais de Fortaleza

Comportamento territorial dos alunos na Lanchonete "Top's Central"

VIII Encontro de Iniciação à Pesquisa a realizar-se em setembro próximo :

Avaliação sócio-espacial do bairro do Benfica em dia de jogos

Avaliação sócio-espacial do estacionamento dos alunos da UNIFOR

Acessibilidade do campus da UNIFOR aos portadores de deficiência física – barreiras sociais.

O Laboratório de Estudos das Relações Humano-Ambientais

O objetivo deste laboratório é :

- produzir conhecimento sobre as inter-relações homem-ambiente a partir da perspectiva teórica da Psicologia Ambiental, levando em consideração as inflexões específicas da cultura brasileira e, de modo particular, da cultura nordestina;

- formar pessoal qualificado para as atividades de pesquisa e ensino e para o exercício profissional na área ;

- promover o estabelecimento da abordagem teórica da Psicologia Ambiental na Universidade de Fortaleza e na região, fomentando intercâmbios interdisciplinares e interinstitucionais.

Apesar de constituir um projeto antigo, só muito recentemente foi criado – maio 2002. Seu núcleo central é formado por quatro alunos bolsistas, um da Psicologia e três da Arquitetura, e por cinco professores – eu mesma, as duas colegas às quais já me referi, que trabalham comigo – a psicóloga no Mestrado em Psicologia e a socióloga, na graduação da Arquitetura – e mais duas outras, uma arquiteta paisagista e uma psicóloga social.

A percepção, representação e avaliação dos espaços do campus constituem o objeto primeiro de estudos do LERHA. Essa escolha deveu-se ao interesse manifestado pelos alunos da graduação em analisar os espaços do campus e também porque se compreende que o contato diário facilita a observação e compreensão dos problemas vivenciados. Por outro lado, existe a possibilidade de intervir, dentro da perspectiva da pesquisa-ação, para que eventuais modificações, que venham a ser apresentadas, possam ser realizadas.

Aliás, a administração superior está a par dessa proposta e já se dispôs em considerar os resultados dos estudos realizados sobre a acessibilidade de seus espaços aos portadores de deficiência física. Acena também para outras possíveis colaborações, já que seu campus encontra-se em franca expansão, embora os detalhes sobre essa parceria ainda não estejam definidos.

A médio prazo, o LERHA objetiva promover eventos – palestras, seminários, cursos – que divulguem a abordagem psicológica do espaço, visando atrair estudiosos para a área.

O interesse pelo ambiente na Universidade

Dentre as diversas graduações oferecidas pela Universidade, aquela que mais estuda o espaço e o ambiente é a de Turismo. Nesse curso, diversas disciplinas, entre elas, Patrimônio Natural e Meio Ambiente, Gestão Ambiental, Geografia e as várias disciplinas de Planejamento enfocam o ambiente numa abordagem holística, global, buscando analisar e articular os seus mais diversos aspectos – natural, econômico, social e cultural. Segundo a filosofia do curso, o homem e o meio ambiente são prioridades. O turismo vem depois. De forma específica, o homem é estudado em disciplinas tradicionais, como Psicologia aplicada ao Turismo e Antropologia Filosófica mas sua inter-relação com o espaço é analisada de forma diluída.

Na pós-graduação lato sensu, identificam-se dois cursos de especialização onde o ambiente é o objeto central.

Um deles é o de Direito Ambiental. Seu objetivo é formar ambientalistas na área do Direito, além de municiar os interessados de uma consciência ambiental mais prática, sem no entanto deixar de lado o enfoque teórico. O curso dirige-se principalmente aos graduados em Direito mas aceita também profissionais de outras áreas. Organizado em 3 módulos, um mais geral que engloba as disciplinas teóricas como História do Pensamento Ecológico, Ecologia, Política e Direito, Economia Ecológica e Desenvolvimento Sustentável; outro mais prático e específico volta-se para as articulações dos diversos ramos do direito - constitucional, administrativo, penal, processual, internacional - com o meio ambiente, e um terceiro aborda temas mais pontuais – crimes ambientais, política energética, jurisprudências contemporâneas - através de palestras.

O enfoque psicológico é tratado nas disciplinas mais teóricas, mas de maneira vaga. Segundo a coordenadora não foi fácil operacionalizar o curso com um número mínimo de 30 alunos. Parece haver uma dificuldade do público em perceber as relações da questão ambiental com a crise social e econômica vivenciada no país. A miséria é pensada como prioridade enquanto o estudo da questão ambiental é considerado luxo.

A especialização em Gestão Ambiental, que atualmente edita sua segunda turma, direciona-se a graduados das mais diversas áreas, propondo a ampliação da formação de pesquisadores e técnicos no campo da Gestão Ambiental. Seus principais focos são o aprofundamento de conhecimentos para aplicação da ISO 1400, elaboração de documentos técnicos tais como Estudos e Relatórios de Impacto ao Meio Ambiente, EIA e RIMA, respectivamente, e estudos dos diversos métodos industriais de tratamento de resíduos sólidos. Assim, as principais disciplinas ofertadas são técnicas – Tecnologia Ambiental para Empresas Rurais, Gestão de Recursos Hídricos, Poluição e Poluentes, Saneamento Básico, Auditoria e Contabilidade Ambiental. O único destaque dado à questão humana fica a cargo da disciplina de Educação Ambiental.

No entanto, os alunos são livres na escolha do tema de suas monografias e podem utilizar-se do enfoque de sua formação. Foi o caso da pesquisa realizada pela colega socióloga que divide comigo o ensino da Psicologia Ambiental no curso de Arquitetura, que cursou essa especialização e desenvolveu uma pesquisa sobre o re-assentamento dos habitantes da agrovila de Sítios Novos sob o prisma da sustentabilidade.

Além destes, é possível reconhecer, através da leitura dos diversos grupos de pesquisa da Universidade, outras linhas de pesquisa, além daquela à qual pertenço, que tem o ambiente como objeto de estudo. Dentre estas, cito por Centro :

Centro de Ciências Administrativas:

- Gestão Ambiental

- Planejamento e Gestão do Turismo

- Crescimento Econômico e Desenvolvimento Sustentável;

Centro de Ciências da Saúde:

- Epidemiologia, Saúde e Qualidade de Vida

- Práticas Educativas

- Planejamento e Avaliação em Saúde;

Centro de Ciências Tecnológicas :

- Gestão e Tecnologia na Produção de Edifícios e Espaço Urbano

- Águas de Abastecimento, Águas Residuárias, Resíduos Sólidos: captação e coleta, tratamento, reciclagem e reuso

- Gestão Integrada de Recursos Hídricos e Meio Ambiente

- Desenvolvimento de Ambientes para Aplicações Gráficas na Web

- Ambientes Virtuais de Ensino-Aprendizagem Colaborativos.

Todavia, não examinarei aqui as especificidades da abordagem do meio ambiente, de seus pesquisadores, em parte porque não interessa neste primeiro momento, e também porque não cabe dentro dos limites deste ensaio.

 

Refletindo sobre a prática: Perspectivas Futuras

Esta descrição me permitiu perceber os passos que já foram dados e principalmente os caminhos que ora se delineiam para que a Psicologia Ambiental se estabeleça na Universidade de Fortaleza e seja reconhecida como campo teórico do qual se pode lançar mão para compreender muitos dos problemas que se vivenciam em relação ao meio ambiente. Certamente a teoria não pode vir desvencilhada da prática em nenhum campo do conhecimento. Para a Psicologia Ambiental, essa articulação se impõe por si mesma. A partir do momento em que se adota esse referencial, é como se luzes fossem sendo acesas sobre os problemas, que ao se tornarem evidentes não permitem mais a imobilidade.

Reconheço a Psicologia Ambiental como um campo teórico fecundo, principalmente para a sociedade brasileira e de modo especial para o Nordeste, onde homem e meio ambiente são raramente percebidos como interdependentes. Aqui, na região, principalmente, o cuidado com essa relação precisa ser acalentado como fundamental para o bem-estar social e de cada um de seus habitantes. Na verdade, homem e mundo, homem e meio ambiente constituem um todo indissociável, onde um ou outro só se sobressai pelo direcionamento do olhar.

São essas compreensões que me animam e conduzem a continuar o trabalho ora iniciado. Entendo que acabamos de começar, e aqui me refiro principalmente à criação do LERHA, porque considero que sozinha seria impossível dar conta dessa tarefa.

Afirmar a Psicologia Ambiental no sentido de fazê-la existir dentro da universidade é a tarefa principal do LERHA, que entendo, pode cumpri-la tanto de forma direta quanto indireta. Pelo fato de existir e realizar os objetivos propostos, o LERHA trará, indiretamente, visibilidade e crédito à área. Entretanto, uma série de ações concretas se impõe, principalmente a partir dessas primeiras incursões.

As características da instituição à qual se pertence, as dificuldades que se enfrentam e os interesses e possibilidades dos pesquisadores, ao mesmo tempo em que condicionam sua ação, sinalizam também o caminho a seguir.

Muito do que entrevejo, porém, é provocado pela necessidade primeira de reconhecimento da área, seja por colegas, seja pela administração da Universidade, seja pela comunidade. Estou convencida de sua importância, mas este não é o caso para a maioria de meus pares. Há portanto a necessidade de se dar a conhecer. Antes disso, entretanto, é preciso ser. Existir de forma mais integrada para si mesmo, assim também como existir em meio a seus semelhantes, isto é, se distinguir entre os demais. A partir desses critérios, evidencia-se o que é preciso ser feito.

a) Para existir e resgatar o que existe:

- Estudar o campus e elaborar relatório ao final deste semestre para apresentá-lo à Universidade, dando conta dos principais problemas ambientais vivenciados pelos usuários (meta estabelecida pelo LERHA para este semestre - 2002.2);

- Organizar e editorar caderno com os melhores trabalhos elaborados pelos alunos da disciplina de Psicologia Ambiental, principalmente aqueles que analisam os problemas do campus;

- Revisar e editar as traduções realizadas até o presente;

- Traduzir novos textos que possam servir de base para os estudos que estão sendo realizados no momento;

b) Para existir e se distinguir entre os demais :

- Realizar levantamento de pessoas e grupos e que se dedicam ao estudo do meio ambiente na Universidade de Fortaleza;

- Realizar levantamento de pessoas e grupos que se dedicam ao estudo do meio ambiente na cidade de Fortaleza;

Para existir e dar-se a conhecer :

- Realizar curso e/ou palestra na área durante o VIII Encontro de Iniciação Científica e Semana de Psicologia;

- Promover seminário informativo sobre a área por ocasião das inscrições do mestrado;

- Realizar seminário aberto com convidados de outras instituições para divulgação da área;

- Estabelecer de forma definitiva a disciplina de Psicologia Ambiental como optativa no curso de Psicologia ;

- Escrever nos jornais para divulgar a área;

- Publicar as pesquisas realizadas em revistas científicas nacionais;

- Criar parcerias interinstitucionais : UFC, UFRN, UnB etc;

Entendo que dessa maneira será mais fácil atrair interessados para esse campo do saber e contribuir para seu desenvolvimento, não só na UNIFOR mas também em Fortaleza, e conseqüentemente no Brasil.

 

Conclusão

Avaliar o que se tem (ou é), a fim de melhor planejar em direção ao que se quer foi o tema indicado pelo coordenador do Grupo de Trabalho em Psicologia Ambiental para ser discutido durante o IX Simpósio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPPEP (Pinheiro, 2002, p.3). Num primeiro momento, sua proposta me paralisou e inibiu por achar que a Psicologia Ambiental, ainda embrionária na Universidade de Fortaleza, seria argumento de pouca elocução.

Ademais, falar de minha prática pareceu-me, de início, uma proposta que interessaria a poucos, apenas aos curiosos sobre esse ramo da psicologia e sem acesso à realidade sobre a qual discorro. Apesar das observações de Pinheiro (2002) e de Proshansky (apud Pinheiro 2002) sobre a conveniência de tal démarche, só percebi seu real valor e utilidade após, eu mesma, ter feito esta reflexão. Falar, escrever desenrola meandros obscuros e desconhecidos, revela direções, explica atitudes, coloca às claras os fundamentos de propostas, enfim, dá um senso de direção às ações atuais e futuras. Este parece ter sido o ganho maior, propiciado por este trabalho, e, nesse sentido, eu mesma e meus pares mais próximos – companheiros do LERHA e de área – somos os maiores beneficiários.

Quero ressaltar aqui a curiosidade que a Psicologia Ambiental provoca em todos aqueles que entram em contato com seus postulados. Claro que a maioria não a escolherá como área de estudos ou buscará aprofundar-se em sua teoria. Entretanto, a atenção que desperta, é uma porta aberta para a assimilação mais rápida de seu conteúdo e a observação empírica de situações cotidianas que antes passavam despercebidas. E, naturalmente, o resultado é seu reconhecimento imediato.

Penso portanto ser necessário aproveitar melhor dessa disposição. Constato ser imprescindível que a Psicologia Ambiental se apresente de maneira mais efetiva entre nós, como o enfoque do qual se pode lançar mão para melhor se compreenderem as relações com o mundo e o ambiente em que se vive. Noto, paralelamente, que existe um vazio a clamar por uma maior consistência e melhor instauração do campo, em grande parte, atrelado à reduzida produção nacional que, por sua vez, ressente-se de um acesso mais espontâneo às produções internacionais.

Acredito, porém, que à medida que esse conhecimento se instaure através de uma melhor compreensão de sua teoria, e de um maior aprofundamento, alcançado por investigações próprias, novas pesquisas, necessárias ao desenvolvimento de uma Psicologia Ambiental genuinamente brasileira, serão desenvolvidas. Em outras palavras, instaurar-se-á um "ciclo de produção" nacional.

Por outro lado, entendo que os estudos em Psicologia Ambiental devem sempre vir acompanhados do enfoque cultural. Parece óbvia essa recomendação na medida em que sempre se levam em conta as características do campo em uma investigação. Contudo, refiro-me aqui a uma démarche explícita no sentido da elucidação de um olhar que procura analisar os comportamentos ambientais a partir do modus vivendi, hábitos, tradições culturais do contexto que os encerra e produz. Penso também que muitos dos conceitos da área carecem de pesquisas para uma melhor atualização à sociedade brasileira, pois é impossível entender o espaço e as relações que o homem estabelece com ele, sem uma compreensão da cultura e da sociedade que os sustenta.

Se a perspectiva cultural se impõe, quase que naturalmente, a orientação fenomenológica é aqui colocada como sugestão, na abordagem da inter-relação humano-espacial. Treinada em minha formação, no Instituto de Psicologia Social de Strasbourg – França, a pensar fenomenologicamente sobre a vivência espacial, minha experiência tem revelado sua utilidade nessa área de estudos de formação recente. Através da redução – "purificação do fenômeno de tudo o que comporta de inessencial (...), para fazer aparecer o que lhe é essencial" (Dartigues, 1992, p.30) – é possível um pensar mais livre e criativo sobre os problemas, cujos meandros e soluções considerados poderão, em um segundo momento, ser postos à prova no caminho da constituição de premissas teóricas próprias.

Paralelamente, vejo que é preciso ousar, ter coragem de expor suas percepções, colocar à prova as hipóteses que se formulam, em vez de repetir ou copiar teorias que fazem pouco sentido entre nós. Lançar mão do que se dispõe com menos pudor. Esta parece ser a orientação que me permitiu caminhar. E, como diz o poeta Antonio Machado, "caminho vai se construindo ao andar".

Num plano mais concreto e específico, porém, constato que meu percurso e de meus colegas não poderia ter sido muito diferente. Como já assinalei no início desta exposição, ele não diverge muito dos percursos de diversos outros no Brasil, pois está condicionado pelo próprio estágio da Psicologia Ambiental entre nós. Outras restrições estão relacionadas às características da instituição a que pertenço. Por exemplo, estando inserida em uma instituição privada, é natural que tenha começado pelo ensino, para em seguida enriquecê-lo com a pesquisa e ainda posteriormente com a extensão.

Todavia é necessário remarcar as condições favoráveis que muitas das instituições particulares oferecem – suprimento regular de recursos materiais e de pessoal necessários à rotina cotidiana e maior agilidade de recursos extras, quando a administração se convence da seriedade do desempenho do pesquisador e da qualidade da proposta apresentada. Foi o que aconteceu recentemente quando obtive horas remuneradas para os "professores hora atividade" que participam comigo de projetos de pesquisa na área. Sem isso, seria impossível conseguir que se dedicassem à pesquisa, pois seu tempo é praticamente todo preenchido com a atividade de ensino, necessária à manutenção de seu salário.

Refletindo sobre o panorama nacional, vejo como benéfica a proposta de Sommer (2000, p.4) de identificar a Psicologia Ambiental enquanto "área de estudos e manter a flexibilidade quanto à reunião de pessoas de vários backgrounds, permitindo ao mesmo tempo a seus membros, manter identificação com as disciplinas e profissões nas quais foram treinados". Aderir a essa proposição permite olhar com atenção para as múltiplas produções nacionais e mesmo traduções de estudos de pesquisadores de outras áreas – antropólogos, geógrafos, urbanistas, arquitetos, sociólogos, etc - que nos aportam reflexões ricas sobre os problemas de nosso interesse, preenchendo o vazio editorial existente. Seria útil elaborar lista dessas publicações, escrever resenhas e ensaios, mostrando as articulações com a Psicologia Ambiental de forma a se tirar um maior proveito dessas edições.

É notória a restrita possibilidade de leitura de alunos e mesmo professores das publicações da área, em sua maioria editadas em inglês, ou ainda francês, espanhol ou alemão. Nesse sentido, traduções seriam também bem-vindas, assim como reedições de alguns trabalhos clássicos, como os de Hall (1977), Sommer (1973 e 1979), Tuan (1983). Lutar por isto é também nossa tarefa.

A empreitada é grande mas estimulante. Concluo, apreciando mais uma vez as reflexões que foram suscitadas pelo exercício de escrever sobre nossa prática e ressaltando a boa hora em que a realizei: neste princípio de caminhada, é possível melhor direcioná-la.

 

Referências

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Recebido em 25 de julho de 2002
Aceito em 22 de agosto de 2002
Revisado em 25 de agosto de 2002

 

 

* Trabalho apresentado no IX Simpósio Nacional de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP, em agosto 2002.

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