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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.2 no.2 Fortaleza Sept. 2002

 

ARTIGOS

 

Angústia e desamparo

 

 

Vera Lopes Besset

Doutora em Psicologia (Paris V); Professora Colaboradora do Mestrado e Doutorado em Psicologia do IP/UFRJ; Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental; Coordenadora do GT 'Psicopatologia e Psicanálise' da Anpepp; Pesquisador Associado ao NIPIAC (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e a Adolescência Contemporâneas) do Instituto de Psicologia da UFRJ; Psicanalista; Membro da Escola Brasileira de Psicanálise do Campo Freudiano (EBP-ECF) e da Associação Mundial de Psicanálise (AMP). Travessa Euricles de Matos, 24; 22240-010-Laranjeiras; Rio; UERJ. e-mail: besset@openlink.com.br

 

 


RESUMO

Entre os deuses, Amor é o mais amigo dos homens, pois cura-os de um mal imputado por Zeus: a separação de cada ser em duas metades, diz Platão, no Banquete. Nesse mito de origem da natureza humana, o amor é o que desfaz a divisão promovida por um Pai que, insatisfeito com seus filhos, torna-os incompletos. Então, os homens, obrigados a buscar um parceiro, voltam a prestar homenagens ao deus maior. Eis uma figuração da conjugação entre o amor e o desamparo, onde o segundo aparece como condição necessária para o primeiro. Na clínica, o sinal de angústia desvela, por vezes, a situação de desamparo na qual a perda do amor mergulha o sujeito. Frente ao mal-estar na civilização, "amar e ser amado" é um dos métodos ao alcance do ser humano em sua busca pela felicidade. Um método cuja eficácia é limitada, pois a ausência do objeto amado ou de seu amor deixa o sujeito na infelicidade e no desamparo. Nesse sentido, a proposta da psicanálise, baseada na presença do analista, contraria o desígnio de Eros, que é converter o múltiplo em uno. "Eu e você somos um", diz o apaixonado, imerso na ilusão promovida pelo amor. Trata-se, em psicanálise, de um percurso que parte do amor, valendo-se da alienação do sujeito, suposição, para conduzi-lo à separação, dos significantes-mestres que o submentem e de uma posição de fixação na satisfação pulsional. Nesse sentido, é de um novo amor que se trata, um amor que separa. Assim, para além de sua dimensão de sujeito-suposto-saber, solidária do amor, colocando em ato a realidade do inconsciente, a transferência atualiza a certeza do que não engana, pela via da angústia.

Palavras-chave: angústia, desamparo, amor, transferência, mal-estar


ABSTRACT

Between gods, Love is the human's best friend, because gives them the cure for an injury imputed by Zeus: the division in a half, according to in compliance with Platon, on the Banquet. In this myth of human nature source , the love is the way to undo the division that was done by a Father who was discontent with his children, and made them incomplete. The men, forced to look for a partner, return to honor the most important god. We have the conjugation of love and abandonment in this figuration, which abandonment comes out as a condition for love. On clinic, the anguish sign keep awake the abandonment position that love's lost take us. Face to indisposition on civilization, "love and be loved" can be a way to reach happiness. A way that has a limited efficiency because the object or its love absences leave the subject unhappiness and abandonment. So, the psychoanalysis's propose is founded on the analyst's presence, contradict the Eros's intention which is join the two parts. "You and me is only one", said the subject that is in love. Psycoanalysis treats about a course that starts on love, based on the subject alienation, supposition, to drive him to masters-significants's separation and to a position that fix instinct satisfaction. It is about a new love that we talk, a love that separate. Than, beyond the dimension of the subject whom we supposed knowledge, putting on act the unconscious's reality, transference up to date the certainty by anguish way.

Key-words: anguish, abandonment, love, tranference, indisposition


 

 

Da Angústia

As manifestações da angústia afetam o corpo do sujeito que fala2, presentificando, assim, sua divisão. Assinalam a incompletude do Outro do significante, remetendo o sujeito a sua própria incompletude, que faz dele distinto do eu. Falta presente na dimensão da imagem, funcionando na angústia sob a forma de um resto, menos phi (-j). Falta que distancia o objeto do desejo da imagem do eu, por sua afinidade como o objeto a, que dele é causa. A angústia é uma presença que escapa a qualquer saber. A qualquer saber suposto, já que não se trata de algo do terreno de uma verdade, mas de uma certeza. É o que Lacan busca demonstrar, do início ao fim de seu ensino. A angústia, concebida como o único afeto que não engana, é o real, o 'impossível de se escrever'3. É respeitando a angústia como algo inerente ao humano e sinal daquilo que, do desejo e do gozo, revela-se como estranho ao eu, que se pode tratar esse afeto, respeitando a especificidade da psicanálise.

Entendendo-a a partir de uma falta postulada como estrutural para o sujeito, Lacan distancia-se de Freud, que afirma que é ameaça da perda de um objeto – amado – que está na base da angústia. Para Lacan, então, a angústia "não é sem objeto": "pas sans"/"não desprovido de", o que indica que há algo, embora não se saiba exatamente o quê.

No percurso de um tratamento, é da angústia do analisante que se trata, posto que o analista deve da sua fazer a economia. Sendo assim, será possível conduzir um sujeito em direção, não ao sentido pleno, o que seria, não somente impossível, pela estrutura mesmo da palavra, mas também, interminável, como o próprio Freud concluiu. Pois, há sempre um outro sentido possível, um outro, um outro... A cadeia se faz assim, os significantes se sucedem e a sobredeterminação organiza o aparelho psíquico. Trata-se, para nós, ao contrário, na dimensão do significante, por intermédio da palavra na interpretação, como instrumento, ferramenta de base, conduzir o sujeito ao limite, lá onde tudo cessa e nada se pode dizer. Conduzi-lo ao real, então, que o trouxe, em sua busca de auxílio.

Mas, ao contrário da solução terapêutica, que tenta curá-lo, ortopedicamente, daquilo que em si, é incurável, compete-nos trabalhar para obter uma mudança de sua posição subjetiva. Mudança de posição que no início, se impõe com relação ao seu dito, retificação necessária à instalação do dispositivo: associação livre, onde um sintoma pode se articular como questão. Mudança, no final, de posição com relação a um gozo, satisfação pulsional.

Para tanto, no lugar de uma neutralidade, podemos nos valer da disponibilidade, ancorada na serenidade, seguindo as indicações de Laurent4, a partir de Heidegger a disponibilidade ao particular da demanda de cada sujeito, a serenidade (Gelassenheit) no manejo do tempo das sessões, são indicações preciosas sobre o fazer clínico, que compete a cada analista desempenhar a seu modo, particular, depurado seu estilo.

 

Amor-prazer e desamparo

A relação entre amor e desamparo, cantada, em prosa e verso, entre nós –"Eu sem você sou só desamor...sem você meu amor, eu não sou ninguém"-, encontra-se em Platão, no Banquete. Entre os deuses, Amor é o mais amigo dos homens, pois cura-os de um mal imputado por Zeus: a separação de cada ser em duas metades5. Nesse mito de origem da natureza humana, o amor é o que desfaz a divisão promovida por um Pai que, insatisfeito com seus filhos, torna-os incompletos. Assim, restaura-se a ordem das coisas: os homens, obrigados a buscar um parceiro, em sua nova condição, voltam a prestar homenagens ao deus maior. Eis uma figuração da conjugação entre o amor e o desamparo onde o segundo aparece como condição necessária para o primeiro. Mas, de que desamparo se trata? Eis a questão.

Nesse tempo atual, onde reina a pulsão, sob o imperativo categórico de gozo do supereu, o que busca um sujeito, ao procurar um analista? Muitas vezes, apenas alívio para seu padecer. No entanto, essa demanda inicial pode dar lugar a uma demanda de saber sobre aquilo que o causa. Nessa época, onde a religião prolifera e a angústia resiste, rebelde aos nomes e medicamentos com as quais se tenta amarrá-la, o desafio para o analista é, com a palavra, tratar o que do sintoma insiste.

Em uma cultura marcada pela inexistência do Outro6, podemos entender a insistência da com-pulsão dos sintomas como a marca de um desamparo? A falta de um Outro a quem apelar, dirigir seu amor, revela-se essencial quando se trata de pensar essa questão. Será que é possível pensar que, no reino de Alice da sociedade de consumo com seus objetos maravilhosos, falta a palavra de amor, que diz ao homem qual o seu valor, para além do de sua serventia? Quando o empuxo é o da satisfação sem limites, podemos pensar, como o faz um autor contemporâneo, partindo de Lacan, que o desamparo humano se liga à falta de garantia no Outro7. Essa é uma via de abordagem, que leva em conta a ex-sistência do sujeito na linguagem.

Por outro lado, a retomada dos fundamentos freudianos sobre a sexualidade infantil, nos traz a ligação do desamparo com o amor e a angústia. Aponta, além disso, para a relação do amor com a satisfação da libido ou da pulsão, entendida por Freud como sexual. Nessa perspectiva, o que está em questão, no desamparo, é uma impossibilidade de acesso ao objeto que garante a satisfação. O objeto amado, nesse caso, é o da pulsão. Pois o amar se liga a objetos que trazem prazer: "uma pulsão ama o objeto ao qual aspira para sua satisfação."8 Assim, pode-se pensar que o amor faz de um objeto qualquer aquele que satisfaz a pulsão? Ou, como formula Lacan, torna o contingente necessário?9 Lembremos que Freud, a propósito das vicissitudes da vida amorosa, fala na sobrestimação do objeto de amor10.

No início de sua obra, o mesmo autor propõe como paradigmático de 'todo vínculo de amor' o elo entre inicial entre o lactante e o seio materno. Esse modelo de felicidade perdida mantém-se na escolha dos objetos amorosos, afirma, como referência. Desse modo, "a criança aprende a amar a outras pessoas que remediam seu desamparo e satisfazem suas necessidades."11 A própria angústia infantil explica-se, nessa ocasião, pela falta da pessoa amada, pela situação em que coloca a criança: a da impossibilidade de satisfazer sua libido. Todos lembram do exemplo do menino que 'vê mais claro' na escuridão, ao escutar a voz da tia, que se encontra no cômodo ao lado. A presença da tia substitui a presença da angústia, que Freud liga, nesse momento, à libido insatisfeita12. Nesse contexto, o desamparo do humano, irremediável, é um outro nome da castração, preço pago pelo sujeito por sua ex-sistência na linguagem. Rochedo incontornável, no dizer de Freud, com o qual às vezes se tropeça. Encontro com um real inominável, que pode ser o de um gozo insuspeito, como o do Homem dos Ratos ouvindo o suplício, prazer que causa horror13. Encontro que, como nesse caso, pode levar um sujeito a um analista.

Frente ao mal-estar na civilização, "amar e ser amado" é um dos métodos ao alcance do ser humano em sua busca pela felicidade14 Um método cuja eficácia é limitada, pois a ausência do objeto amado ou de seu amor deixa o sujeito na infelicidade e no desamparo. Nesse sentido, a proposta da psicanálise, baseada na presença do analista, contraria o desígnio de Eros, que é converter o múltiplo em uno. "Eu e você somos um", diz o apaixonado, imerso na ilusão promovida pelo amor. Trata-se, em psicanálise, de um percurso que parte do amor, valendo-se da alienação do sujeito, suposição, para conduzi-lo à separação, dos significantes-mestres que o submentem e de uma posição de fixação na satisfação pulsional. Nesse sentido, é de um novo amor que se trata, um amor que separa15. Assim, para além de sua dimensão de sujeito-suposto-saber, solidária do amor, colocando em ato a realidade do inconsciente, a transferência atualiza a certeza do que não engana.

 

Amor e saber

O mito platônico sobre as origens dos seres sexuados indica que o apelo a um deus, onipotente, institui-se a partir de uma falta naquele que ocupa o lugar do grande Outro. É por necessitar do amor e das oferendas dos homens que Zeus não os elimina, mas os divide, a fim de torná-los servis. A divisão condena-os à busca de um outro, objeto que possa satisfazer suas necessidades. Necessidades de prazer sexual, na falta da qual eles podem até se deixar morrer.

Freud inventa uma nova clínica, justamente, por se colocar como mestre do amor16, em resposta à demanda dos neuróticos. Para tanto, à falta de saber dos médicos, impotentes diante das conversões histéricas, ele contrapõe a suposição de um saber no sujeito, saber a decifrar. É, então, a suposição de um saber não sabido que instaura a transferência e inaugura a experiência da clínica psicanalítica. Desse modo, ao mesmo tempo, Freud institui, mais que descobre, um sujeito divido pela linguagem. O sujeito do inconsciente é tributário dessa suposição e correlativo mesmo a ela17.

Ao abordar o tema da transferência, Lacan discorre sobre o amor18. Nesse momento, conjuga amor e desejo, colocando o amado no lugar de objeto de desejo daquele que se declara amante. Sublinha a reciprocidade dessa relação, apontando à distinção da experiência analítica no que concerne esse ponto. Descreve o analista, então, como aquele que, como Sócrates, desloca-se do lugar de amado, abrindo para o sujeito a via de acesso ao saber sobre seu próprio desejo19. Ao fazê-lo, instaura uma suposição de saber: "Desde que haja em algum lugar, sujeito suposto saber –abreviei para vocês hoje no quadro com S.s.S. – há transferência."20 Em outro momento, resume a relação entre amor e saber: "Aquele a quem suponho um saber, eu o amo."21

 

Da clínica: angústia e desamparo

Freqüentemente somos procurados, na clínica, por sujeitos em mal de amor. Muitas vezes, é a interrupção de um circuito, que podemos nomear de gozo, ou de satisfação pulsional, que lança esse sujeito no desamparo, desvelando a angústia. Afeto que, na experiência analítica, pode ganhar estatuto de sinal, nos contornos da demanda dirigida ao Outro da transferência. Sinal de um gozo que o sujeito desconhece como tal. O que aparece, então, como tristeza, desolação, deixa entrever, aos poucos ou de pronto, segundo cada caso, a angústia, esse afeto que não engana22. Não que essa seja produto dessa vicissitude da vida amorosa daquele sujeito, como uma leitura apressada de Freud poderia nos levar a pensar. Ao contrário, o amor velava a angústia, se a tomamos como sinal desta perda original, do traumatismo da subversão do humano à linguagem.

Mas, observe-se, não se aí trata da perda do objeto, mas do que Freud nomeia perda de uma posição libidinal23 . Sendo assim, o sinal de angústia desvela a situação de desamparo na qual a perda do lugar de amado mergulha o sujeito. Em alguns casos, são mulheres, que exibem com lágrimas o desespero ante a separação. Foi assim com Doralice, nome que escolhemos, tanto pela referência à Dora, quanto à lembrança que nos vem dos versos do poeta, cantando o lamento de um homem que não queria amar: "Doralice, eu bem que lhe disse, amar é tolice, é bobagem, ilusão".

Na primeira entrevista, chama a atenção o contraste entre a juventude e beleza de Doralice e o modo como se apresenta, tristemente vestida. Nesse primeiro encontro, fala um pouco sobre suas queixas, basicamente ligadas à relação com o marido. Ao final, disse que não sabia se ia voltar, pois teve, ao mesmo tempo, a indicação de um psicanalista que é psiquiatra e trata com medicamentos. Disse-lhe que ela parecia se interessar em saber um pouco sobre o que a fazia sofrer, para além do alívio que buscava para seu sofrimento. Indica-se aí, ao mesmo tempo, uma escolha ao sujeito e ao mesmo tempo, instaura-se a suposição de um saber. De fato, a moça despediu-se, mas ligou uns dez dias depois, pedindo-me uma hora para "começar o tratamento".

No segundo encontro, Doralice apresenta-se de forma distinta. Seu sofrimento, antes adivinhado nas roupas tristes e jeito contraído, agora se exibia, quase sem pudor. Era uma mulher desfeita em lágrimas que se apresentava a minha frente. A própria imagem do desamparo. O motivo de seu sofrimento foi logo revelado: seu marido havia saído de casa, com mala e tudo, e relutava em voltar. Isto acontecera logo depois dela ter vindo a primeira vez. Trata-se de uma coincidência?

Talvez, mas foi ela mesma quem indicou ao amado a porta da rua. Pergunto-lhe: "Você disse a ele para ir embora e esperava que fizesse o quê?". Ouvir isso teve o efeito de um choque. Confessa, então, que pensava, primeiro, que ele não iria e, segundo, que voltaria correndo, cheio de saudades e de arrependimento, para seus braços. Mas, o contrário se deu. Não somente, ele parecia gostar da situação como não parecia ter a menor intenção de voltar atrás. Foi morar com a mãe, pois não tinha meios de instalar-se sozinho. Tudo parecia bem. Ela, ao contrário, estava inconformada. Inconformada e surda: somente aos poucos começa a vislumbrar o que de fato acontecera. Seu "desconsolo" revelou-se, assim, mais ligado a uma decepção do que propriamente à ausência daquele que parecia tanto amar. O que de fato perdera? Em todo caso, a angústia não tardou a se manifestar.

Seguiu-se um período de entrevistas diárias, longas, onde Doralice chorava a mais não poder. Durante todo esse tempo, as tentativas de fazer voltar o marido foram inúmeras e infrutíferas. Rapidamente, porém, a partir dos benefícios terapêuticos desse primeiro tempo de tratamento, a jovem mulher começa a despertar o interesse dos homens a sua volta. Mais que depressa, o marido reata o casamento. É uma nova relação que se constrói, com muito trabalho e esforço de Doralice, que trazia uma história passada preenchida de fracassos amorosos. Fracassos amorosos e sucesso profissional, nada diverso do que se observa em muitas outras histórias relatadas por mulheres.

 

Para concluir

Esse pequeno relato, do início de um tratamento, aponta para as conseqüências do encontro com um analista, onde a suposição de saber dá lugar ao surgimento de um sujeito desejante, onde antes a inibição, depressão, escamoteava o desejo. A demanda de alívio, transformada em demanda de amor, dá lugar a uma questão dirigida ao Outro do amor: "que valor tenho para ele?"24 Encontro com o analista, dizemos, ou com um Outro a quem algo falta, a palavra do sujeito, que adquire seu peso e valor, no enquadramento de um tratamento. Gostaríamos, então, de concluir, sublinhando que, ao falar de desamparo, designamos um estado e ao falarmos de angústia nos referimos ao afeto que invade o sujeito. Sendo assim, é de uma angústia primordial, primeira, que se supõe na base do nascimento do sujeito, que se trataria no desamparo. Não de uma angústia-sinal, que tem uma função, de prevenir o eu da ameaça de um perigo ligado ao trauma. As patologias de nossa época, em alguns aspectos, similares àquelas que deram nascimento à psicanálise –pensamos no que a psiquiatria denominou pânico, especialmente- trazem, em muitos casos, uma angústia paralisante, avassaladora, e um desamparo flagrante.

 

Referências

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Recebido em 05 de julho de 2002
Aceito em 22 de agosto de 2002
Revisado em 25 de agosto de 2002

 

 

NOTAS

1 Texto relativo à pesquisa em andamento, coordenada pela autora e apoiada pelo CNPq, sobre "A angústia na clínica hoje"; apresentado no VI Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, organizado pela Rede Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, realizado em Recife, no perído de 5 a 8 de setembro de 2002.
2 LACAN, J. La tercera. Intervencyones y textos. B. Aires: Manantial, 1988.
3 Sobre esse ponto, C.F. BESSET,V.L. A clínica da angústia: faces do real. In: Besset, V. L. (org.) Angústia. São Paulo: Escuta, 2002, pp. 15-29.
4 LAURENT, E. Una sesión orientadora por lo real. XI Encontro Internacional do Campo Freudiano. www.xiencuentro2000.com.ar/htm.encuentro.htm , 10/01/2000.
5 PLATON. Le Banquet ou De l'amour. Robin, L. e Moreau, M. J. (tradutores). Paris: Gallimard (Collection Folio/Essais), 1950, p. 69.
6 MILLER, J.-A. e LAURENT, E. L'Autre qui n'existe pas et ses comités d'éthique. (1996-1997). Seminário inédito.
7 PEREIRA, M.E.C. Pânico e desamparo.São Paulo: Escuta, 1999, pp.232-236.
8 FREUD, S. Pulsiones y destinos de pulsión (1915). O.C.Vol. XIV. B. Aires: Amorrortu, 1989, p.131.
9 LACAN, J. Le Séminaire. Livre XX. Lacan, J. Le Séminaire. Livre XX. Paris: Seuil, 1975.
10 FREUD, S. Sobre la más generalizada degradación de la vida amorosa (1912). O.C.Vol. XI. B. Aires: Amorrortu, 1989, p.175.
11 FREUD, S. Tres ensayos de teoría sexual (1905). Vol. VII. Sigmund Freud-Obras Completas. B. Aires: Amorrortu Ed., 1989, p. 203.
12 FREUD, S. Tres ensayos de teoría sexual (1905).op.cit., p. 205.
13 BESSET, V. L. Do horror ao ato – a sexualidade na etiologia da neurose obsessiva. Latusa. N. 3, abril 1999, pp. 69-82.
14 FREUD, S. El mal-estar en la cultura. (1930 [1929]). O.C. Vol. XXI. B. Aires: Amorrortu, 1988, pp. 57-140.
15 BESSET, V.L. Amor e dor: rima do gozo? Opção Lacaniana. N. 32, dez. 2001, pp. 65-68.
16 LACAN, J. Le Séminaire. Livre VIII. Paris: Seuil, 1991
17 RAMOS, P. Angustia y subjetividad. La angustia, su razón estrutural y sus modalidades clínicas. (Ramos, P. org.). Buenos Aires: Servicio de Psicopatología del Hospital Gral. de Agudos "Dr. José María Ramos Mejía", 2001, pp. 15-37.
18 LACAN, J. Le Séminaire. Livre VIII. Paris: Seuil, 1991.
19 LOPES, V.L. O amor e o analista: questões sobre a transferência. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. vol. 42, n. 1 Jan.fev. 1993, pp. 33-36.
20 LACAN, J. Le Séminaire. Livre XI. Paris: Seuil, 1973, p. 210.
21 LACAN, J. Le Séminaire. Livre XX. Paris: Seuil, 1975, p. 64.
22 BESSET,V.L. A clínica da angústia: faces do real. In: Besset, V. L. (org.) Angústia. São Paulo: Escuta, 2002, pp. 15-29.
23 FREUD, S. Duelo y melancolia (1917 [1915]). Vol. XIV. O.C. B. Aires: Amorrortu, 1989, p. 242.
24 C.F. BESSET, V. L. Amor com-paixão, amor 'compulsão': pequeno ensaio sobre a paixão. In: (Lutterbäch-Hölck, A.L. e Soares, C.E.L.V., orgs.). As paixões do ser. Kalimeros. Rio de Janeiro: Contra Capa. 1998, pp. 187-201.

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