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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. v.3 n.1 Fortaleza mar. 2003

 

ARTIGOS

 

Sobre a escuta de ecos literários e a escrita da clínica na re-invenção da psicanálise

 

 

Leônia Cavalcante Teixeira

Dr. em Saúde Coletiva (Instituto de Medicina Social-UERJ), Professor dos Cursos de Mestrado e Graduação em Psicologia da UNIFOR. End. Av. Santos Dumont, 7007-902 - Papicu. Fortaleza - CE 60150-160. e-mail: leoniat@unifor.br

 

 


RESUMO

Trataremos de uma reflexão sobre o lugar da literatura na elaboração do saber psicanalítico. O objetivo é delinear sua importância fundamental nesse processo, a partir do reconhecimento de que a escrita literária se impõe como necessidade para Freud, ocupando locus basilar na caminhada contínua de formação para o analista. Consideramos que os ecos dos efeitos que a literatura lhe causou constituem matéria-prima para a produção do saber psicanalítico, caracterizando um estilo de escrita singular e inseparável dos modos de transmissão da psicanálise. Neste artigo, ressaltamos o lugar de Freud como autor e a transferência ao seu estilo como um importante fator de filiação no percurso do formar-se analista. Também destacamos a escrita sobre a clínica e a interessante questão do analista-escritor.

Palavras-chave: literatura, metapsicologia, clínica, escrita, formação do analista.


ABSTRACT

We deal with a reflection on the place of literature in the elaboration of psychoanalytic knowledge. The objective is to outline its fundamental importance in this process, beginning with the acknowledgement of what the literary writings impose as necessary to Freud, occupying basic locus in the continuing journey of the formation of the analyst. We consider that the echoes of the effects that literature caused constitute raw materials for the production of psychoanalytic knowledge, characterizing a unique style of writing, which is inseparable from the modes of transmission of psychoanalysis. In this article, we highlight the place of Freud as an author and the transfer of his style as an important factor of affiliation on the road to forming an analyst. We also emphasize the writing of and about clinical experience and the interesting question of the writer-analyst.

Keywords: literature, meta-psychological, clinical, writing, formation of the analyst.


 

 

Freud-autor: uma questão de estilo

É uma mudança de olhar que propicia a Freud uma retomada de posição quanto ao seu lugar no processo terapêutico e, conseqüentemente, um reposicionamento teórico no entendimento dos males da alma, já presentes em seus cúmplices literários. A literatura impõe-se como solo no qual os grandes problemas do conhecimento, os verdadeiros enigmas da vida e os mais fortes sentimentos e impulsos conflitantes são afirmados, solo no qual o mistério do homem funciona como matéria-prima para a criação. É entendendo o movimento teórico de Freud como suportado pela escrita que, antes de tudo, ele se impõe como autor, como criador : é a escrita que o faz pulsar em direção à construção dos pilares cruciais do edifício psicanalítico.

Todos esses rumos exaustivamente acenados por Freud só permitem a ele ser, ao consenso dos leitores de hoje - para além do pensador e do cientista - um escritor, devido ao fato inelutável de que um escritor assim o é por sua escritura. E esta consiste em um ato de decisão, em um modo de escolha de um valor ético construído pelo trabalho duro e feliz da forma (Santos, 1999, p.120).

"O estilo de Freud é o do analisante(...)" (Roustang, 1977b, p. 92). A radicalidade dessa afirmação de Roustang ressalta o caráter especial pelo qual se constrói a obra freudiana. Ao estabelecer essa analogia, o autor põe à luz a tese de que o inconsciente pensa, escreve ! Ele nos lembra o já famoso trecho da carta de Freud a Fliess, quando ainda estava sendo gestada A Interpretação dos sonhos:

Aqui está. Foi difícil eu me decidir a deixar que saísse de minhas mãos. A intimidade pessoal não teria sido uma razão suficiente; foi preciso também minha honestidade intelectual um com o outro. Ele segue completamente os ditames do inconsciente, segundo o célebre princípio de Itzig, o viajante dominical: '- Itzig, para onde você vai? - E eu sei? Pergunte ao cavalo'. Não iniciei um só parágrafo sabendo aonde ele iria terminar. É claro que o livro não foi escrito para o leitor; depois das duas primeiras páginas, desisti de qualquer tentativa de cuidar do estilo (Freud-Fliess, 1989, p.320).

A contribuição de Roustang não pára por aí, mas continua com a defesa da singularidade da autoria da obra por Freud, diferenciando-a das fáceis correspondências que podem ser feitas entre o modo de escrita que funda a psicanálise e as práticas do rascunho e da escrita automática, preconizada pelos surrealistas. Para ele, ambas não constituem obras marcadas pela força e impertinência do inconsciente, não podendo ser comparadas ao ato de escrita de Freud.

Pensamos que a escrita empurra e suporta todo o processo de construção teórico da psicanálise por Freud. Não é uma escrita qualquer a que está em questão, mas uma escrita rica em metáforas e alusões a autores da literatura mundial, tanto que inaugural de um campo de saber que redimensiona os rumos do pensamento ocidental do século XX, especialmente no que tange à escrita da clínica como romance familiar e à história mítica da cultura.

A construção da psicanálise, portanto, edifica-se a partir da singularidade de Freud como autor, ao realizar uma experiência estética, reinventando-se ao romper com a mesmice subjetiva, criando mundos de possíveis.

A escrita freudiana traz, em seu cerne, o peso de inúmeros anos de tentativa de montagem de um campo científico e, paradoxalmente, a luta por um status diferenciado à sua teoria. É nesse sentido que a força da literatura e da arte em geral ocupa um lugar estratégico. A invenção da psicanálise implica, então, um reconhecimento à literatura e a toda dose de especulação filosófica, estética ou antropológica que esta tenha suscitado em Freud. Toda análise da relação entre psicanálise e literatura, seja qual for a via privilegiada de compreensão, faz um apelo explícito às relações entre Freud e o fato literário. Como fato literário, podemos compreender todos os aspectos inclusos no processo de criação, desde o reconhecimento de um sujeito-autor instituído pela prévia afirmação de um potencial leitor, até a apresentação de um texto como resultado.

Como percebemos, falar sobre literatura em Freud exige cuidados metodológicos que vão além da investigação sobre a teoria freudiana, em seu senso estrito. Ao contrário, podemos mesmo estabelecer que, antes de tudo, a constituição da psicanálise como disciplina autônoma somente foi possível considerando o lugar subjetivo que Freud ocupava frente a si próprio, ou seja, a psicanálise é tributária da problematização de uma relação de um sujeito consigo mesmo.

Então, como pôde constituir-se a consideração da subjetividade freudiana? Uma resposta, dentre outras, se evidencia fortemente : pela mediação da literatura e da escrita, ambas se colocando para Freud como necessidade e não como alegoria. Apelemos a Piglia (1994,p.68): "A psicanálise não é uma grande ficção? Uma ficção feita de sonhos, de lembranças, de citações que acabam criando uma espécie de bovarismo clínico".

Desde os primeiros escritos, ou mesmo desde os primeiros esboços, o tema da literatura estava presente em Freud. Esta presença continuou por toda a sua vida, seja nas notas esparsas, no diário, nos cadernos de reflexão, nas cartas, nos estudos de caso, nos textos mais ou menos elaborados... O gosto freudiano pela literatura em geral sempre deu uma tonalidade viva às suas obras, transmitindo uma energia vital que pode ser comparada àquela que o fez também se dedicar ao prazer de colecionar peças arqueológicas e de se aventurar ao conhecimento dos mitos e lendas, bem como à arte em geral.

Foucault, em um belo texto intitulado  Qu'est-ce qu'un auteur? (1994, p. 789-821),  discute a questão da função-autor, iluminando-a a partir da análise de noções como de escrita, morte, nome e obra. A figura do autor, no âmbito da literatura e da discursividade, significa bastante em relação ao modo de circulação e de apropriação de uma obra, diferentemente do discurso da ciência, cuja relevância depende das proposições teórico-metodológicas e não daquele que as produziu. Com relação aos dois campos então citados, como intrinsecamente dependentes de seus criadores, a psicanálise aí se situa, o que quer dizer que a figura de Freud exerce uma função primordial para a sua consolidação.

Esta questão nos envia à consideração do tema da filiação. Este ponto, tão caro à psicanálise e essencial para esta discussão, parece ser a via privilegiada de constituição do campo psicanalítico pelo investimento maciço de que a figura de Freud é alvo. Como bem se pronuncia Lacan : "o retorno a Freud de que aqui me faço arauto" (Lacan, 1998, p. 402). É ainda com Lacan que o lugar de fundamento de Freud para a psicanálise é reconhecido e até mesmo acentuado, já que, várias vezes, ele afirma que toda a sua obra consiste em um movimento de retorno necessário a Freud, mesmo que para reescrevê-lo sobre outras bases : um retorno que transmite à paixão de Freud e à paixão por Freud. É interessante que, nesse senso de retorno ao nosso autor como estratégia para a apreensão de sua obra, ambos entrecruzados, algo se põe como importante em termos da não-temporalidade da experiência desse fundador que, no caso de Freud, é bem evidenciada pela figura de Colombo ao qual o mesmo é comparado. É um modo de permitir que a obra permaneça em evidência, de fazê-la reviver continuamente, reconhecendo no autor algo de juventude, no sentido da re-atualização de suas questões centrais.

 

A escrita do analista como espaço de ratificação e superação de filiação

Não há como lidar com a psicanálise, sem nos deixar ser tocados pela singular construção da obra, uma construção que segue o caráter inovador e flexível da arte, muito mais do que os postulados cientificistas exigidos para a constituição de um novo campo de saber. É interessante lembrar que é bastante forte o desejo daqueles que se dedicam ao ofício do psicanalisar de se aventurar pelas searas da escrita literária ou, pelo menos, ter, na escrita dos casos clínicos que acompanham, um recurso de elaboração necessário. Aliás, Green, ao escrever sobre a escrita do psicanalista, pergunta logo de início: "por que eu escrevia?" (1977, p.27), ao que responde que é para testemunhar, testemunhar sobre si mesmo, como no lugar de analista, mas sobre si mesmo.

A escrita do analista situa algo que, para ele, se diferencia de uma escrita da ordem da arte ou da ciência, pois que marcada por uma interrogação subjetiva que apela para o lugar da verdade. O autor escreve que o espanto é grande quando se confronta com textos de psicanalistas que não apresentam nada diferente do que é simples e facilmente acessível à observação e reconhecível por eles próprios. Então, ele questiona, por que escrevem os analistas? Para testemunhar a experiência psicanalítica ! Experiência baseada em uma palavra singular cuja escrita universaliza, apagando o espaço e o tempo analíticos : "o fantasma de universalidade e de intemporalidade habita a escrita analítica, para apagar o caráter limitado e limitante da compreensão e da ação do processo analítico" (ibid, p. 61-62).

A escrita analítica, se assim a podemos considerar, deixa entrever aquilo que se põe como insuportável na posição do analista, funcionando como peça fundamental na elaboração conceitual da psicanálise, consistindo mesmo no passar por provas subjetivas pelo enfrentar dos riscos que a escrita apresenta. Ao mesmo tempo, escrever sobre a prática significa tentar exorcizar os efeitos da sedução, liberar-se dos fantasmas amorosos ou mortíferos que cercam o exercício do analista. A escrita, assim, impõe-se como fundamental, mesmo para a estruturação do corpus psicanalítico, iluminando fragmentos da vida e da análise, vivências, transferências, elucubrações metapsicológicas. Entendemos que cabe ao analista se questionar, em tal ou qual momento da vida, sobre sua motivação à escrita, seu desejo e a inibição que encontra.

Um dado interessante na constituição teórica de Freud diz respeito à questão da escrita sobre a clínica, já que, ao mesmo tempo que a sua elaboração doutrinária se fortificava e ganhava tônus pela incorporação de conceitos originais, como os de compulsão à repetição e pulsão de morte, por exemplo, menos a clínica e sua elaboração se fazem presentes. Tal constatação, que nos parece paradoxal, aponta para mais um enigma na obra freudiana. Toda a construção dos relatos de caso - Caso Dora (histeria), Homem dos Ratos e Homem dos Lobos (neurose obsessiva), O Pequeno Hans (neurose fóbica infantil), Presidente Schreber (paranóia) - se situa, em termos do percurso da obra psicanalítica, no momento de elaboração e consolidação, embora não sem paradoxos, da primeira tópica. Certamente, os casos de Freud teriam sido problematizados de modo diverso, caso tivessem sido elaborados sobre o "pano de fundo" das mudanças introduzidas à teoria a partir dos anos quatorze. Os casos não só teriam sido escritos diferentemente, como, principalmente, teriam sido vivenciados na experiência transferencial de modo mais complexo. Mesmo assim, já se explicitavam, à flor da pele, as dúvidas e os conflitos que assolam Freud, contrastando-o com a teoria estabelecida e com os ideais de cientificidade que, constantemente, se mostram em confronto com a crescente presença de um estilo narrativo outro, mais próximo ao da literatura. Assim, desde Estudos sobre a Histeria (1895) e, especificamente em 1905, com Fragmentos de uma análise de histeria, a ênfase recai no contar histórias sobre a história do paciente, personagem que se mostra pelos seus sintomas.

Ao abordar a questão do analista-escritor como criador, no sentido de re-invenção teórica, Freud se sobressai no sentido mais propriamente dito da criação literária, ocupando um lugar diferenciado frente aos analistas que se motivam pela escrita: a escrita se afirma como um exercício de estilo. É como se escrever sobre a psicanálise e reescrevê-la constituíssem movimentos de um mesmo ato de escrita endereçado a Freud, como que cartas escritas ao Pai.

Mais uma vez, reafirmamos que a inseminação cruzada da reflexão analítica e a da criação literária, com o que esta implica de compreensão estética profunda e a outra de prática clínica, estaria, talvez, no fundamento dos analistas que se lançam no terreno arenoso da escrita. Uma questão particularmente interessante é oferecida por escritores que passaram pela experiência da análise pessoal, como Michel Leiris, por exemplo. Será que essa experiência colocaria demandas diversas para o escritor?

 Faz tempo que a psicanálise participa da literatura de toda nossa esfera cultural, que ela tomou posse dela e que toda a sua influência esteja se alargando. Ela tem também seu papel no meu romance sobre o tempo que acabou de surgir, A montanha mágica (Mann, 1996, 1888).

É curioso também que a troca permanente entre psicanálise e literatura se faz perceber através da presença de analistas como personagens de romances e a utilização de conceitos psicanalíticos mais ou menos vulgarizados, e não somente pela presença de analistas que se dedicam às questões da literatura.

É curioso um escritor. É uma contradição e também uma ausência de sentido. Escrever é também não falar. É se calar. É gritar sem barulho. É repousante um escritor, geralmente se escuta muito. Não se fala muito, porque é impossível falar a alguém de um livro que se escreve e principalmente de um livro que se está escrevendo. É impossível (Duras, 1993, p.28).

Adler (1998, p. 389) reporta-se a Lacan e a Matthieu Galley para intensificar o lugar de Duras frente à escrita e ao inconsciente, escrevendo: "Lacan designa Duras como a que descreve a sublimação, a que sabe, pela escrita, se conectar diretamente sobre o inconsciente. Sua procura é comparável à ascese de uma mística": "como ela sabe o que ensino?" (apud Allouch, 1988, p.166). A presença de Marguerite Duras neste momento do escrito ressalta tal contato entre literatura e psicanálise, já que, mesmo tendo declarado que lera várias vezes o texto de Freud A interpretação dos sonhos e sendo amiga pessoal de Lacan, a escritora jamais empregou o termo inconsciente em suas obras.

As singularidades da arquitetura da narrativa de Freud se entrecruzam com suas elaborações teóricas, evidenciando uma oscilação constante entre a exigência criteriosa em seguir os parâmetros de cientificidade de sua época e a sedução por uma construção narrativa próxima à da literatura. Entendemos esse impasse no qual Freud se situa como decorrente de um conflito entre o pensamento iluminista da ciência de sua época e a prática clínica, somados aos efeitos subjetivos que sua radical e progressiva proximidade à arte propiciava. É nesse contexto que Freud se constitui autor de um dos campos de saber mais marcantes do século XX, justamente por lançar possibilidades alternativas de pensar o humano, através do estilo singular da escuta dos ruídos do Inconsciente e de suas narrativas. Freud soube escutar o sofrimento de seus pacientes a partir de ecos literários, possibilitando a invenção de um campo de intervenção psíquica e investigação da cultura.

 

Referências

Adler, L. (1998). Marguerite Duras. Paris: Gallimard.         [ Links ]

Allouch, J. (1988). 132 bons mots avec Jacques Lacan. Paris: Érès.         [ Links ]

Assoun, P.-L. (1998). Frères et sœurs. Tome 1: Le lien inconscient. Paris: Anthropos.         [ Links ]

Duras, M. (1993). Écrire. Paris: Gallimard.         [ Links ]

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Lacan, J. (1998). Escritos. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.         [ Links ]

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Roustang, F. (1977). Écrire la psychanalyse. Nouvelle Révue de Psychanalyse, (16), 68-77.         [ Links ]

Santos, R. C. dos. (1999). Modos de saber, modos de adoecer. Belo Horizonte, MG: UFMG.         [ Links ]

 

 

Recebido em 12 de outubro de 2002
Aceito em 18 de janeiro de 2003
Revisado em 10 de fevereiro de 2003

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