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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.5 no.2 Fortaleza Sept. 2005

 

EDITORIAL

 

Clínica, insegurança e catástrofe

 

 

É inquestionável a importância dos efeitos subjetivos causados pela insegurança e pela onda de violência que se alastram pelas ruas e invadem casas e instituições, convocando o sujeito a dar uma resposta diante do catastrófico.

Este número da Revista Mal-estar e Subjetividade toma como ponto de partida reflexões sobre O aparato de combate ao crime e a sensação de insegurança que resulta da tentativa do Estado em garantir um espaço cidadão. Um dos traços trabalhados neste artigo é a sensação de insegurança relacionada ao acréscimo de medidas de combate ao crime em detrimento de intervenções mais efetivas voltadas para a diminuição do crime em si. Culmina com uma discussão sobre a crise de insegurança, o sentimento de segurança almejado pela população, as relações entre crime e pobreza, a exclusão social e as fortalezas urbanas que se constroem em defesa da integridade.

Segue com uma discussão bastante em voga entre os psicanalistas sobre os efeitos e os defeitos da função paterna, suscitada, neste caso, por uma experiência realizada em duas instâncias: a privada e a institucional. A homossexualidade na adolescência é o referencial sintomático que guia esta análise comparativa preliminar entre a linguagem pública e privada e as práticas em contextos sociais diversos.

Esta discussão, quando levada para o âmbito da relação professor-aluno, revela - através de uma pesquisa realizada por meio de entrevistas e questionários aplicados a professores e alunos da rede particular de ensino de Belo Horizonte - Minas Gerais -, que tanto a violência do aluno como o mal-estar sentido pelo professor apontam em direção a um sintoma contemporâneo, cuja justificativa se apresenta no declínio da autoridade do professor e na perda do desejo do educador, necessitando-se com isso de uma reinvenção do vínculo educativo, em função de uma reavaliação do processo civilizatório.

A reavaliação do processo civilizatório através do catastrófico, do traumático e do sentimento de estranheza apresentada mediante trajetórias percorridas com pacientes de terceira geração de imigrantes no Brasil é discutida como um tema de grande interesse, perpassando variáveis importantes da perspectiva transgeracional, da cultura, do estranho e do estrangeiro, tudo voltado para a tarefa de reconstrução de um passado.

De forma mais específica, os temas tratados neste número, abordando o psicopatológico e a psicopatologia da vida cotidiana tentam dar conta do catastrófico que envolve o sujeito em suas respostas ao processo civilizatório, e retomam o objetivo das oficinas terapêuticas no cenário da Reforma Psiquiátrica para refletir sobre sua função de promoção de mudança lógica manicomial. Este trabalho conclui que elas preservam resquícios de um paradigma inconciliável com a proposta de desinstitucionalização.

Acoplados em um núcleo que envolve: histeria de angústia e paranóia; perversão, desejo e pulsão; psicopatologia e pósestruturalismo; e psicopatologia e fenomenologia, os estudos discutem sobre conceitos, revisão e construção de casos clínicos à luz conceitual e referencial de clássicos da psicanálise e de teorias que sustentam o adoecimento do sujeito e do psiquismo.

Sobre a sintomatologia na histeria de angústia e na paranóia propõe-se uma leitura em torno do sintoma e da forma de funcionamento psíquico. Na perversão, no desejo e na pulsão, justifica-se a dissociação entre perversão e perversidade, a partir do grafo do desejo de Jacques Lacan. Na psicopatologia e no pósestruturalismo, faz-se uma análise da psicopatologia como uma disciplina frente às mudanças epistemológicas decorrentes do pós223 estruturalismo passando pelos conceitos de estrutura, estruturalismo, pós-modernidade, paradigma sistêmico, hermenêutica contemporânea e enfoque compreensivo em psicopatologia. Na psicopatologia e fenomenologia, discute-se um caso clínico da fenomenologia segundo os pressupostos básicos da teoria de Ludwig Binswanger.

Encerrando o escopo de artigos listados neste número, apresenta-se uma contribuição acadêmica importante para os que constroem teses doutorais em torno de problemas de pesquisas que envolvem as áreas do Direito e da Psicanálise. São discutidos obstáculos que ocorrem no trajeto de construção de trabalhos, à luz de recomendações da Comisión Nacional de Evaluación y Acreditación Universitária (CONEAU), agência de avaliação e de fomento da Argentina, e que servem como referência para as demais agências de avaliação.

No campo das resenhas, apresentamos La muerte sin escena de Nelly Schnaith, um ensaio inquietante sobre a transição do sentido da representação da morte à morte da representação no ocidente.

 

Henrique Figueiredo
Carneiro Editor e Organizador

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