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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.8 no.2 Fortaleza June 2008

 

EDITORIAL

 

Mal-estar, tempo, ócio e sofrimento psíquico

 

Discontents, time, leisure and psychic suffering

 

 

A presença inquestionável do mal-estar, identificada nas relações sociais que refletem uma das condições apontadas por Freud como sendo a mais complexa forma de sofrimento psíquico, abre um desafio para a escuta clínica e para as novas formas de interpretação que se extraem da esgarçada trama dos laços sociais.

Assim, temas como a nervura do tempo e seu desdobramento, o redobramento do sujeito sobre si e as buscas por novos sentidos como saídas às tensões lançadas sobre o aparelho psíquico exigem a implicação de todos sobre o lugar do ócio no exíguo tempo objetivo e na representação subjetiva de cada ato.

São atos que sobrecarregam, na dimensão psíquica, os espaços vitais para o sujeito, levando-o, muitas vezes, ao sacrifício dos laços na família e no seu entorno social, deflagrando a ausência ou impeditivos para o lazer, a diversão, e a um impasse no desligamento parcial do investimento feito sobre as atividades realizadas. Atos que, em nome de um discurso, ou melhor, de discursos híbridos vigentes, exige do sujeito uma constante atenção voltada para a produção demandada por um Amo impiedoso e que se põe, elegantemente, disfarçado nas leis do mercado.

Um Amo sem rosto, pois não há como identificá-lo, rivalizá-lo ou eliminá-lo. Diante dessa impossibilidade, o que fica como marca da miséria psíquica, empobrecida pelas formas insistentes de vida, é um movimento regressivo que sobrecarrega o corpo como o último ponto, uma inflexão, além da qual seria impensável um lugar para o sujeito.

As conseqüências são drásticas e um espaço para se pensar a qualidade das relações dentro dos discursos constituídos é reclamado. É reivindicado, portanto, o que fazer com o tempo objetivo já que na esfera subjetiva há danos inquestionáveis que se apresentam sob a forma de angústia, a qual o sujeito tenta preencher, mais diretamente, com formas de supressão da dor, ao invés de dar um sentido para os impasses descortinados pela vida cotidiana.

Portanto, inquestionavelmente, o desafio que se mostra diante de todos é um mergulho na qualidade, tema de complexidade inenarrável diante do reinado quantitativo que inunda as relações, quebrantando os laços e exigindo novas leituras do tempo subjetivo e do ócio. Esta é uma passagem de grande importância, que não pode ser esquecida na posição do sujeito que se situa entre a natureza e a cultura.

Quando o homem se viu tomado com a presença do tempo do trabalho, inventou a arte e o lúdico. São essas, curiosamente, as ferramentas que as crianças utilizam diante do Outro, para mitificá-lo. Sofremos de ausência de mitos ou de efeitos de mitificação, não no sentido imaginário do termo, mas, na concepção de um mito que sustente os laços em cada empreitada em direção ao próximo.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e organizador

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