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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.8 no.3 Fortaleza Sept. 2008

 

EDITORIAL

 

Discursos e sintomas

 

Discourses and symptoms

 

 

Subjetividade e mal-estar estão, de forma inalienável, associados às produções de discursos e às tentativas de respostas que o sujeito acena diante da interrogação de um Amo, um Outro, que, não detendo a capacidade de curar, sustenta o poder através de tecnologias de vida que se inserem, sobretudo, nos discursos atravessados por uma biopolítica. Se antes os discursos apontavam a uma lógica sustentada na "arte de viver", pautada no espaço ético promulgado pela dietética das relações sociais, prevalece hoje uma sensação de que viver é um constante risco "a céu aberto".

Com isso, se instalam diversas formas discursivas derivadas das posições subjetivas que cada um ocupa em direção ao saber, bem como os sintomas insistentes que, através de uma identificação do sujeito com algo passível de uma representação, ganham força no espaço da sociedade.

Assim, cada vez mais os sintomas ganham força de poder social. O sujeito se identifica com a sigla da depressão e vislumbra-se mediante uma imagem que reclama a separação de um Amo, afetando profundamente o espaço da palavra. É essa a ordem de um clamor produzido e é essa a via de acesso ao inconsciente.

Via discurso, é fundamental que seja lançada a pergunta pela inconsistência do Outro, através dos sinais que o tornam cambaleante. E o que turva a imagem do sujeito no contemporâneo é a falta de suporte discursivo que possa sustentar com o próximo uma relação de amor. Um amor que, como sabemos, pela psicanálise, é mola propulsora de uma re-significação subjetiva, seja na clínica ou no social.

Apresentamos, neste número, trabalhos que perpassam esta gama de inquietações. São textos que tratam, via sintoma: a depressão por um viés da antropologia; a anorexia como uma forma de clamor pela separação entre o sujeito e o Outro; o sofrimento relacionado com as falhas da função paterna, no contexto da criança tomada do lugar de Mestre; e, das rupturas amorosas na vida do sujeito, associadas ao surgimento de sintomas de depressão e afetação da auto-estima.

Pelos caminhos do discurso, os textos trazem reflexões bastante pertinentes ao campo da subjetividade, quando discutem: o amor e o saber na experiência analítica; o brinquedo terapêutico como forma de expressão de um conjunto de práticas discursivas e não discursivas; da análise de dois discursos de Freud sobre a religião; da noção de espaço enquanto lugar de produção de subjetividade; do encontro gerado entre os discursos da Psicanálise e da Ciência; e, finalmente, dos deslocamentos sofridos pelo discurso do trágico e sua importância na formação da criança, para uma concepção de causa de comportamento depressivo e patológico.

Encerramos este número com a resenha de uma obra que pensa os efeitos sintomáticos lançados sobre a subjetividade a partir da análise realizada sobre os laços sociais devastados e pela caracterização de um verdadeiro "estado de exceção".

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e organizador

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