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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148On-line version ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. vol.9 no.1 Fortaleza Mar. 2009

 

EDITORIAL

 

As relações entre as pessoas como fonte de mal-estar

 

Relationships between people as a source of discontent

 

 

Freud no seu famoso texto "Mal-estar na Cultura", quando precisou as origens do mal-estar, deixou bem claro que uma das fontes - e talvez a mais complexa entre as três que menciona - emana das relações entre as pessoas.

Analisamos esta afirmativa nos diversos trabalhos que este número de Mal-estar e Subjetividade apresenta.

Começamos por um trabalho sobre o sentido do ócio para o sujeito na condição de aposentado. A aposentadoria joga com uma dupla face do desejo humano quando pode representar tanto a utilização de um tempo livre como também uma forma de produção de angústia, débito ou tédio criado pela condição alcançada. As relações sociais tanto podem enriquecer em qualidade como podem empobrecer quantitativamente, exigindo uma atualização subjetiva do sujeito.

Nesta categoria de produção de mal-estar, todos os elementos de cunho eminentemente subjetivo emergem: razão, emoção, sensações, enfim uma gama de traços que se atropelam e se avolumam quando o sujeito se encontra com uma situação especial da vivência da dor no corpo. Quando esta dor é vivida pelo paciente oncológico, a mediação promulgada pelas relações entre as pessoas ganham o estatuto de amparo. Assim, o espaço hospitalar pode funcionar positiva ou negativamente, de acordo com as relações sustentadas pela equipe de trabalho.

Mal-estar que se localiza no percurso realizado entre a perda de qualidade nas relações, reclamando a presença fundamental do Outro nas cenas sociais primordiais para a construção de um lugar subjetivo, que comparece no corpo como o último ponto de amarração possível. É por este caminho que se pode trabalhar uma hipótese de que a psicossomática implica a presença iniludível da angústia quando algo da ordem do impensável se coloca diante do sujeito.

Um sofrimento que surge quando, frente ao impensável, o sujeito opera um corte radical na sua história, alterando desesperadamente sua identidade, trazendo consequências graves para a relação entre o eu e o outro. Esta passagem pode ser acompanhada principalmente com pacientes que fazem uma incisão sobre o corpo em função de eliminação do mal-estar. Os efeitos são sentidos no espaço das relações sociais em função do sentimento de inadequabilidade e rejeição, que podem aflorar como um desencadeador de uma angústia maior. Estas construções são colocadas neste número a partir da análise sobre os efeitos subjetivos de uma intervenção bariátrica.

As relações sociais promulgam, assim, amparo e medo. Com isso, aparece a segregação como forma de defesa coletiva nos espaços das cidades brasileiras. A violência atravessa as relações entre as pessoas e eleva o próximo à categoria de estranho. Os efeitos desse estranhamento chegam à clínica através das diferentes faces que o Outro assume na perversão, bem como, mediante a dinâmica de um discurso da desqualificação e da qualificação social que afetam as estruturas sociais como modos de subjetivação e de atuação sobre a base psicossocial dos indivíduos.

São relações balizadas pela lógica do consumo no contexto da sociedade capitalista, envolvendo o processo de produção de subjetividade a que assistimos, exigindo cada vez mais a valorização da subjetividade na lógica reinante da objetividade a qualquer preço. Enfim, no desconforto cada vez mais aparente de um destino que escapa do sujeito, a miséria humana é marca iniludível do mal-estar que se situa no marco das relações entre as pessoas.

Finalizamos, informando à Comunidade Científica que a Revista Mal-estar e Subjetividade passou a publicar textos com originais nas línguas portuguesa, espanhola, francesa ou inglesa, a partir de dezembro de 2008. A outra informação alvissareira é que contamos com o Auxilio de Editoração do CNPq em 2009.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e organizador

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