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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.9 no.4 Fortaleza Dec. 2009

 

RELATOS DE PESQUISA

 

A construção de saber na análise com crianças: um estudo de caso

 

 

Cynara Teixeira Ribeiro

Psicóloga formada pela UFRN. Mestre em Psicologia pela PUC/SP. Atualmente, professora da UFRN. End.: Raimundo Chaves, 1652, 2-Q-B, Candelária. Natal-RN. CEP: 59064-390. E-mail: cynara_ribeiro@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

Através de um estudo de caso, o presente trabalho visa ilustrar o percurso realizado por uma criança durante o seu tratamento analítico e o delicado manejo clínico que lhe possibilitou um reposicionamento em relação às formas de satisfação pulsional. No caso em questão, o vínculo transferencial com a analista permitiu a Vitório, garoto de seis anos, repetir, durante as sessões, o horror da vivência de um abandono e de um não saber sobre as suas origens que o deixava com receio de ser novamente abandonado, à mercê do enigma do desejo do Outro. Com o trabalho de análise, porém, Vitório pôde caminhar em direção ao que não podia ser visto/conhecido, elaborando um saber e colocando-o em ato, fazendo a escolha de não permanecer no lugar de abandonado e elaborando simbolicamente o significado de ir embora, ressignificando a experiência vivida na relação com a sua mãe. Sendo assim, o caso exemplifica uma proposta de saber que Vitório pôde, de algum modo, aceitar e através da qual ele conseguiu (re)estruturar sua fantasia, o que, consequentemente, teve efeitos sobre o seu sintoma. Dessa forma, a partir da singularidade do caso apresentado, pode-se concluir que a construção de saber é um dos resultados possíveis de serem obtidos na análise com crianças e que essa construção propicia um movimento do sujeito em relação ao seu sintoma. Tais conclusões permitem fazer avançar o campo dessa clínica.

Palavras-chave: clínica, análise com crianças, transferência, saber, mudança subjetiva.


ABSTRACT

Through a case study, this paper aims to illustrate the route taken by a child during his analytic treatment and the delicate management that enabled him to reposition in the ways to drive satisfaction. In this case, the link transference to the analyst led to Vitório, a boy six years, again during the sessions, the horror of living as an abandonment and a lack of knowledge about their origins that made him afraid to be again left at the mercy of the enigma of Other's desire. With the work of analysis, but Vitório could walk toward what could not be seen known, developing a knowledge and putting it into action, making the choice not to remain in place for abandoned and symbolically elaborating the meaning of leaving , giving new meaning to the experience in relation to his mother. Thus, the case exemplifies a proposal knowing that Vitório was able to somehow accept and by which he did (re)structure their fantasy, which in turn had an effect on their symptoms. Thus, from the uniqueness of the case presented, we can conclude that the construction of knowledge is one of the possible results to be obtained from the analysis with children and that this construction provides a movement of the subject in relation to their symptoms. These findings allow to advance the field of that clinic.

Keywords: clinic, children's analysis, transference, knowledge, subjective change.


 

 

A construção de saber na análise com crianças: um estudo de caso

O presente trabalho consiste em um estudo de caso clínico, cujo relato será esquematizado em três momentos, tomando como referência a construção de saber e o movimento subjetivo, tornados possíveis ao longo de um processo analítico. A escolha por esta forma de sistematização do caso se deve ao fato de considerarmos que um relevante percurso de trabalho foi realizado pelo analisante, o qual efetuou uma mudança de posição que foi evidenciada por um ato decidido, que fez aparecer o sujeito em toda a sua singularidade. Dessa forma, tomando como ponto de partida a especificidade da clínica com crianças, o trabalho pretende demonstrar como o deslizamento de significantes e a construção de um saber em análise permitiram uma mudança no lugar reservado ao sujeito e, consequentemente, um descolamento do seu sintoma.

 

Vitório e o sintoma de não saber

Vitório era um garoto de seis anos de idade quando chegou, trazido pela sua avó paterna, a qual requisitava para ele 'atendimento psicológico', alegando que ele era agressivo e ia mal na escola, pois ainda não sabia ler, não parava quieto e brigava com os colegas e a professora. Esta era a queixa inicial dessa mulher. Porém, com o desenrolar das entrevistas preliminares, ela contou, como que por acaso, que Vitório e o seu irmão haviam sido 'abandonados' pela mãe há cerca de quatro anos e que, a partir desse acontecimento, era ela quem se encarregava de cuidar dos dois. Ainda segundo a avó, a mãe dos meninos foi embora por ser 'sem vergonha mesmo', 'ganhou o mundo' e nunca mais deu notícias e, por causa disso, a avó achava que os dois não deviam ficar lembrando-se dela. Apesar de a guarda legal de Vitório e de seu irmão ser do pai de ambos, ou seja, do filho dessa mulher, ela entrara com uma ação judicial na Vara de Família, requerendo-a para si, alegando que 'pai é qualquer um', 'se arranja em qualquer lugar' e que 'mãe é quem cria'. Por muitas vezes, inclusive, ela referia-se a Vitório como 'filho' e chegou a pedir para a professora dele que ensinasse que 'mãe é quem cria' também em sala de aula, ao que esta prontamente obedeceu - o que, no a posteriori, podemos relacionar com os 'problemas escolares' de Vitório. A avó de Vitório deixava claro que não estava acostumada a ser contrariada e sempre dava um jeito para que tudo acontecesse da forma como queria. Ela demonstrava acreditar que isso iria se repetir no 'atendimento psicológico' do neto, pois chegava às sessões dizendo o que deveria ser feito - da mesma forma que fazia com a professora dele. E a demanda implícita que a avó de Vitório endereçava à analista era a de que 'curasse' Vitório de sua agressividade, sem que isso implicasse se perguntar minimamente a quê esta respondia.

Por sua vez, Vitório chegou às primeiras sessões silencioso, tímido e fazendo exatamente o que a sua avó o mandava fazer: dizendo 'bom dia' ao chegar, pedindo 'licença' para entrar na sala e se despedindo com um 'obrigada'. Quando, logo na primeira sessão com ele, o perguntei o motivo de estar ali, Vitório respondeu que era porque a avó queria. Após alguma insistência da minha parte para que falasse mais sobre o porquê de ele estar ali, Vitório disse que a sua avó achava que ele tinha 'problema de vista' e que queria que ele usasse óculos, mas que ele não queria de jeito nenhum, porque, segundo ele, enxergava 'melhor' que a avó e que o pai. Resposta que se, em um primeiro momento, pode parecer despropositada, ao longo da condução do caso, se revelou crucial para a implicação de Vitório em seu processo de análise, pois possibilitou que ele, posteriormente, pudesse me endereçar uma demanda propriamente dele, descolada da demanda formulada pela avó. Além disso, essa afirmação de Vitório, de que enxerga melhor que a avó e o pai, apontam para a existência de um gozo nessa posição subjetiva de, diante da avó e do pai, colocar-se como quem não sabe (não vê/não lê). De fato, é sabido que o sujeito goza do seu sintoma na medida em que obtém, a partir deste, uma satisfação paradoxal que, no caso de Vitório, o fazia permanecer no lugar de não saber, especialmente frente à avó e ao pai, apesar de afirmar que conseguia enxergar melhor que os dois.

Após alguns dias decorridos das primeiras sessões, Vitório apareceu de óculos. Nitidamente incomodado com estes, ele portava-se de forma bastante peculiar: assim que chegava à sessão, tirava-os e colocava, em seu lugar, máscaras de brinquedo, que, ao contrário dos óculos, dificultam a visão; esquecia os óculos em casa e também na sala de atendimento ao ir embora - o que fazia a sua avó desesperar-se e voltar à clínica para recuperá-los. Vitório estava sempre tentando dar um jeito de não ver o que a avó queria que ele visse, e de ver o que ela queria que ele não visse. Era como resposta a este impasse que seu sintoma aparecia: o sintoma de não saber, que, na escola, tomava a forma do não saber ler, mas, nas sessões, mostrava-se como um não saber sobre a sua mãe e sobre as suas origens. É possível perceber aí também uma mensagem dirigida à analista: na sala de atendimento, Vitório demonstrava não precisar de óculos para enxergar o que queria, dando a entender que era capaz de ver, a despeito das suposições da avó e do pai. Além disso, nas brincadeiras durante as sessões, Vitório gostava especialmente de pegar armas e de brincar de atirar na analista, a maioria das vezes mirando em seus olhos. Por vezes, arranhava a poltrona da sala e amassava um urso. Ao brincar com bonecos, batia com muita força em dois: um boneco de cabelos pretos e uma boneca de cabelos brancos, a qual ele chamava de 'vovó' e de 'velha coroca'. Vitório jogava esses bonecos para longe, expressando simbolicamente toda a raiva que se pode supor que ele sentia por aqueles (pai e avó) estarem escondendo dele a história das suas origens. Vitório encontrou, assim, um espaço para expressar o que sentia, sem que isso fosse reprimido e/ou tomado pelo outro como 'agressividade' (no sentido puramente negativo desse termo).

 

O processo de construção de um saber em análise

Com o passar das sessões, Vitório foi se mostrando cada vez mais carente. Quando terminavam os atendimentos, ele despedia-se de todos os brinquedos com os quais havia brincado e afirmava sempre que havia perdido alguma coisa: a oportunidade de brincar com outros brinquedos, os jogos que disputava, o tempo da sessão etc. Além disso, tentava ansiosamente brincar com todos os brinquedos que existiam na sala (tentando evitar perder mais alguma coisa) e questionava insistentemente sobre o tempo da sessão, mostrando-se sempre muito triste quando esta acabava. Muitas vezes, Vitório chegou inclusive a tentar impedir ou postergar o término da mesma: fingia não ouvir quando era anunciado o fim, demorava muito para guardar os brinquedos e, às vezes, tentava prender a analista à cadeira com uma algema de plástico ou trancava a porta da sala, guardando a chave no bolso, tentando depois jogá-la fora, como forma de evitar que saíssemos dali. Ele tratava cada sessão como se fosse a última e perguntava repetidamente: 'vou mesmo poder brincar mais da próxima vez?'. Também não era incomum ele perguntar à analista se a mesma estaria lá na próxima sessão - o que, no a posteriori, podemos ler como um medo de que, tal como aconteceu com a sua mãe, ela também sumisse. Neste momento do tratamento, Vitório demonstrava não estar preparado para mais nenhuma perda.

Além disso, transferencialmente, Vitório apresentava-se na vertente do amor de transferência (Freud, 1996c): abraçava fortemente a analista sempre que a via e ao se despedir, perguntava se ela atendia também outros meninos e, certa vez, aproximou um boneco da sua boca e fez o barulho de um beijo, dizendo 'eu lhe dei um beijo'. Outra vez, quando foi necessário a analista desmarcar uma sessão porque ia viajar, ele perguntou-a se ia para os Estados Unidos encontrar o namorado e, por causa disso, não iria atendê-lo - vale salientar que, na época, estava passando na televisão uma novela em que a personagem principal abandonava um homem para ir para os EUA em busca de outro homem. A alegada agressividade de Vitório ficava cada vez mais distante e, em seu lugar, aparecia uma forte demanda de amor.

Com a transferência estabelecida, Vitório passou a mostrar cada vez mais a sua questão: queria ver alguma coisa, mas não conseguia, queria testar se alguém conseguia ver, ao mesmo tempo em que, nas sessões, escondia coisas e escondia-se, sempre pedindo para a analista adivinhar onde ele e as coisas que ele escondia estavam. Assim, parece clara a relevância do par 'ver - não ver' na vida psíquica de Vitório, o que podemos ler como uma atualização da presença-ausência de sua mãe, tal como o jogo do fort-da observado por Freud (1996d). Ao mesmo tempo, Vitório desejava e não desejava ver, achava que enxergava melhor que o pai e a avó porque conseguia ver para além do que esses dois queriam que ele visse, mas escondia algumas coisas de si próprio, como se ele mesmo não quisesse, ou não pudesse ainda, vê-las.

As suas brincadeiras revelavam esse estatuto: ele gostava de abrir e fechar as portas de uma estante e de ficar olhando o que tinha lá, como que procurando algo que nunca tivesse visto antes, além de às vezes dizer à analista: 'você não está me vendo', 'você não pode me ver'. Assim como também brincava de ficar repetidamente abrindo e fechando as persianas de uma janela coberta com papel de parede que tinha na sala de atendimento e tentando, em vão, abri-la, posto que era trancada. Vitório fazia isso para tentar olhar o que estava do outro lado; colava os olhos na janela e buscava enxergar, através de algumas falhas existentes no papel de parede que a recobria, o que estava por trás dela, dizendo com aflição: 'não consigo ver o que tem do outro lado'. Dessa forma, parece clara também uma equivalência simbólica que Vitório estabeleceu entre ver e saber: o querer ver, que ele expressava diretamente nas sessões, apontava para um querer saber sobre a sua mãe. É possível pensar que tais ações de Vitório, de querer ver o que não dava para enxergar, consistiam em uma resposta fantasmática ao enigma do Desejo do Outro. É como se à pergunta "Que queres?" (Che vuoi?), Vitório tivesse forjado a resposta "que me procures/que me vejas!".

Do outro lado da janela que se prestava a essa 'brincadeira' de Vitório estava a sala de espera da clínica e, assim, sempre que Vitório e a analista saíam da sessão, era para essa sala de espera que se dirigiam, a fim de encontrar a avó, que geralmente estava esperando-os. Mesmo assim, foi preciso um tempo para que Vitório concluísse que aquilo era o outro lado da janela. O tempo subjetivo necessário para que ele pudesse perceber que o que estava desesperadamente tentando ver não se reduzia a um objeto, mas era a presença de uma ausência. Vitório estava à procura de algum saber que pudesse fazê-lo simbolizar o 'sumiço' da mãe. O fato de Vitório ter podido, de alguma maneira, perceber isso, ao dizer, certa vez, 'ah, é isso que tá por trás da janela', demonstra a importância do trabalho que, ao longo das sessões, ele foi fazendo.

A partir de tais elementos, podemos pensar que a 'agressividade', relatada tanto pela avó como pela professora de Vitório, referia-se a uma busca incessante por uma verdade que as duas tentavam tamponar: a verdade sobre a sua origem, a verdade sobre a sua mãe. Este assunto não era falado de maneira alguma por ninguém, constituindo, assim, um não dito1 que colocava Vitório para trabalhar. Trabalho que não era nem compreendido nem aceito pela sua avó, que estava empenhada em convencê-lo de outra verdade: a de que 'mãe é quem cria' e que, portanto, ela (avó) era sua mãe. Mas Vitório queria ver mais-além, ver o que estava por trás disso, tal como atuava na cena da janela. Mas, nessa tentativa, só enxergava o vazio deixado pelo sumiço da sua mãe e pela falta de palavras do pai e da avó, e isso o deixava atordoado. A avó de Vitório queria fazê-lo crer que a sua mãe o havia esquecido, não gostava mais dele e que, por isso, ele deveria esquecê-la e não lembrar mais dela também. Mas esse era um 'esquecimento' cujo preço Vitório não estava disposto a pagar. Esta era a verdade do desejo da sua avó, devido ao abandono que esta também sofreu, mas não a do dele.

Em decorrência de tais atitudes da avó de Vitório, foram realizadas, paralelamente ao trabalho que estava sendo desenvolvido com ele, algumas entrevistas pontuais com essa mulher, no intuito de que alguma retificação subjetiva2 fosse possível, a fim de não inviabilizar a análise de Vitório. E alguns progressos foram obtidos: se, no início dos atendimentos, ela se apresentava como detentora de todo o saber e de toda a verdade, a partir de algumas intervenções e manejos, ela pôde se deparar com a própria falta, o que a tornou mais tolerante com as faltas que percebia no neto. Dentre os manejos que consideramos cruciais nessa escuta à avó, destacamos a colocação em questão do porquê ela havia escolhido se dedicar de forma tão integral à criação dos seus netos - o que possibilitou que ela falasse do grande desejo de ter uma filha mulher, da colocação da mãe dos meninos nesse lugar (filha adotiva) e da decepção quando esta engravidou do seu filho biológico e, mais ainda, quando decidiu ir embora, abandonando a todos. Outro manejo importante foi a respeito da questão do pagamento, na qual o preço estabelecido pelo atendimento de Vitório foi maior do que o que ela havia inicialmente proposto - decisão que foi mantida a despeito de todas as suas contestações e ameaças. Esse foi um manejo importante porque abalou a posição dessa mulher, que se portava como detentora de todo o saber e todo o poder, especialmente diante de Vitório - o qual, frente a ela, somente conseguia ocupar a posição de não saber. Houve também a tentativa de escutar o pai de Vitório, através da convocação deste a uma das sessões do filho ou até da disponibilidade de um horário extra para ele. Mas este homem recusou as duas ofertas e, por telefone, disse que não tinha nada a falar, além de não ter tempo de comparecer à clínica.

 

Um saber colocado em ato: a escolha de ir embora

Importante apontar que, na transferência, Vitório colocava a analista em um lugar maternal - o que explica o seu receio de que ela também o deixasse. E, curiosamente, era o que, após um ano de atendimento, estava prestes a acontecer: a analista iria sair da cidade, não teria como continuar a atendê-lo. Talvez Vitório, de alguma forma, tenha percebido isso, pois, certo dia, repentinamente, não quis ir à sessão, coisa que nunca tinha acontecido antes. No momento em que isso aconteceu, poucas horas antes da sessão marcada, ele comunicou à avó sua decisão e não cedeu nem diante da insistência desta, coisa que também nunca acontecera antes, visto que a avó tinha grande autoridade para com Vitório e ele nunca a havia desafiado de forma tão clara. A avó de Vitório foi, então, ao meu encontro, comunicar-me da decisão do neto em não mais continuar o tratamento, afirmando que achava que não tinha quem o fizesse mudar de ideia. Não é demais supor que, de alguma maneira, Vitório conseguiu antever que a analista estava prestes a ir embora. Pois, segundo Lacan (1998c), uma das provas de que o inconsciente do sujeito é o discurso do Outro é o fato de haver "coincidências" entre certos posicionamentos do sujeito e fatos de que ele não está informado, "mas que continuam a se mover nas ligações de uma outra experiência em que o psicanalista é interlocutor" (p. 266). Ainda de acordo com Lacan, Freud (1996e) havia chamado essas coincidências de uma forma especial de telepatia, a qual consiste em uma modalidade não habitual de comunicação que pode se manifestar no contexto de uma experiência analítica e que se articula à existência de um vínculo afetivo forte, como é o caso, por exemplo, do vínculo transferencial (Bernardino, 2004).

Nesse sentido, julgamos ter acontecido uma dessas "coincidências" entre a decisão de Vitório de finalizar o tratamento e a necessidade da analista em sair da cidade (que ainda não tinha sido comunicada a Vitório, mas que talvez possa ter sido antevista por ele devido ao fato de a analista ter realizado algumas viagens e remanejamentos de horários). Essa suposição foi levantada em supervisão e está alicerçada na constatação de que, até esse momento, Vitório nunca havia esboçado o desejo de deixar de comparecer às sessões - muito pelo contrário, conforme dito anteriormente, ele sempre tentava prolongá-las e mostrava-se muito triste quando, por algum motivo, as mesmas eram adiadas ou desmarcadas.

Dessa forma, diante de tal antecipação feita por Vitório e, frente ao insuportável que seria mais esse 'abandono', uma repetição em sua vida que o confirmaria no lugar de 'abandonado', o que Vitório estava decidido a fazer pode ser lido ao mesmo tempo como uma antecipação e uma inversão - esta última, um dos destinos possíveis para a pulsão, segundo Freud (1996b). Ao 'sumir', Vitório situar-se-ia na posição que fora também a da sua mãe. Mas essa decisão de ir embora sem se despedir ou, em outras palavras, de 'sumir', ratificaria algo da ordem de uma compulsão à repetição. Por isso, apostando na possibilidade de que Vitório pudesse falar sobre essa sua decisão, simbolizá-la, e, a partir daí, poder não ficar aprisionado nessa díade 'ser abandonado - abandonar', a analista decidiu telefonar para ele e dizer que queria vê-lo uma vez mais. Ele concordou e compareceu à sessão marcada. Brincou durante a maior parte do tempo, mas acabou revelando ter pensado em não ir mais ali e mostrou-se em dúvida sobre o que fazer: ir ou não embora. Perguntou à analista se ela continuaria gostando dele mesmo que ele fosse embora - um paralelo com o que a avó havia lhe dito: que como a sua mãe se foi e não dava mais notícias, não gostava mais dele.

Podemos avaliar, assim, no a posteriori, que o manejo realizado surtiu efeitos: ao comparecer a mais uma sessão, Vitório pôde falar do medo que ele tinha de que a analista deixasse de gostar dele (tal como o que a avó falava sobre sua mãe) e também perguntar, nas entrelinhas, se pelo fato de a mãe o haver abandonado, ele não deveria mais gostar dela. A analista afirmou, então, para Vitório, que não é porque deixamos de ver uma pessoa que deixamos de gostar dela, ela pode continuar presente na nossa memória e muitas vezes continuamos a sentir um grande carinho, mesmo pelas pessoas que estão distantes. A aposta foi que, a partir de tal enunciado, Vitório poderia ressignificar sua história, a partida de sua mãe e sua posição subjetiva em relação a isso, deixando de se situar como 'abandonado', aquele que 'perde', 'não vê', 'não sabe'. Ao ouvir esta afirmação, Vitório começou a chorar. Perguntou se poderia ligar caso tivesse vontade. A analista disse que sim e ele, mais confiante, escolheu ir mesmo embora, deu-lhe um beijo e um abraço (o que não pudera fazer quando sua mãe partiu) e encerrou ali sua análise - pelo menos no sentido de não considerar mais necessário encontrar-se com a analista, tal qual a definição de Freud (1996f) no texto Análise terminável, análise interminável.

Ao final desta última sessão, a analista e Vitório se dirigiram à sala de espera, onde a avó disse que Vitório já estava conseguindo ler algumas coisas e não estava mais tão 'agressivo' - o que parece significar que ele estava conseguindo, minimamente, no Simbólico, elaborar a perda que tivera, de modo que as atitudes antes consideradas agressivas, através das quais Vitório imaginariamente desafiava a sua avó, já não eram mais tão necessárias.

 

Algumas considerações sobre o caso

Podemos considerar que Vitório, ao encontrar outra posição, diferente da de não saber, ao não se confirmar no lugar de 'abandonado', fez um percurso de análise que o permitiu fazer uma escolha não forçada, em oposição à escolha forçada da alienação - em que o sujeito se aliena a um Outro, permanecendo em uma posição de submissão. Segundo Lacan (1964/1998), a escolha forçada é aquela na qual qualquer que seja a escolha, há um elemento que será necessariamente perdido. Lacan exemplifica-a pelo aforismo "a bolsa ou a vida": caso escolha-se a bolsa, perde-se as duas, pois sem a vida, a bolsa não tem nenhum valor. Então, qualquer que seja a escolha, a bolsa sempre será perdida. Na escolha forçada trata-se, portanto, de uma escolha restrita, na qual a única possibilidade de se continuar vivendo é escolher uma vida decepada da bolsa - decepada pela submissão ao Outro, pela alienação ao Outro.

Lacan (1964/1998) chamou de alienação e separação as duas operações constitutivas do sujeito. Porém, enquanto designou a primeira como destino de todo falante, uma escolha forçada, pelo fato de ser a única possibilidade de existência do sujeito, caracterizou a segunda como não sendo destino, uma escolha não forçada, pois o sujeito pode escolhê-la ou não, de acordo com o modo de sua relação com o Outro. No caso de Vitório, é possível dizer que, a partir da sua análise, ele pôde fazer uma escolha não forçada na medida em que conseguiu construir um saber próprio, descolado de um saber reinante, que até então submetia-o. Sendo assim, afirmamos que, através dessa construção em análise, Vitório confirmou algo da operação de separação, deixando de estar totalmente à mercê dos desígnios do Outro. Vale ainda salientar que, segundo Lacan (1964/1998), a operação de separação é o que permite ao sujeito engendrar-se, constituir-se como tal. Nesse sentido, consideramos que a análise de Vitório pôde favorecer esse processo de engendramento subjetivo - o qual é tão importante no campo da clínica com crianças, haja vista que uma das especificidades da infância é caracterizar-se como um momento de constituição do sujeito.

Assim, podemos depreender outras consequências dessa escolha de Vitório em relação ao término do seu processo analítico: é possível dizer que, pela decisão de ir embora e de deixar a analista, ele recusou-se a ocupar tanto o lugar de assujeitado (fosse à mãe, à avó ou até mesmo à analista, pela transferência) como o de 'abandonado'. Através dessa recusa, Vitório pôde (re)estruturar sua fantasia, que ainda estava se constituindo, e efetuar sua construção fantasmática3 - o que o permitiu se fazer valer enquanto sujeito, inscrevendo o objeto causa de seu desejo (objeto a) como perdido, não substancializando-o nem na mãe nem na analista. Isso porque, a partir do caso, é possível afirmar que o sintoma de Vitório de situar-se como aquele que não sabe articulava-se a uma formação de compromisso entre interrogar, mas não desafiar completamente, a versão segundo a qual ele fora abandonado e esquecido por sua mãe. Em outras palavras, não saber significava parcialmente aceitar o significante 'abandonado' e não contestar a verdade que estava sendo imposta sobre ele. Durante o percurso de análise, porém, Vitório pôde simbolicamente construir um saber próprio e colocar esse saber em ato, quando, diante da possibilidade de ser mais uma vez deixado por uma mulher que ia embora, ele escolheu antecipar-se e encerrar o seu processo analítico. Consideramos que o 'ir embora' consistiu em um ato, no sentido psicanalítico do termo, na medida em que comportou, a um só tempo, a dimensão da ação e a da intervenção significante, constituindo um dizer para além das palavras que foi capaz de abalar o sentido do que vinha sendo construído até então. Pois o ato é um feito, que por sua dimensão de corte, inscreve necessariamente um antes e um depois, suspendendo toda a ordem prévia devido à irrupção do novo (Guimarães, 2009). Nesse sentido, o ato de Vitório evidencia a mudança de posição do sujeito. Além disso, pensamos que esse ato de Vitório apontou para uma nova maneira de o sujeito posicionar-se diante do Outro, pois o ato sempre implica o Outro, na medida em que, para se constituir como tal, precisa ser testemunhado e recebido pelo Outro (Guimarães, 2009). Por sua vez, esse reposicionamento tem implicações na construção da fantasia ($ ◊ a), que diz respeito ao modo como o sujeito se constitui diante do Outro.

Dessa forma, através do encerramento do seu processo analítico, Vitório endereçou à analista uma questão que é crucial no processo subjetivo de separação do Outro: "podes me perder?". Segundo Lacan (1964/1998), através da colocação dessa questão, o sujeito põe em jogo a sua própria perda para verificar a falta no Outro, a fim de certificar-se de que não está aprisionado no desejo do Outro e que, portanto, pode dele separar-se. O endereçamento dessa questão à analista mostra que Vitório estava também às voltas com o processo de separação simbólica, já que este faz parte da constituição do sujeito. Assim, a análise favoreceu que Vitório encontrasse uma saída para esse impasse, dando provas de poder suportar a falta do Outro e efetivando um corte que nos faz interrogar-nos sobre a pertinência de se falar em um final de análise nesse caso. Pois, a nosso ver, tal ato de Vitório evidencia a conclusão desse processo de análise, o qual, apesar de não ter sido um fim de análise stricto sensu4, possibilitou a Vitório um deslizamento na cadeia significante e um reposicionamento subjetivo: pelo trabalho de análise, ele, que ocupava o lugar de abandonado, objeto-dejeto no Desejo da Mãe, conseguiu colocar-se em outro lugar. O que só foi possível porque a analista, ao fazer semblante de objeto a (na dupla acepção deste conceito: objeto causa de desejo, na transferência, e objeto-dejeto, ao final do processo) pôde fazer operar o Discurso do Analista, tal como sistematizado por Jacques Lacan (1969-1970/1992): a

S2 // S1

Onde se lê: o analista, colocando-se como objeto a (causa de desejo e objeto-dejeto), ancorado na verdade de um semissaber sobre o inconsciente (S2), dirige-se a um outro colocado na posição de sujeito ($), convocando-o a desfilar os significantes mestres da sua história (S1). Assim, a afirmação de que o Discurso do Analista pôde operar na análise de Vitório sustenta-se porque o seu tratamento possibilitou a produção de novos significantes mestres (S1) que permitiram a Vitório outra posição subjetiva, diferente da apresentada no início do processo. Pois Vitório chegou ao tratamento analítico em uma posição de assujeitamento ao dizer da avó, mas, ao longo do mesmo, implicou-se de tal modo com a sua análise, que decidiu, através de um ato singular, dela sair.

Entre a entrada e a saída de Vitório do processo analítico, decorreu-se um trabalho que o permitiu repetir sua 'perda', seu 'não ver' e seu medo de ser novamente abandonado - sem que fosse visado, com isso, uma remissão sintomática. Coube também à analista suportar, dar suporte a essa repetição, posto que ela é o que define o sujeito no mais íntimo do seu ser. Além do que, Freud (1996a) já nos alertou que a repetição é condição constitutiva do próprio amor de transferência, o qual, por sua vez, pode converter-se em mola mestre da análise. Assim, foi a partir da transferência como repetição/atualização da realidade do inconsciente (Lacan, 1964/1998) que Vitório pôde trabalhar e construir um saber colocado no lugar de verdade para o sujeito - um saber que se, por um lado, não é completo, por outro lado, pôde permitir a Vitório escrever uma outra história.

Segundo Rosa (2000), a supressão de significantes da história da criança constitui um não dito sob o qual se funda uma repetição, pois se constata, na clínica psicanalítica, que a criança repete, com suas ações e sintomas, o que não foi dito por seus pais. Dessa forma, o que a análise possibilitou a Vitório foi uma maneira de simbolizar o que não era dito com palavras, ou seja, a ausência da sua mãe e as implicações da sua partida. Nesse caso em particular, Vitório pôde, ao longo do seu processo analítico, através especialmente das suas atuações e brincadeiras, elaborar um saber sobre sua história, descolado do saber da sua avó e do seu pai. Além disso, Vitório conseguiu perceber que o que estava procurando com o seu olhar não era algo que se pode ver, mas dizia respeito à construção de um saber que estivesse articulado com a sua verdade. Pois "o olhar como objeto pulsional não é o visível, é o que não se vê" (Fingerman, D. e Dias, M. M., 2005, p. 84), sendo esse invisível que faz com que o sujeito siga sempre em busca de um objeto, na trilha do desejo: um objeto que, ao mesmo tempo, assim como fazia Vitório, dar-se a ver e se esconde (o objeto a). A diferença é que se o sujeito se coloca nessa busca simplesmente como objeto-dejeto, há uma petrificação subjetiva que faz entrave ao deslizamento da cadeia significante, o que implica uma repetição do mesmo que pode chegar a paralisar o sujeito - posição da qual Vitório parece ter podido, através da análise, minimamente se mover.

Finalmente, acerca da interrogação sobre a possível equivalência entre a conclusão deste processo analítico e o que se concebe como sendo um final de análise com crianças, argumentamos que, se o que se espera de uma análise é que, ao seu final, se produza algo da verdade do sujeito, não se pode desprezar a passagem que se operou neste caso de um sofrimento mudo e passivo a um nada mais a dizer, decantado da inserção do sujeito na dialética do desejo. O fato de o momento de concluir requerer sempre uma antecipação lógica (Lacan, 1998b) indica que não é necessário levar uma análise até o seu limite, não é pertinente esperar que dela se produza um saber exaustivo, sem falhas, mas apenas que, desse saber, o sujeito possa vir a construir um saber-fazer, um saber lidar, com o sintoma (Vidal, 2001). Com relação aos efeitos dessa experiência no futuro de Vitório, contentamo-nos em dizer, com Lacan (1967/2006), que cada um terá a liberdade para demonstrar o que faz com o saber que da experiência analítica decanta. E, nesse sentido, é possível considerar que todo final de análise marca, ao mesmo tempo, o fim de um começo (o que já foi feito) e o começo do fim (o que se fará a partir do que foi feito), já que uma verdade nunca diz sua última palavra. Como já dizia Freud: análise terminável, análise interminável...

 

Notas

1. De acordo com Rosa (2000), o não dito consiste em algo que a família se esforça por esconder ou deixar esquecido, não o transmitindo formalmente às crianças. O interessante é que, ainda assim, algo se transmite e não raro é repetido pelas crianças dessas famílias, convertendo-se em sintomas. No caso de Vitório, esse sintoma era seu alegado 'não saber' e sua busca incessante por algo que ele não conseguia ver.

2. Retificação subjetiva é a reviravolta subjetiva necessária para que o sujeito se implique na sua queixa, reconhecendo a dimensão de escolha presente no seu sintoma e como concerne para a sua fabricação.

3. Construção fantasmática diz respeito à (re)construção da fantasia fundamental possível pelo trabalho de análise. A fantasia fundamental é representada pelo matema $ Ê% a, que significa a posição que o sujeito ocupou estruturalmente frente ao Outro - posição que é essencialmente de objeto a. Em uma análise propriamente dita, é possível ao sujeito atravessar esta fantasia, se experimentando nos dois pólos da fórmula: sujeito ($) e objeto (a). Para Lacan, é esse atravessamento que diz do encerramento de uma análise. Porém, Nicolau e Figueiredo (2008) afirmam que uma das especificidades da análise com crianças é o fato de que esta diz respeito não a uma travessia do fantasma, como seria possível esperar numa análise com adultos, mas sim à construção deste.

4. Análise stricto sensu é aquela que produz, ao seu final, um analista. No caso da psicanálise com crianças, Laurent (1994) afirma que, pela impossibilidade da criança se converter em um analista, o que é válido esperar ao término do processo analítico com elas é que o sujeito faça-se responsável por seu gozo, fazendo um percurso de separação em relação ao gozo do Outro, de modo que seu corpo não mais seja oferecido como condensador de gozo da mãe, para que a criança consiga construir uma ficção que a permita responder à pergunta sobre o gozo da mãe. Nesse sentido, consideramos que Vitório realizou um percurso de análise que, ao permitir-lhe experimentar algo do gozo de 'ir embora' da sua mãe, chegou ao momento de concluir.

 

Referências

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Vidal, M. C. V. (Org.) (2001). Quando chega ao final a análise com uma criança? Salvador: Ágalma.         [ Links ]

 

 

Recebido em 11 de maio de 2009
Aceito em 23 de maio de 2009
Revisado em 07 de junho de 2009

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