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Revista Mal Estar e Subjetividade

versión impresa ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.10 no.1 Fortaleza mar. 2010

 

AUTORES DO BRASIL
ARTIGOS

 

O corpo idealizado de consumo: paradoxos da hipermodernidade

 

 

Maria de Fátima Vieira SeverianoI; Mariana Oliveira do RêgoII; Érica Vila Real MontefuscoIII

IPsicóloga, Profª Associada do Depto. de Psicologia da UFC com Doutorado na UNICAMP e no Depto. de Psicología Social da Universidad Complutense de Madrid. Desenvolve pesquisas no Laboratório de Psicologia em Subjetividade e Sociedade, do Mestrado em Psicologia-UFC. End.: Av. Rui Barbosa, 640, apto. 401. Meireles. Fortaleza- CE. Cep: 60115-220. E-mail: fatimasev@terra.com.br
IIPsicóloga (UFC) e mestranda em Psicologia (UFC)1. End.: R. Amadeu Furtado, 150. São Gerardo. CEP : 60450-130 Fortaleza - CE. E-mail: mariana_orego@hotmail.com
IIIPsicóloga (UFC) e Profª substituta do Depto. De Psicologia da UFC1. End.: R. Professor Heráclito, 313, apto. 1101. Papicu. Fortaleza - CE. Cep: 60175-595. E-mail: ericavrm@hotmail.com

 

 


RESUMO

Em tempos hipermodernos, nos quais reina o paradoxo do "elogio da moderação e da cultura do excesso" (Lipovetsky, 2004), os corpos, cada vez mais, ganham visibilidade e são tratados enquanto mercadoria a ser vendida pela indústria cultural e pela indústria da saúde. A publicidade, não raro, dá a impressão de que um corpo perfeito, veiculado como sinônimo de saúde, bem-estar e felicidade, está ao alcance de todos, desde que seguidas as devidas prescrições. Assim, o corpo é tratado enquanto "corpo rascunho", que pode ser modelado e remodelado a gosto de seu "proprietário" no intuito de alcançar o modelo ideal. Diante deste contexto, temos por objetivo, neste artigo, refletir criticamente sobre as diversas facetas desse paradoxo expresso na atual modalidade de "bem-estar" / "mal-estar", com ênfase em seus "excessos". Adotamos por eixo teórico-metodológico o referencial da Escola de Frankfurt (Teoria Crítica), além de dados coletados em uma pesquisa acerca dos distúrbios de auto-imagem: anorexia, bulimia e vigorexia. Essa investigação qualitativa, realizada em blogs e sites de relacionamentos Orkut de sujeitos portadores dos referidos distúrbios, nos forneceu dados relativos às contemporâneas formas de disciplina/controle, exclusão social/auto-confinamento e metamorfoses corporais, além de depoimentos significativos vinculados à influência das novas tecnologias e dos modelos midiáticos na busca pelo corpo idealizado do consumo. A análise teórico-crítica apontou para a não existência de um verdadeiro paradoxo, mas sim de um excesso de obediência às normas ideais do corpo padrão, que, quando não cumpridas, engendram sentimentos de fracasso e "mal-estar". O "bem-estar" transmuta-se, pois, em "mal-estar", numa jornada em que o prazer se associa ao esforço, o sucesso ao controle e a perfeição ao sofrimento.

Palavras-chave: Corpo. Consumo. Hipermodernidade. Transtornos alimentares. Excessos.


ABSTRACT

In the hypermodern times, in which the "compliment to moderation and cult of the excess" (Lipovetsky, 2004) paradox reigns, the bodies increasingly attract visibility and are dealt with as merchandise to be sold by the cultural industry and health industry. Not rarely does the publicity create an impression that a perfect body, diffused as synonymous of health, well-being and happiness is achievable by all as long as the right instructions and prescriptions are followed./ This way, the body is seen as a "sketch body", which can be remodeled over and over according to the "owner's" taste in order to reach the ideal model. Considering this context, the objective of this article is to reflect critically on the different aspects of this paradox, which are expressed in the current modality of wellness/ discomfort, with emphasis in its excesses and having the Frankfurt school (Critical Theory) as a reference for our theoretic-methodological axis. The collected data from a research on self-image disorders as bulimia, anorexia and overtraining is also examined. This qualitative investigation was executed in blogs, network relationship sites (Orkut) of individuals who carry the referred disorders and it has provided us information related to the contemporaneous ways of discipline/control, social exclusion/ self-confinement, corporal metamorphosis as well as significant testimonials linked to the influence of the new technologies and the media models in a quest/ for the idealized body of consumption. The theoretic-critical analysis undertaken/ has pointed out to the non-existence of a true paradox, whereas to an "excessive" obedience to the ideal norms of a standard body, and when not followed they generate feelings of failure and "discomfort". The "wellness"(well-being) is transmuted into "discomfort", in a journey/ in which associates pleasure to effort, success to control and "perfection" to suffering (pain).

Keywords: Body. Consumption. Hypermodernity. Eating disorders. Excesses.


 

 

A inserção da Psicologia no debate contemporâneo acerca do corpo idealizado do consumo na "Hipermodernidade" implica questionar-se não apenas sobre a diversidade, mas igualmente sobre a adversidade dos novos tempos, seus paradoxos, contradições e implicações éticas e políticas; decorrentes das novas formas de estruturação das subjetividades contemporâneas, sob o signo do consumo, do hiperindividualismo e das novas tecnologias.

Pesquisas anteriores (Severiano, 2006) nos apontaram que, dentre os objetos paradigmáticos do consumo contemporâneo (celulares, carros, computadores e cartões de crédito), outro "objeto" se destaca de forma especial, permeando e dando suporte a todos os demais: o corpo. Este, considerado por Baudrillard (1970) como "o mais belo objeto de consumo", é enquadrado, contemporaneamente, na lógica fetichista da mercadoria, à semelhança de qualquer outro objeto. Ainda mais agudamente que os demais, ele encarna uma promessa implícita de inclusão social, diferenciação, status, prazer, poder, amor e felicidade. Todos os outros objetos parecem se constituírem em meras próteses para o alcance daquilo que passou a constituir-se, na hipermodernidade, sinônimo de salvação psíquica e social: "o corpo ideal".

Diante disso, todos os cuidados convergem para a sua "construção": da tecnobiologia à indústria da publicidade, passando por spas, clínicas estéticas, dietas lights, fitness, anabolizantes, além de complexos procedimentos cirúrgicos, que findam por torná-lo um "corpo-rascunho" (Le Breton, 2003): amontoado instável e assimétrico de pele, músculos, ossos e cabelos, eternamente em busca do desenho perfeito a ser modelado pelos signos do consumo. Erigido e dissolvido incessantemente pela indústria da saúde e do entretenimento em busca da forma ideal, nesse "corpo-rascunho" se conjugaria a experiência da busca de uma felicidade despótica que implica promessas de "bem-estar", mas que trazem, paradoxalmente (?), intenso "mal-estar".

Trabalhar com o conceito de Hipermodernidade (Lipovetsky, 2004) implica compreender que as características que embasaram a modernidade - o individualismo, o mercado e o progresso técnico-científico - não apenas não desapareceram, mas intensificaram-se, tornando-se hiperlativas: hipercapitalismo, hipercidade, hiperfenômeno, hiperdesempenho, hipertexto, hiperindividualismo, hipercards, hiperconsumo, hipermercado, hipervigilância, hiperviolência, hipercorpo etc.

No que concerne aos padrões do corpo, observam-se ideais hedonistas e a moral do "aqui-agora" convivendo lado a lado com a ideologia da saúde, da longevidade e da prevenção. Ou seja, assiste-se a um hiperindividualismo ora prudente e calculista; ora desregrado, desequilibrado e caótico - composto paradoxal de "frivolidade e ansiedade, de euforia e vulnerabilidade" (Lipovetsky, p.65). Apesar desta cultura do "Hiper" sugerir o triunfo do "excesso", do "sempre mais", ela se caracteriza predominantemente, segundo o autor, por ser uma "cultura paradoxal" em que convivem lado a lado, "o excesso e o elogio da moderação", numa divisão, como diria ele, "quase esquizofrênica", entre mal-estar/bem-estar.

Em que consistiria a real natureza deste "paradoxo"? Para além da excessiva publicização do "bem estar" - numa sociedade que se apresenta tão "plural", "diversa", e "dadivosa" (Baudrillard, 1970) em suas apresentações midiáticas - em que sítios estariam alocados o controle, a dominação, o auto-sacrifício e a exclusão social, enfim, o sofrimento psíquico, reveladores do atual "mal-estar"? Ressalta-se que esta sociedade se "oferta" igualmente, mas não igualitariamente, através de seus bens de consumo, espaços de entretenimentos, estilos de vida, formas exemplares de ser, sentir e amar.

Nossa hipótese é a de que subjacente à prudência e à moderação - supostos provedores de "bem-estar" - reside um "mal-estar" oriundo dos "excessos" (desregramentos, distúrbios, transtornos, adições etc) que não são necessariamente paradoxais, no sentido de contraditórios aos ideais de moderação, mas que se constituem, justamente, num contínuo, numa sequência de respostas coerentes aos excessivos apelos por moderação "receitados" pela mídia. Excessos podem ocorrer seja por obediência cega às regras estipuladas para o alcance do corpo ideal, seja por sucessivos fracassos no cumprimento dessas mesmas regras, gerando, por fim, um "mal-estar".

A indústria da beleza, através dos diversos meios de comunicação de massa - revistas, internet, blogs, Orkut etc. - expõe o corpo a uma sabatina incessante de prescrições, vigilância e cobranças para alcançar o tão propalado "bem-estar". Entretanto, parece que a inacessibilidade e o não cumprimento deste ideal de corpo revelam a outra faceta deste paradoxo: transtornos de imagem, exclusão social, sentimentos de fracasso e perda da auto-estima, enfim, sofrimento psíquico.

Nesse sentido, objetivamos neste artigo refletir criticamente sobre as diversas facetas desse paradoxo, expressos nas atuais formas de "bem-estar"/"mal-estar", tendo por eixo teórico o referencial da Escola de Frankfurt, além de dados coletados em uma pesquisa que realizamos acerca de distúrbios de auto-imagem: anorexia, bulimia e vigorexia - fenômenos exemplares do "mal-estar" contemporâneo.

A bulimia é uma afecção conhecida desde a Grécia antiga, sob o nome de cinorexia ou fome de cachorro. Consiste em hiperfagia seguida de vômitos. Atualmente, a bulimia é uma psicopatologia bastante debatida, embora, de forma nenhuma, tenha-se chegado a um consenso terapêutico a respeito de suas estruturas ou de seu tratamento. Os próprios media têm contribuído para fazer da afecção bulímica uma doença mais conhecida, "popular". Fernandes (2006), em seu livro Transtornos Alimentares, define a afecção como:

(...) episódios repetidos de compulsões alimentares, acompanhados por comportamentos compensatórios inadequados, tais como vômitos auto-induzidos, mau uso de laxantes e diuréticos, jejuns ou exercícios físicos excessivos sem que se evidencie uma perda de peso tão significativa como ocorre na anorexia. (p. 39)

Mesmo sabendo que a doença é antiga, salta aos olhos o aumento do número de casos nos últimos anos. Esse mesmo período foi marcado pela intensificação do apelo da mídia para a obtenção de um corpo ideal a ser consumido enquanto modelo de saúde, beleza e bem-estar. Ainda que as condições acima citadas sejam verdadeiras, seria imprudente, decerto, atribuir o aumento do do fenômeno da bulimia unicamente à ação da mídia e da sociedade de consumo, mas não há dúvida alguma de que podemos tecer correlações pertinentes entre as variáveis envolvidas.

Quanto à anorexia, esta se constitui em uma doença cujos sintomas já são relatados desde a Idade Média (Weinberg & Cordas, 2006), quando mulheres consideradas santas aderiam a jejuns extremamente rigorosos como forma de uma ascese corporal que visava a purificar a própria alma. Embora os sintomas da anorexia tenham sempre sido registrados através dos séculos, a doença só ganha o cenário da psiquiatria moderna em 1980, com o advento do DSM - III. (Fernandes, 2006) A anorexia pode ser classificada em "anorexia restritiva" - na qual ocorrem episódios de jejuns demasiado rigorosos, havendo recusa a praticamente qualquer alimento - e "anorexia purgativa" - com sintomas bastante semelhantes aos da bulimia: há vômitos depois da ingestão (não necessariamente excessiva, como na bulimia) de alimentos.

A vigorexia ou Síndrome de Adônis - termo utilizado pela primeiramente em 1993, pelo psiquiatra americano Harrison G. Pope, da Universidade de Harvard - é um transtorno no qual a pessoa realiza práticas esportivas de forma intensa e contínua para ganhar massa muscular e definição corporal, sem se importar com eventuais consequências prejudiciais à saúde ou contra-indicações. Os portadores de Vigorexia são, em sua maioria, homens entre 18 e 34 anos, os quais chegam a ingerir mais de 4.500 calorias diárias (o normal seria cerca de 2.500), incluindo perigosos complexos vitamínicos e suplementos alimentares e até o consumo de esteróides e anabolizantes, com o fim de conseguir "melhores e mais rápidos resultados". Trata-se de uma das mais recentes patologias potencializadas pela cultura, não tendo sido ainda catalogada como doença específica pelos manuais de classificação (CID.10 e DSM. IV). Alguns autores consideram-na uma manifestação clínica particular de um quadro denominado Transtorno Dismórfico Corporal, (historicamente conhecido como dismorfofobia), o qual é definido, de acordo com o DSM-IV, como uma preocupação com um imaginado defeito na aparência. Se uma ligeira anomalia física está presente, a preocupação do indivíduo é acentuadamente excessiva. Caracteriza-se, também, por uma obsessão de traço narcísico, voltada de maneira abusiva para o culto ao corpo nas suas mais íntimas e fatais proporções. Não obstante o quão musculosos se apresentem, os vigoréxicos consideram-se "fracos", "raquíticos", "frangos" ou "mirrados", recorrendo cada vez mais a anabolizantes e exercícios intensos na tentativa de alcançar a silhueta "ideal".

Considerando que o presente estudo não possui um caráter clínico-diagnóstico e que se insere numa perspectiva na qual o corpo é compreendido como um território em que se expressam os sintomas sociais contemporâneos - sofrimento psíquico, sob o signo do hedonismo e da pseudoliberação - questionamos: haveria um real paradoxo, como reporta Lipovetsky, entre o "frenesi consumista", "as bulímicas e anoréxicas" e os "compulsivos e vigoréxicos"? Não seriam tais patologias e "excessos", justamente, os frutos colhidos ante o fracasso do indivíduo não conseguir cumprir tão "moderadamente" com os padrões ideais?

 

Perspectivas Teóricas

Compreender o corpo idealizado do consumo, com vistas a elucidar suas facetas de moderação, controle, comedimento e, em última instância, de subjugação, implica em reportar-nos aos teóricos pioneiros na análise dos processos de racionalização e dominação da sociedade moderna: a Escola de Frankfurt, especialmente T. Adorno, M. Horkeimer e H. Marcuse. A proposta desses teóricos ancora-se na exigência de uma individualidade capaz de refletir sobre as próprias vicissitudes da razão no mundo moderno, com atenção especial a certas formas de condução de satisfação "espontâneas" do desejo - próprias da indústria cultural contemporânea - aparentemente progressista e liberal; mas que, ao elidir o componente reflexivo da razão em prol de soluções imediatas, pautadas no fascínio da imagem do consumo, findam por remeter o indivíduo a uma situação de menoridade, uma vez que subordinam o desejo à lógica do mercado.

As relações do homem com os signos do consumo foram exaustivamente analisadas pelos frankfurteanos através do conceito de "Indústria Cultural". Há décadas, esses autores afirmaram que, nas sociedades modernas, a dominação saiu da esfera restrita do trabalho para impor-se, de forma totalitária e implícita, por sobre todos os aspectos da cultura. Aqui, a dominação assume uma nova forma, não mais explícita e direta, mas através da imposição de uma hegemonia ideológica, utilizando-se da própria gratificação do desejo; seja através do consumo de mercadorias fetichizadas, seja através da reprodução ampliada da indústria cultural e do lazer programado para produzir uma subjetividade humana homogeneizada e acrítica.

Já em 1944, por ocasião da publicação da obra A Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer cunharam o termo "Indústria Cultural", a fim de substituir a expressão, então em uso, de "cultura de massa". Negando ambos os termos da expressão, ou seja, nem "cultura", nem "massa", eles denunciaram a impossibilidade de haver qualquer vestígio de igualdade entre "cultura de massa" e democratização da cultura ao sublinhar o caráter compulsório da indústria cultural por eles concebida como "a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores" (1986a, p.92), na qual é suprimida tanto a complexidade da "cultura erudita" quanto a rudeza espontânea da cultura popular, que permitia resistir ao controle da "sociedade administrada". Sua finalidade não seria a de servir às massas, mas à racionalidade tecnológica e administrativa do grande capital, produzindo uma falsa conciliação entre indivíduo e sociedade, na qual o particular (indivíduo) seria diluído na universalidade do social, instaurando, assim, o reino da positividade e o culto ao presente imediato como as únicas formas de realidade possíveis.

A indústria da beleza e do entretenimento - ferramentas básicas da atual indústria cultural - evidencia, ainda hoje, a conciliação entre indivíduo e sociedade, o reino da positividade e o culto ao presente imediato em seus apelos ao corpo idealizado do consumo. Celulares, carros, computadores, cartões de créditos, assim como corpos "sarados", são convertidos em uma espécie de "passe" para a inclusão social e um "certificado" de "estilo e personalidade".

A respeito do que denominamos por "objeto de consumo", seguindo Baudrillard (1993), é importante ressaltarmos que não estamos tratando de um mero objeto, funcional, em seu valor de uso, mas de um complexo "código de signos", no qual estão implicados todo um sistema de comunicação, diferenciação e permutas sociais, enfim: "um modo novo e específico de socialização" (p.92). O referido autor, ao tratar o consumo numa perspectiva semiológica, considera que o objeto de consumo contemporâneo se funda predominantemente na lógica do "valor-signo", o qual é orientado por um sistema distintivo de imagens de marca, ditado pela moda, cujo sentido não está mais referido a nenhuma relação humana, mas sim "en la relación diferencial respecto a otros signos" (p.38), que se hierarquizam de acordo com os atributos subjetivos e de prestígio social agregados ao produto, regidos pela lógica formal da moda e da diferenciação. Para ele, o objeto, deixa de ser a solução para um problema prático ("valor de uso") para ser valorado em seus aspectos "inessenciais", passando a ser a "solução de um conflito social ou psicológico". (p.134).

No caso "do mais belo objeto de consumo" - o corpo - Baudrillard (1970) enfatiza o status a ele atribuído, na sociedade de consumo. O atual investimento narcísico no corpo promove, na visão deste autor, uma "evolução regressiva da afetividade para o corpo/criança e para o corpo/objeto" (p.159). Nesse processo, o sujeito é dissociado de seu corpo, o qual é objetificado, passando a significar apenas "reflexos dos signos do sistema da moda". Nesse sentido, investir narcisicamente no corpo não significa reapropiá-lo como signo de desejo e sexualidade com fins de libertação, mas unicamente tratá-lo como um "patrimônio" de acordo com "o princípio normativo do prazer e da rentabilidade hedonista" (p. 160) aos moldes do código de produção e consumo das sociedades capitalistas.

Nesse contexto, o corpo deixa de ser visto como um efêmero e desagradável invólucro da alma (Bruckner, 2002) para transmutar-se na própria felicidade materializada: instrumento e passaporte de "bem-estar", desde que se cumpra com todas as prescrições da indústria da saúde midiática; numa jornada em que o prazer se associa ao esforço, o sucesso à determinação, a auto-estima ao reconhecimento do outro, a liberação à adequação às novas vigentes, a felicidade ao poder irrestrito de consumo.

 

Perspectivas metodológicas

Esclarecemos que o presente manuscrito não se trata de um "relato de pesquisa" propriamente dito, mas de uma discussão teórico-crítica que se vale de alguns dados ilustrativos de pesquisas (Severiano, 2007, 2008). Entretanto, se fazem necessários alguns breves esclarecimentos a fim de contextualizar certos procedimentos em questão.

Em termos metodológicos, a Teoria Crítica frankfurteana insiste em que o particular somente pode ser compreendido quando referido a uma totalidade maior que lhe dá sentido e significação; ou seja, o particular funciona como índice do universal, é o seu representante e, como tal, deve ser objeto de uma rigorosa reflexão crítica para que se consiga ascender à complexidade do todo.

Em nosso caso específico, apresentaremos alguns excertos das falas dos sujeitos portadores de anorexia, bulimia e vigorexia, retirados de blogs e de comunidades do site de relacionamento Orkut, representando, dessa forma, um elemento particular, representativo do atual "bem-estar/mal-estar" que assola a sociedade hipermoderna, em que se evidenciam os "excessos"; seja sob a forma de rigorosa disciplina e autocontrole, seja por meio de fenômenos de exclusão social, auto-confinamento, metamorfoses corporais, assim como a influência das novas tecnologias e dos modelos midiáticos na busca pelo corpo idealizado

Vale ainda salientar que apenas foram analisados os depoimentos espontâneos, já tornados públicos pelos próprios membros dos sites, sem qualquer forma de contato presencial.

A seleção e análise dos depoimentos basearam-se em uma análise categorial e teórico-crítica (Escola de Frankfurt), na qual elegemos temas-chave (subcategorias) que se repetiram ao longo dos depoimentos, a saber: disciplina/controle; exclusão social/auto-confinamento; metamorfoses corporais e tecnologia/modelos midiáticos. Essas subcategorias, por sua vez, foram oriundas das duas grandes categorias que nortearam nossas análises: "bem-estar" e "mal-estar".

 

"Bem-Estar" - o elogia da moderação

Historicamente, a felicidade nem sempre se relacionou à aquisição de um corpo perfeito. Na sociedade medieval, estava destinada à alma, cabendo ao corpo o lugar do pecado; na sociedade moderna, era a razão quem aparecia como meio de assegurar o progresso e a felicidade humana. É somente na contemporaneidade, na atual "cultura das sensações", que o corpo ganha o lugar de mediador da felicidade, se constituindo no mais caro depositário da personalidade - a já referida "personalidade somática" (Costa, 2004).

Bruckner (2002), em sua obra Euforia Perpétua, considera que a felicidade, antes característica utópica, agora se tornou uma obrigação. O sujeito está "condenado" de alguma maneira a ser feliz ou, para dizer de outra forma, só pode culpar a si próprio se não conseguir a forma ideal (p.52). Vejamos nas palavras do autor:

(...) durante séculos o corpo foi reprimido, esmagado em nome da fé ou das conveniências. Pois bem, agora que foi liberado dá-se um estranho fenômeno: em vez de usufruir com toda a inocência, os homens transferiram a proibição para o interior da satisfação. Esta, tornada ansiosa por causa de si mesma, erigiu seu próprio tribunal e se condena, não mais em nome de Deus ou do pudor, mas de sua insuficiência: nunca é grande o bastante, adequada o bastante. (p. 60)

Nesse sentido, o discurso de que qualquer um pode ser belo desloca a responsabilidade das insuficiências para o próprio indivíduo. Não há desculpas: sempre há oportunidade de se fazer uma cirurgia plástica, dietas e exercícios. A beleza se artificializa e, como consequência, se "democratiza". Aos consumidores são auferidos "direitos" de serem jovens e belos, conquanto que adiram aos múltiplos planos de saúde e beleza, ditados pela lógica do mercado. Controle sutil e poderoso porque inculca no consumidor uma autoridade travestida de poder de escolha.

A diversidade e a "acessibilidade" quanto aos investimentos estéticos e, ainda, a autoridade científica, legitimadora do discurso de que a beleza está ao "alcance de todos", mal oculta uma mensagem velada: é feliz quem quer, é gordo quem quer, é belo quem quer; à semelhança das mercadorias, tudo está a sua disposição para o alcance do corpo ideal. A este respeito, nossa mídia impressa é pródiga em exemplos:

"As pessoas ficam à vontade para escolher o que desejam fazer. Mas sugerimos reeducação alimentar, nutricional e atividade física. Tudo isso em um espaço agradável que mais parece a extensão da nossa casa" (Revista Isto É, de 15 de dezembro de 2006, nº 1934);

"A era da indústria da beleza está em plena expansão. Está havendo uma socialização da indústria da beleza e da cosmética" (Revista Isto É, de 15 de dezembro de 2006, nº 1934)

"A beleza, como antes dela o automóvel, a TV em cores, o walkman e o celular, se tornou artigo tão cobiçado, e por tanta gente, que baixou do olimpo dos preços proibitivos para o maracanã das promoções acessíveis a uma boa parte dos mortais". (Revista Veja, Editora Abril, edição 1835, ano 37, nº 1, janeiro de 2004, p. 65);

"Há empresas que financiam as cirurgias em até 48 vezes, funcionando como intermediárias entre os médicos e os pacientes que disponham de poucas verbas, como a Master Health - SP que intermedeia cerca de 2.500 cirurgias por ano, e a Higiia - SC, que contabiliza 400 anuais" (Revista Veja, Editora Abril, edição 1835, ano 37, nº 1, janeiro de 2004, p. 68);

Ante as facilidades propiciadas pela indústria da beleza - sua objetificação, "socialização" e comercialização em módicas prestações - a ênfase agora recai sobre a vontade/controle de seu "proprietário" - responsável único por seus sucessos e fracassos. Assiste-se, hoje, ao horror à feiúra, à gordura e à flacidez percebida como um "defeito", uma "fraqueza" da própria personalidade de seu portador. Ocorre, assim, uma psicologização dos afetos corporais, em que o corpo é considerado uma espécie de extensão mimetizada da própria identidade; numa era em que os atuais apelos a estados subjetivos e particulares de satisfação ("auto-estima", "confiança-em-si-mesmo", "felicidade", "liberação" etc.) têm por via privilegiada a modelagem padronizada do próprio corpo.

Por outro lado, proliferam as frustrações e as patologias individuais naqueles que, na busca pelo alcance da forma ideal, não conseguem se adequar aos padrões prescritos, incidindo em excessos. Para além do corpo ideal, subjaz, portanto, um "mal-estar": surge um corpo dócil, submisso, que sofre com normas e métodos rigorosos, constituídos por renúncias, sacrifícios, auto-confinamento, exclusão social ou até mesmo a morte. Aqui o exercício do poder não se restringe apenas à classificação ou enquadramento do corpo em determinadas patologias, mas ao poder de manipulá-lo de acordo com os interesses do mercado, da Indústria da beleza, estabelecendo estratégias de controle ainda mais sutis sobre a vida - o "Biopoder" (Foucault, 1975/2000).

Trata-se da eterna busca de definição de um "corpo rascunho", o corpo que está sempre por ser refeito, a exemplo dos anoréxicos, bulímicos e vigoréxicos.

 

"Mal-Estar" - Cultura do excesso

Uma excessiva disciplina/controle, com forte dosagem de auto-sacrifício e culpa, foi repetidamente expressa por todos aqueles que se denominaram anoréxicas, bulímicas e vigoréxicos.

Considerando-se com Freud (1980a;1980b), que é do aparato cultural que o psiquismo retira os elementos significantes para sua formação e visto que o dever de ser bela, bem como o dever de ser feliz constitui-se no mais forte imperativo da cultura contemporânea, acreditamos que esses ideais (inscritos no aparelho psíquico) contribuam substancialmente para a formação dos referidos distúrbios de auto-imagem.

Em todos esses casos, a busca pelo corpo perfeito tende a inscrever-se ao nível do ideal de Eu desses sujeitos, fazendo com que, inconscientemente, busque-se um objeto que venha a obturar a falta original; considerando-se que o circuito do desejo nada mais é que a busca incessante de substituições parciais para tamponar a hiância primordial.

O Supereu, - parte consciente e parte inconsciente - teria como uma de suas funções impelir o Eu, a todo custo, a se enquadrar no padrão (ideal de Eu) internalizado enquanto sublime. Esse ideal é, entretanto, inalcançável, o que faz com que o Supereu dispense várias sanções punitivas ao Eu, como forma de castigo por não atingir a meta desejada. A magnitude de tal punição - presente, de fato, em todos os seres humanos - pode ser, no entanto, exponencialmente aumentada se levarmos em conta que a "hipermodernidade" responsabiliza totalmente o sujeito por seus fracassos. Assim, a culpabilização, neste caso, é dupla: primeiro, se sente culpado por não ter um corpo padrão ideal. Segundo, sente-se mais culpado ainda por ser incapaz de consegui-lo.

Vejamos, a este respeito, alguns depoimentos:

Fiquei triste com isso e hoje de manhã acabei não me controlando e comi 4 fatias de pão de forma integral. É nessas horas que me sinto uma fracassada. Me esforço pra olhar pra frente e continuar. Não posso desistir, isso vai ser pior... mas por outro lado eu não consigo fugir da compulsão. Acabei de miar e agora tô com dor de estômago. (etirado de http://cristinaproana.livejournal.com/)

Tenho até vergonha em contar pra voces o tanto que tenho comido recentemente. Eu me sinto mal em comer, eu sei o qto estou engordando e o qto estou ficando feia, mas há uma força maior dentro de mim que me faz comer absurdamente e oq eu mais quero é destruir isso e ser dominada novamente pela vontade e força de emagreçer! (extraído de http://www.fatnever-anaforever.blogger.com.br/)

O supereu tenderá sempre a cobrar, de um eu fragilizado, a obtenção de um ideal que, de fato, nunca chegará; acresce-se a isto uma intensa carga de apelos midiáticos, já referidos, enaltecendo as "facilidades" e "múltiplas escolhas" para o alcance deste ideal, o que exacerba ainda mais a culpa ante a não obtenção do mesmo, gerando, por sua vez, necessidade de autopunição. Entretanto, a culpa pelo fracasso pode ser redimida através de uma série de atitudes (exercícios, dietas, fitness, etc.) que pretendem propiciar bem-estar, mas que, devido ao excesso de rigor e de idealização do objetivo, causam tanto mal-estar que findam por servir, também, como purgação pelo "pecado" de não conseguir o "corpo perfeito". Sendo assim, vemos um ciclo de retroalimentação, no qual o mal-estar (de ser "feio/a", gordo/a, etc.) gera culpa e a culpa gera os comportamentos autopunitivos. Os próprios sintomas das patologias estudadas (fome, desnutrição, problemas cardíacos, musculares e intestinais, dentre outros) são boas ilustrações desse caráter destrutivo do Supereu em relação a um Eu supostamente não adequado. Tais comportamentos teriam duas funções: purgação da culpa e via de obtenção da meta (o bem-estar). Em ambos os casos, findam por gerar um mal-estar que dará início a um novo ciclo:

A patologia estaria não em tentar encontrar um objeto substituto, mas em querer amalgamar-se a ele, em uma condição regressiva que tenta ilusoriamente reativar o estado de narcisismo primário. Em uma sociedade do espetáculo como a nossa, que enaltece o supérfluo e raramente propicia projetos culturais identificatórios provedores do desenvolvimento do Eu, a adoção de condições regressivas se torna uma via mais acessível à realização dos ideais.

A disciplina é, nesse contexto, associada à "força de caráter" e também ao meio mais seguro de se alcançar o corpo almejado já que, acima de tudo, "meu corpo" é de minha inteira responsabilidade, passando a beleza de uma questão estética a uma questão moral, permeada por sentimentos de culpa e fracasso.

Vejamos um depoimento exemplar:

Hoje, eu cansei. Dela eu já cansei a tempos mas hoje eu realmente digo CHEGA. Não me interessa o preço que você vai me cobrar, eu aceito qualquer coisa. Só me deixe bonita. Me faça sentir bem. Eu ainda repito, contra você, não tenho armas, não eu não tenho. Tudo é inútil contra você, pois você sabe o meu ponto fraco e eu não sei o seu. Claro, você não tem um. Você é perfeita e mesmo querendo que eu seja como você, me incentivando, eu ouso te apunhalar. Desculpa se eu não fui boa o bastante até ontem, ana. Hoje eu mudei, você viu. Tanto viu que eu já percebi sua pequena recompensa. Já senti minha barriga um pouco, muito pouco, mais baixa. Mas pra mim que começei hoje e fui tão fraca, já é muita coisa.(retirado de http://pro.anna.zip.net/)

A disciplina, nos casos de vigorexia, pode abranger desde a prática de exercícios aos domingos e feriados até as dietas de ingestão de carboidratos e proteínas extremamente rigorosas. Para alcançar o objetivo de hipertrofia, é preciso sacrifício, dedicação e dor. É necessário dar o melhor de si. É o corpo sendo mortificado para ser aceito. Os sacrifícios da carne atuais envolvem além da dor, tempo e dinheiro, e convergem para a busca incessante do corpo perfeito, ávido por olhares de admiração e reconhecimento. Modificar o corpo também se mostra ligado às questões de diferenciação entre fracos e fortes. Para os "fortes" e "musculosos", mesmo indivíduos tidos como "desfavorecidos" podem se transformar, através de seu esforço e dedicação, num arquétipo de beleza e força hercúlea. Vejamos alguns depoimentos destes últimos:

Não importa quem é você, ou o que você faz. Aqui é um local para aqueles que estão preparados para dor. Disciplina, Dedicação, Determinação, o que te caracteriza. Muitos não entendem: o que leva uma pessoa a buscar a perfeição? (retirado de http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26426390)

A DISCIPLINA de nos alimentarmos corretamente, nos horários certos, de mantermos sempre aquele ritmo de treino intenso e forte! (retirado de http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=31063063)

Outro fenômeno peculiar que encontramos nos discursos coletados foi um empobrecimento da vida social dos indivíduos, seja por exclusão social dos pares, seja por um auto-confinamento.

Em meio a uma "Sociedade do Espetáculo" (Debord, 1992), em que a imagem é cada vez mais valorizada - "o que aparece é o bom e o que é bom aparece" - e as relações sociais são mediadas por imagens, o corpo torna-se o protagonista maior deste cenário. Dessa forma, a mensagem dos meios de comunicação em torno dos ideais de beleza acaba reduzindo o sujeito a um corpo em evidência - socialmente aceito ou publicamente depreciado. As tecnologias de rede (os blogs e webcams na internet) e as novas técnicas de vigilância promovem uma mudança no estatuto do olhar do outro, possibilitando uma exteriorização do indivíduo, em que o mais importante é o modo como se aparenta ser do que o que outrora era considerado como relevante: os sentimentos e o caráter. Costa (2004) fala da "desconfiança persecutória", ou seja, se nossa identidade, felicidade, saúde e normalidade estão, hoje, expostas no corpo físico, estão também expostos aos olhares do outro, supostamente acusador.

Nesse contexto, um corpo belo é, supostamente, garantia de visibilidade, sucesso, auto-estima, saúde e felicidade; enquanto um corpo "feio" e "disforme" é tratado como simples consequência do desleixo e da falta de vontade de seus "proprietários", que findam por serem tachados de "fracos de vontade" e "desregulados", passando a pertencer à categoria dos estultos: "A estultícia é a inépcia, a incompetência para exercer a vontade no domínio do corpo e da mente segundo os preceitos da qualidade de vida". (Costa, 2004, p.195)

Dentre os referidos estultos situam-se os "frangos", ou aqueles que não se consideram ainda suficientemente "musculosos", os quais são alvos de uma dupla exclusão: aquela oriunda dos vigoréxicos e outra, originária do próprio indivíduo, expressa sob a forma de auto-confinamento.Vejamos um exemplo do primeiro tipo:

O que mais me irrita são os instrutores frangos q nem treinam mas msm assim pagam de forte...e qdo vc vai pedir pra eles te ajudarem a pegar um alter de 50 kg pra vc faze supino naum aguentam erguer o peso...vai treinar frango ou vai dar aula de ed física pro primário... (http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=2606889&tid=2483060459428110738)

O segundo tipo de exclusão social, mais abundantemente observado nos sites, refere-se a uma segregação auto-infligida. O superinvestimento narcísico em si e o investimento excessivo em atividades vinculadas a modelar o corpo findam por comprometer a vida social do sujeito. Em alguns casos, este pretere as atividades sociais para se dedicar a dietas, exercícios ou outras atividades relacionadas ao corpo. No auto-confinamento, a exclusão é, portanto, auto-imposta, seja por considerar-se aquém do padrão ideal, seja por defesa frente ao suposto olhar acusador do outro.

deixo de sair com meus amigos na semana para ir a academia, minha namorada briga muito comigo por não poder sair com ela na semana, sempre vou a academia em busca de resultados cada vez melhores e sempre ainda não esta bom. (extraído de http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26426390);

Eu não saio mais de noite há mais de um ano, há um ano e meio mais ou menos não entra um gole de alcool na minha boca, to com 43 de braço, mas dificilmente saio sem moletom por me achar minusculo, todo dia me olho no espelho e acho q diminui, peguei 2 infecçoes intestinais em um mês e to com um problema no esôfago por causa da minha alimentação exagerada. (extraído de http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=2606889&tid=2484105560270835915);

pow nem fala nessa parada , sofro paka com isso , me sinto o cara mais magrelo , dakeles frangos , bem frango mesmo ... geral fala que ja usei bomba , geral fala que tenho corpo maneiro , geral fala tudo , mais nao me vejo do jeito que falam ... às vezes deixo de sair por insegurança de alguem ficar me olhando , as vezes me olha eu ja me sinto mal , pois acho que ja esta falando que sou frango , magrelo e tal ... http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2606889

Treino 4 horas por dia ...se não treino fico depre, depre a ponto d nem sair de casa....antes d sair da casa e colocar camiseta sempre faço abdominal...e se acha q não fiquei inchado,troco a camiseta,se mesmo assim não ajudo,não saio indpendnt do lugar q eu ia).... (extraído de http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26426390);

O desinteresse por atividades que anteriormente eram de capital importância, como o trabalho e o círculo de amizades, é crescente. O sujeito volta uma considerável parcela de sua energia libidinal para o próprio Eu. Ora, se a quantidade de libido presente no psiquismo de forma alguma é ilimitada, e levando em conta que esses indivíduos em muito investem em si mesmos, não é de se espantar que o envolvimento com outrem ou com grupamentos sociais sofra um embotamento.

Há, aqui, uma íntima relação entre essas exclusões. Só se pode sair quando se atinge o ideal, mas, ao mesmo tempo, essa interação social representa o perigo de desperdiçar todo um árduo esforço e, ainda, de ser ridicularizada pelos pares. A exclusão, assim como o mal-estar causado pela "fraqueza de vontade", age, mais uma vez como um mecanismo de retro alimentação.

Outro fenômeno realçado nos discursos coletados diz respeito aos excessos provenientes de metamorfoses corporais. O estado de "excesso" e a busca constante por transformações corporais, por si mesmas excessivas, encontram-se presentes em todas as patologias observadas - anorexia, bulimia e vigorexia -, diferindo apenas na forma com que esse excesso se manifesta.

O excesso está presente, nas anoréxicas e bulímicas, sob várias formas: excesso de exercícios, excesso de dietas, excesso de inibidores de apetite, excesso de comida, excesso de jejuns, excesso de vômitos, excesso de medo da gordura etc. Sendo o modelo de corpo ideal inalcançável, nenhuma transformação será suficiente para atingi-lo e, assim, o sujeito entra em um ciclo infindável de metamorfoses. No caso das anoréxicas, a perda de peso é mais notável. As bulímicas, por sua vez, frequentemente não apresentam um ganho ou uma perda de peso considerável, embora se entreguem a dietas, purgativos e vômitos constantes.

As bulímicas cometem um duplo excesso: o de comer e o de purgar. A hiperfagia provoca uma culpa quase insuportável. Culpa de comer, culpa de não ter controle, culpa de ser "gorda". À guisa de purgação, recorrem a vômitos, laxantes, anorexígenos, exercícios e dietas fadadas a durarem apenas até a próxima crise. Exemplos de excessos bulímicos:

Achava-me gorda e suspeitava que a dieta que ela me dava era muito para mim. Estaria ela me enganando? Estaria ela enganada? Acabava de comer, pesava-me e ia fazer exercícios. Meu personal trainer era louco! Só 40 minutos de corrida? Fazia 40 minutos com ele we depois mais 40 e pedalava e caminhava. Evitava sexo com meu marido pois tinha que estar em pé muito cedo para correr e treinar. Como eu não vomitava, não me achava bulímica! Mas o exercício sempre era pouco. (retirado de http://www.tommaso.psc.br/html/alimentar/bulimi/bulimi3.htm)

Voces conseguem imaginar uma pessoa q sempre foi neurotica com o corpo, sempre se achou gorda, sempre fez regimes, sempre tentou comer cosias saudaveis e leves para nao virar uma bola e agora esta a propria bola?!?!?!?! (http://www.fatnever-anaforever.blogger.com.br/);

As anoréxicas se destacam pelo excesso de exercícios (geralmente na fase inicial da doença) e pelos períodos prolongados sem ingerir nenhum tipo de alimentação. A "força de vontade" inabalável e a resistência em não comer transformam muitas dessas meninas em modelos para as outras. Como exemplo, podemos ver a própria personificação da doença ao lermos uma carta escrita, tendo por "autoria", a própria Anorexia:

Eu vou te fazer diminuir calorias consumidas e vou aumentar a carga de seus exercícios. Eu vou te forçar até o limite! Eu preciso fazer isso, pois você não pode me derrotar! Eu estarei começando a me colocar dentro de você. Logo, eu já vou estar lá. Eu vou estar lá quando você acordar de manha, e correr para a balança. Os números começam ser amigos e inimigos ao mesmo tempo, e você, em pensamento reza para que eles sejam menores do que ontem à noite. Você olha no espelho com enjôo. Você fica enjoada quando vê tanta banha nesse seu estomago, e sorri quando começam a aparecer seus ossos. E eu estou lá quando você pensa nos planos do dia: 400cal e 2h de exercícios. (http://br.geocities.com/proana_paradise/cartadaana.htm)

No caso dos indivíduos acometidos pela Vigorexia, o excesso se mostra através da prática constante e desmesurada de exercícios de levantamento de peso e pelo consumo de anabolizantes e suplementos alimentares, bem como pela ingestão de comida em quantidades exageradas. A comida é vista não como inimiga, mas como elemento imprescindível na construção de músculos para alcançar o objetivo da perfeição e robustez máscula. Vejamos alguns relatos:

Começei a malhar com 15 anos malhei 1 ano e fui pro jiu-jitsu, pesava 64kg, treinei até os 19 anos que foi qndo eu me dediquei a musuculação hoje tenho 23 anos, 1,73, 93kg meu limite ?! O CÉU. (http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=2606889);

Comecei a comer muito, muito msm. com 12 anos eu ja estava comendo mais de 1 kg por refeição. hoje eu estou consumindo quase 5kg por dia (isso sem contar os liquidos como sucos, vitaminas, agua, etc...) ja tive varios problemas com gastrite por causa do excesso de comida q eu jogo no meu estomago...hoje eu tenho 17 anos, 1.76 e 97kg (http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=26426390)

Embora o não alcance da meta, a despeito de todos os exageros cometidos para atingi-la, cause mal-estar, este é visto como um preço a se pagar pelo belo corpo desejado. Tal qual a lógica monetária, na qual grandes lucros implicam algum risco, o corpo ideal exige uma grande cota de sacrifícios. É a filosofia do no pain, no gain. O desconforto é visto como meio legítimo de se chegar ao ideal, e, ao mesmo tempo, "não existe uma vitória sem sacrifícios". Entretanto, atentemos para o detalhe sutil de que a patologia não está necessariamente implicada na lógica do no pain, no gain, que remonta, inclusive, às origens protestantes do espírito capitalista moderno, mas aos extremos a que ela é levada por alguns indivíduos hipermodernos. O efeito nocivo está em considerar mesmo o mal-estar mais excruciante como uma via régia para a perfeição corporal.

A promessa de felicidade para aqueles que "se esforçam" também está fortemente referendada por corpos de modelos midiáticos apresentados via novas tecnologias, dos quais as "celebridades" parecem ser a encarnação mais fidedigna.

Apesar de ser sabido que sempre existiram mulheres de beleza exemplar, de Cleópatra à Gisele Bundchen, e ícones da musculação como Arnold Schwarzenegger, a influência da mídia sobre os corpos tem-se intensificado sobremaneira nos últimos anos, e isso se deve, em parte, aos novos recursos tecnológicos da informática.

Com o uso massivo da tecnologia, as personalidades que servem de modelo a esses jovens aparentam, em vídeo e foto, uma silhueta cada vez mais bem definida e distante da real. Pequenas imperfeições da pele ou excessos de gorduras localizadas são apagadas com um simples click através de programas de computador. Trata-se da virtualização dos corpos que, com técnicas computadorizadas cada vez mais refinadas, tornam os corpos ainda mais perfeitos - objetos de desejo a serem reproduzidos na própria carne - sem os "defeitos" herdados pela natureza. Neste sentido, as ameaças ao corpo perfeito podem atualmente ser desfeitas e "curadas" através de programas de computador como PhotoShop, Illustrator e Indesign. Com esses programas, tudo o que é considerado "feio" pode ser apagado, retocado, corrigido, numa verdadeira aversão a tudo o que é orgânico: poros na pele, pêlos, veias, tendões, gordura, flacidez, manchas, rugas etc.

De acordo com Sibila (2005), os sonhos de "virtualização" e o culto ao "corpo belo" escondem um verdadeiro desprezo pela carne impura - sendo esta a que traz em si o peso da organicidade, a que não atende aos ideais pregados pela corpolatria -, além da vontade de eliminá-la com a ajuda das novas ferramentas da tecnologia, de modo a "deletar" toda e qualquer eventual impureza.

Isto tudo colabora para que os ideais de beleza midiáticos se tornem ainda mais tirânicos, propelindo jovens a uma meta impossível de ser alcançada já que não se pode concorrer com os efeitos da computação gráfica - uma espécie de cirurgia plástica virtual.

Na comunidade intitulada "Quero ter o corpo da Beyoncé", em uma enquête, foi perguntado como seria se "você tivesse o corpo da Beyoncé", duas usuárias afirmam:

Nossa eu seria a pessoa + feliz do mundo... num eh nem pra usá AKELA ropa...mais pre pelo menos as q eu uso ficarem melhores neh e achar mais roça e ate um namorado pq gorda num da certo neh..hehehe (extraído de http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=5108446&tid=2444588255528763409&start=1)

Nossaaaa se eu tivesse um corpo q nem o dela sria felisissimas...usaria vestidos com decote pras baladas hehe blusinhas agarradinhas...shortinhus...calça baixa tudo fikaria ótimoooo!!!! Hehe (extraído de http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=5108446&tid=2444588255528763409&start=1)

Com certeza..90% das pessoas usam photoshop depois q viram q tirava defeitos e blablablá Daí quando vc encontra a pessoa é capaz de nem reconhecer em alguns casos ¬¬ Quem não tem sinais, defeitinhos, algumas espinhas e tal? (extraído de http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7359645&tid=2438700669260147232);

No que tange aos modelos masculinos, tem-se a figura paradigmática de Arnold Schwarzenegger como o ídolo maior dos vigoréxicos, tendo sido vencedor de várias competições de fisiculturismo.

Vejamos exemplos desta idolatria:

Arnold eh o DEUS da musculação!" (Usuário anônimo, em 24/04/06 , Comunidade: "Seguidores do Mestre Arnold). http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=2550506&tid=2459426946624683799);

Para todos os "bombados" ou FANATICOS por ACADEMIA e MUSCULAÇÃO que se INSPIRA nesse GRANDE homem, um verdadeiro VENCEDOR. (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28587930);

Para todos que são simplesmente FANATICOS por suplementos e musculação. Se vc não vive sem eles, gasta seu salario todo com eles e quase fali, entre nessa comunidades. Para fanaticos por essas "BOMBAS" naturais. (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26538582);

Comunidade para todos que acha que o que cresce natural é planta... Não é só para quem toma bomba, mais sim tb para quem toma suplementos... Suplemento não é bomba. Seja bem vindo os BOMBADOS e os "SUPLEMENTADOS". (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=25994780).

Tal tirania corporal também é fomentada pela atual indústria de alimentos. Não raro, as compulsões bulímicas (ou as restrições anoréxicas) acabam se estendendo também ao alimento tecnologicamente modificado para ajudar a manter o corpo em forma: hiperfagia de produtos diet, light e low carb. No caso da vigorexia, a tecnologia promove a criação de novos e eficazes complexos vitamínicos, anabolizantes e suplementos alimentares, capazes de promover alterações metabólicas que potencializam a hipertrofia, levando o corpo a superar seus limites genéticos.

Em todos os casos, o corpo é visto como algo que pode ser construído e reconstruído em seus contornos, como um terreno onde são cultivadas as identidades, um quadro inacabado e sempre passível de transformações. "Só depende de você" - nos diz a mídia, que mostra o que é "belo" e, ainda, nos apresenta, de forma "acessível a todos", uma infinidade de produtos tecnológicos para sê-lo. Alguns lidam com isso não comendo, outros, compensando o excesso de comida, e outros, remodelando seus corpos. Assim, o não alcance de tão perseguido "bem-estar" somente produz intenso sofrimento psíquico e "mal-estar".

 

Reflexões finais

Como resultado de nossas reflexões "teórico-críticas" acerca do corpo idealizado do consumo na hipermodernidade cabe-nos, por fim, apontar as novas formas de controle e dominação impostas sob o signo da liberdade, da diversidade e da abundância. Aqui não há paradoxos, tampouco contradições.

Trata-se de um "excesso" de obediência às normas ideais do corpo padrão, que quando não cumpridas engendram sentimentos de fracasso, provocam sérios distúrbios alimentares e produzem forte exclusão social dirigida àqueles que muito se distanciam de tais normas. O "bem-estar" tão almejado transmuta-se em "mal-estar" quando do não cumprimento das regras. Aquele - o bem-estar - que se pautava pelo elogio da moderação e do equilíbrio, quando não alcançado (apesar de dito "acessível a todos"), evidencia seu caráter autoritário e coercitivo: redunda em comportamentos excessivos, arriscados e desmesurados, produzindo um intenso "mal-estar". Não há paradoxos!

A este respeito, Costa (1986, p.180) já nos alertara: "o outro é uma abstração reificada do corpo inventado pela sociedade de consumo", ou seja, o outro portador do corpo ideal não existe, é apenas um signo feérico, um "simulacro", que, como tal, não remete o sujeito a lugar algum que não à sua própria ordem; seu fundamento consiste, justamente, em jamais remeter o sujeito ao ideal proposto, não podendo, portanto, realizar, efetivamente, o que promete. Nisto consiste, o que esse autor chama de a "maior violência da sociedade de consumo", uma vez que instila frustração - por manter o sujeito em um ciclo infindável de tentativas fracassadas - e culpa.

Tal ideologia estimula apenas "o mito da igualdade diante do prazer, simulacro da igualdade diante dos direitos do homem, e reforça-se a ideologia da competição e do sucesso individual" (Costa, 1986, p.178). Neste "paraíso", somente os "inaptos", "doentes" ou "neuróticos" continuam a sofrer, num suposto paradoxo, uma vez que "tudo" lhes é "solicitamente ofertado". A responsabilidade, portanto, recai inteiramente sobre o indivíduo. Esta "renúncia" e esta frustração, tornadas ainda mais patentes no caso do corpo idealizado do consumo produzem, de forma coerente, sentimentos de "ansiedade, depressão e fadigas crônicas"; ao desejo excitado e sempre frustrado, correspondem, também sentimentos de "frieza afetiva e descompromisso emocional" (Ibd. p. 184), exacerbando, desta forma, o "mal estar" que Freud (1980c) descreve em o "Mal Estar da Civilização".

Portanto, consideramos que, na esfera do corpo, a análise dos paradoxos revela mais uma questão de controle e dominação do que propriamente de "moderação". O enquadramento do corpo nos ditames dos códigos do consumo seria, deste modo, o responsável pelo regime corpóreo fundador deste "corpo-rascunho", cuja fragmentação, liquidez e eterna busca de completude revela, sob uma capa de hedonismo, novas formas de dominação e controle, travestidas de liberação e felicidade.

 

Notas

1. A pesquisa que originou este trabalho foi desenvolvida enquanto a autora era graduanda em Psicologia pela UFC e bolsista de iniciação científica pelo programa PIBIC/CNPq, ao qual agradecemos pelo financiamento.

 

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Recebido em 24 de agosto de 2009
Aceito em 29 de outubro de 2009
Revisado em 15 de dezembro de 2009

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