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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.10 no.2 Fortaleza June 2010

 

RELATOS DE PESQUISA

 

O homoerotismo masculino e o seu grupo familiar

 

 

João Jorge Raupp GurgelI; Júlia S. N. F. Bucher-MaluschkeII

IMestre em psicologia pela Universidade de Fortaleza. Professor de psicologia da Universidade de Fortaleza. End.: Av. Washington Soares. Edson Queiroz. Fortaleza-CE. E-mail: raupp@unifor.br
IIProfessora titular da Universidade de Fortaleza. Doutora pela Universite Catholique de Louvain. End.: Av. Washington Soares. Edson Queiroz. Fortaleza-CE. E-mail: juliasursis@gmail.com

 

 


RESUMO

Segundo o relatório da Anistia Internacional de Direitos Humanos, a sociedade brasileira está entre as mais homofóbicas do mundo. Em decorrência deste fato, inúmeras pessoas com orientação sexual homoerótica sofrem discriminações tanto nos espaços públicos como na família. Sabedor de que a subjetividade é formada e moldada dentro destes espaços, priorizou-se neste trabalho o conhecimento de alguns aspectos da subjetividade de indivíduos do gênero masculino homoeroticamente orientados em um contexto familiar hegemonicamente heteroerótico, dando uma ênfase maior na formação e expressão dos seus sentimentos afetivo-sexuais dentro deste grupo e nas repercussões ante o sentimento de família. Indicou-se como conclusão, que os indivíduos do gênero masculino com orientação homoerótica são subjetivados nos seus sentimentos afetivo-sexuais por meio do amor romântico, porém, por pertencerem a um núcleo familiar social adverso a essa forma de subjetivação sexual, sentem conflitos, culpas e medos por quebrarem mitos e ritos familiares vivendo muitas vezes numa dinâmica do segredo familiar.

Palavras-chave: Família. Homoerotico. Orientação sexual. Subjetividade. Sofrimento psíquico.


ABSTRACT

According to the report of Amnesty International, Human Rights, Brazilian society is one of the most homofóbicas the world. Due to this fact, many people with sexual orientation homoerótica suffer discrimination both in public spaces and the family. Aware of that subjectivity is formed and shaped within these areas, prioritized in this work knowing some aspects of the subjectivity of individuals males homoeroticamente oriented within a family context hegemonicamente heteroerótico, giving a greater emphasis on training and express their feelings affective-sexual within this group and its repercussions facing the sense of family. We use a methodology literature. Indicates as a conclusion, that individuals males with guidance homoerótica are subjetivados front of his feelings through the affective-sexual romantic love, however, because they belong to a family social adverse to that form of sexual subjectivity, feel conflict, guilt and fear by breaking myths and family rites.

Keywords: Family. Homoerotism. Sexual orientation. Subjectivity.


 

 

Introdução

Nosso interesse em investigar como os indivíduos do gênero masculino com orientação sexual homoerótica subjetivam-se frente ante os seus sentimentos afetivo-sexuais, como também expressam tais sentimentos em seu contexto familiar (que, em sua maioria, é fundamentado no paradigma da heterossexualidade), bem como as repercussões psicológicas advindas dessa expressão, principalmente o modo de subjetivação em relação ao seu sentimento de família. É possível observar intensa contradição, no espaço contemporâneo, em que a sociedade ocidental vem discutindo os deveres, assim como os direitos de indivíduos com orientação homoerótica.

Delineamos momentos historiográficos desde a Antiguidade Clássica até a Contemporaneidade, com o objetivo de traçar os deslocamentos ocorrentes no mundo ocidental ante um silenciar ou não dos sentimentos afetivo-sexuais homoeróticos, visando a compreender, com maior clareza, quais são os sentimentos afetivo-sexuais que hoje subjetivam indivíduos homoeroticamente orientados. Em Homofóbia e a Família, buscamos entender o grupo familiar contemporâneo no Ocidente, com seus mitos, ritos e sentimentos familiares. Nas Histórias de Vida e Homoerotismo, apresentamos uma historiografia, dando ênfase especial à formação do sentimento de grupo familiar, assim como à percepção que a família brasileira, em especial do nordeste onde foi realizado o estudo, tem de desvio sexual.

 

Historiografia do Homoerotismo no Ocidente - Deslocamento do Discurso Homofóbico

A partir de uma historiografia, apresenta-se os deslocamentos por que os discursos homofóbicos passaram, ao longo do pensamento ocidental e, principalmente, quais os efeitos produzidos por esses discursos no sentido de promover um silenciar ou não dos sentimentos afetivo-sexuais por tais pessoas. Passamos a ressaltar ainda, neste percurso, como a cultura brasileira vivencia tais discursos na atualidade.

Nossa preocupação com as formas discursivas sobre as práticas homoeróticas e seus deslocamentos através da história se justifica pela capacidade performática de linguagem em formar subjetividades. Somos, na contemporaneidade, subjetivados por discursos criados na e pela cultura. Esses discursos foram se formando e se transformando até os dias atuais.

Na Grécia Antiga, havia certa liberdade no que diz respeito ao relacionamento homoerótico do gênero masculino e, principalmente, às formas como esta relação era tratada na pólis. Tal relação se afirmava como um paradigma ético, sendo seguido pelos efebos (rapazes) e os erastas, oriundos da aristocracia. Podemos perceber isso nos escritos de Platão, Xenofonte e Plutarco, que expressam os sentimentos afetivo-sexuais homoeróticos de forma bastante explícita. (Vayner 1985)

Embora o ambiente que permeia os discursos sobre o homoerotismo masculino seja, aparentemente, de liberdade, acreditamos, contudo, que já naquele momento se instalaram no pensamento ocidental os germes daquilo que, hodiernamente, denominaremos de homofobia.

Para compreender melhor, recordemos o fato de que somente os cidadãos livres é que poderiam ter essa forma de amor, ficando excluídos tanto as mulheres como os escravos e estrangeiros. Ainda como nos relata Foucalt(1984), muitos casais que permaneciam por um longo período numa relação pederástica eram tidos como inconvenientes, contudo um novo ponto se apresenta, já que a menor suspeita de passividade na relação entre eles era motivo de ironias e críticas, sendo possível pensar numa forma de incentivo ao silenciamento dos sentimentos afetivo-sexuais, já que passividade entre dois cidadãos livres era motivo de rechaço, mesmo não havendo nenhuma legislação que vetasse essa forma de relacionamento amoroso.

Este fato é um exemplo que respalda o que citamos há pouco, isto é, mesmo não havendo uma legislação que vetasse as relações homoeróticas, a linguagem que permeava a pólis se tornava formadora de subjetividades, tendo repercussões morais, que, na sua sutileza, apresentavam um veto o qual, concretamente em forma de lei, não existia.

Assim, um novo esboço, ou poderíamos arriscar, o primeiro esboço da homofobia no Ocidente foi pintado, na verdade, já na própria Grécia Antiga, pois, embora a relação homoerótica em si seja proclamada por toda a pólis, outro pivô emerge, sobre o qual rondam os diversos questionamentos, no nosso caso, o silencioso ranço da passividade, que aparece nas entrelinhas dos discursos, das críticas e ironias dos cidadãos atenienses e que aos poucos vai se tornando a linha mestra do homofobismo, capaz de norteá-lo. E é isso que nos propomos investigar, até o pensamento da atualidade, embora com alguns deslocamentos.

A pederastia na Roma Antiga parece corroborar aquilo que estamos propondo, já que, como nos mostrou Vayne (1985), o homoerotismo era bastante difundido e aceito, contudo mantinha a mesma ressalva da passividade. E mais, não eram aceitas as relações entre um cidadão e um efebo de nascimento livre, somente com escravos libertos, afunilando mais ainda a "liberdade" em relação ao homoerotismo.

Podemos perceber aqui o primeiro deslocamento da homofobia no Ocidente, que, fundamentada na passividade, determina agora a "proibição" até mesmo aos homens livres, o que não ocorria na Grécia Antiga, na relação entre o erasta e o efebo.

Vale ressaltar que, desde o momento em que a pederastia na Antiguidade Clássica deixa de ter uma função social, sua prática entra em desuso. Acreditamos que indivíduos que a mantinham, provavelmente, silenciavam.

Com relação à Idade Média, apesar da grande controvérsia entre os autores, acreditamos que não foi somente com o advento do Cristianismo que o rechaço a toda prática homoerótica ocorreu, pois também o paradigma hegemônico em que um homem livre não poderia jamais ser passivo em relação ao seu companheiro sexual veio contribuir para uma homofobia no mundo ocidental.

De acordo com os autores citados, a dietética dos prazeres corporais da Filosofia estóica, do gnosticismo e da Medicina grega foi assimilada pelos princípios morais e éticos durante este período e também passou por deslocamentos até a contemporaneidade em relação a princípios éticos que pautam as subjetividades atuais.

Apesar de termos indicado que a dietética dos prazeres não nasce com o Cristianismo, podemos asseverar que este, ao absorver a dietética dos médicos e filósofos gregos estóicos, teve importância fundamental para tal rechaço, pois acreditamos que os códigos papais em muito contribuíram para que toda a prática homoerótica passasse por maior e mais contundente interdição.

Provavelmente, uma parte dos sentimentos afetivo-sexuais surgidos de uma prática homorótica - amor, atração sexual, paixão, fantasias sexuais, sonhos eróticos - eram confessados aos padres e bispos da igreja ou silenciados por medo da Inquisição.

Por outro lado, o ódio, a repulsa, como nos mostrou Andrè (1995), eram verbalizados quando um cristão, enquanto prisioneiro era, nas Cruzadas, colocado em uma relação homogenital pelos seus inimigos.

Parece-nos que os deslocamentos do discurso homofóbico no mundo ocidental, é resultado de uma posição assumida pela produção da subjetividade masculina acerca da sexualidade que sempre deveria ser ativa, viril. Ainda, a dietética do período medieval encontra pautada em uma moral e uma ética religiosa, que, como veremos, será deslocada na Modernidade, ética esta delineada no modelo médico-científico e ideológico.

Relativamente, para a formação e manutenção de uma subjetividade da sexualidade masculina, fez-se necessário contrastá-la com a subjetividade de uma sexualidade feminina, sendo esta sempre passiva, assim como de outros atores sociais coadjuvantes, tais como os adolescentes, os escravos e a plebe em geral.

Respaldando esta ideia, Costa (1995) nos mostra que a concepção de mulher que vigorou até a Modernidade foi a de um homem invertido, haja vista que o modelo ideal do corpo era alcançado pelo corpo do homem (neoplatonismo).

A Modernidade, com o advento do Iluminismo, transporta homens e mulheres, aparentemente, para um mesmo patamar de igualdade, por serem ambos portadores de razão, divergindo do modelo neoplatônico. Como vimos ainda em Costa (1995), porém, houve a necessidade da manutenção dos mecanismos econômicos, políticos e sociais, que se encontravam sedimentados na mesma concepção de sexo, porém, como este ganhou autonomia, surgiu o discurso médico-ideológico com a finalidade de rebaixar a mulher, em seus aspectos biológicos e constitucionais, mantendo, assim, embora com outra roupagem, uma ideologia de passividade na sexualidade feminina.

Juntamente com este discurso, são criadas teorias "científicas" com relação aos indivíduos que mantinham relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. Em última instância, são os médicos, com seus discursos higiênicos, que, em nome do saber "cientifico" e positivo, fazem com que os sujeitos de práticas homoeróticas sejam vistos como "doentes" e ainda, como portadores de um psiquismo inferior e passivo, enfim, como de uma mulher.

Podemos observar que, mais uma vez, o discurso homofóbico no Ocidente foi deslocamento, tendo repercussão nesses sujeitos, principalmente na formação de suas subjetividades e, consequentemente, na confissão de seus sentimentos afetivo-sexuais.

Por serem considerados doentes, esses indivíduos passaram a ter, na contemporaneidade, problemas de ordem moral advindos deste discurso, fazendo com que esses sentimentos fossem silenciados, tanto no âmbito privado como no público, sendo somente confessados exclusivamente em consultórios de médicos, psicólogos, sexólogos ou em guetos.

Vale ressaltar que, nesse momento, já existe a clara dicotomia entre o público e o privado, o que promove duplo rechaço a se difundir pelos dois ambientes, ou ainda, mais relacionado com o tema da nossa pesquisa, uma dupla repulsa que alcança não apenas o ambiente público, mas, principalmente, o núcleo familiar.

Na contemporaneidade, com relação ao mundo privado, Costa (1992), ao estudar o homoerotismo e a aids, nos relata que os portadores do vírus, em suas queixas, sentem um profundo conflito em não poderem relatar os seus sentimentos afetivo-sexuais para seus componentes familiares.

O silêncio dos indivíduos com práticas homoeróticas na contemporaneidade ante o seu grupo familiar é uma consequência histórica que repercute psicologicamente nessas pessoas, como veremos em pesquisas recentes realizadas no Brasil e na cidade de Fortaleza.

Investigações levadas a efeito por Kerr-Pontes, Gondim, Mota e Martins ( 1998) sobre conhecimento, atitudes e crenças sobre aids e comportamento sexual entre homens e bissexuais no Município de Fortaleza, com relação aos aspectos sociodemográficos, nos mostram que a maioria dos entrevistados (61,8%) residia com os parentes, e apenas (29,1%) isolados ou com amigos.

Os pesquisadores demonstraram que os indivíduos os quais moram com os parentes são mais propensos a se envolver com atividades sexuais de "alto risco", considerando-se como "alto risco" as relações em que não há uma preocupação preventiva com doenças sexualmente transmissíveis, principalmente aids.

Os autores levantaram a hipótese de que este comportamento se encontra diretamente relacionado com aspectos culturais locais. Em Fortaleza, não é um hábito cultural que indivíduos, mesmo já tendo um poder financeiro, residirem isoladamente em geral, permanecendo ainda na casa paterna.

Durante as entrevistas nos grupos focais, ficou bastante claro que a família "cobra" sutilmente , ou mesmo explicitamente, a permanência do indivíduo dentro da família seja ajudando financeiramente ou não. A saída deste indivíduo só é "permitida" ou tolerada socialmente se o mesmo constituir outra família. (Kerr-Pontes et al,1998, p. 72).

Em decorrência desse importante aspecto cultural, ocorre um aumento na pressão sobre o indivíduo, limitando a sua liberdade na tomada de decisões sobre seu comportamento sexual e, consequentemente, envolvendo-o em atitudes de risco.

Souza (1993), ao realizar uma análise de discurso das cartas enviadas ao Grupo Somos de Afirmação Homossexual, na década de 1980, mostra o quanto o sujeito dessa prática sexual apresenta dificuldades em relatar os seus sentimentos afetivo-sexuais, tanto na esfera pública como na família.

Bucher-Maluschke(2008) relata que entre os entrevistados homossexuais soropositivos quando não são eles próprios que mantém a lei do silêncio para com suas famílias, é a própria família que pede silêncio por temor do julgamento da sociedade.

Nascimento (1996) nos indica que, no Brasil contemporâneo, onde o capitalismo avançado promoveu grande competição entre as empresas para a acumulação de capital, surge um mercado consumidor, em que a figura de indivíduos com práticas homoeróticas se torna uma promissora fatia consumista, ou, ainda, um público que deve ser explorado, principalmente nas grandes metrópoles brasileiras, dando oportunidades, tanto no plano público como no privado, a fim de que eles expressem sentimentos afetivo-sexuais. Cremos que este novo discurso também é uma produção do discurso homofóbico, pois os que se encontram passivos financeiramente na nova ordem econômica não podem, dentro de todo um dispositivo preparado para que os sentimentos sexuais possam ser expressos, revelá-lo como os demais os realizam, tornando-os assim mais expostos a situações de completo silenciamento de seus sentimentos afetivo-sexuais, ou, por outro lado, quando os exprimem, ficam em situação de desconforto.

Com isso, perguntamo-nos: Será que ainda ronda entre nós o paradigma norteador da virilidade? Será que o esquecimento do "rechaço" em relação à passividade foi vencido dada a nova sociedade de consumo, na Contemporaneidade? Ou continuamos a repelir os indivíduos com orientação homoerótica que se encontram na passividade financeira, no novo modelo econômico? Qual a importância desse discurso na formação da subjetividade desses sujeitos?

Ainda com relação aos dados culturais, dados apresentados no Boletim do Grupo Gay da Bahia a partir do Relatório da Anistia Internacional em 1997 situava o Brasil como campeão mundial de assassinatos de indivíduos com orientação sexual homoerótica no mundo. Segundo esta fonte, a cada três dias, no Brasil, um indivíduo com esta orientação sexual era morto. Os crimes homofóbicos subiram de 50 por ano, na década de 1980, para 120 por ano entre 1990/1998, um aumento correspondente a 120%. Ressaltamos que esta estatística não condiz com a realidade, haja vista que a família de muitos desses agentes passivos do ilícito, por vergonha, não levam queixa à polícia. Nesta década, não sabemos se a situação melhorou, pois não temos estatísticas a este respeito.

Indagamo-nos: Por que muitas famílias preferem silenciar para a polícia quando um de seus membros que tem uma orientação sexual homoerótica é assassinado? Será que estes indivíduos não confessam os seus sentimentos afetivo-sexuais por se sentirem anormais ou pecadores? Ou não realizam estas por acreditarem que seus membros familiares os percebem assim? Como se constituiu esta família? Como é o seu funcionamento? Quais são seus mitos, confissões e segredos? Estas questões são permeadoras do foco principal a ser levantado neste trabalho e promovem o "silêncio" ou não dos sentimentos afetivo-sexuais de indivíduos com orientação homoerótica dentro do grupo familiar.

Estas questões implicam a necessidade de se averiguar, por meio de estudos sobre a constituição da família no Ocidente, como essa família deixa de ser um grupo no qual o sentimento de linhagem é o que prevaleceu para uma família nuclear, íntima com sua percepção de normas e desvios sexuais ante a sexualidade masculina.

 

Homofobia e a Família

A família possui em sua essência um aspecto marcante, o de constante mutação. Isso ocorre pelo fato de ser esta instituição uma criação cultural e, como o próprio homem, se formou e transformou de acordo com as organizações políticas, econômicas e sociais que se desenrolaram nas diferentes épocas.

Parece-nos, desde FREUD, que já podemos arriscar sobre a questão do homoerotismo e a família, embora não queiramos afirmar que, no mito da horda primitiva, já estejam presentes não apenas os fundamentos da cultura, mas também desta imbricação, contudo é inevitável lembrar que os filhos, ao se rebelarem contra o poder castrador do pai, fogem, por consequência, da traição homoerótica em que estavam aprisionados, ganhando assim o direito de copular com as fêmeas do mesmo clã.

Vale ressaltar que tal direito nunca fora desfrutado verdadeiramente, já que é pela identificação com o pai morto que se consolidará a proibição do incesto e, por isso, a possibilidade de convivência dos homens entre si, reprimindo uma parte da sua sexualidade, fundando portanto a civilização e a cultura por meio da lei do incesto que vem criar o matrimônio e a formação da família.

Já em relação ao sentimento de linhagem, parece-nos que, no mundo ocidental e em especial no Brasil, o discurso higiênico veio proporcionar a gênese de uma família nuclear, íntima e afetiva.

Este mesmo discurso é, também, o fundador de uma sexualidade perversa, e a partir daí, os indivíduos que se enquadram neste esquema proposto pelos médicos tendem a promover um desequilíbrio na harmonia deste núcleo, ou, poderíamos dizer, já adiantando uma forma de conflito, haja vista que as expectativas do grupo para com este individuo e vice-versa fazem com que o não cumprimento das obrigações de lealdade provoque sentimento de culpa existencial.

Aqui nos perguntamos: Será que o conflito surgiu do discurso higiênico que, enfim, criou ideologicamente uma "patogenia" do homoerotismo? Ou, de outra forma, foi pelo mal-estar confuso que a sexualidade humana inspira, que surgiu a necessidade de invenção de um discurso higiênico, a fim de classificá-la e, com isso, rechaçar todos aqueles indivíduos que não se encontram com este discurso?

De acordo com o exposto, pessoas do gênero masculino com orientação sexual homoerótica não se encontram em simetria com estes ideais propostos aos atores do drama familiar no Brasil, mantendo em "segredo" os seus sentimentos afetivo-sexuais, como uma forma de manter a homeostase do grupo familiar e preservar o mito, na família, de que todos os seus membros buscam pessoas do sexo oposto para se realizar afetivo-sexualmente.

De acordo com o exposto, indivíduos do gênero masculino com orientação sexual homoerótica, não se encontram em simetria com estes ideais propostos aos atores do drama familiar no Brasil, mantendo em "segredo" os seus sentimentos afetivo-sexuais, como uma forma de manter a homeostase do grupo familiar e preservar o mito, na família, de que todos os seus membros buscam pessoas do sexo oposto para se realizar afetivo-sexualmente.

Em estudo realizado sobre o mito da família, podemos observar que, em relação à família, este mito tem um aspecto estruturador que leva seus membros à união. Em palavras psicanalíticas, poderíamos dizer que é uma manifestação de Eros o "segredo" de que todos partilham para manter a ordem dentro do grupo familiar. Por outro lado, se os seus membros continuam "silenciados" e o grupo familiar promove uma rica imaginação relação a este não-dito que permeia a fronteira do dito, esta forma de comunicação leva a quebras de homeostase no grupo familiar, e este "segredo" apresenta-se como uma manifestação de Tanatos no grupo familiar.

Com relação ao forte sentimento de culpa que indivíduos homoeroticamente orientados sentem quando percebem que quebraram um mito familiar, também nos encontramos diante de manifestações de Tanatos.

Assim, perguntamos-nos: como se dá sua história de vida? Como vivenciam seus sentimentos afetivo-sexuais, dentro deste grupo? Enfim, como vivenciam os seus sentimentos de família?

A estas questões buscaremos responder, utilizando-nos de uma análise qualitativa de 3 relatos de histórias de vidas.

 

Histórias de Vida e Homoerotismo

No primeiro momento, Gurgel (1999) apresentou dados que indicam como os indivíduos homoeróticos subjetivam os seus sentimentos afetivo-sexuais por meio do amor romântico, como nos aponta o perfil de seus entrevistados quando analisados quantitativamente, haja vista que a paixão e o amor são reconhecidos como os principais sentimentos afetivo-sexuais, corroborando a tese de que a linguagem é o veículo, por excelência, que subjetiva tanto aspectos cognitivos como também afetivos.

Denominamos de medo, culpa e silêncio a consequência da inclusão ou exclusão de determinadas formas de pensar, sentir e agir vivenciadas pelos sujeitos, quando se deparam com a impossibilidade de cumprir as dietas prescritas pelo grupo familiar. Como ficou evidenciada na análise quantitativa, para Gurgel (1999), esses sujeitos silenciam os seus sentimentos afetivo-sexuais com medo de criar conflitos para com seus componentes familiares.

Segundo os terapeutas sistêmicos, a quebra de mitos familiares podem levar a um sentimento de culpa. Na busca de manter a homeostase no grupo, preferem silenciar este aspecto de suas subjetividades. Em razão desses fatores e de acordo com a análise quantitativa, mostra que velam com medo de criar conflitos com seus membros familiares, assim como, um sentimento de culpa por terem essa forma de orientação sexual.

De acordo com GURGEL (1999), no relato dos discursos, segundo os seus entrevistados, para estes poderem dar um significado à sua atração sexual, foi necessária a incorporação de um vocabulário de sentimentos afetivos. Enfim, foi somente com o acesso aos significados que correlacionam a atração sexual com amor romântico é que os entrevistados puderam desenvolver alguma elaboração acerca de seus sentimentos sexuais. Enquanto não existia um vocabulário afetivo, o sujeito não conseguia dar significado à sua atração sexual, observado no seguinte relato:

A partir dos sete anos de idade, eu começava a olhar os amiguinhos do colégio, começava a olhar para as meninas e não sentia, não sentia nada. Eu via que eles, os meus amigos, sentia alguma coisa e eu não sentia nada. Quando eu via um rapazinho bonitinho, eu já sentia, assim, alguma coisa que vinha de dentro. Ás vezes, a gente não sabe explicar o que é, né? Alguma coisa vem de dentro...é isso que eu sentia. Aí, com o tempo, brincadeira de amigo, brincar de bola, brincar de pega-pega, aí eu vi que era o que eu queria. Aí, foi rolando as coisas, acontecendo, é, abraços, afetos, e foi acontecendo até hoje.

Em outro relato, um entrevistado se descobriu com orientação sexual homoerótica quando esta se associou a sentimentos de amor romântico, no caso, com suporte no amor e na paixão. Quando iniciou a vida sexual, as atrações sexuais se encontravam desvinculadas dos sentimentos de amor e paixão idealizados pelo mundo ocidental na contemporaneidade; tornou-se difícil conviver com a atração sexual homoerótica. Ou ainda:

Eu percebi com... eu fui servir o exercito (...) e com...acho que com 19 anos. Com 20 anos eu namorava demais, tinha muito contato com mulher, inclusive tive uma namorada de 12 anos, de transar, ter uma filha, ta com 12. De repente me vi apaixonado por um amigo meu. (...) Foi um desejo mútuo, mas sem ter contato com, nenhum dos dois ter contato com outro homem. Aí, a partir daí, a gente passou 6 meses... junto não, porque naquele tempo ninguém sabia como era viver junto 2 homossexuais. Então, a gente ia passar um dia na casa do outro, uma semana eu ia dormir lá, entendeu?

Em outra narrativa, podemos perceber a concepção de amor romântico:

Eu adoraria constituir a minha família ao lado do homem que eu amasse e que eu me sentisse amado. E adoraria poder adotar um filho. E poder passar tudo aquilo que eu aprendi. E também poder aprender com ele, né? Eu não vejo razão porque eu não possa educar um filho junto com um outro companheiro.

Pode-se perceber que, de acordo com os estudos de Gurgel (1999) sobre o compromisso de aliança, no qual a sexualidade se tornou acoplada aos sentimentos de amor romântico e, como nos mostra Stoller (1979), sobre os sentimentos de gênero em que, nos dois primeiros anos de vida, a criança passa a ver seus pais como um casal formado por uma pessoa do gênero masculino que mantém um relacionamento amoroso com uma pessoa do gênero feminino. Assim ocorre um deslocamento que torna a anatomia o pilar da sustentação narcísica do eu ideal, isto é, primeira forma de subjetivação do ser.

De acordo com os discursos relatados pelos colaboradores da pesquisa, verificamos que a família é de fundamental importância, visto que é o primeiro núcleo de subjetivação, no qual apresentam formas de interiorizar e expressar a atração sexual intimamente ligada aos sentimentos afetivos típicos de amor romântico.

A partir do momento em que a sexualidade se acopla ao compromisso de aliança, vale ressaltar a difusão por todo um discurso médico-higiênico que fez do núcleo familiar uma formação oriunda de um sentimento de amor romântico, isto nos trouxe, na contemporaneidade, um ideal de realização, tanto hétero como homoerótico, afetivo-sexual. Assim como os colaboradores da pesquisa de Gurgel (1999), por terem uma sexualidade homoerótica, subjetivam-se diante da sexualidade, de forma similar ocorreu com a concepção da Medicina higiênica, que, na Modernidade, subjetivou os indivíduos na utilização de suas práticas sexuais, enfim, unindo, indissoluvelmente, a atração sexual aos sentimentos.

Sua sexualidade, encontra-se diretamente relacionada com seus sentimentos afetivo-sexuais, trazendo um profundo e doloroso sentimento psíquico no que respeita a esta prática sexual, pois tal prática se mostra incongruente com os sentimentos dos demais membros de suas famílias, que são heteroeróticos. Assim, quando um indivíduo mantém relações amorosas com outro do seu mesmo sexo anatômico, ao ser interpelado pelo discurso preconceituoso da homossexualidade, sente ressonância deste discurso desde as primeiras relações, como nos mostrou Stoller (1979). Provavelmente, a fonte principal da dor psíquica se encontra exatamente relacionada à quebra de ritos e mitos familiares, formados pelo discurso religioso e médico-higiênico.

Como nos mostram Ariés (1973) e Lasch (1972), o modelo de família íntima e afetiva é uma criação da Modernidade, daí por que quebrar os ritos e mitos no seu núcleo familiar, na contemporaneidade, traz repercussões psicológicas tão dolorosas para o indivíduo que assim o faz.

Assim, a dietética dos prazeres corporais religiosos, o discurso médico-higiênico da modernidade, uma família íntima e afetiva levam os sujeitos pesquisados a conflitos, medos e culpas, como também a uma submissão de seus sentimentos afetivo-sexuais, como nos apresentam os seguintes relatos:

Até hoje eu convivo, mas não é fácil, é superar difícil. Se torna mais difícil ainda porque eu mesmo não consigo aceitar o que eu sou. Porque, assim, eu me sinto diferente. Eu vejo os meus amigos de colégio, amigos de trabalho, sociedade, olham para uma menina, vê, chama de gostosa, é bonita, e eu não sinto aquilo, certo? Pra mim sou diferente deles. Eu não queria ser o que eu sou, né? Porque eu queria ser o que eles são, gostar de mulher, ficar, namorar, ter relação, né? Mas eu não consigo. Já tentei, né? Ultimamente entrei em crise comigo mesmo, querendo mudar, querendo procurar a igreja, mas acaba em nada, eu vou pra, acaba ficando tudo na mesma coisa. É difícil, eu tenho uma família muito religiosa, né? Meu pai e minha mãe são da igreja, igreja católica. Então, a minha mãe já ouviu alguns telefonemas meu, já perguntou se eu era. Eu desminto, né? Porque eu não tenho condições, assim, de assumir, porque eu não tenho onde morar, o emprego que eu tenho não dá pra me sustentar, pra mim morar sozinho, me sustentar. E na situação que nos vivemos hoje, a economia precária, não tem condição, de jeito nenhum. Então, eu tenho mais é que esconder, tentar esconder, enquanto eu estou dentro de casa.

Segundo o relato do colaborador de Gurgel (1999), em razão do medo da revelação de sua orientação sexual, adotam um comportamento de retraimento am casa, ficando sozinho no seu quarto como uma forma de sentir-se seguro que sua orientação sexual não será revelada para o grupo familiar. Observemos o seguinte relato:

(...) ultimamente eu to sozinho, eu gosto muito da solidão. Gosto de ficar em casa, trancado, ouvindo música, ficar em casa sozinho, eu adoro. Depois que a minha mãe soube e a minha irmã, eu me vesti, assim, uma capa dentro de mim, me protegi mais por medo delas saberem mais alguma coisa. Aí, hoje em dia, elas não sabem muito, tudo, da minha vida. Mas geralmente, a minha irmã consegue descobrir às vezes. Às vezes ela tenta e ela consegue, né?

Segundo um outro colaborador de GURGEL(1999), percebemos que, ao longo do seu desenvolvimento, ao chegar à adolescência e, principalmente, por adquirir o repertório linguístico que nossa cultura científica propõe nas diversas formas de orientação sexual. Neste próximo relato, o colaborador "adota" uma identidade homoerótica e associa a sua atração sexual, antes confusa quanto à significação, aos sentimentos e emoções. Aqui já reside, contudo, uma das primeiras dificuldades expressadas por ele, pois os significantes que este pode se apoderar, no intuito de dar significação aos seus sentimentos e desejos, estão todos apoiados, como nos apontaram nossos estudos, em uma elaboração tipicamente heteroerótica, na qual amor e paixão se encontram à disposição apenas de um casal hetero. Este fator traz consigo um conflito que o remete a vários questionamentos acerca de sua sexualidade.

Agora, o momento exato de trabalhar essa sexualidade de homossexual, a ter realmente o discernimento entre ser homossexual, ser bissexual ou ser heterossexual, eu acredito que, de fato, isso eu comecei a trabalhar de uma forma mais consciente na minha adolescência, mais ou menos aos treze anos de idade, por ai, talvez, né? E tomar uma postura seria em relação a isso, o fato de... é, porque começam a vir as duvidas, será que é certo, será que é errado?, pelo fato de toda pressão social que agente recebe e também, é...como conseqüência da nossa educação ser muito tradicional e principalmente também em relação à questão da religião, que isso influi muito, é...é difícil você chegar a... a ter a consciência de que você é homossexual, você fica muito naquela de, será que é certo? Será que é errado? Porque que a sociedade critica e por que você sente isso?

Percebendo este ambiente hostil, o colaborador, para manter a homeostase no grupo familiar e não entrar em contato direto com a pressão/controle deste ambiente, acredita ser necessário não revelar explicitamente sua atração sexual, ou ainda:

(...) é, claro, chegaram determinadas situações que eu tive de ser explicito, mas apesar de anteriormente ser a coisa mais, é ficar no ar, ser implícita..., mas, no fundo, no fundo, todo mundo sabia, né? Porque também é muito doloroso a gente ser muito, é...autêntico. Dói à gente dizer às vezes as verdades, e verdades que as pessoas não querem ouvi ou não querem saber. É preferível que as pessoas continuem naquela implicidade, né?, e que saibam, mas que não precisa comentar. É aquela coisa de falso moralismo mesmo,né?, todo mundo sabe, mas todo mundo faz vista grossa.

 

Considerações finais

Analisando as questões envolvidas no drama das relações homoeróticas, percebemos que a constituição da família ocidental é um mito de estrutura baseada praticamente em tabus, modelos imprecisos da realidade e, consequentemente, pela necessidade de fortalecer sempre as aparências. A essência dos indivíduos que não se enquadram nos padrões familiares preestabelecidos pela sociedade contemporânea, são sufocados por problemas psicológicos, sociológicos e traduzidos num físico retocado de vaidades, numa personalidade canalizada para a superficialidade na maioria dos casos.

Percebemos que, a cada novo tempo que se desenha no cenário familiar, embora hoje já se discutam abertamente, nos meios de comunicação, as relações homoeróticas, para a maioria das famílias, sempre é acatada como um conto, uma história, um rumor que faz parte de um filme, uma novela, jamais da realidade do seu seio familiar. Com isso, o indivíduo com orientação homoerótica acata o modelo familiar elaborado e segue o seu dia-a-dia omitindo fora do seu gueto oculto a sua verdadeira condição sexual nas famílias e sociedades que se mantem fechadas na contemporaneidade.

As narrativas apresentadas indicam um profundo sofrimento psíquico tanto por parte dosa membros homoeróticos quanto dos membros familiares que muitas vezes se escondem nos segredos que todos sabem, mas que não podem demonstrar que sabem, transformando as interações num jogo de faz de conta.

 

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Recebido em 12 de janeiro de 2010
Aceito em 26 de março de 2010
Revisado em 04 de abril de 2010

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