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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.1 Fortaleza mar. 2011

 

AUTORES DO BRASIL
ARTIGOS

 

O sujeito em constituição, o brincar e a problemática do desejo na modernidade

 

The subject in constitution, the play and the problem of desire in modernity

 

 

Tanja Joy Schöner LopesI; Leda Mariza Fischer BernardinoII

IPsicóloga e Psicanalista, Especialista em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica - pela PUCPR; End.: Rua Tucunaré, 485 - Residencial Parati Cep: 83327-106 Pinhais - PR. E-mail: tanjajoy@terra.com.br
IIPsicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba e da Association Lacanienne Internationale; professora titular da PUCPR, pós-doutora em Tratamento e Prevenção Psicológica pela Université Paris 7. End.: Av. Batel, 1920/210 80420-090 - Curitiba - PR. E-mail: ledber@terra.com.br

 

 


RESUMO

Este artigo discute o uso dos brinquedos na atualidade, contrapondo-o ao papel do brinquedo na organização subjetiva da criança. Para tal, aborda-se o processo de constituição subjetiva, as diferentes operações psíquicas envolvidas e a função do objeto na infância. Numa época em que o "ter" se tornou insígnia do "ser", rege uma tentativa de encontrar nos objetos a capacidade de apaziguar nossas inquietações, nosso "mal estar" diante da falta, que Freud já descrevia como inerente à civilização. Trata-se de uma tentativa fracassada de encontrar a felicidade de completude no excesso de objetos, inclusive nos brinquedos, pois o que nos causa enquanto sujeitos, desperta nosso desejo, é a falta de objeto. Somente se pode desejar aquilo que não se tem. O motor psíquico é a falta de objeto, que funda a ética subjetiva, a ética do desejo. Mas parece que hoje prevalece uma falha no luto do objeto, há uma angústia do vazio, uma prevalência de uma posição imaginária que dificulta o deparar-se com a falta e consequentemente com o desejo. Pode-se concluir que a questão propriamente humana não gira em torno da relação de objeto em si, mas da problemática do desejo, que se compõe como enigma para cada um e não se satisfaz com objetos. Desejo que tem o campo regulado pela fantasia, cujo fracasso da função é característico no universo das crianças de hoje, pleno de brinquedos, mas pobre em experiências no brincar.

Palavras-chave: Constituição do Sujeito. Brincar. Desejo. Modernidade. Pulsão.


ABSTRACT

This paper discusses the using of toys in the actuality and the role of toys in the subject organization. To this, it treats the subject constitution process, the several psychic operations involved and the function of the object in childhood. In a time where "having" has become insignia of "being", rules an attempt of finding within the objects the capacity of pacifying our unquiet ness, our uneasiness in front of the lack, which Freud already described as inherent of civilization. It is about a failed attempt of finding the happiness of completeness in the excess of objects, inclusively toys. However, the object for the drive, for the desire, is the lack of object. We are moved by our drives, our desires, not by our necessities, our objects. Psychoanalytically speaking, the object is the lack of object. There is a fault in the mourning of the object, there is an anxiety of the emptiness, a prevalence of an imaginary position that difficult the coming across the lack and consequently the desire. One can conclude that the human question does not deal with the proper object relation, but with the problem of desire. Desire as enigma for each one and does not get satisfied with objects. Desire that has its field regulated by fantasy, which failure of its function is characteristic of the universe of children today. There are so many toys but few possibilities of playing.

Keywords: Subject Constitution. Play. Desire. Modernity. Drive.


RESUMEN

Este articulo discute el uso de los juguetes en la actualidad, contraponiéndolo al papel del juguete en la organización subjetiva del niño. Para eso, aborda el proceso de constitución subjetiva, las diferentes operaciones psíquicas envueltas y la función del objeto en la infancia. En una época en que "tener" se torno insignia de "ser", rige una tentativa de encontrar en los objetos la capacidad de apaciguar nuestras inquietudes, nuestro "mal estar" frente a la falta, que Freud ya describía como inherente a la civilización. Tratase de una tentativa fracasada de encontrar la felicidad de completud en el exceso de objetos, inclusive en los juguetes, pues lo que nos causa mientras sujetos, despierta nuestro deseo, es la falta de objeto. Solamente se puede desear lo que no se tiene. El motor psíquico es la falta de objeto, que funda la ética subjetiva, la ética del deseo. Pero parece que hoy prevalece una falla en el duelo del objeto, hay una angustia del vacío, una prevalencia de una posición imaginaria que dificulta el deparar-se con la falta y consecuentemente con el deseo. Se puede concluir que la cuestión propiamente humana no gira en torno de la relación de objeto en si, pero de la problemática del deseo, que se compone como enigma para cada uno y no se satisface con objetos. Deseo que tiene el campo regulado por la fantasía, cuyo fracaso de la función es característico en el universo de los niños de hoy, pleno de juguetes pero pobre en experiencias en el juego.

Palabras clave: Constitución del Sujeto. Jugar. Deseo. Modernidad. Pulsión.


RÉSUMÉ

Cet article discute l'usage des jouets dans l'actualité par rapport le rôle du jouet dans l'organisation subjective de l'enfant. Pour cela, on approche le process de constitution subjective, les différentes opérations psychiques y concernées et la fonction de l'object dans l'enfance. Dans une époque où « l'avoir » est devenu insigne de « l'être », l'essai de rencontrer le bonheur de la completude dans l'excès des objects, aussitôt pour les jouets échoue, puisque ce que nous cause en tant que sujets et que reveille notre désir est le manque d'object. On ne peut désirer que ce que nous manque. Le ressort psychique est le manque d'objet, celui que fonde l'éthique subjective, l'éthique du désir. Mais il semble que aujourd'hui le deuil de l'object n'est pas réalisé. Il y a plutôt l'angoisse devant le vide, la prévalence d'une position imaginaire que rend difficile le rencontre avec le manque et ensuite avec le désir. On peut conclure que la question humaine à proprement parler ne tourne pas autour de l'object mais plutôt de la problematique du désir, de l'enigme du désir pour chacun. Désir qui est reglé par le fantasme, donc la fonction semble ne plus opérer dans l'univers des enfants d'aujourd'hui, qui est plein de jouets mais pauvre d'expériences de jeux.

Mots clés: Constitution du Sujet. Jeu. Désir. Modernité. Pulsion.


 

 

Introdução e Justificativa

A sociedade contemporânea está orientada para o ter, deixando cada vez menos espaço para o ser, inclusive o ser criança. Cultua a beleza, o sucesso e a felicidade, mostrando-se pouco tolerante com o sofrimento humano. Rege o imperativo de não sofrer, ou, ao menos, não mostrar seu sofrimento. Fracasso e tristeza não são admitidos. Atualmente a vida - inclusive a infância - é determinada pela falta real de tempo livre, de ócio criativo e pela confrontação permanente com produtos da indústria de consumo, assim como pela obrigação de ter sempre que funcionar bem (sintoma disso, por exemplo, o consumo de remédios para melhorar a capacidade de concentração e desempenho inclusive em alunos escolares). Cada vez mais se alastra, também em crianças, a tendência de alívio imediato dos problemas e frustrações do cotidiano através de objetos de consumo compensatórios. E como os adultos se prontificam rapidamente a encobrir as insatisfações das crianças através de gadgets da atualidade... Segundo Meira (2003, p. 41-53), o ter acaba sendo insígnia do ser e os pais, em função de seu narcisismo, acabam por oferecer uma abundância de objetos (brinquedos) aos seus filhos, para que nada venha a lhes faltar.

Esse fenômeno atual pode ser entendido como uma tentativa de encontrar nos objetos a capacidade de apaziguar nossas inquietações. Trata-se de uma tentativa fracassada de encontrar a felicidade de completude seja no excesso de objetos, inclusive brinquedos, assim como também na eleição de um objeto exclusivo - a droga - nas toxicomanias. Segundo Bernardino e Kupfer (2008), o mal estar da infância da modernidade está marcado por uma oferta excessiva de objetos reais, objetos de satisfação, que não permitem a metaforização da falta e a instauração de objetos transicionais para brincar de ser adulto na condição ainda incipiente de ser criança. Para Levin (2007, p.15), "nesta realidade artificial, as crianças acreditam ser elas que dominam e comandam as imagens, quando na verdade estas é que as dominam, numa experiência individual e solitária".

Brincar é uma necessidade elementar das crianças; é o seu método de apropriar-se do mundo e desenvolver suas competências. Segundo Freud (1908/1980), é o trabalho próprio da infância. Mas se o brincar for caracterizado cada vez menos pela criatividade e fantasia infantil e mais por produtos prontos, objetos ready-made, que pré-determinam a finalidade, as crianças da atualidade acabam vivenciando freqüentemente o tédio, apesar do supérfluo de brinquedos ou justamente por causa dele.

Em geral, observa-se que elas não têm persistência e se frustram rapidamente, deixando de brincar em função da dificuldade de representar uma coisa por outra, de simbolizar. Consequência disso são os sintomas relacionados à falta de limites (problemas de comportamento em casa ou na escola), hiperatividade (agitação motora) e dificuldade de separação (depressão infantil), já que as mesmas não conseguem mais defender-se do real pela via do simbólico, ou seja, não suportam abdicar do gozo imediato e submeter-se às exigências da castração, da lei que interdita o gozo e funda o simbólico.

Fazer passar o gozo pela mediação da linguagem, de forma a fazer deslizar os objetos de desejo é um processo que necessita de espaço e tempo livre, o tempo de cada sujeito, para se descobrir e se confrontar com a própria falta-em-ser, tesouro de possibilidades subjetivas. Pré-requisito disso é que principalmente os adultos estejam prontos para se envolverem com esta sensação de falta desconhecida e a situação não planejada, para propiciar a si mesmos e às crianças a confiança necessária para poder lidar com essa situação onde o objeto falta.

Para a psicanálise, estes sintomas estão relacionados com falhas na função paterna, que, segundo Lacan, está em declínio. São as crianças de hoje que carregam os sintomas consequentes a essa falência simbólica presente nas famílias modernas.

 

Problema de Pesquisa e Objetivos

Quais as consequências psíquicas sobre o sujeito em constituição que o discurso do Outro social - pautado pelo imperativo de sucesso e do consumo - impõe? Quais os efeitos na subjetividade do discurso social que prega uma vida plena de objetos consumíveis, vazios de significação, que, no universo infantil são, entre outros, os brinquedos prontos, fabricados em série e veiculados pela mídia? Qual o espaço deixado para o verdadeiro brincar, na modernidade, e qual a importância psíquica do mesmo? As crianças, privadas do prazer de brincar inventando, encenando ao acaso, encontram-se diante da seguinte questão: para que brincar se o brinquedo brinca sozinho?

O objetivo do presente artigo é o de verificar o estatuto do objeto na constituição subjetiva, e mais precisamente do brinquedo, objeto do brincar e sua importância na instauração da condição desejante.

Para refletir sobre estas questões, faremos um percurso pelo processo de constituição subjetiva, situando o estatuto do objeto, para focar o brinquedo e sua importância na elaboração das experiências infantis.

 

Como se constitui um Sujeito

Freud (1905/1980) define a sexualidade infantil como sendo estabelecida a partir do contato inicial do corpo da criança com a mãe, marcado pela experiência de satisfação das necessidades, tornando-se fonte de prazer. Ele caracteriza essa sexualidade como perverso-polimorfa, uma vez que seu fim não é necessariamente o da procriação, ainda não tem objeto sexual (é autoerótica) e seu objetivo sexual é dominado pelas zonas erógenas do corpo. O conceito de pulsão é o que melhor permite compreender a noção freudiana de sexualidade. Ele fala de quatro componentes da pulsão: o impulso ou pressão, que é uma "força constante", devido ao acúmulo de tensão proveniente da excitação das zonas erógenas, o alvo ou finalidade, que é a satisfação, gerada pela descarga de tensão, o objeto, que é o que há de mais variável, no sentido de ser totalmente indiferente desde que ofereça condição de promover a diminuição de tensão e a fonte, somática, que são as zonas erógenas, ou seja, que têm estrutura de borda.

Lacan (1982), no Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, faz uma longa retomada do texto de Freud (1915/1980), As pulsões e suas vicissitudes. Nesse texto, Freud se refere aos três tempos da pulsão enquanto ativo, reflexivo e passivo. No primeiro ativo, o recém-nascido vai em direção a um objeto externo; no segundo reflexivo, uma parte do próprio corpo é tomada como objeto, caracterizando-se por ser auto-erótico e no terceiro, que Freud qualifica de passivo, o bebê se faz ele mesmo de objeto para o Outro, o novo sujeito. É nesse momento que entra o Outro, nesse momento de alienação vai surgir o sujeito do inconsciente, a mãe. É junto ao Outro que o Ich virá se assujeitar, se fazer objeto (FREUD, 1915/1980, p.162; p.183). É no terceiro tempo (passivo) que a pulsão pode fechar seu circuito, momento do remate pulsional e fundamental para o surgimento do sujeito. Lacan (1982, p.169) comenta no Seminário XI:

Não que ali já houvesse um, a saber, o objeto da pulsão, mas que é novo ver aparecer o sujeito. Esse sujeito, que é propriamente o outro, aparece no momento em que a pulsão pode fechar seu curso circular. É somente com sua aparição ao nível do outro que pode ser realizado o que é da função da pulsão.

Para Lacan (1982), o conceito de sujeito é fundamental. Fica claro que o sujeito se constrói no campo do Outro a partir do enlace pulsional. O estabelecimento do circuito pulsional se dá a partir da tríade necessidade/demanda/desejo. O objeto a é uma noção introduzida por Lacan (1982), que designa o objeto causa do desejo, que a pulsão contorna. O objeto a é sempre contornado, sempre metonímico, ou seja, nunca completa. Ele cai depois de ser contornado, por isso o desejo é sempre de desejo. É fundamental lembrar que a pulsão não tem objeto; o alvo da pulsão não é o objeto, é retornar à fonte. O gozo pulsional consiste na descoberta da própria falta! A mãe investe de gozo e depois deixa ir, cair o objeto a. A criança, por sua vez, encontra-se com sua falta-em-ser, um objeto que fosse capaz de proporcionar ao Outro um tamponamento absoluto da falta, como diz Lacan no Seminário XI a respeito do recobrimento de duas faltas. A criança descobre sua falta-em-ser ao descobrir a boca; percebe um furo que vai gerar representações no inconsciente. As marcas do inconsciente nada mais são do que representações psíquicas da falta de objeto.

 

A transmissão da falta de objeto

Duas funções fundamentais inserem a criança numa relação triangular dentro da estrutura familiar: trata-se da função materna e da função paterna. Nesta estrutura, o lugar da falta é fundante da condição humana, pois abre o caminho para a simbolização.

Cabe àquela que exerce a função materna interpretar, fazendo uso da linguagem, dos significantes, a necessidade do bebê, marcando, assim, a passagem da necessidade à demanda. Ela precisa poder tomar os pedidos do bebê no campo da linguagem e não da necessidade biológica, estabelecendo assim uma metáfora.

Porém, quando se engendra uma demanda, o resultado é sempre uma falta, uma vez que há um desejo por trás. Toda demanda é demanda de amor e não visa ser satisfeita, para não matar o desejo que nos transforma em sujeitos. De que forma a mãe contribui para o surgimento de um sujeito desejante? Sabendo alternar presença e ausência. Trata-se de uma alternância não apenas física, mas, sobretudo, simbólica. Para que um ser se torne um sujeito desejante, ou seja, um ser autônomo e singular, é necessário que tenha essa experiência de descontinuidade. Entre sua demanda e a experiência de satisfação, agenciada pela mãe, ou quem vier a desempenhar a função materna, é preciso haver um intervalo diante do qual venha surgir a resposta da criança. É nesse momento que a mesma pode se experimentar como sujeito.

É essa alternância da presença e ausência que funda a vida mental de um sujeito, ou seja, é somente na ausência do objeto que é possível rememorá-lo. Freud (1920/1980) traz a observação do jogo do fort-da para ilustrar essa alternância, fundante do simbólico, que será trabalhada mais adiante. Para uma criança poder nomear um objeto, ele precisa estar ausente, e a mãe tem que ser descontínua. Esta, por sua vez, somente consegue não se apresentar como toda presença nem ausência, graças à ação da função paterna sobre ela. Cabe a ela a transmissão da mesma.

Uma das conseqüências psíquicas da instalação desta função é a renúncia pulsional a favor da cultura e da educação, ou seja, a criança passa a renunciar às satisfações imediatas que antes surgiam da relação com o próprio corpo e com o corpo da mãe ou de seu substituto no desempenho da função materna.

Trata-se da inscrição da criança na sexualidade e cultura, que possibilita à criança a utilização da linguagem em sua função simbólica, como substituto da presença do outro, a partir do distanciamento desse outro. Ela terá que buscar, por si mesma, novas formas de satisfação. A função paterna consiste, portanto, num corte, numa separação, a partir da intermediação de um terceiro entre a criança e a mãe, causando uma abertura para um universo além da mãe: é papel do simbólico abrir para a cultura, a organização social, as leis e a linguagem. Trata-se da entrada no campo das regras e limites ordenadores do campo social, entrada essa marcada pelas "operações psíquicas" descritas por Lacan.

 

As Operações Psíquicas

Lacan (1982), em seu Seminário XI, questionou-se sobre como se dá o enlace de corpo e significante e chegou à seguinte resposta: existem duas operações psíquicas fundamentais de causação de um sujeito; a primeira sendo a alienação simbólica ao Outro, mas que também envolve o corpo; e a segunda, a separação, ou seja, a percepção da falta no Outro e o surgimento do desejo próprio, da fala própria. Essas operações são simultâneas.

Na alienação, há uma lógica de reunião entre o ser do sujeito e o sentido do Outro, envolvendo uma perda, criando um não-senso, as marcas do inconsciente. Segundo Lacan (1982), trata-se de uma "escolha forçada", na qual o ser do sujeito precisa aceitar os significantes, o sentido que o Outro lhe dá para poder ter um lugar no campo do simbólico, do sentido, e poder sair do ser, da natureza, do orgânico. É nesse sentido que é preciso entender o sujeito como efeito de linguagem, e o significante como aquele que designa o sujeito e ao mesmo tempo anula o seu ser. O sujeito precisa do significante para surgir, mas ao mesmo tempo o real do seu corpo é mortificado por ele. A alienação ao Outro acontece no terceiro tempo do circuito pulsional, no movimento passivo, no qual a criança se faz de objeto para o Outro. Ela encontra-se tão alienada que se oferece como objeto de desejo/gozo do Outro. Para um bebê o verdadeiro prazer consiste em provocar com seu corpo - objeto que ele julga ser de desejo do Outro - o prazer do Outro.

Seu corpo real é contornado pelas palavras maternas (significantes); é o simbólico fazendo borda, enlaçando e erogenizando seu corpo, fazendo a inscrição do circuito pulsional. A sexualidade infantil se constitui justamente pela erogenização do corpo da criança pelo Outro, numa relação que nunca é neutra, mas que envolve um prazer compartilhado. É essa experiência que conta na constituição subjetiva. A mãe, ou seja, o Outro primordial da criança, a antecipa simbolicamente: ela espera algo dela em função de sua própria cultura; só resta à criança alienar-se a esse Outro representante da cultura familiar e social. A entrada no mundo fálico, das significações fálicas (tomando o falo como representação, símbolo de poder), dá-se somente pelo campo pulsional, uma vez que a significação passa pelo corpo através da relação com o Outro. A criança precisa passar pela alienação primordial para somente depois poder desejar, ou seja, é preciso que ocupe esse lugar de objeto de gozo do Outro, mas que também saia dele. No tempo da alienação ocorre a afânise ou fading, ou seja, o desaparecimento do sujeito sob a demanda do Outro. Quando surge a demanda do Outro, o bebê é chamado a se colocar como objeto, e, portanto, não pode estar do lado do sujeito como sujeito. Fica afanisado sob os significantes da demanda do Outro. A pulsão presente nesse momento do circuito pulsional é apenas da mãe.

Na separação trata-se de uma lógica de intersecção, de produto. A falta marca o Outro e o sujeito. A angústia de castração consiste justamente no deparar-se com o desejo próprio e desejo do Outro. O desejo do adulto é tomado pela criança como um enigma. Trata-se da saída do lugar de objeto do Outro para o de sujeito. A inscrição no discurso somente é possível pela operação de separação, condicionada pelo Nome-do-Pai (função paterna), significante este que remete o sujeito ao mundo, substituindo e barrando o desejo materno de mantê-lo aprisionado no lugar de objeto. A questão central trazida então pela criança é endereçada ao Outro: Podes me perder? Podes me perder enquanto objeto para que eu possa emergir enquanto sujeito? Enquanto a alienação inscreve na linguagem, a separação inscreve na fala. Somente a partir daí o sujeito pode ser representado por um significante. O sujeito dividido entre S1 (universo materno) e S2 (universo outro a partir da inscrição do Nome-do-Pai: universo familiar, social) busca escamotear esta divisão através de um objeto (instalação no desejo do Outro de um a, objeto que representa aquele que foi para a satisfação do Outro, o corpo real).

 

O Complexo de Édipo

Freud (1905/1980) aborda em essência estas questões em sua teoria sobre o complexo de Édipo, que é universal e constitui um momento organizador da sexualidade infantil, pulsional, que não deve ser confundida nem reduzida à genitalidade. A operação edípica consiste numa operação psíquica de entrada no campo do simbólico. Trata-se da separação entre a criança e a mãe, com a entrada da função paterna.

Percebe-se aí a importância da família para que um sujeito possa sair da alienação, uma vez que a criança percebe que há uma relação entre os pais que a exclui. Começa, então, a buscar seu próprio lugar, seu próprio desejo. Pode-se pensar a questão do Édipo como a questão de como a função paterna é transmitida à criança. Trata-se da transmissão de um nome - o do pai - que se dá a partir do desejo materno, uma vez que uma mãe precisa estar marcada pela falta a partir da metáfora paterna exercida pelo próprio pai. Lacan (1982) propõe pensar a constituição do sujeito no interior da estrutura edípica precocemente em três tempos lógicos, enquanto um percurso ao longo do qual o objeto / falo adquire o estatuto de objeto simbólico.

O primeiro tempo é marcado pela alienação fundamental inicial no Outro materno como espelho, que Lacan (1982) trabalha em sua teoria sobre o estádio do espelho, na qual descreve essa passagem determinante do autoerotismo ao narcisismo, resultando na construção do corpo próprio como unidade a partir da relação com o Outro materno. A função da mãe enquanto metáfora do espelho no primeiro tempo ultrapassa a ordem da satisfação das necessidades, uma vez que é ela que nomeia a criança e significa/ traduz/ decodifica os gestos e choros, fornecendo à mesma uma imagem de si mesma. Trata-se da unificação jubilatória desse corpo despedaçado pelas pulsões parciais numa imagem corporal própria: o eu da criança, seu eu-ideal.

A criança assume o outro do espelho como eu. Pode-se falar, então, numa dupla função materna: enquanto Outro, lugar do código, da linguagem e enquanto outro, semelhante, imagem especular com a qual se identificar. Lacan (1982) denomina de dom materno, em seu Seminário IV, essa dependência e assujeitamento da criança à onipotência do Outro materno. O dom está relacionado à satisfação que o Outro materno dá ou recusa; compreender o objeto de satisfação como dom é compreendê-lo como o objeto que a criança supõe que a mãe enquanto Outro onipotente tem. Assim, Lacan (1982) nomeia a falta do dom como frustração. Para ele, "o objeto da frustração é menos o objeto que o dom." O autor defende nesse seminário, sobre a relação de objeto, que o falo se constitui como objeto ao qual o desejo está sempre articulado. A relação mãe-criança é permeada pelo falo, ou seja, não é dual, mas sim ternária.

O segundo tempo é considerado por Lacan (1982) como um ponto nodal no complexo de Édipo e está caracterizado pela saída da criança da relação simbiótica e narcísica com o desejo materno. A questão colocada pelo segundo tempo é a de ser ou não ser o falo, o objeto da mãe. Ocorre uma dupla incidência da castração: a incidência na criança (não deitarás com tua mãe) depende de sua incidência enquanto falta no Outro materno (não reintegrarás teu produto). O pai, enquanto função paterna, intervém como duplo proibidor e é tomado pela criança como rival imaginário. Trata-se dos efeitos da falta no Outro, da castração materna sobre a própria criança. É a própria ausência da mãe que propicia a constatação da castração materna pela criança, ou seja, se ela se ausenta, é porque a criança não a preenche. Há um desejo outro na mãe que não pela criança. Instaura-se então um enigma no lugar do desejo materno, um x: o que quer essa mulher?

No Seminário V, Lacan enfatiza a necessidade de "instaurar a mãe como aquele ser primordial que pode estar ou não presente" (LACAN, 1957-1958, p.188). É a ausência materna que permite à criança a inserção no campo simbólico, uma vez que a simbolização implica lidar com a presença na ausência, com uma representação, quando falta o objeto. Freud (1920/1980, p.26), ilustra em seu exemplo do fort-da, essa simbolização da mãe pela criança. Trata-se da brincadeira de seu neto de um ano e meio durante a ausência da mãe, consistindo em fazer aparecer e desaparecer um carretel amarrado a um cordão:

[...]o que ele fazia era segurar o carretel pelo cordão e com muita perícia arremessá-lo por sobre a borda de sua caminha encortinada, de maneira que aquele desaparecia por entre as cortinas, ao mesmo tempo em que o menino proferia seu expressivo 'ó-o-o-ó'. Puxava então o carretel para fora da cama novamente, por meio do cordão, e saudava o seu reaparecimento com um alegre 'da' ('aqui'). Essa, então, era a brincadeira completa: desaparecimento e retorno.

No Seminário IV, Lacan apresenta o par presença-ausência como o que possibilita a simbolização, sendo a mãe quem introduz, na sua relação com a criança, essa alternância. Miller (1998, p.7) afirma que "[...] a mãe só é suficientemente boa, se ela não o é em demasia, se os cuidados que ela dispensa à criança não a desviam de desejar enquanto mulher".

Lacan (1982) define a passagem do primeiro ao segundo tempo do Édipo como a passagem da frustração à privação, uma vez que na frustração a mãe onipotente, fálica, recusa o dom, ao passo que na privação o objeto toma consistência como algo que falta ao Outro materno, que deixa, portanto, de ser onipotente. Ocorre a quebra da ilusão fálica da criança através da constatação da falta no Outro. Enquanto que a falta da frustração era de ordem imaginária, a da privação é real e conseqüência da ação do pai imaginário, proibidor, assustador, privador da mãe. É o enigma materno que instaura o pai onipotente em seu lugar, ou seja, há falta no nível da relação mãe-criança. Essa privação, o sujeito infantil a assume ou não, aceita ou recusa.

No terceiro tempo do Édipo, o pai pode dar à mãe o que ela deseja, porque o possui, instaurando a metáfora paterna. O pai, que no segundo tempo era terrível e onipotente, passa a ser permissivo e doador, uma vez que é aquele que tem o falo e pode dá-lo, ou seja, é um pai potente. Esse falo é um objeto simbólico que pode ser dado tanto à mãe quanto à criança e que aponta para a possibilidade de preenchimento daquilo que falta por um lado, mas por outro não satura completamente essa falta. Trata-se da passagem do ser ao ter o falo, esse objeto simbólico, a partir de uma identificação com a instância paterna, no ideal do eu, marcando a saída do Édipo, através da castração simbólica, ou seja, da aceitação da Lei (falta). Assim, é a possibilidade de ser castrado que é essencial na assunção de ter o falo. Na saída masculina, o menino identifica-se com o pai que supõe possuidor do falo; na feminina, "ela, a mulher, sabe onde ele está, sabe onde deve ir buscá-lo, o que é do lado do pai, e vai em direção àquele que o tem" (LACAN, 1957-1958, p.202). No final do Édipo, tem-se, portanto, o final da construção da identidade sexual, que depende do falo enquanto ordenador simbólico, e não da anatomia.

Tendo demarcado o papel da falta na constituição do sujeito, podemos agora discutir o estatuto do brinquedo e do brincar na economia psíquica da criança.

 

O Objeto Positivado da Infância: Sobre o Brinquedo e o Brincar

Como pensar então a questão do brinquedo, ou seja, a relação da criança com este objeto concreto, exterior, positivado, que é o brinquedo? O brincar precisa ser compreendido como a expressão dos modos atuais da organização da personalidade da criança e um modo estruturante em relação às organizações mais tardias. A criança que não brinca, não se aventura em algo novo, desconhecido. Se, ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceitado o desafio do crescimento, a possibilidade de errar, de tentar e arriscar para progredir e evoluir. Lebovici e Diatkine (1986, p.14) definem o brinquedo como "ação livre, sentida como fictícia e situada fora da vida comum, capaz de absorver totalmente o jogador, despojada de todo e qualquer interesse material e de toda utilidade".

Freud (1920/1980), em Além do princípio do prazer, defende que no decorrer da infância, a criança deve ir aprendendo a deixar paulatinamente o "princípio do prazer", aprendendo a considerar a realidade e postergar a satisfação imediata das suas pulsões, equilibrando as agressivas e amorosas. A mola propulsora dessa atividade infantil pode ser compreendida como a compulsão de repetição, característica do funcionamento da pulsão. Lacan (1982) defende, no Seminário XI, que o que é fundamental e fundante do brincar na infância refere-se ao registro do real, que sua essência repetitiva nos revela. Acredita ser um erro tomar o fort-da simplesmente como exemplo de simbolização primordial: "esse carretel não é a mãe reduzida a uma bolinha... é alguma coisinha do sujeito que se destaca embora sendo dele, que ele ainda segura... o carretel, é ali que devemos designar o sujeito" (LACAN, 1964, p. 63).

Segundo Jerusalinsky (2007, p.48), "o próprio brinquedo é um representante de 'a': objeto que não é o que é, que só pode ser enquanto sombra de um objeto ausente". Levin (2007, p. 56) defende que, para poder nomear qualquer objeto como possível brinquedo, a criança precisa esvaziar a substância do objeto, num ato simbólico, construindo uma ficção:

Ela engendra e introduz uma ausência no objeto: o que resulta desta operação é um único e singular brinquedo, pois a coisa-objeto se perdeu na história que, dali em diante, a criança começa a narrar. O brinquedo é a "morte" da coisa e a criação profana de um espelho.

Freud (1915/1980) nos diz, em seu texto Pulsões e suas vicissitudes, que a satisfação encontrada pela pulsão é sempre parcial, uma vez que se trata de um incessante trabalho no reencontro com o objeto perdido. O objeto da pulsão é o objeto do desejo, que por sua vez é o objeto causa do desejo. É em torno dele que gira a pulsão. Ele revela quatro modos distintos de satisfação pulsional: transformação no contrário (mudança da finalidade: atividade/passividade); retorno sobre o próprio eu (mudança de objeto: sado/masoquismo); recalque e sublimação. A criança, ao brincar, repete ativamente o que experimentou passivamente, o que revela o prazer do domínio implicado no jogo. Ela passa a brincar como sujeito e em alguns momentos se coloca como objeto na cena, revivendo experiências aflitivas, revelando o retorno sobre o próprio eu. Revela-se a busca pela satisfação perdida e a dimensão da falta.

No recalque, ocorre uma renúncia à satisfação pulsional, que pode levar a formações substitutivas, como, por exemplo, a compulsão à repetição, característica dos sintomas. Esses buscam ocultar o real, revelando, porém, uma falha de simbolização. O sintoma aponta para uma falha no pai, mas surge justamente para fazer um apelo ao pai, para que ele volte a saber. Fazendo sintomas, o sujeito neurótico se defende contra ser reduzido ao lugar de objeto de gozo do Outro.

Segundo Pavone (2004, p. 259),

ali onde o sintoma da criança revela sua aderência imaginária ao objeto capaz de responder ao ideal parental, é importante que o brincar encontre, nas vias da cadeia significante, um destino sublimatório, ou seja, uma possibilidade de produção de novas significações a partir de um ato criativo.

Freud (1908/1980) também aborda o brincar em Escritores criativos e devaneios, onde aponta que o trabalho está para o adulto assim como o brinquedo está para a criança. Ele compara o brincar ao trabalho criativo dos escritores, aos sonhos e às fantasias, articulado a um desejo oculto como as demais formações do inconsciente. As crianças inventam a realidade brincando; o ato de brincar institui um espaço gerador de desejo. Para Freud (1908/1980, p. 152), "toda fantasia é a realização de um desejo, uma correção da realidade insatisfatória." A sublimação é um modo diferente de satisfação da produção substitutiva, ou seja, do sintoma no recalque, uma vez que ela marca o ato criativo, o surgimento de algo novo. Na sublimação, enquanto ato criativo, o brinquedo surge como representante do objeto 'a', perdido para sempre e contornado pelo circuito pulsional. E esse deve ser o objetivo do brincar na infância: que o brinquedo seja obra de seu criador e não apenas objeto de consumo!

Boukobza (2006, p. 83) lembra que Françoise Dolto já afirmava que "[...] o objeto é sempre suspeito, ele é armadilha de prazer, armadilha de gozo. Ele apresenta o risco de reter a libido na via do consumo, impedindo a assunção do sujeito, carregado pelo que constitui o desejo na vertente da sublimação". Quando uma criança pede um objeto, como uma bala ou um pirulito, não se trata de satisfazê-la atendendo simplesmente a demanda, mas colocá-la a falar sobre como seria esse objeto, num jogo criativo, possibilitando a emergência de um sujeito para além de um ser da necessidade.

 

O Brincar e a Modernidade

Diante do exposto, ressalta-se a relação com os brinquedos no âmbito da fantasia e da simbolização como fundamental para a apropriação da criança de seu mundo externo, bem como para a organização de seu mundo interno, em seu processo de constituição subjetiva. Entretanto, a relação da criança com os brinquedos na atualidade parece ser de outra ordem. Jerusalinsky (2007) fala das crianças do ready made, que pouco ou nada se interessam pelos brinquedos que já vêm prontos, evidenciando isso através do tédio. Os meios eletrônicos, como a tv, videogame e computador, anestesiam os movimentos corporais das crianças, que quando não estão diante dos mesmos acabam mexendo-se em dobro, sendo facilmente rotuladas como hiperativas. O discurso parental e social atual preocupa-se com segurança, limpeza e saúde, o que gera um controle sobre o brincar das crianças, que, constantemente vigiadas, não devem se sujar nem machucar. Sem dúvida, as crianças gostam de brincar com água, tinta, barro, massinha, terra, gravetos, pedras e cola, tudo o que faz "sujeira". Porém, os brinquedos atuais são objetos produzidos em larga escala, limpos e vazios de significação, carecendo de uma marca que os tornaria únicos e exclusivos para cada criança.

Ainda, segundo o autor, o pai, há muito tempo, deixou de fabricar brinquedos: "os brinquedos de hoje têm a marca da ciência, isto é, a marca de um saber que não é paterno. A marca de um saber que é capaz de estandardizar os brinquedos, os objetos, até o infinito, e outorgar-lhes uma eficácia maiúscula no preenchimento da satisfação" (JERUSALINSKY, 2007, p. 21-22). Antes da sociedade industrial era impossível encontrar dois brinquedos iguais porque cada um era fabricado para uma criança específica. Hoje em dia "[...] o pai renuncia a esta fabricação tão precocemente quanto renuncia a seus ideais; tão precocemente como ele fica absolutamente devastado pelo atropelo que este saber científico opera contra qualquer saber paterno" (JERUSALINSKY, 2007, p. 21-22).

O brinquedo de hoje é um objeto de necessidade voltado para a satisfação, que faz com que as crianças permaneçam num movimento de demanda infinita, consumista, enchendo suas prateleiras de brinquedos, mas não sabendo mais brincar com os mesmos. Segundo Levin (2007, p. 26),

o acúmulo de brinquedos para não brincar é estarrecedor pelo nível de esbanjamento, de obsolescência generalizada alimentada pela compulsão consumista. Cercados por esses produtos, as crianças viram brinquedos verdadeiros de uma civilização que faz delas precoces cultoras do desejo de possuir, lançando-as no mundo competitivo.

E hoje já nem pedem o que desejam, mas o que a televisão lhes induz a pedir. Outro aspecto, também apontado pelo o autor, é que "a euforia das crianças é motivada pelo objeto-produto e não pelo vínculo que, por meio dele, elas possam estabelecer com o outro. Os adultos sentem-se bem porque compram produtos e brinquedos, mas não têm tempo para brincar com as crianças" (LEVIN, 2007, p. 31). Muitas vezes optam pelos brinquedos "educativos", cuja finalidade não é o brincar em si, mas o aprender.

A maioria dos pais não consegue mais estabelecer limites, atende às demandas excessivas, que, satisfeitas, geram novas demandas, num ciclo infinito que não permite que o desejo se inscreva na vida psíquica destas crianças. Estas acabam sucumbindo ao tédio e à insatisfação, e em casos mais severos, à depressão. Antigamente existia uma expectativa em relação aos presentes/brinquedos, que eram dados apenas em datas específicas e festivas, como aniversários, Páscoa, Natal, etc. Isso estimulava o campo da representação, permitindo um espaço para fantasiar, sonhar, possibilitando a passagem da demanda ao desejo. Hoje em dia, esse espaço se perdeu, uma vez que a criança pede e já ganha, muitas vezes em função dos próprios pais não suportarem, em função do seu narcisismo, a falta nos filhos. Falta essa que é fundamental, uma vez que na relação de objeto é necessário viver o limite e a falta para que o desejo possa advir! Os jogos virtuais tampouco permitem o brincar de faz-de-conta enquanto representação simbólica, uma vez que as crianças não criam personagens fantasiando enredos.

A sociedade contemporânea é uma sociedade de consumo, globalizada. O discurso capitalista promove a falta do objeto para gerar o desejo de consumi-lo. A mídia veicula o discurso do capitalismo, que transforma o desejo em necessidade, dificultando a passagem da demanda ao desejo. O consumidor acaba ele mesmo sendo consumido por esse discurso, sendo afastado da condição de sujeito desejante, uma vez que só é possível desejar se houver falta. Do ser ao ter, o sujeito desliza à condição de objeto enquanto consumidor dos objetos oferecidos pelo mercado para completar a imagem narcísica veiculada como ideal do sistema. Os objetos abundantes permitem ter, mas nada respondem acerca do ser (TEIXEIRA, 2005).

O discurso do capitalista está balizado pelo declínio da função paterna, seu enfraquecimento simbólico, o que favorece a valorização do objeto, de consumo, ready-made. Lacan (1982) nomeia esses novos objetos produzidos pelo capitalismo que devem ser consumidos como mercadorias de gadgets. Segundo Teixeira (2005, p. 191), "esses objetos sideram e seduzem o sujeito pelo engodo que representam ao se oferecerem como substitutos ou materializações daquele que é o objeto fundamentalmente perdido". Assim, percebe-se que o sujeito que emerge do laço capitalista confunde objeto de desejo (objeto 'a') e objeto de consumo (objeto 'a' ready-made), uma vez que acredita poder comprar um objeto manufaturado capaz de obturar sua falta constituinte. Observa-se a contraposição de objetos de desejo (objetos 'a' naturais - causam desejo e visam gozo possível, parcial, fálico, fora do corpo, pela via da linguagem) em contraposição aos objetos de gozo - mais de gozar (com objetos em excesso da cultura, imaginários - gadgets - que, supostamente, satisfazem).

De acordo com Bernardino e Kupfer (2008),

vivemos em tempos de profusão de objetos reais que prometem gozo ilimitado e a ilusão de não se ter nenhuma falta; as imagens que nos perseguem são imagens de completude permitida por estes inúmeros objetos e a felicidade correspondente; enquanto, em termos simbólicos, todo aquele que ocupa o lugar de poder e de saber mostra-se cada vez mais ridicularizado, questionável e impostor (professores, pais, etc).

Com as crianças acontece a mesma relação de objeto, no que concerne os brinquedos prontos, produtos de consumo: enquanto sujeitos elas são presas na dependência dos objetos ditados pela mídia, aqueles que supostamente tamponam a falta. Permanecem na demanda de satisfação e não sabem desejar enquanto sujeitos, não sabem mais brincar. Brincar enquanto ato criativo, ação significante que auxilia a criança a dar sentido ao seu processo de constituição enquanto sujeito. Também ficam fascinadas por esse suposto gozo sem limites ditado pela sociedade contemporânea, na qual um Outro, o mercado, se coloca na posição de um saber acerca daquilo que causa o desejo de cada um e de todos. Segundo Levin (2007, p. 26), "atualmente o brinquedo passa a ocupar o lugar de sujeito da brincadeira-atividade e a criança torna-se objeto passivo/ estático". O que ocorre é uma perda das referências simbólicas, que precisam ser resgatadas e transmitidas pelos pais e pela escola, através do discurso parental e social.

A educação visa justamente à socialização possível através da castração e do desejo, sendo a pulsão o impulso para buscar o objeto perdido, objeto 'a', causa de desejo. Se o inconsciente é um sistema que só sabe desejar, e se ele é transubjetivo, ou seja, marcado pelo discurso social, a relação de objeto é sempre intermediada pelo Outro (simbólico). Cabe aos pais, portanto, oferecer objetos aos filhos que possibilitem essa vivência simbólica. O discurso parental e social (discurso é o que faz laço com o Outro) deve se opor, assim, ao discurso do Capitalista, perverso, no qual o laço com Outro se dissipa e o sujeito permanece alienado com seus gadgets. A dificuldade se dá em função do declínio do Nome-do-Pai no mundo contemporâneo, que Lacan já vislumbrava em 1938, quando escreveu seu artigo sobre Os complexos familiares,.o qual diz: "seja qual for o seu futuro, esse declínio constitui uma crise psicológica. Talvez seja com essa crise que convém relacionar o aparecimento da própria psicanálise" (LACAN, 1938, p. 67).

A grande dificuldade da educação de hoje é, frente ao discurso da ciência, onde tudo é possível, onde vigora uma promessa de gozo ilimitado, defrontar filhos com regras e limites (castração). Os pais sentem-se incapazes de lidar com os problemas mais corriqueiros da educação dos seus filhos, e muitas vezes acabam delegando essa tarefa às escolas. Essa transmissão de princípios éticos, que é o ato de educar, precisa ser resgatada pelas famílias, responsáveis principais pelo legado simbólico passado para as crianças. Como descrito anteriormente, é no final do Édipo que se produz a significação fálica, com as insígnias de sujeito (quem sou?) e as condições de objeto (o que desejo?). O Nome-do-pai é justamente o significante ponto-de-basta, que vem barrar, colocar um limite para frear o gozo. O papel da educação, da escola é de propiciar uma educação para o sujeito, uma delimitação do gozo para o desejo poder advir. Trata-se do resgate do mesmo, opondo-se à objetivação do mundo do consumo, que diz não à transformação do aluno em mercadoria, uma vez que o sujeito é enigmático, dividido, não repetido, não em série:

Não se trata de protestar contra a sociedade de massas, de consumo, a globalização, porque disso não se recua mais, e qualquer proposta para sua derrubada adviria de uma nostalgia por tempos que não voltam mais. Mas é pensar que as escolas deveriam ser cada vez menores, nas quais um professor poderia ensinar a cada um de seus alunos. [...] para ensinar, porém, será preciso falar ao sujeito suposto no aluno (KUPFER, 2007, p. 121).

Segundo Melman (1999, p. 40), hoje, impera um ideal de felicidade que dificulta aos pais o defrontar dos próprios filhos com regras e limites. Como apontam Bernardino e Kupfer (2008), as condições para a transmissão que os pais teriam de realizar para seus filhos - da falta -, de modo a promover uma organização psíquica, não estão mais garantidas pelo campo social.

São os pais que, solitários, na intimidade de seus lares, devem sustentar essa transmissão; ainda que correndo o risco de se verem desmentidos a qualquer momento pela mídia ou pela ciência. Passa a ter importância crucial o tipo de relação que estes pais têm com a falta, com a castração, para que possam sustentar, à revelia do movimento cultural atual, a questão dos limites e das leis organizadoras. Esta falta de consonância entre o familiar e o social cria uma defasagem geradora de angústia - para os filhos, que estão diante desta dupla mensagem, que ao mesmo tempo transmite a falta, mas a renega; para os pais, que estão sozinhos no exercício de sua função. (BERNARDINO E KUPFER, 2008).

Trata-se de justamente colocar o pai em seu lugar, ou seja, fazer com que ele volte a fazer função. E isso caracteriza o importante papel da psicanálise na contemporaneidade: de promoção de um lugar para a palavra, para a enunciação, a fala, capaz de veicular o desejo e barrar o gozo que, na sociedade contemporânea, parece estar sem limites.

 

Considerações finais

Psicanaliticamente falando, o objeto é a falta de objeto. Os objetos mundanos são objetos revestidos falicamente, mas não completam, uma vez que a ética do desejo é a falta em si. Esta, por sua vez, apenas se inscreve quando o Nome-do-Pai se instaura, através da inscrição da proibição paterna. Não se pode ter tudo nem ser tudo para o Outro, eis a castração. A função paterna consiste justamente em separar a criança do lugar de objeto que é para a mãe; separar filho de falo.

No universo infantil, o objeto transicional é o objeto substituto do objeto perdido, do seio, da mãe. É indispensável até o sujeito ter mais condições simbólicas de elaboração da falta, portanto só pode ser perdido quando a criança passa da alienação, em que se sente como falo do Outro, para a separação do Outro, aceitando-o como também faltante, castrado. Enquanto objeto oferecido às crianças para apaziguar a angústia da separação, tem significado simbólico e precisa ser escutado, interpretado. Seu uso exagerado, o excesso de brinquedos, pode conduzir à perversão de seu uso, ou seja, ao campo das dependências. Seu uso limitado, por sua vez, abre o campo para o verdadeiro brincar, a sublimação, a imaginação e a criação. Lacan passa a falar em objeto 'a', causa de desejo, a partir do conceito de objeto transicional, estabelecido por Winnicott. Porém, enquanto o primeiro já se encontra no campo pulsional, da separação, o segundo inscreve-se no campo da alienação mortífera para o sujeito, quando não superada.

Hoje vigora uma fragilidade do desejo devido à frágil inscrição paterna na mãe e no pai. O pai da atualidade está impotentizado, destituído. Trata-se de uma potência desacreditada no cerne familiar. Impera uma fantasia nos pais de poder produzir um gozo sem falta; em função das privações que viveram, querem poupar seus filhos. Acabam por não transmitir limite na própria potência. Não reconhecem os próprios limites na busca de uma perfeição. As regras são elaborações da castração e precisam ser sustentadas pelos pais e seus representantes, através do não-atendimento a todas as demandas que lhes são endereçadas. Os pais precisam reconhecer-se castrados para poder colocar limites aos filhos, que por sua vez não podem ser poupados da castração. Pois o que não é simbolizado acaba retornando no real: a castração retorna no real como birra, acidente, overdose etc.

Vivemos num mundo de oferta de objetos. O objeto perdido da geração parental encontra-se disponível para os jovens, enquanto gozo absoluto, uma vez que saímos da interdição do gozo para a exigência do gozo. As crianças também estão, por sua vez, expostas à cultura de objeto. Para a constituição subjetiva é necessária a demanda materna e o mau encontro com o objeto, ou seja, o objeto deve ser acolhido como objeto pulsional, propiciador de um gozo pulsional, limitado. O gozo fálico permitido é o gozo parcial, que se deve à castração. O real da pulsão é pura falta; é o que relança a pulsão, já que o desejo permanece. Como a pulsão não tem objeto, o que a move é a falta em si que não é tapável, preenchível, e que não reconhece nenhum objeto como rolha: é a falta-em-ser, uma vez que a pulsão não admite relação objetal em si. A relação objetal é com a representação do objeto, não com o objeto em si: não era bem isso.

Em termos de brinquedo, "o brinquedo é a falta de brinquedo", pois, segundo Levin (2007), ele vale pelo que falta, pelo que não é, pois é justamente essa característica que o causa como objeto de desejo. O importante é o ato de brincar, ou seja, que esteja fundado o espaço transicional necessário para o faz-de-conta emergir e o imaginário se desdobrar. A partir daí, uma criança brinca com qualquer coisa, inclusive com sucata, desde que desperte sua fecunda imaginação infantil.

Como já foi colocado anteriormente, na sublimação, enquanto ato criativo, o brinquedo surge como representante do objeto 'a', perdido para sempre e contornado pelo circuito pulsional. "O brinquedo é símbolo de um vazio gerador de novas imagens e invocador de espaços ficcionais" (LEVIN, 2007, p. 57). Eis o objetivo do brincar na infância: que o brinquedo seja obra de seu criador e não apenas um objeto estruturado, configurado e preparado para o consumo, não feito para brincar. Pode-se pensar no brincar das crianças como o fazer humor dos adultos: trata-se de um saber adquirido de lidar bem com o real, com a falta, um verdadeiro saber-viver, que pode ser desenvolvido através de estratégias específicas, como, por exemplo, a experiência de ficar um tempo sem brinquedos prontos disponíveis. Isso favorece a percepção da criança de que não existe um objeto em si capaz de obturar a falta, mas que viver consiste justamente em estar permanentemente exposto a essa falta-de-objeto, ou seja, poder ser causado incessantemente pelo objeto 'a', causa de desejo.

É indispensável podermos reconhecer que o objeto de nosso desejo é outro desejo, ou o desejo do Outro, uma vez que este é incompleto, desejante. A inscrição da falta no Outro é fundamental para se ter um lugar na vida, no campo social, pois somente ao se perguntar O que o Outro quer de mim? Constrói-se a fantasia, tela esta que mantém a relação do sujeito faltante com seu desejo. E as crianças brincam justamente por "saberem" da importância da fantasia na sustentação do desejo.

O mal estar da contemporaneidade está ligado à insuportabilidade da falta de objeto, como decorrência da fragilização do sistema simbólico. Demanda-se desenfreadamente objetos para aplacar a dor-de-existir, inevitável, já que o objeto falta, e essa falta é estrutural. Nunca estamos completos, uma vez que a perda nos constitui e, portanto, não é solucionável, uma vez que não se trata de reparação, de encontrar um objeto substituto.

Há uma falha no luto do objeto, há uma angústia do vazio, uma prevalência de uma posição imaginária que dificulta o deparar-se com a falta e consequentemente com o desejo. O objeto em causa não é um objeto qualquer, de consumo, mas sim o objeto 'a', causa do desejo. Pode-se concluir que a questão propriamente humana não gira em torno da relação de objeto em si, mas da problemática do desejo. Desejo que se compõe como enigma para cada um e não se satisfaz com objetos, escapa. Desejo que tem o campo regulado pela fantasia, cujo fracasso da função é característico no universo das crianças de hoje, em função de uma problemática da separação.

É preciso permitir o efeito do significante sobre o sujeito, simbolizar a falta, permitir a passagem da demanda ao desejo, permitir a perda do objeto para poder ser causado por ele. Cada um tem como dever ético poder elaborar esse luto de objeto, passando pela frustração, privação e castração para poder bem-dizer seu desejo de existir em palavras ou através do brincar, enquanto significante, enquanto encenação, representação de algo que não pode ser dito.

Cabe aos pais e professores sustentar o discurso do Nome-do-Pai e delimitar o gozo das crianças de hoje, não atendendo a todas as demandas de objetos, sustentando, sim, a importância da perda do objeto em seu papel na manutenção do desejo. Trata-se de um resgate da função primordial do brincar, de maneira desejante, independente do brinquedo em si.

 

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Recebido em 02 de Março de 2010
Aceito em 13 de Agosto de 2010
Revisado em 02 de Dezembro de 2010