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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.3 Fortaleza  2011

 

EDITORIAL

 

Doação e sacrifício: a pergunta pelo amor

 

Donation and sacrifice: the question for love

 

 

Por que uma mãe doa uma criança? Um ato de impossibilidade, de impotência, ou um dado a ser pensado na esfera do social e suas variáveis econômicas? Na perspectiva da subjetividade, entra em foco, a posição do sujeito, aquele que doa o que supostamente não lhe pertence. Pela via da doação, o doador se implica na pergunta pelo amor e deflagra que amar é doar o que não se tem. Pela via da adoção, a lógica suplementar é a de se adotar algo que não se pode ter.

Na relação impossível entre doação e adoção, o sujeito se depara com a falta que pode levá-lo ao sacrifício em variadas circunstâncias. A via sacrificial pressupõe, assim, um ato ético em que o desejo se desvela como a essência do que subsiste entre o sujeito e o próximo. Enquanto um movimento ético, pulsão e desejo reclamam juntamente com o amor a presença do objeto que sempre marcará o movimento entre a satisfação e a realização.

Assim, a pergunta sobre a doação se desloca e aponta a outro polo: porque um pai se sacrifica por uma criança ao ponto de desistir de outro amor? Por que um pai doa sua suposta felicidade em nome do amor ao filho? Amor e sacrifício são dois nomes que acompanham o sujeito, desde sua fundação, passando pelas intermitências da vida, culminando com as vivências das perdas inerentes ao existir.

Pelos caminhos do amor e do sacrifício podemos interrogar sobre as impressões da morte no espaço em que o sentimento de pertença baliza o ato de doar e de adotar uma criança. O campo da família ao tempo que representa o espaço da estrutura e da referência simbólica, do sentido de pertença, destaca o campo por excelência da inexorável dor da perda. É no espaço familiar que a dor ganha sentido e, de forma suplementar, é na família que o amor pode contribuir para a reconstrução da vida.

Neste número, tratamos deste interstício quase imperceptível, resultante do desejo e da impossibilidade de satisfação, que se projeta do e no espaço da família, desafiando o sentido e contradizendo toda lógica moral que a cultura sustenta.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e Organizador