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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.3 Fortaleza  2011

 

AUTORES DO BRASIL
ARTIGOS

 

Mães doadoras: motivos e sentimentos subjacentes à doação*

 

Donor mothers: motives and feelings underlying donation

 

Las madres donantes: motivos y sentimientos subyacentes de la donación

 

Mères donateurs: motivations et les sentiments qui sous-tendent la donation

 

 

Karla Luna de MenezesI; Cristina Maria de Souza Brito DiasII

IPsicóloga do Hospital Geral do Recife. Psicoterapeuta. Especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar e Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco. End.: R. Jacobina, 45/2802, Graças. CEP: 52011-180 - Recife - PE. E-mail: kluna@uol.com.br
IIMestra e doutora em psicologia. Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e líder do Grupo de Pesquisa Família e Interação Socialda Universidade Católica de Pernambuco. End.: R. Conselheiro Portela, 130A/201, Espinheiro. CEP: 52020-030- Recife - PE. E-mail: cristina_britodias@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

Este trabalho visou compreender as motivações e os sentimentos que estão subjacentes ao discurso da mãe que doa o filho, bem como as repercussões desse ato em sua vida. A pesquisa foi realizada com seis mulheres na faixa etária entre 22 e 40 anos, com escolaridade e nível socioeconômicos baixos, que doaram, no mínimo, dois filhos. Elas responderam a uma entrevista, composta de questões que atendiam aos objetivos da pesquisa e dados sócios demográficos. Constataram-se as condições de pobreza material e emocional que permeiam as vidas dessas mães, impedindo-as de terem um desenvolvimento emocional equilibrado que lhes possibilitem maternar. As motivações que as levaram a doar os filhos estão relacionadas, além do contexto de carência, à imaturidade e à falta de apoio familiar e do parceiro. Igualmente, detectaram-se sentimentos de tristeza, remorso e culpa que derivam do ato da doação, a par de, racionalmente, elas acharem que fizeram o melhor pelos filhos. No que se refere às repercussões da doação na vida dessas mães, constatou-se que, mesmo tendo vislumbrado um recomeço de vida após o ato, todas mostraram marcas emocionais e somáticas que podem estar relacionadas ao mesmo. Conclui-se que a motivação para o ato de doar um filho é contextualizada e individual, dependendo de fatores sociais, porém muito mais dos intrapsíquicos. Trata-se de um assunto complexo, necessitando, portanto, que se observem as peculiaridades de cada caso e os fatores a eles subjacentes.

Palavras-chave: Maternidade, amor materno, relação mãe-criança, mães doadoras, doação.


ABSTRACT

This paper aims the understanding of motivations and feelings that underlie the discourse of mothers who donates a child, as well as the repercussions of this act in her life. Participated in this research six women aged between 22 and 40 years, with low education and socioeconomic levels, who have donated, at least, two children. They were interviewed and answered questions about their social demographic data and about the issues of this research. Their economic and emotional poverty conditions that permeate their lives were verified. These conditions restrained them from achieving an emotionally balanced development that would have enabled them to act as mothers. The motivations that led to donate the children are related to their immaturity, together with the lack of family support and the of the children's father, as well as social-economic difficulties. Moreover, it was also found feelings of sadness, regret and guilt derived from the donation act, together with the fact that, in rational terms, they think they did the best decision regarding to their children. With regard to the repercussions of the donation in their life, it was found that even having glimpsed a resumption of life after the act, all showed emotional and physical inscriptions related to it. In conclusion, the motivation for children donation is a contextualized and individual decision, depending on social factors, but mostly on intra-psychic ones. This is, undoubtly, a complex issue, requiring, therefore, the observation of the peculiarities of each case and the factors underlying them.

Keywords: Motherhood, maternal love, mother-child relationship, donor mothers, donation.


RESUMEN

Este trabajo dirigido a comprender las motivaciones y sentimientos que subyacen en el discurso de la madre quien dona al hijo, así como las repercusiones de este acto en su vida. La encuesta fue realizada con seis mujeres de edades comprendidas entre 22 y 40 años, con baja escolaridad y bajo nivel socioeconómico, que han donado a al menos dos hijos. Respondieron a una entrevista, compuesta por cuestiones que cumplían con los objetivos de la investigación y datos socios demográficos. Se constató la pobreza material y emocional que impregnan la vida de estas madres y que restringen la posibilidad de tener un desarrollo emocional equilibrado que las permitan maternar. Las motivaciones que llevaron a donar a los niños se relacionan, así como el contexto de la escasez, a la inmadurez y falta de apoyo familiar y de la pareja. También, fueron constatados sentimientos de tristeza, remordimiento y culpa que se derivan de la donación, aparte de, racionalmente, pensaren que hicieran lo mejor para los niños. Con respecto a las repercusiones de la donación en la vida de estas madres, se encontró que incluso haber vislumbrado una reanudación de la vida después del acto, muestran marcas emocionales y corporales que pueden estar relacionados con él. Parece que la motivación para el acto de donación de un niño es contextualizada y individual, dependiendo de factores sociales, pero mucho más de los intra-psíquicos. Se trata de una cuestión compleja, que requiere, por lo tanto, observar las peculiaridades de cada caso y los factores que subyacen a ellos.

Palabras-clave: Maternidad, madres donadoras, donación, el amor maternal, relación madre-hijo.


RÉSUMÉ

Cette étude se propose à comprendre les motivations et les sentiments sous-jacents au discours de la mère biologique qui donne son fils à l'adoption, aussi bien que les répercussions de cet acte dans leurs vies. Les accompagnements psychologiques de ces mères, dans la maternité, dévoilent, certaines fois, une rationalisation de telle motivation. Implicitement, nous pourrions entendre ce qui supposément serait de l'ordre du désir. Nous avons interviewé six mères entre 22 et 40 ans, ayant une scolarité et niveau socio-économique moins privilégiés, qui ont donné au moins deux enfants à l'adoption. Nous avons fait un entretien semi- directif avec chaque mère concernée. Il a été analysé, à partir d'une perspective psychanalytique, les contenus verbal et non-verbal du discours des génitrices, dans l'intention d'identifier les possibles motivations et sentiments liés à l'acte de donner son fils. Nous avons constaté les conditions de pauvreté matérielle et émotionnelle qui sont présentes dans les vies de ces mères, empêchant ainsi un développement émotionnel équilibré qui rend possible lematernage. Ces femmes ont vécu une enfance marquée par des privations, violences, carences, incompréhensions et abandon. Le contexte économique et familial au moment de la gestation était défavorable à l'équilibre psychique. De plus, les grossesses étaient vécues en tant que prématurée. En ce qui concerne les motifs qui facilitent le don, nous avons souligné l'immaturité comme cause première, aussi bien que le manque de support familial et du père de l'enfant. A l'égard des sentiments vécus après le don, nous avons identifié la culpabilité, la tristesse, l'angoisse, le chagrin et le regret. Nous avons également remarqué des sentiments d'incapacité et d'insuffisance comme incitatifs inconscients au don. Quant aux répercussions du don dans la vie de ces mères, il a été constaté le fait que malgré l'intention de recommencer la vie après le don, ces mères se montrent amères, fatiguées, insatisfaites et malheureuses. Cette étude a conclu que la motivation de l'acte de donner un fils est à la fois contextualisée et individuelle, dépendant ainsi de facteurs sociaux et, principalement, intrapsychiques. Il s'agit d'un sujet complexe, impossible de produire des généralisations. Il faut observer les singularités de chaque cas et les facteurs sous-jacents.

Mots-clés: Maternité, mères donateurs, don, amour maternel, relation mère-enfant.


 

 

 Existe uma tendência para encarar toda separação entre mãe e filho entregue em adoção como abandono. Neste trabalho faremos uma distinção entre os termos abandono e doação. Consideramos o abandono como um ato praticado sem a preocupação com a sobrevivência da criança, enquanto na doação há uma impossibilidade da mãe permanecer com o filho, porém existe uma preocupação em preservar sua vida e é sobre ela que focalizaremos nossa atenção.

Decerto, não pretendemos culpabilizar ou vitimizar a mãe, mas fazer um esforço para compreender o que se atravessa nessa relação mãe e bebê doado. A nossa preocupação é escutar o que está inaudível, o que está nas entrelinhas do discurso, em suma, o que não pode ser dito acerca dessa relação. Esperamos compreender e desmistificar a doação, acreditando que a decisão de entrega não é feita aleatoriamente; subjacente a ela há um emaranhado de sentimentos e uma história de vida. Esperamos ainda possibilitar a conscientização social e dos profissionais de saúde de que as mulheres que doam seus filhos também precisam de cuidado, de serem amparadas em seu sofrimento e de que é possível minimizá-lo através de programas preventivos de assistência à gestante.

 

As Mães Doadoras

Na sociedade contemporânea é muito comum o termo "mãe desnaturada" ser designado às mães que, por abandono ou doação, separam-se do filho. Desnaturada é a mulher que, apesar dos nove meses de contato com o filho no ventre, não consegue assumi-lo. É difícil conceber a ruptura do laço que liga mãe e filho, dada a ênfase que ainda é dada à naturalização e idealização da maternidade. Daí a utilização do termo des, prefixo que significa separação, ação contrária, negação; naturada, derivação de natureza, natural. Contudo, no presente trabalho, faremos um esforço para desmistificar tal imaginário social e buscar uma possível compreensão acerca dessa mulher que doa o filho. Inicialmente, traçaremos, pois um perfil sócio demográfico dessas mulheres e, posteriormente, tentaremos pontuar alguns fatores psicológicos que perpassam o processo de doação de um filho.

Uma pesquisa realizada por Gonzalez e Albornoz (1990), no Chile, revelou que os principais motivos para a entrega de um filho à adoção são a falta de meios económicos e a pressão familiar. Eles constataram que se trata de mulheres jovens, solteiras, que são abandonadas pelos pares ao engravidar, não possuem trabalho remunerado e apresentam nível de instrução baixo. Na França, Bonnet (1993) descreveu as mães doadoras, em sua maioria, como jovens mulheres com menos de 25 anos de idade, com profissão instável e dificuldades socioeconômicas. No Brasil, tal realidade não é muito diferente. Freston e Freston (1994) em São Paulo, Weber (1998), no Paraná, e Mello (2002), na Paraíba, ao traçarem o dito perfil, constataram que as mães doadoras, geralmente, são jovens, solteiras, com educação primária incompleta, trabalham esporadicamente como empregadas domésticas e não contam com o apoio da família de origem. Na maioria dos casos, a gravidez é fruto de uma relação eventual, em que inexiste um vínculo com o pai da criança. Aliados à extrema juventude, aos baixos salários e à não satisfação das necessidades básicas, estão os fatores culturais da exclusão social da mulher e de sua submissão ao homem, que é uma característica da América Latina, como observam Giberti, Gore e Taborda (2001). Assim, Freston e Freston (1994) concluem que a maioria das doações é determinada pela junção do fator económico com um contexto doméstico desfavorável.

Embora não aconteça apenas nas classes desfavorecidas, a doação do filho está indiscutivelmente relacionada à pobreza. Porém, há de se observar além dos fatores socioeconômicos, os estruturais, psicossociais, emocionais, culturais, entre outros. Weber (1998) levanta a hipótese de que as mães abandonadas, excluídas, submetidas à miséria e à violência pensam estar fazendo o melhor para seus filhos ao fazerem a doação. Elas recebem claras mensagens sociais de que não têm o que oferecer aos filhos e não têm como sair do seu estado de miséria; suas necessidades básicas e direitos enquanto cidadãs estão fora do seu alcance. Diante disso, não lhes restam muitas alternativas senão assumirem seu desamparo e sua exclusão, o que aumenta a probabilidade de terem atitudes violentas e primitivas.

Diniz (1994) afirma que há uma complexidade na base da aceitação ou da decisão de entrega do filho para adoção. Sua experiência revela uma atitude "especial" da mãe em relação a esse filho e, quase sempre, seu discurso é contraditório. Ele acredita que não são apenas as condições económicas que determinam o desinteresse pelo filho, pois existem mães que apresentam situações de existência deploráveis mas não hesitam em exercer a maternagem do filho. Assim, a relação mãe-filho tem grande probabilidade de ser um reflexo das circunstâncias de vida da mãe, das condições em que nasceu o filho, da relação que ela tem ou não com o pai da criança, dos seus projetos para o futuro e as possibilidades reais para realizá-los.

Motta (2006) também admite fatores múltiplos no processo de entrega do filho para adoção. Seus estudos indicam que além da carência económica, há, frequentemente, uma carência emocional nas mães. Em geral, são mulheres carentes do amparo materno, que não conseguem desenvolver um modelo adequado de maternidade. Suas condições psíquicas e morais são extremamente frágeis, sendo frutos de uma criação em circunstâncias precárias.

Bonnet (1993), ao analisar casos extremos de negação da gravidez, afirma que a negação do potencial procriativo provém de situações traumáticas na infância e revela uma disfunção familiar com problemas na ordem da sexualidade. Assim, a presença de fantasias violentas em relação à criança são traduzidas em negação, como uma tentativa de suprimir pensamentos assustadores provenientes de traumas de infância. Nessa perspectiva, a autora teoriza que é por temerem a passagem ao ato de violência que essas mulheres abrem mão dos seus filhos e decidem separar- -se deles. Desse modo, a referida autora caracteriza a doação como um ato de amor, uma vez que protege a criança da violência que habita as mães. Por outro lado, as pressões que a mãe sofre para permanecer com um filho que rejeita podem resultar em um sentimento ambivalente de apego e rejeição que poderá ser mais prejudicial à criança do que a doação, pois, ao oscilar entre os dois extremos, a mãe expõe a criança a maus-tratos ocasionados por impulsos súbitos de violência.

Por esse viés, Motta (2001a) reconhece que a atitude de proteção pode residir exatamente na separação mãe/filho e que, em alguns casos, a mulher está vivendo uma situação limite onde a existência da criança representa uma ameaça à sua própria sobrevivência física ou psíquica. Nesse sentido, a autora pontua a necessidade de se acolher a decisão da mulher que não pode ou não deseja manter seu filho consigo e, assim como Bonnet (1993), defende o direito que elas têm de não criarem seus filhos quando se sentem incapazes de fazê-lo.

Giberti, Gore e Taborda (2001) afirmam que, nos casos das mães que desejaram ficar com seus filhos e não puderam em função do seu próprio abandono há, além de uma violação aos seus direitos de mãe, uma violação aos direitos da família. As autoras pontuam a existência de uma conveniência social para a cultura da doação. Ignoradas enquanto sujeitos que têm algo a dizer, essas mulheres são vistas como reprodutoras que prestam serviços a casais de setores mais favorecidos da sociedade. "A mulher que entrega seu filho em adoção interessa socialmente enquanto ventre reprodutor de uma criatura que se torna necessária para os casais que não podem conceber, uma figura apenas por isso tolerada pelas instituições" (Giberti et al., p. 183).

Motta (2001b) observou que muitas mulheres que entregam seus filhos em adoção, nas Varas de Infância e Juventude, o fazem no mesmo dia em que saem da maternidade, ainda sob os efeitos das dores dos procedimentos do parto e em pleno estado puerperal. Pensamos que, nesses casos, o processo de luto fica ainda mais difícil trazendo outras complicações. A autora destaca que a falta de elaboração adequada da entrega de um filho talvez possa explicar os casos nos quais o ciclo abandono-adoção tende a se repetir. "Não raro, após a entrega de um filho decorrem sucessivas gravidezes que parecem, grosso modo, objetivar preencher o vazio de um luto não elaborado, talvez até aplacar a culpa decorrente de tal ato" (Motta, 2001b, p. 34). No que se refere ao estado puerperal, vale lembrar a depressão pós-parto, que acomete muitas mulheres, e que pode trazer consequências negativas, tanto para as mães, como para os bebês (Guedes-Silva, Souza, Moreira, & Genestra, 2003; Saraiva & Coutinho, 2008).

Em oposição, Santos (2001) defende que nem todas as mulheres que entregam seus filhos têm como motivo a situação socioeconômica e sofrem intensamente a dor da perda, da separação e da impossibilidade de materná-los. Apesar de reconhecer a relevância dos fatores socioeconômicos na decisão de entrega do filho, a autora acredita que tais fatores, por si só, não são suficientes para justificar o ato, embora quase sempre seja essa a justificativa. Ela observa que muitas mães recorrem a esse recurso inquestionável como forma de apresentar uma justificativa socialmente aceita para seu ato.

Para a citada autora, a situação de exclusão não é tão determinante ao ponto de impossibilitar movimentos de enfrentamento, de resistência e luta pela sobrevivência. Ela tem constatado que algumas mulheres de classe social desfavorecida e vítimas de exclusão, porém desejosas de maternar seus filhos, buscam estratégias para mantê-los sob seus cuidados, ao passo que outras, pertencentes ao mesmo segmento, além de enfrentarem reais dificuldades materiais, também não desejam cuidar da criança e não estão dispostas a buscar alternativas que as possibilitem fazê-lo, preferindo transferi-la a outros. A autora aponta as motivações subjetivas como fundamentais na decisão de entrega e afirma que as análises sobre esse tema, que se detêm exclusivamente nos determinantes de natureza socioeconômica, deixam de reconhecer o direito dessas mulheres de terem motivações próprias. Entretanto, quando o desejo de maternar existe, mas a mãe está atravessada pela impossibilidade objetiva de permanecer com o filho, de acordo com Santos (2001), a entrega é permeada pela dor da perda e os fatores socioeconômicos são, de fato, os determinantes da doação.

Entendemos que no processo de doação estão implicados diversos fatores intra e extra psíquicos de alta complexidade, que não permitem uma generalização. Assim, o caráter da decisão de entrega é individual, com características únicas. Motivações à parte, queremos pontuar um fato que observamos na maioria dos processos de doação, seja qual for o motivo. Após a entrega da criança, os pais biológicos se tornam esquecidos. Sobre esse aspecto Gore (1994) assinala que as próprias agências de adoção manejam o critério do anonimato para êxito do caso e bem-estar de todos. Afirma que as mensagens transmitidas às mães as fazem acreditar que, a partir da entrega, poderão refazer sua vida, sem a carga que significaria o filho. "Essa é a mensagem explícita: ela vai esquecer e formar outra família, e os filhos que virão a farão esquecer aquele que ela deixou" (Gore, 1994, p. 77).

Daí nos questionarmos: Será que isso realmente ocorre? Como essas mães se sentem? O que as levou a doar os filhos? Foi devido a esses questionamentos que nos interessamos em investigar os possíveis motivos e sentimentos subjacentes à doação dos filhos, bem como as repercussões desse ato, em mulheres que fizeram mais de uma doação.

 

Método

Participaram da pesquisa seis mães na faixa etária entre 22 a 40 anos, com baixa escolaridade e renda familiar de até um salário mínimo, moradoras de bairros de periferia. As idades das crianças doadas variaram de zero a três anos. Todas as participantes doaram, no mínimo, dois filhos. A maioria disse professar a religião católica, mas não são praticantes. Elas vivem de ajuda do Estado (bolsa-escola/família) e têm o estado civil solteira (apesar de algumas viverem com companheiro). Elas responderam a uma entrevista estruturada composta de 17 questões relacionadas aos objetivos da pesquisa e aos dados sócio demográficos.

O projeto foi aprovado pelos Comitês Científico e de Ética da Instituição onde a pesquisa foi realizada. Após a aprovação, iniciamos a busca pelas participantes. Quatro mães foram contata- das através de indicação de pessoas do nosso meio social e duas foram indicadas por moradores de um subúrbio em que a pesquisadora foi procurar voluntárias para participação na pesquisa. Uma mãe foi entrevistada numa instituição de apoio a menores; outra foi entrevistada no consultório da primeira pesquisadora e as demais em suas próprias residências. Todas foram solicitadas a colaborar com a pesquisa, após explicações dos objetivos e garantia de sigilo, tendo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram gravadas.

Após a transcrição das entrevistas, foi feita uma leitura minuciosa de cada uma; em seguida, foram analisados os temas que nortearam a entrevista: perfil das mães doadoras, infância, motivações para a doação, reação da família e do companheiro diante da doação, sentimentos vivenciados e repercussões da doação na vida das mães.

 

Análise e Discussão dos Resultados

 Perfil das mães doadoras

Corroborando as pesquisas de Gonzalez e Albornoz (1990), Bonnet (1993), Freston e Freston (1994), Weber (1998), Giberti et al. (2001) e Mello (2002), os resultados obtidos nesta pesquisa também apontam a condição socioeconômica como principal motivação consciente para a doação do filho. Assim como os autores, constatamos que as mães doadoras apresentaram nível socioeconômico baixo; geralmente tiveram o primeiro filho muito jovens, sendo solteiras; o nível de escolaridade é muito baixo; os trabalhos são incertos, pelos quais recebem baixos salários e não contaram com o apoio do pai da criança e da família.

Infância

Percebemos que a infância dessas mulheres foi marcada não apenas por um alto nível de privação económica, mas também pela privação de afeto, principalmente por parte da figura materna, a qual esteve presente somente no quinto caso. Com exceção da segunda entrevistada, as demais não tiveram convivência prolongada com os pais biológicos, sendo duas por perda devido à morte e três vieram de lares desfeitos por separação conjugal. Na maioria dos casos, suas mães se relacionaram com vários homens, após a separação do pai, e elas conviveram com padrastos. Observamos que esse tipo de arranjo familiar tende a se repetir. Assim como suas mães, todas as entrevistadas tiveram mais de um companheiro, gerando filhos dessas relações, que no seu término, parece acarretar também o rompimento do vínculo com filho, o que as leva ao ato de doação. Sobre esse aspecto, Bowlby (2001) constatou que as mães solteiras, incapazes de assumir seus filhos, vêm de lares defeitos; muitas conviveram com padrastos ou madrastas, passando por sucessivas mudanças de figu-ras de referência, o que causava dificuldades de ajustamento ao novo modelo familiar. São mulheres emocionalmente perturbadas que produzirão crianças privadas dos cuidados maternos. Estas, por sua vez, se tornarão pais que, provavelmente, continuarão a perpetuar a privação de cuidados com a próxima geração de filhos, a não ser que sejam cuidadas por pessoas que atendam às suas necessidades e assim consigam estabelecer relações (re) estruturantes. Esse processo social apontado pelo autor é o que Weber (1998, p.33) denomina de "ciclo do abandono" quando afirma que "o abandono abandona".

Apenas a quinta entrevistada não só relatou uma boa experiência com sua mãe como afirmou que se ela não tivesse morrido sua vida seria bem melhor. As demais não tiveram boas relações com as mães alegando discriminação, descuido e falta de amor. Em contrapartida, nos casos 1, 2, 5 e 6 a imagem paterna ou a do padrasto é positiva, sendo a figura paterna ausente nos casos 3 e 4.

Meu pai sempre gostou de mim. Minha mãe que era um pouquinho mais agressiva. (Entrevistada 2)
Eu nunca tive amor de mãe e amor de pai. (Entrevistada 4)
Eu só me lembro que minha mãe nunca gostou de mim. (Entrevistada 6)

A relação com os irmãos e a família extensa não é boa, com exceção da quinta entrevistada, o que nos faz pensar que a ausência de afeto no seio da família compromete as outras relações do indivíduo (Bowlby, 2001). Além dele, teóricos como Freud (1914/1972a), Klein e Riviere (1975), Winnicott (1999), Dolto (1989), Spitz (2004), entre outros, conferiram às experiências da infância e à relação parental uma grande importância, de modo que refletirão, de maneira forte, nos relacionamentos afetivos futuros, inclusive, na capacidade de apego com os próprios filhos.

Em geral, elas apresentaram uma aparência de destrato e desleixo. Ainda que consideremos os poucos recursos com que vivem, percebemos um descuido de si mesmas. Acreditamos que o abandono sofrido pelas próprias mães foi decisivo para a construção de uma baixa autoestima e determinante inconsciente para a impossibilidade de maternar. Winnicott (1999) relaciona as dificuldades pessoais das mães aos seus conflitos internos provenientes das experiências da infância. Freud (1914/1972a) afirma que o investimento materno instala o narcisismo na criança e o fato dela não ser amada reduz sua autoestima e é a fonte do sentimento de inferioridade. Percebemos mais fortemente o sentimento de menos valia na sexta entrevistada o qual podemos relacionar ao fato de não ter sido desejada pela mãe.

A quinta mãe doadora foi a única que manteve boa relação com a figura materna, contudo doou três filhos. Nossa análise do caso revela uma personalidade imatura que deseja, age, mas é incapaz de arcar com as consequências dos seus atos e de se assumir enquanto sujeito emancipado. Dolto (1988) afirma que o adulto psiquicamente saudável encontra-se no estádio genital, oblativo, sendo capaz de voltar suas energias libidinais para seu filho, o que implica no seu próprio progresso físico-afetivo. No entanto, é como se a referida entrevistada não conseguisse sair de uma posição infantil de filha para assumir seu lugar de mãe.

 

Motivações para a doação

Constatamos que, em todos os casos, as participantes tiveram o primeiro filho na adolescência, no período entre 14 e 21 anos. Engravidaram muito jovens, ainda dependentes da família e imaturas do ponto de vista psíquico. Nos casos 1, 2, 4, 5 e 6 as mães doaram o primeiro filho, o que confirma a impossibilidade de maternar devido à insegurança e à falta de suporte familiar. Já a terceira mãe criou os seis primeiros filhos, deu os cinco seguintes e criou os dois últimos, totalizando 13 filhos. Nesse caso, percebemos que o ciclo da doação se iniciou quando a mãe se viu sem condições de assumir mais filhos, por já ter outros, e criá-los sozinha. Apesar de não ter recursos financeiros, suporte da família nem maturidade, ela fez um esforço e permaneceu com os filhos que "pode". As dificuldades socioeconômicas, assim como a falta de apoio do pai da criança e da família, foram as motivações ditas pelas mães para a doação, porém percebemos a imaturidade, o sentimento de incapacidade e insuficiência como motivadores inconscientes para o ato de doar. Acreditamos que essas razões inconscientes para a impossibilidade de maternar têm suas raízes na própria infância da mãe.

(..)...às vezes a minha vontade é deixar tudinho e de sair mundo afora, sem destino. Falta uma coisa, tem que comprar isso, aquilo, lá vai eu se aperriar, pedir dinheiro emprestado pra quando eu receber pagar... (Entrevistada 3)
Se eu tivesse um emprego fixo, de carteira assinada eu criava tudinho. (Entrevistada 4)
Eu não queria dar o menino, mas eu não tava trabalhando, foi na época que minha mãe morreu, aí eu disse: Então leve seu filho que eu não vou ficar com o menino aqui passando fome, não é seu? Então leve. (Entrevistada 5)

Freston e Freston (1994) afirmam que os casos de doação ocorrem pela intersecção dos fatores econômicos e familiares aos quais acrescentamos os aspectos psicológicos e sociais. No que diz respeito aos sociais, Sarti (2003) ressalta a importância da família como referência simbólica que estrutura o indivíduo. Somando-se tal elo afetivo à dependência financeira dessas mães ainda adolescentes, concluímos que a aceitação da família e sua opinião a respeito da criança posta no mundo é de suma importância para a decisão de permanecer ou não com o filho.

Em todos os casos os filhos doados não foram programados. Nas entrevistas 1, 2, 3 e 6, eles foram frutos de relações momentâneas e de pais diferentes, ressaltando-se que cada mãe deu mais de um filho. Ao serem comunicados da gravidez, os pais, na maioria das vezes, duvidaram da paternidade, no primeiro momento e, mesmo que a admitissem, não assumiram os filhos e menos ainda apoiaram a gestante. Dolto e Hamad (1998) pontuam que, em situações como essas, a mulher é reconhecida como objeto sexual, mas rejeitada como mãe. Os filhos nascidos dessas relações são "filhos do cio", ou seja, de um amor erotomaníaco. Assim, somos inclinadas a supor que os "filhos do cio" são mais propícios a serem doados ou abandonados, pois a relação que o gerou foi puramente "corpo", ou seja, não existiu o desejo do homem fecundar a mulher e da mulher dar um filho a esse homem. Já nos casos 4 e 5, apesar de não terem sidos programados, os filhos foram frutos de uma relação duradoura, contudo a doação foi consumada após a dissolução da união conjugal. Gonzalez e Albornoz (1990) constataram que o abandono por parte dos genitores das crianças, após a notícia da gravidez, tem um efeito adverso para a relação mãe/filho, posto que, sem o apoio emocional e económico deles, as mães sentem-se incapazes de prover seus filhos. Do ponto de vista psicológico, acreditamos que a rejeição do pai pela criança suscita, por vezes, a rejeição materna pelo filho e observamos ainda que quando o pai rejeita a mãe, recusa também o filho enquanto produto dessa mulher. Com exceção da terceira participante, em todos os casos as mães só permaneceram com os filhos que os pais reconheceram e assumiram. Nos casos em que os pais rejeitaram os filhos, as mães também se sentiram rejeitadas. É como se a rejeição paterna fosse vivida como uma rejeição a si enquanto mulher. Chamou-nos a atenção o fato de que as mães 4 e 5 só permaneceram com os filhos enquanto durou o relacionamento com o pai da criança. Já a primeira e a segunda criam os filhos apenas do companheiro atual, enquanto a sexta cria a filhada relação que se dissolveu, mas foi duradoura e o pai assume a criança até hoje.

Sarti (2003) defende que há uma organização simbólica da família, a qual identifica o homem como autoridade moral perante o mundo externo. Sem a presença e o apoio de um homem provedor e mediador do mundo externo e, sem o apoio da família, os sentimentos experimentados na gravidez foram, na maior parte do tempo, negativos. As mães relataram medo, desamparo, ambivalência e abandono. Apenas nos casos 4 e 5, em que havia uma união conjugal e os pais assumiram os filhos, a gravidez foi vista com naturalidade e aceitação pela família. Nos demais casos em que as mães eram solteiras, as famílias foram omissas ou não apoiaram as gestantes.

É digno de nota que as mães 2 e 5 tiveram o primeiro filho próximo à morte das próprias mães. A segunda entrevistada referiu-se à morte da mãe como um fato triste de "sua infância". Essas mulheres, ainda em uma posição infantil, conforme percebemos nos relatos, se encontravam ainda mais fragilizadas devido à perda da mãe, exatamente no momento em que estavam vivendo uma situação inaugural e que precisavam sair da condição de filha para assumir a de mãe. Provavelmente o sentimento de culpa presente nelas foi acentuado devido a esse fato. No seu imaginário, elas estariam tomando o "lugar" de sua mãe. Talvez por isso, não tenham se autorizado a se tornarem mães e não se sentiram aptas a criar os filhos, restando-lhes a alternativa de doá-los.

 

Reação da família e do companheiro diante da doação

Apenas no caso 4 a família foi contra a doação; nos casos 1, 2, 3 e 5, a família apoiou a decisão de entrega e no sexto caso, a família foi responsável pela doação. Observamos que apenas na doação do primeiro filho da sexta entrevistada houve o desejo de ficar com ele; já na segunda doação, ela mesma decidiu fazê-la.

Ele disse que não era dele....Nem me venha procurar quando nascer. (Entrevistada 2)
Eu dizia: "tó buchuda". Eles dizia que era mentira minha. Vai assumir não? Então tem quem queira. Aí dava. Pai de nenhum nunca me ajudou, até hoje. Criei meus filho sozinha. (Entrevistada 3)
Quando eu fiquei grávida ninguém gostou, quase ninguém falava dentro de casa. (Entrevistada 6)

Dolto (1984) defende que os sentimentos de uma mulher por seu filho constituem um modo de linguagem pré-verbal que é, ao mesmo tempo, produto da educação da menina e suscitada pelo momento presente. O sentimento materno é inconscientemente ensinado e se constitui na infância, através das experiências da menina com as mulheres significativas de sua vida. Dessa maneira, a gravidez e o ato de dar à luz não são requisitos da maternagem. Para Duvidovich (2004), o que define a disposição para a função materna é a capacidade de tomar o bebê como objeto privilegiado de desejo e viver temporariamente a ilusão de que esse filho irá completar a mãe. Trata-se da capacidade de posicionar o corpo do bebê como objeto fálico, que irá desfazer a estrutura da falta e lhe fará viver a ilusão de recuperação do objeto perdido. Será esse lugar específico no inconsciente do sujeito-mãe que direcionará todos os atos e esforços no exercício da função.

Ranna (2004) afirma que a capacidade de exercer a maternagem está ligada à possibilidade de ser maternada. Contudo, como pontuamos anteriormente, trata-se de mulheres sofridas, carentes de afeto, que conviveram com violências e abandono. Constatamos que essas mães encontravam-se fragilizadas durante o estado de gestação, o que dificultou ainda mais a disposição de recursos efetivos e simbólicos para a construção de um vínculo com o filho. Assim, quando todas as mães alegaram não ter condições de criar os filhos doados, pensamos que elas não puderam ser mães devido à sua estrutura psíquica empobrecida. Nessa perspectiva, Greco, D'Elia, Keller e Medina (2004) pontuam que um funcionamento mental familiar empobrecido articula uma relação vazia, sem qualidade de representações, fazendo com que seus integrantes permaneçam regredidos. É por esse viés que entendemos a imaturidade psíquica das mães doadoras e a permanência em uma posição infantil de dependência que as impede de assumir um filho sozinha, como um projeto seu. Percebemos que, ainda que declarem amor aos filhos doados, elas os doaram por se sentirem incapazes de assumir a responsabilidade pela vida do filho completamente dependente. Após a doação, sentem-se livres da responsabilidade, do medo de não conseguir garantir a sobrevivência do filho e se convencem de que eles estão bem, em melhores condições do que se estivessem vivendo com elas.

Nos relatos, a preocupação primária de todas as mães era com a sobrevivência "nua e crua" dos filhos, era com a alimentação. Percebemos que a responsabilidade que elas não quiseram ou puderam assumir foi a de prover os filhos, pois sentiam medo de não dar conta, de faltar comida e verem os filhos passando necessidades por sua incompetência de sustentá-los. Vale salientar que a figura masculina aparece como o principal responsável pelo provimento do filho, seguida da avó paterna. Sarti (2003), ao abordar a questão ética dos pobres, afirma que a moral do homem está articulada à moral do provedor, a qual complementa a autoimagem masculina. Isso quer dizer que o homem tem a obrigação moral de prover sua família. Observamos nos casos 2, 4 e 5 que as crianças foram "doadas" ao pai. Na maior parte das vezes, eles também se encontram em uma posição infantil e não têm senso de paternidade, são omissos e apresentam-se incapazes de assumir o papel de pai. Nesses casos, as avós paternas aparecem como as principais responsáveis pelos netos, ficando ao seu encargo o sustento e a criação deles. Isso confirma o que relatam Dias e Silva (1999) que apontam os avós, em muitos casos, como os principais agentes socializadores da criança após os pais, chegando a atuar como pais substitutos.

 

Sentimentos vivenciados com a doação

Nas entrevistas de números 2, 4, 5 e 6 as mães demonstraram sofrimento em relação à entrega dos filhos e alegaram que os doaram por não "ter condições", isto é, por força das circunstâncias e não por vontade própria. Contudo, observamos que elas apresentaram um discurso contraditório em relação à motivação para a doação. Supomos que apesar de uma ligação afetiva com os filhos doados, elas abriram mão deles em prol de sua liberdade, para viver outras experiências, já que não estavam mais envolvidas com os pais das crianças. A mesma mãe que afirmou não ter condições de criar o filho devido à morte do companheiro foi embora da casa da sogra "que me levava como filha" porque "eu quero fazer o que eu quero (...) aqui eu não posso fazer o que eu quero" (quarta entrevistada) e deixou o filho para a ex-sogra criar. Esse fato nos remete à afirmação de Santos (2001) que observou que muitas dessas mulheres, ao se sentirem julgadas por seu ato e pressionadas pelo mito do amor materno, precisam apresentar justificativas socialmente aceitas, recorrendo à inquestionável falta de recursos. Já as mães 1 e 3 não demonstraram sofrimento pela doação e, aparentemente, não formaram vínculo com os filhos doados, percebendo-os como seres à parte delas. Um fato digno de nota é que no caso número 6, a mãe doadora apresenta vínculo afetivo apenas com o primeiro filho doado; já com a segunda criança doada parece ter havido uma desvinculação que se aproxima aos casos 1 e 3.

Todas as mães apresentaram preocupação com o bem estar dos filhos no ato da doação. Elas acreditam terem feito a melhor escolha para eles e estão certas de que eles hoje estão melhores do que se estivessem ficado com elas. Algumas alimentam o desejo de revê-los um dia. Pensamos que essa é uma maneira de amenizar a culpa que sentem e se conformar com a situação.

Tenho na minha cabeça que dia ela vai me procurar [a filha doada]. (Entrevistada 4).
Eu fiquei um pouco triste, mas também feliz, não dei com mágoa não. Porque eu sabia que ia estar em boas mãos e um dia eu vou saber. Vai crescer, vai ser alguma coisa na vida e eu vou descobrir um dia. (Entrevistada 6).

Santos (2001) observou que mulheres não desejosas ou impossibilitadas de maternar seus filhos, demonstram mais segurança e tranquilidade em face da sua decisão. O poder de decidir a quem entregar o filho e certificar-se se está sendo bem cuidado minimiza para essas mulheres o sentimento de perda ou de inferioridade resultante da incapacidade de criá-los.

 

Repercussões da doação nas mães

Identificamos o sentimento de culpa em todas as entrevistadas. Mesmo nos casos 1 e 3, em que não percebemos ligação afetiva com os filhos doados, a culpa esteve presente de forma velada. Desse modo, cientes de terem feito o melhor para os filhos e para si mesmas, não se arrependem. Nos casos 2, 4, 5 e 6, além do sentimento de culpa, identificamos a tristeza, o pesar e o arrependimento. Percebemos um forte sentimento de pesar e lutos não resolvidos em algumas mães. As quinta e sexta entrevistadas sofrem mais intensamente pela perda do primeiro filho doado. Já a quarta mãe mantém um forte sentimento pela segunda filha doada. Acreditamos que os sentimentos cultivados pelas mães doadoras são mais intensos de acordo com o investimento afetivo dispensado àquele determinado filho. Sabemos que cada filho, antes de tornar-se real, é, inicialmente, idealizado. Pensamos que é esse lugar idealizado que o filho ocupa no imaginário materno que, na impossibilidade de torná-lo real, deixará um vazio difícil de ser elaborado. Nesse sentido, Motta (2001b) pontua que não raro, elas "criam" seus filhos em suas mentes; outras não conseguem estabelecer novos relacionamentos. Sentem-se não merecedoras de amor e negam a si mesmas a possibilidade de prazer e, mesmo que se casem e tenham outros, a sombra do filho que entregaram estará sempre presente. Jones (1993, conforme citado por Motta, 2001b) afirma que sentimentos não elaborados impedem ou prejudicam qualquer tentativa de reorganização da vida e de esperança. Também podem resultar consequências a nível somático.

Eu sofro muito com dor de cabeça, aquele mormaço, eu fui ao médico e ele disse que é o meu peso. O que tem o peso com a cabeça? Eu não vou dizer à senhora que eu sinto remorso porque já basta os que eu tenho dentro de casa. (Entrevistada 3)
Eu queria engravidar quando eu tivesse um marido e agora não posso. Meu marido é louco por criança e aí agora não posso. (Entrevistada 6)

O primeiro filho concede um status jamais dado à mulher, pois é ele quem lhe dá a condição de mãe, portanto ele é o filho "inaugural". Um fato que nos chama a atenção é a "marca" que o primeiro filho doado representa para a mãe doadora, especialmente quando coincide de ser também o primogênito. Com exceção da terceira mãe entrevistada, constatamos que esse mesmo filho que inaugura a condição de mãe inaugura também o ato de doar, contudo ele não é esquecido. A primeira entrevistada doou 20 filhos e, após 24 anos, lembra a data de nascimento da primeira filha. A terceira participante, apesar de não ter doado o primogênito, sonhou algumas vezes com o primeiro filho doado e lembra de detalhes do nascimento, inclusive de sua fisionomia. Já a quinta mãe sofre muito com a distância e o não reconhecimento do primeiro filho. A sexta mãe, por sua vez, foi quem mais nos pareceu sofrer com a doação do primeiro filho. Todas as participantes demonstraram apego aos filhos que criam revelando um amor a eles, talvez como uma forma de compensar o amor recusado aos filhos doados. Em relação aos filhos doados, apenas as primeira e segunda entrevistadas disseram não sentir nada por eles; as demais mantêm um sentimento de amor e esperança de reencontrá-los, bem como o desejo de que eles as reconheçam como mães.

Após a doação dos filhos, todas as mães vislumbraram um recomeço de vida. É como se a doação fosse solucionar seu problema para então refazer sua vida sem a carga que eles representam. Sobre tal aspecto, Gore (1994) pontua que a mensagem transmitida à mãe doadora permite que ela acredite que, após a entrega, ela estará livre para refazer sua vida, para formar outra família e os filhos que virão a farão esquecer aquele.

Nossa concepção acerca da recusa da maternidade, com base teórica psicanalítica, nos leva a pensá-la como uma marca pela influência dos afetos libidinais da mãe. Dolto (1989) afirma que o afeto dirigido à criança pode dizer respeito à gestação e ao ser humano em formação ou, por outro lado, ao genitor que pode ser ou não o objeto eleito do seu desejo. No caso em que o genitor não for esse objeto de desejo, as inquietações relacionadas ao falismo simbólico da mãe são dicotomizadas. Tal proposição pode ser observada claramente nos casos das doações. As mães 1, 3 e 6, únicas que doaram os filhos ainda recém-nascidos, não tinham nenhum vínculo e interesse pelos pais das crianças. Elas foram frutos de relações sexuais sem investimento amoroso e simbólico, sendo frutos do "cio". Já nas doações tardias, nos casos 2, 4 e 5,as mães doaram os filhos com, no mínimo, 1 ano e 6 meses após o desenlace amoroso com os companheiros, pais das crianças. Estas mulheres tornaram a engravidar de outras relações investidas libidinalmente que, ao serem desinvestidas mais tarde, levaram-nas a doar os filhos.

Dolto (1984) afirma ainda que é do homem, que obtém êxito em emocioná-la sexualmente, que renasce na mulher adulta o desejo inconsciente e a expressão consciente dos sentimentos maternos. Juntamente com o desejo por esse homem, vem o desejo de um filho que, por sua vez, se desejado por ambos, é testemunha de um amor compartilhado. Para Bowlby (1997) os primeiros anos de um bebê são períodos críticos tanto para este quanto para os pais. Analogamente ao desenvolvimento da criança, em que os alicerces de sua personalidade são assentados, os pais experienciam a angústia da adaptação ao novo papel. Pensamos que se o casal ou um dos pares não tem maturidade suficiente ou possui um impedimento intrapsíquico para desenvolver sua função, apresentará grande dificuldade para adotar psiquicamente esse filho. Além disso, um filho a criar dá muito trabalho e sozinha, sem apoio do pai da criança e da família, essa mãe fica exausta, o que piora suas condições psíquicas já debilitadas. Dolto (1989) pontua que muitas mães são incapazes de criar os filhos durante os seis primeiros anos de vida porque eles exigem muita atenção, disponibilidade psí-quica e materna, inclusive de todo grupo social que a cerca.

Um dado que nos chamou a atenção foi que as mães 1 e 3, aparentemente as que menos se envolvem com os filhos, foram as que tiveram e doaram mais filhos. A entrevistada 1 doou 20 filhos e cria três; isso quer dizer que, tendo 40 anos, teve pelo menos um filho por ano durante sua vida fértil. A participante 3, apesar de se saber fértil, não utiliza nenhum método anticoncepcional e engravidou sucessivamente totalizando, que ela recorde, 13 filhos.

Freud (1933[1932]/1972b) defende que grande parte do complexo de castração que se transforma contribui para a construção da feminilidade da mulher, isto é, o desejo apaziguado de um pênis se converte no desejo de um bebê e de um marido que possui um pênis. Dolto (1989) refere que a palavra mãe designa a mulher como uma criatura ativa e significa a representação humanada criatividade, o próprio símbolo da fertilidade. Sendo a fertilidade sentida como condicionada pelo falo, a mãe geradora torna-se, para si mesma e para os outros, a imagem do falo autóctone. Analisando as afirmações dos citados autores, inferimos que essas mulheres têm a necessidade de gerar para se sentirem detentoras de um poder que é o falo, uma vez que o pênis de um marido (objeto fálico) lhes é impossível por não conseguirem manter relacionamentos conjugais. É como se fosse uma busca constante por um objeto que foi perdido na infância. O fato de gerar e manipular o objeto produzido confere à mãe também um poder de oferecê-lo ou negá-lo como uma forma de se impor em um mundo em que o único poder que detém é o de gerar. Pensamos também que pode ser como uma forma de vingança contra o homem que a rejeitou.

Dolto (1989) afirma que a gestação, e depois a maternidade, trazem ao corpo da mulher o perigo ou a segurança da identificação genital com sua mãe. Acreditamos que sentimentos hostis em relação à própria mãe são fontes de regressão que poderão dar vazão a aspectos primitivos de fantasias de gravidez arcaicas. Assim, essa mulher, estando impelida por fortes pulsões, tende a gestações sucessivas como uma forma de atualização dessas fantasias, podendo ser uma forma de evitar a morte. Como salientam Correia, Alain, Amorim, Oliveira e Queiroz (2001), o forte desejo de prolongar a vida com a conotação de evitar ou negar a morte é uma das principais atividades humanas. Contudo, essa mulher grávida sabe-se incapaz de assumir o filho nas condições psíquicas e materiais que são as suas, então, o doa. Para os autores, pode ocorrer que para essa mãe que doa frequentemente a questão não seja a adoção de sua criança, mas a reativação de sua expectativa de ser adotada.

Ressaltamos ainda que todas as entrevistadas se posicionaram contra o aborto.
Preferia ter e dar do que tirar a vida de uma criança que não pediu para vir ao mundo. (Entrevistada 1)
Eu tô viva, por que vou ter que matar os outros? (Entrevistada 6)

Em nenhum dos casos houve tentativa de abortar os filhos não programados e não desejados, tendo elas se referido ao ato como "um crime" que merece ser punido. Nesse sentido, Correia et al (2001) defendem que a renúncia e a cessão dos direitos da mãe sobre a criança traduzem um reconhecimento da mesma e de seus próprios direitos.

 

Considerações Finais

Esta pesquisa teve como objetivo geral compreender o que está subjacente ao discurso da mãe que doa o filho. Especificamente procuramos investigar os sentimentos e as repercussões deste ato em suas vidas.

Em relação aos motivos que favoreceram a doação encontramos a imaturidade e a falta de apoio familiar e do pai da criança como os principais. Além disso as condições financeiras muito precárias contribuíram, embora não sejam determinantes pois todas criaram outros filhos, sendo incapazes de maternar especificamente os filhos doados. Percebemos uma dependência do reconhecimento do pai das crianças para permanecerem com os filhos. Nos casos da doação dos filhos bebê, os pais não os reconheceram e na doação dos mais velhos, isto ocorreu após o fim do relacionamento do casal.

A infância de todas foi permeada de pobreza material e emocional, marcada por privações, violências, incompreensões e abandono. A imagem da figura materna foi positiva apenas em um caso, e a maioria conviveu com padrastos. Acreditamos que isto as impediu de ter um desenvolvimento emocional que as possibilitasse maternar. Na verdade são mulheres pobres e abandonadas pela família, pela sociedade e até por elas mesmas.

Os sentimentos experimentados, após a doação, foram de tristeza, impotência, culpa e arrependimento. Algumas alimentam a expectativa de reencontrar os filhos doados, enquanto duas não demonstraram sentir qualquer afeto por eles. Entretanto, todas demonstraram amor em relação aos filhos com os quais permaneceram. Elas entregaram os filhos a pessoas que sabiam que iam cuidar bem deles e acreditam que estão em melhor situação do que se estivessem com elas.

Quanto às repercussões da doação na vida das mulheres, percebemos que embora tenham vislumbrado um novo recomeço, todas se mostraram amarguradas, cansadas, insatisfeitas e infelizes, embora tenhamos consciência que não necessariamente está tudo relacionado à doação e sim às condições gerais de vida. Além do desenvolvimento de problemas somáticos e emocionais, algumas se sentem na iminência de sofrer um castigo divino que virá ou veio na forma de doença, perda ou mesmo o desejo de dar um filho ao atual marido, sem o conseguir.

Com este estudo pudemos entender que a mãe desenvolve sentimentos diferentes em relação a cada filho, o que comprova que o amor materno é construído através da convivência, conforme salientara Badinter (1985). Também pudemos apontar alguns aspectos que envolvem o ato de doar o filho, porém jamais podemos apreendê-los por completo. Foi possível fazer algumas considerações gerais, mas cada caso é particular, único, com uma história velada. A conclusão à qual chegamos é que a motivação para o ato de doar um filho é contextualizada e individual, dependendo de fatores sociais, porém, muito mais de fatores intrapsíquicos. Trata-se de um assunto complexo e impossível de ser generalizado, podendo apenas ser registrado o que chegou à nossa compreensão. Há que se observar as peculiaridades de cada caso e os fatores a eles subjacentes.

Pontuamos a necessidade dos profissionais de saúde acolher essas mulheres criando alternativas de intervenção, inclusive durante a gestação, no sentido de (re)estabelecer o processo simbólico e histórico que expressa a constituição da identidade dessa mulher enquanto sujeito, para que ela seja capaz de ser agente regulador de sua própria vida, de maneira que tome sua decisão consciente de seu desejo. Entendemos que se faz necessário um espaço de acolhimento onde as gestantes possam falar de suas angústias relativas à situação de maternidade e às mudanças que ela acarreta, para que se criem outras possibilidades de inserir o bebê na sua vida a partir da apropriação de si. Se for o caso, após se esgotarem todas as possibilidades de manutenção do filho junto à mãe, ampará-la na decisão de entrega para que esta seja feita da melhor forma, garantindo a integridade e o acolhimento de ambos. Apontamos ainda para a importância de novas pesquisas que incluam o genitor da criança doada, assim como os familiares envolvidos na doação, para uma melhor compreensão do contexto e da dinâmica das relações que permeiam os personagens dessa trama.

 

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Recebido em 09 de março de 2011
Aceito em 07 de abril de 2011
Revisado em 15 de Agosto de 2011

 

 

* Este artigo é parte da dissertação intitulada "Mães doadoras: motivos e sentimentos subjacentes à doação", elaborada pela primeira autora sob orientação da segunda. As autoras agradecem o apoio da CAPES.