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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.3 Fortaleza  2011

 

AUTORES DO BRASIL
ARTIGOS

 

A família e o indivíduo no curso vital: compreensão trigeracional sobre a morte e o morrer*

 

Family and the individual vital course: trigeracional understanding about death and dying

 

La familia y el curso vital individual: comprensión trigeracional de la muerte y morir

 

La famille et le cours vital individuel: compréhension de trigeracional sur la mort et les mourants

 

 

Caroline Garpelli BarbosaI; Carmen Maria Bueno NemeII; Lígia Ebner MelchioriIII

IProfessora do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Paulista. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista. End.: R. Maria Térci, 87, Jd. Morumbi 2. CEP: 18085610 - Sorocaba - SP. E-mail: psica_ca@yahoo.com.br
IIProfessora Livre-docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista. End.: R. Vivaldo Guimarães, 2-34. CEP: 17016-070 - Bauru - SP. E-mail: cmneme@gmail.com
IIIProfessora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista. End.: R. Aviador Mario Fundagem Nogueira 7-36/31. CEP: 17017-324 - Bauru - SP. E-mail: lmelch@fc.unesp.br

 

 


RESUMO

A morte tem sido considerada um tema tabu, que se mantém relegado ao ostracismo. O desenvolvimento de estudos que propiciem a reflexão sobre este assunto permite a ampliação da compreensão, não apenas sobre a morte, mas também sobre a vida, uma vez que ambas circunscrevem-se mutuamente na existência humana. O presente trabalho objetivou compreender concepções e significados familiares do fenômeno da morte em três gerações distintas. Para isso, mediante o método fenomenológico, foram entrevistados um adolescente, ambos os genitores e um avô de uma mesma família, todos individualmente. Após a compreensão das vivências dos participantes apreenderam-se seis categorias: a) Significados da morte; b) A morte própria; c) A morte do outro e/ou sua possibilidade; d) Fontes de apoiio em relação à morte; e) A família diante da morte; f) A vida diante da inevitabilidade da morte. A partir dessas categorias, os dados foram descritos e analisados fenomenologicamente. Os colaboradores apresentaram relatos semelhantes em diversas ocasiões, confirmando que as vivências cotidianas dos membros levam a família a constituir um modo peculiar de compreender e interpretar suas experiências. Tal identidade familiar, contudo, não impediu que cada participante desenvolvesse sua história particular ancorada em elementos idiossincráticos e associada à etapa do ciclo vital em que se encontra. Os relatos evidenciaram que a interdição da morte na sociedade e na família ainda é muito presente, dificultando a comunicação e o compartilhar de sentimentos e concepções sobre a morte no cotidiano. Este estudo possibilitou aos colaboradores a reflexão sobre suas vivências em torno do fenômeno da morte e, consequentemente, sobre as indissociáveis relações entre o viver e o morrer. Permitiu ainda reiterar a literatura, mostrando a similaridade de concepções entre os membros familiares de três gerações sobre um fenômeno vital potencialmente impactante no ciclo de vida individual e familiar.

Palavras-chave: Morte, família, fenomenologia, ciclo vital.


ABSTRACT

The death has been considered a forbidden issue. The development of studies that promote reflections about it allows the enlargement of the understanding, not only about death, but also about life, once both are related during the human existence. This research aims an understanding of death's conceptions and meanings inside one family, involving three different generations. For this goal, through phenomenological methodology, an adolescent, both his parents and the grandfather, all belonging to the same family, were interviewed individually. After understanding the experiences of the participants' six categories were developed: a) Meanings of death; b) The death itself; c) The death of another and/or its possibility; d) Sources of support in relation to death; e) The family in the presence of death; f) Life on the inevitability of death. From these categories, the data were described and analyzed phenomenologically. The participants showed similar reports in several occasions, confirming that the family's members everyday experiences lead the family to a peculiar way to understand and interpret their experiences. Such family iden-tity, however, did not prevent each participant to develop his particular story, anchored in idio-syncratic elements and associated with the stage of the life cycle. The reports showed that the prohibition of death in society and in the family is still very present, hindering communication and the sharing of feelings and conceptions of death in everyday life. This study allowed the partici-pants to reflect on their experiences around the phenomenon of death and, consequently, on the inseparable relationship between living and dying. It has also reiterated the literature, showing a similarity of views among the family members of three generations on a vital and potentially im-pacting phenomenon, in the life cycle of individual and family.

Keywords: Death, family, phenomenology, vital cycle.


RESUMEN

La muerte se ha considerado un tema tabú que sigue siendo relegado al ostracismo. El desarrollo de estudios que proporcionan una reflexión sobre este tema lleva a una comprensión más amplia, no sólo acerca de la muerte, sino también sobre la vida, ya que ambos se limitan el uno al otro en la existencia humana. Este estudio ha tenido como objetivo comprender los conceptos y significados familiares del fenómeno de la muerte en tres generaciones distintas. Para ello, se realizó una entrevista individual a un adolescente, a sus progenitores, y a uno de sus abuelos, mediante el método fenomenológico. Después de comprender las experiencias de los partici-pantes, se distinguieron seis categorías: a) Significados de la muerte, b) La propia muerte, c) La muerte de otro y/o su posibilidad, d) Las fuentes de apoyo en relación a la muerte, e) La familia ante la muerte, f) La vida en la inevitabilidad de la muerte. A partir de estas categorías, se des-cribieron y analizaron los datos de forma fenomenológica. Los colaboradores presentaron informes similares en varias ocasiones, lo que confirma que las experiencias cotidianas de los miembros hacen que la familia constituya un modo peculiar de entender e interpretar sus experiencias. Sin embargo, esta identidad familiar, no impidió que cada participante desarrollase su particular historia anclada en elementos idiosincrásicos y asociada a la etapa del ciclo de vida en el que se encuentra. Los informes mostraron que la interdicción de la muerte en la sociedad y las familias aún está presente, lo que hace difícil de comunicar y compartir sentimientos y conceptos acerca de la muerte en la vida cotidiana. Este estudio hizo posible que los colaboradores reflexionasen sobre sus experiencias en torno al fenómeno de la muerte y, en consecuencia, sobre la relación inseparable entre la vida y la muerte. Permitió también reiterar la literatura, mostrando la similitud de conceptos entre los miembros de tres generaciones, en una misma familia, acerca de un fenómeno vital que afecta potencialmente al ciclo de vida individual y familiar.

Palabras-clave: Muerte, familia, fenomenología, ciclo vital.


RÉSUMÉ

La mort a été considérée comme un thème tabou qui reste relégué à l'ostracisme. Le développement d'études favorisant la réflexion sur ce sujet permet un élargissement de la compréhension, non seulement de la mort, mais également de la vie, dès lors que toutes deux se cótoient mutuellement au cours de l'existence humaine. Ce travail a pour objectif de comprendre les conceptions et les significations familiales du phénomène de mort pour trois générations distinctes. Pour ce faire, au moyen d'une méthodephénoménologique, on a interrogé, individuellement, un adolescent, les deux parents et le grand-père d'une même famille. De par la compréhension des expériences de vie des participants, on a retenu cinq catégories: a) significations de la mort; b) la mort en elle- même; c) la mort de l'autre et/ou sa possibilité; d) sources de soutien par rapport à la mort; e) la vie face au caractère inévitable de la mort. À partir de ces catégories, les données ont été décrites et analysées de manière phénoménologique. Les collaborateurs ont présenté des récits semblables en diverses occasions, confirmant ainsi que le quotidien de ses membres mène la famille à établir une façon particulière de comprendre et d'interpréter ses expériences. Cette identité familiale n'a cependant pas empêché que chaque participant développe ses propres réflexions, ancrées dans des éléments idiosyncratiques et associées à l'étape du cycle de vie dans lequel se trouve chacun d'eux. Les récits ont mis en évidence que l'interdiction de la mort dans la société ainsi que dans la famille est encore très présente, rendant difficile la communication et le partage de sentiments et de conceptions sur la mort au quotidien. Cette étude a rendu possible, pour les collaborateurs, une réflexion sur leurs expériences autour du phénomène de la mort et, en conséquence,sur les relations indissociables entre le fait de vivre et celui de mourir. Elle a permis en outre de faire écho à la littérature, montrant la similitude de conceptions entre les membres d'une même famille au travers de trois générations sur un phénomène vital potentiellement impactant dans le cycle de vie individuel et familial.

Mots-clés: Mort, famille, phénoménologie, cycle de vie.


 

 

Introdução

O fim da existência é uma preocupação inerente à humanidade, constatada desde os primeiros registros a que se tem acesso. É comum a tentativa de elucidar o significado da morte com questionamentos acerca da origem da vida, da possível imortalidade da alma, do local para onde se vai após a morte, entre inúmeras outras indagações. Entretanto, apesar de tantas perguntas, a morte ainda é um assunto tabu; algo misterioso e assustador, para o qual não há respostas satisfatórias (Kovács, 2003a).

A maior parte das pesquisas relacionadas ao estudo da morte em nossa sociedade encontra-se associada aos profissionais de saúde que lidam com a terminalidade de pacientes (Boemer, Rossi, & Nastari, 1991; Brêtas, Oliveira, & Yamaguti, 2006; Starzewski Jr, Rolim, & Morrone, 2005; Poles & Bousso, 2006; Shimizu, 2007; Steytler, 2007; Tada & Kovács, 2007) e às pessoas que passaram por perdas significativas ou que estão enfrentando a iminência da morte de alguém próximo (Mufson, 1985; Schwab, 1997; Parkes, 1998; Daugherty, 2002; Znoj & Keller, 2002; Domingos & Maluf, 2003; Burton, Haley, & Small, 2006; Gudmundsdottir & Chesla, 2006; Horsley & Patterson, 2006; Jucá et al., 2007; Rodger, Sherwood, O'Connor, & Leslie, 2007; Doherty & Scannell-Desch, 2008; Oliveira & Lopes, 2008). Em número reduzido, encontram-se trabalhos de caráter psico-educativo (Kovács, 2003a; Kovács, 2003b; Kovács, 2005; Rodriguez & Kovács, 2005), que buscam abordar a morte como fenômeno da vida, trazendo-a como alvo de reflexões no contexto da vida cotidiana.

A identificação de vivências individuais dos integrantes de uma mesma família, em diferentes fases do ciclo vital, pode contribuir para que um novo olhar seja lançado sobre essa temática, representando um exercício que busca estimular o desenvolvimento de uma concepção de educação na qual esse tema possa ser tratado como parte da vida.

 

A Morte Vista ao Longo do Desenvolvimento Humano

Com frequência os adultos acreditam que a criança não é capaz de compreender a morte. Entretanto, mesmo sem vivenciar a morte de algum ente querido, ela está constantemente em contato com esta questão por meio de conteúdos e imagens televisivas, em contos e jogos infantis, ou ainda, pela experiência da perda de um brinquedo, um animal de estimação ou situação similar vivida. A forma como organizará os sentimentos desencadeados pela noção de morte, dependerá do seu desenvolvimento afetivo e cognitivo (Vendruscolo, 2005). Speece e Brent (1984) destacam três dimensões do conceito de morte segundo Piaget, relacionadas aos estágios do desenvolvimento cognitivo: irreversibilidade; não-funcionalidade e universalidade. A irreversibilidade é o entendimento de que uma coisa com vida, após morrer, não pode voltar a viver, pois a morte é algo definitivo e irrevogável. Já a não-funcionalidade é a compreensão que se adquire de que a morte se dá pela cessação das funções vitais, e o conceito de universalidade refere-se à compreensão da inevitabilidade da morte para todas as pessoas e seres vivos.

Uma pesquisadora brasileira que vem abordando a compreensão deste tema em diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo, principalmente na infância, é Torres (1979; 1999; 2002). Ela destaca que até por volta dos três anos, a criança que vivencia uma perda acredita que quem morreu voltará e não tem capacidade para compreender a realidade da morte. Entre três e cinco anos, a morte é associada à imobilidade, e a vida é equiparada a tudo o que se movimenta; a criança ainda vê a morte como algo reversível e não definitivo. Após os cinco anos, a morte continua a ser atribuída a intervenções externas e há a crença de que não acontece com todos, apesar de a criança já começar a perceber que se trata de algo que não pode ser revertido. Entre nove e dez anos, há a percepção de que a morte envolve cessação das atividades corpóreas e há diminuição do pensamento mágico, possibilitando que passe a ser vista e percebida como um processo biológico e irreversível, capaz de acontecer com qualquer pessoa, inclusive com ela mesma. No entanto, ao pensar em sua própria morte, a criança a associa apenas à velhice e à doença e não a algo que pode acorrer a qualquer momento no curso de vida (Torres, 1999; 2002).

Com a entrada na adolescência, os conceitos de irreversibilidade, não-funcionalidade e universalidade da morte apresentam-se de maneira mais consolidada, possibilitando que a consciência da morte de si mesmo possa aparecer como um evento concreto e real, uma vez que a capacidade cognitiva do adolescente assemelha-se à do adulto. No entanto, o morrer próprio ainda é tratado como algo muito distante. Uma explicação para isso encontra-se no fato de que a adolescência frequentemente é vivida como sendo a porta para a liberdade, momento no qual necessita crescer e assumir responsavelmente suas escolhas, com os olhos voltados para o futuro. Tal sensação de liberdade, muitas vezes leva o adolescente a sentir-se onipotente, o que o faz colocar-se em situações ameaçadoras, sem que perceba que pode prejudicarseriamente sua saúde ou, até mesmo, vir a morrer de maneira precoce (Bee,1997; Kovács, 2003a). Neste sentido, embora já exista a compreensão cognitiva sobre o fenômeno da morte em todos os seus elementos constitutivos, durante a adolescência parece não haver espaço para pensamentos relacionados a ela e, o morrer próprio é considerado possibilidade remota. Ao desafiar seus limites, o adolescente também desafia a morte e acaba por acreditar que ela se encontra muito distante de si (Kovács, 2002).

No início da idade adulta há um aumento de responsabilidades com relação à vida social, profissional e afetiva, o que leva a um maior cuidado, mas também a um maior investimento nas tarefas da vida, afastando a idéia de morte do presente e do rol das possibilidades cotidianas. Por volta dos quarenta ou cinquenta anos, o adulto começa a fazer um balanço de sua vida até aquele momento e a morte deixa de ser observada de maneira tão distante, para tornar-se algo mais próximo. Surge a idéia da morte própria, e essa constatação pode trazer a necessidade de revisões e de ressignificações da própria existência (Kovács, 2002). Segundo Bee (1997), a fase adulta intermediária seria o período em que o temor da morte encontra-se no pico mais elevado, pois é o momento em que parece existir um contato mais próximo com a idéia da inevitabilidade da própria finitude. Pode-se considerar que a pessoa chegou ao auge de sua vida e que a partir daí, inicia uma segunda etapa de sua existência, na qual os declínios apresentam-se com maior concretude. Nesta etapa desenvolvimental, os sinais de envelhecimento manifestam-se de modo mais evidente e a morte de pessoas próximas, geralmente dos genitores, passa a ser mais frequente.

A morte durante a velhice é mais aceita pela sociedade, pois há a idéia de que as pessoas desta faixa etária já passaram por todas as fases que tinham que passar e estão próximas ao fim do curso vital (Boemer, Zanetti, & Valle, 1991). Rosenberg (2002) destaca que quanto mais satisfatória a vida de alguém, menor será o temor existente diante da morte, pois o foco da atenção da pessoa está no presente e nas atividades que ela está realizando. Em contrapartida, o contrário também é verdadeiro. Quanto mais insatisfatória a vida, mais a pessoa agarra-se a ela numa tentativa paradoxal de afastar a morte e realizar algo que atenda às suas necessidades.

Todas as concepções presentes na vida de cada indivíduo são desenvolvidas ao longo do curso vital. Os genitores e os membros do grupo familiar desempenham importante papel em relações à transmissão de valores e crenças a seus filhos, o que repercutirá no modo pelo qual a vida e a morte serão compreendidas e significadas pelos diferentes membros da família, em cada etapa de seu desenvolvimento.

 

A Família Diante da Morte

A família, ao longo de sua evolução através do ciclo vital, experiencia momentos distintos em sua formação e desenvolvimento, que passam por transições, crises e adaptações, situações que junto das características individuais de cada um de seus membros definirão os modos como essa família se organizará e significará a si própria (Carter & Mcgoldrick, 1995).

Alguns estudos nacionais e internacionais mostram que a família desempenha um papel chave na significação da morte e, fundamentalmente, na elaboração do luto (Kissane, Mckenzie, Bloch, & 1997; Daugherty, 2002; Domingos & Maluf, 2003; Wooding & Raphael, 2004; Gudmundsdottir & Chesla, 2006; Jucá et al., 2007). Isso porque, muitas das concepções e modos de enfrentamentos presentes na vida dos indivíduos são desenvolvidas ao longo da convivência familiar, na medida em que compartilham experiências, sentimentos, afetos, significados, ou seja, na medida em que coexistem (Delgado, 2005).

De acordo com Gudmundsdottir e Chesla (2006), embora uma perda afete todos os indivíduos da família de modo distinto, em suas interações diárias eles compartilham a experiência do luto e, assim, afetam uns aos outros não só em suas práticas, mas também em seus discursos e relações. Esses autores desenvolveram um estudo com sete famílias, totalizando 15 genitores que perderam seus filhos. Como resultado, obtiveram que, diante do luto, cada família desenvolveu sua própria prática de significação e elaboração da perda, uma vez que o apoio cultural e da sociedade foram relatados como insuficientes para auxiliá-los nesse diante desse sofrimento. Não obstante, apontam que, a despeito da família ser apresentada como um meio importante para a superação da perda, poucos são os pesquisadores que enfatizam o papel do funcionamento familiar nestas experiências.

Corroborando as considerações de Gudmundsdottir e Chesla (2006), verificou-se que, entre os estudos que abordam as experiências de morte e luto no interior das famílias, há predominância daqueles que enfatizam o impacto da morte de um dos membros da família nuclear, em detrimento dos que buscam compreender como a família se organiza diante das perdas. A fim de exemplificar alguns dos estudos encontrados, a seguir serão descritos alguns deles e suas implicações.

De acordo com Brown (2001), Aao se levar em consideração os fortes vínculos existentes entre as pessoas de um círculo familiar é possível veerificar que a perda de um dos seus integrantes é uma das mais árduas adaptações experienciada por uma família. Tanto, que dependendo de quem morre, é possível até mesmo a ocorrência de uma ruptura no grupo familiar, podendo chegar ao extremo de um ou mais de seus membros não conseguirem completar suas tarefas ao longo do ciclo vital (Brown, 2001).

Conforme apontam Bromberg (1994) e Brown (2001), a fim de se obter uma melhor compreensão acerca dos efeitos do luto dentro do círculo familiar é preciso considerar uma série de aspectos que incluem: a) a relação existente com a pessoa que morreu e o quanto ela era significativa dentro da família; b) a idade e o género; c) a natureza da morte (acidente, doença, repentina); d) as vulnerabilidades pessoais; e) o contexto social e étnico da morte; e f) a história de perdas anteriores. Nessa mesma direção, Parkes (1998) acrescenta que, a previsibilidade e a imprevisibilidade, bem como as oportunidades de preparação para a perda também podem afetar a intensidade e magnitude da reação ao luto, uma vez que a morte tranquila e silenciosa de um idoso acarreta em um sofrimento distinto daquele decorrente de uma morte trágica e repentina de um jovem.

A morte de crianças e adolescentes são as que provocam maior ruptura e crises na família, uma vez que a morte de um filho é considerada uma grande tragédia, por parecer se tratar de algo não natural e fora de lugar no curso de vida, o que gera sentimentos de frustração, impotência, dor, tristeza, sofrimento e intensa angústia. A maioria dos pais vê o filho como sua própria extensão e, muitas vezes, projeta nele os seus sonhos e esperanças, de modo a perder parte de si mesmo quando ele morre (Brown, 2001). Sentem-se fracassados por julgarem que seu amor não foi suficiente para evitar a morte do filho e é comum o sentimento de culpa por ainda estarem vivos, contrariando a expectativa natural de morrerem antes (Oliveira & Lopes, 2008).

Além de ser impactante para os genitores, a morte de uma criança/adolescente também influencia a vida dos irmãos que vivenciam tal perda. Em algumas ocasiões, os pais se fecham em sua própria dor, esquecendo-se que o filho que ficou também necessita de suporte emocional neste momento (Packman, Horsley, Davies e Kramer, 2006). Alguns estudos (Mufson, 1985; Schwab, 1997; Horsley & Patterson, 2006) apontam que a falta de comunicação sobre a morte do irmão entre os pais e o filho é um dos principais fatores de desencadeamento de problemas no sistema familiar, pois gera isolamento, levando cada um a lidar com seus medos e angústias sem o suporte necessário.

Já o impacto da morte de um adulto irá depender da fase do desenvolvimento na qual a família se encontra. Quando os filhos são independentes ou têm suas próprias famílias, o cônjuge sobrevivente é quem terá maiores dificuldades em lidar com a situação. Nesta etapa do desenvolvimento, a maioria dos casais está experienciando menos responsabilidades e disponibilizam um tempo maior para aproveitarem um ao outro. Assim, quando um dos cônjuges morre, aquele que fica precisa reorganizar sua vida, de modo a passar seus últimos anos sozinho ou iniciar um novo relacionamento. Quando há forte dependência emocional, a morte de um dos cônjuges pode levar o que continua vivo a um desespero tão intenso a ponto de cometer suicídio, ou desenvolver doenças graves devido ao sentimento de perda emocional do próprio eu (Brown, 2001).

Um estudo realizado com participantes que perderam seus cônjuges de maneira repentina e inesperada mostrou que a dor de tal experiência é constantemente presente em suas vidas, afetan- do a visão que têm de si próprios e a maneira como se relacionamcom outras pessoas e com o mundo (Rodger et al., 2007). Na morte entre casais idosos, a dor da perda pode ter consequências ainda mais sérias, pois, além do companheiro de vários anos, o cônjuge também pode perder muitos de seus contatos sociais, a segurança financeira e a independência (Hanson & Stroebe, 2007).

Além de afetar diretamente o conjuge, a morte de um adulto poderá interferir no desenvolvimento dos filhos, principalmente quando ainda vivem na mesma casa que os pais e não construíram a própria independência. Nesse sentido, a morte de um dos genitores pode desencadear e acirrar conflitos de relacionamentos familiares, além de trazer dificuldades económicas nos casos em que o falecido era o único provedor da família (Brown, 2001; Domingos & Maluf, 2003).

Embora cada etapa do desenvolvimento humano apresente peculiaridades quanto à percepção e ao modo de lidar com a morte, desde a infância o homem defronta-se com a consciência da finitude, a qual vai se aprofundando no decorrer do desenvolvimento. Assim, o sentido que cada pessoa dá à morte, relaciona-se à cultura, à família e às significações próprias que cada um vai construindo ao longo de sua vida.

Ao abordar as consequências ou legados da perda por morte vivida em família, McGoldrick (1998) ressalta que os efeitos multigeracionais da perda podem fortalecer os sobreviventes ou podem deixar um rastro destrutivo, dependendo de como se enfrenta a crise instaurada pela morte e luto familiares. O peso de uma perda não aceita ou não resolvida pode se tornar um fardo para a geração seguinte, levando àá repetição de padrões familiares, com efeitos limitadores ou incapacitantes para a família. Para a autora, quando a morte é conflituosa, quando há um acumulo de perdas ou quando a morte é cercada de sigilo, a recuperação da família e de seus membros é prejudicada, pois, "a morte sempre deixa um legado, quer ele seja de fortalecimento ou de trauma, que fecha um sistema e distorce os relacionamentos dos sobreviventes" (p.150).

Para Pincus e Dare (1981), o equilíbrio da família e de cada um de seus membros ao vivenciarem uma perda e um processo de luto associa-se à capacidade da família em manter relacionamentos significativos, em não transformar a dor e a culpa em tabuou segredo, e em manter a flexibilidade, necessária à adaptação e à ressignificação da vida após a etapa do luto. Para os autores, o segredo e o tabu que ainda cercam a morte costumam resultar em alto custo emocional que, ao invés de proteger os membros da família, apenas evidenciam o terror de não se conseguir lidar com as consequências da perda.

Embora a morte possa estar presente faça parte da vida de cada ser-no-mundo, bem como dno ciclo vital de todas as famílias, segundo McGoldrick (1998), ainda há carência de um maior conhecimento sobre as concepções de morte numa perspectiva evolutiva entre gerações e sobre o impacto das perdas no contexto familiar, vistas como transições normativas no ciclo de vida familiar. O desafio a este tabu é necessário para que educadores e terapeutas possam confrontar e lidar com questões sociais e familiares cruciais a respeito da morte e de seus efeitos imediatos e a longo prazo nas famílias e em seus diferentes membros. Para isso, é fundamental que se conheça como os membros de uma família compreendem e lidam com a questão da morte, de um modo que se possa auxiliá-las a desenvolver formas mais abertas de conceber e refletir sobre este acontecimentoo fenômeno da morte. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo compreender como no interior de uma mesma família se dá a relação com a própria finitude e com as perdas em três etapas da vida, a saber, na adolescência, na vida adulta intermediária e na velhice.

 

Trajetória Metodológica

A fenomenologia permitiu à psicologia adotar uma nova postura na interrogação dos fenômenos, possibilitando-a dirigir-se para além do estudo dos comportamentos observáveis e controláveis, para seguir rumo à compreensão dos significados presentes no diálogo do homem com o mundo (Bruns, 2007). Assim, se no campo da Filosofia o método fenomenológico pretende chegar à essência do próprio conhecimento, na Psicologia fenomenológica há a busca pela compreensão das vivências do indivíduo, isto é, pela percepção e significados que cada um intimamente atribui à própria experiência. Neste sentido, a abertura metodológicae a perspectiva teórica fenomenológica mostram-se pertinentes e adequadas para a proposta desse estudo, uma vez que permitem o acesso ao modo como cada participante vivencia a morte e as experiências a ela relacionadas.

 

O Contato com a Família

Na tentativa de encontrar adolescentes que apresentassem interesse em contribuir com a pesquisa, foi realizado contato com uma escola, na qual a pesquisadora informou aos alunos sobre o estudo, convidou-os a colaborar e coletou dados pessoais para posterior contato. Àqueles que demonstraram interesse foi encaminhada uma carta aos pais, que tinha como objetivo informar sobre a disponibilidade do filho em participar da pesquisa, bem como os convidava a colaborar com a mesma.

Com os dados dos interessados em mãos, a pesquisadora telefonou para as famílias, explicou os objetivos do estudo, bem como os procedimentos éticos de sigilo e anonimato, e fez os convites para a participação. Em uma das ligações o próprio adolescente atendeu e disse que não tinha mais interesse em participar. Nas demais famílias contatadas foram as mães que atenderam as ligações. Elas disseram que o filho ainda não lhes havia entregue a carta de apresentação, e apenas uma falou que o filho comentou sobre a pesquisa. Observou-se certo receio por parte das mães no início da conversa e, principalmente, estranhamento no que dizia respeito à temática da pesquisa. Após novas explicações, incluindo a questão da utilização científica dos dados e da proposta do estudo, duas mães disseram não ter interesse em participar, alegando motivos particulares. Outras três contatadas demonstraram interesse, mas para que o estudo fosse desenvolvido era necessário que o marido e pelo menos um dos avós também aceitassem participar. Dessas, apenas uma confirmou sua participação, bem como a de toda a família (filho, marido e avô paterno).

Assim, contribuíram para o desenvolvimento desse estudo, um adolescente (15 anos), seus genitores (pai - 45 anos; mãe - 40 anos) e avô paterno (86 anos). O Quadro 1 apresenta a caracterização dessa família.

 

 

A Entrevista

Foram agendadas entrevistas individuais com cada membro da família, na própria residência dos colaboradores. Todas as entrevistas foram gravadas e realizadas em ambientes sujeitos a pouca interferência, resguardando-se a privacidade, o anonimato e o sigilo necessários.

A entrevista iniciava-se com um preâmbulo em que a pesquisadora introduzia a temática, apontando para a dificuldade que há em se abordar a morte em nossa sociedade, e ressaltando a importância de se estudar o assunto. Posteriormente, cada colaborador assinou o termo de consentimento para participar do estudo e cinco questões norteadoras foram realizadas:

a) Gostaria de saber sobre como é a morte para você. Como você vê esta ques-tão?

b) Como sua família vê e lida com a morte?

c) Diante dessa sua visão da morte, como você vê a vida?

d) O que você acha que foi determinante ou importante para que você desenvolvesse esta maneira de ver a morte e também a vida?

e) Como foi para você falar sobre esse assunto comigo?

Em cada uma das questões, permitiu-se ao entrevistado falar livremente sobre suas vivências e, de acordo com suas descrições, foi possível fazer novas indagações, a fim de aprofundar e ampliar o relato. Esse procedimento foi mantido para todas as questões, embora no decorrer da entrevista as indagações se misturassem devido ao caráter intersubjetivo e flexível da mesma. As entrevistas foram concluídas no momento em que os dados começaram a se repetir, o que na abordagem fenomenológica sugere que a essência do fenômeno está suficientemente revelada.

 

Passos para a Análise das Entrevistas

Todas as entrevistas foram transcritas na íntegra, de modo a preservar o estilo de se expressar de cada participante e o respeito às pausas em suas falas. A análise das descrições das vivências pautou-se nas indicações de Martins e Bicudo (1989), Valle (1997), Bruns e Trindade (2007), conforme apresentados na sequência:

a) Leitura global de todos os relatos em uma tentativa preliminar de apreender o modo como cada entrevistado vivencia o fenômeno da morte;

b) Releituras dos relatos, de modo a organizá-los em unidades de significados, buscando aprofundar a percepção que cada entrevistado apresentava com relação ao fenômeno da morte. As unidades de significados foram obtidas destacando-se nos próprios textos dos participantes, trechos em que era possível perceber o significado atribuído por eles à vivência investigada;

c) Identificação de convergências e divergências entre as unidades de significados para em seguida agrupar os temas recorrentes em categorias que melhor representassem as falas dos entrevistados;

d) Compreensão e interpretação das unidades de significados a partir da articulação entre os referenciais teóricos da psicologia da família e desenvolvimento humano. Com isso, bus- cou-se estabelecer relações e aproximações entre as vivências relatadas do adolescente, genitor e avó, em uma perspectiva que partiu do individual de cada entrevistado e procurou englobar a perspectiva trigeracional.

 

Apresentação das Categorias Temáticas

A partir da leitura e compreensão dos relatos foi possível apreender cinco grandes categorias temáticas: a) Significados da morte - aborda como os colaboradores compreendem o fenômeno da morte, bem como suas crenças e incertezas a respeito do tema; b) A morte própria - diz respeito ao modo como os colaboradores vivenciam a possibilidade da morte de si mesmos; c) A morte do outro e/ou sua possibilidade - os colaboradores rememoram as perdas mais significativas que tiveram ao longo de suas vidas e pensam na possibilidade da morte daqueles com quem convivem diariamente; d) Fontes de apoio em relação à morte - no contexto das vivências diante das perdas, os colaboradores apontam importantes fontes de apoio para a aceitação da morte e o enfren- tamento das situações de perdas; e) A família diante da morte - revela como a família aborda a temática morte na vida cotidiana; f) A vida diante da inevitabilidade da morte - as reflexões sobre a morte e o morrer dão espaço para que a vida também seja ob- jeto de ressignificação.

Todas as categorias apresentaram subcategorias (citadas em itálicos ao longo do texto) que foram ilustradas no decorrer da apresentação da família, com excertos das falas dos participantes. Foi utilizado como legenda: pequena pausa - (...); pausa de mais de 3 segundos - [...]; som de negação - tsctsc; risos - (rs).

 

Análise Compreensiva da Família

Ao serem questionados a respeito de suas vivências individuais diante da morte e do morrer, os integrantes da Família recorreram a um discurso genérico para adentrarem ao tema, de modo a direcionarem suas falas aos Significados da morte. Num primeiro momento, todos se referiram a ela como um Processo natural do desenvolvimento humano:

Hum, penso como uma conversa comum [...] É coisa que acontece, que eu sei que vai acontecer. Qualquer um vai morrer. Cedo ou tarde vai acontecer, aí é como se eu já esperasse. Deixa de ser surpresa. (Adolescente)

Uma a mais. A mãe engravidou, o bebê vai nascer, se a gente está aqui, nós vamos morrer e ninguém voltou para trás, não é?! Como o bebê não voltou (rs) nunca ninguém (...) nunca voltou para a barriga de novo, e nós também, acho que nós não vamos voltar (...) É a mesma etapa, né. Do mesmo jeito que a mãe vai parir o filho, nós vamos ter que encarar a morte (Mãe)

Para mim, a morte, assim, se eu for tirar a religião, eu acho que seria um, um (...) como um apagar de luz (...). Um apagar de luz. Você vai numa escuridão imensa e fica, entendeu. É dessa forma que eu vejo a morte. (Pai)

Para mim, a gente nasce, vive, não é uma coisa [...] para sempre, né [...] tem que acabar, ter a morte. (Avô)

Essas falas iniciais exemplificam como essa família costuma se referir à morte em seu viver cotidiano, a saber, observando-a sob um ponto de vista distante e indeterminado, que pode acontecer a qualquer hora e local. No entanto, sem se configurar em uma ameaça real e concreta. Tal maneira de se referir à morte também se desvela quando os genitores apontam para a possibilidade de que a morte venha a ser a "Continuação da vida" enquanto prolongamento da existência em algum local distinto:

Vamos para algum outro lugar. (Mãe)

Quando você fala em morte, a gente leva muito para o lado da religião, não é. Porque a religião é quem assim, vamos dizer, ensina a gente de que no final da vida a gente vá ter um (... ) vá para um lugar que a gente tenha uma, uma vida melhor que nós temos aqui. Então, é isso que (...) que assim, que em primeira mão a gente lembra, que a gente (...) se você falar em morte é a primeira coisa que vem a nossa cabeça. (Pai)

Segundo o pai, tal pensamento foi aprendido de acordo com as doutrinas religiosas, contudo, ele tem dúvidas quanto à sua veracidade, acabando por indagar-se sobre como seria de fato o momento final da morte, passagem que, a seu ver, ainda se mantém como uma grande incógnita (Morte como um encontro com o desconhecido):

O que é que seria depois da morte, como seria, ou se é, se a gente sente alguma coisa após a morte. Então, a gente não tem idéia, não tem noção, então a gente fica (...) eu acho que a imaginação é tanta que a gente ás vezes até extrapola o real e vai (rs) é isso [...] a gente não tem noção mesmo do que seja, não tem noção se vai ter dor, se vai ter algum sentimento, sem vai ter um outro lado, se realmente existe esse outro lado, se é o que eles incutem na nossa cabeça a religião, né, tem a vida eterna, se tem lá o paraíso, mas é, então, essas coisas, entendeu, assim, eu acho que (... ) então, tem [... ] como eu te falei, é uma incógnita, a gente não sabe realmente o que tem [...] a gente pára e pensa, né, como que será depois da morte, né, e (...) fica aquela interrogação e a gente, como ninguém voltou para contar (rs) então, a gente realmente fica aquela enorme interrogação [...] O medo seria o medo do outro lado, depois da morte, o que é que vem depois da morte, seria este o medo. Não sei se vem coisa boa, não sei se vem (rs). (Pai)

Assim, na concepção do pai, a morte apresenta-se como Aniquiladora dos projetos de vida; deixando de ser vista como algo natural e inerente à existência, para ser observada como um evento externo que interrompe a vida presente e destrói qualquer possibilidade de futuro:

A gente vê a dificuldade da vida, aí quando você vê a morte, ela interrompe, assim, interrompe uma, uma (...) interrompendo a vida, você não tem essa oportunidade de você estar realizando. (Pai)

Com o decorrer da entrevista, apontamentos com relação à Morte própria também foram levantados. O genitor, ao refletir sobre sua finitude, colocou-se em seu papel de pai e revelou Preocupação em deixar os familiares, temendo como eles ficariam em sua ausência:

Depois é deixar os entes queridos, né, a gente pensa (...) é sempre aquela história, a gente pensa que não quer morrer cedo porque tem que fazer as coisas para os filhos, para a esposa, então tem esse lado também, né. (Pai)

A preocupação com os familiares também reflete o medo de deixar de ser quem ele é para essa família, ou seja, de perder seu significado, sua função, importância... Ser esquecido.

Além disso, também relatou o desejo preferencial de morrer sem que perceba esse momento, uma vez que seria uma forma de se esquivar do que o desconhecido lhe proporcionaria, ou uma maneira de evitar a sensação de sofrimento no momento da morte (Desejo da boa morte).

Eu queria ter a morte da minha mãe e da minha avó, que elas morreram dormindo, entendeu. Então é uma morte tranquila, não uma morte trágica, assim, (rs). De modo a não sentir, entendeu. Eu acho que do modo que a minha mãe faleceu, eu acho que, assim, a gente fica mais tranquilo (...) do modo que a minha avó faleceu também. As duas faleceram dormindo, então, eu acho que a gente não fica com tanto medo. (Pai)

Do mesmo modo, o pensamento de uma morte idealizada também foi compartilhado por seu pai:

Eu penso, peço sempre para Deus que me dê sempre uma boa morte (...) que não tenha tanto sofrimento, que a gente faleça (...) faleça sem o sentimento da morte. Sem sentir a morte. (Avô)

O avô, similarmente ao filho, teme vivenciar o momento da morte e deparar-se com a própria finitude. Ambos, em suas respectivas considerações sobre os significados da morte, veem-na como algo natural e inerente ao desenvolvimento humano, porém, como uma ocorrência imposta, contra a qual não há nada que possa ser feito para evitar. No entanto, preocupam-se com o que possa acontecer no exato momento em que ela se faça presente em suas vidas. A diferença entre ambos, contudo, consiste em que o idoso parece sentir-se mais próximo dessa possibilidade, como pode ser observado no momento em que ele diz "sempre" pedir a Deus para que lhe dê uma boa morte.

A mãe, por outro lado, demonstra uma aceitação mais passiva frente à possibilidade de sua morte, revelando ter Consciência da naturalidade do próprio morrer:

Você vai pegando idade né, aí chega uma hora que você vai (...) aí quando você começa, assim, a chegar nos quarenta, você não vai pensar assim, como você (...) Quando você está nos vinte, você pensa até nos trinta, né. Agora, quando você chega nos quarenta, já é (...) que nem assim o meu sogro, que nem, tipo assim (...) a minha sogra já faleceu, então, tipo assim, então você, você vê uma realidade que aconteceu né. Então, é o nosso futuro, né. (Mãe)

A resignação de que a morte inevitavelmente já se faz presente em seu existir, parece ser consequência da reflexão de que a cada dia o avanço da idade não poderá levá-la para lugar algum, a não ser em direção à própria morte. A fala da mãe vai em direção às teorias que descrevem a existência de uma crise durante a meia-idade. Segundo estudos descritos por Bee (1997), esse momento do curso vital é o período em que o temor da morte encontra-se em seu auge, pois seria o momento em que os sinais de envelhecimento começam a se manifestar de modo mais evidente e as mortes de pessoas próximas passam a ser mais recorrentes.

Já o adolescente, embora aparentemente compreenda o fim da vida com naturalidade e apresente os conceitos de universalidade e irreversibilidade da morte bem definidos, relatou sentir-se melhor ao Não pensar sobre o assunto, especialmente quando indagado sobre sua própria morte:

Ah, eu penso que pode acontecer a qualquer hora, né. Posso morrer, tropeçar, cair na escada bater cabeça (...) ou, ser atropelado, mas (...) tento (...) não pensar. Não. Não pensar não. (Adolescente)

O fato de o adolescente preferir não pensar a própria morte pode ser analisado sob dois aspectos que não necessariamente são exclusivos entre si. O primeiro diz respeito à fase desenvolvi- mental na qual ele se encontra. Na adolescência, o jovem adquireum corpo altamente potente, bem como expande suas capacidades cognitivas, o que possibilita seu envolvimento em novos comportamentos sociais e a imersão em um mundo de descobertas, não restando, portanto, espaço para apreensões relacionadas ao próprio morrer (Kovács, 2002). A segunda possibilidade poderia ser decorrência do mal-estar gerado pela dor de pensar o próprio fim. Quanto a esta última hipótese, os relatos do adolescente não fornecem pistas explícitas que a confirmem. No entanto, durante a entrevista, seus comportamentos não verbais denotaram certo desconforto diante das perguntas, em uma tentativa forçada de aparentar serenidade frente ao assunto. Um exemplo dessa postura de negação dos próprios sentimentos póde ser observado quando ele falou sobre a Morte do outro, mais especifi-camente sobre a experiência vivida com a perda de sua avó:

Senti que eu perdi alguém querido, mas não tanto. Não fiquei, sabe como, chorando assim, não [...] Penso: nossa! Morreu? Que pena. Novo, velho, assim. (Adolescente)

Esse modo de se expressar diante de uma situação de perda, ou frente à iminência de morte, banalizando o fato, pode indicar a identificação do adolescente com seus genitores, visto que estes, assim como o filho tentam se referir à morte circunscrever com naturalidade (Morte como algo natural):

A gente não usa o sentimento (...) para não abalar né. Se a pessoa faleceu, faleceu. Então é assim, por mais que a gente tenha, assim, contato de uma semana, tudo, é assim que o pessoal lida assim, sabe [referindo-se ao seu trabalho enquanto auxiliar de enfermagem]. (Mãe)

Então, eu, é como eu te falei, eu já sou um pouquinho mais assim, meio frio, né, entre aspas, né. Claro, eu sinto. Que nem da minha mãe no caso, eu senti muita falta e a gente ficou um tempo assim e (...) é que foi a primeira morte na família (...). Então, como a gente nunca tinha passado isso, então acho que o que mais marcou (...) fica aquele sentimento de perda, (...) mas assim, nãochegou a (...) a (...). Porque eu conheço pessoas que perderam pessoas, entes queridos da família, mãe, pai e não conseguiram sair da depressão, tem que ter um apoio psicológico, né. (Pai)

Contudo, a postura de manterem certo distanciamento dos sentimentos dolorosos que a perda pode desencadear é a expressão de uma tentativa de proteção contra emoções negativas, para as quais, possivelmente, não estariam preparados. Ao banalizarem os casos de morte com os quais tiveram contato, não necessitam dar atenção a eles, de modo que isso os livra do incómodo em se deparar com a possibilidade da própria morte e da tristeza gerada pela ruptura do laço com alguém muito querido. No caso da mãe, este modo de vivenciar tais situações parece ser consequência de seu trabalho enquanto auxiliar de enfermagem, uma vez que, segundo ela, envolver-se sentimentalmente com pacientes terminais poderia levá-la a vivenciar um quadro de sofrimento diante da morte de cada um deles.

O pai, por sua vez, procurou ressaltar que, embora muitas pessoas adoeçam por não saberem dar continência às emoções decorrentes das perdas, ele esforça-se para amenizar o próprio pesar, acreditando ser mais forte do que aqueles que entram em estado depressivo após o falecimento de alguém querido. Todavia, mesmo defendendo-se de suas emoções mais dolorosas, ele não conseguiu evitar o encontro com algumas emoções advindas junto à recordação da morte de sua mãe (Sentimentos negativos e/ou saudade):

Tem de certa forma, assim, o lado sentimental, a gente realmente é (...) tem o lado (...) de você perder uma pessoa querida, né. Então tem aquele abalo. Dependendo da pessoa, a pessoa pode até ter um abalo emocional [...] quando a gente vê assim a pessoa querida, né, que vai, a gente recebe um (...) é um baque mesmo. Tem esse lado mesmo. A gente nunca espera que vá acontecer na nossa família, então, tem esse lado. A gente nunca, para a morte, como é uma coisa imprevisível, a gente não espera e, sendo assim a primeira vez, tem esse lado, que a gente tem esse baque de repente [...] o que mais marcadepois da morte é realmente é a perda, né, a perda da pessoa e eu acho que (...) a gente nunca está preparado também para essas situações. Pode ser que, né, a gente pensa, pode ser que venha a acontecer, mas a gente não, não, acho que não está preparado e (...) é dessa forma que eu vejo, por exemplo, que eu senti, que eu percebi, quando eu vi, né, pela primeira vez assim. (Pai)

Para ele, os sentimentos de tristeza originados pelo contato com a morte vêm acompanhados de uma sensação de espanto, porquanto que, ainda que haja o conhecimento da possibilidade real desse acontecimento, habitualmente há a expectativa e a crença de que não aconteça de fato. No que concerne às vivências do avô, este partilha com seu filho o sentimento de que a perda de pessoas queridas traz um profundo sentimento de tristeza, porém, enfatiza a saudade como principal responsável por sua experiência de pesar:

A gente fica sempre muito sentido por ser uma pessoa querida, conhecido, um amigo, tanto faz, ou parentes. E a gente fica muito sentido [...] A gente recorda um momento, né, um momento que passou e (...) sempre fica sentido né, com aquela perda, porque já a gente não tem mais contato, né, somente no pensamento, né. (Avô)

Geralmente, os idosos experienciam maior quantidade de situações de perdas do que seus filhos e netos. Perdas essas, não apenas vinculadas à morte, mas também relativas ao corpo, à saúde, à atividade financeira e à produtividade (Walsh, 1995; Bee, 1997). O avô havia perdido a esposa dois anos antes da realização da entrevista e se remeteu à data da morte dela, recordando-se detalhadamente do ocorrido (Lembrança da morte do outro e dos momentos compartilhados junto a ele):

Ela morreu em 29 de agosto de 2006 (...) ela estava respirando forte, né (...) e tinha mania de roncar. Então, tinha mania de roncar, estava roncando, né, e roncando forte e roncou, roncou e parou. Quando parou, eu achei esquisito e fui ver já estava falecida, né [referindo-se a esposa]. (Avô)

Em frente a essa realidade, ele sentiu o deflagrar da tristeza:

Ah, a gente sempre fica muito (...) fica sentido. (Avô)

A perda do conjuge, principalmente durante a velhice, impele aquele que se torna viúvo rumo a um mundo potencialmente solitário e vazio, o qual, muitas vezes, ele não se sente capacitado a enfrentar. De acordo com Brown (2001), em situações em que os filhos são independentes ou já construíram suas próprias famílias, o conjuge sobrevivente é quem terá maiores dificuldades em lidar com a perda. Nesta etapa do desenvolvimento, a maioria dos casais está experienciando menos responsabilidades relacionadas à família e disponibilizam tempo para maior proximidade. Além disso, como apontado por Parkes (1998), quando um dos cônjuges morre, aquele que fica precisa reorganizar toda sua vida, uma vez que a morte do conjuge costuma vir associada a outras perdas - renda, casa, amigos - o que pode dificultar ainda mais a elaboração do luto, na medida em que nem todos conseguem passar por essa etapa de modo satisfatório. Dados apontados por Parkes mostram que, entre as pessoas que necessitam de encaminhamento para tratamento psiquiátrico decorrente do luto, 45% tinham perdido o conjuge (35% que perderam o marido e 10%, a esposa); 22% perderam um dos genitores; 14% um filho; 11% outras pessoas, e 9% tiveram perdas múltiplas.

Segundo Bromberg (1994), no início do processo de viuvez, existe uma forte necessidade de manter o outro vivo por meio de lembranças e tentativas de contato, sendo que o esquecimento significaria uma espécie de esvaziamento quando ainda não há a possibilidade do estabelecimento de novas relações. O idoso, ao perceber o falecimento da esposa, encontrou na oração uma forma de ajudá-la e de aproximar-se dela (Preocupação com a falecida):

A primeira coisa que pensei (...) pedi a Jesus para que leve e salve a alma dela, que leve para o céu, na eternidade da felicidade, né. Rezei e depois avisei aos filhos, a todos, e (...) a gente fica sentindo com a perda, mas na esperança de que aquela pessoa está salva né [...] e que eles estão tomando conta da gente. (Avô)

E o sentimento de aproximação com a esposa ainda permanece, ao acreditar que, mesmo após a morte, ela ainda continua cuidando dele. Mas o ritual de realizar orações com o intuito de ajudar a pessoa que morreu não se limitou apenas à esposa, tra- tando-se de uma atitude recorrente em sua vida ao se deparar com a morte de pessoas conhecidas:

Eu sempre peço a Deus que leve ele, salve ele, não condene no fogo do inferno, que leve para o céu, felizmente e eternamente. (Avô)

O preocupar-se com o outro em situações de perda também foi revelado pelo adolescente como um de seus modos de ser diante da morte. Entretanto, para ele, a preocupação faz-se presente diante da família enlutada e não frente àquele que de fato morreu.

Ah, um pouco triste, né, porque da família assim, se acontece alguma coisa, fico pensando como a família sente, mas (...) nada mais. (Adolescente)

Nessa família, a perda mais significativa e impactante até então vivenciada foi a morte da avó. Durante muito tempo ela sobreviveu à doença que a acometia e seu estado de enfermidade encontrava-se cada vez mais grave. Frente a esse padecimento, a mãe considera que a Aceitação torna-se mais fácil, uma vez que parece tratar-se de um fato inevitável:

Então, de repente, estava ali, já estava acamado, tudo, já estava tudo (... ) sabe, já não conseguia sobreviver sozinho, então foi para algo melhor. Então (...) não dá aquela agonia assim de você ficar abatido, essas coisas. Tanto que quando minha sogra também faleceu também foi assim, foi mais tranquilo assim, né. (Mãe)

Segundo Parkes (1998), a previsibilidade e a imprevisibili- dade, bem como as oportunidades de preparação para a perda, podem afetar a intensidade e magnitude da reação ao luto, uma vez que uma morte tranquila e silenciosa de um idoso acarreta em um sofrimento distinto daquele decorrente de uma morte trágica e repentina de um jovem. Para a mãe, o fato de sua sogra já ser idosa e sofrer devido à doença parece tornar-se um fator facilitadorna aceitação e enfrentamento do luto. Testemunhar o sofrimento da sogra afligiu-a de maneira intensa, levando-a a acreditar que a morte se apresenta como um alívio e um prêmio àquele que não pode mais desfrutar da vida com plena saúde. Ao morrer, a sogra deixou de padecer da dor física e do medo de ver a morte apro- ximar-se a cada dia, para, enfim, repousar em uma nova vida, na qual o sofrimento estará ausente (O auxílio da fé: a busca de força e conforto ante a morte do outro):

A gente acha assim que ele partiu para uma vida melhor, né. Que, assim, já cumpriu a missão aqui né. E (...) foi assim, mesmo que a pessoa seja nova, se foi é porque é aquele tempo que tinha que viver mesmo. Ele já veio aqui, cumpriu a missão e foi embora, né. Está vivendo num (rs) outro lugar melhor, né. (Mãe)

Assim, apesar de relatar que a morte da sogra foi aceita com facilidade, o fato correspondeu a um divisor de águas, direcionan- do-a a variadas e novas formas de ver e compreender o mundo, bem como a sua própria vida (Reflexões):

Ela usava aquelas coisas tudo velha [referindo-se à sogra], achando que um dia ia precisar, né. Então, quer dizer, não aproveitou nada do que tinha, assim, materialmente (rs), e (...) morreu. Então, a gente começa, assim, a achar que não adianta você ficar querendo guardar alguma coisa, ou tipo, deixar de (...) se tem condições de viajar, ou, tipo, não vai para depois ir, querer ir depois. Depois a pessoa falece e não vai a lugar nenhum. Então, a gente (...) depois disso que a gente começou a (...) a raciocinar melhor, né, em relação a isso. (Mãe)

Essa perda a fez pensar sobre sua própria vida e seus hábitos, bem como a lançou diante da possibilidade de sua própria morte:

Então, até então quando não tem um, assim na família que já todos estão velhinhos, mas ainda não tem assim, uma morte na família, você não pensa muito (...). Porque, como nasceu muito naquela época, agora começa, né (rs) tem muita morte também. Então, aí a gente começa a raciocinar, porque vê como vem desencadeando, né. (Mãe)

Portanto, a morte de pessoas queridas levou a mãe a perceber que a sua própria morte não é algo tão distante e isso a faz refletir sobre a brevidade da vida e a necessidade de se aproveitar o presente (Reflexões ante a morte do outro: reconhecendo-se mortal e o temor de novas perdas):

Então a gente vai lá no velório, tudo, aí a gente volta, a gente começa a analisar, aí depois passa mais duas ou três semanas: ah, fulano morreu, né. Aí a gente volta e começa a analisar que a vida é muito curta, né. A pessoa nem (...) quando, quando a situação, de repente a financeira melhorou ele se foi. Quer dizer, tipo, quase que nem aproveitou, né (rs). Então, tipo assim, para que deixar para frente. (Mãe)

Com relação ao modo como os colaboradores vêem as compreensões da família diante da morte (A família diante da morte), observa-se que o assunto apenas é trazido à tona diante de seu acontecimento, limitando-se a breves comentários:

Ela estava assim, sofrendo, né. (...) que nem, meu sogro fala assim que (...) que estava aguentando por causa dos medicamentos, né (...) que agora, de repente, está num lugar melhor. Mas também, não fica assim, comentando muito aqui. (Mãe)

Já o pai aponta que, ante essas ocasiões, a família evita tocar no assunto por ser algo doloroso. Para ele, a fuga de conversas que remetessem à morte de sua mãe foi uma forma de evitar que entrasse em depressão (O silêncio diante da morte: afastando o sofrimento):

A gente não tem o costume de ficar conversando, mas quando falece as pessoas a gente também, fica pensando, assim, é (...) acho que é o lado mesmo de quem fica e depois de quem vai, entendeu [...] é que a gente foge, né, dessas situações (...) não sei se é proteção, assim, para a gente não entrar em depressão, nada, né, a genteevitava até de falar muito a esse respeito, entendeu, mas, assim, depois de alguns dias a gente voltou a falar e, agora assim, durante a situação foi mais um silêncio, entendeu, da família [referindo-se à morte da mãe]. (Pai)

Seu filho confirmou essa situação ao dizer que após a morte da avó seus pais não conversaram com ele sobre o assunto:

Não, não falaram assim comigo não [quando perguntado se ele e seus pais conversaram sobre a morte de sua avó]. (Adolescente)

Esse não conversar é refletido pela fala da mãe ao dizer Desconhecer o que sua família pensa acerca da morte e como eles lidam com as situações de perda:

Ah [...] aí eu não sei te dizer, assim, porque, cada hora é uma coisa, assim, né, que a gente foi, bom, faleceu, ah, foi dessa para melhor, né, então, tipo assim, é (...) se a pessoa vai voltar, a gente não, não (...) na brincadeira a gente fala né, ah na próxima reencarnação, assim, sabe, mas não tem assim (...) uma assim (...) fica conversando sobre esse assunto. (Mãe)

Em seu cotidiano, a mãe, assim como os demais integrantes dessa família, procura manter a morte distante, embora fique claro que, mesmo silenciosa, a dor pela perda ocorrida há dois anos ainda se faz presente.

Com o decorrer das entrevistas, os colaboradores também encontraram abertura para mergulharem nas próprias vivências relacionadas ao sentido da vida diante da inevitabilidade da morte. Assim, o adolescente enfatizou a necessidade de aproveitar a vida (Viver no presente e ocupar-se do mundo: distanciando-se da morte):

A gente tem que aproveitar. [...] Tento não ficar pensando para pensar em outras coisas, né: no futuro. (Adolescente)

Para ele, apreciar essa vitalidade implica em não pensar na morte, de modo a mergulhar no seio da vida e lançar-se aos projetos e planos futuros na tentativa de vislumbrar novos horizontes. De maneira semelhante, o pai também destacou a necessidade do deleite da vida. Entretanto, o fato de pensar em sua própria morte durante a entrevista o fez olhar para a sua trajetória existencial e refletir acerca de suas conquistas e projetos (Viver no presente e ocupar-se do mundo: distanciando-se da morte):

A gente vê a morte e aí a gente vê a necessidade de aproveitar melhor a vida, né [...] até uma certa idade, a gente não sabe o que é viver. Aí depois a gente passa a ter uma maturidade, a gente vê com outros olhos, né, também, a vida, né. (Pai)

O avô, por seu turno, diferentemente dos demais colaboradores dessa família, foi o único a não se referir ao viver do ponto de vista do desejo de aproveitar e de superar adversidades da vida. Para ele, o fundamental é viver de acordo com os princípios morais e religiosos, de modo a projetar suas expectativas na providência divina (Escolhas na vida: a existência ética, moral e religiosa):

A vida, a gente nasce, cresce e sempre (...) sempre procura pedir o que (...) a gente acredita em Deus e (...) também se acredita em Deus, a gente pensa em favorecimento dEle, né. Penso sempre que tenho que viver uma vida de verdade, certo, porque (...) não prejudique ninguém, não faça, por exemplo, extravagância, coisa errado e (...) que sempre tenha no coração favorecer os companheiros necessitados [...] nem mentir (...) penso assim. Eu penso que tem que viver corretamente, certinho, sem prejudicar ninguém e que tenha uma morte em paz, né. (Avô)

O apoio religioso diante da idade avançada, que a cada dia leva-o em direção à morte, é um alento à constatação de que não lhe resta mais tempo para almejar grandes realizações em vida. Para si, vê a possibilidade de usufruir de uma morte tranquila e sem sofrimento, que poderá ser alcançada como um prêmio por sua boa conduta ao longo da vida.

Quando questionados acerca de como se sentiram ao falar sobre o a morte e o morrer, os colaboradores reafirmaram o quedisseram ao longo da entrevista. O adolescente reiterou que não se sentiu incomodado ao falar sobre o assunto, uma vez que se trata de algo universal e que precisa ser encarado por todos, inclusive por ele. Sua mãe, também enfatizou a inevitabilidade e a naturalidade do morrer, dizendo que para ela foi tranquilo conversar sobre o tema, pois considera a morte como mais uma etapa da vida. O pai salientou que a morte para ele é uma incógnita, apesar de considerá-la algo que faz parte da vida humana. Para ele, a entrevista possibilitou entrar em contato com alguns de seus medos e falar sobre um assunto sobre o qual não costuma pensar. Com relação ao avô, ele disse que a entrevista levou-o a recordar momentos e perdas passadas, sentindo-se triste devido à saudade das pessoas queridas que não voltam mais. Por outro lado, ele disse ter sentido muita satisfação em poder contribuir com o estudo, mos- trando-se aberto a novas perguntas caso houvesse necessidade.

De acordo com as falas de cada um dos integrantes dessa família, é possível tecer algumas considerações acerca de suas vivências familiares e individuais. Nos relatos dessa família se sobressai a morte vivenciada enquanto ruptura e separação, configurando-se como aquela que traz a ausência, o vazio, a saudade e, com isso, a impossibilidade da manutenção do compartilhamento de uma história de afeto. Como consequência, o contato com emoções concernentes a esse evento costuma ser afastado e naturalizado. Esse movimento de tentar manter a morte distante da convivência familiar, relegando-a ao esquecimento, é o modo que eles encontraram de lidar com esse evento doloroso. E tal afastamento é um traço tão marcante no modo de ser dessa família, que os relatos do filho adolescente e de seus genitores encontram-se perpassados pela tentativa de tratar a morte como um acontecimento cotidiano, corriqueiro e banal.

No diálogo com o jovem, esse distanciamento ficou mais evidente. Observou-se que desde o início da entrevista ele se manteve reticente ante as questões, procurando, na maior parte do tempo, banalizar e naturalizar os acontecimentos relacionados às perdas e ao próprio morrer. Tal postura revela, sobremaneira, como ele se relaciona com a morte, a saber, evitando-a e defendendo-se dela, na medida em que tenta mostrar-se superior e impenetrável a este acontecimento. Ele procura referir-se à morte como algo reale que pode ocorrer a qualquer instante de sua vida, salientando a necessidade de encará-la de frente, uma vez que ninguém pode vivenciar esse momento em seu lugar. Contudo, apesar da aparente aceitação da finitude, o adolescente também esconde certa fragilidade diante do assunto, na medida em que revela preferir não se preocupar com a morte, uma vez que o futuro e a vida exigem-lhe mais atenção.

Opondo-se ao filho, a mãe se apresentou disposta a expor seus sentimentos, pensamentos e atitudes diante do tema abordado. Embora tenha abordado a morte no início da entrevista sob um ponto de vista geral e religioso, com o decorrer das perguntas, mergulhou cada vez mais em suas experiências, possibilitando aprofundar suas vivências relacionadas ao assunto. Cabe aqui relembrar que essa colaboradora diariamente está em contato com a fragilidade humana diante da morte em seu trabalho na área de oncologia. Essa proximidade parece ter facilitado que ela transpusesse sua visão impessoal e universal acerca do assunto, para então lançar sobre ele um olhar mais reflexivo e de proximidade.

Além da profissão, a mãe também se referiu ao avanço da idade como fator que a impele a refletir sobre a proximidade da morte. Para ela, ver-se com quarenta anos e ao mesmo tempo observar que o tempo traz de maneira desencadeante a morte das pessoas mais velhas é perceber-se atravessando o caminho da morte, de modo a poder ser atropelada por ela a qualquer instante. Ao ver-se frente-a-frente com a brevidade da vida, a morte para essa colaboradora configura-se como uma mola propulsora que a impulsiona rumo à superação das adversidades e leva-a a lançar um olhar responsável por sua própria vida.

Com relação ao pai, desde o início ele procurou enfatizar que o mais inquietante no pensar sobre a morte são as incertezas quanto ao que acontece nesse momento. Tais incertezas advindas juntamente à idéia da morte remete-o à sensação de perceber-se frente ao desconhecido, levando-o naturalizar e a banalizar a morte e os sentimentos relacionados a ela. No decorrer da entrevista, porém, a morte desvela-se a ele enquanto perda, na medida em que se recorda da sua mãe e da maneira como lidou com a mortedela. Neste momento, ele reconhece que a morte de alguém querido, especialmente a da sua mãe, é um evento impactante, para o qual nunca se sentiu preparado. Nesse sentido, a perda o retirou de seu estado de distanciamento da morte, levando-o a perceber que ela acontece não somente com e para o outro, mas também para si mesmo e seus familiares.

Quanto ao avô, suas vivências mostram que falar sobre a morte é relembrar pessoas queridas que coexistiram lado a lado com ele, mas que no momento apenas podem fazer parte de suas lembranças solitárias. A fim de fugir da solidão e sentir-se próximo às pessoas que se foram, ele procura conversar com Deus em suas orações, de modo a pedir para que aqueles que já não estão mais ao seu lado possam ao menos estar felizes em algum outro lugar. Através de suas preces, portanto, ele acredita estar mais próximo das pessoas que morreram, ajudando-as de alguma forma. Nesse sentido, o avô mostra-se como um ser que se relaciona com dois mundos, a saber, o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, de modo que assim sua perda é atenuada ou até suprimida, uma vez que seu relacionamento com as pessoas que se foram continua de uma forma transformada. Com 86 anos de vida, ele com frequência pensa sobre a proximidade de sua finitude e parece sentir-se conformado em não desejar nada mais para sua vida que saúde, felicidade e uma morte tranquila e sem sofrimento. Seu futuro, destarte, parece não pertencer mais a esse mundo, e sim, a um inevitável e esperado encontro com a morte.

 

Considerações Finais

A dificuldade de se abordar e estudar o tema da morte evidenciou-se pela negativa de outras as famílias de adolescentes que inicialmente se dispuseram a colaborar. Na família que concordou em colaborarparticipar e foi estudada, a morte também não foi um tema facilmente abordado. Embora nas entrevistas apareçam falas em que os colaboradores procuram mostrar naturalidade, simplificando a questão, acabam banalizando a questão da morte em alguns momentos, mostrando mais negação do que naturalidade ou aceitação. A existência dessa família encontra-se ainda impregnada pela experiência da única perda por morte mais próxima vivenciada até o momento. Essa perda, contudo, continuasendo um assunto velado e os sentimentos são negados na maior parte do tempo, levando cada um a vivenciar sua dor de maneira solitária e silenciosa.

Para os membros da família entrevistada, o sofrimento e o impacto vivenciados pela experiência de perda são expressos de modos bem semelhantes por todos os seus integrantes, mostrando que a maneira como lidam com a morte cotidianamente se reproduz e tende a ser compartilhada ao longo das gerações. As tentativas de simplificação identificadas nos relatos dos colaboradores parecem ser a maneira que encontraram para lidar com os próprios sentimentos relativos à perda e à consciência da finitude humana. No entanto, as reflexões que fazem acerca da própria vida no decorrer da entrevista, revelam profundidade durante o mergulho realizado nas próprias experiências. Mostram que, apesar do silêncio rondar a família em suas vivências de perda, o momento da entrevista abriu-lhes a possibilidade de falar sobre seus sentimentos e experiências relacionados à morte e ao morrer, bem como lhes deu a oportunidade de examinarem suas próprias vidas, opor- tunizando reflexões sobre o passado, o presente e o futuro.

Os relatos dos colaboradores mostram que, apesar da inevitabilidade da finitude, no viver cotidiano a morte ainda se apresenta de maneira fugaz, permanecendo relegada a uma preocupação para o fim da vida. No entanto, a oportunidade de troca intersub- jetiva propiciada pela entrevista fenomenológica possibilitou um momento de reflexão, uma vez que deu abertura para que falassem livremente sobre suas concepções e sentimentos, sobre as perdas de pessoas queridas, sobre a morte de si e sobre a própria vida, contribuindo para que, pelos menos nesta ocasião, voltassem os olhares para suas experiências individuais e familiares. Assim, o presente estudo possibilitou o desvelamento das vivências de cada um dos colaboradores da mesma família, mostrando como significam e compreendem o morrer, ressaltando-se o significado de perda e de sofrimento, do qual tentam distanciar-se, que a reflexão sobre a morte e a lembrança da perda familiar vivenciada evidenciou. Observou-se que após tentativa de distanciamento e de uma superficialidade iniciais, desvelou-se a experiência da perda de um familiar próximo, bem como a revivência desse momento. Emergiu, então, maior abertura para que concepções esentimentos ligados à morte começassem a aparecer, levando cada colaborador a examinar mais profundamente suas vivências. Foi possível perceber que a morte, em sua dimensão real e concreta, foi mais facilmente abordada pelo colaborador idoso (avó), e mais racionalizada e tratada com distanciamento pelo participante mais novo (adolescente). Pai e mãe revelaram o que a literatura aponta, ou seja, refletem sobre a morte, conseguem trazê-la para mais perto de si, porém, voltam mais a atenção para o que ainda pretendem conquistar e realizar. A mãe, possivelmente por trabalhar com pacientes oncológicos, mostrou-se mais aberta e reflexiva, ao mencionar a trajetória de vida, o avanço da idade e a inevitabilidade da morte e das perdas. Nessa família, apesar da tendência de manutenção de um modo "comum" de verem e de lidarem com a questão da morte nas três gerações entrevistadas, as etapas do curso vital em que cada um se encontra, associou-se a diferenças no modo como cada colaborador significou suas vivências, aparecendo, nos relatos do adolescente, maior ambiguidade quanto ao modo de conceber e tratar a morte. Sugere-se, de modo similar ao que se encontra na literatura, maior investimento em estudos e iniciativas profissionais para que a morte retome seu lugar na vida, abandonando-se o sigilo e a mistificação que ainda cercam esse tema e que geram, por esse motivo, incremento significativo de sofrimento às pessoas e famílias que lidam com uma perda, bem como a manutenção e transmissão de padrões negativos e disfuncionais ligados à morte entre as gerações.

 

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Recebido em 09 de agosto de 2010
Aceito em 07 de Junho de 2011
Revisado em 15 de Julho de 2011

 

 

* Este trabalho é parte da dissertação de mestrado da primeira autora, que é financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).