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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.3 Fortaleza  2011

 

RESENHAS

 

Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil

 

 

Thiago Costa Matos Carneiro da CunhaI; Maria Camila Gabriele MouraII

IPsicanalista. Mestre em Psicologia (UNIFOR). Professor de Graduação em Psicologia (UNIFOR). Vice-Presidente da CLIO-Associação de Psicanálise e Pesquisador membro do LABIO (Laboratório de Pesquisa sobre as Novas Formas de Inscrição do Objeto). Representante Nacional dos Estudantes de Pós-Graduação em Psicologia ANPEPP 2010-2012 (2° Titular). End.: R. Costa Barros, 940/21, Centro. CEP: 60160-280 - Fortaleza - CE. E-mail: thiaaoclio80@amail.com
IIEstudante de Psicologia, Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Laboratório sobre as Novas Formas de Inscrição do Objeto (LABIO). End.: R. Doutor Gilberto Studart, 1493/1102, Cocó. CEP: 60192-095 - Fortaleza - CE. E-mail: mcamilagabriele@gmail.com

 

 

Organizadora: Ana Maria Jacó-Vilela

ISBN: 9788531210686

Idioma: Português

Páginas: 548

Ano de Edição: 2011

 

 

A história da psicologia brasileira acaba de ganhar mais um novo capítulo, sua memória agora se encontra elencada nas instituições que promoveram (e promovem) seu desenvolvimento, dispostas no Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil, organizado pela professora Ana Maria Jacó-Vilela, com a colaboração de 261 autores.

O livro é composto por 265 verbetes que contemplam instituições de psicologia - como estabelecimentos, associações e organizações públicas, privadas e não governamentais, de pesquisa, de formação, de prestação de serviços, publicações seriadas (periódicos), congressos e legislação - fundadas até 1980. A descrição das instituições esboça uma formatação própria, com a condensação de diversas informações transmitidas por meio de uma linguagem clara e direta, sem excesso de adjetivações. A composição dos verbetes inclui os nomes atuais completos das referidas instituições, seguidas de suas siglas, dispostas em ordem alfabética.

O compromisso com a história da psicologia se explicita através do rigor teórico, da rica coleta bibliográfica - a despeito da dificuldade que há em uma pesquisa historiográfica - e da consideração de todas as regiões do Brasil, de norte a sul, com o devido cuidado de contextualizar o momento histórico que demarca a influência de cada instituição citada.

Desde os primeiros desbravadores do inóspito terreno da subjetividade no Brasil, a psicologia se constituía como preocupação constante situada nos saberes político, filosófico, sociológico, antropológico, pedagógico e médico. As instituições referenciadas nesta obra marcam essa tendência originária, muitas delas nem mesmo possuíam setores relacionados ao psicológico de forma institucionalizada, mas já trabalhavam com a subjetividade de forma implícita e se tornaram importantes espaços de construção do saber psicológico no país. Outras já não existem mais, entretanto nem por isso deixam de transparecer a relevância de suas atividades na história da autonomização da psicologia no Brasil.

Dentre essas instituições primevas, destaca-se a Santa Casa de Misericórdia, atuante desde a época da colonização portuguesa; as Escolas Normais; o Hospício de Pedro II, primeira instituição psiquiátrica para o tratamento de alienados no Brasil; e o Laboratório de Psicologia da Escola Normal Secundária de São Paulo, um dos mais antigos laboratórios de psicologia do país, onde suas pesquisas eram desenvolvidas seguindo os ditames da psicologia experimental, empregada ao ensino, com a aplicação e elaboração de testes psicológicos.

Ainda seguindo os ditames da psicologia científica, o Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - anteriormente, Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro - demonstra sua importância nos primeiros passos da pesquisa científica em psicologia com atividades de auxílio à saúde (por meio de análise geral e parcial de doentes mentais e serviços de psicoterapia) e de formação profissional na área da psicologia. Nesse contexto, os conhecimentos referentes à Psicanálise, Psicologia Social e do Trabalho tiveram sua proficuidade, sendo constatada também a influência direta do movimento higienista, bancado na ocasião pela Liga Brasileira de Higiene Mental.

O dicionário em questão é bastante abrangente e contempla ainda os representantes das origens da psicologia organizacional no país: o Instituto de Organização Racional do Trabalho e o Centro de Psicologia Aplicada - CEPA. Também comparece igualmente nessa excelente obra histórica o Instituto Superior de Estudos e Pesquisas em Psicologia, da Fundação Getúlio Vargas, importante instituição dirigida por Emilio Mira y López que tinha como objetivo a difusão da psicologia aplicada no trabalho, na educação e na clínica.

Como a história demonstra, a clínica tem o seu destaque com o Instituto Municipal Philippe Pinel, o qual apresentou inovador projeto assistencial no campo da psiquiatria e saúde mental, para a época, que envolvia a psicofarmacologia, valorização da psicoterapia e o trabalho com a praxiterapia e a musicoterapia no tratamento clínico. Projeto que se assemelha aos praticados nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) na atualidade.

A amplitude das áreas aplicadas à psicologia passa a se diversificar à medida que outros institutos e departamentos de psicologia relacionados às mais tradicionais universidades e hospitais do país, originados principalmente nas décadas de 50 e 60, vão surgindo neste passeio histórico proporcionado pelas páginas do Dicionário. A consolidação da psicologia se dá em sua vertente política a partir da Associação Brasileira de Psicologia, posteriormente, pelo Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo e o Conselho Federal de Psicologia, com seus Conselhos Regionais, já na década de 70.

É também nessa década que se encontra um movimento de importante repercussão social e política para a psicologia e a saúde mental, o Movimento da Luta Antimanicomial, que reivindica a viabilização de políticas públicas que valorizem a qualidade do tratamento nas instituições de saúde mental e o profissional que aí atua, criticando a exclusão social do paciente e o exercício da opressão realizado pelo poder do saber médico na realidade brasileira.

Nesse momento de desenvolvimento político da psicologia, especificamente no início dos anos 80, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq passa a incentivar a proposta de criação de associações no intuito de organizar as áreas das Ciências Humanas e Sociais. Nessa configuração, os coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em psicologia e gestores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES e do CNPq instituem a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP, que tem por objetivo contribuir para a interlocução, organização e construção do conhecimento psicológico, através do estabelecimento de diretrizes para a discussão do desenvolvimento da área no país.

A contribuição da ANPEPP para a psicologia já estava consolidada, quando, em 1996, nasce o Grupo de Trabalho (GT) História da Psicologia, idealizador deste Dicionário. O trabalho louvável e notório dos pesquisadores, ao longo dos 20 anos de existência do GT, demarca a sua importância com produções proeminentes para o resgate da história nacional da Psicologia - excepcionalmente, sublinha-se a obra Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil - Pioneiros (organizado por Regina Campos e co-editado pela Imago/CFP, 2001).

As perspectivas históricas das teorias e abordagens da psicologia estão bem representadas nas instituições que constituíram os seus percursos no país. Destacam-se costumeiramente nas práticas hodiernas: a Psicologia Social, a Psicanálise, a Psicologia do Trabalho e Organizações, a Análise do Comportamento, a Gestalt Terapia, o Psicodrama, a Abordagem Centrada na Pessoa e a Psicologia Analítica.

Por todo esse percurso, o Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil é um marco para a história da Psicologia no Brasil. O compromisso com a Psicologia e com as instituições que a inserem, se tornam evidente ao longo de toda a sua leitura.

Os autores proporcionam o acesso às instituições há muito esquecidas e a outras tantas sequer sabidas, apagadas e ignoradas ao longo da história. Congratulam-se os autores por contribuírem com a difusão de conhecimentos condensados em formas de verbetes e que certamente servirão como mote de futuras pesquisas e consultas. A leitura de tais verbetes permite uma ponderação crítica acerca de nossa sociedade brasileira, haja vista que se evidencia em algumas passagens o reflexo que a situação política pode ter (e teve) nas instituições de psicologia no Brasil.

Essa publicação condiz com as comemorações dos 50 anos da legalização e regulamentação da profissão do psicólogo. Nada mais adequado do que celebrar, com esta obra-prima, as bodas de ouro da relação histórica do Psicólogo com as instituições que o acolheram.

 

Referências

Jacó-Vilela, A. M. (Org.) (2011). Dicionário Histórico de instituições de psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

Campos, R. H. F. (Org.) (2001). Dicionário biográfico da psicologia no Brasil: Pioneiros. Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

 

 

Recebido em 01 de Julho de 2011
Aceito em 16 de agosto de 2011
Revisado em 21 de agosto de 2011