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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev.Mal-Estar Subj vol.13 no.1-2 Fortaleza June 2013

 

AUTORES DO BRASIL
ARTIGOS

 

Subjetivação: aproximações possíveis entre Freud e Pessoa

 

Subjectivity: possible approaches between Freud and Pessoa

 

Subjetivación: posibles aproximaciones entre Freud y Pessoa

 

Subjectivation: approches possibles entre Freud et Pessoa

 

 

Angela Di Paolo Mota

Psicóloga, mestre e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. E-mail: angeladipaolo@usp.br

 

 


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo abordar os nossos modos humanos de ser (de subjetivação) na interface entre Literatura e Psicanálise. Para fundamentar tal opção, dois textos de Sigmund Freud foram escolhidos por se debruçarem mais detidamente sobre o tema da criação literária: trata-se do ensaio que foi traduzido como Escritores criativos e devaneio, de 1907 e O Estranho, de 1919. A interface com a Literatura recai sobre alguns trechos da obra de Fernando Pessoa, especificamente as de seu semi-heterônimo Bernardo Soares, no Livro do Desassossego (edição de 2006) e, também, de seu poema intitulado Autopsicografia, de 1931. A proposta é apresentar algumas concepções freudianas e pessoanas nos pontos em que se aproximam do tema da constituição de subjetividade, especialmente no que se refere a uma alterabilidade do outro: uma proposta de transformação do outro consigo mesmo - transformação em poeta -, tema subjacente tanto aos textos freudianos quanto aos escritos pessoanos. Eis a articulação fundamentada na Psicanálise e na Literatura, campos escolhidos para dialogarem no presente texto.

Palavras-chave: psicanálise; literatura; subjetividade; alteridade; linguagem.


ABSTRACT

This paper aims to address our human ways of being (subjectivity) in the interface between Literature and Psychoanalysis. To support this option, two texts of Sigmund Freud were chosen because they specifically address the subject of literary creation: the essay that was translated as Creative writers and daydreaming, of 1907 and The Uncanny, of 1919. The interface with the Literature is located on some parts of the work of Fernando Pessoa, specifically those of his semi-heteronomous Bernardo Soares, in the Livro do Desassossego (2006 edition) and, also, in his poem entitled Autopsicografia, of 1931. The proposal is to present some concepts of Freud and Pessoa at the points where they approach the subject of the constitution of subjectivity, especially regarding the changeability of one another: a proposal to transform the other into himself - a transformation into a poet - a theme underlying both the Freudian texts and the Pessoa writings. Here is the bases that links both Psychoanalysis and Literature, selected fields to dialogue in this text.

Keywords: psychoanalysis; literature; subjectivity; alterity; language.


RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo abordar nuestros modos de ser (de subjetivación) humanas en la interfaz entre la literatura y psicoanálisis. Para justificar esa opción, se eligieron dos textos de Sigmund Freud para tratar más a fondo sobre el tema de la creación literaria: esta es la prueba que se ha traducido como Escritores Creativos y Soñar Despierto, de 1907 y el Extraño, de 1919. La interfaz con la literatura recae sobre algunos extractos de la obra de Fernando Pessoa, específicamente sobre aquellos de su semi-heterônimo Bernardo Soares, en el libro del Desasosiego (edición 2006) y también su poema titulado Autopsicografia, de 1931. La propuesta es introducir conceptos de Freud y Pessoa en los puntos en que abordan el tema de la constitución de la subjetividad, especialmente en cuanto a la alterabilidade del otro: una propuesta para la transformación del otro en si mismo - transformación en un poeta -, tema subyacente a ambos textos: freudianos y persoanos. Aquí está la articulación basada en la psicoanálisis y la literatura, campos elegidos para el diálogo en este texto.

Palabras-clave: psicoanálisis; literatura; subjetividad; alteridad, lengua.


RÉSUMÉ

Ce travail vise à aborder notre humaines modes d'être (de subjectivation) sur l'interface entre la littérature et la psychanalyse. Pour étayer une telle option, deux textes de Sigmund Freud ont été choisies pour aborder plus à fond sur le sujet de la création littéraire : c'est le texte qui a été traduit par Des Écrivains Et Rêverie, de 1907 et de le Strange, de 1919. L'interface avec la littérature tombe sur des extraits de le œuvre de Fernando Pessoa, notamment ceux de son semi-heterônimo Bernardo Soares, en le Livre de L'inquiétude (édition 2006) et, également, son poème intitulé Autopsicografia, de 1931. La proposition est d'introduire quelques conceptions de Freud et de Pessoa aux points en abordant le thème de la constitution de la subjectivité, en particulier en ce qui concerne l'autre alterabilidade: une proposition pour la transformation del autre en vous-même - transformation en poète -, qui sous-tendent le thème dans des écrits de Freud et de Pessoa. Voici l'articulation basée sur la psychanalyse et la littérature, les champs choisis pour le dialogue dans ce texte.

Mots-clés: psychanalyse; littérature; subjectivité; altérité; angue.


 

 

Introdução

O tema proposto neste texto recai sobre os nossos modos de subjetivação, na articulação entre dois campos: Psicanálise e Literatura. Tal escolha justifica-se tanto pela centralidade que o tema possui na Psicanálise, quanto pela aproximação que este tema permite articular com a Literatura, especialmente quando se trata a constituição do sujeito pelas vias da linguagem.

Considerando que, pelo viés psicanalítico, nossas escolhas não são completamente aleatórias, implico-me nas posições que constituem os questionamentos deste trabalho. Como afirma Cesarotto (1996, p. 111) uma das coisas que a psicanálise nos ensina é que não somos alheios aos nossos interesses, e que é exatamente na curiosidade que o desejo mais se evidencia. Portanto, as formulações aqui esboçadas se coadunam às questões trabalhadas em meu tema de mestrado e também em minha formação psicanalítica.

Como fio condutor do texto, optei por abordar os nossos modos humanos de ser na interface entre Literatura e Psicanálise. Para fundamentar tal opção, utilizarei dois textos em que Freud se debruça mais detidamente sobre a criação literária: trata-se do ensaio que foi traduzido como Escritores criativos e devaneio, de 1907 e O Estranho, de 1919 (Freud, 1907/1996b e 1919/1996d). A interface com a Literatura é levada pelas tessituras da linguagem à obra de Fernando Pessoa, por meio de algumas passagens de seu semi-heterônimo Bernardo Soares, no Livro do Desassossego (edição de 2006, Pessoa, 2006) e, também, de seu poema intitulado Autopsicografia, de 1931. Tal aproximação justifica-se pela proposta de transformação do outro consigo mesmo - transformação do outro em poeta -, uma alterabilidade subjacente tanto aos textos freudianos quanto aos escritos pessoanos.

Se em Freud (1919/1996d) temos que o reconhecimento de si só ocorre na relação com o outro - relação onde subjaz o estrangeiro -, em Pessoa (2006) vemos que tal reconhecimento não ocorre sem uma sensação de desassossego - o que nos permitiria falar em modos de nos desconhecermos. Eis um ponto de aproximação entre Sigmund Freud e Fernando Pessoa. Trata-se de pensar o humano habitado pelo estranho, inquietante, estrangeiro, desassossego. Humano que não é senhor de sua própria morada, mas que é invadido pela visita fortuita do inconsciente.

Na tentativa de abordar a aproximação proposta, iniciarei meu trajeto pelos textos freudianos. Em seguida, trago algumas passagens de F. Pessoa para, posteriormente, esboçar uma articulação possível entre ambos no que se refere ao tema em questão. Para isso, fundamento-me nos trabalhos de Cesarotto (1996), Silva Junior (2000, 2001, 2004), Souza (2007).

 

O Inquietante em Freud

... o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.

(Italo Calvino, 2003, p. 30).

Em dezembro de 1907, nos salões do editor e livreiro vienense Hugo Heller, Freud apresenta uma conferência diante de uma platéia de noventa pessoas. Nela, esboçava a aproximação entre a fantasia e o brincar infantil, e também a temática da criação literária. Freud (1907/1996b, p. 135) inaugura o texto com a seguinte afirmação:

Se ao menos pudéssemos descobrir em nós mesmos ou em nossos semelhantes uma atividade afim à criação literária! Uma investigação dessa atividade nos daria a esperança de obter as primeiras explicações do trabalho criador do escritor. E, na verdade, essa perspectiva é possível. Afinal, os próprios escritores criativos gostam de diminuir a distância entre a sua classe e o homem comum, assegurando-nos com muita freqüência de que todos, no íntimo, somos poetas, e de que só com o último homem morrerá o último poeta.

É nesse momento em que Freud aproxima o poeta e a criança: O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção [...] (Freud, 1907/1996b, p. 135-136). Ele supõe, assim, que a obra literária é uma continuação, ou um substituto, do que foi o brincar infantil, posto que nunca renunciamos a nada, apenas substituímos uma coisa por outra.

Assim, Freud (1907/1996b) afirma que a ênfase colocada nas lembranças é uma continuação (ou substituto) do brincar infantil, tal como a fantasia. Em outros termos, a fantasia e a obra literária se assentam em lembranças infantis, com a diferença de que a primeira geralmente provoca repulsa em alguns adultos, e a segunda, pelo contrário, provoca efeitos emocionais de grande prazer. O escritor mitiga o caráter egoísta de seus devaneios, mediante alterações e disfarces e nos suborna com o prazer puramente formal, ou seja, estético, que nos proporciona a exposição de suas fantasias (Freud, 1907/1996b, p. 142).

Freud anunciava, assim, o tema que abordaria alguns anos mais tarde no ensaio sobre O Estranho, de 1919.

O texto se inicia no campo da estética. Freud (1919/1996d) se posiciona como um dos raros psicanalistas a se aventurar neste campo. Mais raro ainda por abordar não a teoria da beleza tão cara e prosaica à estética, mas por escolher outra via: a do seu pólo oposto, o que assusta, inquieta e muitas vezes provoca horror. Este sim, segundo o pai da psicanálise, seria um ramo bastante remoto a ser abordado, geralmente negligenciado na literatura especializada da estética.

Pois bem, estamos diante do estranho, do inquietante, do assustador. Freud (1919/1996d) segue com uma digreção do termo alemão unheimlich, que se opõe a heimlich (doméstico) e heimisch (nativo). Para ele, inicialmente somos tentados a concluir que aquilo que é 'estranho' é assustador precisamente porque não é conhecido e familiar (Freud, 1919/1996d, p. 87).

Cesarotto (1996) lembra que os dicionários permitiram a Freud anotar a tradução do termo em línguas de terras distantes: latim, grego, inglês, francês e espanhol. Em cada uma delas, ele encontrou correlatos e sinônimos. No entanto, o termo não foi traduzido nem para o português nem para o italiano, por serem idiomas que, segundo ele, careciam de um termo adequado para traduzi-lo literalmente.

Apesar disso, Cesarotto (1996) indica que é possível traduzir o termo para o português com precisão. Além da versão que consta nas Obras Completas, o estranho (que alude a estrangeiro, externo, admirável, esquisito, misterioso, alheio, desconhecido), o autor indica a possibilidade de circunscrever melhor o 'unheimlich' freudiano se o denominamos 'sinistro', querendo dizer, ademais, 'funesto, de mau presságio, ruim', como adjetivo, e 'desastre, ruína, prejuízo, como substantivo (Cesarotto, 1996, p. 115).

Sobre a etimologia do termo, Souza (2007) nos traz uma valiosa apreciação inspirada em Hanns (1996). O adjetivo unheimlich, derivado de heimlich, comporta na sua estrutura o prefixo de negação caracterizado pelo un. Hanns (1996) aponta os seguintes sentidos para unheimlich: d) levemente estranho, levemente assustador, inquietante, sinistro, esquisito, incômodo, mal-estar; e) enorme, grandioso, gigantesco, fantástico; f) muito, incrivelmente; e g) indefinível, indeterminado, ansiógeno, inquietante. De tal modo que nas acepções d e g há um caráter indefinível e desconfortável que se difere de uma situação de pânico relativa a um determinado perigo ou catástrofe bem delineada.

Avançando um pouco mais na obra de Hanns, Souza (2007, p. 115-116) lembra que o substantivo das unheimlich é complementar aos sentidos d e g expostos acima, uma vez que nos remete a uma sensação de desamparo diante do imprevisível, inapreensível ou não-localizável, aos quais, acrescenta Hanns (1996), juntar-se-ia mesmo um certo conteúdo fantasmagórico. É nesse momento que o autor traz a comparação direta entre o das unheimlich alemão e o estranho, versão traduzida para o português. Para Hanns (1996), a adaptação do termo para o português acrescenta à versão original um novo significado, o de estrangeiro (alteridade), perdendo, por outro lado, o quê de sobrenatural predominante em sua acepção germânica.

Uma vez realizado o percurso dos conceitos, o ensaio de Freud (1919/1996d) recai sobre algumas impressões e/ ou experiências particularmente ligadas ao inquietante. Como ponto de partida, encontram-se os autômatos ou bonecos de cera, causadores de efeitos estranhos ao portarem uma dúvida sobre um ser animado estar realmente vivo ou se um objeto aparentemente inerte não seria um ser portador de vida. A análise freudiana recai, então, sobre o conto O homem da areia, de E. T. A. Hoffmann - escritor alemão nascido no século XVIII, famoso por suas narrativas fantásticas.

Aqui vemos uma atenção especial de Freud (1919/1996d, p. 120) em relação à obra literária, sobre a qual ele escreve:

O estranho, tal como é descrito na literatura, em histórias e criações fictícias, merece na verdade uma exposição em separado. Acima de tudo, é um ramo muito mais fértil do que o estranho na vida real, pois contém a totalidade deste último e algo mais além disso, algo que não pode ser encontrado na vida real.

Avançando um pouco mais em sua análise, nos deparamos com a afirmação de que há muito mais meios de se criar efeitos estranhos na ficção do que na vida real, posto que

O escritor imaginativo tem, entre muitas outras, a liberdade de poder escolher o seu mundo de representação, de modo que este possa ou coincidir com as realidades que nos são familiares, ou afastar-se delas o quanto quiser. (Freud, 1919/1996d, p. 120)

Disso decorre a conclusão a que chega o Freud: a de que a ficção oferece mais possibilidades de criar sensações estranhas do que aquelas que são possíveis na vida real.

Em sua investigação sobre a natureza do inquietante, Freud (1919/1996d) propõe como fio condutor deste ensaio a premissa de algo reprimido (leia-se recalcado) que retorna. Se esta seria a natureza secreta do estranho, pode-se compreender porque o uso lingüístico estendeu das heimlich (familiar) para o seu oposto, das unheimlich. Esse estranho não seria, então, nada de novo ou alheio, mas, pelo contrário, remontaria ao familiar, ao há muito conhecido, porém recalcado. Numa frase emprestada de Schelling, Freud (1919/1996d, p. 111) sintetiza tal qualidade do estranho como algo que deveria ter permanecido oculto mas veio à luz.

Ao analisar esta premissa freudiana, Cesarotto (1996) indica a terceira e última parte do ensaio, onde se encontra o grande papel desempenhado pelo recalque (Verdrangung).

Em suas palavras:

A partir da afirmação de Schelling, 'o que devia permanecer oculto e, não obstante, veio à luz', desdobram-se dois grupos de representações distintas mas não antagônicas. Por um lado, heimlich remete ao que é familiar e confortável, por outro, refere-se ao que está escondido, dissimulado. Assim, unheimlich seria utilizado apenas como o oposto do primeiro sentido, e não como o contrário do segundo. Num deslocamento, na direção da ambivalência, acaba se superpondo à sua antítese. Curiosamente, unheimlich não seria senão uma variedade, um certo tipo de heimlich. (Cesarotto, 1996, p. 115-116)

Daí entende-se que heimlich remete tanto ao que é familiar quanto ao que está escondido. Sentido que subjaz a condição de ocultamento do mecanismo do recalque (Verdrangung), modo de defesa descrito por Freud como sendo a mola propulsora do psiquismo. O que era para ficar encoberto se mostra, como uma reaparição indesejada (Cesarotto, 1996, p. 116).

Ainda segundo Cesarotto (1996, p. 117), o retorno do recalcado seria incitado/ deflagrado por uma impressão exterior:

Aquilo que, por familiar e íntimo, era preciso apagar, é reativado por um fato extrínseco, para ser projetado além da subjetividade e percebido como alheio. O efeito concomitante é a sensação sinistra que se produz ao se esfacelar a realidade, porque, nessa hora, qualquer resguardo revela-se insuficiente.

É importante lembrar que Freud (1919/1996d) sinaliza aqui algumas formulações que se lhe tornariam caras no ano seguinte, inauguradas com o texto Mais além do princípio do prazer, de 1920 (Freud, 1920/1996e). São elas: o tema da (compulsão à) repetição e da morte. Para Cesarotto (1996), a repetição foi primeiramente descrita como um observável clínico, depois como uma compulsão para, por fim, ser elevada à categoria de automatismo inconsciente, cuja incidência se percebe como estranha. O tema da morte incidindo como intenção última da vida, a tendência ao nada, a meta derradeira do retorno ao inanimado culminou com a formulação freudiana da pulsão de morte a partir da década de 1920.

Sobre o campo pulsional, o trabalho de Souza (2007) traz uma importante articulação entre psicanálise e arte, ressaltando a dimensão criativa inerente ao conceito de pulsão de morte, Thanatos. Potencial criativo este que viria interromper um movimento repetitivo - e, por vezes, tedioso - de Eros, a pulsão vida. Ao ser instaurado o conflito, a pulsão de morte viria no sentido de re-elaborar e re-inventar Eros.

O autor busca em Silva Júnior (2001) o argumento sobre a proximidade do efeito inquietante freudiano com a obra de Fernando Pessoa, apostando em um efeito inquietante do próprio saber inaugurado por Freud.

Para Silva Júnior (2001), Freud e Pessoa guardam um potencial inovador em termos de ficcionalidade, sendo possível falar de um novo tipo de inquietante: aquele produzido pela ficcionalidade da heteronímia e pela psicanálise enquanto duas esferas complementares da experiência humana. Nas palavras do autor:

A heteronímia pessoana e as noções freudianas a partir de Além do princípio do prazer (1920) privilegiam o ponto de vista de uma eficácia do negativo anterior às causalidades tanto da realidade quanto da imaginação. A noção de pulsão de morte se constitui assim como um conceito fundamental para a ficcionalidade da psicanálise: enquanto conceito de uma tendência do organismo de retorno ao estado que o nega enquanto organismo, a pulsão de morte representa o único poder do psiquismo de liberdade diante da realidade enquanto necessidade e da ficção como realização de desejos. Assim, a psicanálise seria inquietante não somente por causa da sua familiaridade com a ficção, mas também por causa de sua familiaridade com a ficcionalidade, e com a abertura entre a ficção realizadora de desejos e a realidade. (Silva Júnior, 2001, p. 318-319)

Silva Júnior (2001) destaca ainda que a ficcionalidade é inquietante pelo desvelamento da ausência como origem do psiquismo, ela tem a estrutura de uma abertura, onde a negatividade permite uma passagem. Espaço vazio, silêncio, ruptura que instaura o potencial criativo do analisando. E que nos permite falar da proximidade da relação entre a Psicanálise e a criação literária. Sensação de inquietude que se aproxima da noção de desassossego em Fernando Pessoa, apreciação que passo a fazer no item a seguir.

 

O Desassossego em Pessoa

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos.

(Fernando Pessoa, 2006, p. 270).

O tema do desassossego pessoano será abordado a partir do ponto de vista de um sistema poético com categorias delimitadas, proposta inspirada em Silva Júnior (2000 e 2004). Dado o caráter sistêmico da obra pessoana, considera-se que é um sistema com uma coerência interna que reúne três eixos pelos quais a linguagem opera: o sintático (referente à relação dos signos entre si), o semântico (relação entre signos e referentes) e pragmático (relação entre interlocutores intermediada pela linguagem, onde se pode situar a clínica psicanalítica). Além dos eixos, o sistema pessoano se caracteriza por uma organização compreensível e de relações necessárias, cujos elementos por excelência são: a negatividade, a sensação e a história (da cultura).

O negativo como motor da criação nos permite aproximar a positividade do negativo, e seu decorrente potencial criativo, presente no campo pulsional teorizado por Freud, como vimos no item anterior.

Silva Júnior (2000) argumenta que o vazio, a ausência e a negação são, em Fernando Pessoa, condição de toda e qualquer experiência literária. Condições presentes tanto no artista quanto no leitor que experimenta a obra. Argumento que nos aproxima da concepção de que o leitor, assim como o analisando, configura-se como um poeta, na medida em que a experiência (de análise e literária) passa por uma transformação metafórica. Aqui trago uma importante asserção de Didier-Weill (2006) sobre a criação poética. Numa crítica endereçada à ortodoxia da formação psicanalítica, o autor considera que nem sempre uma erudição que se expressa em referência a músicos, pintores ou poetas significa uma criação poética. Sua proposta busca resgatar o laço possível com o poético que se tece metaforicamente no próprio seio da estrutura dos enunciados. Isto é, uma metáfora que é a produção poética que permite a um sujeito transmitir a existência de um eu inconsciente, que permite a ele inventar algo seu, que diga de si e de seu desejo - que se refere a uma implicação do autor/ leitor/ analisando nisto que está sendo criado, e não simplesmente uma menção ou uma alusão a.

Ao fazer a ponte da Psicanálise com a obra pessoana, Silva Júnior (2000) aporta no campo da constituição de subjetividade e no tema do negativo. Ele apresenta três modelos de subjetividade extraídos a partir da leitura de Freud e, depois, reflete sobre algumas mudanças trazidas pela noção de pulsão de morte com grande contribuição na escuta e na clínica psicanalíticas.

Para o autor,

com efeito, na obra de Pessoa a negatividade ocupa um lugar privilegiado de operador na experiência artística. [...] Não é coincidência o fato do poema mais conhecido de Pessoa ser também uma exposição hermética deste poder do negativo em sua obra. Trata-se do poema Autopsicografia (1/4/1931, um primeiro de abril, o que, como veremos, não parece ser mera coincidência...). (Silva Júnior, 2000).

O poema:

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

(Fernando Pessoa)

Na análise de Silva Júnior (2000), se o poeta finge sua própria dor é para realizar uma tradução em palavras que evoquem a dor no outro:

A dor do poeta é uma forma de diferença de si consigo. Mais precisamente, diferença a partir da existência do outro. A partir de tal diferença, a partir de tal abertura em seu âmago, o poeta escreve-se enquanto outro, e para o outro. E nisto realiza uma verdadeira autopsicografia, talvez mesmo a única possível.

O autor lembra que no Livro do Desassossego, Bernardo Soares afirma que a arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. Aqui vê-se claramente a proposta de alteração do leitor, de libertá-lo de si mesmo, de fazê-lo se sentir outro, sentir uma dor que não sente, uma dor fingida. Eis a questão da alteração do leitor. Ao fingir sua própria dor, o leitor é projetado para fora de si. Finge para atingir um outro, e transformar-se, portanto, igualmente em poeta. Esta conclusão é fundamental para entendermos a estética pessoana (Silva Júnior, 2000).

Na análise do autor, este fingimento é a condição de diferenciação entre si mesmo e o outro. Daí poder-se falar em uma transformação do outro (leitor) em poeta. A heteronímia, fenômeno literário criado por Pessoa, é considerado como um caso extremo do fingimento poético. É a heteronímia que possibilita ao poeta não apenas fingir sua própria dor, mas despersonalizar-se. Só assim haverá 'outrar-se', só aqui o poeta 'voará outro'. Neste sentido, compreende-se que o neologismo outrar-se, seja por assim dizer, o 'método da heteronímia' (Silva Júnior, 2000).

Eis porque Pessoa (2006, p. 124) nos fala que viver é ser outro.

Em outro texto, Silva Júnior (2004) apresenta a hipótese de que o inquietante desencadeado pela heteronímia pode ser considerado como homólogo à situação psicanalítica. Homologia que remete à mesma origem. Origem fictícia, fundo ilusório de nossa subjetividade.

A lógica do fingir poético funciona, aqui, como um guia para a exploração da noção de subjetividade aberta no texto freudiano. Silva Júnior (2000) contextualiza sua proposta de três modelos de subjetividade da seguinte forma: 1) o primeiro período se situa entre 1893 (com Estudos sobre a Histeria) e 1905 (com os Três ensaios sobre a sexualidade), onde reina o modelo fechado de subjetividade, cujo tratamento deveria seguir no sentido de reestabelecer uma condição saudável anterior e originária, banindo o mal do sujeito; 2) o segundo período vai de 1905 a 1920 (com o texto Para além do Princípio de Prazer) - e do ponto de vista concreto até 1932, sendo marcado pelo modelo homeostático de subjetividade, em que a cura passa a ser compreendida como uma transformação do analisando consigo mesmo, atuando de maneira profilática com relação a novos sintomas; 3) o terceiro período vai de 1920 até o fim da obra freudiana, chegando ao ponto em que Freud abandona o caráter profilático da psicanálise. Eis o terceiro período, o modelo aberto de subjetividade proposto por Silva Júnior (2000), onde impera a tragicidade no campo subjetivo teorizado por Freud.

Uma vez perdido seu caráter profilático, o modelo freudiano de subjetividade adquire uma imprevisibilidade essencial, sustentada pela idéia de uma relação de forças imanente ao sujeito - o conflito pulsional. Posto isto, é possível falar de um modelo de 'subjetividade aberta' no sentido de uma 'iminência futura do que deve ser analisado' (Silva Júnior, 2000).

O autor apóia-se em um dos últimos textos freudianos, acerca das Construções em análise (Freud, 1937/1996f) para afirmar que a noção de construção coincide com o novo modelo de subjetividade aberta em dois pontos fundamentais. Primeiramente, no que se refere ao seu caráter preliminar e, depois, por ser uma construção essencialmente fragmentária. Preliminar porque envolve um trabalho de recordação do analisando e essencialmente fragmentária porque envolve fragmentos propostos pelo analista que são endereçados ao analisando que, por sua vez, age sobre ele, num movimento que poderia ser infindável. Daí a concepção de que a análise tem uma faceta interminável, pois uma vez apresentados, os fragmentos se movimentam numa cadeia entre analista-analisando, com possibilidades de novas elaborações, por vezes inquietantes, por vezes criativas, ou ainda repetitivas, mas sempre construções/interpretações possíveis. Vale lembrar que analista e analisando constroem juntos uma verdade histórica, uma ficção que ajuda a compor o que chamados de subjetividade, o que é singular, o que diz respeito à história de cada sujeito.

A partir desta concepção, pode-se afirmar que não há uma versão que seja única e verdadeira narrada pelo analisando, mas sim uma versão entre outras possíveis. São construções, narrativas que ajudam a tecer uma história, contada por um, interpelada por outro e reelaborada novamente. Sem certezas absolutas, sem fatos irrefutáveis, mas versões com muita criatividade e (in)certezas ilusórias. Ou seja, uma construção que pode não ter fim.

Enquanto criação pelo processo analítico, a historicidade do sujeito freudiano é essencialmente não um dado concreto, mas sim um produto do sentido. Diferentemente da historiografia material, a historicidade psicanalítica em seu último modelo de subjetividade funda-se em sua abertura iminente para um passado imprevisível. Assim, podemos dizer que a alteração do outro em análise é uma possibilidade imprevisível e, sobretudo, indomável. Durante a situação analítica, a finalidade é cuidar desta abertura, isto é, conservar aberta a possibilidade de transformação imprevisível dos sentidos do cotidiano e do destino. O destino e o cotidiano podem, e devem, numa cura analítica, ser abertos a transformações imprevisíveis. (Silva Júnior, 2000).

Desta feita, considera-se que na estética pessoana está presente uma transformação do outro (leitor) em sua essência discursiva, característica inerente também à perspectiva freudiana, como vimos no item anterior. Se em Pessoa podemos falar na transformação do leitor em poeta, em Freud podemos falar na alteração do analisando que implicaria em sua disponibilidade para a análise.

 

Posições Subjetivas, Inquietantes, Desassossegadas

Os poetas são aliados valiosíssimos... pois podem conhecer muitas coisas existentes entre o céu e a terra com que nem sequer sonha nossa filosofia. Na psicologia, sobretudo, estão muito acima de nós homens vulgares, pois bebem em fontes que ainda não conseguimos tornar acessíveis para a ciência.

(Sigmund Freud, 1906/1973, p. 1286).

Podemos ressaltar três aspectos fundamentais a partir desta articulação proposta entre Freud e Pessoa: 1) o tema da alterabilidade; 2) a linguagem como princípio fundante da subjetividade e 3) a possibilidade de interpretações que não se esgotam em uma única versão.

Sobre o tema da alterabilidade, é importante ressaltar que, para se constituir, o sujeito precisa inicialmente de um Outro1 que lhe antecipe, que lhe inscreva na linguagem, que lhe invista afetivamente. Lacan (1986), em suas Duas notas sobre a criança, nos diz que a constituição subjetiva de uma criança implica sua relação com um desejo que não seja anônimo. Se a criança é capaz de se tornar alguém é porque ela deseja e, se assim o fez, é porque alguém a desejou e a antecipou como desejante, introduzindo-a no campo que Freud chamará de pulsional.

Tal passagem ocorrerá por meio da relação da criança com um Outro encarregado de seus cuidados. Mas não qualquer outro, um Outro que a deseje, que entre com seu desejo implicado. Dessa forma, pode-se afirmar que a constituição do sujeito ancora-se na relação com o Outro. É a partir dessa experiência primordial que se definirão os contornos da história de cada um, que posições ocupam na relação consigo mesmo e com os outros - experiência de alteridade. Viver é ser outro, já afirmara Fernando Pessoa (2006, p. 124). Pode-se dizer que é também ser outros, experienciar-se nos outros, em nós a partir de outro(s).

Para Lacan (1996, p. 239), o desejo é, no ser humano, realizado no outro, pelo outro - no outro, como dizeis... ...É no outro, pelo outro que o desejo é nomeado. Consideramos, assim, que este Outro (grande outro) é a ordem da linguagem, que enlaça o sujeito, inserindo-o no simbólico. Logo, tal experiência primordial não pode ser pensada senão pela via da linguagem, matéria prima do poeta e também do psicanalista.

E se é pela via da linguagem que o sujeito se constitui, se inscreve na cultura, é também por esta mesma via que ele poderá futuramente reelaborar e reinscrever sua própria história, ou seja, romper de certa forma com os desígnios paternos, dizer de si em primeira pessoa. Esta história, uma vez construída/ narrada, poderá apresentar diferentes sentidos ao longo da vida - de acordo com o tempo de compreensão e com o momento de análise do sujeito.

Podemos lembrar que é em A interpretação dos sonhos (Freud, 1900/1996a) que Freud formula o conceito de sobredeterminação, que aponta para a multiplicidade de sentidos do sonho e, ao mesmo tempo, para a inesgotabilidade de sua interpretação. Em outros termos, há sempre mais de uma interpretação possível, uma narrativa interpretada nunca se esgota nela mesma.

Em Recordar, repetir, elaborar, Freud (1914/1996c) já havia dito que é preciso tempo para se produzir algo novo. Há que se repetir muito antes que algo seja elaborado/interpretado. Esta criação caminha no tempo de cada um... Tempos que nos remetem à proposição lacaniana sobre três momentos da constituição subjetiva: o instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir (Lacan, 1998).

Considera-se a narrativa do analisando uma manifestação inconsciente, que diz de sua fantasia, que expõe os seus sintomas e as suas repetições. Deve-se considerar o seu discurso como algo que pede interpretações possíveis, que lhe aponte para outras direções, que lhe permita percorrer outros caminhos, aportar em novas estações. Talvez seja este um caminho sem volta, o de uma análise pessoal. Talvez seja este percurso que indique uma mudança de posição subjetiva, uma alterabilidade já presente em poetas como Fernando Pessoa, tão bem retomadas por Freud em sua obra. Talvez seja esta a direção possível para um analisando criar suas próprias metáforas, elaborar seus sintomas, interpretar (infinitamente) seus sonhos, seus atos falhos... transformar-se, outrar-se.

Tal tarefa não é realizada senão pela linguagem, isto é, na linguagem. É ela que permite ao sujeito constituir-se. Assim como é matéria-prima do poeta, é também matéria-prima do psicanalista. É a ela que se volta na tentativa de construir as narrativas do sujeito em questão - e, também, no que nela se apresenta como falha, sintomas, repetições.

Em Construções em análise Freud (1937/1996f) compara o trabalho de um arqueólogo ao do analista e afirma que, para a arqueologia, a reconstrução é a meta e o fim do trabalho, enquanto, para a análise, a construção é somente uma tarefa preliminar. Trata-se de uma construção feita a partir de fragmentos expostos pelo analisando, suas lembranças que retornam, suas recordações oníricas, suas repetições que o habitam. Se por um lado se aproxima da tarefa do arqueólogo por ser erigida a partir de resquícios, por outro distancia-se, configurando-se como uma atividade infinita - sem um encerramento previsto.

Eis o desafio proposto, o de trabalhar/analisar uma posição que está sempre em vias de se fazer, que não se mostra completa e inteira à primeira vista, mas que se constrói no decorrer na análise. Por isso, sempre infinita, sempre inacabada. Esta é a dimensão inquietante, desassossegada que nos habita, que habita o que consideramos humano.

 

Momento de Concluir

A proposta tematizada neste trabalho foi a de aproximar algumas passagens das obras freudiana e pessoana no que se referem ao tema da subjetividade, e o que nele se apresenta como efeito inquietante, desassossegado, estranho e, mais ainda, metafórico, poético, literário. O que se configura como uma saída possível para o sintoma, que permita ao analisando não cristalizá-lo, mas fazê-lo operar de um modo criativo, de tal maneira que ele também se torne um poeta, posto que interroga seu próprio sintoma, que o movimenta numa cadeia na tentativa de criar novos sentidos e novas versões para sua própria história. Eis a articulação que se tentou fazer entre a perspectiva de Freud e de Pessoa: a possibilidade de alterabilidade do outro. Pessoa visava uma transformação poética e Freud, uma transformação pela análise.

A análise, momento propício à criação de novos sentidos, remete ao comentário de Maurice Blanchot, citado por Rosenfeld (1998, p. 34):

A situação da análise tal como Freud a descobriu é uma situação extraordinária, parece saída do encantamento dos livros. Esse relacionamento, como dizem, do divã e da poltrona, essa entrevista nua, em um espaço separado, entrincheirado do mundo, duas pessoas invisíveis uma a outra, são pouco a pouco chamadas a se confundirem com o poder de falar e o poder de escutar, a não ter nenhuma outra relação senão a intimidade neutra das duas faces do discurso, essa liberdade que se torna o mais cruel constrangimento, essa ausência de relação que se torna, por isso mesmo, a mais obscura relação, a mais aberta e a mais fechada. (Rosenfeld, 1998, p. 34)

Compreender a dimensão da criação poética seria, portanto, uma possibilidade de encarar o analisando como capaz de brincar, fantasiar, repetir, fazer sintomas e, por que não, construir estratégias que a possibilitem elaborá-los de alguma forma.

A função do analista, assim, propõe um lugar, uma posição. Posição esta de destituição subjetiva, que implica em uma mudança de lugar. A função do analista não é a pessoa do analista. Pois, a pessoa implica em um ser, já a posição nos leva a pensar um des/ser, uma destituição. Da mesma forma a produção de um analisando no final de uma análise, implica uma destituição igualmente no sentido de modificação de lugar (destituição subjetiva). No sentido de que o analisando é posto em análise a produzir uma fala metafórica, o que faz deste um poeta posto a criar possibilidades novas de viver.

 

Referências

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Recebido em 21 de março de 2010
Aceito em 26 de outubro de 2011
Revisado em 11 de maio de 2012

 

 

1 Outro, conceito lacaniano, que designa a instauração da função materna, responsável por inscrever o sujeito na ordem da linguagem e da cultura. Inscrição realizada por meio de uma falta, que cria a condição de constituir um sujeito desejante. Guarda a capacidade de marcar, assim, uma diferença eu-outro.

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