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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev.Mal-Estar Subj vol.13 no.3-4 Fortaleza Dec. 2013

 

ARTIGOS

 

Arte e mediação terapêutica: sobre um dispositivo com adolescentes na clínica-escola

 

Art and therapeutic mediation: about one device with adolescents in the school-clinic

 

Arte y la mediación terapéutica: sobre un dispositivo con adolescentes en la clinica escuela

 

Art et médiation thérapeutique: a propos d'un dispositif avec des adolescents dans la clinique-ecole

 

 

Maria Celina Peixoto LimaI; Karla Patrícia Holanda MartinsII; Lorenna Pinheiro RochaIII; Paulo Alves Parente JrIV; Iane Pinto de CastroV; Nara Morais PinheiroVI; Mariana DominguesVII

IProfessora titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. E-mail: celina.lima@unifor.br
IIProfessora adjunta do Mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. E-mail: kphm@uol.com.br
IIIBolsista Capes. Mestranda em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: lorennapinnheiro@hotmail.com
IVPsicólogo. E-mail: papj.33@gmail.com
VPsicóloga. Psicopedagoga. Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza. E-mail: ianepiupiu@yahoo.com.br
VIPsicóloga. E-mail: naramoraispinheiro@hotmail.com
VIIPsicóloga. Mestre em Psicologia pela PUC-SP. E-mail: marianinhaad@hotmail.com

 

 


RESUMO

Pretende-se, no presente artigo, apresentar os resultados da pesquisa/intervenção "Arte e mediação terapêutica: sobre um dispositivo com adolescentes na clínica-escola". Ao longo de vinte e quatro meses, oito adolescentes entre 12 e 18 anos, inscritos nos Serviços de Psicologia Aplicada e de Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza, foram acompanhados em oficinas semanais de artes plásticas, coordenadas por estagiários dos dois cursos e monitores do curso de Belas Artes. O grupo de jovens apresentava graves impasses no campo da aprendizagem escolar. O trabalho de intervenção objetivou, principalmente, a construção de um dispositivo clínico interdisciplinar, com privilégio da mediação terapêutica da arte, levando em conta as especificidades da problemática adolescente, em especial, aquelas relativas à transferência. Nesse sentido, o dispositivo funcionou inspirado em trabalhos institucionais já conhecidos no campo psicanalítico, como a "prática entre vários". Os resultados apontaram que a transferência, nessa modalidade de intervenção, permite a negociação com algumas formas de movimento transferencial que frequentemente se apresentam na clínica psicanalítica com adolescentes. Simultaneamente, o uso da arte pode ser considerado um mediador terapêutico capaz de respeitar essas particularidades, além de promover estratégias representativas do movimento de separação dos laços primários em direção aos laços de sociabilidade ampliada. Através de uma experiência compartilhada de "re-criação", a travessia do um ao Outro possibilita novas aberturas ao ato de aprender.

Palavras-chave: saúde mental; adolescência; dispositivo clínico-institucional; transferência; arte.


ABSTRACT

The intention of this article is to present the results of the Research/Intervention called "Art and therapeutic mediation: about a device with adolescents in the school-clinic". During twenty-four months, eight teenagers, between twelve and eighteen years, enrolled in an Applied Psychology Service and Occupational Therapy at the University of Fortaleza, where, weekly, they followed art workshops, coordinated by trainees coming from the two mentioned courses and Fine Arts Course's monitors. The teenager group had, in common, severe difficulties on school education field. The intervention work aimed, primarily, at the construction of an interdisciplinary clinical device, with the privileged therapeutic mediation of art, considering the adolescents' specific problems, especially those related to the transference. The clinical device was inspired by an institutional work on the psychoanalytic field known as "practices shared by many." The results showed that the transference, in this type of intervention, allows trading with some transference's movements that often arise in the adolescents' psychoanalytic treatment. Simultaneously, the use of art can be considered a therapeutic mediator able to respect these particularities and to promote strategies representing the movement of separation from the primary relations towards to sociability enlarged. Through a shared experience of "re-creation," the passage from one to another, enables new openings to the act of learning.

Keywords: mental health; adolescence; clinic-institutional device; transference; art.


RESUMEN

Pretendese, en el presente artículo, presentar los resultados de la Investigación/Intervención "Arte y mediación terapéutica: sobre un dispositivo con adolescentes en la clínica escuela". A lo largo de veinte cuatro meses, ocho adolescentes entre doce y dieciocho años, inscriptos en los Servicios de Psicología Aplicada y de Terapia Ocupacional de la Universidad de Fortaleza fueron acompañados en talleres semanales de artes, coordinadas por pasantes de los dos cursos y monitores del Curso de Artes. El grupo de jóvenes presentaba, en común, graves callejones en el campo del aprendizaje escolar. El trabajo de intervención objetivó, principalmente, la construcción de un dispositivo clínico interdisciplinar, con privilegio de la mediación terapéutica de la arte, considerándose las particularidades de la problemática adolescente, en especial, a las relativas a la transferencia. En este sentido, el dispositivo funcionó inspirado en trabajos institucionales conocidos en el campo psicoanalítico como la "practica entre varios". Los resultados señalaran que la transferencia, en esta modalidad de intervención entre varios, permite la negociación con algunas formas de movimiento transferencial que, frecuentemente, presentanse en la clínica psicoanalítica con adolescentes. Simultáneamente, la utilización de la arte puede ser considerado un mediador terapéutico capaz de respetar esas particularidades, además de promover estrategias representativas del movimiento de separación de los lazos primarios en dirección a los lazos de sociabilidad ampliada. A través de una experiencia compartida de "re-creación", la travesía del uno al Otro, posibilita nuevas aperturas al acto de aprender.

Palabras-clave: salud mental; adolescência; dispositivo clínico institucional; transferência; arte.


RÉSUMÉ

Il s'agit, dans cet article, de présenter les résultats de la recherche/intervention intitulée "Art et médiation thérapeuthique": à propos d'un dispositif avec des adolescents dans la Clinique-école". Au long de vingt et quatre mois, huit adolescents agés entre douze et diz-huit ans qui étaient inscrits dans les Services de Psychologie Apliquée et de Thérapie Occupationel de l'Université de Fortaleza, ont été suivis dans le cadre d'ateliers d'arts plastiques, dirigés par des stagiaires des deux cours et d' élèves de la Faculté de Beaux Arts. Le group de jeunes presentait, en commun, des graves difficultés dans le domaine de l'apprentissage scolaire. Le travail d'intervention a eu comme objectif, tout d'abord, la construction d'un dispositif clinique interdisciplinaire, en s'utilisant, de manière privilégiée, de la médiation thérapeutique de l'art, et en prennant en considération les specificités de la problématique adolescent, en particulier, celles concernant le transfert. Dans ce sens, le dispositif a été inspiré dans les travaux institutionnels connus parmi les psychanalystes comme "pratique en plusieurs". Les résultats ont indiqué que le transfert, dans cette modalité d'intervention en plusieurs, permet une négociation avec certaines formes de mouvement du tranfert qui définissent, souvent, la clinique d'adolescents. Au même temps, l'usage de l'art peut être consideré en tant qu'un médiateur thérapeutique capable de respecter ces particularités, et promouvoir des stratégies répresentatives du mouvement de séparation des liens primaires en direction aux liens de sociabilité élargie. La traversée de l'Un à l'Autre, possibilitée par une expérience partagée de "récreation", permet des nouvelles voies à l'act d'apprendre.

Mots-clés: santé mentale; adolescence; dispositif clinique-institutionnel; transfert; art.


 

 

Introdução

No Brasil, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010 (IBGE, 2013), a população de adolescentes entre 12 e 17 anos correspondia a, aproximadamente, 21.083.635. Dados do Ministério da Saúde divulgados em 2005, portanto, anteriores ao censo, estimam que 10% a 20% da população de crianças e adolescentes são diagnosticadas com transtornos mentais (Ministério da Saúde, 2005). Ainda segundo o Ministério, o plano de política pública voltado para essa área não tem conseguido responder à demanda, resultando em um precário atendimento. No estado do Ceará, com uma população de aproximadamente 8.448.055 habitantes, dentre os quais 633.260 são adolescentes, apenas seis CAPSi II (a própria denominação já expõe a exclusão dos adolescentes) estão em funcionamento e somente dois situam-se na cidade de Fortaleza. A rede de atenção primária de saúde, a despeito da expressiva média demográfica, também não oferece atendimento psicoterápico. A descentralização dos equipamentos não representou uma responsabilização do setor público pelo atendimento desses jovens; ao contrário, o que vemos é uma negação da dimensão psicopatológica em privilégio da dimensão da inserção social a qualquer custo. No caso da cidade de Fortaleza, as duas clínicas-escolas acabam desempenhando parte do que caberia aos programas da prefeitura, mas é fato que a discussão acerca do precário atendimento das demandas dos adolescentes em sofrimento psíquico agudo se estende ao território nacional (Guerra, 2005).

Embora numa determinada perspectiva sejam incontestáveis os avanços no campo das políticas de saúde mental voltadas aos pacientes adultos, no que se refere ao trabalho com crianças e adolescentes, há resistências que dizem respeito, por exemplo, às exceções na direção do tratamento impostas aos modelos mais tradicionais, a citar: o trabalho com os pais, o acompanhamento junto à escola e/ou outros dispositivos de intervenção clínica e de redes sociais; ou seja, a dimensão ampliada de trabalho, principalmente quando se considera os casos de psicose e os impasses graves no desenvolvimento (Guerra, 2005). Insistimos: a imprecisão das políticas de atendimento aos adolescentes é ainda mais aguda. No limiar entre as diretrizes voltadas às crianças e aos adultos, poucas são aquelas que levam em conta, por exemplo, suas operações de linguagem e as especificidades do modo como constituem o laço social; especificidades estas com consequências fundamentais para pensarmos a transferência e as dimensões do ato, seja este o ato criativo, o de aprender, o de contestar, dentre outros.

Desse modo, nossa pesquisa propõe tomar a adolescência como campo privilegiado de investigação dessas transformações e impasses, partindo da apreciação das demandas institucionais do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade de Fortaleza. As propostas de atendimento dirigidas ao adolescente nessa instituição foram escolhidas como pontos de partida para uma reflexão sobre os limites dos dispositivos clínicos tradicionais e o papel importante que a arte pode conferir na construção de uma clínica ampliada da psicanálise.

Nessa direção, apostamos no diálogo profícuo entre a psicanálise e a arte, ao produzir como efeito-sujeito o saber-fazer com o real. Portanto, demarca-se a diferença entre um recurso à arte para entretenimento e outro que a tome como possibilidade de acesso ao sensível, capaz de refundar as relações do sujeito com o real, abrindo a possibilidade de elaborar algo inédito em relação ao seu sofrimento.

As mudanças ocorridas no cenário nacional de políticas públicas para a saúde mental (Portaria 336 SM do Ministério da Saúde, 2002) e as novas diretrizes de formação do aluno de psicologia (CNE/CES, 2004) têm convocado os serviços-escola a repensar seus lugares e sua ética frente aos progressivos deslocamentos dessas práticas para o campo da saúde. Em 1999, os dados do relatório institucional do SPA da Universidade de Fortaleza apontavam o quantitativo de 4.900 atendimentos ao ano. Em 2004, o serviço assinou convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) e já no ano de 2010 realizou 26.202 atendimentos, dentre eles, em média, 925 com adolescentes (733 individuais e 192 em contexto grupal), o que representa, naquele ano, 3,5% dos atendimentos. A avaliação em profundidade desses dados não será contemplada neste trabalho, ainda que algumas das reflexões aqui expostas estejam orientadas por indagações relativas ao significativo número de interrupções nos atendimentos de adolescentes, ao modo como essa demanda se constitui, inclusive quanto ao atravessamento dos discursos dos pais e da escola na formulação das principais queixas.

Nos últimos anos, testemunha-se um crescente número de encaminhamentos de adolescentes em sofrimento agudo, alguns com vínculos familiares e/ou escolares rompidos. A questão do dito "fracasso escolar", antes dirigida à criança, é apenas suspensa até a entrada desta na adolescência. É significativo o número de adolescentes com graves impasses na leitura e escrita - alguns ainda não conseguindo ler ao concluir o ensino fundamental.

Contrários a uma tendência que homogeneíza queixa e demanda, devemos, numa perspectiva psicanalítica, considerar a dimensão do sujeito e seu desejo inconsciente, e o que se produz, a partir desse ponto, acerca do seu sofrimento. Leva-se em conta, como ressaltam Elia, Costa & Pinho (2005), a sua responsabilização e implicação no tratamento. Em outras palavras, considera-se que há condições para o exercício da prática psicanalítica sempre que são mantidas as condições para a escuta e presentificação de atos inéditos do sujeito em sua singular relação com o desejo. Isso significa questionar sobre o lugar da psicanálise nas instituições de saúde mental enquanto direção clínica, ou seja, indagar "acerca de seus pressupostos e às consequências de sua aplicação no trabalho institucional" (Elia et al., 2005, p. 129).

Para Guerra (2005), a "clínica ampliada" da psicanálise na rede de saúde mental - podendo-se incluir as clínicas-escola - exige articulações entre a clínica e a política apontando em direções que, às vezes, "ultrapassam o recurso à palavra ou à dimensão lúdica - tomados como espaço da linguagem e da manifestação do sujeito desejante" (Guerra, 2005, p. 5). Ao privilegiarmos os efeitos-sujeito, surgem, junto às novas modalidades de aplicação da psicanálise, a abertura à interdisciplinaridade e a diluição do setting clássico, determinando não apenas uma ampliação no campo das modalidades de intervenção, mas, principalmente, uma nova política, interditada aos saberes totalizantes.

Todavia, é necessário considerar que as práticas de atendimento clínico na universidade, orientadas pela psicanálise, são realizadas com alunos em formação, muitas vezes, atravessados por um percurso de graduação para o qual as vias do curar e do educar ainda não foram desestabilizadas. Freud (1917/2006d) já havia recomendado cautela frente a tais imperativos, expondo-os como pedras no caminho da formação dos analistas. Como pedras, fazem retornar o caminhante, convocando-o ao exercício permanente de fazer da resposta enigma. Desse modo, não se pode ceder, por exemplo, à submissão dos princípios igualitários que norteiam a "clínica do cidadão" e "escamoteiam o que de singular possa surgir, em uma escuta surda pautada nos princípios da instituição" (Elia et al., 2005, p. 133). Portanto, "ferido" pela psicanálise, o estagiário de psicologia deve responder ao fundamental da sua ética: escutar o sujeito a partir de seu inconsciente e da posição pela qual ele é responsável.

 

Metodologia: A Construção de um Dispositivo de Pesquisa/Intervenção

Este trabalho inscreve-se em um fio de reflexão sobre a ação do psicanalista no campo institucional. Freud (1910/2006b, 1919/2010), por diversas ocasiões, aponta a possibilidade de ampliação da clínica psicanalítica e, mais recentemente, as experiências de aplicação/extensão da prática psicanalítica no seio de alguns serviços, não só no campo da saúde mental, mas também nos hospitais gerais e nas instituições socioeducativas, atualizam e inflamam esse debate. Mesmo reconhecendo que a cura psicanalítica não tem lugar nessas instituições, a questão concerne ao que pode ser introduzido do discurso psicanalítico.

A experiência institucional com adolescentes orientada pela psicanálise está inscrita nos primórdios do movimento psicanalítico. O trabalho de Aichhorn (2006) com jovens infratores recebeu, como sabemos, a atenção do próprio Freud, que, no seu famoso prefácio ao livro A juventude desamparada, abre o debate para a questão da psicanálise aplicada ao campo da educação.

Se a adolescência vem sendo alvo, atualmente, de interesse teórico de inúmeros autores da psicologia e da psicanálise, os dispositivos terapêuticos que lhes são dirigidos raramente levam em consideração suas especificidades, ao contrário do que acontece com a clínica infantil.

Deleuze (1996), ao definir o que é um dispositivo, propõe uma diferença entre as linhas de sedimentação ou estratificação e as linhas de atualização e criatividade que abrigam, respectivamente, a dimensão do arquivo e da história, e a dimensão do atual. A psicanálise, ao construir seu dispositivo, sustenta uma ética que se orienta, simultaneamente, pela metapsicologia e pela transferência. É justamente através desta última que as linhas sugeridas por Deleuze se articulam. Sabemos que Freud (1913/2006c) pensa a transferência como playground, onde história e o acontecimento se presentificam.

No ano de 2010, no contexto da referida clínica-escola, considerando-se as especificidades do laço transferencial na adolescência e as demandas surgidas frente aos impasses nos processos terapêuticos de alguns adolescentes, foi proposto, para um grupo de adolescentes com idades entre 12 e 18 anos, a experiência em oficinas de artes plásticas. Foram incluídos, na pesquisa, os adolescentes em atendimento pela terapia ocupacional que, espontaneamente, escolheram essa modalidade de trabalho e ainda não haviam sido alfabetizados. O principal critério de exclusão foi a presença de comorbidades neurológicas consideradas impeditivas, por exemplo, de uma autonomia nos deslocamentos para o campus universitário. O trabalho de pesquisa-intervenção objetivou, principalmente, a construção de um dispositivo clínico interdisciplinar, com privilegio da mediação terapêutica da arte, articulada com a psicanálise.

Nomeado "Arte e Mediações Terapêuticas", o projeto incluía uma parceria entre os cursos de Terapia Ocupacional, de Belas Artes e de Psicologia, representado pelo Laboratório de Estudos e Intervenções Psicanalíticas na Clínica e no Social (LEIPSC). O grupo foi composto por oito integrantes e contou com a participação de uma equipe formada por estagiários provenientes dos três cursos mencionados. O projeto consistia no atendimento em grupo dos adolescentes e propunha a utilização de oficinas de arte - nas quais se trabalhava, em especial, com desenhos, pinturas e modelagens - como mediadoras do processo terapêutico que ali se desenrolava. A escolha pela arte foi resultante da concepção de que ela visa despertar efeitos de sujeito (Rivera, 2007), abrindo espaço para sua utilização com fins analíticos.

Os encontros aconteciam semanalmente, com duração de uma hora e meia, no ateliê de Belas Artes da universidade, local que dispunha de um ambiente propício à realização das atividades. Para tanto, os adolescentes, na companhia dos estagiários, deslocavam-se desde a clínica-escola até o campus universitário; travessia que, por si só, já se configurava como um rico processo interventivo, como será explicitado mais adiante.

No início de cada encontro, os estagiários de Belas Artes encarregavam-se de apresentar os materiais com os quais iriam trabalhar e ensinar como melhor manuseá-los. Os demais integrantes da equipe ocupavam-se de acompanhar a atividade, auxiliando no que fosse possível e observando o processo de produção. Nesse momento, os membros da equipe conseguiam se aproximar mais individualmente dos integrantes do grupo, tornando possível que se fizesse alguns questionamentos sobre aquilo que ali ia tomando corpo. Tal posicionamento visava fornecer subsídios para que o adolescente conseguisse construir algum sentido para si a partir daquilo que criava. Não havia um direcionamento específico do que se deveria produzir, ou seja, cada adolescente era responsável por sua criação. O que estava em jogo não era a interpretação da obra, mas o ato de fabricá-la. Ao final de cada encontro, cada adolescente poderia falar sobre sua produção, estando sempre garantida a possibilidade de recusarem-se a fazê-lo. Quando avaliado necessário, eram realizados encaminhamentos dos adolescentes para atendimento individual de orientação psicanalítica e atividades de psicopedagogia.

Como as oficinas aconteciam dentro do campus universitário, que se situa do outro lado da rua da clínica-escola, os adolescentes eram confrontados a um movimento de deslocamento que, desde o início, revelou-se fecundo de sentido. Além da separação das mães, que ficam lhes aguardando na clínica, os jovens, ao cruzarem a rua, penetravam no espaço físico representante, por excelência, da cultura. Era função dos estagiários acompanhá-los nesse percurso, que, metaforicamente, constitui a operação adolescente: sair de casa e entrar no mundo da cultura. Passagem que não era sem riscos, mas, logo nas primeiras reuniões, demo-nos conta da importância desse momento de deslocamento.

Ao situarmos nossa metodologia no campo da pesquisa/intervenção, convém a ressalva, já amplamente discutida, quanto à impossibilidade de uma separação entre a pesquisa e a intervenção psicanalítica. Desse modo, tomamos a transferência como índice das operações de efeito-sujeito e, em particular, das operações subjetivas que definem a adolescência, numa dupla vertente, a saber: na experiência do ato criativo e do ato analítico.

A ideia de um trabalho dentro da perspectiva da pluralidade, materializada não só no grupo dos adolescentes, mas também no grupo de estagiários e nos campos profissionais envolvidos no projeto, merece ser destacada, pois ela vem como resposta à problemática da transferência na clínica com adolescentes. Como já foi dito, o projeto envolve estagiários dos cursos de Psicologia, Belas Artes e Terapia Ocupacional, cujas concepções sobre a função da oficina divergiam consideravelmente. Se, de um lado, a Terapia Ocupacional e a Psicologia entendiam o valor clínico do projeto, essa compreensão escapava aos estagiários de Belas Artes. No entanto, a discrepância das três disciplinas se evidenciava mais visivelmente no que diz respeito aos objetivos da utilização da arte como mediação. Se, para as Belas Artes, o que interessava era, primordialmente, a transmissão de uma técnica; para a Terapia Ocupacional, o visado era o valor operatório da arte no que dizia respeito ao trabalho de funções deficitárias, tais como motricidade, atenção, socialização etc. Introduzir, nesse contexto, o pensamento psicanalítico exigia um duplo esforço: construção original do dispositivo e interlocução com os outros campos disciplinares. As reuniões semanais com a equipe testemunhavam o desafio que constitui esse trabalho. O dispositivo tentava, assim, desconstruir a ideia de especialidades e de multidisciplinaridade que normalmente caracteriza o funcionamento das instituições de saúde, o qual, por sua vez, reproduz a própria formação universitária.

 

Resultados e Discussão

Os Efeitos Transferenciais numa Prática entre Vários

O tipo de intervenção que caracteriza o dispositivo relatado situa-se entre o trabalho desenvolvido pelo acompanhamento terapêutico (Palombini, 2006), prática que vem ganhando grande destaque ao longo dos últimos anos, tanto no Brasil quanto internacionalmente, e a chamada "prática entre vários" (Di Ciaccia, 2005, p. 34), utilizada em várias instituições que atendem a crianças autistas e psicóticas.

A modalidade de trabalho que acontece "a céu aberto", passando por diversos ambientes e lidando com a imprevisibilidade, é bem característica da prática do acompanhamento terapêutico, que se dá "entre" lugares, na transição de um espaço fechado para outro aberto - no nosso caso, o campus universitário. É, portanto, uma clínica do ato, itinerante, que acontece longe de um setting pré-determinado e, até certo ponto, controlado. (Palombini, 2006).

A prática entre vários, assim denominada por Jacques-Alain Miller na abertura da III Jornada da Rede Internacional de Instituições Infantis realizada em Bruxelas, em 1997, constitui um dispositivo que, segundo Di Ciaccia (2005), permite pensar as particularidades da psicanálise na instituição, em particular, as vicissitudes da transferência que envolve a relação do paciente com vários profissionais.

Essa transferência com um Outro fragmentado em vários permite a negociação com algumas formas de movimento transferencial que frequentemente se apresentam na clínica psicanalítica com adolescentes. Quer seja pelo mutismo em que se alojam ou pela contestação da posição de saber do analista, que lhes remete ao campo parental, o reconhecimento dos impasses ligados à prática analítica da adolescência surge com os primeiros psicanalistas. Anna Freud se referia à adolescência como "o parente pobre da psicanálise", querendo, certamente, fazer alusão aos obstáculos enfrentados para a aplicação da técnica com jovens pacientes (Freud, 1974).

Segundo Mannoni (1996), o fracasso da análise de Dora, então com 18 anos, e da jovem homossexual se deu, em parte, em decorrência de Freud não ter atentado para a especificidade da problemática adolescente. Ao não questionar a demanda parental, Freud se posiciona na transferência como encarnando o lugar dos mesmos, o que vem dificultar o trabalho próprio do adolescente de desconstrução das identificações sustentadas no modelo parental. Além disso, nos dois casos, Mannoni (1996) destaca que Freud parece ser guiado pelo desejo de defender proposições teóricas, reforçando ainda mais sua posição do lado de um saber.

Nesse sentido, Rassial (2002), ao chamar a atenção para a reticência dos analistas em aceitar adolescentes em análise, adverte que a posição do analista, quer seja reconhecida como adulto, cúmplice ou mestre, será alvo de questionamento, contestação ou mesmo ataque da parte do adolescente. Aqueles que enfrentam o desafio de receber adolescentes em análise percebem que a destituição do lugar de grande Outro, que normalmente acompanha o fim da análise de um adulto, marca, frequentemente, já o início do processo analítico.

Chegamos ao ponto que nos interessa. Ao falarmos da transferência na adolescência, importa-nos, em particular, o problema do manejo do laço transferencial, pois é aqui que se coloca a questão do savoir-faire psicanalítico e sua possibilidade de transmissão.

Retomando nosso projeto, embora o dispositivo montado não siga as condições de um setting propriamente analítico, os efeitos transferenciais se mostram evidentes. As situações que se apresentam, quer sejam no percurso de deslocamento efetuado com os adolescentes, quer sejam nas oficinas de arte, exigem dos estagiários um posicionamento maleável, um jogo com as identificações que introduz uma dimensão lúdica que, segundo Mannoni (1996), é essencial na relação com o adolescente. Saber lidar com os impasses a que são confrontados na relação transferencial com os adolescentes apresenta-se como a perspectiva incontornável para sustentar uma posição clínica.

Embora também não estejamos no contexto de uma formação psicanalítica, podemos dizer que há formação do inconsciente, portanto, a psicanálise possibilita transformar o fenômeno relacional na via de acesso ao sujeito. O relato dos encontros, feitos por ocasião das reuniões semanais, seguindo o modelo da supervisão, serve como ponto de apoio à escuta do sujeito da enunciação. A palavra, no après-coup, permite que cada um dê forma àquilo que se produz no terreno da intervenção.

Ao propormos, dentro da universidade, um projeto de extensão como parte da formação do aluno de Psicologia, além de estendermos essa formação para além dos muros da sala de aula, provocamos um deslocamento da posição confortável de aprendiz de um saber instituído. Embora ainda estudantes e jovens, o dispositivo os coloca no lugar definido por Lacan de "suposto saber", de onde eles têm que responder frente ao outro. Promove, dessa forma, um abalo nas posições do discurso universitário e impulsiona o sujeito à confirmação dramática da vacuidade do lugar do Outro.

Ao descobrirem que o saber é só uma posição suposta e autorizada por um outro, em vez de se decepcionarem pela impostura da autoridade científica, os alunos podem, também na universidade, "a partir da psicanálise", descobrir a possibilidade de autoria do cientista. É Lacan (2006, p. 213) que nos diz a propósito do analista:

Assim a disciplina a ele imposta é contrária à da autoridade científica. Não digo à do cientista. O cientista da ciência moderna tem como efeito uma relação singular com sua superfície social e com sua própria dignidade, que está bem longe da forma ideal situada no fundo que constitui seu estatuto. Todos sabem que o que especifica as formas mais atuais de pesquisa científica não é em hipótese alguma identificável ao tipo tradicional da autoridade científica, daquele que sabe e toca, que opera e cura apenas pela presença da autoridade. (Lacan, 2006, p. 213)

Com essas palavras, Lacan (2006), ao aproximar o psicanalista do cientista da ciência moderna, assegura-nos que o debate sobre a psicanálise na universidade, longe de constituir uma heresia aos postulados psicanalíticos, pode, com o mesmo rigor, estar a serviço do exame de seu campo epistemológico e de seu lugar no social.

 

A Arte como Mediação

Passemos, agora, à discussão sobre um segundo ponto importante do dispositivo, a saber: a inclusão da arte como mediação. De que forma pode-se pensar a substituição da demanda do analista veiculada na regra fundamental, fale, pela demanda crie algo? E, ainda, em que essa substituição viria responder aos impasses na subjetivação dos adolescentes?

Ora, o caráter exemplar do patamar subjetivante da adolescência vem sendo afirmado por diferentes autores contemporâneos (Penot, 2001; Rassial, 1996), desconstruindo a ideia de adolescência como apenas um prolongamento da infância. Operações próprias desse momento da constituição do sujeito são destacadas como essenciais. Rassial (1996) nos fala da validação da inscrição do Nome-do-pai e da reencenação do estádio do espelho, que atuariam como processos de après-coup, ressignificando aqueles operados na infância.

O mal-estar que frequentemente define a adolescência decorre de desarranjos concernentes aos três registros lacanianos: o Real, o Simbólico e o Imaginário. Além do efeito das transformações sobre a imagem corporal, o sujeito adolescente depara-se com o despertar de novas exigências pulsionais, que o confrontam à questão do impossível da relação sexual. No registro simbólico, verifica-se a operação a ser efetuada da passagem do laço familiar para o laço social. O distanciamento a ser operado com relação à autoridade paterna implicará na dificuldade de inscrição em uma língua que marque a diferença geracional, o que, por vezes, leva à invenção de dialetos próprios aos adolescentes.

Uma das questões fundamentais da adolescência, portanto, corresponde, segundo Rassial (1996), à validação da inscrição do Nome-do-Pai para além da metáfora paterna. Confrontado à falência da consistência imaginária das figuras parentais, o sujeito adolescente encontra-se na urgência da invenção de novos suportes ao Nome-do-Pai, ou mesmo de novos nomes do pai, pois o modelo infantil, sustentado pela crença no poder soberano do pai, desmorona.

Em consequência da inconsistência do simbólico que vem dificultar novas ancoragens ao sujeito adolescente, este se apresenta, privilegiadamente, através de condutas e/ou atos. Além dos episódios de passagem ao ato e acting-outs que, frequentemente, caracterizam a clínica da adolescência, outra configuração sintomática vem, nos últimos tempos, apresentando-se como argumento da queixa veiculada pelos pais, sendo acompanhada, na maioria das vezes, de dificuldades escolares. Tais manifestações de sofrimento psíquico nos jovens parecem organizadas mais em torno daquilo que, no texto freudiano, apresenta-se sob a ideia de inibição do que nos moldes tradicionais que configuram o sintoma. O dispositivo em questão parte, assim, da constatação da necessidade de operadores apropriados a uma abordagem do ato, mais do que a uma clínica tradicional do sintoma.

Por que pensar um trabalho de subjetivação adolescente a partir da arte em sua relação com a sublimação? Além de ser um dos destinos pulsionais apontados por Freud, a sublimação é um conceito que aparece na interface de duas dimensões: a vida pulsional e a vida coletiva. Trata-se de uma questão de difícil abordagem, embora não faltem artigos que circundem o problema, seja pela via de uma psicanálise aplicada ao campo da arte ou pela investigação daquilo que existe em comum entre a produção artística e a experiência psicanalítica. Encontramos os fundamentos dessas duas direções de estudo no próprio Freud. Se, em alguns momentos de sua obra, ele se aventura em se servir de seus recentes achados teóricos para analisar produções, sobretudo literárias, fez parte também do pensamento freudiano a tentativa de compreender o processo de criação do artista. Freud nos deixa como herança o conceito de sublimação, o qual, ainda que insistentemente convocado em diversos momentos de sua obra, parece trazer a marca da frustração do autor em esclarecê-lo. Como diz Birman (2002, p. 90): "estamos aqui diante de uma das caixas-pretas do pensamento freudiano".

Embora não seja nosso objetivo entrar na discussão sobre os impasses conceituais que acompanham a problemática da sublimação, compartilhamos a indicação freudiana de uma afinidade entre os campos da criação e do trabalho analítico. Tomamos, portanto, como ponto de partida, a ideia de afinidade, chamando a atenção de que não se trata de equivaler arte e psicanálise apagando aquilo que identifica a singularidade de cada um desses domínios da experiência do sujeito.

Birman (2008) propõe pensar a questão da relação entre criatividade e subjetividade. Segundo ele, haveria um caráter criativo no funcionamento do psiquismo atestado pelas produções, sejam oníricas, sintomáticas ou delirantes. Tais formações ditas do inconsciente revelam a potencialidade criativa do sujeito, estando a prática analítica pautada não só na crença nessa potencialidade, como também na possibilidade de oferecer um dispositivo clínico que a ponha em ação. É certo que aquilo que se passa numa sessão de análise, enquadrada nas condições estabelecidas desde Freud, não pode ser transposto diretamente como modelo do processo criativo em cena no artista. Além da diversidade das expressões artísticas que certamente implicam processos subjetivos particulares, a relação com a materialidade e o endereçamento - em jogo no artista - impõe limites a um paralelismo das práticas. No entanto, ao trazermos a questão do ato criativo, não estamos nos referindo estritamente àquele que identifica o trabalho do artista propriamente dito; no nosso caso, trata-se da experiência de apresentar a possibilidade de criação artística no contexto da clínica.

Freud (1908[1907]/2006a), no seu artigo Escritores criativos e devaneios, oferece-nos uma contribuição importante para pensarmos a clínica psicanalítica com crianças e adolescentes. Ao propor um paralelismo entre a fantasia, o brincar infantil e a atividade de criação, ele abre uma via de argumentação para a técnica do brincar que será amplamente explorada pelos psicanalistas de crianças.

A adolescência, mais do que o momento no qual cessam as brincadeiras de criança, é, de acordo com Freud (1908[1907]/2006a), o momento em que a ancoragem sobre as coisas tangíveis do mundo é substituída pela atividade do devaneio (fantasias diurnas). Podemos, no entanto, questionar essa aparente renúncia ao objeto-suporte e pensar que, na adolescência, o trabalho de criação continua testemunhando a sua importância, porém, rearticulando fantasia e ato. A reorganização pulsional decorrente das mudanças pubertárias, ao exigir reconfigurações imaginárias e simbólicas, confere um valor de destaque ao ato criativo como agenciador das operações de corte e ligação.

Considerando que uma das operações adolescentes é construir um lugar para o Outro para além da família, a questão da passagem do endereçamento privado ao público também se coloca como operação fundamental. Algumas práticas adolescentes no campo da arte e da escrita ocupam o lugar do carretel na brincadeira de criança, apresentado por Freud (1920/2006e) como modelo do movimento de presença-ausência. O diário adolescente (Lima, 2006), as pichações e grafites nos muros da cidade e as tatuagens no corpo revelam-se como estratégias de construção de demarcações e de trânsito entre o dentro e o fora. Segundo Costa (2001), constituem paradigmas do movimento de separação, de saída das relações primárias e entrada no "anônimo" do social.

É, portanto, nessa direção que nossa proposta de utilização de oficinas de arte se inscreve: uma travessia mediada pela arte para um lugar outro. Como nomeou uma das adolescentes do grupo, "do ateliê para o mundo".

 

Considerações Finais

Gostaríamos de concluir este artigo com uma breve reflexão sobre os fundamentos metodológicos que orientaram este trabalho de pesquisa-intervenção. Trata-se de uma experiência que ilustra um novo contexto que, nas últimas décadas, vem servindo de cenário à psicanálise: a universidade. Desde que Freud, em 1919, indagou-se sobre o ensino da sua disciplina na universidade, o movimento psicanalítico mudou e hoje, quase um século depois, não faz mais sentido o ressentimento freudiano de exclusão da psicanálise por parte de seus colegas acadêmicos. Assistimos à consolidação da entrada desse ensino no contexto universitário, tanto nos cursos de graduação - em particular, nos cursos de Psicologia - como nos programas de pós-graduação. Portanto, não cabe mais nos indagarmos sobre a inclusão ou não da psicanálise na universidade, e sim problematizarmos a forma de sua transmissão, que deve ser norteada não pelo trabalho de transferência, mas pelo que Lacan, em vários artigos da década de 1960 (Lacan, 2003a; 2003b), chamou de transferência de trabalho. A nova situação da psicanálise no mundo, denominada por Lacan (2003b) de psicanálise em extensão e caracterizada por aquilo que Kupermann (2009, p. 306) chama de "nomadismo dos analistas por espaços e saberes diversos", apresenta a universidade como lugar privilegiado para a pesquisa psicanalítica. Embora submetido ao discurso universitário, o trabalho de pesquisa, mais do que a sala de aula, institui a autoria do aluno na construção de um saber. Ainda retomando o artigo de Freud (1919[1918]/2006d), a pesquisa possibilita que o aluno aprenda alguma coisa vinda da psicanálise, e não apenas algo sobre a psicanálise.

No avesso da pretensão que organiza o discurso da ciência a esse "tudo saber", fazer pesquisa em psicanálise implica aceitar certa errância e suportar estar em um território desconhecido, pleno de elementos imprevisíveis, a fim de apreender aquilo que o encontro com o objeto reclama de atitude do pesquisador-analista. Ao seguirmos as condições que caracterizam fundamentalmente o trabalho analítico, a saber, o respeito à singularidade e a consideração do lugar do outro na transferência, asseguramos a promoção do sujeito do inconsciente e assim resguardamos a especificidade do campo analítico.

Numa outra perspectiva, na última década, assistimos ao deslocamento da prática psicanalítica a setores não só institucionais, mas no campo da Saúde Coletiva. Refletir sobre os desafios e as possibilidades de novas práticas clínicas orientadas pela psicanálise foi um dos objetivos alcançados com essa experiência. Considera-se que ela tenha contribuído com a formação dos alunos de psicologia e com a construção de uma clínica em extensão.

 

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Recebido em 23 de abril de 2012
Aceito em 21 de fevereiro de 2013
Revisado em 15 de outubro 2013

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