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Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento

Print version ISSN 1519-0307On-line version ISSN 1809-4139

Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv. vol.16 no.1 São Paulo June 2016

 

ARTIGO

Percepção de jovens atletas sobre o envolvimento dos pais em relação à sua participação esportiva

 

Young athletes perception on the involvement of parents in relation to their sporting participation

 

Atletas jóvenes de percepción sobre la participación de los padres en relación a su participación en deportes

 

 

Cesar Turino MomessoI; Carlos Eduardo Lopes VerardiII; Fernanda Zane ArthusoIII; Fernanda Santos Caló SilvaIV; Rafael Nogueira RodriguesV; Vinicius Barroso HirotaVI; Willer Soares MaffeiVII
I Universidade Estadual Paulista
II Universidade Estadual Paulista
III Universidade Estadual Paulista
IV Universidade Estadual Paulista
V Universidade Estadual Paulista
VI Universidade Presbiteriana Mackenzie
VII Universidade Estadual Paulista

 

 


Resumo

O objetivo do presente estudo foi avaliar a percepção de jovens atletas sobre o envolvimento dos pais, em relação à sua participação na prática do futebol.  Aplicou-se o Parental Involvement Sport Questionnaire (PISQ), do tipo Likert, composto por dezenove itens distribuídos em três fatores: Comportamento diretivo; Elogios e compreensão e Envolvimento ativo. Os dados analisados restringiram-se à estatística descritiva, valor de média e desvio padrão. Os dados sugerem escores mais elevados para os fatores “Comportamento diretivo” tanto para a categoria Sub-15 (3,2±1,5) quanto para a Sub-17 (3,0±1,3) e “Elogios e compreensão” na Sub-15 (2,9±1,8) e na Sub-17 (2,6±1,1), respectivamente. Contudo, o resultado obtido no fator “Envolvimento ativo” se apresenta nas categorias Sub-15 (3,0±1,7) e Sub-17 (2,8±0,8) com o menor valor médio. Os resultados, obtidos no presente estudo, corroboram os encontrados na literatura. Os atletas avaliados, em geral, afirmaram receber de seus pais, apoio necessário e controle do seu comportamento durante a prática do futebol. Ao analisar o envolvimento dos pais, em relação ao clube de futebol que seus filhos estão inseridos, os resultados demonstraram baixo comprometimento parental para com os filhos.

Palavras-chave: Esporte, Futebol, Emoções.


Abstract

The aim of this study was to evaluate the perception of young athletes on the involvement of their parents in relation to their participation in soccer. Was applied Parental Involvement Sport Questionnaire (IPCS), Likert type instrument, composed of nineteen items distributed in three aspects: directive behavior; Compliments and understanding; Active involvement. The analyzed data was restricted to descriptive statistics. The data suggest higher scores for the aspects of "directive behavior" for both the category Under-15 (3.2±1.5) and for the Under-17 (3.0±1.3) and "Praise and understanding" for the Under-15 (2.9±1.8) and Under-17 (2.6±1.1), respectively. However, the result obtained in the factor "active involvement" is presented in the categories Under-15 (3.0±1.7) and Under-17 (2.8±0.8) with the lowest average value. The results obtained in this study corroborate those found in the literature. The assessed athletes generally claim upon their parents, needing support and control their behavior during soccer practice. We conclude that when analyzing the involvement of parents in relation to the soccer club that their children were inserted, the results showed low parental commitment to their children.

Keywords: Sport, Soccer, Emotion.


Resumen

El objetivo de este estudio fue evaluar la percepción de los atletas jóvenes en la participación de los padres en relación con su participación en la práctica de fútbol. Participación de los padres aplicado Deporte Cuestionario (IPCS), Likert, compuesto por diecinueve artículos distribuidos en tres factores: comportamiento de la dirección; Felicitaciones y la comprensión y la participación activa. Los datos analizados se limita a la estadística descriptiva, la media y la desviación estándar de valor. Los datos sugieren una mayor puntuación para los factores "que rigen el comportamiento", tanto para la categoría Sub-15 (3,2±1,5) y para el Sub-17 (3,0±1,3) y "apoyo y la comprensión" la Sub-15 (2,9±1,8) y Sub-17 (2,6±1,1), respectivamente. Sin embargo, el resultado obtenido en el factor "participación activa" se presenta en las categorías Sub-15 (3,0±1,7) y Sub-17 (2,8±0,8) con el valor medio más bajo. Los resultados obtenidos en este estudio corroboran los encontrados en la literatura. Los atletas evaluados en general dijo a sus padres, necesitan apoyo y controlar su comportamiento durante la práctica de fútbol. Al analizar la participación de los padres en relación con el club de fútbol que se insertan sus hijos, los resultados mostraron bajo nivel de compromiso de los padres para sus hijos.

Palabras clave: Deporte, Fútbol, Emociones.


 

 

Introdução

O esporte constitui-se em um agente importante no processo de socialização de crianças e jovens (VERARDI; DE MARCO, 2008; ULLRICH-FRENCH; SMITH, 2009). O envolvimento de jovens atletas no esporte de alto nível depende muito do incentivo e do acompanhamento de seus pais da prática esportiva de seus filhos, para a construção de um ambiente favorável que atenda aos interesses e necessidades dos mesmos. Os clubes esportivos e os treinadores representam, secundariamente, um papel importante. A trajetória bem-sucedida de um jovem que se torna atleta profissional deve-se muitas vezes ao apoio familiar. Os jovens talentos, quando pouco motivados pelos pais, tendem a não se comprometer com o esporte (BAXTER-JONES, 2003; GIANNITSOPOULOU et al., 2010).

Os efeitos parentais são determinantes para o desenvolvimento da carreira esportiva do filho, pois podem apresentar aspectos positivos, como, por exemplo, na autoestima, na percepção de competência para realização de tarefas, na sensação de prazer pela prática e, principalmente, na orientação quanto às condutas e deveres no esporte. No entanto, podem apresentar também efeitos negativos devido a condutas muitas vezes exageradas ou inadequadas podem prejudicar o comportamento dos filhos no esporte (GOMES, 2010). Atletas que obtiveram uma carreira de sucesso relataram ter grande incentivo familiar durante toda a carreira esportiva (GIANNITSOPOULOU et al., 2010).

Latorre (2001) define as características comportamentais dos pais em seis perfis: (1) desinteressados, que estão sempre ausentes da vida esportiva dos filhos; (2) úteis, que incentivam de forma positiva os filhos durante as competições; (3) excessivamente críticos, que nunca estão satisfeitos com o rendimento dos filhos e os pressionam excessivamente; (4) vociferantes, que se alteram durante as competições e chegam a ficar agressivos; (5) técnicos, que dão instruções aos atletas e que em alguns momentos passam por cima das instruções dos próprios treinadores; (6) superprotetores, que ficam inseguros com a participação dos filhos em competições e acabam atrapalhando o rendimento dos mesmos.

O desafio dos profissionais que trabalham com jovens esportistas é identificar como os pais poderão afetar o seu comportamento no contexto esportivo, problemática esta, presente na formação esportiva. Ao mesmo tempo, é imprescindível identificar as ações negativas e eliminá-las, para que não haja um agravamento destas ações que podem vir a prejudicar o desenvolvimento do jovem atleta (WEINBERG; GOULD, 2014). Quando o comportamento dos pais é percebido pelos jovens como positivo, estes experimentam situações afetivas favoráveis como comprometimento esportivo. O comprometimento de jovens jogadores de futebol, a dedicação e o interesse em continuar está relacionado com o tipo de apoio recebido pela família (TORREGROSA et al., 2007).

Nunomura e Oliveira (2014) por sua vez, apontam que, do ponto de vista dos técnicos, a participação dos pais apresenta apenas dois polos: positivo ou negativo. E, ainda que alguns técnicos declarassem a participação dos pais como neutra, observou-se uma tendência para um dos polos, até mesmo porque, a neutralidade foi considerada negativa, tendo em vista que pais neutros se apresentam alheios ao que está acontecendo na vida esportiva dos filhos.

Há um consenso na literatura sobre a importância dos pais na vida esportiva dos filhos (MARANGONI e HIROTA, 2013). E esse envolvimento deve ocorrer de maneira moderada, sendo firmes na cobrança, mas flexíveis o suficiente para que o jovem atleta tenha autonomia, independência e autossuficiência para tomar decisões de maneira segura e satisfatória para a realização das tarefas (CREMADES et al., 2012; VISSOCI et al., 2013). O envolvimento moderado dos pais é o adequado, pois aqueles que não se envolvem podem prejudicar a evolução esportiva do filho, devido à falta de investimento emocional, motivacional e financeiro. Já aqueles com maior envolvimento acabam tendo condutas excessivas na obtenção de sucesso e especialmente na valorização do resultado (CREMADES et al., 2012).

Diante deste contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a percepção de jovens atletas sobre o envolvimento dos próprios pais, em relação à sua participação na prática das diferentes categorias do futebol, verificando possível diferença da participação dos pais nas diferentes categorias, e desta maneira verificando os resultados tendo em vista a aplicação pratica, para professores e técnicos de futebol, sobre a participação dos pais na vida esportiva dos filhos.

 

Método

Amostra

Através de um estudo descritivo (MARCONI; LAKATOS, 2002) participaram desta pesquisa 53 jogadores de futebol, com idades entre treze e dezessete anos – dados homogêneos em relação a idade (15,13 ±0,70, coeficiente de variação de 4,62%), todos do sexo masculino, destes, 33 (62%) pertencem à categoria Sub-15 e 20 (38%) pertencem à categoria Sub-17 de um Clube de Futebol do interior do Estado de São Paulo. Todos os integrantes do estudo participam de torneios oficiais organizados e supervisionados pela Federação Paulista de Futebol (FPF). Inicialmente, o projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências, Campus de Bauru (UNESP) de acordo com o Parecer nº 237.707/2013. Responsáveis pelo clube também aprovaram a realização do estudo, após receberem informações detalhadas sobre o projeto.

Procedimentos

Para a coleta de dados, foi realizado contato prévio com os responsáveis do Clube de Futebol, esclarecendo os objetivos do estudo e garantindo o anonimato de todos os atletas participantes. Após autorização do Clube, definiu-se a programação para a aplicação do questionário. O questionário foi aplicado antes da sessão de treinamento dos atletas, numa sala disponibilizada pelo Clube, na presença dos responsáveis pelas categorias de base.

Instrumento

Neste estudo, foi utilizado como instrumento de coleta de dados o Parental Involvement Sport Questionnaire (PISQ) de Lee e Mclean (1997) na sua versão traduzida e adaptada e validada por Aroni (2011) ao idioma Português do Brasil (PISQp), primeiramente utilizado em nadadores. Este instrumento tem como objetivo avaliar a percepção que os atletas têm sobre o comportamento dos pais em relação à sua participação esportiva. Este instrumento foi desenvolvido para ambos os gêneros, e compreende faixa estarias de 12 a 20 anos, e o jovem atleta deve ter participado de pelo menos uma competição durante sua pratica esportiva (ARONI, 2011). É composto por dezenove itens distribuídos em três fatores: fator I (comportamento diretivo – 10 itens), que é indicado na medida em que os pais controlam o comportamento de seus filhos no esporte; fator II (elogios e compreensão – 4 itens) que mede o apoio dos pais e a empatia demonstrada para com seus filhos; fator III (envolvimento ativo – 5 itens), indicado na medida em que os pais participam ativamente no clube esportivo. As respostas são realizadas em uma escala tipo Likert, de 1 (Sempre) a 5 (Nunca). O instrumento é de auto aplicação e o tempo médio de respostas é de 5 minutos.

Análise dos dados

Foram utilizados cálculos de estatística descritiva (média, desvio padrão e mediana) percentual da frequência de ocorrência absoluta e relativa das respostas obtidas e o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Com esses métodos, pôde-se verificar se houve diferença significativa entre os fatores, comportamento diretivo, elogios e compreensão e envolvimento ativo e entre as categorias. Em todos os testes estatísticos foi adotado um nível de significância de p≤0,05, fazendo uso do programa SPSS, versão 20.0.

 

Resultados e discussão

Na figura 01 estão os valores relativos e percentuais referente à presença dos pais nas competições e treinamentos dos filhos, segundo a percepção dos atletas entrevistados.

 

 

Os resultados são apresentados separadamente entre as categorias Sub-15 e Sub-17. Nota-se que em ambas as categorias Sub 15 (45,5%) e Sub 17 (50%) os jovens relataram que o pai está mais presente durante as competições e aos treinamentos. Quanto ao apoio das mães, os escores foram praticamente nulos nas duas categorias.

Ao se comparar esse resultado com os da literatura, Torregrosa et al. (2007) se aproximam da mesma realidade, pois apenas 6,2% dos jovens futebolistas descreveram as mães como as mais envolvidas. No estudo de Gomes (2010), as moças apresentaram maior apoio das mães em relação aos rapazes. A diferença do apoio entre pais e mães pode estar relacionada à cultura nacional paternalista, a qual envolve a prática do futebol pelos meninos e culturalmente conta com uma maior atenção dos pais tanto pela modalidade, quanto pela prática dos filhos (VISSOCI et al., 2013).

O apoio, relatado pelos entrevistados, de ambos os pais nas competições e treinamentos dos filhos foi baixo tanto na categoria Sub 15 (21%) quanto Sub 17 (15%), considerando que a participação do pai e da mãe na vida esportiva do filho seria o mais adequado. Como foi evidenciado no estudo de Gomes (2010) os atletas com melhores resultados esportivos descreveram maior acompanhamento por parte do pai e da mãe conjuntamente. Vissoci et al., (2013) observaram em atletas femininas de futsal que os pais têm grande influência no desenvolvimento da carreira esportiva, com ênfase em um ambiente de suporte e favorecimento de autonomia, com presença de apoio afetivo e estrutural dos pais para a prática do esporte.

Dos entrevistados, 33,5% da categoria Sub 15 e 30% da categoria Sub 17 disseram não receber apoio de nenhum de seus pais. Este é um resultado preocupante, pois os jovens atletas que não recebem apoio familiar tendem a apresentar níveis significativamente mais baixos de comportamento diretivo, de elogios e compreensão e no envolvimento ativo (TORREGROSA et al., 2007).

A Tabela 1 mostra os valores referentes à avaliação da percepção que os atletas entrevistados têm sobre o comportamento de seus pais em relação a sua participação esportiva.

 

 

A Tabela 01 fornece escores médios e teste de comparação de médias entre as categorias Sub-15 e Sub-17 para cada variável do PISQp. Não houve diferença estatisticamente significante entre as categorias de atletas em nenhuma das variáveis analisadas (P > 0,05). Os dados fornecidos indicam certa relação na distribuição dos escores médios e medianos para os fatores do “comportamento diretivo” tanto para a categoria Sub 15 (3,2±1,5) quanto para a Sub 17 (3,0±1,3); “elogios e compreensão” na Sub 15 (2,9±1,8) e na Sub 17 (2,6±1,1) e no fator “envolvimento ativo” nas categorias Sub 15 (3,0 ± 1,7) e Sub 17 (2,8 ± 0,8).

O “comportamento diretivo” está diretamente relacionado com o controle dos pais sobre o comportamento dos filhos no esporte, ou seja, como são as intervenções e reações dos pais depois de um jogo ou treino, se observam os erros e acertos ou o que deve melhorar na próxima vez, podendo ainda a reação parental ser negativa devido ao sentimento de raiva dos pais ou de insatisfação com o desempenho do filho (LEE; MCLEAN, 1997).

O apoio parental também se faz importante para a manutenção do envolvimento com atletas, por meio do apoio financeiro, moral e afetivo. Em relação a esse apoio, Vissoci et al., (2013) comentam que atletas de futsal feminino relataram perceber atenção e preocupação dos pais com a prática da modalidade e com o desenvolvimento da carreira. Ainda complementam Marangoni e Hirota (2013) relatando a evidencia que a participação dos pais na vida esportiva dos filhos é de grande importância para o desenvolvimento da moral do indivíduo dentro do esporte.

Massa et al. (2010) observaram em um estudo com judocas profissionais, pertencentes à seleção brasileira de judô, que o incentivo da família na carreira profissional dos filhos foi fundamental para que os mesmos alcançassem o alto nível, o que deixa claro a importância do controle dos pais sobre o comportamento dos filhos de maneira positiva na carreira esportiva do atleta. Torregrosa et al, (2007) verificou também grande apoio da família na carreira esportiva de jogadores de futebol profissional.

Na verdade, em geral, a participação da família tem dois lados aparentemente difíceis de separar: dar mais apoio e estar ativamente envolvidos (envolvimento positivo) e emitir comportamentos diretivos (envolvimento negativo) pela pressão e a possível contradição com os técnicos (TORREGROSA et al., 2007).

A variável “elogios e compreensão” avalia o apoio dos pais e a empatia demonstrada para com seus filhos, em relação ao desempenho do atleta em uma competição ou treinamento. Os valores para esta variável estão bem próximos dos obtidos no “comportamento diretivo”, pois estão relacionados com a reação dos pais depois de uma atuação do filho, observando se mesmo depois de uma atuação ruim os pais o elogiam e estimulam, destacando os pontos positivos e o incentivando a melhorar, ou então que acaba desmotivando o atleta apontando a falta de esforço e/ou comprometimento (LEE; MCLEAN, 1997).

A maioria dos indivíduos participa dos esportes porque aprecia a competição e sente-se bem quando desempenha ou mostra as habilidades. No entanto, as recompensas externas também representam uma forma de motivação, como receber incentivo, aplausos, ganhar prêmios logo após uma partida (VERARDI; DE MARCO, 2007), caracterizando a importância da variável “elogios e compreensão” em que os resultados permitem observar que nem sempre os atletas recebem incentivos neste sentido. Isso pode ocasionar a falta de comprometimento e desmotivação pelo esporte, pois a motivação é um dos principais fatores para a realização de toda e qualquer atividade seja ela no plano motor ou cognitivo, permitindo a máxima eficiência da aprendizagem (VERARDI; DE MARCO, 2007). Torregrosa et al. (2007) verificaram que a percepção do comportamento familiar pelos jogadores determinou significativamente os seus compromissos com o futebol, pois aqueles que recebiam um maior apoio e compreensão por parte dos seus pais, encontravam-se mais comprometidos com o futebol. Ainda Hirota et al. (2011) dizem que parte dos pais se sentem insatisfeitos quando seus filhos são substituídos em jogos de futebol, demonstrando que as reações emocionais podem ser adversas.

O “envolvimento ativo” está relacionado com a participação ativa dos pais dentro do clube esportivo do filho, por meio de participação na administração do clube, nas competições ou na comissão técnica. Pode-se considerar também que o “envolvimento ativo” engloba as outras duas variáveis do PISQp em relação a participação dos pais durante jogos e treinamentos, suporte motivacional e de incentivo mesmo quando o jovem atleta não obteve bons resultados (LEE; MCLEAN, 1997).

Os resultados obtidos neste estudo quanto ao “envolvimento ativo” não se diferiram significativamente das demais variáveis do PISQp nem no Sub-15 (3,0± 1,7) nem no Sub-17 (2,8±0,8) evidenciando que os pais nem sempre estão ativamente envolvidos com as atividades propostas pelo Clube ou com o trabalho desenvolvido no mesmo. Esta mesma falta de envolvimento foi encontrada por Moraes et al., (2004) com jovens jogadores de futebol ao relatar que seus pais (60%) tinham pouco envolvimento com a carreira esportiva dos filhos, o que poderia levá-los à desmotivação e até mesmo ao abandono da prática. Muitos pais se preocupam com a independência e autossuficiência dos filhos na carreira esportiva e, por isso, com o passar do tempo, as influências parentais diminuem dando lugar a figura do técnico ou à própria autonomia dos atletas em tomadas de decisões em suas carreiras (VISSOCI et al., 2013).

Para reforçar a importância de se compreender a influência parental e a percepção que os atletas têm sobre o comportamento dos pais em relação à sua participação esportiva, cabe ainda mencionar o estudo desenvolvido por Gershgores et al. (2011), o qual dentre os seus objetivos, estava a investigação do efeito imediato do feedback parental sobre a percepção do clima motivacional de jovens jogadores de futebol. Os autores verificaram que jovens atletas, por volta dos 12 anos de idade, podem mudar atitudes quando recebem uma única declaração de feedback dos pais, passam a considerar suas expectativas e modificam seus pensamentos relacionados a sua meta. O feedback parental orientado para o ego e para a tarefa, facilitam a percepção de um clima motivacional voltado para o desempenho e para o domínio da tarefa respectivamente.

Assim sendo, a presença e o apoio adequado dos pais no contexto esportivo em que seu filho está inserido é de extrema importância tanto para a consolidação de metas coletivas com a equipe técnica, quanto para a promoção de um clima motivacional adequado (GERSHGORES et al., 2011). Nesse sentido, os autores Amado et al. (2015) apresentam estratégias importantes para a consolidação de um clima motivacional adequado, as quais incluem cursos para os pais envolvendo os seguintes temas: como participar de forma positiva na prática esportiva de seus filhos, como apoiar os filhos para que se tornem mais motivados e satisfeitos com a atividade que exercem e como se tornar consciente de seus próprios atos para que percebam como e quanto ajudam e incentivam seus filhos.

 

Conclusão

O estudo teve como objetivo avaliar a percepção de jovens atletas sobre o envolvimento dos próprios pais, em relação à sua participação na prática do futebol. Apesar da aplicação de um único instrumento de avaliação, de maneira geral, a figura paterna foi mais presente nos relatos dos avaliados e os jovens atletas descrevem receber de seus pais, apoio e controle do seu comportamento durante a prática do futebol. Ao analisar o envolvimento dos pais, em relação ao Clube de futebol que seus filhos estão inseridos, os resultados apresentaram baixo comprometimento. Nas categorias de base analisadas neste estudo, esse comportamento demonstra que os pais participam da vida esportiva dos filhos fora do ambiente do Clube, sem manter um contato próximo com a rotina esportiva dos filhos. Deve se levar em conta a possibilidade de associar este instrumento a outros em futuros estudos, podendo assim esclarecer possíveis lacunas decorrentes deste estudo.

 

 

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Submissão: 19.04.2016
Aceitação: 26.08.2016

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