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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.8 no.16 São Paulo dez. 2008

 

EDITORIAL

 

Contribuições e desafios da psicologia política para as políticas públicas

 

Contribuitions and challenges of political psychology to poblic policies

 

Contribuciones y retos de la psicología política para las políticas públicas

 

 

Alessandro Soares da Silva*, I; Celso Zonta**,II

I Universidade de São Paulo USP
II Universidade Estadual Paulista UNESP

 

 

Com esse segundo número da Revista Psicologia Política em 2008 completamos um ano como editores. Este ano foi marcado pelo ingresso na biblioteca PEPSIC, por mudanças no sistema de avaliação de revistas da – WEBQualis – e pelo ingresso no indexador Worldwide Political Science Abstracts. O volume de 2007 CAPES – editado por nossos antecessores – foi avaliado no sistema CAPES como B1 na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, como B2 nas áreas Interdisciplinar, Psicologia e Serviço Social e como B4 na área do Direito.

Nesse ano, publicamos 18 artigos e duas resenhas distribuídos entre autor@s de 16 instituições distintas. Foram avaliados 41 artigos e colaboraram 62 consultores ad hoc advindo de 34 instituições de ensino superior do Brasil e do exterior.

No presente número apresentamos a noss@s leitores um conjunto de 9 artigos, sendo 4 parte de um dossiê sobre homofobia nos livros didáticos, e uma resenha. Uma característica dessa revista de número 16 é a relação que esse conjunto de artigos constrói com o campo das políticas públicas e da psicologia política. Abre o presente número o artigo Sob a ótica dos pilotos: uma reflexão política sobre condições e organização do trabalho dos controladores de vôo de autoria de Roberto Heloani (FGV-SP/UNICAMP). O manuscrito aborda a crise aérea brasileira e o seu impacto na qualidade de vida e saúde mental dos sujeitos envolvidos na manutenção do sistema de aviação aérea civil. O estudo analisa documentações do setor e entrevistas com pilotos, contribuindo para a compreensão dos fatores que podem limitar e/ou potencializar as ações do Estado nessa área. Na seqüência, Ilana Lemos de Paiva (FARN) e Oswaldo Hajime Yamamoto (UFRN) apresentam uma análise crítica da prática social de psicólogos e psicólogas em organizações do terceiro setor que atuam em comunidades. A perspectiva adotada no manuscrito Os Novos Quixotes da Psicologia e a prática social no "terceiro setor" procura apontar para a diferença entre boa vontade e o agir crítico que supera as artimanhas da alienação, que abre caminhos para pensarmos formas de atuação mais criticas e libertárias, bem como a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre os fazeres das organizações do chamado terceiro setor.

Os três artigos que seguem, formam uma espécie de dossiê informal sobre Políticas Públicas e Juventude, pois são artigos apresentados isoladamente, mas que, quando lidos em seu conjunto, formam um quadro da situação sócio-política de jovens e adolescentes. O primeiro artigo é de autoria de Regina Magalhães de Souza (Secretaria Municipal de Planejamento, PMSP/SEMPLA) e Nicolau Tadeu Arcaro (Instituto Gestalt - SP/LAPSI – USP) e se intitula O Banco Mundial e o Investimento na Juventude Brasileira. O manuscrito analisa três documentos referentes à juventude produzidos nos anos 2000 pelo Banco Mundial de modo a identificar a posição atribuída ao jovem, objeto de políticas públicas. Nesse quadro analisa-se a aparente potencialização do jovem e possíveis estratégias de controle do comportamento desse mesmo jovem a partir de certas discursividades e da substituição de certas noções por outras na construção desse discurso, como é o caso da substituição da noção situação de risco por comportamento de risco. No artigo A concepção de cidadania como conjunto de direitos e sua implicação para a cidadania de crianças e jovens da autoria de Renata Alves de Paula Monteiro (UFRJ) e de Lúcia Rabello de Castro (UFRJ) encontramos um estudo crítico da razão desenvolvimentista que corroborou visões que impediam que crianças e jovens pudessem exercer um papel cidadão por ainda não estarem "plenamente" desenvolvidos para o exercício de sua participação cidadã. Nesse sentido, o artigo aponta para a força que essa racionalidade tem em nossa sociedade, inclusive sendo um elemento orientador de novas concepções como sujeito de Direitos, mas que apesar de constituir um avanço, ainda guarda ambigüidades como tutelar ou encorajar a participação juvenil. Por fim, trazemos aqui o artigo Una propuesta de categorización de la participación política de jóvenes cordobeses de autoria de Silvina Brussino, Hugo Rabbia, Patricia Sorribas, pesquisador@s do Grupo de Psicologia Política da Universidad Nacional de Córdoba – Argentina. Em seu trabalho procura-se entender a estrutura subjacente das práticas políticas de 300 jovens cordobeses entre 18 e 30 anos, as quais foram categorizadas em três agrupamentos para fins analíticos: participação partidarismo-sindical, participação da comunidade e participação expressiva.

Após esses 5 artigos, trazemos o dossiê Em foco: homofobia nos livros didáticos, um desafio ao silêncio organizado por Claudia Viana (USP) e Débora Diniz (UnB) contendo 4 manuscritos que em seu conjunto voltam seu olhar para as políticas de educação no Brasil no que tange a abordagem de questões transversais como orientação sexual e homossexualidade. Os textos aqui apresentados são resultado da pesquisa nacional Qual diversidade sexual dos livros didáticos brasileiros? Financiada pelo Ministério da Saúde e abordam elementos da produção da subjetividade e a construção política de sujeitos que estão em constante situação de opressão social, o que faz dessas reflexões um contributo importante para a Psicologia Política e para a construção de políticas públicas que sejam marcadas pela efetiva educação para os direitos humanos. Nesse sentido, @s autor@s desse dossiê contribuem para que o cotidiano escolar e os materiais didáticos fornecidos pelo Estado ou produzidos por editoriais especializadas, passem a reorientar seus produtos de forma a atentarem para a realidade de crianças e jovens lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros que vivem em seu dia a dia a dor e o peso das injúrias homófobas. Como apontam os textos de Tatiana Lionço (FIOCRUZ – DF/ANIS) e Débora Diniz; Claudia Vianna e Lula Ramires (USP); Roger Raupp Rios (Juíz Federal – RS) e Wenderson Rufino dos Santos (UnB/ANIS) e, por fim, Malu Fontes (UFBA) verifica-se a eloqüência do silêncio no que respeita a discussão dessas temáticas transversais claramente expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, ou no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e do programa federal Brasil sem Homofobia: programa de combate à violência e à discriminação contra GLBT e promoção da cidadania homossexual.

Por fim, a resenha de Antonio Tupinambá (UFC) do livro Bolívia jakaskiwa (2008) de Raimundo e Mariléa Caruso procura mostrar o "novo caminho boliviano" a partir por de diversos relatos e exposições presentes na série de reportagens e entrevistas que compõem o livro. Como aponta Tupinambá, naquele país, a luta pela autonomia guarda alguma semelhança com lutas como as travadas no Timor Leste nos idos de 1999 para alcançar sua independência da Indonésia. Para o autor da resenha, o atual movimento político e social da Bolívia também pode se configurar, como no Timor, como um levante da população contra a exploração e domínio externo, a favor da sua auto-determinação. Os fenômenos coletivos presentes nos acontecimentos vividos na história recente da Bolívia fazem dessa obra um título de interesse para a Psicologia Política.

Portanto, é com grande satisfação que deixamos a noss@s leito@s na companhia de quem merece sua atenção: @s autor@es desse número da Revista Psicologia Política!

Boa leitura!

 

 

* Editor.
** Editor.