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Revista Psicologia Política

versão impressa ISSN 1519-549Xversão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.16 no.35 São Paulo jan./abr. 2016

 

ARTIGOS

 

Uma psicologia feminista brasileira? Sobre destaque, apagamento e posição periférica

 

A feminist brazilian psychology? Highlighted, erased and peripheral position

 

Una psicología feminista brasileña? En destaque, desaparición y posición periférica

 

Une psychologie féministe brésilienne? Sur la mise en valeur, l'effacement et la position marginale

 

 

Marília SaldanhaI; Henrique Caetano NardiII

IPsicóloga, doutoranda em psicologia social e institucional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. mariliasaldanha50@gmail.com
IIProfessor de Psicologia Social e Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade (NUPSEX), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. hcnardi@gmail.com

 

 


RESUMO

Este ensaio busca pensar o encontro de determinadas psicologias com vertentes do feminismo numa perspectiva arquegenealógica foucaultiana e refletir sobre o que algumas autoras têm denominado psicologia feminista no campo acadêmico brasileiro. Para tal, foi feita uma revisão não-sistemática em revistas feministas, de psicologia e em algumas bases de dados. O material encontrado se resume em 27 artigos, uma dissertação e uma tese que foram analisadas com base na proposta Foucaultiana que toma os discursos na sua exterioridade e busca suas condições de possibilidade. Esta perspectiva não está interessada em verdades ou em psicologias mais "verdadeiras" que outras e sim em se referir aos discursos constitutivos destas práticas enquanto produções históricas. Neste ensaio nos restringiremos a analisar: quatro artigos, uma dissertação e uma tese de modo a contemplar tanto as conceituações sobre psicologia e psicoterapia feminista quanto seu destaque, apagamento e posição periférica no corpus da produção acadêmica.

Palavras-chave: Psicologia feminista, Gênero, Psicoterapia feminista, Violência, mulheres.


ABSTRACT

This essay searches to discuss the encounter of certain psychologies with feminist currents in a Foucauldian archegenealogical perspective and to understand what some authors meant when they describe a feminist psychology in the Brazilian academic field. To attain this objective, a non-systematic review was done in feminist magazines, in psychology scientific journals and databases. This review found 27 papers, a dissertation and a thesis. These scientific works were analyzed using the Foucaultian proposal that understand discourses in their exteriority and seeks their conditions of possibility for them to emerge. This perspective is not interested in finding the 'real' truths or designating psychologies that are truer than others, but in describing discourses as constituting psychological practices as historical constructs. In this essay we will limit our analysis to four articles, a dissertation and a thesis in order to contemplate both conceptualizations on feminist psychology and psychotherapy and there are highlighted, erased or occupy a peripheral position in the corpus of academic production.

Keywords: Feminist psychology, Gender, Feminist psychotherapy, Violence, Women.


RESUMEN

Este ensayo quiera pensar la reunión de ciertas psicologías con corrientes de feminismo y reflexionar sobre lo que algunos autores han llamado la psicología feminista en el ámbito académico brasileño. Con este fin, una revisión no sistemática se hizo en revistas feministas, de psicología y algunas bases de datos. El material encontrado se resume en 27 artículos, una disertación y una tesis. Estas producciones fueron analizadas sobre la base de la propuesta de Foucault que toma los discursos en su exterioridad y buscar sus condiciones de posibilidad. Esta perspectiva no está interesado en la verdad o psicologías más "verdaderas" que otros, pero para referirse a los discursos constituyentes estas prácticas como producciones históricas. Vamos a restringir el análisis: cuatro artículos, una disertación y una tesis. Incluir tanto la conceptualización de la psicología y la psicoterapia feminista como su destaque, desaparicíon y posición periférica en el corpus de la producción académica.

Palabras clave: Psicología feminista, Género, Psicoterapia feminista, Violencia, Mujeres.


RÉSUMÉ

Cet essai cherche à réfléchir sur le rencontre de certains approches psychologiques avec des courants du féminisme dans une perspective arche-généalogique inspirée en Michel Foucault avec le but de comprendre ce que des auteures ont appelé psychologie féministe dans le milieux universitaire brésilien. Dans cette direction, nous avons conduit une révision dans de revues traditionnelles féministes, de psychologie et dans certaines bases de données. Nous avons rencontrés 27 articles, un mémoire de master et une thèse. Ces textes ont étés analysés à partir de la proposition de Foucault de comprendre les discours dans leur extériorité et leur conditions d'émergence. Cette perspective ne s'intéresse pas en faire le partage entre les psychologies plus vraies que d'autres, mais aux discours qui constituent ces pratiques en tant que produits historiques. Dans cet essai nous analyserons seulement 4 articles, une mémoire et une thèse qui vont nous aider à décrire les concepts qui définissent la psychologie féministe et sa mise en valeur, son effacement et sa positions marginale dans le corpus scientifique en question..

Mots clés: Psychologie, Féminisme, Genre, Psychothérapie féministe, Violence contre les femmes.


 

 

Introdução

Para a diretora da ONU mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, a violência contra as mulheres é a violação de direitos humanos mais tolerada no mundo. No Brasil, a violência contra as mulheres, embora atinja todas as classes sociais e marcadores étnico-raciais, a violência atinge mais mulheres negras. De acordo com as conclusões do Mapa da Violência divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em 2015 foram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas. Esta edição do Mapa teve como foco a violência de gênero1 no Brasil. Num país que hostiliza suas mulheres como o nosso, a Psicologia2 não poderia contribuir para o reforço, nem para a manutenção de estigmas e estereótipos de gênero vigentes na nossa sociedade, entretanto, como mostraremos a seguir este não é o caso. Promover a difusão dos estudos de gênero na Psicologia, como sugere Adriano Nuernberg (2008), favoreceria a convocação de uma abertura maior à interdisciplinaridade desta ciência. Esta característica, por sua vez, se faz necessária, já que o saber psicológico não dá conta sozinho da dimensão e complexidade do fenômeno das violências contra as mulheres, as quais têm como base as relações de gênero articuladas com outros marcadores sociais tais como raça/etnia, classe, nacionalidade, sexualidade construídas dentro de um sistema capitalista e conservador.

Nesta revisão de caráter ensaístico, incluímos também uma referência às pesquisas quantitativas e qualitativas produzidas pelo Conselho Federal de Psicologia presentes nas publicações: Quem é a psicóloga brasileira? (2012) e Psicologia uma profissão de muitas e diferentes mulheres (2013) sobre o perfil das psicólogas brasileiras. Na coletânea de artigos e análises oriundas deste trabalho são fortes as indicações de que há uma lacuna importante nas formações destas profissionais sobre noções de gênero, sexualidade e questões étnico-raciais, o que pode impactar suas áreas de atuação.

Nosso interesse e aproximação com a vertente psicologia feminista se deu inicialmente com as autoras Conceição Nogueira e Martha Narvaz que a indicavam em seus artigos como sendo uma possibilidade de psicologia apropriada para lidar com as questões que atravessam as violências contra as mulheres. Sofia Neves e Conceição Nogueira (2003) afirmam que a politização dos espaços terapêuticos promovida pela intervenção psicológica feminista possibilita que as vítimas3 vejam validadas as suas experiências pessoais. Elas apontam o surgimento da psicologia feminista como coincidindo com a segunda onda do movimento feminista, sendo que a perspectiva que norteia a vertente é a busca de igualdade entre os sexos constituindo-se no princípio feminista mais valioso quando utilizado pela própria psicologia. Martha Narvaz e Silvia Koller (2006) afirmam que a terapia feminista orienta as mulheres na busca dos recursos comunitários e legais acerca de seus direitos além de ajudá-las a esboçar estratégias de resistência diante das discriminações e violências sofridas.

Estes apoios teóricos nortearam o período em 2012/2013 em que a primeira autora trabalhou num centro de referência para mulheres em situação de violência. Os questionamentos sobre a pluralidade da psicologia e do feminismo constitutivo da vertente em questão surgiram um tempo depois desta experiência. Ter encontrado uma psicologia nominada de feminista teve inicialmente um efeito potencializador por integrar dois campos de interesse acadêmico e assim se tornar um objeto de estudo para o projeto de doutorado4 que se encontra em curso. O que mudou neste percurso foi a problematização da existência desta psicologia híbrida. De que psicologia estão falando as autoras que a reivindicam e com qual vertente do feminismo estas práticas se mesclam?

A pergunta-título5 embute em si alguns problemas tais como a questão da especialização do conhecimento e interdisciplinaridade e/ou de seus campos de luta; aspectos teórico/metodológicos que marcam a psicologia chamada de feminista; o debate entre ciência e política; a antiga querela entre objetividade do conhecimento e neutralidade científica e a contribuição das teorias críticas feministas e dos estudos de gênero à psicologia. Eles serão discutidos na tese de doutorado. A pergunta que perseguimos neste texto é: existe uma psicologia feminista? E existir, significa aqui, encontrar-se legitimada no campo acadêmico brasileiro.

Um autor e algumas autoras (Adriano Nuernberg, 2008; Lenise Borges, 2014; Martha Narvaz, 2009) apontam para a marginalização da psicologia feminista no Brasil chegando a afirmar a sua não-existência no campo psi. Mas há quem afirme, como Mary Jane Spink e Peter Spink (2014) que no Brasil há pessoas ativas na psicologia feminista. A pesquisa Mapeamento de práticas de pesquisa-intervenção feminista no âmbito da psicologia social no Brasil: um estudo a partir das práticas discursivas, coordenada pela pesquisadora Lenise Borges da Universidade de Goiás, interessada em investigar como tem se formado uma psicologia feminista brasileira e se é possível chamá-la assim, é um exemplo desta atividade. Temos também Amana Mattos (2015) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que trabalha com feminismo interseccional e produziu o artigo Feminist psychology - researches, interventions, chalenges que se encontra no Standpoints and perspectives on psychology and critical psychology do Handbook organizado por Ian Parker. Nossa pesquisadora brasileira vai definir a psicologia feminista não somente como uma área de estudos de gênero em psicologia, mas como uma crítica permanente aos postulados epistemológicos que (re)produzem hierarquias e sexismo nas práticas e no conhecimento psicológico. A autora nos apresenta e descreve dois projetos de pesquisa inseridos no campo da psicologia feminista: o de Ilana Mountian, sobre drogas e gênero, e dela própria, sobre adolescentes e seus modos de significar liberdade. Por fim, enfatiza que o fato de a psicologia feminista ser uma perspectiva crítica contribui para que ela não encontre um grande reconhecimento entre pesquisadoras(es) conservadoras(es). Conseguir levantar fundos para pesquisa e ter seus trabalhos publicados em periódicos científicos são dificuldades frequentemente encontradas pelas(es) pesquisadoras(es) que se inserem nesta área.

Fora do campo acadêmico, a psicologia feminista é afirmada em práticas clínicas como as das psicólogas Caroline Pombo (abordagem fenomenológica) e Ana Cruz (Gestalt terapia) que, em 2015, no Rio de Janeiro, produzem um curso presencial e à distância que denominaram Grupo de estudos de psicologia feminista via hangout.

Na região de São Paulo há um projeto de autogestão feminista denominado Sorora psicoterapia feminista coordenado pela psicóloga/psicoterapeuta, Janaína Rossi, que atende em consultório e à domicílio. Sua clínica, questiona a tradição misógina na Psicologia é direcionada para o atendimento de mulheres lésbicas. Maiores detalhamentos sobre o projeto e o atendimento estão na página do Facebook® e também no Tumblr® onde estão divulgados. São exibidas contribuições teóricas, discussões, frases que apresentam a visão da autora sobre subjetividades e questões de gênero étnico-raciais.

Apresentamos nos próximos parágrafos como se encontra o campo da psicologia feminista em países do hemisfério norte que de alguma forma nortearam nossa aproximação com a temática, mas isto não se constitui numa revisão e sim numa pequena mostra de como a disciplina encontra-se ativa nos países a seguir. Nossa revisão propriamente dita se concentrará nas produções brasileiras e na análise do material encontrado no estudo exploratório descrito mais à frente no texto.

Começamos com a pesquisadora portuguesa Conceição Nogueira (2013), uma das primeiras psicólogas feministas de Portugal, que afirma a existência da psicologia feminista dizendo que esta se constitui num projeto de igualdade que se preocupa com um projeto que está atento às diversidades, às diferentes possibilidades e isto o identifica com o feminismo e com o projeto que está associado às mudanças sociais e à interseccionalidade. Em Portugal, embora a Psicologia siga um modelo mais positivista em grande parte de suas instituições acadêmicas, na Universidade do Minho se apresenta com um perfil mais inovador. O curso de psicologia e diversidade no mestrado integrado de psicologia onde se ministram disciplinas de gênero, feminismo, questões LGBT e racismo é um exemplo deste caráter mais alternativo assim como o doutorado em psicologia social ter desde 2007 uma área que contempla questões de gênero e sexualidade como nos descrevem as autoras Mariana Azambuja, Conceição Nogueira e Luísa Saavedra, (2007). O Centro Interdisciplinar de Estudos de Gênero (CIEG) criado em Lisboa no ano de 2012 assim como a Universidade Feminista, uma Associação feminista, encorpam o contexto lusitano que se ampliou também com o deslocamento da pesquisadora Conceição Nogueira para a Universidade do Porto.

Na Espanha temos a rede de psicoterapeutas feministas que é composta por um grupo de sete psicoterapeutas que trabalham com distintas correntes teóricas tais como psicanálise, gestalt e arteterapia. Estas teorias psicológicas não trazem em seu arcabouço uma leitura crítica frente ao patriarcado como afirma MaJo Torres Costa6 (2013) no entanto, as profissionais desta rede utilizam uma perspectiva feminista pautada no trabalho de Judith Butler. Graças a isto se abre espaço para que gênero, sexo, orientação sexual, identidade e corpo sejam escutados de modo crítico. La Psicoterapia de Equidad Feminista (PEF) como é denominada no Espacio de Salud entre nosotras (ESEN) se constitui numa outra prática psicológica que se baseia em métodos da psicologia cognitiva-emocional-comportamental há 25 anos utilizada neste espaço. Propõe-se a recuperar a saúde mental de mulheres que adoecem frente ao impacto patológico que exerce sobre suas vidas a desigualdade estrutural do sistema patriarcal. No manual que a associação apresenta há conceitos como depressão de gênero e síndrome de gênero.

No Canadá, temos na Universidade York em Toronto, o Projeto das vozes feministas na psicologia (Psychology's Feminist Voices) dirigido por Alexandra Rutherford que se une ao projeto com um grupo dinâmico de estudantes de graduação e pós-graduação que utilizam abordagens históricas, feministas, críticas e construcionistas para analisar experiências passadas e atuais de mulheres e minorias na psicologia e na sociedade. Este projeto começou em 2004 no programa de graduação em História oral a partir das iniciativas das/os estudantes que coletaram, preservaram e compartilharam as narrativas de psicólogas feministas de todo o mundo.

Nos Estados Unidos a vertente feminista de psicologia foi fundada na década de 1970 consolidando a relação entre feminismo e Psicologia, que é relativamente antiga neste país, tendo tido uma história de mútua influência já a partir do início do século XX quando a Psicologia estava se profissionalizando em paralelo ao momento de visibilização da primeira onda do feminismo. Neste período, os tradicionais papéis e estereótipos de gênero respaldados por psicólogos do sexo masculino, eram utilizados para justificar a exclusão de mulheres do ensino superior. Muitas destas primeiras psicólogas protestaram e se engajaram no movimento sufragista e/ou em grupos para enfrentar estas e outras situações de subordinação das mulheres. Mas é durante o período da segunda onda do feminismo que a psicologia feminista tem sua fundação reconhecida, num período delimitado entre 1960 e 1970, quando a relação sinérgica entre feminismo e Psicologia estava definida e forte como afirmam Joan Chrisler e colaboradores/as, 2014.

Angelo Costa, Silvia Koller e Henrique Nardi (2015) relatam que em 1970 um grupo de psicólogas norte-americanas lideradas por Phyllis Chesler e Nancy Henley organizaram uma manifestação na reunião anual da Associação Norte-americana de Psicologia (APA). Elas exigiam reparação financeira no valor de um milhão de dólares pelos danos que as teorias psicológicas androcêntricas e misóginas causaram às mulheres. A Comissão de mulheres na Psicologia (CWP) da Associação Americana de Psicologia (APA) é conhecida como um grupo ativista que contribuiu por quatro décadas para a transformação feminista da Psicologia. Nancy Henley, Betty Friedan e Kate Millet dentre outras, desafiaram com seus livros7, inúmeras teorias e práticas psicológicas que justificavam a dominação masculina e que se tornaram alvos do movimento feminista. Grupos de conscientização (CR)8 auxiliaram psicólogas e estudantes de Psicologia a reconhecer e a refutar práticas sexistas na sociedade e na Psicologia. As psicólogas feministas conduziram estes grupos nas comunidades e nos campus de Universidades em todos os estados dos Estados Unidos, sendo esse movimento considerado como o marco para a emergência da psicologia feminista. As psicólogas feministas filiadas ao movimento feminista passaram a adotar uma abordagem mais militante para reformar os vieses androcêntricos nas teorias psicológicas, na pesquisa e na terapia assim como nas práticas sexistas das associações de Psicologia apontadas por Joan Chrisler e colaboradores/as, 2014. Embora como afirmem Angelo Costa e colaboradores/as (2015) a reparação financeira não tenha acontecido, a APA organizou uma força tarefa que levou a criação em 1973 da divisão 35 (Sociedade pela Psicologia das Mulheres), reconhecendo e institucionalizando o que agora é referido como psicologia feminista e o ano de 1974 foi oficializado, nos EUA, como o ano de fundação da psicologia feminista.

As condições de possibilidade para a constituição e legitimação da vertente psi feminista nos Estados Unidos marcaram de modo bem significativo a década de 1970. Neste mesmo período no Brasil se iniciam os estudos sobre as mulheres no campo acadêmico com o intuito de dar estatuto de saber científico às suas experiências e às especificidades destas. Avançava-se no campo teórico com passos que andavam lado a lado ao movimento de mulheres e movimento feminista. A década da mulher havia sido instaurada entre 1975-1985 e as discussões que vinham sendo feitas em outros países contagiaram as militantes exiladas da ditadura brasileira, muitas delas, pesquisadoras que estavam voltando para o Brasil. A categoria gênero entra na academia de modo menos ameaçador, despido da conotação política e escandalosa do feminismo e segue uma trajetória ao longo das décadas seguintes onde vai se construindo no seio dos movimentos sociais e da academia. Os estudos de gênero se consolidam a partir dos anos de 1980 quando se inicia a crise epistemológica da psicologia social e o acolhimento dos estudos de gênero pela psicologia social crítica.

Nesta incursão na academia, sobretudo via pesquisas com e sobre mulheres, como afirma a pesquisadora Marie-Victoire-Louis (2006), em seu recenseamento parcial sobre esta categoria de análise, a palavra gênero emerge, mas só pode ser entendida na diversidade de sua utilização e em toda sua polimorfia que coexiste ainda com:

A palavra mulher: estudos sobre as mulheres, estudos sobre o gênero e sociedades; história das mulheres e do gênero. A palavra feminismo: estudos feministas, gênero e sexualidades, estudos e pesquisas feministas sobre o gênero; o gênero do feminismo; gênero e feminismo. (Marie-Victoire-Louis, 2006:717)

Do mesmo modo que, ao longo de todo século XX o campo do saber psi se multiplicou numa diversidade de psicologias concorrentes, conforme nos adverte Kleber Prado Filho (2005) sendo a psicologia tachada de ciência duvidosa e imprecisa por sua falta de unidade de campo, objetos e métodos, falta de um consenso e um paradigma. É no interior desta pluralidade epistemológico-teórica9 que o conceito de gênero passou por inúmeras reformulações até ganhar certa consolidação, embora mantendo a instabilidade teórica, como desenvolve densamente Sandra Harding (1993) no artigo A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. Esta instabilidade é enfatizada pela autora como algo bem-vindo. Ela diz que não faz sentido teorias coerentes e consistentes em um mundo instável e incoerente que, pelo contrário, acabam por se tornarem obstáculos ao conhecimento e às práticas sociais. A plasticidade da categoria gênero, herança dos movimentos sociais feministas vem se mantendo dentro do contexto acadêmico desde a utilização como uma simples variável passando pela divisão de papéis sexuais, categoria relacional, relações de poder até os estudos sobre performatividade de gênero. Suas reformulações acompanharam o que acontecia com a sucessiva pluralização do feminismo fora dos muros acadêmicos.

Os nomes dos eventos acadêmicos brasileiros traduzem uma posição de tensão da categoria analítica no cenário atual revelando dissonâncias: Fazendo gênero10 e Desfazendo gênero11! Dentro deste jogo, parece residir a ideia de construção e desconstrução permanentes da categoria que se constituem em fonte de tensionamentos importantes, seja nos debates teóricos e vivenciais, assim como nas angústias verbalizadas pelas(os) iniciantes no tema ao transitarem pelos diversos conceitos de gênero. A pesquisadora Guacira Lopes Louro (2007) sumariza bem as tensões experimentadas no campo das discussões sobre gênero:

Disputas em torno de conceitos, de correntes, de métodos e de estratégias são sugestivas de teorias vigorosas, moventes, vivas. Não se disputa aquilo que já está consagrado, quer dizer, aquilo que se tornou sagrado e que, em conseqüência, carece de animação, revelando-se, de algum modo, inanimado. Saudemos, então, nossas diferenças! Elas podem ser a fonte de nossa contínua renovação. (Louro, 2007:205)

As pesquisadoras Marie-Victorie Louis (2006) e Maria Eunice Guedes (1995) em seus artigos, respectivamente: Diga-me: o que significa gênero? e Gênero o que é isso? expressam as tentativas de dar continente à movimentação desta categoria de análise na complexa rede de estudos feministas. Os artigos em questão refletem anos de debates entre várias gerações de ativistas e teóricas feministas brasileiras, latino-americanas e euro-norte americanas.

Luana Carola dos Santos, Ana Berlado Carvalho, Julião Gonçalves Amaral, Larissa Amorim Borges e Claudia Mayorga (2014) encadeiam a psicologia social, o fortalecimento e surgimento de núcleos de pesquisa, a criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e as Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres, além dos editais específicos para as pesquisas de gênero como os elementos que contribuíram para a formação do campo de estudos de gênero. Vale ressaltar que no campo da psicologia social, a psicologia social crítica, que não é uma vertente do grupo dominante na psicologia, acolhe estes estudos que são considerados periféricos apesar de sua introdução na academia e nos programas de governo (identificados com a esquerda). É justamente o campo da psicologia social crítica que menciona a psicologia feminista como uma vertente que não se configurou no Brasil, tratando-se, portanto, de uma conversa entre campos minoritários. Há margens nas psicologias, ou seja, várias margens na margem e umas são mais margens que outras, como nos levam a pensar Maria do Mar Pereira e Ana Cristina Santos (2014).

No percurso desta pesquisa também nos deparamos com um dossiê sobre o Encontro Nacional Pensando Gênero e Ciências, Núcleos e Grupos de Pesquisa12 (2006) que reuniu em Brasília, no ano de 2006, pesquisadoras(es) e estudiosas(os) de mais de 200 núcleos e grupos de pesquisa de cerca de 100 universidades de todo o país. O objetivo do encontro foi mapear e analisar o campo de estudos de gênero no Brasil; estimular a produção acadêmica na área; propor medidas e ações que contribuíssem para ampliar a inserção das mulheres em todos os campos da ciência; e discutir a trajetória das mulheres e seu posicionamento nas carreiras acadêmicas. Dentre os vários textos publicados destacamos uma pesquisa da fundação Perseu Abramo (2001) apresentada por Marlise Matos (2006) da RedeFem13 em seu artigo sobre a institucionalização do feminismo na academia no Brasil. Os dados da pesquisa informam que dentre as mulheres brasileiras escolarizadas em nível superior apenas 24,7% se autodeclarou feminista; 37,5 % das mulheres brasileiras não sabem ou se confundem sobre o significado do feminismo. A pesquisa também afirma que 72,8% das mulheres com nível superior e mais (as cientistas brasileiras) não aderiram ao feminismo afirmando não serem feministas. Marlise Matos (2006) indaga:

[...] se elas não são feministas, como esperar que a ciência produzida (ou parte substantiva dela) tenha em seu escopo uma dimensão crítica de gênero e feminista? Como compreendermos que naquele âmbito em que mais se cria, fomenta, produz, reproduz, difunde informação e conhecimento, o feminismo seja ainda um valor tão iníquo? Que tipo de ciência estamos pois, (re)produzindo, se há uma fraca adesão das mulheres cientistas brasileiras ao feminismo? (Matos, 2006:96)

A literatura e as redes acessadas vêm nos apresentando a seguinte premissa: como poderíamos encontrar no Brasil uma vertente com tal hibridismo como a psicologia feminista se a Psicologia ainda é uma ciência preponderantemente regida pelo androcentrismo e há uma porcentagem elevada de mulheres com instrução superior que não aderem ao feminismo?

Nossas interlocutoras, pesquisadoras e professoras da área da psicologia, têm afirmado que não se precisa necessariamente aderir de modo identitário ao feminismo para que a produção acadêmica seja considerada feminista. Muitas das pesquisadoras com as quais temos debatido em vários encontros acadêmicos, se nomeiam psicólogas e feministas, ou seja, dissociam a prática psicológica de sua qualificação como feminista. Mais raro tem sido cruzar o caminho14 com quem se auto-intitule publicamente psicóloga feminista. Podemos pensar que, como a vertente em questão não se legitimou no campo psi, se nominar deste modo traz riscos diversos, desde o preconceito dos pares na comunidade acadêmica até a marginalização da própria profissional, o que justifica em parte, os cuidados com tal uso.

O trabalho Psicoterapia feminista: problematizando sua não-existência apresentado no evento realizado em Lisboa em 2016, Universidade Feminista em diálogo: práticas feministas, recebeu uma indagação que destacamos a seguir. Qual vertente feminista está atrelada à psicoterapia que tratas no teu trabalho? (já que há psicólogas feministas que trabalham o gênero como diferença sexual). O corpus de reflexão feminista em Portugal é considerado sólido, diversificado e amadurecido conforme Maria do Mar Pereira e Ana Cristina dos Santos (2014) nos levam a pensar. A pergunta destacada se vincula ao que vem sendo demonstrado na produção científica portuguesa dominante em relação ao modo como a análise de gênero vem sendo compreendida: como uma comparação entre sexos. Esta tendência está relacionada ao que as autoras afirmam sobre a crítica feminista não ter resultado em uma mudança de paradigma nas ciências sociais e nas humanidades.

Discussões similares podem ser identificadas nas ciências sociais como no artigo Antropologia Feminista no Brasil? Reflexões e desafios de um campo ainda em construção, da autora Alinne Bonetti (2012:53) que traz a fala "a antropologia não pode ser feminista, a antropóloga sim!" como uma recorrente provocação de suas interlocutoras antropólogas e feministas em seu caminho de compreensão de uma produção de antropologia feminista no Brasil. Os dois artigos que adjetivam suas disciplinas, Estudos de gênero: uma sociologia feminista? de Lucila Scavone (2008) e Antropologia feminista: o que é esta antropologia adjetivada? de Alinne Bonetti (2006) trazem interrogações de como as ciências sociais ainda fazem sobre suas vertentes com sobrenome feminista. Mesmo sendo pioneiras na abertura para os estudos de gênero, estas disciplinas ainda se deparam com preconceitos por parte da academia.

 

Trilha Exploratória

Este ensaio faz parte de uma pesquisa mais ampla. Compartilhamos com nossas leitoras e leitores o caminho que trilhamos, como o fizemos e o que traremos para análise. Nossa busca de artigos relacionadas a esta vertente foi realizada em dois periódicos feministas nacionais: Revista Estudos Feministas e Cadernos Pagu; em revistas antigas e consolidadas no campo da Psicologia: Arquivos Brasileiros de Psicologia (FGV e UFRJ); Psicologia & Sociedade (da Abrapso); Psicologia USP; Psico (PUCRS); Psicologia: ciência e profissão (CFP); Psicologia e política; além de coletâneas da ANPEPP. Consultamos também o periódico Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, pois marca um lugar importante dentro do feminismo acadêmico; o Portal de Periódicos da Capes; os bancos de dados Scopus, Web of Science e o portal Scielo livros; o google acadêmico e o google. Ressaltamos que pesquisamos todos os números das revistas escolhidas em busca dos descritores, o que nos fez percorrer as décadas de 1970, 1980, 1990, 2000 até 2015. Como já dito, organizamos as vinte e nove produções encontradas contendo os descritores psicologia feminista e psicologia e feminismo do seguinte modo: 27 artigos, uma dissertação, uma tese de doutorado. De todo este material analisado destacamos para este ensaio os quatro artigos, a tese e a dissertação que traziam definições relativas à psicologia feminista e trabalhos produzidos no encontro dos saberes, psicologia e feminismo. Voltamo-nos para estas produções baseando-nos na proposta de Michel Foucault (2007) que toma os discursos na sua exterioridade e busca suas condições de possibilidade. Esta análise arquegenealógica não está interessada em verdades ou em psicologias mais verdadeiras que outras e sim, em se referir aos discursos constitutivos destas práticas enquanto produções históricas.

Por meio da categoria enunciado, fazemos uma costura entre as produções escolhidas. Este conceito foucaultiano que se constitui numa unidade do discurso, mas vai além disto, se torna "uma função que cruza um domínio de estrutura de unidades possíveis e que as faz aparecer, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço" (Everardo Nunes, 2002:128). Este operador nos auxilia a compreender o encadeamento entre as produções dentro de uma rede de enunciados que as torna parte de um campo e o que este campo tem a nos dizer. Sua materialidade repousa nestes escritos legitimados em revistas científicas; assim como uma tese e uma dissertação, legitimadas pelas suas universidades respectivas.

 

Análise das Produções Sobre Psicologia Feminista

Selecionamos para análise somente as produções que continham o descritor psicologia feminista para assim nos situarmos sobre as articulações e definições nas quais se apoiam as autoras e o autor que se referem a esta vertente. Os quatro artigos, a tese e a dissertação foram escolhidos porque permitiram que nos aproximássemos do que vem configurando as discussões sobre a vertente/campo em questão, assim como seu destaque, apagamento e posição periférica no corpus da produção acadêmica. Interessa-nos apresentar as definições de psicologia feminista que as autoras trazem; pensar o encontro de determinadas psicologias com vertentes do feminismo e identificar os enunciados que encadeiam a rede.

Temos aqui produções que representam centro-oeste, sudeste e sul do país, em sua maioria de autoras mulheres e somente a tese é de um autor homem. Separamos cada produção analisada aqui, por ano de publicação, sendo que a mais antiga15 é a tese de doutorado, de 2005, Gênero no contexto da produção científica brasileira em psicologia, do autor Adriano Nuernberg, seguida de Metodologias feministas e estudos de gênero: articulando pesquisa, clínica e política, das pesquisadoras Martha Narvaz e Silvia Koller, 2006; da dissertação de mestrado Masculinidade na clínica da pesquisadora Renata Stelmann, 2007; Psicologia, violência contra mulheres e feminismo: em defesa de uma clínica política de Flávia Timm, Ondina Pereira e Daniela Gontijo, 2011; Gênero e feminismos: considerações teórico epistemológicas e impactos metodológicos das autoras Juliana Perucchi, Maria Juracy Filgueiras Toneli e Karla Galvão Adrião, 2013; e o artigo mais recente Feminismos, teoria queer e psicologia crítica: (re)contando histórias... da pesquisadora Lenise Borges, 2014.

Embora o descritor psicologia feminista encontre-se nas produções analisadas, as noções de psicologia feminista não estão necessariamente desenvolvidas nos textos. A não legitimidade da disciplina talvez justifique a falta de conceitualização. Em alguns, como o artigo da pesquisadora Lenise Borges (2014), são apresentadas autoras (es) que afirmam não ser possível se falar em psicologia feminista no Brasil e sim em abordagens feministas e estudos de gênero. Esta afirmação se repete na tese de Adriano Nuernberg (2005). A dissertação de Renata Stelmann (2007) também não apresenta uma definição de psicologia feminista. De início já nos deparamos com a reiteração de um apagamento que se confirma no fato destas autoras e autor não se desdobrarem em definições sobre a vertente. No artigo das pesquisadoras Flávia Timm e colaboradoras (2011) se procura articular a escuta clínica em psicologia com o feminismo; mais do que uma definição, ao fim do texto as autoras fazem uma proposta de psicologia feminista que podemos ler no seguinte trecho:

A articulação entre feminismo, violência contra as mulheres e psicologia é relevante na medida em que elucida o entrelaçamento das normas culturais da construção dos gêneros e suas restrições à produção de masculinidades e feminilidades, com as subjetividades e, consequentemente com o adoecimento psíquico e a perpetuação da tolerância a situações abusivas. A proposta de uma psicologia feminista contribui para o rompimento dessas restrições de subjetivação, criando a ideia de liberdade e de espaços alternativos de ressignificação das experiências. (Timm e col., 2011:258)

Temos no trabalho de Juliana Perucchi, Maria Juracy Filgueiras Toneli e Karla Galvão Adrião (2013) uma definição de psicologia feminista das pesquisadoras portuguesas Sofia Neves e Conceição Nogueira (2003) como sendo a ciência psicológica que se posiciona numa linha de ação ativamente anti-sexista e defensora da igualdade na valoração das experiências de mulheres e homens aos olhos do conhecimento científico. Juliana Perucchi e colaboradoras (2013) afirmam, ainda, que a vertente em questão não só compreende a situação feminina como também os sistemas de classificação que geram opressão tais como raça, orientação sexual e classe, os quais delineiam os contornos de uma interseccionalidade que não é abordada diretamente no texto. Martha Narvaz e Silvia Koller (2006), por sua vez, definem a psicologia feminista como um espaço estratégico entre o feminismo e a Psicologia que critica as concepções tradicionais da Psicologia positivista tradicional. Também situam a pesquisa feminista em diversos aspectos e problematizações; metodologia; problemáticas do feminismo; epistemologias feministas; terapias feministas. Em comum com estas autoras, temos Juliana Perucchi e colaboradoras (2013) que se baseiam teoricamente na pesquisadora portuguesa Conceição Nogueira. Adriano Nuernberg (2005) afirma em sua tese que o objetivo da psicologia feminista é contribuir para as mudanças nas realidades das mulheres por meio da produção de saberes que transformem as percepções sobre as mulheres e permitam a superação de seu lugar de subordinação.

Estas produções não explicitam de modo evidente quais psicologias se mesclam com o feminismo. Na tese de Adriano Nuernberg (2005), teremos a menção ao campo disciplinar da psicologia social como espaço de acolhimento para os estudos de gênero e a afirmação do autor de que o feminismo brasileiro adotou uma posição moderada de integração e não de radicalidade e ruptura, sendo que esta característica favoreceu a entrada destes estudos na academia. Para este autor, a psicologia feminista no Brasil não assume esta denominação, mas sim, estudos de gênero e entra no campo se somando aos jogos de forças já existentes para formar uma nova psicologia social brasileira. O autor afirma que as reflexões feministas foram absorvidas mais rapidamente pela psicologia clínica e pela psicologia do desenvolvimento no contexto europeu. Argumenta que isto se deu pela necessidade da discussão dos efeitos da subjetivação pela psicologia clínica e a importância das diferenças sexuais para a psicologia do desenvolvimento. Outro aspecto tratado pelo autor sobre a psicologia feminista é a diferença da resolução histórica desta vertente na versão anglo-americana que se guetizou no interior da psicologia comparada ao campo de estudos sobre a mulher e gênero na psicologia brasileira que se situou num campo interdisciplinar da psicologia social. Martha Narvaz e Silvia Koller (2006) apresentam as terapias feministas de família e citam as tradições humanistas e psicanalíticas como sendo a origem de onde partiram as primeiras psicólogas feministas estadunidenses. Segundo as autoras, as terapias tradicionais se pretendem apolíticas e recorrem a construtos intrapsíquicos para compreender o sofrimento psíquico; buscam o ajustamento, a normatização e normalização dos indivíduos e das famílias a papéis tradicionalmente prescritos. Do outro lado estariam as terapias feministas focalizando o contexto social, as desigualdades e opressão como origem das dificuldades individuais e familiares; problematizando papéis e normas; validando o saber individual das(os) pacientes/clientes; valorizando as diversidades; reduzindo diferenças de saber-poder. Lenise Borges (2014) se detém na psicologia social crítica e na psicologia socioconstrucionista como vertentes porosas aos feminismos, mas não afirma que tenham se mesclado e formado um campo feminista. Na sua dissertação, Renata Stelmann (2007) descreve a psicologia feminista em um capítulo intitulado psicologia de gênero. Flávia Timm e colaboradoras (2011:253) falam das práticas clínicas psicológicas que "nascem sem elaboração crítica androcêntrica". Os problemas não podem ser individualizados pela psicologia, pois o mundo social que entra na sala de atendimento também constitui as questões que as mulheres trazem. Para as autoras é preciso convocar a perspectiva feminista para que isto aconteça. A extensão do problema da violência contra as mulheres, segundo elas, demanda esforços maiores e um olhar crítico sobre a manutenção do patriarcado, a presença do capitalismo, a herança burguesa e cristã, e o etnocentrismo a que estamos submetidas(os), inclusive o que impregna nossas teorias. Embora as abordagens que seguem este padrão não sejam especificadas por elas e haja inúmeras vertentes em psicoterapia, em torno de 500 catalogadas como nos informa o ex-presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia (ABRAP) Luiz Alberto Hanns (2004), não é provável que seja muito diferente do que as autoras apontam. Na pesquisa qualitativa do CFP (2013) Psicologia: uma profissão de muitas e diferentes mulheres, nos diversos artigos que compõem a coletânea foi sublinhado o quão insipiente são as noções de gênero e sexualidade que as profissionais de psicologia demonstram ter e as muitas confusões conceituais advindas disto. A preocupação que acompanha tal análise está relacionada ao posicionamento essencialmoralista que tal lacuna no conhecimento pode produzir.

O destaque da vertente psicologia feminista se dá nas referências ao seu uso e fundação por outros países, como no caso de Juliana Perucchi e colaboradoras (2013) que afirmam os Estados Unidos, o Canadá e alguns países da Europa (Portugal, Espanha e Inglaterra) como espaços acadêmicos onde a psicologia feminista seria ativa. Ao relacionar a disciplina ao Brasil de um modo ou outro, quase todas(os) reiteram sua posição periférica ou não existência. Os enunciados apontam a marginalidade (esta palavra é a mais usada) da disciplina/vertente/campo apostando em psicologia de gênero, estudos de gênero, abordagens feministas como nomes possíveis e assim colaboram com a reiteração do não uso do termo psicologia feminista. Martha Narvaz e Silvia Koller (2006) evidenciam este estatuto periférico pela dificuldade de institucionalização nas universidades e pela publicação restrita a poucas revistas feministas e periódicos indexados com pouca produção relativa aos estudos de gênero e ainda menos sobre estudos e metodologias feministas. Renata Stelmann (2007) fundamenta afirmação similar no número irrisório de citações de textos feministas nas obras do campo principal da psicologia em comparação ao número de citações destes nos trabalhos feministas. Os estudos feministas são pouco mencionados em livros introdutórios de psicologia. A autora torna o quadro ainda mais problemático ao citar estudos que afirmam que muitos livros base de psicologia se apoiam em estudos de gênero que foram severamente criticados e abandonados. Segundo Renata Stelmann (2007), a perspectiva política presente nos estudos feministas é alvo de críticas por parte de psicólogas(os) tradicionais e é problematizada pelas(os) autoras(es) utilizadas(os) no referencial teórico da autora, pois a não inserção da política na ciência é considerada como um ato político. As(os) críticas(os) da perspectiva política com crença inabalável no método científico e na ciência física como seu ideal desprezam todo e qualquer trabalho que não gere dados, sendo seus alvos os trabalhos críticos da filosofia da ciência, da teoria feminista e do pensamento pós-moderno. De todos os artigos analisados, o de Flávia Timm e colaboradoras (2011) foi o único que não reiterou a ideia de um posicionamento periférico da vertente estudada, chegando a propor o engajamento numa psicologia feminista.

Os enunciados que se apresentam para dar os contornos sobre a psicologia feminista se fragmentam em definições genéricas e pouco discriminativas. A identificação de que psicologia e de que feminismo estão falando é pouco visibilizada, o que torna a identificação dos próprios enunciados nebulosa, uma vez que se definem pela oposição (crítica ao patriarcado, à dominação masculina, ao falo-androcentrismo, ao positivismo, à neutralidade, etc) mais do que pela via de uma positivação. Os enunciados sobre a reiteração de sua posição periférica, por outro lado, são evidentes na maior parte das produções, podendo ser ironicamente categorizados como quase um mantra. O regime arqueológico de materialidade a que obedecem os enunciados é mais da ordem da instituição do que do contexto espaço-temporal como nos indica Michel Foucault (1986), o que aqui podemos entender como presentes numa parcela do corpus acadêmico definindo "possibilidades de reinscrição e de transcrição (mas também limiares e limites)" (Foucault, 1986:116).

A trama histórica onde a psicologia social brasileira se constituiu, em particular, a crise experimentada na década entra 1970 e 1980, abriu espaço para os estudos de gênero, mas não para a formação e a positividade de uma nova vertente, disciplina ou campo denominado psicologia feminista. Lenise Borges (2014) investiga em pesquisa bem recente como tem se formado uma psicologia feminista brasileira e se é possível chamá-la assim. Neste ano ainda nos sentíamos vivendo numa democracia jovem, em contraste com a década em que a psicologia social brasileira mergulha numa crise e sai dela transformada na vertente social crítica, em plena ditadura militar. Encontramo-nos hoje em um país abalado por um processo de crise política severa e de um recrudescimento da direita e extrema-direita. De um certo modo, podemos pensar que entramos novamente num período espinhoso para se falar em psicologia feminista diante dos efeitos que estes governos com estes posicionamentos poderão ter sobre a educação brasileira, em especial, sobre a pesquisa e os estudos nas universidades públicas, onde o campo de gênero tem seu território de ação mais consolidado, efeito dos contágios com os movimentos sociais feministas, das discussões extra-muros e dos núcleos de pesquisas.

 

Comentários Finais

Ao tomar posse do que a cultura nos apresentava foi se confirmando a necessidade de desmembrar os campos psi e do feminismo nas produções acadêmicas brasileiras e assim situar a existência legítima ou marginalizada da psicologia feminista. Enveredamos por uma via labiríntica entre debates teóricos de feministas contemporâneas, história da psicologia social brasileira, vertentes das psicologias, estudos de gênero, ondas feministas e como se deram (e vem se dando) estas aproximações e seus níveis de resistência e tensão. A literatura foi nos indicando que as aproximações entre psicologia e feminismo não se apresentam tão explícitas nem legitimadas institucionalmente.

As produções analisadas apontaram o conservadorismo acadêmico que se atualiza na relativa aceitação de núcleos de estudos de gênero na pós-graduação o que leva a crer que o gênero é tomado como uma temática de especialistas. Um outro ponto é a dicotomia ainda presente no senso comum de que só se produz teoria na academia e apenas o ativismo político produz ação social. Algumas autoras concluíram afirmando que a marginalização dos estudos de gênero e feministas indicam a sua não integração à ciência, sendo que o lugar que ocupam é de um discurso do outro evidenciado na presença tímida nos currículos universitários e na invisibilidade do gênero nos diversos campos do saber. Outras afirmam que a comunidade acadêmica manifesta interesse em estudos sobre as características psicológicas das mulheres agredidas ou dos agressores e que os estudos que se voltam para a análise das estruturas que mantêm estas ideologias patriarcais ficam marginalizados. Isto está em ressonância com o que Maria Lucia Lima e Anna Paula Uziel (2013) apresentam no artigo Gênero e sexualidade na formação e prática profissional em psicologia, no qual as psicólogas entrevistadas na pesquisa confirmam o uso raro de concepções de gênero e sexualidade em suas formações. Na pesquisa quantitativa Quem é a psicóloga brasileira? Louise Lhullier e Jéssica Roslindo (2013) afirmam que dos 89% de mulheres que compõem a profissão no Brasil apenas 1% lida na sua área de atuação com as questões de gênero e violência familiar e doméstica.

A premissa de onde partimos indica as fortes resistências ao feminismo ainda presentes no mundo acadêmico. A resistência da Psicologia ao feminismo é ela própria uma extensão da resistência geral ao feminismo na sociedade de que a Psicologia é parte constitutiva, como bem afirma a psicóloga Alexandra Rutherford (2012). Na condição de profissionais da área psi não podemos ignorar a implicação da Psicologia na construção da sociedade que o feminismo busca transformar. Abordar a relação entre Psicologia e feminismo é adentrar numa seara tensa, num feixe de relações históricas atravessadas por inúmeros elementos de várias ordens.

Uma parcela do campo da psicologia social acolheu os estudos de gênero, mas no Brasil isto não significou a construção de um campo de psicologia feminista e nem de uma disciplina, assim nominada. Temos estudos de gênero, estudos feministas, perspectiva feminista, mas não temos uma psicologia feminista, ou psicologias feministas, muito menos psicoterapias feministas legitimadas pelos conselhos, afirmada de modo menos disperso entre as pesquisadoras ou presente em títulos de artigos como a trilha exploratória aqui empreendida nos apontou. Mas isto não significa que esta psicologia híbrida não esteja sendo praticada, construída e demandada em alguma medida como podemos constatar em ações psis fora da academia.

 

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Recebido em 16/02/2017.
Aceito em 07/06/2017.

 

 

1 Sem consenso entre estudiosas desta temática quanto ao uso das expressões problematizadas em muitos trabalhos: violência dos homens contra as mulheres; violência contra as mulheres; violência doméstica; violência de gênero; violências masculinas contra as mulheres.
2 Psicologia com p maiúsculo é utilizada para diferenciar a Ciência, da disciplina ou do campo, com p minúsculo.
3 Mantivemos o termo utilizado pela autora, mas evitamos usar esta expressão identitária. Preferimos dizer mulheres em situação de violência para reiterar o sentido situacional em que se encontram e apostar na transitoriedade de um ciclo que se pretende erradicar.
4 Da primeira autora.
5 Refere-se a um recorte de minha tese de doutorado ainda em curso.
6 Psicoterapia feminista un factor de cambio y empoderamiento no La independent. 2013.
7 A Mística Feminina (1963) de Betty Friedan e Política Sexual (1970) de Kate Millet.
8 Consciousness-raising (CR) grupos de conscientização.
9 Reconhecer que existe uma pluralidade epistemológica não implica em afirmar que não exista uma nítida hierarquia (sobretudo institucional) entre perspectivas, como discutiremos mais adiante conforme Henrique Nardi (2016).
10 O evento Fazendo Gênero é um consolidado espaço de discussões no campo dos estudos feministas e de gênero com dimensão internacional promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2017, está em sua 11ª edição prevista para o mês de agosto.
11 O primeiro Seminário Internacional Desfazendo Gênero aconteceu em agosto de 2013 no estado do Rio Grande do Norte e foi criado por pesquisadoras(es) e ativistas ligadas(os) aos estudos Queer. Encontra-se em sua 3ª edição agendada para o segundo semestre de 2017.
12 Elaborado pela Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres.
13 Rede Brasileira de Estudos e Pesquisas Feministas.
14 Consideramos também as conversas informais que se dão fora da universidade, em espaços de discussões como grupos de estudo e rodas de conversa onde a temática sobre psicologia feminista transita.
15 Há inúmeras outras produções mais antigas sobre a temática de gênero, mas aqui nos restringimos a analisar somente as que foram capturadas no estudo exploratório.

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