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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.19 no.44 São Paulo jan./abr. 2019

 

ARTIGOS

 

Ditadura e imprensa: a criação da imagem de terrorista da psicóloga Pauline Reichstul

 

Dictatorship and press: the creation of a terrorist's image of the psychologist Pauline Reichstul

 

Dictadura y prensa: la creación de la imagen de terrorista de la psicóloga Pauline Reichstul

 

Dictature et presse: la création de l'image de terroriste de la psychologue Pauline Reichstul

 

 

Juberto Antonio Massud de SouzaI; Ana Maria Jacó-VilelaII

IDoutorando em Psicologia Social na Universidade Estadual do Rio de Janeiro; xjubertox@hotmail.com
IIDocente no Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenadora do Laboratório de História e Memória da Psicologia - Clio-Psyché, na mesma instituição; jaco.ana@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo tem como objetivo compreender o movimento ideológico operado pela imprensa brasileira na criação da imagem de terrorista da psicóloga Pauline Reichstul, assassinada em 1973. Com isso, buscamos retomar parte da historiografia de psicólogos que tiveram algum papel de resistência contra o golpe de classe de 1964. Utilizando os pressupostos teórico-metodológicos do materialismo histórico-dialético, e apoiando-nos na concepção de estudo crítico tal como pensado na teoria vigotskiana, fizemos uma análise concreta da imprensa brasileira ao tratar o assassinato de Pauline no Massacre da Chácara São Bento. Pesquisamos sobre Pauline Reichstul nos bancos de dados dos jornais da época, disponíveis na Biblioteca Nacional. Isto nos deu o material empírico, possibilitando reconstruir este movimento a partir destas publicações. Ao final, concluímos que a construção da imagem desta psicóloga só se tornou possível através de sua desumanização, promovida pela mediação ideológica da imprensa. Esta serviu, portanto, como verdadeira correia de transmissão do Estado brasileiro.

Palavras-chave: Pauline Reichstul; história da psicologia; luta armada; ditadura militar; materialismo histórico-dialético


ABSTRACT

This article aims to understand the ideological movement operated by the Brazilian press in creating a terrorist 's image of the psychologist Pauline Reichstul, murdered in 1973. With this, we resume part of the historiography ofpsychologists who had some role in the resistance against the 1964 class coup. Using the theoretical and methodological assumptions of historical and dialectical materialism, and based on the conception of criticai study of vygotskian theory, we made the concrete analysis of the Brazilian press in dealing with the Pauline 's murder in the Massacre of Chácara São Bento. We searched about Pauline Reichstul in the databases of the newspapers of that time, available at the Biblioteca Nacional. It gave us the empirical material, making it possible to reconstruct this movement from these publications. In the end, we conclude that the construction of this psychologist's image has only become possible through her dehumanization, promoted by the ideological mediation of the press. It served, therefore, like a cog in the machine of the Brazilian State.

Keywords: Pauline Reichstul; history of psychology; armed struggle; military dictatorship; histori-cal and dialectical materialism


RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo comprender el movimiento ideológico operado por la prensa brasilena en la creación de la imagen de terrorista de la psicóloga Pauline Reichstul, asesinada en 1973. Con eso, buscamos retomar parte de la historiografia de psicólogos que tuvieron algún papel de resistencia contra el golpe de clase de 1964. Utilizando de los presupuestos teórico-metodológicos del materialismo histórico-dialéctico, y apoyándonos en la concepción de estudio crítico tal como pensado en la teoría vigotskiana, hicimos el análisis concreto de la prensa brasilena al tratar del caso Pauline en la Masacre de la Chacara São Bento. Buscamos la investigación del caso de Pauline Reichstul en los bancos de datos de los diarios de la época, disponibles en la Biblioteca Nacional. Esto nos dio el material empírico, posibilitando reconstruir este movimiento a partir de estas publicaciones. Al final, concluimos que la construcción de la imagen de esta psicóloga sólo se hizo posible a través de su deshumanización, promovida por la mediación ideológica de la prensa. Sirvió, pues, como verdadera correa de transmisión del Estado brasileno.

Palabras clave: Pauline Reichstul; historia de la psicologia; lucha armada; dictadura militar; mate-rialismo histórico-dialéctico


RÉSUMÉ

Cet article vise à comprendre le mouvement idéologique opéré par la presse brésilienne dans la création de l'image de terroriste de lapsychologue Pauline Reichstul, assassinée en 1973. Avec cela, nous avons reprendre une partie de l'historiographie de psychologues qui ont joué un rôle de résistance contre le coup dEtat de 1964. Utilisant les hypothèses théorique-méthodologiques du matéria-lisme historique et dialectique, et en s'inspirant de la conception de l'étude critique comme pensé dans la théorie de Vygotski, nous avons fait l'analyse concrète de la presse brésilienne dans le traitement de l 'assassinat de Pauline dans le massacre de Chácara São Bento. Nous avons effectué des recherches sur Pauline Reichstul dans les bases de données des périodiques disponibles à la Biblioteca Nacional. Cela nous a donné le matériel empirique permettant de reconstruire ce mouvement à partir de ces publications. A la fin, nous concluons que la construction de l'image de cette psychologue n'a été rendue possible que par sa déshumanisation, favorisée par la médiation idéologique de la presse. Cela a donc servi de véritable courroie de transmission de l'Etat brésilien.

Mots-clés: Pauline Reichstul; histoire de la psychologie; lutte armée; dictature militaire; matéria-lisme historique et dialectique


 

 

Introdução

O presente artigo tem como objetivo compreender o movimento ideológico operado pela imprensa brasileira para a criação da imagem da psicóloga Pauline Reichstul, assassinada em 1973, como terrorista. Para tanto, centramo-nos na concepção marxiana de ideologia, que afirma que "as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante" (Marx, Engels, 2013, p. 47. Destaques no original). Em seus Grundrisse, Marx reafirmou que:

A abstração ou ideia, no entanto, nada mais é do que a expressão teórica dessas relações materiais que os dominam. As relações só podem naturalmente ser expressas em ideias [...]. Do ponto de vista ideológico, [...] esse domínio das relações [...] aparece na consciência dos próprios indivíduos com o domínio das ideias e a crença na eternidade de tais ideias, i.e., dessas relações coisais de dependência, é consolidada, nutrida, inculcada por todos os meios, é claro, pelas classes dominantes (Marx, 2011, p. 112. Destaques no original).

Em seu mais importante trabalho, O Capital, quando trata da relação entre valor produzido e trabalho materializado na mercadoria trocada, Marx revela:

[...] o valor não traz escrito na fronte o que ele é. Longe disso, o valor transforma cada produto do trabalho num hieróglifo social. Mais tarde, os homens procuram decifrar o significado do hieróglifo, descobrir o segredo de sua própria criação social, pois a conversão dos objetos úteis em valores é, como a linguagem, um produto social dos homens (1989, p. 82-83).

Para operar a análise da imagem construída no caso de Pauline Reichstuhl, partimos dos pressupostos teórico-metodológicos do materialismo histórico-dialético, e nos apoiamos na concepção de estudo crítico tal como elaborada pela teoria vigotskiana, que propõe que a tarefa da análise está centrada em se "[...] diferenciar o verdadeiro do falso", já que "analisar criticamente [...] supõe também contrastar a teoria com a realidade que esta reflete: daí, que esta análise não pode consistir senão em uma crítica partindo da realidade" (Vygotski, 2013, p. 205. Tradução nossa.). Apoiados nestes referenciais, fizemos a análise concreta das fontes primárias, buscando investigar o modo como a imprensa brasileira tratou o caso da psicóloga Pauline Reichstul (1947-1973) durante o período da ditadura civil-militar. Neste sentido, buscamos explicitar parte do movimento ideológico, através da demonstração de seus nexos internos, tal como produzidos pela imprensa. Nosso pressuposto é de que o terrorismo de estado1, ampliado com o golpe de classe de 1964 (Dreifuss, 1986, p. 146), operou no plano ideológico por meio da utilização da imprensa brasileira, que reproduziu em escala ampliada as justificativas mantenedoras do golpe.

 

Método

Do ponto de vista das fontes, utilizamos a Hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital2, que nos deu acesso ao material de época, ou seja, as publicações dos jornais, agora digitalizados. Escolhemos a imprensa para a pesquisa por seu papel mediador, como "termo médio [...] [que] contém as antíteses e finalmente aparece sempre como uma potência unilateral superior diante dos próprios extremos" (Marx, 2011, p. 261).

Realizamos a pesquisa utilizando o marcador "Reichstul", em 155 diferentes jornais e em 2.698.693 páginas. Foram encontradas dezoito ocorrências. Destas, treze tratavam de Pauline e cinco se relacionavam ao seu irmão, Henry Phillipe Reichstul, sendo que apenas uma delas se referia à participação dele na oposição à ditadura. Em nossa análise, a mantivemos por se tratar de documentação que relata parte da atividade de Pauline, e nos ajuda a compreender o momento subsequente ao seu assassinato. Assim, em onze diferentes jornais, com quatorze matérias, encontramos referências a Reichstul, seja Pauline seja seu irmão Henry, relacionadas a atividades contra a ditadura, sendo esse o total do universo de fontes selecionado.

Após separar todas as matérias que se referiam a Pauline, fizemos a comparação e cotejamento entre elas. Entre as reportagens, poucas eram as diferenças textuais, já que a maioria reproduzia fielmente um comunicado distribuído à imprensa sobre o ocorrido, assim como o dossiê com o perfil e biografia sobre cada um dos mortos. Decidimos ampliar a pesquisa e ir além das matérias específicas sobre Pauline, analisando as publicações nas edições do dia em que foram noticiados os assassinatos, no episódio que ficou conhecido como o Massacre da Chácara São Bento, separando o material que, de acordo com nosso referencial teórico-metodológico, poderia nos ajudar a compreender o papel da imprensa como operadora da mediação ideológica, na construção da imagem de terrorista de Pauline.

Com elas, separamos acontecimentos-chaves que mostravam a preocupação de determinado momento histórico, assim como a direção social em que operava a imprensa neste movimento, mostrando a quem servia. Isto nos ajudou a reconstruir o contexto que fez com que o episódio do Massacre da Chácara São Bento se tornasse ideologicamente justificável aos olhos do leitor dos jornais. Passamos agora ao núcleo desse relato.

 

Vanguarda Popular Revolucionária, Pauline Reichstul e o Massacre da Chácara São Bento

Em diferentes cantos do país, espalhou-se a notícia de que os órgãos de repressão haviam desbaratado mais uma organização terrorista em 1973. Como resultado desta ação, militantes pertencentes à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram mortos. O que o comunicado não diz é que entre eles estava uma psicóloga.

A VPR foi uma das organizações que decidiram utilizar a resistência armada contra o golpe de classe de 1964. Sobre a origem da VPR, esta foi formada por militantes remanescentes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) e da Polop (Política Operária), que se fundiram para formar a VPR (Souza, Jacó-Vilela, 2017, p. 49).

Em um de seus documentos de 1969, A Vanguarda Armada e as Massas na Primeira Fase da Revolução, a organização afirmava: "Nossa guerra é uma guerra popular. É também uma guerra do povo, no sentido de que supõe uma participação ativa das massas dentro da revolução. O problema fundamental é pois o seguinte: como organizar a participação do povo na luta?" (Vanguarda Popular Revolucionária - VPR, 1969, p. 244). Seguindo o documento, a VPR analisava a tática que deveria empregar como organização política revolucionária, estabelecendo o conteúdo programático para a sua militância:

Assim, ao mesmo tempo em que a vanguarda submete a sua luta aos objetivos das massas, estas submetem a sua participação às necessidades do desenvolvimento do instrumento de tomada do poder. A guerrilha é a arma do povo: o povo se submete às exigências do seu desenvolvimento. O povo sustenta a vanguarda, e esta luta pelos interesses do povo. E a vanguarda só será vanguarda se souber compreender os interesses do povo e defende-los [sic] sem vacilar. Em outras palavras, não se trata de fazer as organizações armadas participarem numa insurreição das massas, e sim fazer as massas participarem na guerra revolucionária (VPR, 1969, p. 246).

No ano seguinte ao documento anterior, a VPR fez o balanço de uma de suas ações no documento A Experiência Guerrilheira no Vale do Ribeira, de 1970, que terminava afirmando que:

Somente pela luta armada modificaremos isto, fazendo com que as fábricas sejam dirigidas pelos operários, que a produção da lavoura seja de quem trabalha na terra e não aos donos de títulos de propriedade.

Iniciamos o processo de união das organizações revolucionárias, e a união com o povo também está em marcha. Com o povo faremos a revolução que criará um Brasil justo. OUSAR LUTAR - OUSAR VENCER (VPR, 1970).

Esta foi a organização político-revolucionária a qual Pauline Reichstul se incorporou. Além de militante internacionalista, e uma das pessoas assassinadas pelo terrorismo de estado, Pauline Reichstul foi uma psicóloga de origem judia, nascida na antiga Tchecoslováquia. Quando criança veio morar no Brasil. Posteriormente, como forma de tentar acabar com um relacionamento que mantinha com um não judeu, a família a enviou para Israel, mas seu companheiro foi ao seu reencontro. De lá, através da rádio, tomaram conhecimento do golpe de classe de 1964 (Dowbor, 2017). Tendo partido então para a Europa, formou-se em psicologia pela Faculdade de Genebra em 1970, onde estudou e trabalhou com Jean Piaget (Carvalho, 1998; Patarra, 1992).

Retornou ao Brasil depois de ter travado contatos com militantes exilados na Europa, antes passando pela Argélia (Dowbor, 2007) e foi morta no episódio que ficou conhecido como o Massacre da Chácara São Bento. Ali, foram mortos, além de Pauline, a paraguaia Soledad Barret, Eudaldo Gomes da Silva, Jarbas Pereira Marques, José Manuel da Silva e Evaldo Luís Ferreira de Souza (Miranda, Tibúrcio, 2008).

 

O comunicado

A comparação entre as notas na imprensa permitiu verificar que todas as reportagens publicadas nos jornais sobre o acontecimento em Recife foram feitas a partir de nota entregue pelas forças repressivas, e reproduzidas literalmente. Assim, o Opinião diz que foram "os órgãos de segurança do Recife" (Luz, 1973, p. 3). O Jornal do Brasil fala que: "Em nota distribuída ontem à imprensa, os órgãos de segurança informaram a morte de seis terroristas [...]. Sob o título 'Desbaratado um congresso terrorista no Recife. Prisões e mortes entre os terroristas', o comunicado distribuído à imprensa dá uma biografia dos que morreram" (1973, p. 15). Este texto é literalmente idêntico, sem nenhuma vírgula diferente, ao de O Fluminense (Congresso do Terror é desmantelado, 1973, 11 de janeiro, p. 2). O Correio da Manhã diz que "o serviço de Relações Públicas do I Exército distribuiu ontem a seguinte notícia" (Cinco subversivos morrem durante reunião em Recife, 1973, p. 4). Já a Tribuna da Imprensa relata que "as autoridades federais liberaram ontem noticiário sobre a morte dos terroristas" (VPR perde seis no Recife, 1973, 11 de janeiro, p. 1). Os outros jornais apenas copiaram, com poucos acréscimos, erros de datilografia ou pequenas diferenças, o mesmo conteúdo da nota, mas sem avançar sobre quem a teria produzido ou distribuído.

Com relação ao conteúdo das notas3, o Jornal do Brasil (Seis terroristas morrem em tiroteio em Pernambuco, 1973, p. 15) fez uma pequena introdução à reportagem, antes de reproduzir a nota integralmente. O Correio da Manhã (Cinco subversivos morrem durante reunião em Recife, 1973, p. 4) manteve o texto literal, mas não publicou o último parágrafo da biografia de Pauline. O Diário do Pernambuco (Segurança acaba com terror no Grande Recife, 1973, p. 14) retirou um parágrafo inteiro do comunicado de Pauline, mas manteve a literalidade no restante. Dois casos específicos merecem comentários. A Tribuna da Imprensa (VPR perde seis no Recife, 1973, p. 1) publicou apenas uma pequena nota na capa do jornal, mas com conteúdo, texto e expressões retirados do comunicado. O Opinião (Luz, 1973, p. 3), por sua vez, manteve um pequeno comunicado, mas muito menor do que aquele distribuído pela repressão. E nos momentos em que os indivíduos assassinados são tratados como terroristas, este jornal fez questão de abrir aspas e mostrar que a opinião não era emitida por ele, mas por quem o obrigou a publicar a nota.

Publicamos aqui parte da nota com a versão reproduzida pelos meios de comunicação do assassinato coletivo que ficou conhecido como Massacre da Chácara São Bento, documento fundamental e essencial por representar a significação social construída pelos representantes ideológicos do golpe de classe, ou seja, mostra como o movimento tendencial do capital operou na particularidade da imprensa durante a ditadura civil-militar:

A organização terrorista conhecida como VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), autora de vários sequestros de embaixadores no Brasil, está praticamente desarticulada, em face dos revezes sucessivos que vem sofrendo em todo país.

Seus remanescentes estão presos, outros banidos no exterior e uns poucos elementos de base, foragidos, com dificuldade, inclusive, de sobrevivência. Mesmo assim, a VPR continua a estimular a propaganda subversiva e algumas ações esporádicas, praticadas por um pequeno grupo de terroristas treinados em Cuba. Além disso, vem tentando o regresso de um grupo de militantes que concluiu recentemente o curso de guerrilha nesse país, para, num esforço especial, se reestruturar no Brasil.

Na sua propaganda invoca a necessidade de se manter acesa a chama do terrorismo, utilizando chavões ultrapassados e diversas palavras de ordem, no objetivo de aliciar estudantes e outros jovens, muitas vezes desavisados e inconscientes, para a realidade destruidora dessa perigosa facção.

No decorrer das operações de combate às organizações terroristas remanescentes, os órgãos de segurança levantaram, no Nordeste, diversos dados que indicavam a realização de um Congresso Nacional da VPR nos arredores de Recife.

Constatada a veracidade desses indícios e após ingentes esforços, foi possível o levantamento completo do referido congresso, inclusive o local e a data de sua realização.

Equipes especiais dos órgãos de segurança cercaram, no dia 8 de janeiro do corrente ano, o aparelho coordenador, localizado numa chácara dentro do loteamento de São Bento, no município de Paulista, cidade que integra o Grande Recife e vinha sendo utilizado como centro de treinamento de guerrilha.

Nesse local foi dada ordem de prisão aos terroristas que se achavam reunidos, os quais, no entanto, reagiram a bala. Após cerrado tiroteio, foram encontrados no aparelho, alguns terroristas mortos e outros gravemente feridos. Estes, não resistindo aos ferimentos, vieram a falecer. Dois militantes terroristas conseguiram fugir (Seis terroristas morrem em tiroteio em Pernambuco, 1973).

Além do comunicado, biografias de cada um dos mortos foram distribuídas à imprensa. Este documento é expressão fiel de como operou, no plano ideológico, a construção da imagem de terrorista através das letras de dois ideólogos: a imprensa e o Estado. No caso de Pauline, segue a pequena biografia distribuída à e pela imprensa:

Pauline Reichstul, Silvana, natural da Tcheco-Eslováquia, nascida a 18 de junho de 1947, filha de Selmam Reichstul e Walla Ethel Reichstul, da organização terrorista intitulada VPR/SP, usando o nome falso de Silvana Denaro.

Foi amante de Ladislas Dowbor, Jamil na Suíça e na Argélia, indo depois, para Cuba, apreender guerrilha. Frequentou o curso de guerrilha entre 1970 e 1971 juntamente com alguns banidos do Brasil.

Veio para o Brasil a fim de integrar o grupo encarregado da reestruturação da VPR no NE, tornando-se aqui amante do terrorista banido Eudaldo Gomes da Silva, Zacarias, também morto no Congresso da organização.

Era ligada à Amnesty International, colaborando ativamente na campanha de difamação do Brasil no exterior empreendida por essa associação estrangeira.

Essa ação era facilitada devido seu acesso aos órgãos informativos franceses, segundo revelação de seu próprio irmão, Henri Philipe Reichstul.

Fazia a ligação entre a VPR e algumas organizações terroristas em atividade na Europa [...] (Seis terroristas morrem em tiroteio em Pernambuco, 1973).

O comunicado e o dossiê, com o perfil e biografia, são claros na descrição de Pauline, assim como em suas adjetivações. Mas como foi possível construir o papel4 de terrorista para uma psicóloga? É o que buscamos agora demonstrar.

 

Figura 1

 

Os jornais e Pauline

Consideramos que, para se colocar uma pessoa em um papel específico, é necessário que se articulem diferentes ideias, construindo um "conjunto ideológico complexo" (Vigotski, 2010b, p. 254. Tradução nossa). Uma notícia não pode ser compreendida apenas pela literalidade de seu texto, já que existem tendências e motivos que ocultam a intencionalidade de quem escreveu. Como as notas dos jornais são reproduções daquelas notas fornecidas pela repressão, aquilo que está oculto na matéria não pode ser creditado a um jornalista, com suas aspirações individuais, mas a uma instituição que cumpria determinada funcionalidade no interior de um processo histórico mais amplo, que visava rearticular a reprodução ampliada do capital no Brasil.

A história de Pauline nos permite visualizar a anatomia da sociedade brasileira das décadas de 1960 e 1970. Vejamos, então, quais foram os jornais que trouxeram seu nome, fundiram-no ao terrorismo e articularam diferentes acontecimentos mundiais, fazendo com que a ideia de terrorismo se organizasse em torno de um complexo ideológico maior para justificar a eliminação física dos envolvidos.

O Diário da Noite (1971), de São Paulo, é o jornal onde se encontra a primeira aparição de Reichstul no banco de dados consultado. Nele é dito que:

O procurador da 2ª Auditoria de Guerra [...] denunciou 57 elementos ligados à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), cujo escôpo (sic) era a promoção da guerra revolucionária no País, para a tomada do poder e a implantação de um regime marxista. Além de constituírem e pôr em funcionamento, mantinham a organização criminosa, sob orientação internacional, o que se evidencia, não só pelo fato de serem seus integrantes comunistas militantes, como pela circunstância de alguns terem estado em Cuba, onde fizeram "escola de guerrilha". Os denunciados [...] praticaram atos criminosos típicos, isoladamente, tal como assaltos, roubos e homicídios (Denunciados 57 da VPR, 1971, p. 2).

Entre os nomes desses "57 elementos" se encontra o de Henry Reichstul, irmão de Pauline, que "trocou dólares para a organização" (1971, p. 2). Está também o da psicóloga Iara Iavelberg, ex-professora da Universidade de São Paulo (USP) que, posteriormente, também seria assassinada pelo terrorismo de estado, e que naquele momento estava na clandestinidade.

Dois anos depois, foi distribuído à imprensa brasileira, pelas forças de segurança de Recife, o comunicado sobre o que ficou conhecido como o Massacre da Chácara São Bento, dessa vez afirmando que um grupo de terroristas havia sido morto em uma intensa troca de tiros com os órgãos policiais. Durante os meses de janeiro e fevereiro, a imprensa explorou amplamente essa notícia. Para compreendermos o modo como as adjetivações vão construindo o papel de terrorista, as chamadas dos jornais são ilustrativas.

O jornal O Fluminense, de Niterói, utilizou como chamada a seguinte frase: "Congresso do Terror é desmantelado: PE" (1973, p. 2), a que se seguiu a reportagem sobre Pauline. A Tribuna da Imprensa, também do Rio de Janeiro, produziu uma pequena nota na parte superior direita da capa que dizia: "VPR perde seis no Recife" (1973, p. 1). O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, estampou a foto de Pauline e de outros mortos em suas páginas, tendo publicado na íntegra o comunicado distribuído à imprensa pelas forças da repressão (Seis terroristas morrem em tiroteio em Pernambuco, 1973, p. 15). O Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, também com foto de Pauline na capa, fez a chamada da matéria na própria capa: "Cinco subversivos morrem durante reunião em Recife" (1973, p. 1), seguida, adiante, da matéria (p. 4).

 

Figura 2

 

O Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, trouxe também na capa a foto de Pauline, com a chamada: "Terroristas desbaratados" (1973, p. 1). A reportagem no interior do jornal trazia o título "Congresso terrorista desmantelado em Pernambuco com mortes e prisões" (1973, p. 2).

O Opinião (1973, janeiro 15 a 22), do Rio de Janeiro, aparece como uma contra-tendência ao movimento geral da imprensa da época, alicerçada no jornalismo de correia de transmissão dos altos comandos do Estado brasileiro5. No conteúdo apresentado, contou com um pequeno ensaio assinado por Antonio Candido6, com o título A verdade da repressão, em que retomava diversos nomes da literatura como Victor Hugo, Balzac, Kafka e Dostoievski, para analisar em suas obras o papel da polícia e da repressão. Chegou a afirmar que "a polícia [...] adquiriu, numa espécie de desenvolvimento natural das funções, o seu grande papel no mundo burguês e constitucional que então se abria: disfarçar o arbítrio da vontade dos dirigentes por meio da simulação da legalidade" (Candido, 1973, p. 23). A nota intitulada "Mortes no Recife" (Opinião, 1973, p. 3) trata de Pauline, mas tem tamanho bem menor do que a de outros jornais.

Em outra edição do mesmo jornal, o nome de Pauline é relembrado após o jornal noticiar "Mortes no Rio" (1973, p. 3), informando que mataram "seis terroristas do PCBR", e que essas mortes "somam-se a nove outras divulgadas oficialmente pelos órgãos de segurança desde o dia 30 de dezembro",7 entre elas a de Pauline.

Não apenas no Rio de Janeiro as notícias sobre o Massacre da Chácara São Bento e a morte de Pauline se disseminaram. Para além dali outros lugares se viram atingidos pela reportagem. O Jornal do Comércio, do Amazonas, trazia estampado na primeira página: "Desbaratado congresso do terror" (1973, p. 1). A reportagem, em seu interior, vinha com o título: "Mortes, prisões e tiroteio: desbaratado congresso do terror" (1973, p. 4), e continha a nota distribuída.

O Diário do Paraná reproduziu a notícia dizendo "Congresso terrorista no Recife desbaratado após tiroteio e morte" (1973, p. 10). O Diário de Natal, com uma nota no canto inferior da capa, avisava: "Segurança desbarata congresso terrorista" (1973, p. 1). No dia seguinte, a reportagem do mesmo jornal era maior e dizia: "Estes tentavam rearticular a subversão total no Nordeste" (1973, p. 2).

 

Figura 3

 

O Diário do Pernambuco trazia uma grande reportagem com o título: Segurança acaba com terror no Grande Recife (1973, p. 14). O jornal só voltaria a tratar do assunto anos depois, com uma reportagem intitulada Nomes de sumidos desde 64 hoje no Morro, onde dizia que: "Pauline Reichstul, natural da Tcheco-Eslováquia, nascida a 18/06/47, fdha de Selmam Reichstul e Walia Ethel Reichstul [havia sido] morta em janeiro de 73" (1978, p. 15). A capa dizia: Democracia autêntica e estável (1978, p. 1). Ernesto Geisel, que assumiría a presidência após Médici em 1974 e ficaria até 1979, daria início ao que ficou conhecida como distensão lenta, gradual e segura. Lenta para os perseguidos e exilados políticos; gradual, com a possibilidade de reestabelecer um novo pacto entre as elites; e segura para a manutenção de uma estrutura social fortificada pela instrumentalidade repressiva do exército. Sobre o fim da censura e cumplicidade entre a imprensa e a ditadura civil-militar, Geisel seria claro: "Recebi no palácio todos os donos de órgãos de comunicação. Nenhum me pediu o fim da censura" (Gaspari. 2002, p. 41).

 

A funcionalidade ideológica da imprensa no Brasil nas décadas de 1960 e 1970

Tal foi a maneira pela qual a imprensa tratou o Massacre da Chácara São Bento e o caso de Pauline Reichstul. Para criar uma narrativa que serviria como justificativa ideológica para um massacre, encobriu-se o que Pauline realmente foi. O mecanismo ideológico pelo qual operou a imprensa brasileira foi através da desumanização de Pauline.

Para constatarmos o processo de desumanização, foi necessário ligar o Massacre da Chácara São Bento a outras notícias que corriam paralelamente e que pretendiam engrossar o caldo cultural da propaganda anticomunista em meio à Guerra Fria. Assim, entre as notícias dos assassinatos perpetrados pelo Estado brasileiro, se intercalavam notícias que condenavam a luta de libertação do Vietnã8, o processo de nacionalização das fábricas chilenas pelo presidente Salvador Allende9, sete meses antes de ser assassinado, e, ao mesmo tempo, glorificavam o passeio dos americanos na Lua10. As articulações e encadeamentos faziam parte de mecanismos de estranhamento11, que foram operados pela imprensa no caso do Massacre da Chácara São Bento, e têm implicações para a psicologia. Por ser produzido por algo exterior ao próprio indivíduo, este se defronta com uma imagem fabricada de algo estranho a ele. Isto significa que processos psicológicos são mediados pela própria ideologia social. Pensamentos, afetos e emoções são determinados, então, pela maneira como a imprensa articulou a notícia, fornecendo o colorido emocional para construir a imagem que convinha naquele determinado momento.

Foi desta forma que se tornou possível uma psicóloga nascida na Tchecoslováquia, que viveu parte de sua vida no Brasil, estudou em Genebra, trabalhou com Jean Piaget, que passou pela Argélia e foi assassinada no Recife, ter sua imagem reproduzida como uma terrorista internacional, amante de diversos homens e responsável por difamar a imagem brasileira no estrangeiro. Quem substanciou essa significação social e fabricou essa ideia tinha interesses que indicavam sua posição de classe.

A imagem de Pauline foi produzida e reproduzida por um processo de estranhamento causado pela mediação ideológica do Estado brasileiro. Tão fortes eram as tendências sociais contra o projeto societário que Pauline Reichstul personificava na VPR que, para neutralizá-las, foi necessário desumanizar cada um de seus membros. No caso de Reichstul, utilizou-se para isso de adjetivações que implicavam representá-la como algo nojento e asqueroso, tal como um inseto. Não por acaso, a palavra que iniciava o título do comunicado destacava que havia sido "desbaratado um congresso terrorista no Recife" (Jornal do Brasil, 1973b). No terrorismo de Estado no Brasil, o ato de exterminar fisicamente cinco pessoas foi suavizado através da comparação daquelas pessoas com a morte de insetos. Além disso, em todas as matérias a qualificação de Pauline era de, além de terrorista internacional que havia treinado guerrilha em Cuba, amante de diferentes homens.

Mas como foi possível tamanho apoio dos meios de comunicação ao golpe de classe? Historicamente, a particularidade da formação societária brasileira produziu uma concentração de propriedades que, no plano ideológico, criou um verdadeiro oligopólio dos meios de comunicação, que serviu como uma verdadeira fábrica de ideologias. Foi um conjunto ideológico complexo que, ao criar determinadas conexões entre diversos conteúdos, substanciou ideologicamente a fusão de capital-bancário e capital-industrial, assim colaborando com a manutenção do monopólio de capital na mão de um pequeno grupo que se manteve ao longo dos anos fabricando notícias e dando forma à "ideologia social de sua época" (Vigotski, 1998, p. 85. Tradução nossa), à imagem e semelhança daqueles que dela se beneficiam.

A ditadura investiu especificamente no setor, já que "a estrutura de comunicação social montada no país e em pé até hoje é verde-oliva no coração, isto é, deve praticamente tudo à continuidade assegurada pela ditadura militar" (Sodré, 2014, p. 127). O capital continuaria celebrando suas orgias. Os Diários Associados, que apresentaram cinco das matérias sobre Pauline Reichstul, outrora pertenceram a Assis Chateaubriand12, que morreria em 1968. Segundo Coutinho (2014), "a maior parte da imprensa brasileira conspirou contra o governo de Goulart e festejou a sua deposição, a começar pelos Diários Associados que, desde os anos 1920, expressou os interesses do imperialismo no país" (p. 116). Interessante notarmos que, em 1965, no interior deste processo de reorganização dos oligopólios de reprodução ideológicos, a TV Globo foi inaugurada com uma participação financeira do grupo Time-Life de "US$ 6 milhões (até então, a maior televisão brasileira tinha um capital de US$ 300 mil). Ou seja, a Globo já nasce 20 vezes maior do que sua principal concorrente" (Coutinho, 2014, p. 114). A consequência desta concorrência, fomentada na ditadura de classe, foi o oligopólio midiático.

A ditadura civil-militar, com o golpe de classe que foi articulado, levou adiante o processo de transnacionalização do capital internacional em território brasileiro. E no interior deste processo, a crescente imprensa não foi mero agente secundário, mas atuou ativamente na reestruturação da sociedade brasileira. Para tal, justificou a eliminação física da oposição à ditadura, reproduziu a ideologia de seus senhores e ampliou sua influência na sociedade brasileira. Quando o Ato Institucional n° 5 (AI-5)13 foi promulgado, os meios de comunicação ofereceram os meios ideológicos para manter a aparente legalidade do golpe de classe, que, no plano ideológico, justificavam as medidas adotadas na jurisdição nacional. Na esteira da ideologia, justificaram-se os piores arbítrios que funcionavam como um processo de espiral decadente para novas justificativas ideológicas. Se as altas esferas do Estado brasileiro particularizaram a ideologia de Segurança Nacional14 produzida no interior do Estado norte-americano, à imprensa coube o papel de fazer circular e ampliar a escala de sua reprodução.

 

Conclusão

Após termos concluído a pesquisa nos jornais de época para compreender a maneira pela qual operou a imprensa brasileira no caso de uma psicóloga assassinada no Brasil, retomamos a história de uma psicóloga que combateu a ditadura civil-militar brasileira através da sua incorporação a uma organização político-revolucionária.

Sua eliminação física e o extermínio sistemático de parte de sua organização foram justificados pelo movimento ideológico operado pela imprensa brasileira com o fim de dar legitimidade ao golpe e à perseguição a seus opositores. Nesse processo, acompanhamos a estratégia de desumanização dos seus integrantes. Isto transformou a desconhecida Pauline Reichstul em uma terrorista, amante de outros terroristas, que tinham por objetivo manter a chama do terrorismo acesa, inclusive em uma campanha internacional de difamação do Brasil. Esta foi a maneira pela qual se criou a imagem de terrorista de Pauline, e que foi amplamente reproduzida pela imprensa.

Esperamos com isso ter explicitado parte da ideologia construída por alguns dos ideólogos do capital. Concluímos que, para se tornar possível a adjetivação de Pauline e sua colocação neste papel, foi necessário um conjunto ideológico complexo que contou com apoio de amplas camadas da classe dominante brasileira, entre elas a sistematizada articulação entre capital internacional e nacional, Estado brasileiro e imprensa. Não existe terrorismo do Estado sem que haja uma intensa reprodução ampliada da ideologia, disseminada pelo oligopólio de imprensa de um país.

 

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Submetido em: 14/04/2018
Aprovado em: 27/03/2019

 

 

1 Martin-Baró (2017) avaliava que "[...] a guerra suja utiliza-se da repressão aterrorizante, isto é, a execução visível de atos cruéis que desencadeiam na população um amplo e incontrolável medo. Assim, enquanto a repressão produz a eliminação física de pessoas que são o alvo direto de suas ações, o seu caráter aterrorizante tende a, ao mesmo tempo, paralisar todos que, de uma forma ou de outra, se identificam com alguma característica da vítima; o terrorismo de estado e, concretamente, a guerra psicológica têm a necessidade de possibilitar que a população saiba dos fatos, ainda que a publicidade enquanto tal possa ser contraproducente [...] (p. 277-278. Destaques no original).
2 A Biblioteca Nacional é a maior biblioteca da América Latina, sendo "a mais antiga instituição cultural brasileira" (Biblioteca Nacional, n.d.). Tendo, aproximadamente, 9 milhões de itens, grande parte do seu acervo está disponível no site http://memoria.bn.br/hdb/ periodico.aspx. Agradecemos a Hugo de Nilson Damasceno por nos ter apresentado esta plataforma.
3 Com relação à forma das notas, poucas são as diferenças entre aquelas publicadas nos diferentes jornais. As maiores mudanças se referem à pontuação, em alguns jornais as aspas cedem lugar aos parênteses, preferência por letras maiúsculas em algumas palavras ou expressões, como por exemplo Congresso e Órgãos de Segurança. Diferentes grafias foram utilizadas para denominar seu país de origem: Checoslováquia, Tcheco-Eslováquia e Tchecoslováquia. Com relação a acréscimos ou supressões, se referem exclusivamente a palavras ou pequenas frases cortadas para encaixar a matéria no formato do jornal, ou seja, nada que mude o sentido ou que crie nova significação.
4 Sobre a construção de um papel, convém lembrar a discussão de um importante diretor de teatro russo, que diz: "[...] uma partitura [...] atrairá o ator como ser humano [...] para mais perto da verdadeira vida de sua personagem ou papel" (Stanislavski, 2014b, p. 84). Sobre a intenção por trás de quem escreve, Stanislavski afirma que "sabemos que todas as palavras escritas no texto, e o que quer que esteja oculto sob elas, no subtexto: pensamentos, sentimentos, coisas vistas e ouvidas" (2014b, pp. 197-198). E, ainda, que "um dos elementos primordiais do subtexto é a memória das emoções sentidas, um fator extremamente volátil, caprichoso, esquivo e instável" (2014a, p. 177). Vigotski, usando como analogia a noção de texto e subtexto, afirmava: "Toda frase viva, dita por um homem vivo, sempre tem o seu subtexto, um pensamento por trás" (2010a, p. 477).
5 O Opinião conseguiu manter intelectuais respeitados em seu corpo editorial, ainda que estivessem sob censura. Tiveram a ousadia e a inteligência de encontrar meios de fazer oposição ao regime. O jornal teve vida curta, não conseguindo sobreviver à ditadura, sendo fechado em 1977.
6 Antonio Candido (1918-2017) foi professor da USP e uma das grandes figuras da intelectualidade brasileira. Teve importante atuação contra a ditadura, quando "participou da criação de outras publicações, como a revista Argumento, fechada pela ditadura militar" (Aguiar, 2014, p. 280).
7 São elas: "Carlos Nicolau Danielli (em São Paulo), Lincon Cordeiro Oeste e Luis Guilhardini (no Rio), José Manuel da Silva, Pauline Reichstull, Soledad Barret Vielma, Jarbas Pereira Marques e Evaldo Luis Ferreira da Silva (em Pernambuco)".
8 Por exemplo, a Tribuna da Imprensa, de 11 de janeiro de 1973, teve a capa com a chamada Vietcong [Frente Nacional para a Libertação do Vietname] arrasa Saigon enquanto paz não vem, e diz no primeiro parágrafo desta notícia: "As forças comunistas lançaram nas últimas 24 horas uma série de ataques contra unidades governamentais em várias províncias do Vietnã do Sul" (1973, p. 1). O jornal O Fluminense (1973, 11 de janeiro) estampou na manchete de capa: Esta menina sul vietnamita chora desesperada durante um ataque comunista.
9 O Jornal do Brasil trouxe notícia: Chile decreta racionamento de alimentos (1973, p. 1).
10 O Diário da Noite trouxe em sua primeira página do jornal o passeio dos americanos a bordo do Apollo14 (Um longo passeio na lua. 1971, p. 1).
11 Lembremos que o estranhamento é uma relação característica deste modo de produção, e se mostra como o não reconhecimento do trabalhador na sua atividade e no produto resultante dela. Não por acaso, Marx (2011) seria certeiro em sua afirmativa de que o sujeito: "[...] se defronta com o trabalho como poder estranho e dominador em proporções cada vez mais poderosas. A tônica não recai sobre o ser-objetivado, mas sobre o ser-estranhado, ser-alienado, ser-venalizado [...] - o não pertencer-ao-trabalhador, mas às condições de produção personificadas, i.e., ao capital, o enorme poder objetivado que o próprio trabalho social contrapôs a si mesmo como um de seus momentos" (p. 705. Destaques no original)
12 Os jornais pertencentes a Assis Chateaubriand que noticiaram Pauline foram: Diário de Natal, Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio do Amazonas, Diário da Noite de São Paulo e Diário do Paraná. Sobre a importância de Assis Chateaubriand, lembramos que "o lançamento da TV Tupi de São Paulo só ocorreu em 18 de setembro de 1950 por conta do empresário Assis Chateaubriand" (Sodré, 2014, p. 125).
13 O AI-5 suspendeu direitos políticos, proibiu atividades e manifestações de natureza política, a suspensão do habeas corpus, instrumento para coibir abusos e excessos que culminam em penas com restrição de liberdade. Pelo seu aprofundamento nas medidas repressivas, ficou conhecido como golpe-dentro-do-golpe.
14 Como fruto da polarização entre Estados Unidos e União Soviética, a Doutrina de Segurança Nacional foi criada pelos quadros do exército norte-americano para impedir que as contradições de classe existentes em vários países se tornassem movimentos armados de libertação. Baseava-se na concepção de que os inimigos internos deveriam ser abatidos em nome da defesa do Estado. Isto significou um aumento da repressão e, consequentemente, a justificativa ideológica para este processo. No Brasil, a unidade tática desempenhada por quadros militares brasileiros e a ideologia norte-americana constituiu parte do substrato da ideologia da Escola Superior de Guerra e, portanto, operou como justificativa para a caça e eliminação dos que resistiram ao golpe de classe de 1964.

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