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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.20 no.49 São Paulo set./dez. 2020

 

EDITORIAL

 

Sobre transformações de avaliações, de produções e de formas do viver: ao que resistimos?

 

On transformations in evaluations, productions and ways of living: what do we resist?

 

Sobre las transformaciones en valoraciones, producciones y formas de vivir: ¿a qué resistimos?

 

 

Kátia Maheirie

Editora-chefe 2020-2023

 

 

Abro este editorial em meio a uma pandemia iniciada em março deste ano, que ainda marca a complexidade e a singularidade desse fenômeno no momento que estamos vivendo. As angústias que tal situação nos envolve e as mazelas que se impõe, implicam diferentes formas de sofrimento que, aliado a outros estressores, produzem efeitos no campo da produção científica.

A outros estressores me refiro ao contexto político econômico que temos vivido no Brasil, desde 2016 com o golpe jurídico-parlamentar, intensificando-se de 2019 para cá. Os cortes na educação, ciência e tecnologias sociais, a falta de investimentos em editais de fomento a periódicos científicos na área de ciências humanas, provocam, sem dúvida alguma, um estrago enorme e um retrocesso não antes experenciado.

Mudanças intensas em diferentes campos de avaliação como, por exemplo, na avaliação quadrienal de programas de pós-graduação e no novo Qualis, provocam muitas dúvidas e inquietações. Tais transformações podem gerar muitos problemas, os quais deverão ser enfrentados por pesquisadores e editores científicos, gerando tensões e embates diante das novas exigências, nem sempre condizentes com a realidade brasileira.

Tempos difíceis em todos os sentidos! Mudanças drásticas estão por vir. Por quais vale a pena lutar? Por quais é preciso resistir? A editoria científica se faz um trabalho cuja função não pode ficar distante de tais questões. Prestes a entender as novas formas de avaliação, estamos ao lado daqueles que buscam manter e defender a ciência brasileira, sua importância, seu peso, sua singularidade, visando impedir sua dissolução ou invisibilidade, sua autonomia e seu processo democrático.

Apresento a vocês mais um número da Revista de Psicologia Política, um periódico ousado, extremamente singular no território brasileiro, o qual tenho o prazer de assumir a editoria, mantendo e aprimorando a qualidade já conquistada pelas editorias anteriores. Espero que, por meio desse veículo de divulgação da produção científica na área da Psicologia Política, possamos compreender melhor as mazelas do nosso presente e abrir o campo de possibilidades futuras para a construção de uma sociedade mais justa, mais inclusiva e mais democrática.

Abrimos o número com o artigo intitulado "A eterna fuga da ninguendade: ofensiva do capital, identidade brasileira e produção de neoninguéns", de Pedro Henrique Antunes da Costa e Kíssila Teixeira Mendes, discorre sobre o conceito de ninguendade, de Darcy Ribeiro, no entendimento da construção da identidade social brasileira e sua compreensão da atual conjuntura econômica, social e política, contribuindo para a criação dos neoninguéns, a partir das ofencivas do capital no contexto neoliberal.

Flávia de Abreu Lisboa, Roberta Brasilino Barbosa e Thiago Colmenero Cunha, no artigo "Por ordem e segurança: quais juventudes? Quais territórios?", partem da transversalização das noções de juventude, território e segurança, utilizando analisadores emergentes de três pesquisas, e afirmam que, "na diversidade e na multiplicidade das formas de ser jovem, são traçadas linhas de segregação que delimitam algumas juventudes como mais perigosas, as quais tornam-se alvo principal de controle social".

"Sobre as pessoas que habitam os territórios em risco"é o artigo de Juliana Catarine Barbosa da Silva e Jaileila de Araújo Menezes que objetiva caracterizar o perfil dos(as) usuários(as) do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) e identificam que são, em sua maioria, pessoas do sexo feminino, pobres e em condição de desenvolvimento humano abaixo da média das cidades em que vivem, observando, aí, a situação da inclusão em um processo de exclusão, não garantido a esse público a vida fora das áreas em risco.

O artigo intitulado "Indústria cultural: o pensar cristalizado", de autoria de Davi Mamblona Marques Romão, discute como a indústria cultural se consolidou como um dos elementos socializadores mais importantes na contemporaneidade. Focando no Jornalismo Policial televisivo, concluem que "a indústria cultural, ao colonizar os mais diversos aspectos da vida individual, promove uma profunda reificação da personalidade".

"'Pelo direito da força': a valentia como componente da personalidade política de Pedro Ludovico"é o artigo de autoria de Eliezer Cardoso Oliveira, cujo objetivo é analisar a proeminência de Pedro Ludovico Teixeira na política goiana, partindo da hipótese de que a representação da valentia foi um dos elementos decisivos para o seu sucesso político, associando a sua personalidade os valores de honra, coragem, força e firmeza nas decisões, demonstrando que a sociedade brasileira tem uma predileção por personalidades de viés autoritário.

Por fim, apresentamos o dossiê do Grupo de Trabalho (GT) da ANPEPP "Psicologia Sócio-Histórica e o contexto de brasileiro de desigualdade social", intitulado "Estudos sobre contextos de desigualdade social e a psicologia sócio histórica" cuja editoria cabe a Antônio Euzébios, editor associado deste periódico.

Desejo a todas e todos uma excelente leitura!

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