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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.20 no.49 São Paulo set./dez. 2020

 

ARTIGOS

 

"Pelo direito da força": a valentia como componente da personalidade política de Pedro Ludovico Teixeira

 

"For the right of force": valentia as a component of Pedro Ludovico Teixeira's political personality

 

"Por el derecho de la fuerza": valentia como componente de la personalidad política de Pedro Ludovico Teixeira

 

 

Eliezer Cardoso Oliveira

Graduação e Mestrado em História pela UFG (GO). Doutorado em Sociologia pela UnB (Brasília). Estágio Pós-Doutoral em Ciências da Religião pela PUC-GO. Professor do Curso de História e do Mestrado em Território e Expressões Culturais do Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás, Anápólis/GO, Brasil / ezi@uol.com.br

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar a proeminência de Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979) na política goiana, tendo como hipótese que a representação da valentia foi um dos elementos decisivos para o seu sucesso político, sendo a principal liderança do estado desde a Revolução de 1930 até o início do Regime Militar em 1964. Ludovico procurou construir, em seus escritos autobiográficos, uma imagem que associa a sua personalidade os valores de honra, coragem, força e firmeza nas decisões. Contudo, a sua administração foi marcada por atos discricionários e arbitrários contra os opositores ao seu projeto de construção de Goiânia. Acredita-se que o sucesso de políticos que fazem uso da retórica da valentia demonstra uma predileção da sociedade brasileira por personalidades de viés autoritário.

Palavras-chave: Valentia; Política; Pedro Ludovico; Autoritarismo; Goiás.


ABSTRACT

The objective of this article is to analyze the prominence of Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979) in Goiás politics, with the hypothesis that the representation of bravure was one of the decisive elements for its political success, being the main leadership of the state since the Revolution of 1930 until the beginning of the Military Regime in 1964. Ludovico sought to construct, in his autobiographical writings, an image who associates his personality with the values of honor, courage, strength and firmness in decisions. However, his administration was marked by discretionary and arbitrary acts against opponents of his construction project in Goiânia. It is believed that the success of politicians who make use of the rhetoric of valor shows a predilection of Brazilian society for personalities of authoritarian bias.

Keywords: Valentia; Politics; Pedro Ludovico; authoritarianism; Goiás.


RESUMEN

El objetivo de este artículo es analizar la prominencia de Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979) en la política de Goian, con la hipótesis de que la representación del valor fue uno de los elementos decisivos para su éxito político, siendo la principal dirección del estado desde la Revolución de 1930 hasta el inicio del régimen militar en 1964. Ludovico procuró construir, en sus escritos autobiográficos, una imagen que asocia a su personalidad los valores de honor, coraje, fuerza y firmeza en las decisiones. Sin embargo, su administración estuvo marcada por actos discrecionales y arbitrarios contra los opositores a su proyecto de construcción de Goiânia. Se cree que el éxito de políticos que hacen uso de la retórica de la valentía demuestra una predilección de la sociedad brasileña por personalidades de sesgo autoritario.

Palabras clave: Valentía; Política; Pedro Ludovico; Autoritarismo; Goiás.


 

 

Introdução

Antônio de Ramos Caiado e Pedro Ludovico Teixeira são os dois maiores rivais da história política de Goiás. O primeiro, como líder do Partido Democrata, comandou a política goiana de modo incontestável na década de 1920; o segundo, como principal beneficiário político da Revolução de 1930, dirigiu os rumos de Goiás até o início do Regime Militar em 19641. Os dois travaram uma verdadeira guerra discursiva na qual cada um realçou as diferenças ideológicas e morais. Contudo, entre as duas personalidades há mais semelhanças do que diferenças; semelhanças não apenas relacionadas ao fato de ambos terem exercido uma liderança autoritária e perseguido duramente os seus adversários políticos. O que une Totó Caiado e Pedro Ludovico é o fato de ambos se verem e serem vistos como homens marcados pela aura da valentia. Acredita-se que a representação de uma personalidade pautada na valentia foi fundamental para a extensão e a profundidade do domínio dos dois na política goiana.

No caso de Totó Caiado, a valentia se agregou ao clã e se tornou um dos argumentos positivos para expressar a capacidade de liderança política dos membros da família. Assim

a família enfrentou explicitamente a atribuição de violência associando aos atos de bravura uma atitude pessoal de "brabeza", como eles mesmos gostam de nominar. Segundo sua versão, não são violentos, mas dão resposta imediata quando são desafiados em sua coragem, moral ou virilidade. (Ribeiro, 1998, p. 289)

Essa virilidade da família Caiado foi amplamente divulgada no imaginário goiano. Antônio Ramos Caiado, por exemplo, era um homem calejado em atividades que requeriam coragem, vigor físico e habilidade no manejo dos meios de violência. Ainda bem jovem participou da Revolta da Armada, o que contribuiu para moldar uma personalidade acostumada com a dureza da vida. De acordo com Freitas (2009, p. 160)

O ímpeto das batalhas, a organização e a disciplina militares influenciaram o seu arcabouço mental. Chefe político, atuou às vezes como chefe militar, organizando ou participando de grupos e batalhões paramilitares, recrutados entre correligionários e subordinados. Assim foi na Revolução de 1909, que marcou o começo da ascensão do grupo caiadista na política; de igual maneira, em 1925, ao defrontar-se com os rebeldes da Coluna Prestes que pervagavam pelo Centro-Oeste; finalmente, em 1930, ao arregimentar homens armados para enfrentar as tropas aliancistas que ameaçavam invadir Goiás.

Antônio Ramos Caiado era uma espécie de general. Muito embora nunca tenha exercido efetivamente o executivo goiano, era ele quem organizava e liderava os homens brutos dos sertões de Goiás. Ele era uma espécie de "coronel dos coronéis" e sob o seu comando estavam desde os poderosos proprietários de terras, passando pelos oficiais da força pública do Estado, até o mais humilde dos agregados. Evidentemente essa forma peculiar de exercer o poder foi criticada pela oposição, como ilustra uma quadrinha publicada em jornal, ironizando a atuação do líder político caiadista:

Sou senhor desta senzala,
E de Goyaz todo inteiro
Prendo gente em toda parte
E embaixo do cajazeiro.
(Publicada pelo codinome de Zumbi, em 7 fev. 1930. In Machado, 1990, p. 54)

Pedro Ludovico Teixeira, que assumiu o poder em Goiás após a Revolução de 1930, prometendo acabar com o mandonismo oligárquico, também procurou agregar a sua personalidade, a imagem de homem viril e corajoso. Bem sugestivo dessa atitude é a entrevista realizada em 1978, quando afirmou: "Se o senador [Totó Caiado] era corajoso, eu era ainda mais corajoso que ele. E isso é uma coisa que eu digo sempre. Eu nunca tive medo de ninguém" (Jornal Opção, 1978).

Portanto, o objetivo deste artigo é analisar a proeminência de Pedro Ludovico Teixeira na política goiana, tendo como hipótese que a representação da valentia foi um dos elementos decisivos para o seu sucesso político. Pedro Ludovico e Totó Caiado eram homens cultos, sendo que o primeiro era formado em medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e o segundo era bacharel em direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo. Contudo, mesmo com uma formação intelectual que os tornaram aptos a terem uma relação parcimoniosa com seus iguais, carregavam uma herança cultural que os prepararam para agir com extrema rudeza com os seus subordinados e adversários, quando fosse necessário.

O sucesso dos dois políticos evidencia a importância da valentia na cultura goiana. Uma sociedade que se constituiu historicamente a partir de homens rudes e violentos que se aventuraram a enfrentar os perigos do sertão em busca de riqueza. É simbolicamente significativo que o mito fundador da memória histórica goiana exalte a figura do bandeirante Anhanguera, cujo monumento, situado no centro de Goiânia, representa a figura de um homem velho, numa posição altiva, segurando uma bateia numa mão e um arcabuz na outra. Ouro e violência foram os pilares da colonização goiana.

Mesmo com a modernização econômica e a urbanização, a valorização da valentia ainda é um forte componente identitário da sociedade goiana. Ela demonstra uma inserção precária naquilo que Norbert Elias denomina como o processo civilizador, caracterizado pela pacificação da conduta e controle dos afetos. O processo civilizador é o principal elemento cultural da modernidade, mas cada país teve uma relação diferenciada com ele. O modelo clássico é o francês, em que a aristocracia militar se converteu numa aristocracia de salões, substituindo as práticas violentas e rudes por regras de etiquetas delicadas e gentis, que, depois, foram difundidas para a burguesia e para outros segmentos sociais inferiores (Elias, 1993, 1994). Outro modelo importante é o inglês, em que a nobreza aburguesada trocou os jogos de guerra pelos jogos de palavras nos debates parlamentares, sublimando a violência em atividades lúdicas, como a caça à raposa ou na prática de esportes, como o rúgbi ou o futebol (Elias & Dunning, 1992). A situação brasileira se parece mais com o modelo alemão, em que a aristocracia guerreira manteve um forte prestígio simbólico e os ideais de coragem, honra e força foram apropriados pelos segmentos burgueses, o que explica a persistência da prática do duelo entre os estudantes de nível superior alemães até a década de 1930. De acordo com Elias (1997, p. 58),

Na forma de duelo, esse código guerreiro foi mantido até a geração dos nossos avós, habilitando o homem que era fisicamente mais forte ou mais capaz no uso dos meios de violência a impor sua vontade ao menos forte, menos competente no manejo das armas, e a arrebatar as mais altas honrarias. Desde então, a força física ou o talento no manejo de armas perderam em grande parte seu significado anterior, na determinação do status ou reputação de alguém na vida social, sobretudo nos países altamente industrializado.

Essa valorização do ethos militar explica, inclusive, a facilidade com que os líderes políticos alemães convenceram seus cidadãos a participar das duas aventuras das guerras mundiais em que a probabilidade de um sucesso era bastante improvável.

O modelo do processo civilizador brasileiro também valoriza a coragem, a força e o manejo eficiente dos meios de violência, muito embora não haja aqui a valorização de um ethos especificamente militar. Pelo contrário, o militar brasileiro mais eficiente - o Duque de Caxias - tornou-se sinônimo de chacota, sendo que seu nome passou a ser utilizado para designar alguém ingênuo, crédulo, um otário (Da Matta, 1997, p. 269). Os brasileiros são adversos a uma disciplina militar, mas respeitam os símbolos de hierarquia e apelam constantemente pela ordem, como se percebe no lema positivista da Bandeira Nacional. Como no modelo alemão, há, no Brasil, a valorização dos ideais de honra e coragem, o que explica a admiração por homens valentes que manejam bem as armas e cavalos, sem necessariamente estar preso aos regulamentos e cerceamentos militares. Os heróis brasileiros são tipos sociais, representados pelo cangaceiro Lampião, pelo guerrilheiro Giuseppe Garibaldi, pelo militar rebelde Luís Carlos Prestes.

Essa aparente contradição da sociedade brasileira em, ao mesmo tempo, buscar a ordem e admirar os que rompem com ela pode ser explicada por aquilo que Sérgio Buarque de Holanda denominou de individualismo anárquico, uma herança portuguesa que se entranhou na cultura nacional. De acordo com ele

À autarquia do indivíduo, à exaltação extrema da personalidade, paixão fundamental e que não tolera compromissos, só pode haver uma alternativa: a renúncia a essa mesma personalidade em vista a um bem maior. Por isso mesmo que rara e difícil, a obediência aparece algumas vezes, para os povos ibéricos, como virtude suprema entre todas. E não é estranhável que essa obediência - a obediência cega, e que difere fundamentalmente dos princípios medievais e feudais de lealdade - tenha sido até agora, para eles, o único princípio político verdadeiramente forte. (Holanda, 1999, p. 39)

Esse individualismo anárquico possibilita a compreensão da dificuldade de os brasileiros obedecerem as leis e os regulamentos e a facilidade de submissão a personalidades autoritárias. As reflexões de Holanda2, nesse aspecto, podem ser complementadas pelas de Gilberto Freyre que analisou a influência do patriarcalismo escravocrata na sociedade brasileira. A sua conclusão foi perceber a existência de uma sociedade sadomasoquista, em que o senhor de engenho agia sadicamente com seus escravos, com sua mulher e com seus filhos e estes mantinham o respeito e a afeição por ele. Essa relação social desvirtuada deixou sequelas na formação política brasileira:

Mas esse sadismo do senhor e o correspondente masoquismo de escravo, excedendo a esfera da vida sexual e doméstica, têm-se feito sentir através da nossa formação, em campo mais largo: social e político. Cremos surpreendê-los em nossa vida política, onde o mandonismo tem sempre encontrado vítimas em quem exerce-se com requintes às vezes sádicos; certas vezes deixando até nostalgias logo transformadas em cultos cívicos, como o do chamado marechal-de-ferro. A nossa tradição revolucionária, liberal, demagógica, é antes aparente e limitada a focos de fácil profilaxia política; no íntimo, o que o grosso do que se pode chamar de "povo brasileiro" ainda goza é a pressão sobre ele de um governo másculo e corajosamente autocrático. (Freire, 1996, p. 51)

Por isso, a proeminência simbólica de nomes como Floriano Peixoto, Getúlio Vargas e os presidentes militares na política brasileira. Por isso, a existência, ainda nos tempos atuais, de uma parcela significativa da população brasileira defendendo publicamente a superioridade moral do Regime Militar sobre a democracia.

Em Goiás, pela força histórica do patriarcalismo rural, os elementos apontados por Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre são muitos mais intensos do que na média brasileira. Daí a relevância de se estudar a proeminência política de Pedro Ludovico a partir da vinculação a uma ética da valentia. Logicamente não se desconsidera os outros aspectos nem as estratégias administrativas de Ludovico, como, por exemplo, o impacto da formação em medicina como legitimadora de um capital político, e o impacto da construção e Goiânia como estratégia bem sucedida de manutenção do poder3.

É preciso destacar que há vários trabalhos acadêmicos importantes sobre a atuação de Pedro Ludovico em Goiás. Um dos primeiros foi a dissertação de mestrado posteriormente publicada em formato de livro de Maria Cristina Teixeira Machado, que defende a hipótese de que Ludovico foi um líder carismático, na acepção weberiana do conceito: "quando defendo que Pedro Ludovico era uma personalidade carismática, um homem com capacidade de polarizar, de liderar, imprimindo sua marca, sua cor ao processo histórico, o faço fundamentada no conceito que gozava entre seus contemporâneos e na sua própria ação na história." (Machado, 1990, p. 99). Desse modo, o carisma de Ludovico se legitimaria no "exercício da medicina acompanhado de uma formação humanística" (p. 99), na representação de um grande estadista, "o redentor do estado, depois o grande construtor de Goiânia e no final é o chefe e o homem que construiu Goiás" (p. 99), na representação de um homem corajoso, já que "foi necessário coragem para enfrentar o caiadismo e a coragem teria sido uma condição importante para a mudança da capital" (p. 100) e na "relação paternalista estabelecida entre o líder e seu séquito" (p. 100).

Apesar de ser o primeiro trabalho a destacar a importância simbólica da imagem de valentia e coragem imputada a personalidade de Pedro Ludovico, é muito discutível vinculá-lo a teoria weberiana de líder carismático. Tal vinculação forçaria a aceitação da existência de uma unanimidade na hegemonia política de Ludovico, além de pressupor que o seu governo era qualitativamente muito diferente dos seus antecessores.

As novas produções historiográficas tendem a amenizar o discurso de que o período ludoviquista foi um contraponto ao autoritarismo oligárquico da República Velha. No livro A invenção de Goiânia: o outro lado da mudança, o historiador Jales Guedes Coelho Mendonça, inclusive, mostra que, no ato de fundação do Partido Democrata, em 1909, que posteriormente seria controlado ferreamente pela família Caiado, estavam presentes Leopoldo de Bulhões, Antônio Ramos Caiado e o então jovem Pedro Ludovico Teixeira (Mendonça, 2013, p. 636), indicando uma certa permanência de valores na política goiana, nos chamados ciclo bulhonista (1878-1912), ciclo caiadista (1912-1930) e ciclo ludoviquista (1930-1964). Além do mais, o autor destaca o personalismo do interventor na transferência da capital para Goiânia, principalmente sobre a escolha de Campinas em detrimento de Bonfim como local da construção da nova cidade:

Apesar da aparente liberdade da ação conferida à citada comissão, o peso do ambiente autoritário em que se processou a seleção se fez sentir implacavelmente sobre o grupo, a ponto do primeiro relatório da subcomissão técnica, que concluía pelo município de Bonfim, ter sido modificado, alterando-se os rumos do primitivo parecer e naturalmente a sorte bonfinense. (Mendonça, 2013, p. 639)

A revisão crítica do legado político de Pedro Ludovico também foi um dos objetivos da tese de doutorado em história (UFG) de Marilena Julimar A. Fernandes, intitulada Pedro Ludovico Teixeira X Antônio (Totó) Ramos caiado: memórias, ressentimentos, esquecimentos e silêncios (1930-1970). A autora crítica a tendência da historiografia de ver o período ludoviquista como divisor de águas da modernização de Goiás. Valendo-se das memórias de Joaquim Rosa, procura desconstruir a imagem construída pelo próprio Ludovico em suas memórias e pelo grupo de intelectuais a sua volta. Desse modo,

ao contrário da obra de Pedro Ludovico, que apresenta um homem "fora do comum", íntegro, honesto, que se deixava levar pelas paixões políticas e pelo desejo de fazer o Estado de Goiás crescer e progredir, Rosa (1974) nos apresenta um homem esperto, incoerente que, no final dos anos vinte, particularmente em 1930, tanto criticou as práticas políticas violentas dos Caiados, mas, logo após assumir a Interventoria do Estado, repetia as mesmas atitudes. (Fernandes, 2013, p. 61)

Portanto, esse artigo segue a tendência da historiografia em procurar desconstruir discursos constituídos, mostrando como os políticos fazem uso das representações culturais vigentes para justificar suas estratégias de poder. Pedro Ludovico, como homem de seu tempo, procurou associar sua personalidade aos valores ligados à modernização e à eficiência administrativa, mas também a valores associados a uma ética de valentia. Nesse sentido, em termos metodológicos, essa proposta se constituiu num estudo interdisciplinar assentado no tripé História, Política e Psicologia. A análise histórica seria essencial para esclarecer o caráter da atuação de Ludovico em Goiás, destacando as dissonâncias entre discurso e ação; a análise política permitiria destacar as estratégias utilizadas por um homem público para manter e reforçar o seu poder; o viés psicológico possibilitaria analisar, não só um perfil de personalidade individual, mas um perfil coletivo aberto a práticas autoritárias. Com isso, o artigo se mostraria capaz de um diálogo salutar com a Psicologia Política, entendida

como uma encruzilhada de campos de conhecimento, apoiando-se na interdisciplinaridade como um de seus aspectos centrais e debruçando-se sobre distintos objetos tais como: preconceito social; diferentes formas de racismo, xenofobia e homofobia; ações coletivas e movimentos sociais; intersubjetividade e participação; socialização política e saúde pública; relações de poder e instituições totais; valores democráticos e autoritarismos, participação social e políticas públicas. (Almeida, Silva, & Corrêa, 2012, p. 7)

Desse modo, valendo-se dos escritos biográficos de Pedro Ludovico Teixeira e de uma pesquisa histórica por fontes da época, como jornais e livros de memorialistas, pretende-se analisar a relação tensa entre "valores democráticos e autoritarismos" presente na sociedade goiana, a partir da tentativa de o político tentar conciliar uma representação associada à valentia com uma atuação modernizadora e democrática. Com isso, o estudo pretende contribuir para o estudo "sobre a performance de atores, sobre a eficácia simbólica de ritos e imagens produzidas segundo fins e usos do político, sobre fenômenos que presidem a repartição da autoridade e do poder entre grupos e indivíduos, sobre mitos e crenças que levam os homens a acreditar em alguém ou algo" (Pesavento, 2005, p. 75).

 

A construção da valentia nas Memórias de Pedro Ludovico Teixeira

Um dos pressupostos dos estudiosos da memória, principalmente daqueles influenciados pelas obras de Maurice Halbwachs, é o de que as lembranças individuais têm que ser interpretadas dentro de um quadro social mais amplo da convivência do indivíduo com o grupo com que interage. Nesse sentido, Halbwachs afirma que as lembranças individuais sempre são coletivas, pois

Outros homens tiveram essas lembranças em comum comigo. Muito mais, eles me ajudam a lembrá-las: para melhor me recordar, eu me volto para eles, adoto momentaneamente seu ponto de vista, entro em seu grupo, do qual continuo a fazer parte, pois sofro ainda seu impulso e encontro em mim muito das idéias e modos de pensar a que não teria chegado sozinho, e através dos quais permaneço em contato com eles. (Halbwachs, 1990, p. 27)

Essas recomendações de Halbwachs são pertinentes para um olhar mais analítico sobre as Memórias, publicadas pelo próprio Pedro Ludovico em 1973. Nesse ano, já octogenário, estava desgostoso politicamente, já que o Brasil era governado pelo Regime Militar, responsável pela cassação do mandato de governador do seu filho Mauro Borges, em 1964, e do seu mandato de Senador, em 1969. Desse modo, ao falar sobre o seu passado, Ludovico estava refletindo sobre o seu presente. A seleção de lembranças visava sobretudo a construir uma personalidade condizente com o momento em que o autor estava vivendo. Para o ambiente político da década de 1970, essa valorização da valentia soava como uma espécie de resposta aos seus adversários de que era corajoso e estava pronto para a luta e soava também como um estímulo aos seus aliados a não esmorecerem diante da repressão ditatorial.

É muito sintomática da memória seletiva de Pedro Ludovico, a inclusão de um fato ocorrido no tempo em que estudava no ensino ginasial, quando se lembrou de uma citação de um colega que lhe disse o seguinte: "Pedro é o mais inteligente e o mais bravo de nossa turma" (Teixeira, 1973, p. 12). Até a sua adolescência, ele deve ter ouvido centenas de avaliações sobre a sua personalidade, no entanto a frase em que foi caracterizado como bravo e inteligente era a mais condizente da imagem que procurava construir de si.

Curiosamente, a primeira atividade política em que participou, Pedro Ludovico demonstrou uma certa dose de insegurança. Ele foi escolhido para ser o orador da turma, no encerramento do curso ginasial e, por isso, ficou quinze dias se preparando para confeccionar o discurso. No dia da cerimônia, suas palavras introdutórias revelam as apreensões do orador adolescente: "Musgo rasteiro na senda da vida. Palinuro inseguro ao me exprimir, estou receoso de não agradar" (Teixeira, 1973, p. 11). A frase indica um artifício retórico que remonta a escolástica medieval, quando o orador se autodesqualifica para atrair a atenção do público, mas pode ser também uma confissão sincera de insegurança, uma vez que ser o orador de uma solenidade pública exige um certo grau de coragem talvez até maior do que entrar numa briga. Seja como for, os aplausos recebidos convenceram ao jovem Pedro da pertinência do seu discurso.

Outras confissões de insegurança na juventude também aparecem nas Memórias. Quando Pedro Ludovico estava morando no Rio de Janeiro para estudar medicina, aconteceu um fato que colocou a sua valentia à prova. Num dia em que estava conversando com uma moça em seu quarto,

entra pela porta, que se achava aberta, o seu amante, um velho de 60 anos, conhecido como valente, já que era Leão de Chácara de um dos Clubes noturnos do Rio. Pegou a moça pelos cabelos, deu-lhes uns tapas e lhe disse: Vagabunda, não a quero mais! Fiquei apavorado, porque, para enfrentá-lo, só a bala e não me convinha. Felizmente foi se embora e nunca mais me procurou a bela Itália. (Teixeira, 1973, p. 18)

A atitude de Pedro Ludovico foi prudente e racional. Se ele tivesse enfrentado o amante furioso, a história política de Goiás seria diferente! No entanto, ver um homem bater numa "amiga" na sua frente e não fazer nada não combina com a imagem de um viril cavalheiro. Pelo menos não combina com a imagem que se tem de Pedro Ludovico.

Parece que à medida que envelhecia, Pedro Ludovico foi se tornando mais corajoso e ousado. A prova disso é a sua atitude impetuosa ao enfrentar um peão chamado Marcelino, quando viajava para a cidade de Rio Verde, no ano de 1917:

No segundo dia da viagem, chegamos a uma fazenda, no município de Paraúna, onde dormimos. Ao amanhecer, Marcelino, que devia arrear os animais, começou a jogar no chão, com estupidez, os arreios, baixeiros etc. Chamei-lhe a atenção. Pedi-lhe que não procedesse daquele modo. Respondeume brutalmente, dizendo que ninguém mandava nele. Repeli-o. Sacou de uma faca com intenção de me ferir. Saquei do 38 e mandei que se detivesse. Atendeu. Paguei-lhe o que tinha a receber, continuando sem ele a viagem. (Teixeira, 1973, p. 23)

Pedro Ludovico estava com 25 anos quando ocorreu este episódio. Apesar de estar em vantagem logística diante de seu contendor - um revólver contra uma faca - ele agiu com firmeza e virilidade. Não é qualquer jovem intelectual que tem a intrepidez de enfrentar um rude peão sertanejo. Além disso, a sua coragem fica mais evidenciada quando, horas depois, o mesmo Marcelino pede desculpas e é incorporado ao acampamento dos viajantes e "para demonstrar confiança, dei-lhe uma Winchester 44, ficando a outra com meu primo, e seguimos para Rio Verde" (Teixeira, 1973, p. 23).

Desde 1917, fixando residência em Rio Verde, Pedro Ludovico casa-se, em 1919, com Gercina Borges, filha de Antônio Martins Borges, líder político da cidade. A partir daí ele começa a se envolver mais intensamente com a política, militando contra o grupo político dominante. Ele interpreta a sua ação oposicionista, no contexto sociológico da época, como uma atitude de valentia, já que "pouca gente tinha coragem de combater o Caiadismo" (p. 27). De fato, nesse período ele enfrentou situações perigosas e violentas.

Numa delas, relata o seu envolvimento numa briga por questões políticas em que houve até troca de tiros, sendo auxiliado por Moisés Costa Gomes, farmacêutico de Rio Verde. É bem representativo sobre a peculiaridade cultural da época o fato de o médico e farmacêutico, pessoas com bastante prestígio social, envolverem em uma briga de rua. Ludovico não relata a data do entrevero, mas sabe-se que ele aconteceu após 1919, sendo que ele já estaria beirando ou com mais de 30 anos.

A ousadia de Pedro Ludovico parecia ser cada vez maior nesse período. Ele relata que, após atender uma paciente num hotel de Rio Verde, foi interpelado por um tenente da polícia de Goiás que queria saber se portava uma arma. Depois de uma breve e rústica discussão com o oficial, Ludovico saiu do carro e mostrou-lhe o revólver, desafiando-o a tomá-lo (p. 31). Felizmente a contenda acabou sem nenhuma conseqüência mais grave. Considerando que a polícia de Goiás era famosa nacionalmente pela sua violência, a atitude de enfrentar um tenente foi ousada e arriscada. Até porque o próprio Ludovico relata que o mesmo tenente, algum tempo depois, foi acusado de matar um homem em Catalão.

O jovem ponderado do início das Memórias se transforma num homem cada vez mais irascível. Em 1929, quando já estava com 37 anos, chegou a ameaçar intrepidamente um delegado que queria agredi-lo: "foi logo dizendo que tinha ordens negras contra mim. Não deixei que continuasse. Respondi-lhe que, se ele me tocasse com a mão, como acabara de fazer com o advogado, o mataria, não na prisão, porque não havia possibilidade, mas depois, em qualquer lugar onde o encontrasse" (Teixeira, 1973, p. 32). O delegado em questão era Erkonvaldo de Barros, que veio do Rio Grande do Norte para supostamente ajudar na repressão política em Goiás. O fato se deu quando Ludovico e seu sogro estavam presos, por ordem do próprio delegado. Portanto, Ludovico agiu em um local e numa situação amplamente favorável ao seu adversário. E a ameaça parece ter surtido efeito, pois o delegado deixou Pedro e seu sogro incólumes.

Provavelmente o momento que exigiu maior coragem na vida de Pedro Ludovico foi quando ele, articulando-se com os revolucionários de Minas Gerais, decidiu conspirar contra o Governo de Goiás. Não deve ter sido uma decisão fácil para um homem casado, profissionalmente e socialmente estabilizado, entrar na aventura de uma conspiração política, principalmente no contexto da década de 1920 em que todos os levantes nacionais contra o governo redundaram em fracassos.

Mesmo assim, no dia 4 de outubro de 1930, Ludovico dirigiu-se, numa viagem cheia de percalços, a cidade de Uberlândia. De lá ele voltou a Goiás, comandando mais de uma centena de homens. Transvertido no papel de comandante de uma tropa irregular, ele teve, como primeiro desafio, o choque com um grupo composto de 6 soldados que, mesmo em inferioridade numérica, abriram fogo contra o grupo rebelde. Dois dos soldados legalistas ficaram feridos, sendo que um deles veio a falecer depois.

Ao chegar às proximidades de Capelinha (atual Quirinópolis), Ludovico e seus comandados enfrentaram uma resistência bem mais séria do que a anterior: "nas vizinhanças, havia um riacho e uma ponte, que deveríamos atravessar. Quando o fazíamos, tivemos que recuar, pois recebemos uma fuzilaria de quinze soldados, comandados por um sargento. Houve uma luta que durou meia hora, mais ou menos. A força policial bateu em retirada e nós entramos na cidade" (Teixeira, 1973, p. 36). Apesar de a tropa inimiga constar apenas de 15 soldados, a batalha foi renhida. Uma hora sob intensa artilharia deve ter parecido uma eternidade. Depois desse combate, dos 110 homens que compunha a tropa, 40 desertaram. Essa deserção em massa é um indicativo de que nem todos têm a aptidão psicológica para uma vida militar, na qual "enfrentar a morte e as irracionalidades do destino humano com coragem é para o guerreiro uma coisa cotidiana" (Weber, 1994, p. 393). Por outro lado, os que permaneceram demonstra um perfil psicológico de homem típico da década de 1920, em que circulava, no imaginário, o heroísmo abnegado dos Dezoito do Forte de Copacabana, ou do heroísmo imprevidente dos membros da Coluna Prestes.

Pedro Ludovico Teixeira demonstrou ter o espírito de um guerreiro, mostrando uma invejável coragem em um momento decisivo. Isso aconteceu em mais um combate assim descrito:

Continuando a marcha, fomos logo interceptados por uma intensa fuzilaria, a que resistimos duas horas. Terminada a nossa munição, o meu pessoal recuou, menos eu e dois companheiros, que se separaram de mim, cada qual procurando se salvar. Nós três não tínhamos possibilidade de alcançar os caminhões que nos conduziam. Ficando só, tentei abrigar-me, depois de arrastar-me pelo solo cerca de 500 metros, chegando a um pequeno bosque. Era tal a minha fadiga que dormi imediatamente seis horas seguidas. (Teixeira, 1973, p. 37)

Apesar de esse embate não ter provocado a morte de ninguém, a ação de Ludovico foi de coragem ao não recuar. O seu esforço físico e psicológico foi extremo, o que explicaria o fato de ter dormido 6 horas ao relento. Logo depois, ele foi encontrado pelos soldados e preso em Rio Verde. No dia 24 de outubro, quando estava sendo levado para a prisão da cidade de Goiás, recebe a notícia da vitória da Revolução. De prisioneiro, torna-se um dos três integrantes da Junta Governativa, responsável pela administração de Goiás. Dias depois o seu nome era confirmado por Getúlio Vargas como o interventor estadual. Iniciava-se o período ludoviquista da história política goiana.

 

Da valentia à repressão autoritária

A maior realização política de Pedro Ludovico Teixeira foi a construção de Goiânia. Os historiadores que estudaram a mudança da capital reconhecem os seus méritos em construir uma nova cidade num dos estados mais atrasados do país e o efeito desenvolvimentista da capital sobre a economia e sociedade goiana, muito embora ressaltem os interesses políticos envolvidos na transferência da capital. Nasr Chaul (1988, p. 76), por exemplo, destaca que Pedro Ludovico executou uma jogada de mestre, "resgatando a ideia de mudança da Capital como plataforma básica de sua consolidação política", o que foi decisivo na obtenção da maioria parlamentar que o elegeu como governador de Goiás, em 1935. Contudo, a nova capital era uma necessidade do próprio sistema capitalista de integrar com mais eficiência Goiás à economia nacional, era uma aspiração coerente com os preceitos varguistas de integração do interior do país, era um símbolo do novo, condizente com a ideologia da Revolução de 1930. "Enfim, estava se pegando o bonde da história".

Em suas Memórias, Pedro Ludovico evidentemente ressalta a aspiração coletiva pela mudança da capital e silencia sobre os eventuais lucros políticos advindos com a medida. Transcreve um discurso aos deputados de sua base, antes da eleição indireta para governador em 1935, quando explicita os motivos de sua determinação para transferência da capital: "disse-lhes que, se eleito fosse, promoveria a mudança, e que, se assim procedia, era para o bem do Estado. Considerava a mudança uma salvação, uma ressurreição para o seu desenvolvimento, estando imbuído das melhores intenções. A minha atitude nesse tentame era do mais puro idealismo." (Teixeira, 1973, p. 50). A ideia de mudança da capital era uma estratégia política genial, mas a sua execução foi por demais trabalhosa. O Estado não possuía recursos suficientes para financiar a obra, o apoio financeiro do governo federal foi pífio, a resistência da oposição foi constante e intensa; "a cada casa erguida na nova capital parecia provocar um desabamento político" (Chaul, 1988, p. 85).

A construção de Goiânia foi um ato de coragem. John Kennedy (1964, p. 21) definiu a verdadeira coragem de um político a partir da sua resiliência diante "dos riscos a que sujeitaram suas carreiras, da impopularidade das posições assumidas, da difamação de seus caracteres". Pedro Ludovico, não só sobreviveu a turbulência política da construção da nova capital goiana, como saiu bem mais forte dela. Entrou para um seleto grupo de políticos, cujos nomes mais representativos são líderes mundialmente conhecidos, como Pedro, o Grande, George Washington e Juscelino Kubitschek, que ousaram construir uma nova capital para o seu país ou região. Orgulhoso, sentiu-se um herói da história hegeliano, afirmando "que não foram os homens normais que mudaram o curso da história" (Teixeira, 1973, p. 51).

Contudo, a construção de Goiânia ficou manchada, contaminada pela personalidade excessivamente viril de Pedro Ludovico e pelo contexto autoritário da política brasileira da década de 1930. Em suas Memórias, Ludovico afirmou que "durante o período interventorial, em que os meus rancorosos adversários políticos não sofreram a menor perseguição, nem foram coagidos na sua liberdade, podendo usá-la em todos os sentidos, inclusive o de tramar coisas terríveis contra mim" (Teixeira, 1973, p. 56). Contudo, nesse caso, as palavras não correspondem aos fatos. O deputado Francisco de Britto, no jornal A Coligação, em 1935, utilizou a expressão "pico de mandonismo sem freios" para caracterizar a administração do interventor (Mendonça, 2013, p. 491).

No ano de 1936, enfrentando uma forte resistência dos deputados oposicionistas que não queriam aprovar a lei que possibilitava a transferência da capital para Goiânia, sem garantir salvaguardas para a cidade de Goiás, Pedro Ludovico agiu com rispidez:

O terror tomava conta de Goiás, com cartazes do Governador pregados nas residências, principalmente dos sabidos antimudancistas. Pelo poder da força de seus soldados, Pedro Ludovico estabelecia o pânico e censurava tipografias. O jogo político não era para ser respeitado, era para ser vencido, não importava os meios. (Chaul, 1988, p. 149)

O deputado Jaci de Assis chegou a ser preso, acusado de ser simpatizante de Luís Carlos Prestes. O restante dos deputados oposicionistas, bastante assustados, refugiaram-se num quartel do Exército, na esperança de conseguir salvaguardas do Governo Federal. Por meio de pressão, prisão, destituição, compra, o governo conseguiu novamente a maioria parlamentar. Nas Memórias, Pedro Ludovico omite a violência contra os deputados, interpretando a fuga para o quartel como uma estratégia para impedir a mudança da capital: "os deputados da oposição continuavam a usar de todos os meios contra a mudança, ao ponto de procurarem um abrigo no quartel do 6º B.C., dizendo-se sem garantias, a fim de provocar uma intervenção do Governo Federal" (Teixeira, 1973, p. 145).

Além da pressão policial sobre os deputados, Pedro Ludovico, ainda antes de Getúlio Vargas decretar o Estado Novo, cerceou violentamente a liberdade da imprensa em Goiás. O cronista Joaquim Rosa (1974, p. 166) relata que "numa tarde de novembro daquele ano (1934), seu diretor [do jornal O Ipameri] foi cercado na rua por três trabucos empunhados por três soldados da polícia, com ordem de desarmá-lo ou matá-lo". Também o jornal oposicionista O Razão, da cidade de Goiás, sofreu, a partir de 1936, várias censuras até, finalmente, ser empastelado pela polícia em 1936. Desse modo, na avaliação de Mendonça (2013, p. 580), "o garroteamento da liberdade de imprensa em Goiás durante os 15 anos do primeiro consulado ludoviquista foi a regra, permeado, é verdade, por um pequeno intervalo de relutante tolerância democrática com os veículos de comunicação de feição oposicionista ou mesmo independente."

Diferente de Belo Horizonte e Brasília, Goiânia foi uma capital construída em tempos de autoritarismo. Em um discurso no final de agosto de 1936, no local em que estava sendo construída a nova cidade, num comício público, Pedro Ludovico afirmou: "pois bem; com a lei ou sem a lei, pela força do direito ou pelo direito da força, tê-la-eis aqui muito em breve" (Monteiro, 1938, p. 577). Num eloquente silêncio, esse antológico discurso foi suprimido de suas Memórias.

A pressão autoritária de Ludovico sobre o legislativo e a imprensa oposicionista poderia ser interpretada como uma estratégia política para conseguir quebrar a forte resistência à mudança da capital. Atos desproporcionais de violência, mas, volta e meia, inerentes à atividade política, como é o caso do político piedoso obrigado a enfrentar uma guerra. Afinal, como deixou bem claro Max Weber (1982, p. 150), o político é aquele que se "coloca à mercê de forças diabólicas envoltas na violência". O próprio Ludovico, num discurso proferido durante a recepção de Getúlio Vargas em sua visita a Goiânia em agosto de 1940, reconheceu o caráter especial da época que justificaria o regime ditatorial do Estado Novo: "a palavra do diplomata atual mudou de tom; não mais pode ter a doçura, a excessiva polidez de outrora, que se confunde com fraqueza e pusilanimidade" (Teixeira, 1973, p. 120).

Contudo, além da violência inerente a qualquer atividade de mando político e do espírito autoritário da época, Pedro Ludovico trouxe para a sua administração os impulsos da sua personalidade marcada pela impulsividade. Era um tipo de homem, nas palavras de um cronista que viveu a época, que "não podendo vencer pela persuasão, convenceu com a borduna" (Rosa, 1974, p. 196). Um episódio pitoresco, mas revelador da personalidade do então Interventor, foi um entrevero com o prefeito de Campinas, Licardino Ney, motivada pela discussão sobre o preço dos tijolos fornecidos pelo prefeito ao Estado, que evoluiu para uma atracação depois de ser chamado de "Pedro Mudança"

A coisa que mais damna o interventor federal neste Estado é a alcunha de Pedro Mudança, com que a irreverência do povo costuma ironizar a sua mania mudancista. Ouvindo-a da boca de um seu auxiliar de confiança, foram as últimas estribeiras e um bofetão estalou sem mais aquella, seguido de outro, de outros, de pontapés, empurrões, de exclamações escusas. O coronel Licardino de Oliveira Ney, que é baixo de estatura, agarrou-se as pernas do contendor e levou ao chão o corpo interventural com evidente desejo de alcançar lhe a garganta. Populares em volta, torciam. Não fosse a intervenção do chauffeur oficial que de revolver em punho afastou o prefeito para que apanhasse sem reagir e o desfecho seria doloroso para a consciência cívica do povo goyano. (A Batalha, Rio de Janeiro, 23 de maio de 1935)

Convenientemente, Pedro Ludovico suprimiu esse episódio das suas Memórias. Ao se envolver de modo obstinado na construção de Goiânia, demonstrou, nas palavras de Max Weber, uma das qualidades essenciais do homem vocacionado à política: a paixão obstinada a uma causa. Contudo, o sociólogo alemão adverte que a paixão, para ser produtiva, deve ser acompanhada de um senso de responsabilidade:

É a qualidade psicológica decisiva para o político: sua capacidade de deixar que as realidades atuem sobre ele com uma concentração e uma calma íntimas. Daí a sua distância em relação às coisas e homens. Falta de distância, em si, é um dos pecados mortais do político. [...] A política é feita com a cabeça e não com outras partes do corpo e da alma. (Weber, 1982, pp. 138-139)

O sucesso de Pedro Ludovico não deixa dúvidas sobre a sua capacidade de pensar estrategicamente. Contudo, a sua irascibilidade demonstrada contra o prefeito de Campinas indica que fazia política, não só com a cabeça, mas também com os punhos. A frieza no trato com os adversários, muitas vezes, era substituída pelo comportamento colérico. Ele próprio relata que seus adversários políticos foram até Getúlio Vargas para retirá-lo do posto de Interventor do Estado, sob a alegação de que era um "homem que atua com excesso de personalismo, não ouvindo ninguém sobre a prática de seus atos. É violento e gosta de jaguncismo" (Teixeira, 1973, p. 244). A manutenção do interventor no cargo e a posterior longevidade da atuação política de Ludovico em Goiás demonstram que sua personalidade "forte e viril" agradava a Getúlio Vargas e também parcela considerável da população goiana.

 

Considerações finais

Pedro Ludovico é uma figura ambígua, como também foi Getúlio Vargas na memória política nacional. Populista, autocrata, nacionalista, revolucionário, modernizador, oligárquico são alguns dos adjetivos que revelam a complexidade da sua avalição. Homem culto, com formação em medicina, Pedro Ludovico cultivou a imagem de homem viril, obstinado na realização de suas ideias.

Nesse sentido, as suas Memórias constituem um documento de como um importante político brasileiro dava sentido à sua vida por meio de uma narrativa memorialística. Nesta narrativa, Pedro Ludovico procura-se mostrar como um homem viril, audacioso, corajoso, mas também justo, democrático e não violento. Como alerta Zygmunt Bauman, as narrativas têm o poder de fazer demarcações simbólicas, classificando a sociabilidade entre aqueles que se consideram "amigos" e os "inimigos". Desse modo, Ludovico construiu uma narrativa na qual estão claramente delimitados os seus "inimigos" - principalmente os membros da família Caiado e os adversários da mudança da capital - e os seus amigos - principalmente Getúlio Vargas e os seus aliados políticos. Essa divisão explica a estruturação da narrativa diferenciando "o próprio e o impróprio, o certo e o errado, aquilo que é de bom gosto e o que não fica bem" e, além do mais, "torna o mundo legível e, com isso, instrutivo" (Bauman, 1999, p. 63).

A narrativa tem o poder de transmudar o medo em coragem e a covardia em heroísmo. Por isso, uma derrota militar na Guerra do Paraguai, conhecida como Retirada de Laguna, foi transmudada pela narrativa de Alfredo Taunay (2003) num ato de coragem épica. Pedro Ludovico nas Memórias procurou transmudar o autoritarismo de suas ações em atos de coragem política. Desse modo, omite o empastelamento de jornais e a sua briga com o prefeito de Campinas, explica a fuga dos deputados oposicionistas para um quartel como um teatro político e omite o discurso de que transferiria a capital pela força e não pelo direito. A narrativa justifica a firmeza das decisões, mas silencia sobre a violência antidemocrática.

De qualquer modo, o sucesso político de Pedro Ludovico demonstra o quanto os ideais vinculados à valentia eram apreciados em Goiás. Nesse sentido, "a virilidade não constitui uma simples virtude individual. Ela ordena, irriga a sociedade, cujos valores sustenta. [...] Ela estrutura a representação do mundo" (Corbin, 2013, p. 9). A virilidade é uma visão de mundo, cultivada com maior ou menor ardor a depender da época e do lugar. No Brasil, a virilidade masculina sempre foi bem apreciada pelo povo como qualidade dos políticos. Grande parte do prestígio de um Pinheiro Machado deve-se a "sua vida, toda de aventuras e de gestos de "caudilho" valente, conhecedor de cavalos, bebedor de chimarrão, voluptuoso de churrascos sangrentos" (Freire, 2004, p. 72). Até mesmo um político franzino, com reputação de possuir uma inteligência refinada, como Rui Barbosa, era acometido de ataque de fúria, puxando a toalha da mesa de jantar, derrubando pratos, porcelanas e cristais (p. 179).

De acordo com Gilberto Freire, o desejo por um líder viril, habilidoso no manejo dos meios da violência, tornou-se explícito no Brasil depois da Guerra do Paraguai, quando os ideais de honra, coragem e sacrifício militar difundiram-se na sociedade brasileira. Em certa medida, o golpe militar que instalou a República esteve relacionado à postura pouco marcial de Pedro II:

uma figura de imperador que só aparecia aos olhos do público burguesamente revestido de sobrecasaca e cartola: a pé ou de carruagem também burguesa; de guarda-sol e botinas pretas, ainda de burguês; nunca de farda; nem de espada; nem de botas, nem a cavalo. Menos imperial, portanto, em seu porte ou em sua aparência, que qualquer coronel da Guarda Nacional mais garboso; que qualquer militar mais elegante no seu modo de ser ou parecer marcial; que qualquer senhor de engenho mais instintivamente senhorial na sua maneira de montar a cavalo. (Freyre, 2004, p. 254)

O desejo por um líder viril, hábil no manejo de armas e cavalos, acostumado a mandar com rispidez, explica os presidentes militares do início da República, explica o fascínio pelos líderes da Revolução de 1930, explica os presidentes do Regime Militar de 1964. Mesmo após a democratização, os militares e policiais - a chamada bancada da bala - continuaram a ter um peso considerável no Congresso Nacional, culminando com a eleição de um de seus membros ao cargo de Presidente da República em 2018.

Portanto, a proeminência de Pedro Ludovico Teixeira - antes dele de Antônio Ramos Caiado - na política goiana não constituiu uma anomalia. Pelo contrário, indica uma configuração específica do processo civilizador na sociedade brasileira, em que a pacificação da conduta não foi capaz de sufocar a nostalgia por um líder patriarcal, acostumado a tratar os subalternos com dureza e, em alguns momentos, com violência. Nesse sentido, a ética da valentia, uma sobrevivência arcaica e anacrônica de uma sociedade aristocrática, possui um grande peso simbólico na sociedade brasileira. Muitas das grandes realizações políticas do país, como a Consolidação das Leis do Trabalho na Era Vargas, as obras de infraestrutura e a ampliação do ensino superior no Regime Militar, a construção de Goiânia no período ludoviquista, estão manchadas pelo autoritarismo. Isso ajudou a disseminar o equívoco de que sem a ordem autoritária não há progresso social, alimentando a linhagem de políticos que pregam a força, a submissão e o uso da violência contra seus adversários.

As considerações desse artigo são ainda iniciais para ser peremptórias acerca da propensão da sociedade brasileira para uma valorização de uma personalidade valente e viril como político ideal. Tudo indica que a força dessa representação ainda subsiste, mas muitos outros "ludovicos" existiram no Brasil e espera-se que o artigo possa inspirar novos pesquisadores a estudá-los.

 

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Recebido em: 22/12/2018
Aprovado em: 07/11/2019

 

 

1 Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979) exerceu vários cargos políticos em Goiás. Interventor Federal (1930-1934), Governador (1934-1937), Interventor (1937-1945), Senador (1946-1951), Governador (1951-1954), Senador (1955-1963), Senador (1963-1969). Além disso, a sua influência foi decisiva para a eleição de seu primo José Ludovico de Almeida (1955-1959) e de seu filho Mauro Borges Teixeira (1963-1964) como governadores de Goiás.
2 É pertinente registrar aqui uma importante crítica ao livro Raízes do Brasil, efetivada por Jessé de Souza (2000, p. 236), que considera Sérgio Buarque de Holanda como um dos autores representantes da chamada "sociologia da inautenticidade", ou seja, faz uma "leitura do processo de modernização brasileiro como um processo inautêntico, tendo algo de epidérmico", artificial, externo, uma modernização para inglês ver, na qual se muda a forma, mas mantêm-se o conteúdo. Souza defende que a sociedade brasileira é moderna do tipo seletivo, escolhendo elementos ocidentais compatíveis com valores personalistas tradicionais. Mesmo reconhecendo a pertinência da crítica efetivada por Souza, não se considera que ela invalide a leitura de Holanda sobre a propensão brasileira a aceitar o personalismo autoritário. Inspirado em Norbert Elias, citado em páginas anteriores, este artigo concorda com Souza sobre o caráter moderno da sociedade brasileira, mas defende que se trata de uma modernidade mais parecida com a alemã, do início do século XX, do que com a tradição inglesa ou francesa, destacando a sua busca em conciliar valores individualistas e democráticos com valores ligados a honra, coragem e obediência.
3 De acordo com Sônia Maria de Magalhães (2014, p.184), o prestígio político dos médicos em Goiás era consequência do fato de destacarem "entre a população das cidades pequenas, pelo conhecimento adquirido nos anos de formação, diferenciando-se provavelmente no modo de vestir, de falar e de interpretar o mundo". Além disso, a prática médica possibilitava a troca de valores, o que, numa sociedade patriarcalista, é muito relevante para a carreira política. No caso de Pedro Ludovico, o sociólogo Itami Campos (1980, p. 37), acredita que o uso de um discurso político permeado de metáforas médicas, tratando Goiás como um doente, foi muito importante para a consolidação de seu poder. O historiador Nasr N. Fayad Chaul (1988, p. 76) enfatiza a construção de Goiânia foi estratégica para a escalada política de Ludovico, já que "utilizou-se fartamente das ideias mudancistas dos séculos XVIII e XIX, resgatando a ideia de mudança da Capital como plataforma básica de sua consolidação política."

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