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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.20 no.49 São Paulo set./dez. 2020

 

DOSSIÊ - ESTUDOS SOBRE CONTEXTOS DE DESIGUALDADE SOCIAL E A PSICOLOGIA SÓCIO HISTÓRICA

 

Violência de gênero em estudos qualitativos: uma revisão narrativa

 

Gender violence in qualitative studies: a narrative review

 

Violencia de género en estudios cualitativos: una revisión narrativa

 

La violence de genre dans les études qualitatives: immersion narrative

 

 

Laís Helena DutraI; Mariana Cabral SchveitzerII; Carlos Roberto de Castro SilvaIII

IEspecialista em Saúde Pública pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e Mestra pelo Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora de Atenção Primária a Saúde na graduação em Medicina da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) / dutra_lais@hotmail.com
IIPós-doutora pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), Professora Adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) / mariana.cabral@unifesp.br
IIIPós-doutor em Ciências Sociais pela University of Western Ontario, Canadá. Doutorado em Psicologia Social- IPUSP. Mestrado em Psicologia Social- PUC/SP. Atualmente professor Associado da Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP- Campus Baixada Santista. Coordena o Laboratório de Estudos sobre a Desigualdade social-Martin-Baró (LEDS). Atua nas áreas de psicologia social e comunitária em interface com Saúde Coletiva, movimentos sociais, processos psicossociais de participação social e Ética do cuidado / carobert3@hotmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo pressupõe compreender a violência de gênero enquanto resultante de contextos socioculturais e político-econômicos marcados pela desigualdade entre homens e mulheres e outras injustiças. Realizamos uma revisão narrativa selecionando vinte textos, entre artigos, teses e dissertações de 2005 a 2018, localizadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-Brasil). O objetivo foi realizar uma revisão narrativa de literatura sobre a maneira como o tema da violência de gênero é pesquisada empregando-se a abordagem qualitativa. Da análise, emergiram três categorias: multiplicidades de conceitos; valorização dos diferentes lugares de fala e instrumentos para compreender a subjetividade. Os resultados indicam que a pesquisa qualitativa, em diferentes modos, possibilita a valorização do contexto que o episódio da violência acontece, visibilizando os mecanismos simbólicos e singulares envolvidos. Além disso, evidencia a importância de fortalecimento do aspecto ético-político da pesquisa para a compreensão da violência de gênero.

Palavras-chave: Violência; Gênero; Mulheres; Pesquisa qualitativa.


ABSTRACT

This article presupposes understanding gender violence as a result of socio-cultural and political-economic contexts marked by inequality between men and women and other injustices. we did a narrative review by selecting twenty texts, between articles, theses and dissertations from 2005 to 2018, located in Virtual Health Library (BVS-Brazil). The objective was to carry out a narrative review of the literature on how the theme of gender violence is researched using the qualitative approach. From the analysis, three categories emerged: multiplicities of concepts; appreciation of the different places of speech and instruments to understand subjectivity. The results indicate that qualitative research, in different ways, enables the appreciation of the context that the episode of violence takes place, visualizing the symbolic mechanisms and singular mechanisms involved. Moreover, it evidences the importance of strengthening the ethical-political aspect of research to understand gender violence.

Keywords: Violence; Gender; Women; Qualitative research.


RESUMEN

Este artículo presupone entender la violencia de gênero resultante de contextos socioculturales y político-económicos marcados por la desigualdad entre hombres y mujeres y otras injusticias. Realizamos una revisión narrativa de veinte textos científicos, entre artículos, disertaciones y tesis, entre los años 2005-2018, situados en la Biblioteca Virtual en Salud (BVC-Brasil). El objetivo era llevar una revisión narrativa de la literatura sobre cómo se investiga el tema de la violencia de género utilizando el enfoque cualitativo. Surgieron três categorías del examen: multiplicidad de conceptos; valorización de los distintos “lugares de fala” y comprensión a partir de las subjetividades. Los resultados indican que la investigación cualitativa, en distintos modos, posibilita la valoración del contexto en que ocurre la violencia, mostrando sus mecanismos simbólicos y singulares. Además, destaca el fortalecimiento del aspecto ético-político de la investigación a la comprensión de la violencia de género.

Palabras clave: Violencia; Género; Mujeres; Investigación cualitativa.


RÉSUMÉ

Cet article vise à discuter la violence de genre comme résultat de contextes socioculturels et politique- économiques marqués par l'inégalité entre les hommes et les femmes et d'autres injustices. Il passe en revue par le biais de la narration / du récitune vingtaine de textes, parmi desarticles, des thèses et des mémoires datés de 2005 à 2018, qui se trouvent à la Bibliothèque Virtuelle de la Santé (BVS-Brésil). L'objectif était de réaliser une revue de la narration littéraire tout en observant la manière dont le thème de la violence de genre est étudié via l'approche qualitative. Trois catégories ont émergé de l'analyse: la multiplicité de concepts; valorisation des différents lieux de parole et les instruments pour comprendre la subjectivité. Les résultats indiquent que la recherche qualitative, à maints égards, permet de valoriser le contexte dans lequel se déroule l'épisode de violence tout en rendant visibles les mécanismes symboliques et singuliers impliqués. En outre, il montre l'importance de renforcer l'aspect éthique et politique de la recherche pour comprendre la violence de genre.

Mots-clés: violence; Genre; Femmes; Recherche qualitative


 

 

Introdução

A violência de gênero, por se tratar de um fenômeno social e histórico evidencia uma necessidade de atuação interdisciplinar, multiprofissional e intersetorial. Os estudos que tomam a violência contra as mulheres como objeto de pesquisa são comuns no campo da Saúde Coletiva e também nas Ciências Humanas e Sociais a partir de metodologias qualitativas. Essa estratégia de investigação tem se mostrado apropriada por permitir compreender tanto as dimensões subjetivas e simbólicas do comportamento humano quanto os processos vividos pelos atores sociais (Minayo, 2006).

A violência contra as mulheres é um fenômeno de problema social e de ordem política, no qual necessitou contribuições decisivas das feministas a fim de que estudos sobre essa temática penetrassem no campo do conhecimento científico e acadêmico. Castro e Riquer (2003) ao revisarem pesquisas sobre a violência de gênero apontam que existe um paradoxo quando aplicamos somente dados empíricos às questões tão complexas e estruturais como é o caso do patriarcado, pois segundo as autoras, esses dados se reduzem apenas a características sócio-demográficas (idade, escolaridade, ocupação etc.) e aspectos culturais (sobretudo o consumo de álcool e drogas) caracterizando então, a existência de uma falácia metodológica que reduz um fenômeno de caráter social e estrutural a indicadores individuais (Castro & Riquer, 2003).

Nesse sentido, no âmbito ético da pesquisa, o paradigma qualitativo apresenta uma série de implicações porque rompe com o modelo tradicional que estabelece a separação do sujeito com seu objeto de pesquisa e valida as experiências pessoais e os saberes populares como também produção científica (Sagot, 2000). Sobre isso, Saffioti (2001) aponta que a violência não encontra um lugar ontológico pois sua percepção não é unânime, sendo assim torna-se mais difícil (se não impossível) fazer ciência sobre a violência uma vez que não há ciência do individual. Para a autora, embora tratemos a violência de gênero como um mecanismo de ordem social, ela é interpretada e vivenciada pelas mulheres no campo das singularidades, pois o critério de avaliação de um ato violento situa-se no terreno na individualidade e da subjetividade.

González-Rey (2003) nos ajuda a entender a subjetividade rompendo com a ideia de que ela substitui os outros sistemas complexos do homem (bioquímico, fisiológico, laboral etc.) sendo esses fenômenos individuais, mas ela também se encontra nas diferentes dimensões sociais, sendo produzida no nível social e individual simultaneamente. Dessa forma, ao colocar a subjetividade em duas categorias, social e individual, as mesmas se caracterizam em momentos distintos porém partes de um mesmo sistema, pois se expressam por meio de sujeitos concretos que se posicionam ativamente. No entanto, não se trata de uma reprodução linear de um tipo de comportamento ou emoção, mas sim de uma produção singular que é constituída pelo seu histórico individual, social e cultural (González-Rey, 2003).

A interação entre os sujeitos e objetos de pesquisa, que marcam temáticas não apenas no campo individual como também social não são exclusividades das modalidades qualitativas, no entanto a relação entre metodologia e ética de pesquisa encontra-se exaltada nesta abordagem a fim de apreender o humano na sua dinâmica social (atitudes, comportamentos) como também objetos tão ativos no campo do pensamento e das subjetividades. Assim, em especial na modalidade qualitativa o pesquisador assume responsabilidades ético-sociais desde a construção do seu objeto de conhecimento até o término de análise e discussão dos dados produzidos (Schraiber, Oliveira, Falcão, & Figueiredo, 2005).

Nesse sentido, Castro e Riquer (2003) exemplificam como seria uma pesquisa sobre violência de gênero considerando apenas atos ou condutas individuais acerca da questão: basicamente perguntariam quantas mulheres são agredidas fisicamente, emocionalmente ou sexualmente pelos seus parceiros; ou assediadas no trabalho/ escola; ou quais são as principais características dos agressores. Não se trata aqui de desqualificar a validade desses dados, no entanto as expressões, percepções, necessidades, desejos e afetos não seriam verbalizados nem mensurados. É nesse sentido que muitas pesquisadoras feministas têm buscado através das abordagens qualitativas, um lugar dentro da teoria sociológica que ainda não se traduz em variáveis nem indicadores, mas que permitam a compreensão real do fenômeno da violência.

Sagot (2000) que estuda violência intrafamiliar na América Latina acredita que a pesquisa qualitativa também parte da necessidade de prestar atenção em quem fala, para quem fala e com qual propósito. Isto é, a partir do resgate de vozes alternativas, as vozes silenciadas tornam não somente em critério ético, mas também em critério de qualidade da pesquisa. Nesse sentido, a autora cita entrevistas de profundidade, semi estruturadas, a observação participante, oficinas, grupos, entre outras, como técnicas que permitem melhor apreensão das dinâmicas particulares da experiência humana, dos processos vividos e da construção de representações sociais. No entanto, a autora alerta que alguns instrumentos de pesquisa- como seleção de amostras aleatórias- não são apropriadas em certos estudos como por exemplo a violência de gênero, pois sua invisibilidade e baixa denúncia dificultariam a realização da pesquisa justamente pela sub-representatividade dos dados.

A partir da complexidade e do aspecto multidimensional que permeiam as questões sobre violência de gênero, a escolha pelo método qualitativo de pesquisa se justifica justamente por se ocupar, dentro das Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, que trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes, entendendo o conjunto de fenômenos humanos como parte da realidade social (Minayo, 2014).

Dessa forma, esse artigo tem como objetivo realizar uma revisão narrativa de literatura sobre o tema da violência de gênero a partir de estudos pautados por diferentes abordagens qualitativas, norteadas pelos aspectos históricos culturais, pela produção de sentidos/significados e pelas subjetividades dos sujeitos, tal como a valorização dos aspectos éticos e políticos dessa temática.

 

Método

Uma revisão narrativa, de acordo com Rother (2007), consiste em uma forma de pesquisa que utiliza como método a descrição e discussão do desenvolvimento ou "estado da arte" sob o ponto de vista teórico e contextual de determinado assunto. Consiste em uma análise baseada na interpretação crítica e pessoal do autor, permitindo adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica não fornecendo respostas quantitativas, mas sim contribuindo e levantando questões que possam colaborar com a atualização do conhecimento em curto espaço de tempo (Rother, 2007).

Nesta revisão, buscou-se levantar diferentes formas de se pesquisar a violência de gênero, não no intuito de comparar abordagens diversas e assim optar pela mais eficaz, mas evidenciar, no ponto de vista de resultados, qual ofereceu condições de captar a dinâmica e os mecanismos simbólicos da violência. O recorte temporal foi definido considerando o período posterior a 1999, ano em que o 25 de novembro foi reconhecido internacionalmente como o 'Dia de Combate à Violência Contra as Mulheres', incluindo estudos publicados até dezembro de 2018.

O levantamento bibliográfico foi realizado no período de 11 a 29 de janeiro de 2019, sendo consultadas várias fontes incluídas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-Brasil) na qual comporta inúmeras bases de dados nacionais e internacionais como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), e Index Psi Periódicos Técnico-Científicos.

Na primeira etapa utilizamos descritores de busca em português: "violência contra a mulher" OR tw:"violência de gênero" and "pesquisa qualitativa" segundo termos contidas no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). Na segunda etapa, realizamos uma leitura prévia dos resumos para identificar se os estudos teriam relação com o objetivo proposto e aplicamos os critérios de inclusão e exclusão, sendo incluídos trabalhos nacionais e internacionais que tinham a violência de gênero como objetivo central e que utilizavam apenas metodologias qualitativas, excluindo os trabalhos em que a violência de gênero aparece como questão secundária, além de estudos duplicados. Para melhor sistematização dos dados, após leitura na íntegra, os trabalhos foram inseridos em tabela do Microsoft Excel e divididos pelas colunas: título, ano de publicação, país, sujeitos pesquisados, objetivos, descrição da violência, recortes sociais, instrumentos metodológicos e método de análise. A figura 1 exibe o processo de busca, os critérios de inclusão e exclusão dos estudos encontrados:

Resultados

Os estudos encontrados totalizaram vinte unidades para análise e foram publicados entre os anos 2005 e 2018, observando-se maior número de publicações nos anos 2016, 2017 e 2018, correspondendo a 45% do total. A maioria dos estudos foram realizados no Brasil, o que representou 65% da amostra, seguido pela Espanha, com quatro achados representando 20%, Camboja, Nigéria e Colômbia, com um estudo cada, totalizando 15% do restante da amostra. Os estudos foram publicados em português (n=10), inglês (n=6) e espanhol (n=4).

Observamos uma multiplicidade de sujeitos pesquisados. A maioria dos estudos (45% do total) teve como participantes mulheres que já tinham acionado de alguma forma os equipamentos institucionais para denunciar a violência sofrida, como Centros de Referência e Apoio para Mulheres- CRM, Delegacias de Defesa da Mulher- DDM, e serviços de saúde (Unidades de Pronto Atendimento- UPA e Unidades Básicas de Saúde- UBS). Dentre essas, mulheres imigrantes (Rodrigues & Cantera, 2017) usuárias de crack (Spiassi, 2016), gestantes em situação de abortamento (Lauriano, 2009) e mulheres vítimas de deslocamento forçado (Montoya, Romero, & Jeréz, 2013).

Seis estudos, equivalente a 30% da amostra, foram realizados com trabalhadores de instituições diversas, sendo profissionais da Estratégia de Saúde da Família (Almeida, Silva, & Machado, 2014; Oliveira & Serpa da Fonseca, 2007), operadores da área jurídica (Meneguel, Bairros, Mueller, Monteiro, Oliveira & Collaziol, 2011), atendentes de DDM (Munhoz-Cobos, Varo, Rodríguez, Carretero, Ruiz, Bravo, & Fraile, 2006), mulheres gestoras e militantes (Coelho, 2005). Quatro estudos realizaram análise documental, como prontuários (Lauriano, 2009), boletim de ocorrência (Prates, 2013), inquéritos policiais (Meneguel & Margarites, 2017) e protocolos de atuação clínica da enfermagem (Perez Garcia & Manzano Felipe, 2014). Foram realizados três estudos que incluíram familiares das mulheres vítimas de violência (Muche, Adekunle, & Arowojolu, 2017; Rodrigues, Machado, Santos, Santos & Diniz, 2016a; Rodrigues, Rodrigues, Lira, Couto & Diniz, 2016b). Houve também um estudo com alunos de enfermagem (Maquibar, Hurtig, Vives-Cases, Estalella, & Goicolea, 2018) e apenas dois, tiveram homens autores da violência como sujeitos de pesquisa (Eisenbruch, 2018; Prates, 2013).

Os critérios de inclusão/exclusão desses sujeitos no estudo se deu, em grande maioria, pelo grau de proximidade e envolvimento com a temática. No caso de profissionais das instituições, equivalente a 30% dos estudos, buscou-se considerar o tempo de serviço, o nível de atuação e a disponibilidade em participar. Já os estudos com mulheres, equivalente a 45% da amostra, foram incluídas aquelas que de alguma forma se encontravam em situação de vulnerabilidade já tendo procurado ajuda em equipamentos do estado. Nesses casos, 95% dos estudos (n=19), os homens se apresentam como principais autores da violência pertencendo ao núcleo familiar das mulheres nas quais mantinham relações afetivas. Foi identificado um único estudo (Eisenbruch, 2018) onde as mulheres apareciam como perpetradoras da violência intrafamiliar, representando 12,74% do total.

Em relação às técnicas de investigação presentes nas metodologias qualitativas, a maioria utilizou entrevistas de profundidade ou semi-estruturadas para levantamento dos dados (n=18). Apenas dois estudos fizeram uso exclusivo de análise documental (Meneguel & Margarites, 2017). Alguns estudos utilizaram outras técnicas de investigação, tais como: observação participante (Baragatti Carlos, Leitão, Ferriani, & Silva, 2018; Eisenbruch, 2018), oficinas (Oliveira & Serpa Fonseca, 2007), Testes de Associação Livre de Palavras (Rodrigues et al., 2016a), e grupos focais (Maquibar et al., 2018; Muche et al., 2017). Também surgiram nesse estudo, diferentes tipos de abordagens metodológicas, como etnografia (Eisenbruch, 2018) e fenomenologia (Muñoz-Cobos et al., 2006).

Com base na leitura e análise desses dados, foi possível identificar as múltiplas facetas do fenômeno e os caminhos apontados pelas abordagens qualitativas que ampliam a compreensão dos mecanismos simbólicos e singulares emergidos na violência. Para isso, os achados foram organizados e classificados em três categorias: (a) multiplicidades de conceitos; (b) valorização dos diferentes lugares de fala e (c) instrumentos para compreender a subjetividade.

Multiplicidades de Conceitos

A categoria multiplicidades de conceitos (Figura 2) compreende as diferentes formas utilizadas para definir as tipologias do fenômeno, sendo o termo violência de gênero (n=10) utilizado em 50% dos estudos. Ademais, aparecem os termos violência doméstica (Chaves & Diniz, 2011; Zamora et al., 2012), violência contra a mulher (Coelho, 2005; Prates, 2013), mulheres em situação de violência (Baragatti et al., 2018; Muñoz-Cobos et al., 2006), violência sexual (Oliveira & Serpa Fonseca, 2007), violência por parceiro íntimo (Eisenbruch, 2018), feminicídio (Meneguel & Margarites, 2017), violência intrafamiliar (Chaves & Diniz, 2011) e violência na gestação (Lauriano, 2009).

 

 

Valorização dos Diferentes Lugares de Fala

Nessa categoria, foi possível analisar as falas de diferentes sujeitos em relação às suas vivências e experiências acerca da violência de gênero. A maioria dos estudos tiverem mulheres agredidas como principais sujeitos pesquisados (n=9), no entanto, as análises nos apontam a necessidade de ampliar os sujeitos de pesquisa para além das mulheres vítimas de violência, a fim de se atingir a compreensão do fenômeno a partir de diferentes lugares de fala. A Figura 3 evidencia a presença desses diferentes sujeitos:

 

 

Instrumentos para compreender a subjetividade

Essa categoria aponta que grande parte dos estudos (n=16) adotaram entrevistas como instrumentos para coletar dados sobre a temática da violência de gênero. Desse total, 30% dos estudos não especificaram o modelo de entrevista, 40% utilizaram entrevista semi-estruturadas e 10% entrevistas de profundidade. Contudo, 40% dos estudos fizeram uso exclusivo da entrevista, 15% aplicaram métodos combinados como entrevistas e grupo focal, e 10% realizaram entrevista e análise documental. Outras combinações também foram levantadas, como: entrevista e observação participante; observação participante, entrevista e etnografia; entrevista e relato bibliográfico; e entrevista e Teste de Associação Livre de Palavras, sendo um de cada representando 5%, conforme descrito na Figura 4:

 

 

Também observamos na Figura 4 diferentes formas de análise qualitativa, a mais praticada foi a análise de discurso, representando 45% da amostra, seguida da análise de conteúdo, equivalente a 30%. Outros métodos de análise como sócio-histórica (Rodrigues & Cantera, 2017), análise hermenêutica (Perez Garcia & Manzano Felipe, 2014), teoria fundamentada (Montoya et at., 2013)e análise fatorial (Rodrigues et al., 2016a) aparecerem uma vez cada, representando 5% do estudo.

 

Discussão

A partir dos resultados podemos identificar a complexidade da temática violência de gênero, e o desafio colocado pelas metodologias qualitativas de compreender a sua dimensão sem reduzi-la a um conceito simplista. Foram observadas diferentes formas de se descrever a violência, no entanto, a socióloga e feminista Saffioti (2001) aponta o uso do termo "violência de gênero" como sendo o mais apropriado e abrangente, pois sobre ele, mencionam-se categorias sociais, nas quais colocam homens como agressores e mulheres como alvos das agressões (físicas, sexuais, emocionais). A autora ainda acrescenta "Nada impede, embora seja inusitado, que uma mulher pratique violência física contra seu marido/companheiro/namorado. As mulheres como categoria social não têm, contudo, um projeto de dominação-exploração dos homens. E isto faz uma gigantesca diferença" (Saffioti, 2001, p. 116).

Sobre isso, Guimarães e Pedroza (2015) apontam que apesar da violência de gênero não ser um fenômeno exclusivamente contemporâneo, sua visibilidade política e social tem se destacado recentemente. Apenas nos últimos 50 anos as violências sofridas por mulheres em suas relações de afeto ganharam caráter de gravidade e seriedade. Ainda hoje, esses dados são confirmados pelo Mapa da Violência (Waiselfisz, 2015), apontando que no conjunto amplo das violências, a doméstica representa 67,2% dos casos registrados pelo Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde (Waiselfisz, 2015).

Determinados estudos (n=11) empregam o uso de 'categorias' para organizar, classificar e refletir a respeito do material coletado. Spink e Menegon (2013) defende a utilização de categorias, pois possibilitam ampliar o olhar para a discussão que contrapõe o qualitativo e o quantitativo. Segundo a autora, "as categorias constituem importantes estratégias linguísticas estando presentes na própria organização da linguagem (verbal, escrita, gestual, icônica). Utilizamos categorias para organizar, classificar e explicar o mundo. Falamos por categorias" (Spink & Menegon, 2013, p. 57).

Diante disso, observou-se em alguns estudos, a utilização de instrumentos metodológicos responsáveis por 'traçar' trajetória de vida das mulheres e os caminhos percorridos por elas enquanto vivenciavam a violência. Spink e Menegon discutem que fazer ciência partindo do desempenho de atividades cotidianas pode também ser um caminho para ressignificar as formas de produzir sentido sobre os eventos do mundo. A autora aponta que, esse tipo de informação podem levantar questões complexas de natureza social, como também apontar as fragilidades do campo jurídico. Contudo, esse instrumento não deixa de evidenciar um número significativo de mulheres que ao narrarem seu cotidiano, estão também rompendo a barreira do silêncio e buscando rede de apoio para livrar-se da violência.

Sobre isso, Spink e Menegon (2013) ao estudar práticas discursivas, afirma que existe uma diversidade de lugares dos quais elas se ocupam, e que valorizar experiências, narrativas e, sobretudo, os lugares de fala, é indispensável para obter sua compreensão. Ribeiro (2017) acrescenta ainda, que para além de analisar discursos diversos a partir de suas localizações, faz-se necessário analisar em que condições esse grupo foi construído, compreendendo as posições sociais e os capitais simbólicos distintos. Nesse sentido, 50% dos estudos (n=10) não apontam em suas análises nenhuma informação acerca das condições sociais ou econômicas dos sujeitos entrevistados. Outros 50% apresentam recortes sociais de escolaridade (Eisenbruch, 2018; Muche et al., 2017; Rodrigues et al., 2016a), religião (Muche et al., 2017; Prates, 2013), raça (Lauriano, 2009; Prates, 2013; Rodrigues et al., 2016b; Spiassi, 2016) e econômicos (Lauriano, 2009; Meneguel et al., 2011; Prates, 2013), predominando as mulheres negras, de baixa renda, com ensino fundamental incompleto, com atividades restritas ao trabalho doméstico, e mães de no mínimo dois filhos.

Apesar do recorte racial ter sido mínimo neste estudo, (n=4; 20%) o Atlas da Violência de 2018 aponta que a partir da vigência da Lei Maria da Penha em 2006, o número de vítimas caiu 2,1% entre mulheres brancas e aumentou 35% entre mulheres negras (Cerqueira et al., 2018). Sobre isso, Davis (2011) aponta a necessidade de um pensamento que rompe com assimetrias sociais, trazendo a dimensão da opressão de mulheres negras a partir da escravidão e seus efeitos, mostrando a necessidade de considerar a intersecção de raça, classe e gênero. As categorias levantadas nesse estudo (diferentes lugares de fala e compreensão das subjetividades) dialogam com o pensamento de Angela Davis e reforça a perspectiva qualitativa como importante instrumento de acesso à fala dessas pessoas, pois, na medida em que se relata uma vivência, pode-se inclusive exercer um processo de elaboração e libertação da situação vivida.

Do ponto de vista dos trabalhadores entrevistados pertencentes de alguma instituição, (equivalente a 35% da amostra), a grande maioria possui nível superior completo, mas nenhuma especialização ou capacitação voltada para o atendimento de mulheres vítimas de violência. Sobre isso, foi relatado em todos os estudos os sentimentos de impotência e angústia devido não apenas a ineficiência de serviços públicos como também um despreparo e desconhecimento para lidar com essas situações. É nesse sentido que as entrevistas aparecem quase unanimemente (n=18) nos estudos dessa revisão, pois dela resultam a produção e expressão de práticas discursivas. Dessa forma, a entrevista passa então a ser reconhecida como um processo de interanimação dialógica, da qual exige reflexões sobre poder e ética estabelecido entre pesquisador e pesquisado (Spink Menegon, 2013).

Sobre essa relação de pesquisador com o objeto de estudo - elemento primordial da metodologia qualitativa-, um ponto bastante curioso, mas ao mesmo tempo nada surpreendente, foi identificar que de todos os estudos levantados nesta revisão, apenas dois tinha autoria exclusiva de pesquisadores do sexo masculino (Eisenbruch, 2018; Lauriano, 2009). Outros dois apresentaram autores de ambos os sexos (Muche et al., 2017; Rodrigues e cols., 2016b), e a grande maioria (n=16) representando 80% da amostra, foram produzidos por autoras mulheres. Essa questão também foi levantada por Cunha (1997) ao citar que inúmeras pesquisas qualitativas que se desenvolvem no Brasil, têm mulheres responsáveis pela difusão e construção de referenciais teóricos. A autora não deixa de apontar a necessidade de outros pesquisadores se dedicarem ao processo de investigação qualitativo, a fim de que suas experiências e trajetórias sejam também objetos de análise e construção de conhecimento.

Sagot (2000) reitera que no paradigma qualitativo, também existem implicações no que diz respeito a termos éticos de investigação, pois a ciência tradicional estabelece separações entre sujeito e objeto de investigação, pois consideram que experiências pessoais e saberes populares não possuem validade científica. Autoras como Hooks (1995) e Collins (1989) enfatizam a importante relação entre produção intelectual e experiência pessoal, criticando ainda os critérios epistemológicos que negam a experiência como base legítima para a construção do conhecimento. Sendo assim, faz-se necessário a existência de uma integração que inclui sujeito e pesquisador, a fim de que possam estar ativos no processo da produção de sentidos.

Essa afirmação da autora comprova o que já sabemos: a produção do conhecimento científico tem sido historicamente considerada como um domínio 'reservado' aos homens. Sobre isso, Gilligan (2011) investiga a existência de uma voz diferente e subjetiva formada pela sociedade patriarcal, na qual valorizam de forma hierarquizada e naturalizada os discursos masculinos e femininos. Desse modo, reconhecer que diferentes sujeitos possuem vozes distintas não significa restringi-los à essa voz, pelo contrário, podem desenvolver outras formas de percepção e representar um potencial capaz de transformar a sociedade, incluindo aí, os modelos de reprodução de gênero (Gilligan, 2011). Para isso, a autora propõe uma concepção de ética que visa a transformação da própria sociedade patriarcal, com base nas noções de justiça e igualdade, onde a perspectiva de cuidado não seja apenas relacionada a características femininas:

Por isso, a ética do cuidado, ao dar espaço aos sentimentos morais, tais como, amor, entendimento mútuo, empatia, entre outros, não é uma abordagem feminina, mas uma abordagem feminista da ética, que visa a transformação da própria sociedade patriarcal. Regidos pela ética do cuidado, indivíduos não precisam mais esconder sua vulnerabilidade, ternura e sensibilidade emocional. (Gilligan, 2011, p. 174)

Dessa forma, a pesquisa qualitativa busca reconhecer que cada sujeito ocupa determinado lugar social onde as manifestações de suas percepções e vivências se dão no campo da intersubjetividade. A respeito disso, uma característica presente em todos os estudos (n=20), foi a utilização do contexto sócio- histórico como caminho para se alcançar a compreensão dos fatores estruturais da violência. Dessa forma, os estudos partem do entendimento que assim como o fenômeno não se apresenta isoladamente na sociedade, sua compreensão só é possível se sobre ela, for inserida, de maneira transversal, os contextos socioculturais e as estruturas simbólicas que mantém a mulher em situação de violência. Essa forma de estudar os fenômenos a partir da perspectiva sócia-histórica, alinha-se com a tentativa de superar os reducionismos das concepções empiristas e idealistas apontadas por Vygostsky (1984) buscando construir uma metodologia capaz de refletir o indivíduo em sua totalidade, articulando dialeticamente aspectos internos e externos.

 

Considerações finais

A metodologia qualitativa se apresenta como instrumento importante de pesquisa, pois permite maior aprofundamento sobre os fenômenos sociais, dentre eles a violência de gênero. Nesse estudo, foi possível emergir nessa temática a partir de diferentes abordagens qualitativas, com destaque às entrevistas de profundidade ou semi-estruturadas, que valorizam as práticas discursivas dos sujeitos e as validam enquanto conhecimento científico.

Ademais, as categorias levantadas nessa pesquisa fornecem elementos para apreender os mecanismos simbólicos e singulares emergidos na violência, como diferentes formas para definir as tipologias do fenômeno, a valorização dos sujeitos a partir de seus respectivos lugares de fala, e instrumentos necessários para compreensão da produção de suas subjetividades. Contudo, a multiplicidade de sujeitos entrevistados, sendo sua maioria mulheres que já tinham acionado de alguma forma os equipamentos institucionais para denunciar a violência sofrida, permite acessar informações bastante relevantes, mas aponta, de certa forma, fragilidades no que diz respeito a narrativa de homens autores da violência, a fim que se possa compreender o fenômeno também a partir das falas de agressores.

Por fim, consideramos que esse estudo apresenta limitações em relação a não revisão de artigos em nível internacional e em outros idiomas, o que delimita a quantidade de artigos e não expressa, de maneira geral, tamanha representatividade do universo científico acerca dessa temática. Sobre isso, destaca-se que a pesquisa qualitativa possui potencialidades e fragilidades em relação aos estudos sobre violência de gênero: potencialidades porque valoriza a fala dos sujeitos pesquisados à luz das perspectivas históricas e sociais, e fragilidades por não conseguir atingir diferentes áreas do conhecimento, impossibilitando assim, o apontamento de elementos suficientes para se pensar seu enfrentamento.

 

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Recebido em: 28/05/2019
Aprovado em: 06/02/2020

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