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Revista Psicologia Política

On-line version ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.21 no.52 São Paulo Sept./Dec. 2021

 

DOSSIÊ BIOPOLÍTICAS E COVID-19

 

Mobilização política em tempos de pandemia: a atuação do MST em foco

 

Political mobilization in pandemic times: the MST's performance in focus

 

Movilización política en tiempos de pandemia: el desempeño del MST en foco

 

 

Rafael Silva dos SantosI; Cássio Calyton Martins AndradeII; Deyse Cristina Valença GuedesIII; Mateus Felipe Otaviano PedroIV; Jáder Ferreira LeiteV

IMestrando no Mestrando no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: rrafaelssilva.santos@gmail.com
IIMestrando no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: cassioclayton@gmail.com
IIIMestranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: deyseguedesss@gmail.com
IVMestrando no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: teuspedro@hotmail.com
VDoutor em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor associado II, vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: jaderfleite@gmail.com

 

 


RESUMO

O presente trabalho objetivou investigar as ações de mobilização política do MST no cenário da pandemia, a partir de seus meios de comunicação virtual, buscando destacar a finalidade e os atores a quem essas ações estão voltadas. O campo exploratório de produção de dados para a presente pesquisa tratou das principais mídias sociais utilizadas pelo MST: Youtube, Instagram, Twitter e o seu site próprio. Do processo de análise temática dos dados emergiram quatro categorias: ações de promoção e prevenção em saúde; ações de solidariedade; ações artísticas e culturais; e ações de enfrentamento e articulação política. Materializam-se os acúmulos praxiológicos do movimento nas novas estratégias de luta, como a unidade da classe trabalhadora para defesa de suas vidas, incorporando elementos simbólicos e identitários das lutas populares, contestação ao cenário de crise política atual, construção de saídas equânimes ancoradas na agroecologia, na perspectiva da solidariedade e de princípios e valores do socialismo.

Palavras-chave: Psicologia e movimentos sociais; MST; Pandemia Covid-19; Mídias sociais; Mobilização política.


ABSTRACT

The present work aimed to investigate the MST's political mobilization actions in the scenario of the pandemic, from its virtual media, seeking to highlight the purpose and actors to whom these actions are aimed. The exploratory field of data production for the present research dealt with the main social media used by the MST: Youtube, Instagram, Twitter and its own website. Four categories emerged from the thematic analysis process of the data: health promotion and prevention actions; solidarity actions; artistic and cultural actions; and actions of confrontation and political articulation. The movement's praxiological accumulations are materialized in the new strategies of struggle, such as the unity of the working class to defend their lives, incorporating symbolic and identity elements of popular struggles, contestation of the current political crisis scenario, construction of equitable solutions anchored in agroecology, from the perspective of solidarity and socialist principles and values.

Keywords: Psychology and social movements; MST; Covid-19 pandemic; Social media; Political mo bilization.


RESUMEN

Este trabajo tuvo como objetivo investigar las acciones de movilización política del MST en el escenario de la pandemia, a partir de sus medios virtuales, buscando resaltar la finalidad y los actores a los que se dirigen estas acciones. El campo exploratorio de producción de datos para la presente investigación abordó los principales medios social utilizados por el MST: Youtube, Instagram, Twitter y su propio sitio web. Del análisis temático de los datos surgieron cuatro categorías: acciones de promoción de la salud y prevención; acciones de solidaridad; acciones artísticas y culturales; y acciones de confrontación y articulación política. Los cúmulos praxiológicos del movimiento se materializan en las nuevas estrategias de lucha, como la unidad de la clase obrera para defender su vida, incorporando elementos simbólicos e identitarios de las luchas populares, contestación del actual escenario político de crisis, construcción de soluciones equitativas ancladas en agroecología, desde la perspectiva de la solidaridad y los principios y valores socialistas.

Palabras clave: Psicología y movimientos sociales; MST; Pandemia de Covid-19; Redes sociales; Mo vilización política.


 

 

Introdução

Desde que foi decretada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, a Covid-19 (WHO, 2020), doença provocada pelo novo coronavírus, vem sendo relacionada em seus efeitos não exclusivamente como promotora de uma crise sanitária global, mas também pelo impacto no conjunto das relações interpessoais, das instituições sociais, políticas e nos mercados (Santos, 2020). Ignacio Ramonet (2020) nos lembra que por meio dessa política neoliberal diversos países efetuaram cortes nos investimentos em setores como a saúde pública, setor esse que justamente está sendo a retaguarda principal de acolhimento das pessoas acometidas pela Covid-19.

No Brasil, a disseminação do novo coronavírus tem se dado num contexto em que o país atravessa uma profunda crise política e econômica que segue, desde o golpe perpetrado em 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff, se acentuando por meio da radicalização de medidas de cunho neoliberal adotadas pelos governos posteriores, tais como as reformas trabalhista e previdenciária - que produziram desmonte significativo nos direitos e nas relações trabalhistas -, esvaziamento de políticas de defesa do meio ambiente e de políticas de saúde e educação (a exemplo da Emenda Constitucional n. 95/2016, ao restringir os investimentos em saúde e educação a partir de um teto de gastos, por um prazo mínimo de 20 anos), ataques sucessivos aos direitos humanos, à instituições democráticas e criminalização dos movimentos sociais (Gizzi & Mendonça, 2020).

Assim, os efeitos da crise sanitária somados à crise política e econômica tem desfraldado um grande contingente populacional com enormes dificuldades diante da necessidade de isolamento social, seja pelas precárias condições de habitação, de saneamento, de acesso à água potável, de renda para sobreviver em meio à pandemia, de uma população com altos índices de doenças crônicas e vivendo em um cenário de alta densidade demográfica, sobretudo nas periferias das grandes cidades (Barreto et al., 2020).

Se no meio urbano já se configura, como descrito acima, uma série de impedimentos para um efetivo enfrentamento à disseminação do novo coronavírus, aos contextos rurais se somam outras adversidades, também historicamente constituídas e reveladoras de graves dilemas para suas populações. Um estudo de avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) resumiu da seguinte forma algumas disparidades entre o campo e a cidade em nosso país:

a renda domiciliar per capita média da população urbana é quase três vezes maior do que a da população rural, R$ 882,6 e R$ 312,7 respectivamente. Quanto à escolaridade da população adulta, 60% da população urbana com mais de 18 anos possui o fundamental completo, ante 26,5% da população rural. Na esperança de vida ao nascer, a população urbana vive em média 3 anos a mais do que a população rural, 74,5 anos a 71,5 anos. (PNUD, IPEA, FJP, 2017, p. 18)

Boa parte dessa desigualdade pode ser relacionada à persistente concentração fundiária e ao processo de modernização da agricultura no país dado sob a égide do capital financeiro (Wanderley, 2014), bloqueando o acesso à terra a muitos agricultores e agricultoras familiares, já que o modelo adotado priorizou as grandes propriedades, o monocultivo e o uso de um padrão tecnológico de produção que culminou na expulsão ou pauperização de um grande contingente de trabalhadores do campo.

Para Luís Fernando Guedes Pinto et al. (2020), associam-se a essa concentração processos de grilagem de terras públicas (fraude de títulos de terra), conflitos de ordem socioambientais, sobretudo pela presença de invasores a fim de explorar minérios e madeiras em áreas de preservação ambiental ou em reservas indígenas e territórios de comunidades tradicionais, como quilombolas, ribeirinhos e extrativistas. Não à toa, garimpeiros e madeireiros têm sido apontados como principais ameaças de contaminação do novo coronavírus para populações indígenas (CIMI, 2020).

Por seu turno, na esteira de efetivação da agenda neoliberal no país, o governo atual tem acentuado esses dilemas, adotando medidas que atingem diretamente reservas ambientais, territórios indígenas, ecossistemas a fim de tornar esses territórios espaços de exploração para setores do agronegócio (Pompeia, 2020). Com isso, tem sido evidente a escolha política pelo modelo produtivo da agricultura industrial em detrimento da agricultura familiar, segmento este que tem visto redução importante dos investimentos em políticas, programas e planos voltados para o seu desenvolvimento, daí enfrentarem os agricultores familiares a ausência de intervenção mais efetiva do governo federal para minimizar os efeitos da pandemia, já que com ela tiveram impactos em sua produção, diminuição considerável da comercialização de seus produtos em feiras livres, instituições públicas como escolas e restaurantes populares (Rocha, 2020).

Não obstante esse cenário de avanço da ofensiva neoliberal sobre o campo, processos de resistência e de organização popular têm emergido no intuito de denunciar os efeitos danosos de tal ofensiva e de promover, por meio de alguns movimentos sociais, estratégias de enfrentamento com vistas à efetivação de modos de relação com a terra que convivam com a diversidade socioambiental, se organizem por meio de base familiar, promovam transição agroecológica, fomentem sistemas de alimentação sustentáveis (Altieri & Nicholls, 2020).

Com isso, esses movimentos podem contribuir na diminuição dos impactos que o modelo disseminado de agricultura industrial tem provocado nos ecossistemas, gerando importantes desequilíbrios ambientais e, com eles, o avanço de agentes patógenos. Como lembram Miguem A. Altieri e Clara Inés Nicholls (2020, p. 2) a respeito desse modelo de agricultura de larga escala: "Debido a su homogeneidad genética y por tanto baja diversidad ecológica, son muy vulnerables a las infestaciones de malezas, invasiones de insectos, epidemias de enfermedades y, recientemente, al cambio climático".

Dentre esses movimentos sociais, destaca-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que, desde o processo de abertura democrática do país, tem buscado inserir na agenda do Estado, o tema da reforma agrária e a necessidade de sua realização.

 

O MST e seu processo de luta

Ao longo de seu processo de consolidação enquanto importante ator político, o MST foi reunindo aspectos que o situam como um destacado movimento social, tais como a produção de uma identidade coletiva, um posicionamento que situa aliados, adversários, base e lideranças, estratégias de comunicação com seus integrantes e estabelecimento de um projeto de sociedade a partir de suas demandas (Gohn, 2014).

O MST construiu modos bastante variados de mobilização política, que vão desde a ocupação de terras improdutivas para constituição de assentamentos rurais, negociações com parlamentares e outras autoridades públicas, realização de marchas, atos políticos, com vistas a avançar em sua luta por um projeto de reforma agrária de base popular (MST, 2014). Investiu num arrojado processo de formação política de sua militância, garantindo a produção de uma unidade de luta entre seus integrantes e a solidariedade de aliados de demais setores da sociedade (Leite & Dimenstein (2010).

O MST ainda se destaca por sua atuação relativa às formas de comunicação com sua militância, base social e a sociedade, bem como tem diversificado tais formas por meio do uso de novas tecnologias de informação e comunicação, ocupando e criando conteúdo para mídias sociais, como seu site, redes sociais como Instagram, Facebook, Twitter e Youtube. A finalidade, por meio dessa política de comunicação é, segundo Alexandre Barbosa (2017, p. 140), "incentivar os militantes e os demais trabalhadores rurais a prosseguir na luta por reforma agrária e pela construção de uma nova sociedade e que agora precisa continuar nesse processo de elevação da capacidade crítica".

A incorporação dessas estratégias indica, como assinalam Lopes e Veloso (2017), o grau de capacidade que esses atores têm em acompanhar as dinâmicas sociais, especialmente em suas mudanças tecnológicas e seus impactos nas sociabilidades. No Brasil, a partir de protestos ocorridos, principalmente em junho de 2013, deflagrados por movimentos e coletivos inicialmente contra o aumento das passagens de transporte público em algumas capitais brasileiras, organizados e convocados substancialmente por meio de redes sociais, o uso dessas ferramentas ganhou interesse por parte tanto de intelectuais quanto dos próprios movimentos sociais que viram nelas potentes aliados em suas agendas de luta, além de promoverem o fortalecimento do ciberativismo no país (Nunes, 2019).

No atual contexto em que o isolamento social é direcionado como uma das mais efetivas estratégias para se evitar a disseminação do novo coronavírus, a utilização dessas tecnologias tem alcançado dominância no conjunto de nossas práticas de interação social. Assim, é a partir desses termos que direcionamos algumas questões para o presente trabalho: é possível vislumbrar processos de resistência política no campo em tempos de pandemia? Como promover ações de mobilização política de trabalhadoras/es rurais justamente num momento em que se advoga pelo distanciamento social?

Desse modo, tomamos por objetivo investigar as ações de mobilização política do MST no cenário da pandemia, a partir de seus meios de comunicação virtual, buscando destacar a finalidade e os atores a quem essas ações estão voltadas.

 

Procedimentos metodológicos

O campo exploratório de produção de dados para a presente pesquisa tratou das principais mídias sociais utilizadas pelo MST: Youtube (https://www.youtube.com/user/videosmst), Instagram (https://www.instagram.com/movimentosemterra/), Twitter (https://twitter.com/MST_Oficial) e o site do MST (www.mst.org.br).

Definimos como linha temporal para a seleção dos dados a data de 13 de março de 2020 (posterior ao anúncio da pandemia da Covid-19 pela OMS) e finalizamos em 14 de maio por entendermos já dispor de uma quantidade razoável de material. Como critério de inclusão do conteúdo observado nas mídias sociais, seguimos duas linhas: fazer alusão à pandemia e referenciar estratégias de mobilização política/social em face dela.

Os conteúdos selecionados foram inseridos em um quadro, com o registro das seguintes informações: mídia social, descrição, finalidade, abrangência, público destinado e atores envolvidos na ação. Como as mídias têm características específicas em relação aos conteúdos veiculados (vídeos, fotografias e texto escrito), procedemos a inserção dos conteúdos no quadro considerando tais especificidades, gerando um resumo escrito da ação que pudesse subsidiar a nossa análise.

O processo de organização do material para análise deu-se a partir da Análise de Conteúdo Temática (Minayo, 2010), tendo sido possível elencar quatro principais categorias temáticas relativas às ações de mobilização do MST no contexto da pandemia: (a) ações de promoção e prevenção em saúde, (b) ações de solidariedade, (c) ações artísticas e culturais e (d) ações de enfrentamento e articulação política, apresentadas e discutidas a seguir.

 

Resultados e discussões

A apresentação e discussão dos resultados estão organizados em dois momentos: primeiramente uma breve explanação sobre as mídias sociais utilizadas pelo MST e posteriormente a apresentação das categorias alusivas às ações de mobilização empregadas pelo movimento.

O MST e as mídias sociais

A construção da comunicação virtual do MST tem como fim promover disputa frente à mídia hegemônica brasileira, buscando produzir suas próprias narrativas direcionadas tanto aos próprios integrantes do movimento quanto à população em geral, e criar pontes junto a outros grupos de mídias existentes. Desta forma, as mídias sociais aqui tratadas configuram um modo distinto de comunicação, mudando o panorama televisual já instituído que apresenta, em seus conteúdos enviesados, ideias parciais sobre a luta e as atividades do movimento, reforçando o estereótipo de criminalização de suas lutas. Frente a isso, o MST defende não só o direito de falar por si, mas a participação popular na construção e socialização de meios de comunicação, conforme expresso em seu site:

O povo tem o direito de organizar seus próprios meios de comunicação social, de forma associativa. E o Estado deve garantir os recursos para que exerça esse direito. É preciso democratizar os meios de comunicação, começando por acabar com o monopólio privado dos meios. (...) A comunicação não é mercadoria. Ela é um serviço público em benefício do povo, como determina a Constituição brasileira (MST, 2020, s. p.)

Adentrando as mídias aqui analisadas, apresentamos brevemente questões ligadas à natureza da informação em cada uma delas. O Twitter possui um perfil de comunicação breve e rápida, seus usuários conseguem ter acesso e comentar diversos acontecimentos quase que instantaneamente, criando debates individuais e coletivos através da interatividade.

O Youtube, em contraponto, é uma mídia de indexação de vídeos que possibilita deixar registrado programas completos, transmitir vídeos ao vivo e promover contato direto com seus/suas usuários/as. O canal do MST, ativo desde 2010, demonstra o objetivo de informar à sociedade das ações do movimento, seus princípios ideológicos e, sobretudo, o cotidiano de seus/suas militantes nos diversos contextos da luta por Reforma Agrária.

O site se organiza como um conjunto de páginas web que estruturam e compõe informações sobre o movimento. Traz conteúdos que dizem tanto de diretrizes gerais relativamente constantes à organização - tal qual seu funcionamento, bandeiras e origem-, quanto ligados à atuação presente, por meio de notícias, escritos informativos e divulgações publicadas diariamente.

O Instagram é um tipo de software que permite o compartilhamento instantâneo de imagens. Com esse mecanismo o MST divulga principalmente fotografias e pequenos vídeos, por vezes acompanhados de textos explicativos, de denúncia e/ou convocatórios, como meios de propagação de suas ações e ideias.

Constatou-se que as atividades nessas plataformas se tornaram ainda mais pungentes no intervalo investigado, em tempos de crise sanitária e política. Houve um aumento no número de postagens no Youtube - de oito vídeos publicados em fevereiro deste ano para trinta no mês de abril -, Instagram e no Site - 94 notícias em maio, frente às 63 postadas durante fevereiro. Na Tabela 1 ilustramos os conteúdos publicados que abarcam aos critérios de inclusão e intervalo de tempo estabelecidos, agrupando-os de acordo com a mídia investigada e as categorias temáticas propostas.

Ações de mobilização no cenário da pandemia

Ações de prevenção e promoção em saúde

Trazemos nesse ponto um conceito de saúde ampliado, integrativo e que dialoga com os contextos socioculturais, passando a ser vinculado, desde a VII Conferência Nacional de Saúde, ao direito de cidadania como resultante da somatória de determinantes sociais como educação, renda, alimentação, liberdade, entre outros (Germani, 2020). A partir dessa perspectiva, são reconhecidas algumas ações protagonizadas pelo MST que, dentre suas instâncias representativas e coordenações, está o setor de saúde com o objetivo de enfrentar o modelo biomédico e o agronegócio, além de buscar experiências em saúde como resultado da melhoria das condições de vida, do acesso à terra e enfatizando a importância do saneamento, da moradia, do incentivo à a produção agrícola, do direito à alimentação saudável e do acesso aos serviços de saúde (Rückert & Aranha, 2018).

Dessa maneira, nomeamos a categoria de Promoção e Prevenção à Saúde baseada nas oitenta e uma postagens nas mídias sociais produzidos com o cunho de informar, especialmente a população acampada e assentada sobre o coronavírus: orientações sobre prevenção; alimentação saudável e o papel da agricultura no combate ao vírus; cuidados com o isolamento; gravidade da doença nos diversos contextos e sobre as medidas que o MST está empregando através de seus/suas militantes para a produção e distribuição de alimentos e equipamentos de proteção individual (EPI).

Algumas dessas recomendações se encontram, por exemplo, no canal do Youtube do MST, em um vídeo intitulado "Médico do MST formado em Cuba dá dicas sobre como enfrentarmos o Covid-19" (Movimento Sem Terra, 2020). Nele, o médico Josiano Macedo convoca a militância e moradores das áreas de reforma agrária a se mobilizarem no enfrentamento da pandemia, contextualiza o grave cenário político do país, a necessidade de articulação da militância e a importância de seguir recomendações das autoridades sanitárias, bem como o uso de recursos medicinais alternativos para o combate dos efeitos dos sintomas causados pela Covid-19.

O conteúdo dessas postagens são referenciados pelas recomendações da OMS, com um cunho político definido em defesa da vida da classe trabalhadora (campo e cidade) através da ancoragem na agroecologia, nos saberes populares e tradicionais (fitoterápicos), da produção de alimentos saudáveis (isolamento produtivo) para fortalecimento da imunidade e da defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).

Trata-se, portanto, de uma postura de confronto ao posicionamento do presidente Bolsonaro que desdenhou de dados concretos sobre a gravidade do novo Coronavírus ao se referir a este como "gripezinha" e "resfriadinho" e ao insistir em seus discursos que a economia não pode parar, mesmo que uma parte da população acabe morrendo. Além disso, ironiza as ações e estratégias adotadas pelos estados e municípios que orientam cidadãos e cidadãs a permanecerem em suas casas, sempre que possível (Silva et al., 2020).

Diante dessas ações de negligência e de descaso com a saúde e vida da população, o MST se contrapõe ao cenário descrito e assume a luta pela saúde através da produção agroecológica, da luta pela democratização da terra, da garantia de alimentação saudável para a população e da manutenção do SUS (Germani, 2020).

Desta forma, são levantadas em escritos informativos e nas publicações do movimento a importância da agroecologia e da ruptura à lógica industrial na produção de alimentos saudáveis que, por um lado influem na capacidade de resistência do organismo a adoecimentos, e por outro, diante de princípios que dizem do cuidado com o solo e modo de plantio, dificultam o surgimento de vírus e bactérias que podem ocasionar pandemias como a atualmente vivenciada (Altieri & Nicholls, 2020).

As postagens relacionadas à saúde ganham conotações que vão desde a prevenção até o combate direto ao Coronavírus, através de ações efetivas que orientam a população sobre serviços de saúde disponíveis para o tratamento da Covid-19. Relacionados à prevenção, são apresentados vídeos, fotos e conteúdos textuais com orientações sobre priorizar a alimentação saudável e divulgar o papel da agricultura camponesa no combate à pandemia; alertas sobre os dados numéricos de pessoas afetadas como forma de estímulo ao isolamento; informações sobre a importância do cuidado individual para o fortalecimento do cuidado coletivo; e orientações sobre criação e utilização de recursos caseiros, como sabão e máscaras artesanais direcionados ao autocuidado e à realização de doações a comunidades e dispositivos de saúde.

Além das estratégias de prevenção, algumas ações de combate também aparecem nas postagens, como por exemplo o encaminhamento de pessoas doentes para hospitais, distribuição e produção de alimentos saudáveis e EPI´s para outros assentamentos ou para parte da população em vulnerabilidade social; além das orientações dadas pelos médicos/as do próprio MST que não só realizam os atendimentos, como também denunciam os cortes das verbas da saúde e a preocupação com o colapso do sistema, e ainda convocam a militância a cuidar da saúde, a defender o SUS e a lutar contra o governo Bolsonaro.

Ações de solidariedade

Com os efeitos provocados pela pandemia, sobretudo junto às populações mais vulnerabilizadas, como já discutido neste trabalho, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, coletivos diversos têm buscado formas variadas de suporte a tais populações, especialmente por meios de ações solidárias em todo o planeta (Banerjee, 2020).

Não tem passado diferente com o MST que vem adotando como um de seus principais expoentes as ações de solidariedade, destacadas em quase todos os estados brasileiros e países como Haiti e Zâmbia, alvo de ações de brigadas internacionais do movimento. Nesse sentido, seus integrantes, por meio de reportagens, notícias e divulgações publicadas em suas redes, pregam ações tanto na via de combate à fome ocasionada pela dificuldade de produção de sustento nas periferias da cidade e do campo, em função da pandemia, quanto como forma de fortalecer a bandeira da agroecologia, da agricultura familiar e da Reforma Agrária Popular (RAP).

A solidariedade consiste em frente continuada de mobilização e combate não só à pandemia do vírus, mas também à "pandemia da fome" que vem atada a esse contexto (Sudré, 2020). Para que isso seja possível, o MST encontra-se em "isolamento produtivo", uma diretriz que surge da necessidade de isolamento social em função da forma de propagação da Covid-19, e diz justamente da dinâmica de se proteger frente à doença ao mesmo tempo que se produz e cultiva no campo (Coletivo de Comunicação MST Bahia, 2020).

À vista disso, foram observadas no presente levantamento dois eixos mais recorrentes nas ações de solidariedade: o da produção e distribuição de alimentos, que encontra maior destaque e diversidade, e o fornecimento de insumos visando a promoção de saúde frente à crise pandêmica que se acentua no Brasil, especificamente no combate ao contágio da população pela Covid-19.

O primeiro eixo, relacionado à segurança alimentar, soma centenas de toneladas de grãos, legumes, frutas e lacticínios entregues por meio de cestas oferecidas diretamente à famílias em contexto de vulnerabilidade, fornecimento de insumos a instituições públicas, além da provisão de alimentos que constituem marmitas e cestas básicas montadas por e na relação junto a outras organizações populares, com destaque ao arroz orgânico presente de forma ampla na colheita dos assentamentos nos últimos anos.

Nas atividades relacionadas à saúde, houve mobilização para produção e doação de materiais úteis ao controle da disseminação da Covid-19, como álcool 70º, sabão líquido e máscaras, disponibilização de espaços físicos, até então utilizados em atividades variadas do movimento, para a organização de locais de promoção de saúde pública via SUS. E, ainda, participação em campanhas de doação de sangue e arrecadação de agasalhos. Percebe-se, desse modo, um entrelaçamento entre as formas de mobilização do MST em que ações de saúde e de solidariedade convergem entre si.

As ações são direcionadas a famílias em vulnerabilidade social nas cidades e no campo: favelas, ocupações urbanas, assentamentos de reforma agrária (do próprio movimento), população em situação de rua, comunidades indígenas e quilombolas; instituições de saúde pública, principalmente hospitais de alta complexidade, na rede municipal, estadual e federal; instituições da rede de assistência social, como Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Casa Lares; escolas da rede pública; asilos; e Organizações Não Governamentais (ONGs).

O MST identifica a agricultura que produz nos assentamentos - amparada em princípios agroecológicos e da agricultura familiar - como instância de contestação e resistência frente a um modo predatório de cultivo à terra. Os argumentos entrelaçam reivindicações do movimento à doação de alimentos e advogam a incapacidade de alimentação da população por parte do agronegócio, tanto nos aspectos ligados à saúde quanto em questões ligadas ao acesso da maior parte da população brasileira à comida, já que a maioria dos produtos desse meio é direcionada ao mercado externo.

Todo o trabalho empregado encontra sentido nas falas registradas nas matérias ou publicações analisadas, que vem não só de membros das direções estaduais e nacionais, mas também das bases dos assentamentos, acampamentos e ocupações de reforma agrária. Nelas reverbera a importância das ações solidárias como uma forma de demonstrar as lacunas nas políticas públicas e direitos sociais no que diz da garantia da segurança alimentar, cuja resolução poderia provir de projetos governamentais junto aos povos do campo. Fala-se de segurança alimentar como direito em si mesmo, já que, como trazido pela Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (ABRANDH, 2010), seu descumprimento ou manutenção diz do próprio direito à vida, condição primeira para qualquer estabelecimento de cidadania.

Dessa forma, a reforma agrária é tida como meio de produzir alimento para a população do campo e da cidade, em contraponto à lógica do latifúndio. Como é possível perceber na fala de Neidinha Lopes, da direção estadual do MST do Ceará, em matéria presente no site do movimento:

Estaremos doando os frutos da nossa terra conquistada. Nosso compromisso é produzir alimentos saudáveis e fazer chegar nas mãos de quem mais precisa. É momento de solidariedade, de transformar o luto em força para combater os nossos inimigos nesse momento. (Oliveira, 2020, s. p.)

Existe, portanto, uma ação interna de reorganização e resistência frente ao sofrimento provocado pela pandemia para "transformar o luto em força", salientando, em certa medida, a experiência de se colher e semear frente ao cenário desolador a nível de crise sanitária, econômica e política em território brasileiro.

Emerge também uma percepção de orgulho diante da possibilidade de produzir e dividir alimento nesse momento de necessidade:

O assentado Vilmar Moreira se emociona ao relatar: "É com grande satisfação que trago esses alimentos da roça. Já passei muita fome na minha vida e sei o que é não ter o que colocar na panela, e hoje me vejo na condição de ajudar as pessoas." (Setor de comunicação e cultura do MST, 2020, s. p.)

À vista disto fica evidente que por meio da luta pela terra é possível produzir sustento não só para si, mas também ao outro que se encontra em vulnerabilidade, direta- tal qual as ações aqui descritas- ou indiretamente- por meio da luta por um projeto de transformação da sociedade. Embora realizadas desde o início do MST como via permanente de atuação, as ações de solidariedade ganham força nesse momento em que se acentuam as desigualdades no acesso a meios básicos de sobrevivência. Por intermédio delas foi e é possível fazer circular o apoio já recebido de outros setores da sociedade, bem como produzir novas relações frente a estes que combatem a imagética midiaticamente construída do movimento.

Ações artísticas e culturais

Discorrer sobre cultura dentro de um coletivo pode ser algo complexo, que não convém reduzi-lo, enquadrá-lo ou fixá-lo. Compõe nesse significado suas ideologias, histórias, conquistas, resistências e transformações. Por vezes, atravessado inevitavelmente, por discussões e posicionamentos políticos carregados de conflitos de interesses que evidenciam o bem público e coletivo, como o direito à moradia e alimento saudável para o povo, em detrimento a supervalorização da ascensão individualista sustentada pelo status quo do capitalismo, assim como descrito por Barbosa (2017), quando referencia a mudança do latifúndio improdutivo para o agronegócio na produção das commodities, a fim de afirmar a utilização da terra para o bem econômico do país, porém com benefício econômico restrito a uma pequena parcela da sociedade.

O MST decide, como forma de registro de suas ações em mídias sociais, expressar tais vivências culturais através de ações artísticas como divulgação de poesias, desenhos, músicas, participação em programas de rádio, canais de internet, podcasts e outros. E estas vivências/expressões estão em constante afirmação da importância de "uma dimensão humana que desperta o olhar sensível sobre a realidade e proporciona o desenvolvimento da dimensão criativa tão necessária em tempos que precisamos refletir e recriar o mundo em que vivemos", assim narra Guê de Oliveira, membro do coletivo de cultura do movimento (Setor de Comunicação - MG, 2020).

As expressões artísticas atravessam esse contexto como espaço de transformação e resistência frente às adversidades que o movimento encontra, principalmente neste contexto de pandemia, no qual, convida os participantes do movimento e outras pessoas que pactuam com o seu ideário na reinvenção das práticas para ajudar a sustentar sua unidade sem se fechar à novas ressignificações. Para melhor desenvolver este contexto artístico e cultural, o MST promove coletivos de cultura, com parcerias de outros atores, a fim de viabilizar a distribuição destas produções que se mostram peculiares de cada região do país, formando uma grande teia da arte e cultura. Por exemplo, o primeiro rap criado pelo movimento, chamado de "Pedagogia da pandemia", com parcerias de artistas independentes de diversos lugares do país, no qual possibilitou a união do campo e da periferia, e nesse discurso se pautaram em politizar a relação entre a pandemia e a luta de classes, criticando os agravos ocasionados pelo sistema capitalista aos modos de vida da classe trabalhadora, as relações monetizadas da saúde, do trabalho e da sobrevivência (Movimento Sem Terra- MST., 2020).

As ações artísticas e culturais demonstram, em suas produções, divulgações e homenagens, uma identidade forte no resgate e valorização de manifestações tipicamente brasileiras, demonstram apoio e sinalizam a importância da preservação de manifestações culturais de povos tradicionais. Por exemplo, vídeos aulas da Escola de Arte Virtual João das Neves e o Programa Cantoria na Varanda, ambos com edições semanais, têm a finalidade de "disseminar os saberes e contribuir para que todo e toda Sem Terra continue fazendo arte", segundo a descrição em sua mídia do Youtube (https://www.pucsp.br/sites/default/files/Guia%20para%20elabora%C3%A7%C3%A3o%20de%20refer%C3%AAncias%20de%20acordo%20com%20o%20estilo%20APA%20-%20%20dez%202018.pdf).

Desse modo, a forma utilizada pelo MST de acionar linguagens artísticas e culturais informa sua concepção de que as mesmas não estão desvinculadas da realidade social mais ampla, constituindo também num campo de disputa para afirmação dos princípios do movimento. Num estudo recente sobre a produção musical no MST, Bogo (2020) assinala como o movimento foi fazendo da música uma ferramenta não só de entretenimento e de mobilização de sua militância, mas também de uma forma de comunicar para a sociedade o seu projeto político.

É importante ressaltar que estas produções não estão marcadas como algo fixo e imutável, mas como um registro vívido, que não se deixa perder no tempo, que registra seu significado e no MST se faz como um dos princípios que norteiam suas práticas ao mesmo tempo em que incluem, como parte de suas lutas, a afirmação do feminismo, apoio ao movimento LGBTQIA+, e sua consequente possibilidade de coexistências com novos atravessamentos que as relações interpessoais diárias podem proporcionar (Autor, ano de publicação).

Há um valor subjetivo imbricado, para intermediação de conflitos no MST, que usa de suas exposições artísticas/culturais e suas práticas quotidianas na afirmação da pluralidade de modos de ver/viver a vida como máquinas de guerra, conceito emergido por Gilles Deleuze e Félix Guattari (2004), ou seja, subvertem tanto regras hegemônicas do Estado quanto às investidas de grandes latifundiários ao contrariar a lógica imposta por eles ao ditar formas de se viver e consumir.

Ações de enfrentamento e articulação política

A categoria de enfrentamento e articulação política foi pensada por conta do grande número de publicações que diziam respeito ao posicionamento do MST em relação à crise sanitária, social, política e humanitária vivida no país. O movimento assume refletir sobre o momento político brasileiro a partir dos seus acúmulos praxiológicos, promovendo um amplo debate sobre união da classe trabalhadora através de denúncias e propostas para um novo modelo de sociedade urgente para o enfrentamento da pandemia e o momento posterior de reconstituição do país. Sendo assim, diluiu tais conteúdos nas mídias sociais analisadas aproveitando cada recurso, amplitude e as diversas possibilidades de interação com a sociedade brasileira.

Portanto, os setores, as frentes de ação e toda a organicidade já construídas se aliam a alternativas massivas de comunicação como estratégias de enfrentamento do MST à pandemia. Estão entrelaçadas no todo de sua organicidade, na diversidade de culturas e saberes dos povos tradicionais do campo e da cidade que compõem suas bases. Sendo possível afirmar que tais estratégias e motivos de luta não são novos na historiografia do MST, são ramificações de seu projeto político de Reforma Agrária Popular (RAP) e de um modelo de sociedade em disputa. Contudo, elas se intensificaram e potencializaram também as necessidades de soluções emergenciais nesse contexto de pandemia.

O enfrentamento e as articulações políticas são percebidos de maneira transversal em todas as ações do MST, orientando inclusive as categorias anteriormente tratadas nesse estudo. Percebemos que há postagens relacionadas a ações diretas de contestação e/ou articulação com diversos setores da sociedade brasileira. Em todas as redes sociais consultadas, o MST seguiu traçando uma linha de atuação incorporando às suas atuações cotidianas (campanhas, congressos, cursos formativos, produção de alimentos, atrelado às recomendações de isolamento social) e o uso das plataformas digitais. Então foram inúmeros tuitaços, convocações para panelaços, artigos publicados no site e programas semanais ao vivo no youtube, com transmissão simultânea em formatos de lives, como Café com o MST, Análise de Conjuntura, Cantoria na Varanda, Escola Virtual João das Neves.

O movimento foi se posicionando de modo efetivo nas mídias sociais à medida que boa parte das ações adotadas ou planejadas pelo governo federal em face da pandemia eram divulgadas e denotavam caráter claro de ataque a direitos trabalhistas, como no panelaço convocado pelo MST e intitulado "Panelaço em defesa do emprego e do salário" em seu twitter, contra a Medida Provisória que previa corte e diminuição de salários durante quatro meses (MST Oficial, 2020).

Algumas ações foram resgatadas do Programa Agrário do MST, lançado em 2014 e outras programadas e realizadas em face das urgências e demandas que o cenário da pandemia e as articulações políticas diante dela se davam. Foi o caso do lançamento do Plano Emergencial da Reforma Agrária Popular de 2020, em que se recuperou: (a) a necessidade de democratização do acesso à terra; (b) produção de alimentos pautada na soberania alimentar e sustentabilidade ambiental; (c) proteção da natureza, água e diversidade; e (d) defesa de condições de vida digna no campo para todo o povo.

O lançamento do referido plano ocupou todas as mídias sociais do movimento em uma programação que compunha debates, entrevistas, participação de movimentos sociais e coletivos apoiadores do movimento.

Assim, estamos de acordo com Sajak (2020) ao assinalar alguns desafios postos, a partir da pandemia, para os movimentos sociais em termos de produção de novas estratégias de mobilização e de articulação de seus integrantes. O MST consegue, desse modo, se apropriar do cenário político e social e dele atualizar suas pautas de luta e seu projeto societário, mobilizar sua militância, sobretudo num contexto em que a produção de alimentos saudáveis é vista como urgente e a crítica severa feita em torno da agricultura industrial, tida como uma das promotoras de desequilíbrio ambiental e causadora de proliferação de agentes patógenos como temos vivido agora, nunca esteve tão atualizada (Altieri & Nicholls, 2020). Um trecho retirado de um artigo publicado no site do MST em abril, chamado "Nossa luta e a crise: cuidar de nós, da vida das pessoas e da natureza!" nos dá uma noção desse posicionamento:

Lições que podemos extrair da pandemia que já atinge mais de 160 países:

1.A saúde do ser humano depende do equilíbrio sustentável e saudável entre as pessoas e sociedades na relação com a natureza, o meio ambiente e as relações entre as nações;

2.A saúde é, antes de mais nada, um bem comum e público;

3.Uma boa alimentação é condição elementar para fortalecer a imunidade das pessoas e garantir boas condições de saúde;

4.A produção e o consumo de alimentos saudáveis livres de produtos químicos são parte da cura das enfermidades e doenças;

5.A pandemia contribuirá para agravar a crise social, aumentando a fome, as desigualdades e a miséria no mundo;

6.Estamos vivendo uma crise estrutural e profunda do sistema capitalista que revela a sua insustentabilidade e incapacidade de proteger a saúde e a vida das pessoas. (Araújo, 2020)

Vemos tomar corpo a materialização desse discurso, envolvendo uma proposta de enfrentamento à pandemia com um apelo para a unidade da classe trabalhadora na defesa de suas vidas, incorporando elementos simbólicos e identitários das lutas populares, contestação ao cenário de crise política atual, construção de saídas equânimes ancoradas na agroecologia, na perspectiva da solidariedade, princípios e valores do socialismo, elementos esses marcantes na estruturação do MST (Silva, 2004).

Na atualização de suas formas de mobilização política no contexto da pandemia, o MST recompõe alguns desses elementos compartilhando-os em suas mídias digitais a fim de estabelecer um diálogo com a sociedade e de avivar sua militância. Dentre esses princípios, se destacam:

1. Unidade da classe trabalhadora: em se tratando do contexto atual, o MST aponta que a unidade de todo povo brasileiro e a solidariedade são chaves para suprir a liderança falha do governo federal. Como expoentes dessa relação e parceria, várias ações contam direta ou indiretamente com a participação de instituições de ensino, organizações e movimentos sociais populares de luta pela terra, pelas florestas e pelas águas de âmbitos nacional e internacional, partidos políticos e portais de notícias independentes, como: Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST); Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ); Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); Via Campesina; Central Única dos Trabalhadores (CUT); Frente Brasil Popular; Brasil de Fato; União Nacional dos Estudantes (UNE); e Comissão Pastoral da Terra. Acompanhamos aqui a sua configuração enquanto movimento social plenamente articulado a outros atores da cena política que, em rede, partilham um projeto de sociedade e de sujeitos opostos à lógica neoliberal.

Diante da diversidade nessas relações, percebe-se a ampla articulação do movimento durante a pandemia, em função do acirramento das desigualdades e contradições as quais a população é sujeita (Santos, 2020). O movimento traz à tona a memória das lutas camponesas que elucidam a constante resistência e busca de direitos sociais frente às violências sofridas por indígenas, quilombolas ou povos tradicionais e a população vulnerabilizada das cidades.

Vale destacar que algumas das organizações citadas acima endossam a Plataforma Emergencial do Campo, das Florestas e das Águas em Defesa da Vida e para o Enfrentamento da Fome diante da Pandemia do Coronavírus, e defendem um conjunto de propostas emergenciais para o contexto de pandemia. Assim, podemos visualizar que a Plataforma coaduna com as propostas e ações do MST, pois

parte de uma visão integrada do papel da agricultura familiar, da reforma agrária e dos povos e comunidades tradicionais para a garantia de segurança alimentar e nutricional para o conjunto do povo brasileiro, sobretudo, diante da crise econômica, do desemprego do desabastecimento que se agrava com os impactos da pandemia do coronavírus no Brasil. (Contag et. al., 2020, p. 02)

2. Postura combativa na defesa de um projeto político para a sociedade: o MST amplia seu discurso e ações em prol do conjunto de vozes representadas por suas publicações. Com esse intuito, descortina os efeitos danosos do governo de Jair Bolsonaro, assim como a proliferação do coronavírus, revelando um raio-x da necropolítica (Mbembe, 2018) como expressão da crise estrutural do capitalismo com contornos brasileiros: a herança colonial da propriedade da terra baseada na expropriação dos direitos da classe trabalhadora das urbanidades, do campo, das florestas e das águas.

Segundo Landini (2015), a partir de dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, as comunidades rurais dos países do Sul concentram o maior número de grupo sociais oprimidos e marginalizados do mundo atual, gerando um nível mundial de 27% da população em pobreza extrema. Na América Latina, a pobreza se expressa de forma mais intensa em determinados grupos étnicos e etários, especificamente entre os povos originários e tradicionais, como as crianças e jovens indígenas e afro-latinos.

De modo geral, o MST apregoa essas denúncias em "praça pública" e segue a ideia de que as ações do governo federal, em meio à pandemia, não apresentam nenhuma medida eficaz para proteger a população mais vulnerável e, no sentido contrário, realiza manobras políticas de alcance nacional para negar direitos humanos constitucionais à população brasileira, o que o levou a ser denunciado por crimes contra a humanidade ao Tribunal Penal Internacional pela Associação Brasileira de Jurista pela Democracia (Pereira, 2020).

No compasso com a exposição dos riscos à saúde da classe trabalhadora que trouxe a pandemia do coronavírus, o MST busca mobilização para construção de um novo projeto político de sociedade e faz isso também por meio de suas mídias sociais e evidencia a disputa política e ideológica para superação dos agravos históricos e pandêmicos sob a questão agrária. No seu já referido Programa Agrário, o MST afirma que "dessa forma que iremos construir nossa participação nas lutas de toda classe trabalhadora para construir um processo revolucionário, que organize a sociedade e um novo modo de produção, sob os ideais do socialismo" (MST, 2014, pp. 32-33).

Cabe ressaltar que os horizontes da sua luta, como definido por sua proposta de Reforma Agrária Popular, tem como fundamentos a luta pela terra e território; a conservação da natureza a partir dos princípios da agroecologia; cuidado e democratização das sementes crioulas, livres de agrotóxicos e transgênicos; a produção agrícola sob controle das trabalhadoras e trabalhadores rurais para garantia da soberania alimentar; defesa de direitos sociais básicos para população do campo, como moradia, educação, saúde; e mudanças no sistema político brasileiro compreendido como antidemocrático, burguês e aliado ao agronegócio (MST, 2014).

Acreditamos ser coerente afirmar que esses elementos estão presentes entre os conteúdos publicados em suas mídias e foi constante o debate sobre cada um deles. Assim, durante o recorte de tempo estabelecido por este artigo, o MST já estava veiculando o que em junho seria lançado como o Plano Emergencial da Reforma Agrária Popular, então entendemos que ao nos referir às ações supracitadas estamos nos aproximando desse documento que nasce como resposta ao momento de pandemia e o agravo das desigualdades sociais brasileiras, porém, bebe da fonte dos acúmulos da luta que empreende desde a fundação do Movimento em 1984.

Assim, ressaltamos a batalha das ideias, embasada nas contribuições marxistas é como a sua militância se refere a disputa ideológica em curso no Brasil, como assumição do papel de tensionar questões estruturais presentes na sociedade propondo um modelo de sociedade equânime para o enfrentamento da pandemia e para momento seguinte pós-pandemia reunindo um conjunto de símbolos comuns a luta da classe trabalhadora do campo, das florestas, das águas e da cidade.

Dessa forma, ressaltamos a potência de suas ações e o significado delas para a coletividade, bem como sua relação com a constituição da subjetividade de seus/suas militantes a partir dos princípios e valores organizativos do movimento e os ímpetos de transformação social frente ao conjunto de desigualdades e opressões presentes nas investidas para sair de um estado de morte para um de vida, persistindo na "vontade de ser feliz e de recomeçar ali onde qualquer esperança parece morta" (Sawaia, 2009, p. 365).

 

Considerações finais

As ações de mobilização política levadas a cabo pelo MST no cenário da pandemia têm assinalado que, mesmo diante das recomendações de distanciamento social, é possível manter-se numa frente de disputa política, posicionando-se diante das inúmeras narrativas em jogo sobre a pandemia e suas formas de enfrentamento, criando, assim, espaços de resistência.

As mídias sociais cumprem aqui um papel de destaque na medida em que se tornam forma privilegiada de diálogo com a base social do movimento e demais setores da sociedade. Nas categorias analisadas foi marcante a presença de alguns elementos que historicamente constituem o projeto político do movimento: a busca de unidade de classe, a defesa de uma reforma agrária popular, a produção de alimentos pautada na soberania alimentar e o combate ao modelo de agricultura industrializada.

Seus integrantes, por meio das diversas atividades realizadas e divulgadas nas mídias sociais, também situam-se de modo incisivo na crítica ao atual governo federal, denunciando para a sociedade os desmontes das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, para os direitos dos trabalhadores do campo e da cidade que vêm se efetuando e se agravando no cenário da pandemia.

Cumpre destacar que pesquisas futuras possam se deter ao alcance que as estratégias de mobilização política a partir das mídias sociais têm sobre o conjunto da base social e militância do movimento que vive principalmente em contextos rurais e estão em boa medida privados do acesso à internet. Também seria oportuno indagar que lugar a juventude do MST vem assumindo nesse processo fortemente atravessado pela presença de novas plataformas de comunicação.

Por fim, ensejamos que esse estudo possa contribuir na reflexão sobre o cenário atual que vem demandando dos movimentos sociais novas estratégias de mobilização política em face do isolamento social, sobretudo num momento de profunda crise política em que conquistas históricas de um marco civilizatório vêm sendo atacadas e desmontadas pelo atual governo.

 

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Recebido em: 07/10/2020
Aprovado em: 05/10/2021

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