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Revista Psicologia Política

versão On-line ISSN 2175-1390

Rev. psicol. polít. vol.22 no.55 São Paulo dez. 2022

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Identidade(s) em movimento: ações coletivas e multiplicidade nas trajetórias juvenis

 

Identity(s) in movement: collective actions and multiplicity in youth

 

Identidad(es) en movimiento: acciones colectivas y multiplicidad en trayectorias jóvenes

 

 

Tania Regina RaitzI; Franciele CortiII; Tarsilla Noemi Bertoli AlexandrinoIII

IDoutorado em Educação na UFRGS e Pós-Doutorado na Universidade de Barcelona-Espanha. E-mail: raitztania@gmail.com
IIDoutorado em Educação e Sociedade na Universidade de Barcelona-Espanha. E-mail: profe.franciele@gmail.com
IIIDoutorado em Educação em andamento na Universidade do Vale do Itajaí/SC. E-mail: tarsillabertoli@gmail.com

 

 


RESUMO

Este texto trata de um ensaio teórico que busca discutir questões relativas ao conceito de identidade ou identidade(s), na perspectiva de alguns autores da Sociologia e da Psicologia Social Crítica, direcionando às ações coletivas e trajetórias juvenis. As elaborações sobre identidade têm como contribuição principal essencial a obra de Alberto Melucci (2006), compondo um esquadrinhamento teórico referencial no estudo realizado. Ao refletirmos sobre a identidade em movimento e a multiplicidade nas trajetórias juvenis percebemos por meio da literatura especializada e analisada que não podemos negar os contextos múltiplos que lançam mão os jovens para tomar as suas decisões e estratégias escolares e laborais. As trajetórias juvenis se apresentam oscilantes, não-lineares, caracterizadas por rupturas, uma série de transformações e rearranjos vividos, assim como a própria constituição das identidades(s). Os jovens vivem situações de experimentação em suas trajetórias pessoais e profissionais num movimento que se apresenta circulante, fluído e incerto.

Palavras-chave: Identidade(s); Ações coletivas; Trajetórias juvenis.


ABSTRACT

This text is a theoretical essay that aims to discuss issues related to the concept of identity or identity( ies), from the perspective of some authors of Sociology and Critical Social Psychology, directing to collective actions and youth trajectories. The elaborations on identity have as their main essential contribution the work of Alberto Melucci (2006), composing a theoretical scrutiny of reference in the study carried out. When we reflect on identity in motion and the multiplicity of youth trajectories, we realize through the specialized and analyzed literature that we cannot deny the multiple contexts that young people use to make their school and work decisions and strategies. Youth trajectories are oscillating, non-linear, characterized by ruptures, a series of lived transformations and rearrangements, as well as the very constitution of identity(ies). Young people experience situations of experimentation in their personal and professional trajectories in a movement that is circulating, fluid and uncertain.

Keywords: Identity(ies); Collective actions; Youth trajectories.


RESUMEN

Este texto es un ensayo teórico que busca discutir cuestiones relacionadas con el concepto de identidad o identidad(es), desde la perspectiva de algunos autores de la Sociología y la Psicología Social Crítica, dirigiéndose a acciones colectivas y trayectorias juveniles. Las elaboraciones sobre identidad tienen como principal aporte esencial el trabajo de Alberto Melucci (2006), componiendo un escrutinio teórico de referencia en el estudio realizado. Cuando reflexionamos sobre la identidad en movimiento y la multiplicidad de trayectorias juveniles, percibimos a través de la literatura especializada y analizada que no podemos negar los múltiples contextos que utilizan los jóvenes para tomar sus decisiones y estrategias escolares y laborales. Las trayectorias juveniles son oscilantes, no lineales, caracterizadas por rupturas, una serie de transformaciones y reordenamientos vividos, así como la constitución misma de (s) identidad(es). Los jóvenes viven situaciones de experimentación en sus trayectorias personales y profesionales en un movimiento circulante, fluido e incierto.

Palabras clave: Identidad(es); Acciones colectivas; Trayectorias juveniles.


 

 

INTRODUÇÃO

Uma das primeiras considerações a serem feitas quando se refere aos jovens e seus processos identitários é que está se falando de fenômenos marcadamente plurais e diversificados. Para discorrer sobre ações coletivas e trajetórias juvenis direcionaremos algumas questões que envolvem o conceito de identidade ou identidade(s). Na nossa vida cotidiana, percebe-se que este termo deixa oculto uma multiplicidade de significados. Em muitas situações que se vive diariamente a experiência da falta como incompletude, talvez seja a que mais chama a atenção. Alberto Melucci (2006, p. 13) diz que "não podemos mais identificar nossas necessidades de modo unívoco porque estas pertencem a um campo simbólico atravessado de tensões".

As transformações mundiais que estamos presenciando nos últimos anos não deixam dúvidas que acabam por afetar nosso cotidiano, consequentemente, nossa identidade. A sociedade contemporânea, em constante mutação, faz com que as dimensões simbólicas se espalhem de forma veloz, revelando assim relações de poder para aqueles que mostram capacidade de recursos na obtenção e interpretação dessas informações. Estas alterações não são apenas observadas no âmbito macrossocial, mas também nas relações interpessoais, levando o ser humano a fazer parte destes recursos. A identidade, neste contexto, se apresenta central, no sentido de capacidade dos indivíduos ressignificarem-se.

Nesse ambiente, que não deixa de apresentar tensões e conflitos, muitas vezes, nos apresentamos de forma frágil, outras vezes de forma criativa, às vezes esse campo nos parece claro, seguro, outras vezes confuso, denso de riscos e limites. Melucci (2006) diz que é justamente frente à experiência da falta que nos constitui no mundo, como seres da incompletude, que surgem perguntas sobre nós, sobre quem somos, sobre quem é o outro, em síntese, sobre nossa identidade. Inegavelmente são perguntas abertas e complexas para se obter respostas tão rápidas, tão ligeiras, isto implica uma complexidade maior, especialmente no caso dos jovens, que vivem se defrontando com estas perguntas.

O estudo sobre a formação ou construção da identidade aparece na antiguidade do mundo filosófico, porém, estes processos vêm sendo transformados ao longo da história ocidental. Ariane Kuhnen (2002) aponta que foi somente quando um contexto sociocultural se mostrou favorável às questões identitárias que houve o desenvolvimento de tais estudos. Diante desta problemática, refletir sobre esta noção não é uma das tarefas mais fáceis, uma vez que existe toda uma tradição especialmente em áreas das ciências humanas, como a psicologia, a sociologia e a antropologia, que trazem abordagens variadas.

Todavia, parece consenso relacioná-la com a alteridade, bem como promover uma tentativa de ultrapassar os olhares que buscam apenas circunscrever e descrever a identidade individual e coletiva como um dado único e estático, isolado e recortado, como uma imagem congelada em uma fotografia. Neste sentido a ideia deixada pelo legado iluminista, de um indivíduo portador de uma essência pessoal, centrado, unificado, dotado de capacidades da razão, da consciência e da ação, cujo centro nascia com o indivíduo e com ele permanecia, não dá mais conta da complexidade do social, ao invés disso, aponta para outro polo, sujeitos experimentando nas relações sociais suas múltiplas identidades.

Na perspectiva da sociologia a discussão perpassa pela questão da constituição da identidade dos indivíduos por meio de um processo de identificação, surgindo a identidade social como norteadora de aspectos que levam estes indivíduos (ou não) se identificar. Portanto, os indivíduos necessitam de uma base para se constituir e tais elementos partem da identidade do(s) outro(s) na relação de quem eu sou a partir de quem é o outro e de como quero ser diante deste e dos demais.

Desta forma, partimos da ótica relacional de Claude Dubar (2001), do internacionalismo simbólico, que rompe com uma concepção estática e determinista das identidades sociais. Isso porque as transformações que afetam a sociedade contemporânea precisam ser consideradas a partir dos sujeitos que vivenciam e expressam essas mudanças. Para tanto, é necessário adentrarmos o campo de análise das interações cotidianas, uma vez que certas categorias produzidas pelas instituições não são suficientes ou não servem mais, portanto, categorias produzidas pelos indivíduos nas interações sociais.

Já no contexto de uma Psicologia Social Crítica, o debate adota relevância, conforme expõe Sheila Miranda (2014, p. 125), uma vez que a discussão conclama a "elaboração de construções que contribuam para uma leitura mais profícua da realidade social, levando-se em consideração o indiscutível compromisso político assumido pela intencionalidade teórico-epistemológica de uma psicologia social historicamente situada".

Neste sentido, este texto trata de um ensaio teórico que busca discutir questões relativas ao conceito de identidade ou identidade(s), na perspectiva de alguns autores da Sociologia e da Psicologia, direcionando às ações coletivas e trajetórias juvenis.

 

IDENTIDADE(S) EM MOVIMENTO

O conceito de identidade, sob este ponto de vista anunciado na introdução, não pode mais comportar nenhum sinal linear, mas sim de permanência e multiplicidade. Já Ernesto Laclau, em 1986, em seu trabalho "Os novos movimentos sociais e a pluralidade do social" - uma contribuição sobre os novos movimentos sociais na América Latina- apontava "a identidade dos agentes sociais" como articulação instável de constantes mudanças de posicionamentos, desmistificando identidade centralizada, fixada e homogênea nas sociedades avançadas.

O significado de algumas categorias teóricas deste autor ajuda na leitura de Melucci (2006), quando Laclau (1986, p. 41) elabora um novo paradigma a partir da crítica à teoria tradicional nas ciências sociais, rompendo com a unidade de três categorias: (a) identidade dos agentes, classificadas através de categorias a priori; (b) o tipo de conflito determinado segundo um "esquema diacrônico-evolucionário, movimento subjacente da história"; e (c) pluralidade de espaços de conflito social reduzidos a um "espaço político unificado".

Conforme esse autor, essas categorias tornam-se cada vez mais impossíveis nos resultados políticos complexos, até porque, atualmente o grupo concebido como referente não é permanente num sistema ordenado de posições de sujeitos, ou seja, estes não decorrem mais para efeito de análise apenas das relações de produção. Isto significa que estas posições se tornam cada vez mais indeterminadas, uma vez que não é possível deixar de ver a pluralidade e instabilidade no social.

A partir do conceito de "posições diferenciadas de sujeito", o autor destaca que as expressões políticas e sociais expressam a "identidade" dos indivíduos de forma entrecruzada com suas diferentes experiênciais. Ao romper com a categoria de sujeito como "unidade racional e transparente", argumenta que não existe o ser essência, e sim o discurso. A psicanálise demonstra que, longe da personalidade organizar-se em torno da "transparência de um ego", esta se estrutura em vários níveis fora da conscientização e da racionalidade dos sujeitos (Laclau, 1986, p. 48).

Neste sentido, o sujeito aparece como pluralidade, fundamentando a inversão clássica da noção de subjetividade nas ciências sociais, através do descentramento do sujeito. Assim, vemos cada posição de sujeito ocupando locais diferentes no interior de uma estrutura ou conjunto de posições diferenciais que se dá o nome de discurso. Ele aborda então o sujeito como plural na constituição de várias formações discursivas e, por outro lado, Cornelius Castoriadis (1982) evoca esta atividade do sujeito que trabalha sobre si mesmo e encontra a multidão dos conteúdos - o discurso do outro-, com o qual esta atividade nunca termina de ocorrer.

Desta forma, Laclau, Castoriadis e Melucci se contrapõem à ideia de um ser de determinância, contudo, os dois primeiros autores foram trazidos ao texto apenas para pontuar que, diferentemente do terceiro, concentram mais suas bases teóricas nos sujeitos do discurso e no jogo livre da estrutura como gerador de novas configurações discursivas. Em nossa vida diária, esbarramos com inúmeros acontecimentos, desde momentos de escolhas viáveis, como escolhas frustradas, acidentes, encontros, desencontros, enfim, uma infinidade de aspectos que fazem liberar as múltiplas identidades potenciais, já que somos seres instáveis ou mutáveis e não imutáveis. A transformação da identidade deve ser compreendida na complexidade dos diversos fenômenos que se configuram no sistema planetário, em contextos de mundialização e globalização.

A própria dinâmica das sociedades complexas exige no processo de identificação - de possibilidades e escolhas - uma constante redefinição e ressignificação do eu para a compreensão dos códigos que estão em jogo, de um "eu" relacional, móvel, plural, múltiplo. Desta forma, a noção de identidade, no contexto das sociedades complexas em permanente movimento de transformação, apresenta uma perspectiva de um sujeito com características cambiantes, que se encontra num campo de ação social e de relações, contrapondo-se a ideias determinísticas, de uma identidade homogênea que não dá mais conta da heterogeneidade, complexidade e pluralidade do social.

Desta maneira, o empenho de Melucci (2006) quanto a seu referencial analítico é primordial quando, neste trajeto, reconhece a identidade como um campo de ação, da constituição da identidade que se define a partir de um conjunto de relações, de um eu que é permanente e múltiplo, que está em constante negociação através das experiências diversas de vida.

As formas simplificadas que trazem apenas dados a serem descritos uniformemente numa espécie de "cédula de identidade" se tornam preconceituosas. Várias afirmações taxativas se tornam por demais generalizantes, por isso, há necessidade de transcender a visão substantiva e determinista retratada na ideia de identidade, como algo subscrito nas relações sociais. A identidade deixou de ser compreendida como um referencial seguro e estável, ela se constitui em um processo em permanente construção. As identidades seriam processos relacionais que se formam nas interações sociais, cujos limites de a discrição são estabelecidos com os outros e não apenas através de uma definição grupal compartilhada, pois seus espaços de reconhecimento são múltiplos, neste sentido, há uma diversificação na experiência da juventude.

De acordo com Ann Mische (1997), a noção de "identidade" apresenta uma série de dificuldades teóricas, uma vez que o problema principal é de como (re) conciliar as pressuposições estáticas, categóricas e substantivas da palavra com uma visão dinâmica, processual e interativa. Isto significa que só pode haver maior visibilidade a partir do reconhecimento pelos outros nos lugares mais específicos de interação:

que é provocada por pessoas que servem de pontes e assim contribuem para desvelar a multiplicidade de identidades para ainda serem observadas em uma variedade de contextos sociais. Porém as ações conjuntas ou as conexões não estão necessariamente ligadas em uma concordância de objetivos, estas são sempre ambíguas, experimentais e, às vezes, contraditórias, embora possibilitem alianças provisórias e conjunturais. (Mische, 1997, p. 145)

Manuel Castells (1999, p. 2) compreende identidade como um "processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda, um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o (s) que prevalece (m) sobre outras fontes de significado". O autor reafirma que pode haver identidades múltiplas, tanto individual como coletiva, sendo essa multiplicidade fios de tensão e contradição, refletindo, desta maneira, tanto na ação social como na autorrepresentação. Esta posição não deixa de anunciar o significado político da categoria, já que o autor propõe que a construção social da identidade seja observada em um contexto marcado por relações de poder.

Boaventura de Sousa Santos (1995, p. 135), em suas contribuições no que diz respeito ao conceito de identidade, também a menciona como uma categoria política. Para esse autor, a identidade seria uma "síntese de identificações em curso". Desenvolve este pensamento apoiado naquilo que descreve como "resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação ... identidades são, pois, identificações em curso". Esta definição incluí movimentos contraditórios, vistos numa perspectiva aberta e dinâmica e não de forma acabada, estática e definitiva.

Neste sentido, Sousa Santos recupera duas características em sua definição, "identidade semifictícia e semi-necessária". Ela se torna uma necessidade fictícia quando diante da ameaça do outro, que pode ser um grupo ou uma coletividade, se faz necessária como defesa, porém não deixa de ser fictícia, pois identidade como algo permanente e rígido não existe. Esse caráter, para o autor, é ilusório, explicita deste modo que a identidade envolve questões de poder, introduzindo identidade como categoria política.

Estas considerações feitas pelo autor, no que concerne às relações de poder incorporadas ao conceito, não serão desenvolvidas na análise empírica, mas suas reflexões são importantes para o entendimento de outros autores, como, por exemplo, Bader Sawaia (1999), que traz novas questões sobre identidade. Não deixa de concordar com Sousa Santos, no que diz respeito ao termo identidade como "processos de identificação em curso", porém, faz uma ressalva, na "identificação" não deve estar incluído somente o sentido de admiração e reconhecimento por aquilo que é igual, pois muitas vezes o desejo mesmo é ser diferente.

A autora, em sua construção sobre o conceito, revela a característica ambígua que a incorpora. Neste sentido, Sawaia acaba por elucidar a identidade como uma síntese inacabada de oposições, posição esta que permite garantir o que é individual e coletivo, o que é próprio e alheio, o que é igual e diferente, assemelhando a um fio que direciona ora para um ponto, ora para outro. Desta forma, afirma a relação paradoxal existente neste conceito, relativiza seu significado como algo que permanece ou como multiplicidade, conectando a uma visão semelhante à de Melucci.

Portanto, para a autora, estão contidos na identidade dois movimentos no processo de identificação, isto é, identidade significa permanência e multiplicidade. Estes dois significados devem ser incorporados para a compreensão do homem como ser capaz de atuar, de refletir e de se emocionar, transformando a si mesmo e o contexto no qual se insere. Kátia Maheirie (2002, p. 35), complementando o pensamento de Sawaia, resgata o sujeito "como produto das relações do corpo e da consciência com o mundo, consequência da relação dialética entre objetividade e subjetividade no contexto social". Baseada em Jean Paul Sartre, para ela, o sujeito se concretiza dialeticamente a partir das determinações do contexto passado e em função do ainda-não-realizado, o futuro. Nesta perspectiva, identidade, segundo a autora, tanto singular como coletiva, passa a ser compreendida em sua dimensão temporal relacionada ao passado, ao presente e ao futuro. Assim, o sujeito ou a identidade perpassam por uma construção permeada por oposições, conflitos e negociações, sendo permanentemente tecida por estes sujeitos, em um processo aberto, nunca acabado.

Maheirie concorda com os dois movimentos expostos por Sawaia como "permanência e metamorfose", apontando a "dimensão subjetiva do sujeito, que é capaz de construir, desconstruir e reconstruir a identidade constantemente, em que participam as percepções, emoções e as reflexões, quer críticas ou não em que o sujeito se autodefine" (Maheirie, 2002, p. 42). Neste sentido, ela alerta para a visão de um sujeito autor de sua própria história, mesmo que a construa de maneira pouco crítica.

A partir dos pressupostos que servem de base para o referencial teórico da Psicologia Social crítica, na relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, entendida historicamente, a identidade é considerada como um processo de constante metamorfose visualizando "o ser humano como um ser ativo e em constante processo de transformação" (Pacheco & Ciampa, 2006, p. 164). Desta forma, "indivíduo e sociedade se constituem reciprocamente, através de um processo dialético, um processo não linear em que os fenômenos são considerados e analisados em seus movimentos recíprocos e contínuos de interação", conforme apresentam Katia Pacheco e Antônio Ciampa.

Nesta perspectiva a identidade é compreendida como um processo de metamorfose "permanente, cuja dimensão temporal envolve diferentes momentos", sendo resultado da interação das diversas personagens vividas pelo indivíduo. Ciampa (1998) explica que essa metamorfose pode ocorrer como processo de superação e emancipatório, quando o sujeito ultrapassa "valores estigmatizantes e preconceituosos impostos pela sociedade e/ou apropriados pelo indivíduo, possibilitando assim um agir mais livre e criativo para realização de suas metas e desejos".

Assim buscam-se mais alguns elementos para aprofundar e complementar com mais intensidade o "conceito de identidade" a partir dos estudos de Melucci (2002), questões que mostram as tensões que, segundo o autor, são inerentes a sua definição. Quando se reporta à identidade, pode-se estar falando de um indivíduo ou de um grupo, que contém três características principais: a permanência no tempo, isto é, a continuidade do sujeito, que vai além das variações do tempo e sua adaptação no ambiente; a delimitação da unidade, que estabelece os limites de um sujeito, garantindo distingui-lo do outro e, por último, a relação dos dois elementos anteriores como semelhantes, ou seja, capacidade de reconhecimento - reconhecer-se e ser reconhecido - .

Nesta construção da identidade, Melucci se refere sempre a um processo relacional e social, que é mantido dialeticamente em suas dimensões biológicas e culturais, dando ao indivíduo uma capacidade plástica, ao longo de sua maturação, em modelar-se diante de novas circunstâncias e no desenvolvimento de novas funções. Este enfoque que elucida a dimensão relacional e social está associado sempre à alteridade, assim emerge a ideia de reciprocidade, indivíduo e sistema se constituem nesta relação, sendo que o sujeito só se torna consciente de si na relação de delimitação a respeito de um ambiente externo.

Nesta identificação, nos diferenciamos dos outros ao falar e agir, mas ao mesmo tempo ficamos nós mesmos, porém esta identificação só é possível ser for fundada no reconhecimento intersubjetivo, pois ninguém pode construir sua identidade independente das identificações que os outros lhe enviam. Cada um deve supor que a sua distinção dos outros seja cada vez reconhecida destes e que tenha reciprocidade no reconhecimento intersubjetivo. (Eu sou para ti o tu que és para mim (Melucci, 2002, p. 16).

Nesta perspectiva, como processo de aprendizagem, integra o passado, presente e futuro encontrando novas identidades num movimento de articulação da unidade e da continuidade de uma biografia individual. Melucci menciona também o paradoxo que contém a identidade no sentido de perceber-se semelhante ao outro - reconhecer-se e ser reconhecido - e ao mesmo tempo afirmar sua diferença. Isto equivale a dizer que a diferença, para ser firmada, também pressupõe uma certa semelhança e uma certa reciprocidade. Desta maneira, o autor sintetiza que a identidade tem uma conotação estática, naquilo que diz respeito à consistência, à manutenção dos limites, reconhecimento e reciprocidade, mas também uma conotação dinâmica quando diz respeito ao processo de individualização e de crescimento da autonomia.

Esta questão remete a identidade social fruto da articulação do processo relacional e biográfico em que Dubar (2005, p.156) explica muito bem. O processo biográfico constrói-se "no tempo, pelos indivíduos, de identidades sociais e profissionais a partir das categorias oferecidas pelas instituições sucessivas (família, escola, mercado de trabalho, empresa etc.)". Já o processo relacional diz respeito ao reconhecimento, em um período e espaço determinado em que as identidades estão relacionadas aos saberes, competências e imagens de si indicados e expressos pelos indivíduos nos sistemas de ação.

Essa concepção fica mais perceptível quando refletimos sobre as trajetórias juvenis numa perspectiva multidimensional, que examina o entrecruzamento dos percursos desenvolvidos pelos jovens (educacional, laboral, familiar) para produzir um entendimento mais integrado das dificuldades vividas por eles. Segundo Helana Abramo, Gustavi Venturini e Maria Corrochano (2021, p. 526) as investigações que trazem o debate em torno da construção das políticas públicas dirigidas ao público juvenil colaboram "para fortalecer a importância de considerar as situações de atividade (estudar, trabalhar ou procurar emprego, ou a busca de trabalho)," nomeando as inflexões nas trajetórias ao longo do período representado pela etapa juvenil. Esses estudos mostram uma dinâmica "intermitente e reversível" notada nas diferentes combinações de percursos em situações cambiantes das dimensões que compõem a vida dos jovens: a escola, o trabalho e a vida familiar, conforme os autores, afetadas pela conjuntura econômica e política em que se desenvolvem.

 

AÇÕES COLETIVAS E MULTIPLICIDADE NAS TRAJETÓRIAS JUVENIS

A identidade, de acordo com Melucci (2002, p. 17), deve ser vivenciada mais como ação do que propriamente como uma situação, estando baseada num sistema de relações e representações tecidas tanto como internalização da cultura quanto como uma ou mais ou menos autônoma autodefinição do sujeito, sendo sempre fluxo de reflexividade produzida nos processos interativos. Neste sentido, sugere uma mudança no conceito, "a mesma palavra identidade" é inadequada para expressar esta mudança, e será necessário falar de "identização" para exprimir o caráter processual, autorreflexivo e construído na definição de nós mesmos".

A identidade, sendo fluxo de interação, produz também tensão (competição e conflito) entre o autorreconhecimento e o hétero- reconhecimento, assim revela a importância do pertencimento grupal, bem como das relações solidárias, reforçando, deste modo, a garantia da identidade individual. Conforme o autor "não nos sentimos ligados aos outros apenas pelo fato de existirem interesses comuns, mas sim porque esta é a condição para reconhecer o sentido daquilo que fazemos, ...podemos nos firmar como sujeitos das nossas ações" (p. 20), isto significa, de certo modo, conseguir vivenciar ou superar os conflitos que se introduzem nas relações sociais.

É na polarização entre o autorreconhecimento, que culmina na continuidade e na permanência do nosso existir - a identificação perante o reconhecimento do outro - e, na diversidade - como nos distinguimos dos outros, afirmando nossa diferença, que está imersa a identidade. Numa sociedade que demanda um esforço incrível para entender a complexidade que se apresenta diariamente perante nossos olhos, nos encontramos envolvidos em uma pluralidade de pertencimentos que brota da multiplicação das posições sociais, das redes associativas, dos grupos de referências. Nossas entradas e saídas dos sistemas e relações ocorrem com muito mais frequência que no passado. Assim parece mesmo que vivemos e somos como diz Melucci (2002, p, 21) "animais migrante nos labirintos das metrópoles, viajantes do planeta, nômades do presente. Participamos da realidade e no imaginário de uma infinidade de mundos".

Neste caso, estabelecer fronteiras para nós mesmos, e no caso dos jovens, num mundo de incertezas, as escolhas são redefinidas constantemente, mas sem deixar de levar em consideração algo já construído anteriormente, mudando a forma, permanecendo o mesmo. Nesta perspectiva, a identidade juvenil passa a ser compreendida como um processo de contínua transformação, tanto individual como coletiva, que perpassa pela teia de suas múltiplas experiências e não mais determinada por sua idade biológica. Quando nos referimos aos jovens hoje, as análises não podem deixar de levar em consideração a heterogeneidade das sociedades complexas. Por isto mesmo, por estarem inseridos nestas sociedades, o conceito de "jovem" se apresenta com ambiguidade e imprecisão. Este autor diz que só as pesquisas mais pontuais podem trazer visibilidades e informações relativas à condição da juventude.

No âmbito da vida social, as experiências se apresentam na multiplicidade que caracteriza as formas de relacionamento, linguagens e regras específicas. Ao mesmo tempo que são postos limites, abrem-se possibilidades no que tange à ação individual, já que a experiência se mostra menos como um dado e mais como uma realidade construída através de significações e relações. É neste sentido que a adolescência aparece como uma "espécie de nômade no tempo, espaço e cultura" (Melucci, 1997, p. 9).

O conceito de identidade, nesta perspectiva, passa a ser significativo para entender como os adolescentes ou jovens constroem suas experiências pertencendo a uma pluralidade de redes e grupos. O autor argumenta que a entrada e a saída dessas diferentes formas de participação ocorrem de forma mais veloz e também acontecem de maneira mais frequente do que antes, sendo que o tempo investido em cada uma delas é reduzido. Esta passagem relata esta ideia:

Os meios de comunicação, o ambiente educacional ou de trabalho, relações interpessoais, lazer e tempo de consumo geram mensagens para os indivíduos que, por sua vez, são chamados a recebê-las e respondê-las com outras mensagens. O passo da mudança, a pluralidade das participações, a abundância de possibilidades e mensagens oferecidas aos adolescentes contribuem todos para debilitar os pontos de referência sobre os quais a identidade era tradicionalmente construída ... A unidade e a continuidade da experiência individual não podem ser encontradas em uma identificação fixa com um modelo, grupo ou cultura definidos. Deve ser, ao invés disto, baseada na capacidade interior de "mudar a forma" de redefinir-se a si mesmo repetidas vezes no presente, revertendo decisões e escolhas. Isto também significa acalentar o presente como experiência única, que não pode ser reproduzido, e no interior da qual cada um se realiza. (Melucci, 1997, pp. 10-11)

No entanto, a maneira como estas experiências serão vivenciadas vai depender de "fatores cognitivos, emocionais e motivacionais, isto é, como o indivíduo administra o seu estar na terra" (Melucci, 1997, p. 8). O trabalho do autor, portanto, é uma análise do "self", do eu, da própria pessoa, de si mesmo, da reflexão de si mesmo através de sua biografia. Deste modo, os estudos de Melucci aparecem como análise do "self" individual, sem deixar de apontar que a falta de recursos e desigualdades dentro e entre as sociedades põe limites mais restritos ou mais frouxos ao exercício da reflexidade e criatividade do indivíduo.

Muitas de suas ideias relativas à "ação individual" são, de certa maneira, propostas para tratar da ação coletiva. Em sua abordagem orientada para os movimentos sociais, tem como objetivo investigar como os atores constroem suas ações. Neste caso, parece que a biografia de cada um se torna cada vez mais imprevisível nos dias de hoje e os projetos de vida parecem depender da própria escolha dos indivíduos. Para o adolescente parece que isto se torna ainda mais agravante, na medida em que a relativa incerteza da idade se conjuga ou se multiplica por outros tipos de incertezas que derivam de uma ampliação ou não de perspectivas.

Norbert Elias (1994), na obra "Sociedade dos Indivíduos", faz uma reflexão sobre a individualização nas sociedades altamente industrializadas ou complexas, diz que escolher por si entre as diversas alternativas é exigência que logo se converte em hábito, necessidade e ideal. Por um lado, isto possibilita um aspecto positivo neste tipo de comportamento, uma vez que os sujeitos sentem orgulho em relação a sua independência, autonomia, liberdade e capacidade de agir e decidir por si próprios. Por outro, também ocorre um maior isolamento mútuo, uma gama de sentimentos associados a uma percepção, uma sensação também de solidão. Estes dois fatores conjugam-se com um padrão básico do processo de individualização nas sociedades complexas. De forma mais explícita, salienta como isto aparece de forma mais concreta:

O elevado nível de individualização abre caminho para formas específicas de realização, mas também de insatisfação, chances específicas de felicidade e contentamento e formas específicas de infelicidade e incômodo ... As oportunidades são muitas em relação à busca de anseios pessoais com base em suas próprias decisões, mas também envolvem riscos ... a exigência é de persistência e visão, mas requer também que o indivíduo deixe de lado chances momentâneas de felicidade que se apresentam em favor de metas a longo prazo que prometam uma satisfação mais duradoura, ou que ele as sobreponha aos impulsos a curto prazo. (Elias, 1994, p. 109)

Chama a atenção para que às vezes esse processo pode ser conciliado e outras não, pois uma maior liberdade de escolha e os riscos maiores andam de mãos dadas. Isto significa que a abundância de oportunidades e metas individuais diferenciadas na nossa sociedade se equipara às abundantes possibilidades de fracasso. Por certo, este caminho trilhado se torna extraordinariamente rico em ramificações, fazendo passar por bifurcações e encruzilhadas em suas decisões, de seguir este ou outro caminho. Muitas das vezes quando se olha para trás, vêm as dúvidas, mas geralmente as pessoas vivem num corre-corre, numa velocidade tão grande que a reflexão se torna ausente e se aceita facilmente o que ficou ou o que foi alcançado até então.

Conforme Melucci (1997, p 10), o adolescente percebe os efeitos dessa ampliação de possibilidades de forma mais direta através de uma expansão dos campos cognitivo e emocional, assim parece que o limite não é tão grande, tudo pode ser almejado, conhecido e tentado. A experiência acaba sendo invadida "pelo apelo simbólico, ela ameaça perder em um presente ilimitado ... que sem muitas raízes, resta pouca esperança para o futuro, produzindo frustação, tédio e vazio". Para lidar com tantas flutuações e metamorfoses, os adolescentes e os jovens podem sentir que a identidade deve ser enraizada no presente.

Diante de um futuro incerto, muitas vezes sem perspectiva, o presente invade as experiências dos indivíduos gerando ansiedade numa busca frenética por não deixar nada escapar, na realidade, uma aceleração dos tempos e uma fundamentação do presente. Neste sentido, o questionamento sobre limites torna-se um problema fundamental para os jovens de hoje.

Neste processo, a identidade coletiva, para Melucci (2001), em sua obra "Invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas", se complementa por meio de um sistema que ele chama "de ação multipolar". Este sistema é constitutivo de orientações diversas, envolve atores múltiplos, bem como implica um sistema de oportunidades e de vínculos que dá forma às suas relações, sem deixar de emergir como um processo que requer investimentos contínuos.

Neste sentido, define "a identidade coletiva" como interativa e compartilhada, ou seja, construída e negociada mediante as relações que ligam os atores, ao mesmo tempo em que proporciona o espaço para o reconhecimento entre eles. Melucci fundamenta este conceito a partir de três orientações que formam um "nós" e que pressupõem interdependência e tensão entre eles:

Aquelas relativas aos fins da ação (isto é, do sentido que a ação tem para o ator); aquelas relativas aos meios (isto é, às possibilidades e aos limites da ação); e, enfim, aquelas relativas às relações com o ambiente (isto é, ao campo no qual a ação se realiza) ... o sistema multipolar da ação de um ator coletivo se organiza por isso em torno de três eixos (fins, meios, ambiente). (Melucci, 2001, p. 46)

Concluímos que essas reflexões, no que se refere ao conceito de identidade, leva a descortinar um desenho para pensar os jovens na atualidade naquilo que configura a construção de sujeitos e de sua subjetividade nas relações sociais que estabelecem com o trabalho, a formação, escola, família, formas associativas ou práticas associativas, bem como em relação aos seus projetos futuros.

Diante do exposto, pode-se pensar que a identidade se manifesta através de um conjunto de relações e significações que as sociedades e os indivíduos constroem como experiência humana. Maria Marques (1997, p. 67), ao discorrer sobre a identidade dos jovens, diz que se quisermos pensá-la na relação com os outros, temos que pensar qual a rede de significados que se insere o jovem e, só a partir daí, perceber o que estão dizendo sobre si mesmos, se aceitam ou não as "identificações que lhes são atribuídas pelos adultos, se estabelecem campos de negociação com outros atores, com os quais se confrontam, se transformam ou manipulam as representações que os outros fazem de si ".

A partir das diversas reflexões trazidas pelos autores neste texto, podemos considerar que as constantes transformações atuais do contexto mundial afetam os extratos familiares, educativos e laborais, instituindo novos desafios aos estudantes jovens para enfrentar situações distintas de mudanças no ambiente laboral e educacional, consideradas por eles como elemento fundamental para o percurso profissional. Os jovens atravessam momentos de conflitos gerados pela sua adaptação e socialização, obrigando-lhes em um primeiro momento a se apegar as suas redes externas e em outro momento a adaptar-se ao ambiente interno (escola, universidade, família etc.) através do seu entrelaçamento de relações sociais e a definição de seu percurso profissional. Isso significa que as trajetórias juvenis se constituem num processo complexo resultado da incidência de fatores pessoais e contextuais que se entrelaçam na constituição identitárias dos jovens.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste texto nos apropriamos de algumas perspectivas sobre a identidade ou identidade(s) desenvolvidas por meio da análise sociológica e da psicologia crítica, como um processo que é dinâmico e relacional e considera a interação dos indivíduos nas diversas esferas de ação, vinculado às trajetórias sociais (educacionais e laborais) nas quais os indivíduos constroem a sua identidade (Dubar, 2005; Melucci, 2006), por isso mesmo processual.

Também ao final concluímos que o conceito de identidade perpassa por diversas áreas do conhecimento e de perspectivas analíticas, entretanto, todas associam às dimensões pessoal (individual) e social (coletiva), sintetizando que a identidade não é fixada num determinado tempo ou espaço, mas sim construída histórica e articulada socialmente. A identidade é relacional, pois depende das experiências de si com os outros, por isso negociável e revogável, além de que contribui nas trajetórias dimensionais (família, educação, trabalho, lazer etc.).

As maneiras como os jovens vivem a transição dos processos formativos e de trabalho, além de suas perspectivas futuras, necessitam ser consideradas no panorama atual e na estrutura laboral, em constante mudança, (Tibola, Raitz, & Vanzuita, 2022) como também no processo identitário. Na conjuntura do capitalismo moderno, novas exigências de habilidades e competências foram colocadas em evidência no mundo do trabalho, o que afeta as formas de constituição de identidades juvenis e a transformação destas identidades(s).

Nesta perspectiva Pacheco e Ciampa (2006, p. 166) ressaltam que a transformação da identidade necessita ser compreendida "como desenvolvimento integral do indivíduo em todas suas dimensões", consistindo na melhoria das dimensões do intelecto, das habilidades motoras, da competência interativa etc. Ao refletirmos sobre a identidade em movimento e a multiplicidade nas trajetórias juvenis percebemos por meio da literatura especializada e analisada que não podemos negar os contextos múltiplos que lançam mão os jovens para tomar as suas decisões e estratégias escolares e laborais. As trajetórias juvenis se apresentam oscilantes, não-lineares, caracterizadas por rupturas, uma série de transformações e rearranjos vividos, assim como a própria constituição das identidades(s). Os jovens vivem situações de experimentação em suas trajetórias pessoais e profissionais num movimento que se apresenta circulante, fluído e incerto.

A pandemia da Covid19 influenciou diretamente a educação e o trabalho para muitos jovens de nosso país que ficaram sem os dois, inclusive sendo chamados de "geração Covid" ou os 'nem-nem". Quanto mais tempo esses jovens ficam nessa situação, mais profundas serão as marcas que os acompanharão por toda a vida e afetarão a constituição de suas identidade(s). Nos últimos anos o contexto econômico, social e político do país contribuiu com o aumento da vulnerabilidade dos mais jovens, tornando-se mais frágil. Portanto, limitou as oportunidades de educação e trabalho, ainda mais que o desemprego voltou a crescer no país, especialmente para a juventude brasileira.

 

REFERÊNCIAS

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Submissão: 27/06/2022
Revisão: 14/09/2022
Aceite: 21/09/2022
Financiamento: Não houve financiamento

 

 

Contribuição dos Autores:
Concepção: TRR
Coleta de dados: FC
Análise de dados: TRR; FC; TNBA
Elaboração do manuscrito: TRR; FC; TNBA
Revisões críticas de conteúdo intelectual importante: TRR; FC
Aprovação final do manuscrito: TRR; FC; TNBA
Consentimento de uso de imagem: Não se Aplica
Aprovação, ética e consentimento: Não se Aplica

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