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Cógito

Print version ISSN 1519-9479

Cogito vol.5  Salvador  2003

 

EDITORIAL

 

Historicamente, o termo perversão, oriundo de pervertere que quer dizer “desviar” no latim, aparece no senso comum e até na linguagem médico-psiquiátrica, associado a perversidade, no sentido de maldade, crueldade.

A partir da formulação psicanalítica, entretanto, encontramos uma nova versão deste termo, uma inversão do sentido - uma “perversão” do termo, arriscamos dizer - na medida em que Freud atribui à sexualidade um caráter perverso polimorfo como essencialmente humano. Inaugura-se uma nova significação que aproxima perversão e “normalidade”, tendo como efeito uma virada na concepção de certas condições consideradas patológicas, a exemplo da homossexualidade.

A Psicanálise não apenas opera “Uma escandalosa descoberta” (Philippe Julien, 2002) ao subverter a noção de Sujeito pela introdução do conceito de inconsciente, mas, principalmente, ao enunciar que toda a sexualidade humana é perversa.

Os textos aqui reunidos em primeiro plano abordam e poderão elucidar melhor essa questão. Eles foram elaborados a partir dos trabalhos apresentados na XIV Jornada do Círculo que aconteceu em outubro de 2002, e teve como tema “O viés perverso da sexualidade e outros temas atuais da clínica psicanalítica”.

O leitor poderá neles encontrar não apenas a possibilidade de um aprofundamento do tema da perversão na perspectiva psicanalítica, mas também de outras questões sobre a clínica dos nossos dias através das contribuições de nossos membros e associados, como também de convidados que dela participaram.

Ampliamos nossos horizontes com uma nova seção que reúne trabalhos que articulam psicanálise e cinema, fruto das atividades do Núcleo de Cinema, incluindo a fecunda e deliciosa comunicação de Vanessa Brasil Rodriguez, sobre a imagem cinematográfica articulada à questão do gozo escópico. Finalizamos com a participação do Professor Kelber Carneiro que nos fala da vontade, da generosidade e do erro na perspectiva do desejo em Descartes.

As ilustrações deste número pretendem aludir ao trabalho de criação de pessoas que ultrapassam seus limites superando dificuldades e impedimentos, pois sua arte – “arte que é sempre esta alguma coisa que, do recôndito dos tempos, nos chega como procedente do artesão” (Seminário O Sinthoma) – nos convida a retomar a questão ali proposta por Lacan: “em que a arte, o artesanato, pode frustrar o que se impõe do sintoma, a saber, ... a verdade?

Sua arte é a “mostração” da potencialidade sublimatória humana e nos estimula a também vencer nossos entraves.

Khaire, do grego “rejubile-se”, é a expressão usada pelos gregos antigos como saudação, segundo Jacques Mazel (As metamorfoses de Eros,1988, Martins Fontes Ed.), para fazer face aos tempos difíceis de então, naquela terra inóspita.

Ao modo do nosso “Olá, Bom dia, tudo bem?...”, os gregos diziam: aproveite o prazer, obtenha o prazer do dia, da vida. Rejubile-se!

Então, Khaire! para todos os leitores da Cógito.

 

Cibele Prado Barbieri

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