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versão impressa ISSN 1519-9479

Cogito v.9 n.9 Salvador  2008

 

PSICANÁLISE E CINEMA

 

Cinema, sonho e psicanálise

 

 

Sonia Campos Magalhães*

 

 


RESUMO

Neste artigo que denominamos Cinema, Sonho e Psicanálise, trabalhamos aproximações possíveis entre Cinema e Sonho, recorrendo à teoria psicanalítica.
Tomando a concepção freudiana do inconsciente e suas leis, tentamos, em primeiro lugar, fazer uma aproximação entre sonho e filme, a partir da consideração de que o cinema joga com leis da linguagem que Freud descreve como mecanismos fundamentais na elaboração onírica: condensação e deslocamento e, também, a consideração à figurabilidade — transformação das idéias em imagens visuais. Em seguida, recorrendo ao que nos ensinam Freud e Lacan a respeito da elaboração onírica, tentamos aproximar cinema e sonho a partir das questões suscitadas pelos sonhos de angústia e pelo pesadelo.

Palavras-chave: Elaboração onírica; Sonho; Pesadelo; Cinema; Psicanálise.


 

 

Agradeço a Carlos Pinto Corrêa pelo convite que fez para que eu me incluísse entre aqueles que se dispuseram a construir um trabalho a ser apresentado e discutido no espaço de estudos promovido pelo Círculo Brasileiro de Psicanálise, neste encontro que, com este título — Artes da Psicanálise —, nos provoca e incita a tentar articular esses dois campos que, embora distintos, nos oferecem condições para que possamos buscar aproximações.

Enviei para a Comissão Organizadora deste Encontro um resumo no qual dizia que, neste trabalho, que intitulei Cinema, Sonho e Psicanálise, eu buscaria articular Cinema e Psicanálise por intermédio dos dois mecanismos fundamentais que Freud destaca no Sonho: a condensação — Verdichtung — que Lacan, inspirado em Jakobson, traduz como metáfora, e o deslocamento — Verschiebung —, que, com base na mesma inspiração, ele traduz como metonímia. Pretendia trabalhar nesta vertente uma vez que, tal como ocorre na elaboração onírica, o cinema joga com essas figuras de linguagem.

Devo dizer, no entanto, que na construção do texto, fui me distanciando deste enfoque para me aproximar de uma posição na qual eu me indagava a respeito de aproximações possíveis entre Cinema e Sonho baseando-me, para isto, na Psicanálise.

Iniciemos, então, o nosso trabalho. Vou fazê-lo tomando de um artista baiano — poeta e cineasta — uma frase onde ele considera que

[...] a imagem mais poderosa que o cinema já produziu até hoje, seria, exatamente, um olho sendo cortado por uma navalha — Buñuel. É como se Buñuel quisesse dizer que é preciso fechar os olhos, não ter olhos, para assistir um filme. É um apelo à visão interior e não à visão exterior.1

Desta imagem de impacto, de Buñuel em seu Um cão andaluz, achei que poderia aproximar um momento encontrado na literatura, no Ulisses de Joyce, ali onde, ao pretender mostrar de que forma pode o homem captar a realidade, através do seu personagem, Proteu, ele diz: "Feche os olhos e veja".2

Estranha e misteriosa concepção esta, na qual se supõe ser preciso fechar os olhos para captar a realidade! Uma pergunta logo se apresenta: De que realidade se trata?

Sabemos do poder que tem a arte de nos surpreender, fascinar, interrogar... Já se disse que, enquanto obra de arte, o objeto que cai das mãos do artista se oferece, provocante, ao olhar e, ao fazê-lo, é como se ganhasse vida enquanto olho. E é, então, ela, a obra, que nos olha, nos perscruta e interroga.

Não poderíamos dizer que algo do que a psicanálise nos ensina aí já se anuncia? A teoria psicanalítica nos adverte que na construção de uma teoria que diga respeito à realidade, o que é importante não é a diferença entre o que é da ordem do visível ou do invisível mas, sim, a diferença entre o olho e o olhar. A psicanálise aponta para uma esquize do olho e do olhar, isto é, ela quer fazer uma distinção entre ver — função do olho — e olhar, objeto da pulsão escópica. O que é preciso, então, levar em conta, não é, propriamente, a função de um órgão — o olho — mas o desejo do sujeito na pulsão escópica.

Esta frase — Feche os olhos e veja — me levou a Heidegger, um filósofo muito próximo do que nos ensina a psicanálise. Em um de seus ensaios3, ele afirma que

O homem se comporta como se fosse o criador e o mestre da linguagem enquanto que, ao contrário, é ela, a linguagem, que lhe é soberana. No sentido próprio do termo, é a linguagem quem fala. O homem fala apenas na medida em que responde à linguagem escutando o que ela diz.

Para Heidegger,

A correspondência com a qual o homem escuta, verdadeiramente, o apelo da linguagem é este dizer que fala no elemento da poesia. Quanto mais a obra de um poeta é poética, mais livre será o seu dizer, mais aberta ao imprevisto, mais pronta para aceitá-lo, e maior será, enfim, a distância entre o que ele diz e a simples asserção a respeito da qual se discute apenas para saber se ela é exata ou inexata.

Esta concepção heideggeriana da relação entre o homem e a linguagem nos aproxima, certamente, de Freud, em um de seus textos, Uma dificuldade no caminho da psicanálise onde ele afirma que "o eu não é senhor da sua própria casa"4.

Com a sua teoria, a psicanálise, Freud anuncia uma falha estrutural neste ser de fala que é o ser humano e aponta para um sujeito marcado por uma divisão. "Trata-se do sujeito do inconsciente, aquele que não sabe o que diz pela palavra que lhe falta, assim como por uma conduta singular que ele crê ser sua"5.

Perguntei-me se não poderíamos encontrar aí, nesta forma de concepção do ser falante, um primeiro ponto de aproximação entre Arte e Psicanálise, a nos dar pistas para buscar aproximações entre a sétima arte e o sonho, tal como este é concebido pela teoria psicanalítica.

Encontrei algo que me pareceu tocar nesta questão, em um trecho de Sonho e Poesia, um texto de Rank que aparece enquanto apêndice à obra de Freud – A interpretação dos Sonhos. É um momento em que Rank recorre a Schopenhauer.

Cito:

[...] a grandeza de Dante consiste em que, enquanto outros poetas têm a verdade do mundo real, ele, Dante, tem a verdade do sonho e, com esta verdade, nos diz coisas inauditas. Cada um de seus Cantos, na sua Divina Comédia apresenta, a tal ponto, a verdade do sonho que parece haver sido sonhada à noite e escrita, pela manhã 6.

Segundo Rank, tanto um quanto o outro, o filósofo e o psicanalista, querem nos mostrar que,

se quisermos fazer uma idéia da atividade do gênio nos verdadeiros poetas, assim como da independência que tem esta atividade de toda reflexão, bastará que observemos nossa própria atividade poética no sonho. Aquele que desperta de um sonho altamente animado e dramático, poderá observar e admirar seu próprio gênero poético. Daí, podermos dizer que um grande poeta (por exemplo, Shakespeare), é um homem que faz desperto o que os outros homens fazem em sonhos. (O grifo é nosso)

Pergunto: não poderíamos dizer, de uma certa maneira, que seria esta a posição daquele que faz cinema? Fazer, desperto, o que os outros homens fazem em sonhos?

Indagando-me sobre esta proximidade entre cinema e sonho, pareceu-me interessante trazer aqui uma proposta de estudo que faz, este ano, Geneviève Morel, uma psicanalista francesa, sobre o tema A libido no século: psicanálise da imagem, estudo a ser apoiado em Freud (A interpretação dos sonhos) e Lacan (Função do olhar e do quadro, estrutura da alucinação, releitura da fenomenologia).

Ao introduzir a sua proposta, Morel, remetendo-se à A interpretação dos sonhos, nos lembra que neste texto de Freud,

a imagem é rainha: nele vamos encontrar o plano fixo da fantasia colocada em movimento, lembranças encobridoras traduzidas em imagens, uma figuração crua do desejo, deformações devastadoras da censura, onipotência do que Freud denominou WUNSCH — anseio — , onipotência da criança em nós, estranhas formulações do "não", uma lógica absurda represada, chistes colocados em rebus ou desenhos animados...a beleza fascinante das mulheres no coração do trágico revisitado (Édipo ou Hamlet), lutos antecipados, inclusive, melancolicamente desejados....7

Encontramos tudo isto no sonho. Tentando aproximar filme e sonho, Morel coloca perguntas a serem trabalhadas:

Não estaria o cinema, graças ao progresso de uma técnica cada vez mais sofisticada, buscando realizar, inclusive, ultrapassar o que o sonho realiza, com tanta virtuosidade, em cada um de nós?
Não estaria o cinema tentando colocar fora o que realizamos de mais íntimo?
Não estaria o cinema buscando mostrar a universalidade partindo do mais singular?
Não estaria o cinema a realizar, de modo "êxtimo" os procedimentos mais secretos do ser humano?

Para Morel, é como se o cinema e a psicanálise fossem gêmeos nascidos juntos, no mesmo século,

no berço de um mundo onde os valores vacilavam e que iria, logo, conhecer as duas guerras mais mortíferas de sua história, o desmoronamento (relativo) do patriarcado, tentativas de liberação dos costumes, a chegada do feminismo, a apavorante invenção da morte em massa, globalização, deterioração ecológica, etc. O cinema se faz política Antecipa, mostra o apocalipse realizado, nos indicando, às avessas, como preveni-lo.

Inúmeros seriam os filmes que poderiam ser aqui citados, mostrando-nos uma certa analogia entre sonho e filme e, (por que não dizê-lo?), entre sonho, filme e a experiência analítica.

Inúmeros seriam os cineastas que poderiam colocar aqui as suas idéias a respeito desta aproximação do sonho com o cinema.

Encontrei esta aproximação entre cinema e sonho, em um artigo de Christian Dubuis Santini, sobre Inland Empire, um filme de David Lynch.

Santini vai se referir a Lynch como "um cineasta fiel a uma implacável linha de conduta estética que orienta sua obra e sua vida e que jamais recuou diante do abismo aterrorizante do mistério que ele se dispôs a sondar: o psiquismo humano!"

Em Inland Empire, Lynch vai trazer para a tela um personagem feminino, Nikki Grace. Para Santini, será através de Nikki que Lynch vai tentar mostrar o que Freud não hesitou em nomear "o continente negro", isto é, o inconsciente feminino. Santini supõe que Lynch sabe o que está fazendo, "mesmo se o que faz está, também, na montagem do filme em um só depois" 8.

Lynch nos dá, neste filme, algumas chaves sobre o modo como, através do cinema, ele lida com a questão do tempo — questão tão crucial no sonho e, também, na teoria psicanalítica. Logo de início, ele vai situar uma fala de Nikki: "amanhã pode ser ontem, eu me lembro de depois de amanhã".

Vejamos como Santini nos descreve este modo de Lynch trabalhar o tempo:

[...] não será com o tempo cronológico, tal qual se tem o hábito de medi-lo, quantificá-lo, seriá-lo, um tempo técnico e tecnizado que vamos nos deparar.. É todo um outro tempo.... De repente, graças à essência, mesma, do médium cinematográfico, e de seu brilhante realizador, somos mergulhados em um outro mundo, imersos no inconsciente. O relato preciso que David Lynch nos propõe, se articula, exatamente, da mesma maneira, segundo a mesma lógica narrativa, tecida da mesma matéria imajada e sonora que é a dos sonhos, com os seus procedimentos de condensação e deslocamento, suas superposições de espaços, (já que não há mais o tempo), seus desvios e seus contornos e suas inversões (porque o inconsciente tampouco conhece a negação). É assim que Nikki Grace, simultaneamente, é tanto Sue, uma atriz e uma prostituta quanto uma vítima de uma tentativa de violação — em revelando sua natureza aterrorizante — como, também, ela está na Polônia e em Los Angeles, ela perdeu um bebê e está grávida, e ela mata e é morta, ela é, ela será e ela foi [....] 9.

É interessante notar que filmes como este de David Lynch, nos fazem supor que, ao vê-los, conceitos psicanalíticos podem ser evocados. O filósofo Slavo Zizek vem tentando mostrar isto. (Ver, por exemplo, o seu DVD, O guia perverso para o cinema, onde ele seleciona vários filmes notáveis para mostrar que conceitos psicanalíticos tais como, o Inconsciente, o Supereu, o Outro, podem ser evocados a partir do que a arte do cinema produz).

Esta posição de Zizek de buscar articular cinema e psicanálise me levou de volta ao tema do sonho e a um dos muitos textos escritos na ocasião da comemoração dos cem anos da obra de Freud — A interpretação dos sonhos. Trata-se do texto O Umbigo e a Coisa10, de Colette Soler, no qual esta psicanalista faz algumas observações a respeito das concepções freudianas e lacanianas sobre o sonho.

Soler começa por observar que o sonho, tal como Freud o concebeu, não envelheceu nada em sua função de indicador da fenda do sujeito. O sonho vem mostrar esta heteronímia íntima que chamamos inconsciente. Para aquele que sonha, o sonho é uma situação alucinada e não somente fantasiada. Do mais banal ao mais bizarro, o sonho é uma situação que tem uma unidade perspectiva e seqüencial. O que sonha pode testemunhar, certamente, que os contornos do sonho não são claros, que antes e depois havia ainda algo, que está difuso, que o sonho é esburacado, que alguma coisa falta... No entanto, pode-se compreender o sonho na dimensão de unidade. Segundo Soler, isto é tão certo que se pode contar os sonhos, pode-se dizer "tive um sonho", ou dois, ou três... Pode-se colocar os sonhos em série, sem que, no entanto, se possa dizer que se produziu o último sonho.

Sabemos que, na prática freudiana, o sonho é um texto e é parte integrante do texto mais amplo das associações. Freud fala da "rede emaranhada das ramificações de nossos pensamentos". Mas estas observações introduzem um paradoxo: poder-se-ia pensar, a partir daí, que a Via regia é a dos caminhos que não conduzem a parte alguma ? A expressão Via regia é de Freud, quando considera que o sonho nos leva ao inconsciente.

Mas Freud não considera que o caminho do sonho não leve a parte alguma. Segundo ele, o trabalho do sonho faria o sujeito chegar a um ponto que ele chamou o Umbigo dos sonhos, um nó onde se interrompem os pensamentos do sonho e o sujeito se depara com o desconhecido. Soler enfatiza que Freud escreve este termo com maiúscula — Desconhecido —," centro vazio, homólogo, no sonho, ao furo do recalque primário"11

Poderíamos dizer que o sonho, em uma experiência de análise, pode conduzir a este Desconhecido que é, também, o encontro com o impossível.

É preciso notar que depois de Freud, Lacan foi o primeiro psicanalista a trazer algo sobre o tema dos sonhos. Ele reformulou a descrição da estrutura freudiana em termos de linguagem e reconheceu nestes emaranhados evocados por Freud a combinatória de uma cadeia significante. Incluiu, assim, o sonho em um campo de inteligibilidade mais amplo. A partir de Lacan, os paradoxos do sonho vão se referir aos paradoxos do sujeito.

Há, lembra Colette Soler, uma tese fundamental sobre o sonho que jamais foi questionada nem por Freud nem por Lacan. É uma tese que afirma a conexão que há entre o cifrado no sonho e uma satisfação sexual. Ambos concordam em dizer que o cifrado (a substituição e a combinação dos signos) é o veículo do gozo. Freud o formula em termos de desconexão e deslocamento do afeto ou do "quantum de energia" e Lacan em termos de metonímia do objeto e das letras.

Segundo Freud, se no sonho, geralmente, se goza, não se goza sem o que ele chamou figuração. Poder-se-ia dizer que, para Freud, o sonho não seria apenas gozo do significante, mas ficção gozada. Para Soler, é fácil compreender a linguagem do sonho, particularmente seu léxico, como a linguagem dos hieróglifos, e a partir daí dizer que o sonho seria uma linguagem de imagens e que, no nível do significado, a linguagem dos sonhos produza significações sob a forma de cenários imaginários. Assim sendo, poder-se-ia dizer que no sonho "isso fala" na linguagem das imagens e, especialmente, das imagens do corpo. Lacan, no entanto, acreditou necessário introduzir outra fórmula que diz que no sonho "isso mostra". Trata-se da idéia de que o que não se pode dizer em nenhuma língua, nem na linguagem, pode-se mostrar no percebido.

Situo, aqui, uma pergunta: se podemos, através do sonho, apreender algo do que a psicanálise ensina, será que podemos fazê-lo, também, através de um cinema que se aproxime não só do sonho quanto do pesadelo?

Já ouvi de alguns amantes do cinema uma expressão curiosa surgida depois de terem assistido a um filme: "este eu vou levar para casa". Digo que é uma expressão curiosa porque me faz pensar em uma outra articulação possível de ser feita entre sonho e filme.

Vejamos:

Entre as definições que Freud dá aos sonhos, encontramos aquela que diz que os sonhos são produções que, através da satisfação alucinatória, eliminam estímulos psíquicos perturbadores do sono. Com isto Freud quer dizer que a finalidade do sonho é a de proteger o sono. No entanto, existem sonhos que, escapando desta finalidade, nos despertam levando-nos ao susto e, até mesmo, ao terror. Nestes casos o sujeito desperta.

Uma vez desperto pode, então, aquele que sonhou, contar seu sonho, pensar nele, acrescentar-lhe algo, continuá-lo ou... quem sabe? levá-lo para o analista, em uma experiência de análise.

Segundo Freud, em Inibição, sintoma e angústia, o sonho traumático faz com que nos defrontemos com um sujeito em desamparo, isto é, com um sujeito sem recursos reais ou simbólicos, frente à intrusão de um real em excesso. Curiosamente, os sonhos que nos despertam podem nos ensinar. Eles nos levam a perceber um paradoxo: no sonho feito para dormir, a Via regia erra12, fica em uma errância, enquanto que o sonho que desperta tem a chance de, em uma análise, deixar de ser apenas uma ficção propícia ao princípio do prazer fazendo com que o sujeito avance a partir do seu encontro com o real.

No pesadelo, o sujeito, ao se acercar do insuportável, também desperta, mas, diferentemente do sonho, uma barreira eficaz contra a interpretação poderá ser colocada.

Ao se referir à angústia do pesadelo, no seu Seminário Livro 10, Lacan nos diz que

[...] a angústia do pesadelo é experimentada, propriamente falando, como a do gozo do Outro.
O correlato do pesadelo é o incubo ou o súcubo, esse ser que nos comprime o peito com todo o seu peso opaco de gozo alheio, que nos esmaga sob seu gozo. A primeira coisa que aparece no mito, bem como no pesadelo vivenciado, é que esse ser que pesa por seu gozo é também um ser questionador e que até se manifesta na dimensão desenvolvida da pergunta a que chamamos enigma. A Esfinge, cuja entrada em jogo no mito precede todo o drama do Édipo, não se esqueçam, é uma figura de pesadelos, e, ao mesmo tempo, uma figura questionadora13.

Creio que talvez possamos dizer que, também em relação ao cinema, existem filmes que nos fazem sonhar para proteger nosso sono (e ficamos, então na errância, dormindo), e existem filmes que nos acordam, despertam, instigam..

Mas existem, também, os filmes que, enquanto obra de arte, nos olham, nos perscrutam e interrogam...

 

REFERÊNCIAS

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SOLER, Colette, El Ombligo y la Cosa. In: Divan Lacaniano. Publicación del Campo Lacaniano, Tucuman/ Salta. Año 1 - No. 0, octubre de 2000.         [ Links ]

 

 

* Psicanalista. Salvador, Bahia.
1CAMPOS, Fernando. Cinema: sonho e lucidez. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003, p. 25.
2JOYCE, James. Ulisses. Trad. Bernardina da Silveira Pinheiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005, p.44.
3HEIDEGGER, M. l´homme en poète. In: Essais et Conférences, Gallimard, Conférence de 6 octobre 1951.
4FREUD, Sigmund, Uma dificuldade no caminho da psicanálise, In: Edição standard brasileira das obras completas, Rio de Janeiro: Imago, 1976, V. XVIII, p.178.
5 GERBASE, Jairo. Apresentação. In: O sujeito da psicanálise. Salvador: Associação Científica Campo Psicanalítico, 2004, p.7
6FREUD, Sigmund. La interpretación de los suenos. In: Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, ano 1967, p. 518.
7MOREL, Geneviève, Séminaire théorique 1, In Savoirs et Clinique 2007-2008, Regards et hazards. Images et événements dans la psychanalyse. Disponivel em http://www.savoirs-et-clinique.eu/offres/gestion/actus_65_277/savoirs-et-clinique-2007-2008.html. Tradução livre nossa.
8SANTINI, Dubuis. In: http://edsonline.blog.lemonde.fr/2007/02/12/inland-empire-de-david-lynch-ou-ma-vie-de-critique-damateur-de-cinema/Tradução livre nossa
9SANTINI, Dubuis. op. cit.
10SOLER, Colette, El Ombligo y la Cosa. In: Divan Lacaniano.Publicación del Campo Lacaniano, Tucuman/ Salta. Año 1 - No. 0, octubre de 2000, p. 7-13.
11SOLER, Colette, op. cit. p 9.
12SOLER, Colette, El Ombligo y la Cosa, op.cit, p.10 .
13LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 10: A angústia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 73.

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