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Cógito

versão impressa ISSN 1519-9479

Cogito vol.10  Salvador out. 2009

 

Um dom raro e precioso

 

A rare and precious gift

 

 

Sonia Campos Magalhães*

 


RESUMO

Afirmando que o humor é um dom raro e precioso, e que nem todos os seres humanos são capazes da atitude humorística, Freud vai nos dizer, também, que o humor não é resignado, mas rebelde. Tomando como ponto de partida esta rebeldia apontada por Freud em relação ao humor — que ele diferencia do cômico e do chiste —, buscaremos, em uma articulação com a prática clínica e recorrendo ao ensino de Freud e Lacan, trabalhar uma pergunta: Como pensar, do ponto de vista da psicanálise, o humor na criança? tecendo comparações entre a criança, o humorista e o poeta.

Palavras-chave: humor; psicanálise; criança; clínica; gaio saber.


ABSTRACT

Freud claimed that humor is a precious and rare gift. And that not all human being is capable of humorous attitude. He will also say that humor is not resigned, but rebellious. Starting from this rebellion, reported by Freud about humor, wich is different from comics and wit, we aim, in this work, articulating with clinical practice and using Lacan's teaching, try to answer a question: How to think, from the point of view of psychoanalysis, the child's humor? whith comparisons between the child, humorist and poet.

Key words: humor; psychoanalysis; child; clinical; jay knowledge.


 

 

Vou começar este trabalho que denominei, "Um dom raro e precioso" (título que tomei de empréstimo a Freud, pois é assim que, em certo momento do seu ensino, ele vai se referir ao humor), trazendo uma das Fábulas fabulosas do humorista Millôr Fernandes, por ele denominada

O PROBLEMA EDUCACIONAL
(OU SACRIFÍCIOS DE MÃE)

A pobre mãezinha levou o filhinho ao psicanalista porque ele era incapaz de comer qualquer coisa. Ou coisa alguma. Só gostava de comer o impossível. O médico examinou o crescimento mental do menino e recomendou à mãe (dele) que não forçasse o menino a comer o que ele não gostasse. Percebia-se nitidamente que era um jovenzinho de formação extravagante a quem se deveria oferecer apenas pratos ímpares. Assim foi que a mãezinha, muito da psicanalítica, chegou em casa e perguntou ao filhinho o que é que ele gostaria de comer. O menino nem titubeou. Disse logo: "Uma largatixa". Com grande repugnância e não menor dificuldade, a mãe(zinha) conseguiu caçar uma lagartixa e deu-a ao menino.O menino olhou a lagartixa com igual ânsia, um olho pra cá, outro pra lá, os dois olhos parando lá em cima e exclamou: "Come vuoi, mamma, que io mangi questa porcheria cosí cruda senza ne meno il doppio burro"! ou seja: "Como é que a senhora pretende que eu coma essa porcaria assim crua: não tem sequer manteiga dupla?" A mãe, sempre mãe, e mais porque psicanaliticamente orientada, pegou a lagartixa, pô-la na frigideira e fritou-a como o menino desejava. – Está bem agora? – perguntou ao menino. – Não – respondeu a peste, parte ao meio. A mãezinha tão kleiniana, coitada!, fez o que o menino mandava.O menino olhou a mãezinha, a mãezinha olhou o menino, o menino mexeu um olho, a mãe baixou a cabeça meio centímetro, o menino mexeu o outro olho, a mãe voltou com a cabeça à posição anterior e aí o menino impôs: – Eu só como a lagartixa se a senhora comer metade. – Então come que depois eu como – disse a mãe. – Não, você tem que comer primeiro – disse o menino. A mãezinha sentiu uma golfada de nojo, mas, que ia fazer? Mãe é mãe e além do mais, ela tinha tantas raízes iunguianas! Fechou os olhos e, para não sentir, com um gesto rápido, jogou metade da lagartixa dentro da goela, engoliu. O menino olhou-a firme, olhou a metade da lagartixa na frigideira e começou a chorar: – "Ah, ah, ah!... A senhora comeu exatamente a metade que eu gosto. Essa daí eu não como de jeito nenhum." (FERNANDES, 1985, p. 109-111).

Trazer a esta Jornada sobre o tema O HUMOR, esta fábula de Millôr Fernandes, reconhecido como um dos grandes humoristas brasileiros, vai-me permitir começar este trabalho situando uma pergunta: Partindo do que a psicanálise nos ensina, como poderemos definir um humorista?

Para tentar responder a esta indagação, recorro a Freud em seu artigo "O humor", quando nos fala das duas maneiras pelas quais o processo humorístico pode realizar-se.

Ele nos diz que esse processo pode dar-se com relação a uma pessoa isolada, que ela própria adota a atitude humorística, ao passo que uma segunda pessoa representa o papel de espectador que dela extrai prazer; pode efetuar-se, também, entre duas pessoas, uma das quais não toma parte alguma no processo humorístico, mas é tornada objeto de contemplação humorística pela outra.

Freud vai tomar o exemplo do criminoso levado à forca numa segunda-feira e que comenta: "Bem, a semana está começando otimamente", para dizer que aí, neste caso, é o próprio condenado à forca que está produzindo o humor. O processo humorístico se completa nele mesmo e, evidentemente, concede-lhe certo senso de satisfação. O ouvinte é afetado, por assim dizer, a longo alcance, por esta produção humorística do criminoso, ouvinte este que, como o condenado à morte, sente, também, produção de prazer.

Para dizer como se dá a segunda maneira pela qual o humor surge, Freud traz um escritor, ou narrador, que descreve o comportamento de pessoas reais ou imaginárias de modo humorístico. Neste caso, não é preciso que estas pessoas demonstrem humor, a atitude humorística interessa apenas à pessoa que as está tomando como seu objeto. Tal como no primeiro exemplo, o leitor, ou ouvinte, partilha da fruição do humor.

Segundo Freud, no processo de produzir o humor, quem merece atenção é o "humorista", pois se tem de supor que, no ouvinte, existe apenas um eco, uma cópia, desse processo desconhecido.

Freud vai trazer, então, algumas das características do humor: "Como os chistes e o cômico, o humor tem algo de libertador a seu respeito, mas possui, também, qualquer coisa de grandeza e elevação que faltam às outras duas maneiras de obter prazer da atividade intelectual" (FREUD, 1990, p.190). Segundo Freud, esta grandeza do humor reside no triunfo do narcisismo.

Trazendo, novamente, o caso do condenado à forca, Freud nos diz:

Suponhamos que o criminoso levado à execução dissesse: "Isso não me preocupa. Que importância tem, afinal de contas, que um sujeito como eu seja enforcado? O mundo não vai acabar por causa disso", teríamos de admitir que um discurso desse tipo apresenta, de fato, a mesma magnífica superioridade sobre a situação real. É sábio e verdadeiro, mas não revela humor. Na verdade, baseia-se numa avaliação da realidade que vai diretamente contra a avaliação feita pelo humor. (FREUD, 1990, p. 190 -191).

Freud ressalta que o humor não é resignado, mas rebelde. O humor significa não apenas o triunfo do eu, mas também o do princípio do prazer, que pode aí se afirmar contra as circunstâncias reais. A grandeza do humor reside na afirmação vitoriosa da invulnerabilidade do eu, que se recusa a ser afligido pela realidade e a permitir que seja compelido a sofrer. Aquele que produz humor demonstra, na verdade, que o que lhe acontece de terrível não passa de ocasiões para obter prazer.

No entanto, nem todas as pessoas são capazes de atitude humorística. Freud considera o humor como um dom raro e precioso e acrescenta que muitas pessoas nem sequer dispõem da capacidade de fruir o prazer humorístico que lhes é apresentado.

Essas considerações de Freud sobre o humor me remeteram ao tema do humor na criança.

Em seu trabalho "Humor na infância", Maria Rita Kehl (2005) considera que, se partirmos da posição de Freud de que o humor é o que permite o triunfo do narcisismo do eu sobre as adversidades, através de um dito capaz de inverter a lógica do rigor superegoico, se o humorista é aquele que, como uma espécie de herói, é capaz de usar a palavra de modo a reverter em cômico o sentido trágico de uma situação, então, pondera Kehl, estaríamos diante de uma indagação: Como será possível o humor em uma criança?

A partir desta sua pergunta, Maria Rita Kehl toma um caminho no qual ela busca encontrar, nas brincadeiras, o humor na criança.

Buscar o humor da criança nas brincadeiras, nos jogos, me faz lembrar do momento em que Lacan, nos seus Escritos, nos diz:

Um dos traços mais fulgurantes da intuição de Freud na ordem do mundo psíquico é ter captado o valor revelador dos jogos de ocultamento que são as primeiras brincadeiras da criança. Todo mundo pode vê-las e ninguém antes dele havia compreendido, em seu caráter iterativo, a repetição liberadora de qualquer separação ou desmame como tais que nelas assume a criança.
Graças a Freud, podemos concebê-las como exprimindo a primeira vibração da onda estacionária de renúncias que irá escandir a história do desenvolvimento psíquico. (LACAN, 1998, p. 188).

Kehl, ao falar no senso de humor da criança, vai dizer que a graça imensa das brincadeiras que uma criança, muitas vezes, não cansa de repetir, está na capacidade de a criança enunciar na linguagem o que ela seria capaz de fazer com seus devaneios onipotentes. Remetendo-se às brincadeiras de seus filhos, ela relata uma delas que consistia em uma série interminável de perguntas irrelevantes que um deles lhe dirigia, quando percebia estar a mãe distraída, perguntas que as mães respondem muitas vezes automaticamente, sem saber o que estão dizendo. Neste jogo de formular perguntas, que ela respondia através de hum., hum, sim, ....sim.., de repente, surge uma pergunta absurda – Mãe, posso pular pela janela? – à qual, de forma automática, ela responde que sim. Ao dar-se conta do absurdo, tomada pelo pânico vem o grito: NÃÃÃÃÃÃO !!!!! E os filhos, então, morriam de rir e muitas vezes repetiam a brincadeira, pois as crianças têm esta capacidade maravilhosa de insistir no que lhes dá prazer.

A criança mostra o que faria, mas não faz, sublima e realiza na fala a fantasia de assombrar a mãe. A formulação das fantasias onipotentes (que a criança sabe que não pode realizar) como voar, pular pela janela, ou dos impulsos destrutivos — tocar fogo na casa, afogar a irmãzinha na banheira — ou da curiosidade, que caracteriza a criança edipiana, produz, a um só tempo, o efeito de ironia (desdobramento onipotente do eu) e do chiste (suspensão provisória do interdito).

O humor, segundo Kehl, é possível na infância, quando a criança vê cair um pouco da onipotência e da onisciência que atribui ao Outro. Esta passagem não se dá sem sofrimento, pois a castração é vivida como desamparo e certa orfandade.

Ela vai dizer então:

Não por acaso, a personagem que Lobato elegeu como representante de sua própria irreverência é uma boneca de pano, órfã de pai e de mãe, "estrangeira" em meio às gentes de carne e osso, com sua "torneirinha de asneiras" sempre aberta e pronta a comentar a vida a contrapelo do senso comum. Por ter nascido de pano, de coração de macela, Emília ficou imune às emoções que impedem à maioria das pessoas um distanciamento irônico em relação às circunstâncias graves da vida. (KEHL, 2005, p. 74).

O humor de Emília, evidentemente, é criação do adulto Monteiro Lobato, cuja genialidade consistiu em criar uma personagem infantil irônica, irreverente, cuja graça é accessível à inteligência infantil.

É o que podemos constatar neste fragmento de A chave do tamanho, no diálogo entre Emília e Dona Benta:

– Por que é que se diz "pôr do sol", Dona Benta? perguntou com seu célebre ar de anjo de inocência. Que é que o sol põe? Algum ovo?
Dona Benta percebeu que aquilo era uma "pergunta-armadilha", das que forçavam certa resposta e preparam terreno para o famoso "então" da Emília.
– O Sol não põe nada, bobinha. O Sol põe-se a si mesmo.
– Então, ele é o ovo de si mesmo. Que graça!
Dona Benta teve a pachorra de explicar:
"Pôr do sol" é um modo de dizer. Você sabe bem que o sol não se põe nunca: a Terra e os outros planetas se movem em torno dele [...]
Estou vendo que tudo que gente grande diz são modos de dizer, continuou a pestinha. Isto é, são pequenas mentiras — e depois vivem dizendo às crianças que não mintam! Ah! Ah! Ah! Os tais poetas, por exemplo: que é que fazem senão mentir? (LOBATO apud KEHL, 2005, p. 59-60).

Emília tem razão. Creio que podemos até pensar em um encontro do poeta com o humorista. Vejamos: se o condenado à forca do exemplo de Freud dissesse: A semana está começando pessimamente, esta frase seria considerada prosaica. Ao dizer, no entanto, o inverso: a semana está começando otimamente, a frase ganha um efeito poético, um efeito que vem do recurso possível ao ser falante, um recurso devido, exclusivamente, ao significante — o efeito de humor.

Freud considera o humor como uma forma de obter prazer, prazer que ele definiu como reduzir a tensão a zero. Lacan explica esta redução recorrendo à modalidade do possível, ao dizer que reduzir a tensão a zero é sofrer o menos possível, e isto o sujeito do inconsciente consegue porque ele é um sujeito do significante, isto é, ele pode, como no caso acima citado, passar de um advérbio — pessimamente — a seu oposto — otimamente. E este é, também, o recurso da poesia.

A definição de Lacan de que no prazer se trata de sofrer o menos possível, vai conjugar prazer e hostilidade. A presença simultânea destes dois afetos – prazer e hostilidade – tem seu nome – GOZO – e é por isso que acredito que podemos dizer que o termo gozação é bem aplicado no caso do humor.
A escolha do título do meu trabalho me levou a situar uma indagação: por que teria Freud afirmado que o humor é um dom raro e precioso?

No seu texto "O Humor", Freud atribuiu a capacidade de triunfo do Eu sobre as condições adversas a uma certa disposição benigna do Supereu. Segundo Freud, o humor seria a contribuição feita ao cômico pela intervenção do Supereu, como se uma mensagem do Supereu passasse a ser transmitida e pudesse ser captada, advertindo ao Eu, mas também a outros: "Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas de que sobre ele se faça uma pilhéria". (FREUD, 1990, p. 194).

Com Lacan, algo mais pode ser dito sobre o humor. Pode-se dizer, por exemplo, que, diferentemente do cômico e do chiste, o humor opera no limite. Ele opera em face do indizível, do inapreensível, do Real como impossível, este Real tal como Lacan o concebe com o R.S.I., isto é, os NÓS nos três registros Real, Simbólico e Imaginário.

Enquanto sujeito desejante, capturado pela linguagem, o falasser, ser de fala, supõe o entrelaçamento desses três registros. Sabemos que muitos autores têm estudado o cômico, privilegiando o Imaginário, o chiste, investindo no Simbólico e o humor, enfrentando o Real.

Esta consideração de que o humor opera em face do impossível, do Real, me leva a retornar à questão do encontro entre o poeta e o humorista.

Segundo Maurice Blanchot, "do que se trata na poesia é de responder ao impossível e nomear o possível"1 , o que nos permite dizer que o poeta, em face do impossível de dizer, responde não propriamente com a criação, mas com a invenção.

Não poderíamos dizer que é também assim que acontece com aquele que produz humor, este humor que, como um dom raro e precioso, podemos encontrar em um Millôr e em um Monteiro Lobato?

Volto, então, à questão do humor na criança remetendo-me ao texto "Escritores criativos e devaneios", de Freud, ali onde ele estabelece uma comparação entre a criança e o poeta. Referindo-se à intensa seriedade com que a criança realiza seus jogos na infância, Freud afirma que o brincar é determinado por desejos e que, quando brinca, a criança, tal como um poeta, situa as coisas de seu mundo em uma nova ordem, de forma prazerosa.

Em um artigo sobre o brincar da criança, Hugo Freda nos diz que, se formos buscar uma correspondência ou uma diferença qualquer, entre o mundo da realidade e o mundo do brincar, esta deverá ser procurada no trajeto que vai do ato de brincar à palavra.

Creio que é o que nos mostra Pedro Bloch no seu Dicionário de humor infantil, ao trazer definições espontâneas e achados poéticos de crianças entre 3 e 11 anos, tais como:

Alegria é um palhacinho no coração da gente.
Arco-íris é uma ponte de vento.
Relâmpago é um barulho rabiscando o céu.
Cobra é um bicho que só tem rabo.
Avestruz é a girafa dos passarinhos.
Calcanhar é o queixo do pé.
Helicóptero é um carro com ventilador em cima.
Paciência é uma coisa que mamãe perde sempre.
Sono é saudade de dormir.

A afirmação freudiana de que, quando brinca, a criança procede como um poeta nos permite dizer que a criança, a seu modo, inventa.

Não é o que Freud percebeu no jogo da presença/ausência, da criança no Fort/Da, no qual algo é transposto, produzindo-se a passagem da angústia à obtenção de prazer?

Referências

BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. Rio de Janeiro: Editora EDIOURO- PARADIDACTIC, 1ª. Edição, 1997        [ Links ]

FERNANDES, Millôr. O problema educacional (ou sacrifícios de mãe) In: _____. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985.         [ Links ]

FREUD, Sigmund. O humor [1927]. In: ______.Edição standard brasileira das obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1990. v. XXI.         [ Links ]

______. Escritores criativos e devaneios [1905 (1907)]. In: ______.Edição standard brasileira das obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago, 1990. v. IX.         [ Links ]

FREDA, Hugo. Algumas considerações sobre o brincar das crianças na cura analítica. Correio do Simpósio, no. 3. Belo Horizonte:1989.         [ Links ]

KEHL, Maria Rita. Humor na infância. In: SLAVUTZKY, Abrão; KUPERMANN, Daniel (Org.). Seria trágico ... se não fosse cômico: humor e psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.         [ Links ]

LACAN, Jacques. Formulações sobre a causalidade psíquica. In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.         [ Links ]

 

 

*Psicanalista. Salvador, Bahia.
1Citação de Albert Nguyen em seu artigo Mi-dire, mi-dieu. In : ACTES du séminaire des enseignants : Le père et la femme, dans les structures cliniques. Local : PAU, 1999. p. 76. (Tradução livre nossa).

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