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Cadernos de Psicopedagogia

versão impressa ISSN 1676-1049

Cad. psicopedag. v.6 n.11 São Paulo  2007

 

RESENHA

 

 

João Clemente de Souza Neto1

Programa de Pós-Graduação em Psicologia Educacional no Centro Universitário FIEO

Endereço para correspondência

 

 

Pupo, Maria Bernadete. Empregabilidade acima dos 40 anos. São Paulo: Editora Expressão & Arte, 2006

O livro de Maria Bernadete Pupo, Empregabilidade acima dos 40 anos, uma publicação da, faz um balanço da realidade do mundo do trabalho, apresentando as mudanças ocorridas na relação entre capital e trabalho, durante as últimas décadas. Para dar conta desse tema, a autora problematiza as teorias de autores como William Bridges, Rosa Maria Fischer, José Pastore, Domenico De Masi e Jeremy Rifkin, e pergunta como um trabalhador, após completar quarenta anos de idade, pode garantir sua empregabilidade num mundo em contínuo processo de transformação das relações tecnológicas e de trabalho.

Além dessa questão, a cultura de trabalho no Brasil considera quase descartáveis, para determinadas áreas profissionais, pessoas acima dos quarenta anos. A criatividade da autora está em olhar para a realidade caótica do trabalho, comentada por uns como de “horror econômico” e por outros como de “horror político”. Há, finalmente, aqueles que acenam para o fim do trabalho. Apesar de conhecer essa realidade, a autora não se deixa abater e procura encontrar na experiência de alguns profissionais o modo pelo qual conseguiram garantir sua empregabilidade.

Mesmo sendo um estudo de caso, o livro contém algumas possibilidades extraídas da vida profissional, o que possibilita uma compreensão da noção da categoria empregabilidade utilizada por muitos intelectuais, especialmente da Sociologia do Trabalho e da Administração, para diferenciar o reordenamento jurídico e social do trabalho, que está emergindo na era da globalização. As profissões vêm-se alterando quase diariamente, algumas desaparecendo e novas aparecendo.

O processo de desenvolvimento da tecnologia desembocou nas chamadas máquinas-inteligentes, que têm liberado os seres humanos de um conjunto de tarefas, mas, em contrapartida, excluído milhões de pessoas do processo produtivo. A busca da felicidade, constante no decorrer da história, instaurou, na modernidade, a crença no poder da tecnologia para construir a sociedade da abundância e do tempo livre.

Finalmente, entramos na utopia da era da informação e passamos à convicção de que aquele que a detém poderá dominar o mercado e a sociedade ou contribuir para a libertação da humanidade. Entretanto, talvez estejamos passando por uma das maiores crises da história, marcada pelo desemprego e pelo comportamento antiético. A tecnologia, criatura, voltou-se contra o criador, e suas maiores vítimas são os trabalhadores, as crianças e os idosos.

Essa crise se direciona contra o ser humano, mas atinge todo o Planeta. Hoje se misturam as crises do trabalho e os conflitos ideológicos, culturais e científicos, com a sensação de que tudo chega ao fim. Poderíamos inferir que estamos atravessando o colapso da modernização e a derrocada das ideologias. Nesta dramaticidade humana, a grande incógnita é encontrar caminhos, uma vez que não existe uma única fórmula de saída, que leve a humanidade ao bem-estar social.

Diante dessa dificuldade, Pupo busca apresentar uma saída otimista, mas sem negar a dramaticidade da situação. Acredita a autora que todo momento grave na história da humanidade vem carregado de novidade. Nele, já se encontra presente o novo, na expectativa de adquirir forças para romper com o velho. Se de fato vivemos num mundo caótico, há também nele inúmeras possibilidades espalhadas pelo cotidiano, à espera de utilização. As indagações que emergem nessa realidade são instigantes e inquietadoras.

A expectativa do livro de Pupo é evidenciar as potencialidades e possibilidades presentes na própria história do indivíduo.

Empregabilidade se define no texto como o conjunto de traços que definem o novo perfil do trabalhador, para além dos “limites do operário padronizado do modelo taylorista-fordista”. A regência das relações trabalhistas extrapola a forma tradicional de venda e compra da força do trabalhador, para assumir outras “formas de modalidade jurídica, como contrato temporário, de tempo parcial, de prestação de serviços”, enfim, “o trabalhador ganha independência contratual e autonomia organizacional, tornando-se um vendedor de si próprio e não mais vendedor de simples força de trabalho”. Empregabilidade requer do trabalhador criatividade e descoberta dos próprios pontos fortes, que se transformam em serviço. Para o sucesso dessa empreitada coopera a multifuncionalidade do profissional, apto a desenvolver vários tipos de trabalho, manter uma rede de amigos, acompanhar o desenvolvimento das novas tecnologias, especialmente a da informação, gostar do que faz e cuidar de sua qualificação.

Ao término da pesquisa sobre empregabilidade acima dos quarenta anos, a autora destaca que “os fatores de empregabilidade devem ser perseguidos e praticados e que para isso os profissionais acima de quarenta anos devem rever seu papel e refletir exaustivamente sobre essa questão, ponderando suas ações, analisando seu desempenho, de forma a melhorar as condições profissionais e de vida”.

Finalmente, completo esta resenha com a consideração de que o termo empregabilidade é carregado de uma certa dubiedade, uma vez que pode também escamotear um sistema de exploração do trabalhador, responsabilizado por seu fracasso. Por outro lado, chama o trabalhador a comprometer-se com o desenvolvimento de sua carreira profissional. Nem oito, nem oitenta. O texto de Pupo traz à tona um certo equilíbrio nesta temática, que tem sido debatida por diferentes intelectuais de diversas matrizes epistemológicas. Certamente, porém, seu texto situa a problemática e aponta uma saída, mesmo que de forma tênue, em função da amostragem da pesquisa.

Como pesquisador, referendo a leitura do texto, no sentido de poder desencadear outras análises para a construção de uma epistemologia do trabalho. Pupo navega nas águas turvas do mundo do trabalho como profissional que observa e enfrenta, no dia-a-dia, a questão da empregabilidade e, como pesquisadora, procura fazer uma análise dessa realidade. Isto contribui significativamente para os gestores e para os pesquisadores que estão voltados para a compreensão da relação entre capital e trabalho.

 

 

Endereço para Correspondência
Centro Universitário FIEO
Programa de Pós graduação em Psicologia Educacional
Campus Vila Yara
Av. Franz Voegeli, 300,
CEP 06020-190 Vila Yara, Osasco, São Paulo
Tel. (11) 3651-9999
Fax (11) 3651-9999 Ramal 9700
e-mail: jclemente@uol.com.br

Recebido em : 18/02/2006
Aceite final em : 30/03/2006

 

 

1 Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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