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Cadernos de Psicopedagogia

versão impressa ISSN 1676-1049

Cad. psicopedag. vol.7 no.13 São Paulo  2009

 

 

O Conflito e a Busca de Alternativas dos Professores da Rede Publica: uma intervenção Psicopedagógica

 

 

Cleomar Azevedo1

Centro Universitário FIEO

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido junto a professores da escola pública do ensino fundamental no município de São Paulo, que ministravam aulas da 1a. a 8a. série em diferentes disciplinas por ocasião da pesquisa. Um ponto era comum a todos os docentes: a dificuldade de aprendizagem dos alunos, o desinteresse dos mesmos pelo conteúdo ministrado, a violência presente no dia a dia das escolas. Foi realizada intervenção psicopedagógica junto ao corpo docente na busca por uma proposta alternativa de atuação diante da realidade vivenciada pelos docentes e pela escola foco da pesquisa.

Palavras-chave: Intervenção; Psicopedagogia; Aprendizagem.


ABSTRACT

This work was developed near teachers of the public school of the basic teaching in the local authority of Sao Paulo, with teachers who administer classrooms of the 1st one. the 8th one. series in different disciplines, so with different formations and alternatives of work. A point was common to all the teachers: the difficulty of apprenticeship of the pupils, lack of interest of same the present violence in his day by day. The acting was done through the listening and the intervention psicopedagógica near the faculty, with an alternative proposal of acting before the reality survived by the teachers and by the school.

Key words: Intervention; Psychopedagogy; Apprenticeship.


 

 

Introdução

Este artigo propõe uma reflexão sobre pesquisa desenvolvida junto a professores da rede pública de ensino do Município de São Paulo, cujos depoimentos demonstram os conflitos e angústias vivenciadas pelos docentes na busca por alternativas para melhorar a sua realidade profissional.

A aprendizagem é, no século XXI, uma questões desafiadoras, pois se faz presente como uma das ferramentas fundamentais no desenvolvimento do ser humano. A transmissão da cultura às demais gerações passa pelo processo de aprendizagem do sujeito que envolve diferentes etapas do desenvolvimento. No entanto, a aprendizagem formal desenvolvida pela escolarização é responsável pela sistematização do conhecimento que todo ser humano deve ter para desenvolver seu potencial.

Hoje, é condição fundamental em nossa sociedade conhecer a leitura e a escrita para ser crítico e participar das decisões do contexto social. Uma questão primordial para a escola é desenvolver o processo de aprendizagem da leitura e da escrita, fazendo com que as pessoas envolvidas neste processo tenham condições de utilizá-la corretamente.

A aquisição da leitura e escrita inserida em um ambiente sócio-emocional adequado pode ocorre de forma tranqüila. No entanto, se esse processo é desvinculado das funções de comunicação e expressão, independente do ritmo de desenvolvimento e necessidades experimentadas pelo sujeito, geralmente se transforma em ato traumático e ineficaz.

O envolvimento dos aspectos cognitivos e afetivos como fatores importantes na atuação dos docentes e as implicações envolvidas no dialogo e na reflexão dos participantes deste trabalho é o eixo norteador desta reflexão. Se pretendermos que os professores valorizem, respeitem e ampliem o conhecimento que os alunos já possuem ao ingressarem na escola devemos fazer o mesmo em relação ao processo de aprendizagem do professor. Entendemos que a compreensão do pensamento do professor, o conhecimento mais profundo daquilo que já sabe pode servir como um indicador do que ele necessita para embasar seu trabalho junto aos seus alunos, corrigir equívocos, analisar sua prática e buscar soluções alternativas para os problemas de sua atuação no cotidiano.

 

Método

É importante assinalar que esta pesquisa se inscreve em uma perspectiva metodológica que valoriza os processos de transformação social, de enfrentamento de conflitos e de participação social. Tomando as ferramentas da análise institucional formulada por Lourau (1993) assentamos esta pesquisa em três bases fundamentais.

Inicialmente valoriza a perspectiva da pesquisa intervenção apontando para a construção de um campo de múltiplos atravessamentos onde sujeitos e objetos se criam. Colocar em foco certos processos institucionais significa, nessa vertente de pesquisa, assumir que a própria investigação produz efeitos, inclusive em si mesma. Essa idéia está assentada na concepção de instituição enquanto conjunto de relações sociais que se instrumentalizam nas organizações e nas técnicas, sendo nelas produzidas, reproduzidas, transformadas e/ou subvertidas.

A constituição de um campo de intervenção se afirma na perspectiva de compreensão daquilo que é invisível, ou seja, a instituição que atravessa, cria e forma os grupos. Nessa perspectiva pode-se pensar em uma pesquisa que, inserida em certas práticas, se faz atravessada por elas. As práticas pedagógicas e a relação professor/aluno que mediam o cotidiano sobre o qual se coloca o foco desta pesquisa é igualmente atravessada pelas relações de saber/poder que se instauram em todos as instituições: escola, família, comunidade.

Decorre dessa afirmativa a segunda base metodológica, que diz respeito ao questionamento da neutralidade científica. Segundo Lourau (1993, p.16) “(...) a Análise Institucional tenta não fazer um isolamento entre o ato de pesquisar e o momento em que a pesquisa acontece na construção do conhecimento”.

Isto significa afirmar que sujeito e objeto ganham uma proximidade que deve ser analisada todo o tempo. Capaz de implicar-se com o campo e com os objetos da investigação,o pesquisador assume ser apreendido pelo próprio questionamento, assim como todos os atores sociais envolvidos. Afirma-se, assim, a impossibilidade da objetividade científica positivista.

A terceira base metodológica diz respeito ao que Lourau (1993) chama de maximizar a análise coletiva.Tarefa nem sempre fácil, a coletivização deve envolver todos os atores na apropriação, não só de resultados frios, mas da dinâmica das relações sociais, que se tornam visíveis. Ressalta-se a importância da criação de dispositivos que permitam que a restituição seja na verdade um processo de discussão sobre a encomenda para a investigação/intervenção e das demandas que surgem a partir do interesse dos diversos grupos.

Esse suporte metodológico aponta a construção de um novo paradigma, que não pode ser apenas científico, mas tem que ser também um paradigma social. No paradigma emergente o conhecimento é total mas é também local, trabalhando com um objeto que se amplia em busca de novas interfaces, em um caminho que chama de composição transdisciplinar,capaz de funcionar com uma pluralidade metodológica que tem a tarefa de encurtar a distância entre sujeito e objeto.

Participantes

A pesquisa foi desenvolvida em 2005, em uma escola Municipal de Ensino Fundamental da região Sul do Município de São Paulo, junto ao 26 professores na busca de uma atuação diferenciada que contribuísse para a melhoria de aprendizagem dos alunos. O objetivo dos encontros foi a de favorecer o diálogo e reflexão entre pesquisadora e professores participantes da pesquisa na busca por alternativas para a transformação da realidade da escola.

Procedimentos

Foi agendado um calendário de encontros envolvendo 26 professores, a maioria do corpo docente, divididos em dois grupos, um de 15 e outro de 11 professores. Nas duas turmas havia professores das series iniciais e especialistas das disciplinas especificas. O trabalho foi desenvolvido em nove encontros com a duração total de dez horas.

No primeiro encontro os professores iniciaram um dialogo levantando as dificuldades encontradas em sua atuação. Um dos um professores disse: “eu não sou educador, sou um professor”, diante desta afirmação foi levantada a seguinte questão: “Qual a diferença entre ser professor ou educador?

No outro horário as questões levantadas foram: “Por que a escola tem dificuldade para ensinar? Os alunos não são competentes? Não são capazes”?

Na reflexão feita com o grupo levantamos a importância do professor em sala de aula e sua atuação e responsabilidade. Um dos professores argumentou: “seria importante mais ação e menos palavras para resolver os problemas enfrentados em sala de aula”. Demonstrou preocupação diante dos resultados da aprendizagem em sua disciplina, Ciências, pois “não consegue desenvolver o conteúdo que gostaria, ficando sempre uma lacuna no processo de aprendizagem dos alunos”

Após as queixas e os desabafos dos professores perguntei : “como foi a sua aprendizagem da leitura e escrita”? Ao solicitar que escrevessem como tinham aprendido houve por parte de alguns professores dificuldade para fazê-lo. Alguns não entregaram a atividade outros o fizeram posteriormente. Alguns ficaram perplexos por não lembrarem como tinha acontecido sua aprendizagem.

Em outro momento solicitamos por escrito aos professores que levantassem o que deveria ser trabalhado na escola em todas as séries de forma a melhorar a aprendizagem dos alunos.

 

Resultados e discussão

Nestes encontros o mais importante foi a vivência dos professores pois a partir de suas angústias, conflitos e incertezas puderam rever questões importantes da sua vida e da sua atuação como professor. É interessante perceber que muitos não conseguem mais visualizar uma possibilidade de mudança do docente e do no sistema de ensino.

A dissolução de parâmetros tradicionais da sociedade industrial produz uma onda social de individualização, ocorre uma dependência destes indivíduos com relação a este mercado de trabalho (e, conseqüentemente, da educação, do consumo, das leis sociais, de modismos, etc), na medida em que há uma tendência à institucionalização e padronização dos modos de vida.

O trabalho com grupos foi uma das estratégias adotadas e, nessa atividade escutamos discursos que diziam respeito às mais variadas situações e contextos. Sobre o aluno que freqüentava, havia anos, a instituição e não sabia ler e escrever e falava do seu “fracasso” e da sua relação com a impotência e com o desamparo. Sobre a mãe do aluno que falava sobre seu filho e sobre si própria afirmando que não adiantava insistir, pois ela não havia aprendido e o filho seguia o mesmo caminho, sendo melhor colocá-lo para trabalhar.

Uma professora disse que no começo do ano letivo já sabia quais alunos aprenderiam e quais não conseguiriam. Não obstante esse conhecimento prévio ela reafirmava a disposição em continuar ensinando a todos da mesma forma. Ainda, a professora falava sobre as suas tentativas de lidar com os alunos e de atualizar o seu trabalho, porém deparava-se com situações como a violência na sala de aula, a falta de infra-estrutura e o descaso do Estado e das famílias em relação à questão da educação.

È com base na capacidade de representar a realidade, de fazê-la de novo mentalmente presente que as diferentes formas do conhecimento verdadeiramente humano são construídas: o senso comum, a consciência filosófica, o conhecimento cientifico como também as representações que os sujeitos possuem de si,e que os levam a interpretar a realidade de uma maneira nem sempre coerente e lógica.

Outro professor faz seu relato de aprendizagem dizendo que foi:

Através do método da cartilha Caminho Suave, em escolinha rural, composta pelas 4 primeiras séries iniciais como era falado antigamente. A professora era bastante rigorosa, mas não chegava perto da rigorosidade dos meus pais.Minha irmã mais velha me auxiliava muito nas tarefas de casa e leitura. Aspectos positivos: - disciplina, responsabilidade, respeito, amizade, gosto pela escola.Aspectos negativos: - medo, timidez, não ter abertura para se colocar.

Podemos observar que seu depoimento aponta aspectos negativos com relação ao rigor que havia em sua casa e também na escola, contudo lembra do auxilio da irmã e levanta vários aspectos que diz terem sido positivos tais como :disciplina, responsabilidade, respeito, amizade, gosto pela escola.

Com relação aos aspectos negativos diz que o medo,a timidez e não ter abertura para se colocar deixaram suas marcas. No entanto com relação ao seu estilo de aula aponta as seguintes questões: “Em todos os termos, procuro um diálogo com os alunos. A partir disso, apresento o conteúdo, ligando com a sua vida cotidiana, pegando exemplos que os próprios alunos mostram”.

O conflito existente entre a representação de aprendizagem do professor e sua atuação docente é um dado significativo que deve ser levado em consideração,pois o aspecto evidenciado foi realmente aquele que lhe deixou marcas significativas negativamente. É interessante observar que as questões positivas não aparecem como um dado importante em sua atuação. Segundo Moscovici:

(...) a estrutura de cada representação aparece desdobrada;possui duas faces tão pouco dissociáveis como o verso e o reverso de uma folha de papel:a cara figurativa e a cara simbólica.Dizemos que Representação=Figura=Sentido;o que significa que a representação faz com que à figura corresponda um sentido e a todo sentido corresponda uma figura (1978:65).

No entanto sabemos que é com base na capacidade de representação que os homens tornaram possível a armazenagem do conhecimento e sua transmissão,tanto para outros homens no presente,como para as gerações futuras. Podemos levantar outro aspecto significativo nesta relação aprendizagem-docencia que é a subjetividade do professor presente a todo o momento de sua atuação e que poderá trazer algum esclarecimento para esta questão pois segundo Manzini Covre:

(...) à capacidade de trazer para fora a subjetividade,no sentido de expressa-la no mundo...Na perspectiva interna de quem sofre o processo,a internalização da racionalidade formal,exigida para se viver....cria na alma do individuo uma parte morta ou amortizada.Aqui,pode-se vislumbrar o vinculo com a área do desejo.É o desejo que motiva o ser humano a agir dessa ou daquela forma,como expressão do próprio fluxo de vida. (1991:65).

Diante das implicações nas vivencias do professor e a relação com sua atuação não podemos esquecer que esta classe profissional (professores do ensino fundamental da rede publica) possui neste momento uma desvalorização por parte da população e dos demais envolvidos neste processo. Portanto estão atravessando uma crise de identificação profissional com ampla repercussão em seu status e conseqüências no próprio contexto social.

Uma atividade solicitada chamou atenção pois ao solicitar aos professores que escrevessem como tinha sido sua aprendizagem da escrita e da leitura alguns mostraram se desconcertados sem saber por onde iniciar o seu relato. Mesmo esperando alguns momentos percebi que alguns continuavam com dificuldades para desenvolver a atividade. Foi evantada então outra possibilidade que era levantar aspectos positivos e negativos de sua aprendizagem. Alguns professores elaboraram a atividade com idéias desconexas sem sentido para a questão como o seguinte: “Aspectos Positivos:Matemática; História até a 8ª série;Dirigir.Aspectos Negativos:Cozinhar;Escrever com a mão direita”.

A relação feita com sua aprendizagem deixa muitas duvidas pois estra professora não conseguiu relacionar sua aprendizagem com um aspecto mais amplo ou seja, apresentou duas áreas do conhecimento que lhe foram significativas,uma delas inclusive foi à escolhida para sua formação. O que podemos observar é que a representação de sua aprendizagem parece estar envolvida em um contexto que não parece ter sido significativo, deixando sem sentido a própria resposta e incluindo outros tipos de aprendizagem que na verdade são importantes mas diante do contexto e do trabalho que estava sendo desenvolvido não tinham significado.E sua resposta com relação a seu estilo de aula foi:

Ainda me considero tradicional. Não extremamente conteudista, mas o valorizo bastante. Ainda sofro quando não consigo atingi-lo. Já faz três anos que não ?, mas as questões da sala de aula me afligem. Alunos do 3º ano do colegial sem noção de parágrafo, pontuação, concordância e etc... e eu, era uma simples professora de historia, formada pela UNESP para dar aula a alunos alfabetizados. Quando deparo com alunos da 5ª série em diante sem estar alfabetizados, eu pergunto: E agora? Sinto-me perdida. Sei que preciso alfabetiza-los, mas como? Que sufoco!!!

Em sua descrição de seu estilo de dar aula afirma que ainda se considera tradicional mas, justifica que não é conteudista apesar de valorizar bastante o conteúdo. Esta afirmação parece demonstrar um conflito em sua atuação quando diz que sofre quando não consegue que seus alunos aprendam o conteúdo exposto.

Mas qual é a função da escola? Sabemos que há divergências em termos educacionais de como a escola vem desenvolvendo a questão da construção do conhecimento com seus alunos. No entanto, a escola é responsável enquanto instituição, por transmitir o conhecimento construído pelo homem, ou seja, sua cultura. Função bastante complexa pois exige do docente conhecimentos do desenvolvimento e aprendizagem do sujeito em determinado contexto social.

Já no segundo momento de seu relato demonstra sua angústia por vivenciar dificuldades que não deveriam fazer parte da aprendizagem dos alunos nas séries para as quais desenvolve sua docência. Essa percepção não está de acordo com a realidade de seus alunos.

No entanto podemos repensar a atuação docente e suas representações assim como as implicações em sua subjetividade e as conseqüências de sua atuação em sala de aula mas que leve em consideração a individualidade dos discentes.

 

Considerações finais

Nas intervenções anteriormente citadas a preocupação maior era com relação à subjetividade dos docentes. Diante das questões vivenciadas com o grupo de professores havia a representação da aquisição do conhecimento como uma dimensão mágica que uma vez alcançada, aplacaria a angústia da condição humana frente ao desconhecido. Também havia a representação de que alguém deteria esse saber, quer fosse o professor, quer os especialistas, quer algum outro profissional investido de autoridade.

Por outro lado, trabalhava-se com a dimensão do saber como um ideal, ou seja, com a perspectiva de que as vicissitudes relatadas se associavam à adesão das pessoas a certos modelos identificatórios presentes na rede social que concebiam os lugares institucionais como associados às condições subjetivas daqueles que os ocupam, percepção segundo a qual quem detém o lugar de professor necessariamente adquiri e produz conhecimento, enquanto quem ocupa o lugar de aluno adquiri e pode vir a produzir o conhecimento.

Entretanto, para além desses aspectos, chamaram me a atenção as dificuldades encontradas na condução desse trabalho, decorrente do fato de que essas pessoas ocupam um lugar de desqualificação face à prática educacional, ou seja, o lugar do não-saber. Assim, a maioria dos alunos e de suas famílias se representa com dificuldades em se perceber como consumidora e produtora de conhecimento, ainda que fosse no plano do devir, bem como a maioria dos professores se representa com dificuldade em se constituir como produtora do conhecimento.

Ainda, professores, alunos e suas famílias se equiparam ao se revelarem impossibilitados para propor e implementar qualquer atividade para alterar esse contexto. Dessa forma, os discursos por eles proferidos encontram-se quando explicitam a vivência do tempo como um eterno presente, do qual se excluem projetos para o futuro, e revelam a dificuldade de se representarem como capazes para produzir alterações no seu entorno social e na trajetória das suas vidas.Nessas falas fica patente o lugar de desamparo ante o processo de aprender ocupado por professores, alunos e pais. O processo de conhecer envolve o lidar com o novo, o diferente, e mesmo com os limites de cada um de nós.

Nessa perspectiva, faz-se necessário abrir várias frentes de reflexão e de trabalho aonde se sobressaem essas posições subjetivas ocupadas pelos membros da instituição escolar, levando-me a refletir sobre a tradição cultural e as práticas sociais presentes no cotidiano dessas pessoas.

Especificamente pergunto: quais as inscrições psíquicas dessas pessoas na ordem da cultura que as levam a se identificar com o lugar de desqualificação perante a produção de conhecimento, de forma tão arraigada? Penso o sujeito como constituído pela sua história e pelas suas experiências, o que significa considerar o coletivo e o singular nessa constituição. Assim, o entorno espaço-temporal, representado pelos valores, conhecimentos e ideais sociais predominantes em determinado período histórico, articula-se à elaboração de pressupostos coletivos no sentido da sua predominância em relação às pessoas que vivem nesse período e se singulariza nas idiossincrasias presentes nas experiências constitutivas das subjetividades dessas mesmas pessoas.

Trabalhar com o singular e com o coletivo, reconhecendo que eles não se separam e que a organização da constituição psíquica se articula à dimensão histórica e social, explicita a necessidade de conhecimento sobre a tradição cultural por onde o sujeito transita e sobre a apropriação que ele realiza dessa tradição, necessária a constituição da sua subjetividade.

Nesta pesquisa intervenção junto a professores de escola publica muitos foram os momentos de conflitos e desabafos entre os componentes do grupo e a pesquisadora ,que nestes encontros compartilhava a angustia e a dificuldade de encontrar argumentos e possibilidades com as quais o grupo pudesse ampliar seu espaço de reflexão e conseqüentemente visualizar possíveis mudanças em sua atuação.

Em outras palavras, é importante saber quais valores sociais e culturais impregnam a rede social,e o como se configura a produção subjetiva marcada pela modernidade.Muito poderíamos estar relatando deste trabalho desenvolvido que foi para o pesquisador muito significativo,e que neste artigo enfoca o lado da subjetividade em um grupo com seus conflitos diante de uma determinada realidade,e a dificuldade de compreender quais as relações existentes em sua aprendizagem e a sua atuação em sala de aula.Com relação ao enfoque pedagógico, no final dos encontros o grupo elaborou uma proposta de atuação que enfatizou a questão da aprendizagem da leitura e da escrita,com diferentes enfoques em cada serie.Esta atividade foi para o grupo muito significativa,pois pareciam estar descobrindo algo que podiam estar desenvolvendo para modificar a realidade. Mas, muitomais do que a parte pedagógica,as questões compartilhadas e as reflexões levaram á mudanças no próprio grupo.

 

REFERÊNCIAS

Lourau, R. (1993). Análise Institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ.         [ Links ]

Manzini-Covre, M. (1991). O que é Cidadania.São Paulo:Editora Brasiliense.         [ Links ]

Moscovisci, S. (1978) A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Centro Universitário FIEO
Programa de Pós graduação em Psicologia Educacional
Campus Vila Yara Av. Franz Voegeli, 300,
CEP 06020-190 Vila Yara, Osasco,
São Paulo
e-mail: cleomar.Azevedo@uol.com.br

 

 

1 Doutora em psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Pós-doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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