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Cadernos de Psicopedagogia

versão impressa ISSN 1676-1049

Cad. psicopedag. vol.8 no.14 São Paulo  2010

 

ARTIGOS

 

A importância da conduta paterna no processo de ensino e aprendizagem

 

The importance of the paternal behavior in the education process and learning

 

 

Priscilla Mendes Pillegi1; Maria Luiza Puglisi Munhoz2

 

Centro Universitário FIEO

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Temos como proposta relatar a pesquisa desenvolvida sobre as relações existentes entre pai e filho, visando compreender a importância destas interações para o desenvolvimento pessoal e social dos filhos/alunos, denunciadas no desempenho escolar e na aquisição da aprendizagem dessas crianças. Definimos os tipos de pais e os estilos de condutas tomadas na criação de seus filhos. Selecionamos e citamos falas para informar como tem se dado a participação desses pais na vida familiar, considerando as mudanças que vem ocorrendo na sociedade atual. Constatamos que há pais conscientes de sua importância na vida dos filhos, mas que ainda não conseguem por em prática todo o seu potencial. Sendo que os filhos de pais presentes, participantes e exigentes das regras impostas, apresentam melhor desempenho escolar e maturidade pessoal e social.

Palavras-chave: Família; escola; conduta paterna.


ABSTRACT

This paper presents the research on the interelationship between father and child that attempts to understanding of the importance of this interaction in social and personal development of children/students, those ones evidenced in student educational outcomes and the adquisition of learning. It was defined the types of fathers and the styles of behavior in child-rearing. Some of the speeches were selected, and also cited, to inform the level of involvement of these fathers in family life, taking into account the changes happening in society nowadays. Some evidence indicated that there are fathers who even becoming conscious of their role in the life of their children, they did not get to be as involved as they could be. On the other hand, it was verified that present fathers, with high levels of paternal involvement and exigent of the rules established have children who achieve better student outcomes and social and personal maturity.

Keywords: Family; school; paternal behavior.


 

 

A conduta do homem em relação aos filhos muda com o tempo e cada vez assume maior importância, devido às mudanças socio-econômicas, políticas e culturais que temos vivido, ao focalizarmos a realidade atual.

A Psicopedagogia, que tem por definição o trabalho com a aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções, embasa esse estudo fornecendo processos e estratégias que levam em conta a individualidade do aprendente, no caso o filho. É uma práxis, comprometida com a melhoria das condições de aprendizagem, na qual, o processo de aprendizagem e suas implicações são o seu objeto de estudo.

Trata-se de uma área do saber que utiliza recursos de diferentes fontes do conhecimento humano para compreensão do ato de conhecer, no sentido ontogenético e filogenético. Essa integração das áreas, dos diferentes níveis evolutivos do ser humano, das histórias de vida, do cotidiano, de todos esses fatores faz com que se torne uma disciplina interdisciplinar (Bossa, 2007).

O objetivo do psicopedagogo é o de fazer com que o outro, com dificuldades na aprendizagem, consiga reintegrar, a fim de atingir uma vida saudável, de acordo com os seus interesses. Para tanto temos que nos reportar à família, na população pesquisada, composta de pai, mãe e filho, com suas funções e seu esquema de funcionamento.

Para Fernandéz (1991), a Psicopedagogia trata do aprender e o aprender implica em questionamentos e não é outra coisa senão a articulação entre desconhecimento, conhecimento e desejo de aprender. Assim, a Psicopedagogia deve levar em conta os conhecimentos já adquiridos e o desejo de continuar crescendo, sempre buscando. Portanto, se nas relações familiares as coisas não vão indo muito bem é obrigação do psicopedagogo investigar e reunir o maior número de dados possíveis para entender e saber auxiliar quando for necessário. Muitas vezes a criança mostra problemas na aprendizagem, devido a situações mal resolvidas em casa, por isso temos que estar em constante atualização a respeito do que os pais, em geral, estão fazendo, que condutas estão sendo tomadas por eles, enfim, que relacionamento estão tendo com seus filhos em termos de valores, princípios e comunicação.

O trabalho interdisciplinar ajuda o Psicopedagogo no desempenho de suas funções, mas caberá exclusivamente a ele definir sua linha de atuação e estabelecer o referencial teórico que lhe dará suporte, de acordo com seu olhar, sua formação, suas experiências e suas convicções, com isto em mente, utilizei estudos de áreas sociais, educacionais e psicológicas para me auxiliar no tema que escolhi, acreditando ser atual e necessário, para que todos não só os psicopedágogos reflitam sobre a importância da conduta paterna na formação do filho como sujeito autor.

Ainda, na visão de Fernandéz (1991), a aprendizagem deve ser entendida como um processo e uma função, que não está restrito ao aprendizado escolar e à criança. O conhecimento não é transmitido em bloco, mas o ensinante faz um recorte, leva em conta um aspecto do que considera que deva ser ensinado e, assim, transmite conhecimento. E é na família que a criança encontra os seus primeiros ensinantes, a mãe e o pai, por isso ser de tanta importância, propormo-nos estudar as relações familiares, dando ênfase à relação pai e filho que é tão pouco vista mas que está sendo mais valorizada a cada dia, pelas transformações processadas no decorrer dos últimos anos.

As famílias já não se comportam como antes, como um sistema sem aberturas, estático, rígido, onde atitudes eram tomadas na maioria das vezes, sem se pensar na situação em si. Não se ocupava em levar em conta as mudanças, as complexidades de cada elemento dentro e fora do meio familiar.

Quando falamos em meio familiar, estamos tendo uma visão do todo e de suas partes, observando as relações destes elementos, como interagem entre si e nas suas relações com o mundo. E será na vivência dessas interações que a criança, como elemento deste meio irá adquirindo a própria identidade (Munhoz, 2000).

Aos olhos de Minuchin (1982, p.53) "A experiência humana de identidade tem dois elementos: um sentido de pertencimento e um sentido de ser separado." É na família, a matriz da identidade, que estes ingredientes se misturam, acomodam e são administrados para que o filho se torne um sujeito autor. O autor situa a família como uma ponte de ligação entre a sociedade e os seus elementos transmitindo seus valores, sua cultura e suas mudanças.

Aceitar as mudanças não significa esquecer o passado, mas sim adaptá-lo ao novo, fazendo concessões, transformando para melhorar o que já existia. De acordo com as transformações da sociedade, do mundo em geral não se tem outra alternativa senão desenvolver uma postura flexível diante das mudanças vividas nessa nova etapa. O pai, como membro deste sistema, faz parte deste meio e por isso precisa estar em constante evolução, juntamente, com seus filhos e sua esposa, a fim de contribuir qualitativamente para o crescimento e desenvolvimento desta família.

Ao analisar o funcionamento da família consideramos que cada elemento tem suas necessidades e obrigações dentro do sistema familiar para que haja uma harmonia, com funções estabelecidas de acordo com as habilidades pessoais de cada elemento e o pai participativo será um elemento ativo em todas as dimensões deste funcionamento. Minuchin define esse padrão de funcionamento familiar como "...o conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem." (Minuchin, 1982, p.57).

Cada elemento deve fazer sua parte, de acordo com a sua ocupação, respeitando o espaço e as limitações do outro e estes devem interagir e relacionar-se entre si e com os demais que compõem a sociedade. Para que todo esse processo seja bem sucedido, espera-se, nos tempos de hoje, que o pai seja mais atuante nas relações familiares, porque a atualidade pede um dinamismo maior por parte do homem. É uma teia cada vez maior, que envolve os relacionamentos e de importantes influências na vida da criança, desde muito cedo através dos cuidados e responsabilidades dos pais: mãe e pai.

Quando um dos elementos deste conjunto não é respeitado, as relações familiares são afetadas, desestruturando a família, atingindo em decorrência o meio social. Por exemplo: o pai permissivo que possibilita as atitudes indesejáveis de seu filho, fazendo com que este não tenha consciência de seus limites, este filho terá dificuldades em ser aceito pelas pessoas dos meios sociais nos quais se insere, por não saber até onde pode ir com os outros, se tornando uma pessoa indesejável. Cabe ao pai perceber as diferentes situações que seus filhos experienciam e usar da autoridade que lhe é conferida para ensinar as limitações necessárias, que lhes proporcionará um bom convívio nos espaços familiares e nas relações com o mundo a seu redor. Trata-se de função paterna transmitir um conjunto de valores e educar os filhos numa perspectiva de trajetória de vida. Essa atitude exige disciplina – quanto mais a família viver um conjunto de regras e limites coerentes entre pai e mãe, mais chance a educação dos filhos ser bem sucedida. Os pais podem ser amigos e confidentes de seus filhos, sem deixarem de ser os pais deles;

Minuchin (1982, p.63) escreve que "Os pais não podem proteger e guiar, sem, ao mesmo tempo controlar e reprimir. Os filhos não podem crescer e se tornarem individualizados, sem rejeitar e atacar. O processo de socialização é inerentemente conflitante."

Haverá sempre conflitos, mas nada melhor do que uma conversa, a presença do pai, não só a da mãe, para que se construa uma relação positiva e de confiança, com possibilidades de bons resultados.

Com a vinda do primeiro filho, na formação da família, surgem as mudanças e as relações serão outras, pois agora a organização se dá para acolher o filho, momento em que às funções do casal conjugal se acrescem às funções do casal parental, os papéis serão replanejados. Compreender que o filho ao crescer precisa de meios para se socializar com os demais é uma das funções dos pais (mãe e pai), para tanto precisam passar regras, bases que possibilitam os filhos viver em sociedade, oferecendo a oportunidade de crescer e se desenvolver com autonomia. Entendemos que crescer com autonomia é criar um campo propício e facilitador para os filhos fazerem suas escolhas, reconhecendo-as e valorizando-as, sem deixar de assinalar e exigir que respeitem os limites nas relações com o outro. Somente assim, poderão mostrar que suas atitudes têm conseqüências não só para si, mas para todos que vivem ao seu redor, seja qual for o meio que pertença.

Há muitas etapas na evolução natural da família, passando muitas vezes por conflitos que devem ser refletidos, resolvidos, possibilitando a reconstrução da comunicação, das interações e do conhecimento, pois é um sistema complexo, cheio de mudanças, dinâmico, em constante crescimento, transformando-se e aberto a novos movimentos diariamente. É mais fácil para o filho acompanhar esta evolução, porque é jovem, está em constante contato com outros jovens, mas é essencial que o pai esteja em contato com o seu filho para entender estas mudanças bem de perto. Assim, ocorre a desestruturação em alguns momentos para buscar a organização e o equilíbrio novamente. Será neste momento que os elementos da família terão a oportunidade de nova organização, conseguindo reestruturar-se em relação a si próprio e com os demais membros - não só pai e filho - mas com todos de forma geral.

Muitos pais reclamam que se sentem coadjuvantes nas relações familiares. Desde a gestação, a interação entre mãe e filho é tão intensa que, aos olhos do pai, pode parecer que não cabe um outro elemento nessa relação. Esses pais estão enganados, o homem que pensa dessa maneira não está enxergando a exata dimensão de sua importante função nas relações familiares.

Munhoz (2000, p. 23) afirma: "O principal motivo da aproximação entre homem e mulher é iniciar e manter um relacionamento amoroso". A escolha conjugal tornou-se razão de muitas controvérsias, que resultaram em valores morais e imposições sociais referentes a cada época.

Nas sociedades modernas e paternalistas o pai assumiu o papel de mantenedor das necessidades materiais da família, cabendo a ele prover a casa e o sustento de todos. A mulher e os filhos se submetiam a suas ordens e determinações, porque além de reprimi-los, ele os julgava e lhes aplicava castigos, principalmente nos filhos.

Mas o homem vem caminhando, adquirindo responsabilidades dentro de casa também, participando dos acontecimentos e dividindo tarefas domésticas. Com essa atuação, um novo mundo desponta, os novos pais sentem - se mais próximo dos filhos e da esposa, com mais conversa e cumplicidade. Hoje, o pai contemporâneo tem um perfil completamente diferente. Consciente de sua importância nas relações familiares, ele sabe que quanto mais participar de todas as etapas da criação de seus filhos, desde a gestação, mais próximo ficará deles. Essa interação familiar, segundo Munhoz (2000) é um dos aspectos mais importantes para a evolução humana. As famílias percorrendo seu ciclo de vida viverão crises familiares, que provocam encontros e desencontros na comunicação e nas relações entre seus membros. São momentos críticos de aumento de tensão na dinâmica intra-familiar, que necessitam ser compreendidos e elaborados como etapas necessárias para o desenvolvimento de seus membros, contribuindo para ampliar o conhecimento de todos entre si, possibilitando comunicações e relações mais qualitativas e saudáveis.

Pesquisas mostram que a presença da figura masculina no processo de crescimento e amadurecimento da criança é fundamental. A principal influência está no desenvolvimento físico e emocional do bebê. O pai costuma fazer brincadeiras que excitam mais a criança, sabe impor melhor os limites e determinar a hora de parar com a brincadeira. Isso faz com que mais tarde ela desenvolva melhor a habilidade de lidar com sentimentos como perda e não se sinta rejeitada nem frustrada ao ter de largar o lazer e os amiguinhos para fazer seus deveres. Essa ligação entre pai e filhos é construída com a dedicação e atenção dispensada aos pequenos desde o começo. Hoje, já não é difícil encontrar o pai que passa as noites em claro cuidando de um filho doente ou que falta ao trabalho para levá-lo ao pediatra.

A conduta paterna não é determinada pela quantidade de horas que o pai passa com o filho, mas sim pela qualidade destas horas que a relação se estabelece entre eles (pai e filho). É uma conduta derivada da atribuição de valores, limites, papéis e funções no sistema familiar. É ele, na maioria das vezes quem estabelece a autoridade, a lei e ordem em casa. Por exemplo: geralmente escutamos falas assim "Você vai ver quando o seu pai chegar em casa!" ou "Vou contar tudo para o seu pai!" Mesmo nas escolas é comum ouvirmos algumas mães: "Se acontecer de novo vou falar com o seu pai!" ou "O pai dele vai ficar sabendo disso, pode deixar agora vai melhorar!"

Ao processar o levantamento bibliográfico sobre as condutas paternas na criação dos filhos encontramos diferentes pesquisas. Mussen (1977) e Moore (1997) em diferentes momentos pesquisaram sobre as práticas parentais que aprimoram a competência da criança, utilizando como base os tipos de condutas paternas, segundo classificação de Diana Baumrind (1972). Os autores elegem para seus estudos três tipos de pais, divergindo na nomeação de cada tipo. Mussen 1977) os denomina de: autoritário, permissivo e competente, enquanto Moore (1997) os identifica como: autoritário, passivo e autoritativo. Ambos avaliam aspectos como controle, exigência de maturidade, cuidados e comunicação clara entre pais ( mãe e pai) e filhos no relacionamento.

Jersild (1966) citou em sua obra a pesquisa de Lafore que classificou quatro tipos de pais: o ditador, o cooperador, o contemporizador e o apaziguador, atribuindo-lhes características sobre as condutas escolhidas na criação de seus filhos. Jersild amplia o pensamento de Lafore ao ressaltar a importância das atitudes dos pais e das tendências da personalidade de cada um, dando ênfase à rejeição e à superproteção.

Cada qual com suas observações e resultados sobre a atuação do pai em determinadas épocas e diferentes públicos, mas que demonstram em última análise é que mantém a mesma essência, que consiste em tentar classificar que tipos de pais existem e dentre eles que tipos de condutas conferem melhores resultados na criação dos filhos. Apresentam as mesmas finalidades, partindo do interesse em conhecer as implicações das condutas paternas na formação do sujeito autor.

 

Método

Participantes

Os vinte pais que participaram deste estudo têm renda familiar de 2 a 8 salários mínimos, não têm o 1º grau completo. Estão trabalhando atualmente. Estão vivendo em família, 1º casamento, são felizes apesar das dificuldades encontradas. A escolha dos pais foi aleatória, pois foram os que tiveram condições de estar fazendo as entrevistas, disponibilidade de horários com a pesquisadora, com a finalidade de se manter um clima tranqüilo, não deixando que nada atrapalhasse a espontaneidade do momento, sem compromissos para tirar a concentração.

As crianças estão cursando a 4ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública, região Oeste de São Paulo.

Instrumentos

Ao procurar entender a relação pai/filho organizamos entrevistas individuais com os pais e atividades gráficas para as crianças. As entrevistas semi-dirigidas, constaram de perguntas abertas, baseadas num roteiro pré-estabelecido. Com o objetivo de comprovarmos as expectativas relacionais entre pais e filhos criamos um espaço de expressão gráfica com desenhos e relatos de histórias sobre o que desenharam, proporcionado às crianças expressarem seus sentimentos e percepções sobre as relações familiares, para confirmarmos: se o filho demonstra ter a mesma percepção indicada pelos pais, se há uma interação nesta relação e se mostram sentimentos coesos e pertinentes aos relatos e desenhos analisados. As atividades de expressão gráficas para as crianças constaram de desenhos da família, seguido de um inquérito para confirmar a visão do pai a respeito da relação existente. Com esses instrumentos obtivemos dados para uma análise compreensiva das falas dos pais confirmada por uma análise interpretativa dos desenhos e relatos fornecidos pelas crianças.

Procedimentos

Como estudiosas do processo de ensino/aprendizagem e interessadas em observar as influências da participação do pai na aprendizagem de seus filhos, desenvolvemos uma pesquisa, apoiando-nos em entrevistas com pais de alunos da rede pública, para compreender o que estava acontecendo com eles; em que nível de desenvolvimento estavam; como se portavam em casa com seus filhos; se olhavam as lições de seus filhos; se conversavam com eles a respeito do que achavam errado ou sobre o que aconteceu de bom ou de ruim na vida de seus filhos e ainda o que sentiam de mudanças em seu casamento com a chegada do filho, informando-nos o que significava para eles ser pai. Como também procuramos saber se tinham um estilo próprio de agir e que resultados essa diversidade de estilo provocava no desempenho escolar, contribuindo ou dificultando o desenvolvimento da aprendizagem de seus filhos.

 

Resultados e discussão

Criamos as categorias para análise dos dados obtidos na pesquisa de campo, decorrente dos encontros com os pais e por meio da análise dos questionários. Selecionamos 5 (cinco) tipos que se caracterizam como: pais autoritários; pais democráticos; pais permissivos; pais rejeitadores e pais super protetores no trato com seus filhos.

1. Democráticos

1.1 permitem discussão das regras: trocam idéias, conversam, discutem a respeito das decisões a serem tomadas, chegam a um consenso, há um bom nível de comunicação entre os membros desta família.

1.2 participativos: que estão sempre querendo saber de seus filhos como estão, o que pensam, que ajudam as esposas em casa, auxiliam no que for necessário para o melhor andamento da casa e entrosamento com a família, sendo presente em todos os momentos, colaborando não só financeiramente mas estando por perto, conversando, mostrando se interessado em tudo, é dedicado.

1.3 mantêm controle definido: esta por dentro dos acontecimentos, acompanha o desenvolvimento de seus filhos juntamente com sua esposa de seus filhos, tendo argumentos para conversar com sua família, esclarecendo metas e objetivos que devem ser alcançados por todos unidos.

1.4 interações afetuosas: demonstrações de preocupação, de carinho, valorização das relações familiares.

2. Superprotetores

2.1 Contato excessivo / muita condescendência: não conseguem impor limites, tentam agradar por vários motivos, ficam no pé da criança não deixando que fique sozinha.

2.2 exagera no papel protetor: trata a criança com muitos cuidados não deixando a desenvolver se, privando de errar ou acertar, até mesmo por uma insegurança pessoal (como posso produzir alguém capaz?).

2.3 prolonga cuidados infantis: ausência de regras, disciplina limites, trata a criança como se não fosse capaz, muito frágil.

2.4 Falta ou excesso de controle: permissividade, querendo poupar a criança de viver, de buscar suas próprias saídas, de compreender os acontecimentos e programá-los.

3. Autoritários

3.1 controle excessivo: estão sempre por perto, manipulado seus passos, proibindo seus impulsos.

3.2 não permite discussão das normas: não deve haver troca de idéias, conversas, já está tudo decidido.

3.3 pouco participativos: não interage com os filhos, não sabe o que os filhos pensam ou desejam, não participam do desenvolvimento dos filhos ativamente, vendo suas lições, conversando com eles sobre a escola, sobre os interesses desta criança.

3.4 pouco afetivos: dão maior importância ao trabalho e ao ganho financeiro, como provedor, que não se incomodam de deixar o desenvolvimento dos filhos sob responsabilidade exclusiva das mães.

4. Permissivos

4.1 desorganizados: não conseguem estabelecer regras para o melhor andamento e desenvolvimento desta família.

4.2 falta de atenção à independência e auto confiança: não estimula um comportamento independente e uma auto confiança no filho.

4.3 exigências leves de comportamentos amadurecidos: não cobra dos filhos comportamentos mais maduros.

4.4 rotinas domésticas sem manutenção: não auxilia em casa, ajudando nas divisões de tarefas e obrigações.

5. Rejeitadores

5.1 evidencia defeitos: não a valoriza, desestimulando a prosseguir, a aprender.

5.2 aplica castigos muito severos: sem justificativa, sem necessidade.

5.3 ameaças e brigas freqüentes: mostrando uma insatisfação com tudo que se refere a criança, a família de modo geral.

5.4 deixa de fornecer boas condições, desfavorecendo o filho: pouco presente às necessidades da criança.

Entrevistamos vinte (20) pais e o maior número deles (08) foi classificado como democráticos, que segundo definições de Mussen (1977) são organizados, controladores, calorosos, atenciosos ao desenvolvimento da independência e da autoconfiança dos filhos; comunicam-se bem e fazem exigências de comportamentos amadurecidos. Estes pais criam crianças confiantes, amadurecidas, conscientes e competentes.

A interação ocorre existindo regras, objetivos, caminhos a serem traçados que necessitam de confiança para seguir e viver bem. Além da democracia, há também muita interação entre eles, pai e filho, como brincadeiras e conversas em casa.

Mas alguns pais (04) disseram que não conversam muito com seus filhos, como este por exemplo: "Eu sou um pai radical, pra mim não tem meio termo, ou faz ou não faz, ou é ou não é, converso, imponho mais porque ela precisa que seja imposto." (pai J.L.) ou este pai que diz: "Eu me acho vamos dizer assim, um pai muito rígido, eu não tenho muito jeito com os filhos, porque tem pai que tem aquela liberdade com os filhos de brincar e aquelas coisas, e eu já não, já meio talvez pelo modo de criar também. Porque o meu pai já era mais duro e eu adquiri um pouco. A minha esposa fala que sou muito `seção´ com os filhos. É tudo ali, não tem muita conversa com eles".(pai A. P.) O pai tem consciência de como deve ser a relação com os filhos, mas não consegue por em prática pela dificuldade do novo, de pensar que vai errar ou de ter medo de perder o controle sobre a situação. O melhor seria tentar sem medo, errar é humano é melhor errar tentando do que errar parado no tempo, prejudicando o desenvolvimento de sua família e o amadurecimento de seu filho, para uma vida saudável.

Utilizamos as falas obtidas nas entrevistas com os pais ao perguntar sobre as lições de seus filhos: "Nas lições sempre a minha esposa, que fica mais próxima, que chama mais pro dever de casa." (pai L.A.M.) Ou esta outra: "Não, essa parte deixo tudo para a mãe. Eu não tenho muito tempo." (pai M.L.) Ou deste pai: "olha isso eu vou ser sincero, já é mais a minha esposa, eu vejo de vez em quando mais quem dá mais orientação é ela". (pai A.C.)

Acreditamos que condutas como essas, precisam ser modificadas na vivência prática. O pai se sentirá mais participativo quando tiver tempo para sentar com o seu filho pelo menos um dia por semana e ver o que ele está aprendendo na escola, fazer perguntas sobre o que acha da matéria, se está encontrando alguma dificuldade e se quer conversar sobre qualquer outro assunto importante para o filho.

A partir dos estudos feitos relacionando os tipos de pais encontrados, formulamos dois tipos de pais: o não participativo e o participativo.

Pai participativo: corresponde aos pais que são presentes, se interessam por seus filhos, olham as lições de casa, estimulam seus filhos para buscarem os seus objetivos, demonstram preocupação, carinho, dedicação. Sabem mostrar o que está errado e como devem enfrentar as dificuldades. Acreditam no potencial de seus filhos, passam regras e cobram o comprimento das mesmas moderadamente, respeitando-os.

Entre tipos definidos anteriormente acreditamos que os pais se caracterizam como sendo participativo: os democráticos, os super protetores ou os permissivos. Estes pais em geral, estão por perto ouvindo as necessidades dos filhos, com a escuta e a conversa, necessários para o desenvolvimento deles. Têm como meta formar o sujeito autor com suas próprias idéias, que buscam o próprio conhecimento, acreditando no seu potencial.

Pai não – participativo : estes não estimulam o crescimento, não estão presentes na vida de seus filhos, não colaboram para a formação do seu futuro . Acreditam muitas vezes que o professor deve fazer o papel de pai ou até mesmo de mãe.

Demonstram negativismo e agressividade, não querem saber dos desejos da criança, mas sim dos próprios desejos, do que querem que seus filhos façam, não se preocupando se é o melhor, se há condições para que dê certo nas situações problemas, encontrados neste caminho.

Os tipos de pais que estão incluídos no não participativo são: os autoritários e os rejeitadores. Isto porque, não oferece condições para as crianças serem construtoras de suas próprias vidas, tendo habilidades, sendo criativas e críticas, mostrando ter carinho pelos seus iguais, respeitando – os com afeto.

Em geral, estes pais acabam reprimindo, tolhendo-as. Não demonstrando interesse pelo que as crianças têm de bom, evidenciando somente os erros e as coisas ruins que acontecem. E essas crianças se tornam tristes, acanhadas e sem muita imaginação.

 

Consideraçôes finais

A partir desse estudo pudemos concluir que não existe uma conduta ideal, pois os pais se apropriam dos diversos estilos de conduta em momentos específicos do relacionamento, na busca de alcançarem os objetivos desejados para a criação dos filhos. Mas, adotam como postura a conduta que mais se expressa o que aprendeu, considerando as características de personalidade, bem como do meio em que viveu e em que vive.

A maioria dos pais respondeu de maneira satisfatória a respeito do que é ser pai, como: "Não é só colocar no mundo, a gente tem que acompanhar o dia a dia, o crescimento deles, o relacionamento entre a gente, né. E assim por diante, a gente conversa, a gente vai acompanhando o dia a dia dele, o desenvolvimento, a escola, dentro de casa, quando sai também." (pai A. C.) Ou deste pai: "Pra ser pai eu penso assim, você cria seus filhos, eles vão crescendo e a primeira preocupação é com a educação, e com a educação você consegue criá-los bem, porque eu acho que o primordial é a educação, se você tem uma boa educação pro seus filhos se torna mais simples, até de você criá-los, e eu tenho uma alegria muito grande que nenhum me deu trabalho". (pai L.A.M.).

Notamos que, os mesmos pais que se expressaram adequadamente, dizendo conhecer suas funções de responsabilidade na educação dos filhos, não foram os que se posicionaram como participantes da vida escolar do filho: não se preocupam em olhar os cadernos; não estão atentos aos horários de estudo em casa; nem mesmo exigem o cumprimento das tarefas.

Poucos pais afirmaram que participavam de atividades e reuniões escolares e que demonstraram ficar satisfeitos com as observações feitas pela professora a respeito de seus filhos. Como este pai (S.A.), que disse: "Eu tenho orgulho quando as professoras chegam para mim e comentam, dão sempre elogios pra ela". Ou este pai ( J.L.), que relatou como sendo o momento mais especial que teve com sua filha: "...foi uma vez que teve o dia dos pais na escola, eu achei bem legal porque a professora vai irradiando as coisas, o seu pai é isso, é aquilo. Aí abraça, beija, aquele negocinho. Foi bem assim mesmo, ficou bem marcado, os caras vão bem no ponto, aflora mesmo. A criança faz aquilo não porque está ouvindo, mas faz mesmo de coração."

Pudemos com essa pesquisa nos certificar de que os pais estão a caminho de um maior envolvimento com seus filhos, que sentem a necessidade, mas que ainda não estão praticando plenamente, com total consciência, o que sabem a respeito do assunto.

Felizmente, os homens estão ficando tão disponíveis para a paternidade como o são para a profissão. Estão permitindo que a aproximação emocional e o envolvimento íntimo tragam para o lar um ambiente de maior cumplicidade e carinho entre todos os membros da família, com todas as funções e obrigações divididas, assim como as alegrias e a felicidade. Momentos que antes só a mãe presenciava, como o primeiro som emitido pela criança, as reuniões e atividades escolares e outras coisas que o pai nunca participava, ou sabia, como o nome da professora e dos coleguinhas de escola, hoje já podemos ver acontecendo, ainda começando, com expectativas de melhores resultados.

O pai em função de sua conduta pode estabelecer ou não um vínculo de respeito, valorização às necessidades da criança, atenção ao seu desenvolvimento e aprendizagem de habilidades que acredita serem importantes para a formação de um adulto saudável e capaz de se tornar autor das próprias escolhas e pensamentos.

A criança terá mais condições de desenvolver auto respeito e portanto, auto estima, por adquirir segurança em si e confiança básica nas relações consigo e com o mundo que a cerca. Sendo assim, essa criança se sentirá mais fortalecida e preparada para um desenvolvimento saudável, facilitando sua aceitação social e a aquisição de aprendizagem, referentes a valores, princípios e habilidades.

Finalmente, podendo aprender um pouco mais sobre as relações entre pais e filhos, que promovem mudanças no sistema familiar, trazendo mais subsídios para os atendimentos psicopedagógicos. Sendo assim teremos mais bagagem para compreender-me nestas interações, bem como compreender melhor os nossos clientes.

 

Referências

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Fernandez, A. (2001). O saber em jogo. A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Jersild, A. T. ( 1996 ). Psicologia da criança. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.         [ Links ]

Minuchin, S. (1982). Famílias: funcionamento & tratamento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas.         [ Links ]

Moore, S. G. ( 2002). El papel de los padres en el desarrolo de la competência social. ERIC/EECE Publications – Digests, Retirado de http://ericeece.org/pubs/digests/ 1997/moor97s.htm1. em 13/08/2010.

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Souza, R. M. (1994). Paternidade em transformação: O pai singular e sua família. Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Rua: Moncorvo Filho, 101 City Butantã
CEP: 05507-060 – São Paulo
e-mail: marilumunhoz@uol.com.br

Recebido em: 08/2010
Aceito em : 12/2010

 

 

1 Graduada em Pedagogia pelo UNIFIEO, Especialista em Psicopedagoga Clínica pelo UNIFIEO
2 Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Docente do Programa de Psicologia Educacional do UNIFIEO

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