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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.24 Rio de Janeiro jun. 2012

 

DIREÇÃO DO TRATAMENTO

 

Da lógica da interpretação à prática da letra

 

From the logic of interpretation to the practice of the letter

 

 

Dominique Fingermann*

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Brasil / Fórum São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O título Da lógica da interpretação à prática da letra formaliza um percurso: "de"..."à" e, portanto, indica uma orientação, uma passagem, uma operação. Uma operação lógica que afete, que tenha efeitos. É isso mesmo que esperamos da direção da psicanálise pelo psicanalista. Orientados eticamente pelo Real, visamos a uma passagem que tenha consequências poéticas e políticas, já que apostamos em um novo laço enraizado no radical da letra do sinthoma.

Palavras-chave: Interpretação, letra, sinthoma.


ABSTRACT

From the logic of interpretation to the practice of the letter: This title formalizes a trajectory: "from"… "to", and, consequently, indicates an orientation, a passage, an operation. A logic operation which affects, which produces effects: and this is exactly what we expect from the direction of psychoanalysis by the psychoanalyst, critically oriented by the Real, as we envision a passage which brings out poetic and political consequences, once we trust in a new bond rooted in the radical of the letter of the sinthoma.

Keywords: Interpretation, letter, sinthoma.


 

 

O título "Da lógica da interpretação à prática da letra" formaliza um percurso: "de" ... "à" e, portanto, anuncia, indica, promete, uma orientação, uma passagem, uma operação.

Uma operação lógica que afete, que tenha efeitos. É isso mesmo que esperamos da direção da psicanálise pelo psicanalista. Orientados eticamente pelo Real, visamos a uma passagem, "uma mutação", diz Lacan, que tenha consequências poéticas e políticas, já que apostamos em um novo laço enraizado no radical da letra do sinthoma.

A letra do sinthoma dispara o jogo do parlêtre (falasser-faletra). Tempo lógico (ver-compreender-concluir) da estrutura quando o significante do Outro toma corpo e proporciona a identificação do Um.

Um significante faz furo, incisão primordial no corpo, e decide a consistência de Um e a ex-sistência. Decisão primordial que divide o corpo pulsional (ligado ao Outro e sua demanda) e o corpo – en-corps – que não se liga, nem articula, mas fomenta o eco da repetição (encore!). A hystória pode começar: a partir desse tempo lógico da identificação, isto é, a "transformação operada quando se assume..." (LACAN, 1949/1998, p. 97) um furo como marca do Um, primeiro enodamento RSI entre o furo, a ex-sistência e a consistência.

Dessa letra – enodamento RSI – nomeia-se "alguma coisa" que se transforma em "alguém": Y a quelqu'un! (Aí tem gente!). Lacan explicita no Seminário RSI o enlaçamento entre a letra, a fala e o sentido:

Portanto, escrevo R.S.I. esse ano, como título. São apenas letras, e como tais, que supõem uma equivalência. O que resulta do fato de eu estar falando essas letras, utilizando-as como iniciais, e se estou falando-as como Real, Simbólico e Imaginário? Isso toma sentido, e essa questão do sentido, nada mais é, precisamente, do que isso que estou tentando situar este ano.

Isso toma sentido, mas o próprio do sentido é que aí se nomeia alguma coisa. E isso faz surgir a dit-mansion, a dit-mansion justamente dessa coisa vaga que chamamos as coisas, e que só tomam seu assento do Real, isto é, de um dos três termos dos quais já fiz algo que poderíamos chamar de a emergência do sentido (LACAN, 1974-75).1

Da letra inicia-se o parlêtre, o ser que ao falar procura o sentido da ex-sistência (Real) no outro significante (S1→S2): equívoco fundamental.

A análise proporciona um caminho ao avesso do momento inaugural do parlêtre: da prática do blábláblá à prática da letra.

Sabemos, por experiência, que a lógica do significante – desdobrada e evidenciada pela interpretação psicanalítica – leva a um impasse: o necessário impasse do sujeito suposto saber, que conduz à constatação, ao discernimento do irremediável, ininterpretável, incurável, indecidível. Topar essa parada não se acumplicia com a impotência, mas com o ato. Apenas um ato, de-cisivo, decidindo o passo fora da lógica do significante, ex-cisão, extravagância oriunda do saber sem sujeito, permite o passe.

Passe fora de série que possibilita um acesso à soltura, desenvoltura, atrevimento, impudência, diz mesmo Lacan falando de Marguerite Duras e da sua "prática da letra" (1965/2003, p. 200). Prática da letra, na qual o literato, litter-rasuror, precede o psicanalista, "chegando diretamente onde a psicanálise pode chegar de melhor no fim" (LACAN, 1971/2003, p. 15), ou mais precisamente, na sequência do fim, como continuação, repercussão do fim, dada a lógica inesgotável do significante. De fato, o fim de uma análise inclui as suas sequências na temporalidade do ato que a decide. "O ato se julga na sua lógica pelas suas consequências" (LACAN, 1967). É a prática da letra do sinthoma, em alguma medida, que valida a decisão do fim.

Portanto, há enodamento da lógica, da ética e da poética, em consequência do ato que condiciona a direção da cura psicanalítica. Isto se produz desde o seu início, desde a evidência de uma falha, perda, que susta o sentido lógico, ético, poético da vida. Uma falha que na fala se enuncia como falta, traduzindo, transferindo-se em queixa que pode ter a boa hora de encontrar um analista que "tenha chance de responder" (LACAN, 1973/2003, p. 555) a essa letra (carta) em sofrimento, em instância, em suspenso. Pas de sens: notícia da letra do sintoma.

 

Pas-de-sens – Não há sentido

Pas-de-sens, meu casamento, meu trabalho, meu filho, minha vida. Perdi: o sentido, o sentir da vida. Perdi. Desde quando? Desde que me conheço por gente.

Pas-de-sens: inibição, sintoma, angústia. Inibição que embaça, sintoma que estorva, angústia que ofusca, o sentido da vida. Uma análise poderia renomear essas "nomeações", manifestações, índex, instâncias do "ser" preso no "falso self" (LACAN, 1967-1968) verdadeiro da significação fantasmática?

De uma análise, de seu pas-de-sens, o passo de sentido almejado, isto é, de sua interpretação, é esperada uma nomeação.

Pas de sens: passo de sentido, transformar esse susto em queixa já é uma resposta corajosa, ética, já é um lance do dizer: produzir "do nada", da dor de existir, um passo de sentido que a psicanálise, desde sempre (ou seja, há mais de 120 anos) acolhe: Traumdeutung, disse Freud, Trauma-deutung.

Lógica da interpretação: o que está em jogo é uma prática do logos (dia-logos).

Desde a origem, por ser marcado (furado) no corpo pelo significante do Outro que não tem sentido (letra), o parlêtre toma a palavra, VOZ ÚNICA, e de falado torna-se falante.

 A experiência da psicanálise oferece uma boa ocasião para reabrir esse passo inaugural, do pas-de-sens (não sentido) ao pas-de-sens (passo de sentido). A nossa prática do blablablar orienta-se, portanto, como uma prática do sentido: lógica do significante. A fala trilha seus descaminhos, se procura no sulco da letra em direção a uma suposta verdade, que o Outro e seu "poder discricionário" (LACAN, 1955/1998, p. 333) alojaria. S1→ S2 lança mão da fuga do sentido que alcançaria a verdade no caminho da transferência.

É a estrutura interpretativa do próprio ato de fala que o dispositivo analítico encena. A escrita do matema dos "Discursos" evidencia como o Outro da relação de fala é convocado naturalmente (ou, antes, estruturalmente) num certo lugar: o endereço do suposto saber.

Ao falar, o analisante interpreta. A sua fala é vetorizada pelo suposto intérprete do endereço da cadeia associativa, ou seja, é com uma mensagem invertida de seu próprio enigma que o analisante dirige-se ao analista.

A fala, desenrolada na associação livre, desdobra aí a estrutura, como "mostra" a escrita do "Grafo", que escancara as três diz-mensões de qualquer ato de fala: o enunciador (o dizer), o enunciado, a enunciação.

A entrada do analista (e não do "suposto") na lógica da interpretação, a tática de sua presença na estrutura precisa levar sempre em consideração essas três diz-mensões, como lembrado por Lacan na famosa declaração de O Aturdito: "Que se diga permanece esquecido atrás do que se diz no que se ouve" (1972/2003, p. 448).

Colocado pela estrutura da fala como complemento do inconsciente, o psicanalista vai se fazer "responsável" do inconsciente: respondendo a partir de sua alteridade radical, respondendo por sua ex-sistência real.

 A escrita dos "Discursos" formaliza essa operação possível na estrutura, ou seja, evidencia como a posição do psicanalista permite uma interpretação "outra" da estrutura. a/S2. Inter-prestando o que perdura de perda pura (LACAN, 1973/2003, p. 543), e garantindo, salvaguardando a posição do inconsciente como referência ininterpretável, saber sem sujeito, ponto da partida.

Ao calar, o analista interpreta. Emprestando-se como objeto – ou seja, como o que não dá sequência à suposição do sujeito – com o "dizer que não" do ato, ele põe o analisante para trabalhar, a→$ (expondo assim o que era enunciação suposta do Discurso do Mestre).

O Discurso Histérico é resposta do analisante ao ato do analista, desdobramentos do desejo e da sua interpretação pelo fantasma.

Quando o analisante interpreta, a sua interpretação tem efeitos de verdade. Hystoricisação. Hystória sem fim da verdade mentirosa da conjunção do gozo com o sentido: jouis-sens (gozo-sentido).

Cale-se o analista – a sua interpretação não valida essa "verdade", e nisso mesmo denuncia seu "semblant" apontando para o real que ela encobre.

Quando o analista interpreta, ele interpresta (como um ator ou um músico) a pura perda, e a sua interpretação (para o traumatizado que só aposta do pai ao pior) tem efeito real: trou-matismo. A interpretação "faz ressoar aí outra coisa do que o sentido". "Ela reverbera mais longe do que a fala", "ela força aí outra coisa",ela toca"a ek-sistência de alíngua" (LACAN, 1974-1975).2

 

Pas-de-dialogue?

– Lacan, no entanto, precisa que a interpretação limita o "pas de dialogue" (não há diálogo), ou seja, constitui certo tipo "interlocução".

Interlocução entre a interpretação do analisante e a interpretação do analista, que operam em sentidos opostos (sentido de verdade X sentido real): lógica da interpretação.

– Vale notar, contudo, que Lacan, até o final de seu ensino, menciona um certo tipo de intervenção do analista que ele chama "ajuda", "colaboração", "contribuição" na construção interpretativa do analisante vetorizada pela verdade ("a interpretação tem efeitos de verdade", dizia Lacan até o Seminário XIV, o que corresponde a essa vertente "verdadeira" da fala do analisante).

– Precisamos igualmente que se a interpretação analisante constrói sua interpretação do desejo pelo fantasma, a interpretação do analista, quando visa à incógnita do desejo, é para esvaziar o seu sentido constrangedor, constrangido pelo fantasma e flagrar o ab-sens que o causa.

– Ao longo da análise o corte tem efeito paradoxal de propiciar os passos de sentido (pas de sens) até que, ao cingir o impasse ao qual conduzem necessariamente os passos, o analisante consinta em topar com o ab-sens, a falha original de sentido.

Convocado nesse dia-logo na estrutura de fala, o analista responde desde o seu devido lugar no Discurso Analítico.

 

Corte no jouis-sens

"É nosso dever interpretar" (LACAN, 1973/2003, p. 504), diz Lacan; Soler precisa: "a interpretação deve cortar o sens joui [sentido gozado]".

Sabemos que Lacan deu diferentes formulações da interpretação, que acompanharam as mudanças de sua apreensão do real da clínica. No entanto, persiste, e insiste ao longo do ensino lacaniano o seu valor fundamental de corte.

Fundamentalmente é corte em relação à esperança transferencial, "o lugar de onde o psicanalista fala, não é o mesmo que aquele de onde está suposto falar na transferência" (LACAN, 1965-1966).3

Que seja pontuação, escansão da cadeia significante que revela a produção de significação do sujeito suposto, que seja intrusão, imisção, alusão, suplemento de significante, "ligar (ler) de um outro jeito", (LACAN, 1967-1968) que seja surpresa, equívoco, citação, enigma, poesia, todas as variantes da interpretação produzem um corte no sentido e na verdade, todas suspendem o Sujeito suposto Saber, e o sentido gozado (Jouis-sens) a ele atribuído.

Em geral, o analisante demora um certo tempo antes de perceber que a intervenção do analista não completa a sua verdade, mas responde à verdade com o saber: a posição do inconsciente é resposta e responsabilidade do analista.

 

Pas sans dire

Todavia, vale notar que o corte interpretativo (equívoco, citação etc.) não tem apenas valor de "dizer que não" da negativização dos ditos, e de invalidação da verdade mentirosa.

Pelo contrário, o corte interpretativo, na lógica do significante, é dizer silencioso ("Silêncio dele é tão alto" [BARROS, 1993, p. 99]), ele silencia o sentido que sutura o inter-dito, para produzir, atualizar no intervalo, o oco que permite que ressoe o eco do dizer "silencional" (ROSA, 1969, p. 100): Y a d'l'Un.

Nesse sentido Lacan valorizou em algum momento a intervenção "tu l'as dit!" ("Você o diz", ou "o dito foi seu!") como uma das melhores interpretações, pois ela corta a suposição de saber no outro (foi você que diz) e aponta que o dito não vai sem o dizer: o dito permite localizar e autentificar o lugar do dizer ("Ça ne va pas sans dire"). O corte da sessão produz igualmente esse mesmo efeito de esvaziamento do sentido e de ressonância do dizer: "Tu l'as dit!".

A interpretação é fundamentalmente apofântica: Y a d'l'Un!

Limite ao pas de dialogue, pois aponta para a emergência por meio do logos – da presença viva e única do parlêtre.

A interpretação atualiza o interdito, encena, mostra, apofântica, "discurso sem palavra" (LACAN, 1968-1969/2008, p. 11).

Destacando o inter-dito, a interpretação solta alíngua presa na palavra e no sentido.

A lógica da interpretação, em seu termo, propicia a prática da letra que podemos chamar, com Lévinas, de "A Responsabilidade do dizer" (1978, pp. 16-17); com François Cheng, de "o sopro do vazio mediano", terceira diz-mensão sem a qual não há via (voix/voie); com Paul Valéry, "o movimento pendular entre o som e o sentido" (1924-1944/1957, pp. 1332-1333); e com Manoel de Barros, "os deslimites da palavra" (1993, p. 31).

 

Referências bibliográficas

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Endereço para correspondência
Dominique Fingermann
E-mail: dfingermann@terra.com.br

Recebido em: 16/02/2012
Aprovado em: 28/03/2012

 

 

Notas

* Psicóloga. Psicanalista. AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Brasil / Fórum São Paulo. Representando do CIG (Colégio Internacional de Garantia) e do CAOE (Colegiado de Animação e de Orientação da Escola). Co-autora de "Por causa do pior" (Iluminuras)
1 Jacques Lacan. R.S.I., inédito (Aula de 11/03/1975). No original: "[...] Donc, R.S.I. j'écris, cette année, en titre. Ce ne sont que des lettres, et comme telles, supposant une équivalence. Qu'est-ce qui résulte de ce que je les parle, ces lettres, à m'en servir comme initiales, et si je les parle comme Réel, Symbolique et Imaginaire? Ça prend du sens, et cette question du sens, c'est bien ce que, rien de moins, j'essaie de situer cette année. Ça prend du sens, mais le propre du sens, c'est qu'on y nommequelque chose. Et ceci fait surgir la dit-mansion, la dit-mansion juste­ment de cette chose vague qu'on appelle les choses, et qui ne prennent leur assise que du Réel, c'est-à-dire d'un des trois termes dont j'ai fait quelque chose qu'on pourrait appeler l'émergence du sens [...]". Tradução nossa.
2 No original: "[...] Il est certain qu'elle porte, l'interprétation analytique porte d'une façon qui va plus loin que la parole [...]". Tradução nossa.
3 No original: "[...] La place d'où le psychanalyste parle n'est pas la même que celle d'où, dans le transfert, il est supposé parler".